"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, agosto 29, 2012

Porque a Síria não cairá: A derrota esmagadora do chamado "Exército Sírio Livre".

resistir info – 27 agosto 2012

por Ghaleb Kandil

Cartoon de Pluma y Fusil.Os desenvolvimentos recentes na Síria revelaram uma série de sinais importantes, os quais terão repercussões decisivas no curso da guerra global conduzida pelos Estados Unidos para destruir este país. Ao contrário das informações e impressões dos estrategas americanos e seus aliados europeus, assim como dos seus cúmplices árabes – tal como transmitido por centenas de media empenhados na batalha – os esquadrões da morte, mercenários e grupos Takfiri introduzidos na Síria a partir de todas as partes do mundo sofreram uma derrota esmagadora ao nível das batalhas. No entanto, os responsáveis turcos e seus aliados qataris e sauditas prometeram – como já haviam feito no ano passado durante o mesmo período – que o mês do Ramadão testemunhará a queda do regime resistente na Síria. Estas ilusões entraram novamente em colapso no campo de batalha onde os gangs armados sofreram baixas de milhares de mortos, feridos e detidos.
Na verdade, o ataque abrangente lançados pelos extremistas contra Damasco acabaram – mesmo com o reconhecimento dos media ocidentais – com perdas maciças. Portanto, a força que incluía mercenários locais e jihadistas de toda a parte do mundo foi aniquilada completamente pelo exército sírio que está a perseguir os remanescentes nos arredores da capital. Em consequência, foram confiscadas toneladas de armas e a pesada infraestrutura dos grupos armados foi desmantelada e destruída, o que exigirá meses para reconstruir se os grupos armados alguma vez forem capazes de fazê-lo.
O resultado da batalha de Alepo, por outro lado, já pode ser antecipado pois os extremistas estão a cair aos milhares face ao progresso metódico do exército que foi capaz de cortar completamente as linhas de abastecimento dos mercenários que vinham dos campos de treino dirigidos pela CIA na Turquia. Consequentemente, os gangs armados já não podem mais receber reforços sem terem de pagar um pesado preço. Pois os seus comboios 4x4, que estão esquipados com artilharia pesada e lhes foram oferecidos pelos seus patrocinadores regionais, estão a mover-se sob o fogo dos helicópteros e aviões do exército e a caírem nas emboscadas montadas pela forças de elite que infiltraram linhas inimigas.
Segundo peritos, um terço dos grupos extremistas são compostos por jihadistas que vieram do Magrebe árabe, da Líbia, do Golfo, Afeganistão, Paquistão e Chechénia. Neste nível, o chefe de nacionalidade francesa da European Union Intelligence, Patrice Bergamini, reconheceu numa entrevista ao diário libanês Al-Akhabar, na sexta-feira 17 de Agosto, o papel importante desempenhado pelos jihadistas no conflito sírio, enfatizando que o público ocidental agora estava consciente da ameaça que representavam. É claro que a limpeza pelo Exército sírio da cidade de Alepo e sua zona rural é agora uma mera questão de tempo.
A derrota esmagadora sofrida pelos gangas armados por toda a Síria revela que o Exército Árabe Sírio, que foi construído sobre sólidas bases ideológicas, retirou rapidamente as lições da guerra e desenvolveu estratégias de contra-guerrilha urbana e rural, as quais lhe permitiram atingir os extremistas apesar dos maciços meios militares, materiais, financeiros e de media que lhes foram generosamente oferecidos pela coligação de dúzias de países, sem esquecer as sanções adoptadas contra o povo e o estado sírio fora do contexto das Nações Unidas.
A fim de entender os desenvolvimentos da situação, é importante também analisar o estado de espírito do povo sírio. Sem apoio popular real – o que naturalmente é ignorado pelos media ocidentais – o presidente Bashar al-Assad e seu exército não teriam sido capazes de resistir e deter este ataque. Este apoio popular deve-se a três factores. Em primeiro lugar, a maioria dos sírios está consciente do facto de que o seu país é alvejado por uma trama que pretende subjugar a Síria e incluí-la no campo imperialista ocidental e consequentemente removê-la de todas as equações regionais, pois sabe que durante estas últimas quatro décadas a Síria esteve no cerne dos equilíbrios de poder que nada podia ser feito no Médio Oriente sem o seu conhecimento e participação. Estes amplos segmentos populares são apegados à autonomia política do seu país e estão desejosos de defendê-la, o que explicaria porque milhares de jovens estão voluntariamente a aderir às fileiras do Exército.
Por outro lado, os peritos acreditam de vinte por cento da população – aqueles que em algum momento simpatizaram com a oposição – descobriram a cara real dos extremistas que multiplicam as suas selvajarias nas regiões sob o seu controle (violações, execuções, massacres, pilhagens, ...). À luz desta transformação que afecta o estado de espírito popular, especialmente nas áreas rurais onde o povo está farto, o estado sírio estabeleceu meios de comunicação discretos que permitem à população informar o exército acerca da presença de terroristas, o que explicaria como e porque durante estas últimas semanas as unidades especiais e a sua força aérea foram capazes de executar com êxito ataques bem concebidos contra as bases das gangs armadas.
Paralelamente a todos os desenvolvimentos no terreno, os aliados regionais e internacionais de Damasco estão a mostrar contenção e a desenvolver iniciativas políticas e diplomáticas a fim de evitar deixar a arena aberta diante dos ocidentais. A este nível, o êxito da reunião em Teerão entre trinta países, incluindo China, Índia, Rússia, nove países árabes e estados da América da Latina e África do Sul, transmite este novo equilíbrio de poder. A formação deste grupo constituiu uma forte mensagem aos ocidentais e põe seriamente em perigo o seu projecto de estabelecer – fora do contexto das Nações Unidas – uma zona de interdição de voo na parte Norte da Síria. Os últimos meses de 2012 serão decisivos ao nível da emergência de novos equilíbrios regionais e internacionais e na formulação de uma nova imagem a partir de Damasco, graças à vitória do estado nacional sírio na guerra global contra ele conduzida.
Desenvolvimentos rápidos
Até as eleições presidenciais americanas, as quais serão no princípio de Novembro, os desenvolvimentos sírios internos, regionais e internacionais tornar-se-ão mais rápidos do que antes. Obviamente, a intervenção militar estrangeira, quer de dentro ou de fora do Conselho de Segurança, está fora de cogitação, se bem que as sanções tenham atingido os seus níveis mais altos enquanto o Capítulo VII está a ser impedido pelo direito de veto. A seguir às eleições presidenciais americanas, veremos a materialização das linhas políticas principais que afectarão a máquina militar utilizada do outro lado da fronteira e de dentro do território sírio.
Portanto, nessa altura deveria haver ou um reconhecimento da impossibilidade de introduzir mudança ao nível da geografia e do papel da Síria o que deveria induzir preparações para negociações sérias e para soluções políticas – que são rejeitadas pelos americanos, os quais recusam-se a responder ao convite envido pela Rússia para encontrarem-se – ou sustentar a aliança guerreira e a mobilização do estado de hostilidade a partir de todas as direcções, isto é, desde a conferência de Meca até a visita do ministro dos Estrangeiros francês a estados vizinhos da Síria para reunir tantas cartas de pressão quanto possível.
Não haverá zonas tampão (buffer zones) nem embargos aéreos, antes esforços para isolar completamente certas regiões fronteiriças do controle do estado a fim de testar as oportunidades para estabelecer mini-estados, semelhantes àqueles estabelecidos por Saad Haddad e Antoine Lahd sob tutela israelense no Sul do Líbano. A este nível, a aposta está na zona rural de Alepo na qual todos aqueles que vendem a sua honra entre os dissidentes serão introduzidos a seguir aos preparativos em Doha, Riyadh e Aman para dar legitimidade formal ao projecto de divisão.
Por outro lado, Lakhdar Brahimi foi nomeado enviado e mediador para a solução política e a missão de observadores foi finalizada a fim de preparar a arena para todas as possibilidades. Brahimi portanto passará tempo em excursões antes de ser adoptada uma decisão, enquanto a Síria fortalece-se com o seu exército e o povo, preparando – a começar por Alepo e sua zona rural – o rumo da mudança futura.

25/Agosto/2012

O original (em árabe) encontra-se em New Orient Center for Strategic Policies e a versão em inglês em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32490

Em depoimento à CPI do Cachoeira, Paulo Veira de Souza fala em ingratos, cita alta plumagem e nomeia detratores

viomundo - publicado em 29 de agosto de 2012 às 14:05

Gráfico publicado pela revista IstoÉ

por Luiz Carlos Azenha

O ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, em depoimento à CPMI do Cachoeira se referiu àqueles que supostamente o teriam traído:

Eu pedi a Deus para ser convocado para essa CPI. Porque os incompetentes devem continuar com medo de mim. Aqui estou. Essa frase é para todos que foram ingratos. Eu fui demitido oito dias após entregar uma das maiores obras desse país [o trecho sul do Rodoanel].

Mais tarde, nomeou o que diz terem sido seus detratores: revistas IstoÉ, CartaCapital e Época, Celso Russomano, Paulo Henrique Amorim, a delegada de polícia Nilze Scapulatiello e os tucanos ou ex-tucanos Evandro Losacco, Eduardo Jorge e Paulo Venceslau (agora no jornal Contato).

O tucano de mais alto escalão citado por ele:

O (José) Aníbal (ex-líder do PSDB na Câmara) disse que eu fugi… Nunca sai de São Paulo.

Ele também se referiu à “alta plumagem, que eu sei onde está, mas não aparece aqui. Eu estou aqui”.

O ex-diretor da Dersa negou as acusações de que tenha dado sumiço em 4 milhões de reais arrecadados para a campanha presidencial de José Serra em 2010:

Pessoas que nunca me viram, nunca me cumprimentaram, colocaram essa matéria.

O ex-diretor da Dersa disse que move 16 processos:

Minha luta só termina quando acaba, e não vai ser pouco, não tem acordo comigo. Já mandei eles assistirem ao (filme) Gladiador.

Sobre os 4 milhões, que nega ter arrecadado:

Por que é 4? Por que não é 8? Por que não é 500?

Nos anos 90, Paulo Vieira de Souza ajudou no processo de privatização das telefônicas e trabalhou na Casa Civil do governo Fernando Henrique Cardoso. Paulo Preto foi demitido pelo ex-governador Alberto Goldman, que assumiu quando José Serra se afastou do governo estadual para concorrer ao Planalto.

Com Folha, Rede Brasil Atual e Correio do Brasil

QUANDO O SILÊNCIO É A MELHOR ALTERNATIVA

recebido por e-mail – 28 agosto 2012

Não vi a comentada entrevista da tal xuxa no Fantástico deste domingo, dia 20/05. Mas não pude ignorá-la por muito tempo, pois a primeira notícia que recebi nesta manhã, logo cedo, foi: "- Cê viu que a xuxa foi abusada na infância?"

Fora o surrealismo da revelação, ocorreu-me que aquela, certamente, não era a notícia que desejava ouvir logo no início da semana. Afinal, como uma mulher de 50 anos, aparentemente esclarecida, só agora, passado todo esse tempo, resolve falar sobre algo tão grave? E por que me irritou tanto esta informação? Parei para refletir sobre o motivo deste sentimento e, confesso, não foi difícil descobrir.

Esta senhora, lá pelos seus primórdios, vivia no mesmo condomínio do meu irmão, no Grajaú, Rio de Janeiro. Lembro-me das minhas sobrinhas, ensandecidas, indo buscar as grotescas sandalinhas cheias de brilhos no apartamento dela, na esperança de encontrar o Pelé que, vira e mexe, dava as caras por lá.

Desde os seus 20 e poucos anos de idade, ela comanda programas infantis cuja tônica é erotizar precocemente as crianças, transformando meninas em arremedos de mulheres sem se preocupar com sua vulgarização.

Os programas que comandou sempre tiveram como mote atropelar o desenvolvimento infantil em sua exuberância repleta de etapas simbólicas. Pasteurizou os encantos desta fase empenhando-se em exaltar a diferença entre possuir e não possuir os produtos que anunciava ou que levavam sua grife tais como sandálias, roupas, maiôs, lingeries, xampus, bonecas, chicletes, cosméticos, álbum de figurinhas, cadernos, agendas, computadores, sopas, iogurtes, etc., num universo insano onde ela, eternamente fantasiada de insinuante ninfeta, faz biquinho e comanda a miúda plebe ignara.

Cientes estamos todos de que esta senhora, durante muitos e muitos anos, defendeu zelosamente seu polpudo patrimônio utilizando-se da fachada de menina meio abobada que sequer sabia quantos milhões possuía. Costumava dizer que era a sua empresária que administrava suas posses cujo montante alegava, candidamente, desconhecer. Pobre menina rica. E burra, com certeza. Como se fosse possível alguém tão tapada tornar-se tão rica.

Talvez para esconder a consciência que tinha acerca do quanto ajudou a devastar a inocência de tantas gerações de meninas que lhe devotavam a mais pura idolatria, posou de inocente útil usando a mesma máscara que agora reedita para falar, emocionada, do seu mais novo pretenso drama/marketing.

Esqueceu-se que sua audiência, formada, na sua massacrante maioria, por meninas, passou a ser considerada como alvo da desumana propaganda colocando-as como mero veículo de consumo.

Esqueceu-se, convenientemente, de comentar que milhares de garotas pelo Brasil afora foram abusadas sexualmente ao mesmo tempo em que eram, por ela, adestradas a vestirem-se e comportarem-se como verdadeiras lolitas.

Esqueceu-se de que ensinou atitudes claramente ambivalentes para crianças que não faziam a mais pálida ideia do que podiam mobilizar em mentes doentias.

Esqueceu-se de que a erotização tem sido ligada a três dos maiores problemas de saúde mental de adolescentes e mulheres adultas: desordens alimentares, baixa autoestima e depressão.

Esqueceu-se também que as crianças, diariamente bombardeadas com imagens de paquitas como modelos de uma beleza simplesmente inalcançável enquanto corpos reais, torturavam-se perseguindo um modo de serem belas, perfeitas, saudáveis e eternas.

Estimulando a sexualidade de forma tão precoce, essas meninas perderam grande e preciosa fase do seu desenvolvimento natural. E reduzir o período da inocência, certamente, acarretou-lhes desdobramentos nefastos.

Daí para ideia, cada vez mais presente, da infância como objeto a ser apreciado, desejado, exaltado, numa espécie de pedofilização generalizada na sociedade foi, apenas, um pequeno passo.

Num país onde as mães deixam suas crias, por absoluta falta de opção, frente à tevê sem qualquer tipo de controle e sem condições para discutir o conteúdo apresentado, encontrou esta senhora terreno mais que propício para disseminar sua perversa e desmedida ganância por audiência e dinheiro.

Fosse ela uma pessoa minimamente preocupada com a direção que a sexualidade exacerbada e fora de contexto toma, neste país onde mulheres são cotidianamente massacradas, teria falado sobre este suposto drama muito tempo atrás. Teria tido muito mais cuidado com os exemplos de exposição que passava. Teria norteado seu trabalho dentro de parâmetros muito mais educativos e, desta forma, contribuído para que milhares de meninas fossem verdadeiramente cuidadas e respeitadas.

Ou teria simplesmente virado as costas e ido embora.

Logo, frente ao seu histórico, não tem mesmo nenhuma autoridade para sustentar qualquer atitude fundamentada em belos e necessários méritos.

Porque são de grandes valores, bons princípios e atitude exemplares que nossa sociedade necessita de maneira URGENTE.

Portanto, CALE-SE, XUXA!

Heloisa Lima

Psicóloga Clínica - Maio de 2012.

Novela do Mensalão

recebido por e-mail – 29 agosto 2012

"A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem.
A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem,
a mudá-las".  (Santo Agostinho)

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domingo, agosto 26, 2012

Carta do Zé Cochilo

recebido por e-mail – 23 agosto 2012

A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo -,
foi escrita por Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal,
especialista em direito sócio ambiental e empresário,
diretor de Parque Nacionais e Reservas
do IBDF-IBAMA 88-89,
detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.

    Prezado Luis, quanto tempo.

    Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.

    Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra né Luis?

    Pois é. Estou pensando em mudar para viver ai na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos ai da cidade. To vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.

    Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.

    Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né Luis?

    Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né .) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô, bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?

    Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra né Luis? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.

   Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luis, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.

   Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.

   Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ai mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande né?

   Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios ai da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.

   Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né Luis? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.

   Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente.
Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.

   Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.

   Eu vou morar ai com vocês, Luis. Mais fique tranqüilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sitio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.

   Até mais Luis.

   Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.

(Todos os fatos e situações de multas e exigências são baseados em dados verdadeiros. A sátira não visa atenuar responsabilidades, mas alertar o quanto o tratamento ambiental é desigual e discricionário entre o meio rural e o meio urbano.)