"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, abril 05, 2012

Revolta fiscal na Irlanda

jornal de negocios - 03 Abril 2012 | 23:30

João Carlos Barradas

O boicote à taxa extraordinária veio complicar os cálculos do governo de Dublin que a muito curto prazo terá de chegar a um compromisso razoável com os contribuintes em revolta depois de quatro anos de crise e austeridade inclementes.

O governo de Dublin confronta-se com um boicote fiscal que ameaça os objectivos de redução do défice orçamental da Irlanda.
Metade dos contribuintes instados a pagar uma taxa extraordinária de 100 euros por unidade residencial não liquidaram o exigido pelo estado até à data limite de 31 de Março.
Nove deputados da "Aliança de Esquerda Unida" e independentes tinham lançado uma campanha de boicote ao pagamento depois do anúncio em Janeiro da imposição desta taxa que será substituída em 2013 por um imposto imobiliário baseado no valor das propriedades.

Uma taxa iníqua

O governo de coligação entre os conservadores do "Fine Gael" e trabalhistas, com apoio dos centristas do "Fianna Fáil", justificou a taxa única pela necessidade de angariar 160 milhões de euros para financiar serviços prestados pelo municípios.
O acordo com a troika obriga, igualmente, a rever o regime em vigor desde 1977 de pagamento de imposto de selo na compra de propriedade residencial e à liquidação de um imposto único de 200 euros por segunda residência.
O recenseamento administrativo - contestado por opositores que consideram existir subestimação deliberada - identificou cerca de 1,6 milhões de contribuintes, mas no final de Março apenas 805 569 titulares de unidades residenciais liquidaram a taxa.
Ante o boicote de metade dos contribuintes, apesar das fortes penalizações por atraso e ameaças de execução fiscal, o executivo de Enda Kenny, no poder há precisamente um ano, hesitou até agora
na atitude a tomar.
O ministro do ambiente e administração local Phil Hogan, do "Fine Gael", declarou que terá em conta os esforços das 34 entidades municipais do país em prol da cobrança da taxa, indiciando que poderá favorecer as cidades e condados que obtiveram pagamentos mais elevados.

A trabalhista Róisín Shortall, ministra da saúde, admitiu que o executivo teria de rectificar eventuais erros na imposição da taxa extraordinária.
Michael Noonan, ministro da finanças e membro do "Fine Gael", reiterou que o governo não disponibilizaria verbas para cobrir défices pela falta de pagamento da taxa, nem mostraria complacência para com os contribuintes relapsos.
A diferença de tom indicia que a coligação de Dublin terá dificuldade para acordar eventuais cedências como ocorreu em Março ao ter de aceitar que uma nova taxa sobre fossas sépticas, incidindo sobre 400 mil explorações agrícolas, fosse reduzida de 50 euros para 5 euros.
Obrigados a um compromisso

A margem de manobra governamental está comprometida pela recaída em recessão nos últimos dois trimestres do ano passado (quebras de 1,1% e de 2%, respectivamente) e uma taxa de desemprego de 14,7% (dados de Fevereiro) que põem em causa o objectivo de reduzir o défice orçamental para 8,6% do PIB em 2012.
O executivo previa um crescimento económico de 1,3% este ano, mas o "Conselho Fiscal Consultivo" do parlamento advertiu terça-feira de que a maioria dos analistas antevêem um crescimento máximo de 0,5%.

Esta entidade independente, criada em Junho do ano passado para supervisionar a política orçamental, considera que o governo terá de conseguir receitas fiscais adicionais ou reduzir gastos no montante de 400 milhões de euros em 2012 para chegar aos 8,6% de défice, depois dos 9,9% registados em 2011.
Dublin conseguiu, entretanto, luz verde para a emissão de obrigações a 13 anos de forma a adiar o pagamento de 3,1 mil milhões de euros (cerca de 2% do PIB) em notas promissórias emitidas para permitir que o "Irish Bank Resolution Corp." acedesse a fundos de emergência do Banco Central irlandês.
Continuam por acordar, no entanto, os termos de uma eventual reestruturação dos remanescentes 27 mil milhões de euros em notas promissórias resultantes da intervenção do governo na sequência do colapso bancário de 2008.
O referendo de 31 de Maio sobre o "Pacto Orçamental" condiciona ainda mais a coligação de Dublin.

As sondagens apontam para uma maioria de intenções de voto pelo "Sim", mas um braço de ferro com os contribuintes por causa da taxa residencial extraordinária poderia tornar mais difícil a aprovação do Pacto que Angela Merkel acordou com outros 23 governos europeus além de Dublin.
A Irlanda, sujeita desde Novembro de 2010 aos termos do acordo com a troika para um resgate de 85 mil milhões de euros, não pode arriscar que um "Não" a exclua do eventual acesso ao "Mecanismo Europeu de Estabilidade".
O boicote à taxa extraordinária veio complicar os cálculos do governo de Dublin que a muito curto prazo terá de chegar a um compromisso razoável com os contribuintes em revolta depois de quatro anos de crise e austeridade inclementes.
Jornalista
barradas.joaocarlos@gmail.com

Retrato de Estaline em cadernos escolares volta a provocar polémica na sociedade russa

darussia.blogspot.com - QUINTA-FEIRA, ABRIL 05, 2012

 

В московских магазинах появились в продаже школьные тетради с <br />изображением Иосифа Сталина, выпущенные в рамках серии "Великие <br />имена России". Диктатор представлен в виде парадного портрета со <br />всеми орденами

A publicação de cadernos escolares com o retrato de José Estaline está a provocar uma nova onda de discussões sobre o ditador comunista que governou a URSS entre 1924 e 1953.

Os cadernos, que chegaram às livrarias no mês passado, pertencem a uma série dedicada a personagens ilustres da História da Rússia como Catarina a Grande, o compositor Serguei Rakhmaninov, o pai do programa espacial soviético, Serguei Koroliov.

Na penúltima página do caderno podem-se ver fotografias de Estaline ao lado do famoso escritor Máximo Gorki ou do lendário piloto Valeri Tchkalov, mas também fotos de prisioneiros dos campos de concentração por ele criados.

No texto que acompanha as fotos lê-se que esta "foi uma figura contraditória" da história. Por um lado, é culpado pelo terror que levou à prisão e morte de milhões de pessoas, mas, por outro, sublinha-se que foi com ele que surgiu uma forte indústria soviética e umas forças armadas capazes de derrotar o ditador nazi, Adolf Hitler.

Políticos e historiadores do campo liberal exigem que as autoridades os retirem das livrarias, onde estão a bater recordes de vendas.

"Trata-se de degradação moral. Há leis da perceção visual, quando a criança vê essa rica capa com Estaline bigodudo e bonito, este é para ela um herói. Do ponto de vista educativo, trata-se simplesmente de total depravação", considera o conhecido historiador liberal Nikolai Svanidzé.

Serguei Volkov, redator-chefe do jornal Literatura, é ainda mais contundente: "Isso é comparável à publicação da suástica de Hitler".

"Como podemos excluir Estaline da lista de personagens históricas? Goste-se ou não, teve um papel muito significativo no século XX", defende Artiom Bilan, diretor artístico da editora Alt, que publicou os cadernos.

"As crianças e até os estudantes universitários não sabem quem é Estaline. Por isso, nós não só tratamos de vender o maior número de exemplares, mas também de contribuir para o conhecimento da história", acrescentou.

"Não é uma apologia ou um panegírico. Os métodos de Estaline foram condenáveis, mas não pode ser comparado a Hitler. Esperávamos alguma crítica, mas não uma polémica tão grande. Os cadernos não são para a escola primária, mas secundária", frisou Bilan.

Artiom Bilan assegura que a editora não tenciona suspender a venda dos cadernos, tanto mais depois da discussão ter feito disparar as vendas.

O ministro russo da Educação e Ciência, Andrei Fursenko, condena a publicação dos cadernos, mas reconhece que não pode proibir a venda.

"Acho isso negativo? Considero isso um fenómeno mau, incorreto", declarou aos jornalistas, acrescentando: "Que posso fazer? Quem pode fazer o quê? Os cadernos nem sequer são compêndios. Se não vai contra a lei, cada um pode publicar o que quiser".

"Não se pode por lei publicar pornografia, símbolos nazis, mas quem pode proibir por lei tudo o resto?", questiona.

Ilan Pappe: As perspectivas de solução para o conflito Israel-Palestina

viomundo - 5 de abril de 2012 às 1:12

por  Jair de Souza

Em 2010, o brilhante professor e humanista israelense Ilan Pappe deu uma palestra magnífica sobre o significado do sionismo: suas características inerentemente colonialistas e racistas.

Ilan Pappe observou como é enganosa a ideia propalada por certos círculos da “esquerda” europeia de que entre os sionistas israelenses  há forças democráticas de esquerda que estariam interessadas em chegar a uma solução justa com os palestinos.

Ilan Pappe deixou patente que não há diferenças significativas no comportamento colonialista e racista tanto da direita como da “esquerda” sionistas. Ambas correntes compartilham igualmente o objetivo e o desejo de livrar-se da presença do povo palestino nativo. A única grande diferença  está em que a “esquerda” sabe manipular as palavras muito mais habilmente que seus pares direitistas. Daí que, para os que lutam realmente para o fim do colonialismo naquela região, esta “esquerda” seja até mais perigosa do que a direita aberta e declarada, uma vez que, com seu palavreado ardiloso, ela consegue neutralizar boa parte da intelectualidade europeia, que parece contentar-se tão somente com palavras de efeito, independentemente da realidade sobre o terreno.

Para Pappe, a luta contra o colonialismo e o racismo na Palestina exige que o combate seja feito primeira e abertamente contra a ideologia que o impulsa, sustenta e ampara, ou seja, contra o sionismo. Sem a derrota ideológica do sionismo não há perspectivas de paz e justiça na Palestina.

Como  Pappe tratou de várias questões de fundamental importância (em minha opinião) para o desenvolvimento do trabalho de solidariedade com a luta anticolonialista do povo palestino, resolvi traduzir e legendar a memorável palestra de 2010. Dividi-a em quatro partes, que compartilho com vocês, leitores do Viomundo.

PARTE 1

PARTE 2

PARTE 3

 

PARTE 4

Santayana: novo cerco ao Brasil

Conversa Afiada - Publicado em 04/04/2012

Commodities: os neoliberais brasileiros engambelam-nos com a sonoridade britânica do termo

O Conversa Afiada republica texto de Mauro Santayana, extraído do JB online:

Novo cerco ao Brasil

por Mauro Santayana

Se, amanhã, os terrestres vierem a colonizar Marte, como muitos sonham, o feito será, dentro das circunstâncias do tempo e da ciência, menos surpreendente do que foi o desembarque europeu na América do Sul e a ocupação do espaço ainda desconhecido. Sabemos hoje muito mais do planeta vermelho do que os contemporâneos do Renascimento podiam conhecer da América do Sul. Na realidade, nem mesmo podiam ter certeza de que a quarta parte existisse.
Não só a conquista do território continental, mas a construção da consciência de pátria – da plena identidade e da soberania de nossos povos – tem sido ato permanente de luta e de resistência, contra a natureza hostil e contra a opressão política.
Só há dois séculos, na esteira da Revolução Francesa, da Guerra de Independência dos Estados Unidos e das guerras napoleônicas, admitiram a nossa existência como povo, mas sob arrogante tutela e subordinação aos seus interesses. O pior é que as coisas continuam quase da mesma forma. Querem-nos apenas como fornecedores de matérias primas. Ao usar o vocábulo commodities para designar nossos produtos primários, os neoliberais brasileiros engambelam-nos com a sonoridade britânica do termo, como antes os colonizadores nos engabelavam com os espelhos e miçangas. Continuamos exportando minérios e comprando máquinas; exportando soja e pagando royalties por tecnologia; exportando produtos de nossa singular biodiversidade, e importando medicamentos.
Se houvesse sido possível a exportação da cana em seu estado natural, não teríamos construído aqui os primeiros engenhos açucareiros. Só depois da Independência erigimos forjas para a fundição econômica do ferro; até então foices e enxadas vinham da Europa, por via de Portugal. A independência dos países latino-americanos foi de interesse da Grã Bretanha, que substituiu Madri e Lisboa. A partir de então, Londres se livrou dos intermediários e passou a disputar, com os Estados Unidos, que cresciam, o nosso mercado, como fornecedor de matérias primas e comprador de  produtos manufaturados.
É interessante notar que todas as vezes que as circunstâncias nos ajudavam, o cerco estrangeiro se fechava sobre o Brasil – e sobre os paises do continente. Nosso desenvolvimento industrial no Segundo Reinado – em que houve, para o bem e para o mal, a aliança da Coroa com Mauá – foi tolhido pela ação britânica, contra a economia brasileira e com o cerco ao grande empreendedor, cuja presença política no continente incomodava a geopolítica imperialista.
A República, não obstante todos os seus avanços, propiciou, pelas  dificuldades políticas de sua consolidação, o assédio britânico. As negociações draconianas da nossa dívida com a praça de Londres – o famoso funding loan é o exemplo da arrogância e voracidade dos banqueiros internacionais – favoreceram o desembarque de sua empresas no país, que, logo se associaram às norte-americanas.
Em 1922, em uma visão histórica equivocada, os tenentes se levantaram contra a eleição do mineiro Artur Bernardes, a partir de cartas falsas, a ele atribuídas, e que ofendiam o marechal Hermes da Fonseca. Até hoje não sabemos, exatamente, a quê e a quem serviram os falsários, não obstante as versões divulgadas. Era um bom momento para o Brasil, e que se frustrou em parte, na medida em que o presidente teve que defender, a ferro e fogo, o seu mandato – não tendo, em razão disso, conseguido ampliar as medidas nacionalistas adotadas contra os interesses anglo-saxônicos, entre elas as de nosso desenvolvimento siderúrgico.
Para não lembrar episódios menores no intervalo, o cerco a Getúlio, em seu segundo mandato, é nisso exemplar. O presidente entendera, desde os anos 30, que não teríamos soberania sem que tivéssemos a energia necessária ao desenvolvimento da economia. Por isso, cuidou da Petrobrás e da Eletrobrás, como   bases necessárias à economia industrial brasileira.
Os interesses estrangeiros – leia-se, norte-americanos – se mobilizaram, conforme documentos ianques indesmentíveis, com a ajuda dos meios de comunicação brasileiros,  e políticos cooptados, a fim de acossar o presidente até a tragédia de 24 de agosto de 1954. Não satisfeitos, desde que o tíbio governo de Café Filho não os garantira, tentaram novamente o golpe, em 11 de novembro de 1955, mediante os seus cúmplices nacionais. Se impedissem a posse de Juscelino, como queriam – e Lacerda vociferava em seus ataques ao mineiro – a primeira medida seria a revogação do monopólio estatal do petróleo.
A reação dos militares nacionalistas, chefiados por Lott, frustrou-lhes os planos, e Juscelino pôde, em seu qüinqüênio presidir ao extraordinário salto do Brasil rumo ao futuro – enfrentando, ao mesmo tempo os interesses estrangeiros e o derrotismo conformista de muitos brasileiros. A facção pró-americana, de civis e militares, que não queria o desenvolvimento autônomo do país, também açulada por Lacerda e outros, iniciou o processo golpista, prontamente contido pela reação de Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul. Diante da iminência da guerra civil, houve negociações que mudaram o sistema, implantando-se o  parlamentarismo.  Jango assumiu reduzido em seus poderes constitucionais, outorgados pelas eleições livres,  e era natural que a nação lutasse para que ele os recuperasse, como os recuperou, com a vitória no referendo popular.
O novo momento foi, mais uma vez, usado pelos norte-americanos, com a desavergonhada intromissão em nossos assuntos internos, mediante o IBAD e outros instrumentos. O golpe de 1964 se fez contra o Brasil, e não em defesa da soi-disant democracia hemisférica contra Cuba e a União Soviética. O que eles temiam, e continuam a temer, é a transformação de nosso país em grande potência econômica, provida de conseqüente força militar, capaz de garantir a sua presença política continental e sua soberania no mundo.
Estamos em momento similar, e em plena ascensão. Essa situação auspiciosa, é bom repetir até a exaustão, recomenda a todos os brasileiros, civis e militares, conscientes de seu pertencimento à  comunidade nacional, o máximo de prudência.  É preciso fechar as nossas portas  aos estrangeiros, interessados em retirar o seu butim dos conflitos internos, como fazem no Iraque, no Afeganistão, na Líbia – e se preparam para fazer na Síria e no Irã.

domingo, abril 01, 2012

A conspiração da lâmpada elétrica e a obsolescência programada

recbido por e-mail – 31 março 2012

O filme conta a história de como a indústria tem trabalhado por quase 100 anos para promover o aumento do consumo e o crescimento econômico produzindo produtos de qualidade inferior.

Por Henrique Andrade Camargo

Fonte: Carbono Brasil

Mesmo que você nunca tenha ouvido falar dela, certamente já foi vítima e, posso garantir, já sabia de sua existência mesmo sem talvez nunca ter ouvido seu nome. Estou falando da obsolescência programada, uma prática industrial que intencionalmente reduz a vida útil de um bem de consumo para forçar sua substituição por outro produto similar novo o mais rápido possível. Gostei muito do título da reportagem de Tatiana de Mello Dias, do Estadão, para definir o termo:“Programado para morrer”.

Em sua matéria, Tatiana levanta os pontos abordados no documentário The Light Bulb Conspiracy (A conspiração da lâmpada elétrica, em tradução livre), da diretora Cosima Dannoritzer. O filme conta a história de como a indústria tem trabalhado por quase 100 anos para promover o aumento do consumo e o crescimento econômico produzindo produtos de qualidade inferior.

Tudo começa com as lâmpadas elétricas, as primeiras vítimas da obsolescência programada. Na década de 1920, um cartel de fabricantes de luzes  decidiu que elas não deveriam durar mais do que mil horas. Naquela época, boa parte das lâmpadas duravam até 2,5 mil horas.

Outros dois casos são emblemáticos no documentário. Um levanta a questão das impressoras a jato de tinta. Elas teriam um sistema especialmente desenvolvido para travar o equipamento depois de um certo número de páginas impressas, sem a possibilidade de reparo, claro (pelo menos oficialmente). O outro trata do primeiro iPod da Apple, cuja bateria foi minuciosamente desenhada para durar pouco, também sem a possibilidade de substituição.

O ruim disso tudo são os desperdícios de recursos naturais e o lixo criado de forma desnecessária, que em muitos casos são enviados para os países pobres como se fossem produtos de segunda mão. Uma lei internacional proíbe que lixo eletrônico seja levado de um país para outro.

O bom é que o movimento para acabar com isso tem ganhado força. No caso da impressora, por exemplo, criou-se um programa que zera a contagem de impressões, fazendo com que a máquina continue funcionando normalmente. Já a Apple sofreu retaliação de clientes e processos judiciais, vendo-se obrigada a trocar as baterias fracas e a estender a garantia dos tocadores de música.

Assista ao documentário abaixo, com legendas em português:

Pimenta nos olhos

Carta Capital – 02 abril 2012

Cynara Menezes

Banana, café, cacau, jogadores de futebol, Havaianas e… armas não letais. Nação conhecida por ser pacífica, o Brasil caminha para ser uma das grandes potências do mundo na exportação de balas de borracha, gás lacrimogêneo, spray de pimenta e outros artefatos utilizados para o controle de multidões e repressão a manifestações. Enquanto fabricantes argumentam que os equipamentos diminuem a letalidade, defensores dos direitos humanos criticam o uso dessas armas contra manifestantes como uma medida antidemocrática.

A curta distância, as balas de borracha machucam muito e podem até matar. Foto: Reuters/Latinstock

Em janeiro, ativistas do Bahrein denunciaram que bombas de gás lacrimogêneo fabricadas no Brasil eram utilizadas para reprimir protestos pró-reforma no País, encabeçados pela maioria xiita contra a monarquia sunita do rei Hamad bin Issa al-Khalifa. No YouTube apareceu um vídeo onde se pode ver claramente balas de borracha de fabricação brasileira utilizadas pelas forças policiais.

Os ativistas denunciaram inclusive a morte de um bebê de 5 dias, que teria sido asfixiado pelo gás. Sites internacionais de defesa dos direitos humanos apontaram ainda, além da criança, outra pessoa no Bahrein, um senhor de 73 anos, que teria falecido por inalar o gás lacrimogêneomade in Brazil. Levantou-se, inclusive, a suspeita de que o produto brasileiro seja mais tóxico do que os produzidos fora.

O uso de armas não letais brasileiras para reprimir protestos não é exclusividade de regimes ditatoriais do Oriente Médio. Também nas manifestações em virtude da crise na Europa foram identificadas cápsulas de gás lacrimogêneo brasileiro jogadas para conter as multidões. Em junho do ano passado, um blogueiro do Egito divulgou na internet a foto de uma cápsula com a bandeira do Brasil lançada contra manifestantes em Atenas, na Grécia, onde ocorrem protestos contra o governo.

Além da bandeirinha verde e amarela, facilmente reconhecida pelos fãs de futebol, os artefatos têm em comum o fato de ser produzidos pelo mesmo fabricante, a Condor Tecnologia Não-Letal, de Nova Iguaçu (RJ). A empresa diz exportar armas não letais para cerca de 40 países na América Latina, África, Ásia, Oriente Médio e Europa, mas as cláusulas de confidencialidade nos contratos a impediria de especificar quais exatamente. Quando a denúncia sobre o uso de gás brasileiro no Bahrein foi publicada, a Condor negou que tivesse vendido o produto diretamente para o país.

O Itamaraty chegou a afirmar a disposição de investigar o assunto, mas agora nega ter tal poder. Segundo a assessoria do Ministério das Relações Exteriores, o único papel que cabe ao órgão é o de dar pareceres políticos sobre determinado país, a pedido dos órgãos envolvidos, antes que a transação comercial aconteça. O ministério informou ainda que não existe registro de consulta específica sobre o Bahrein.

Leia mais:
Brasileiro é morto em perseguição policial

A Condor afirma a importância da utilização de armas não letais pelas Forças de Paz da Organização das Nações Unidas no Haiti e na pacificação dos morros cariocas, como ocorreu no Alemão, em novembro de 2010. A empresa defendeu a utilização dos produtos como “alternativa entre o cassetete e o fuzil”. “Projetadas para imobilizar temporariamente sem causar morte ou danos permanentes, a sua correta utilização evita que a contenção de conflitos ou a reação a um meliante de baixo teor ofensivo (uma pessoa portando um canivete, por -exemplo) se transforme em banhos de sangue”, responde a fabricante. “Exemplos no Brasil, onde o uso de não letais poderia ter evitado tragédias, são os -casos do Carandiru e Carajás.”

A empresa lembrou que o uso de tecnologias não letais foi incentivado pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, do Ministério da Justiça, que coloca o emprego desses artefatos no combate ao crime como “um dos pilares do conceito de segurança pública cidadã”. Uma portaria de 2010 do ministério prevê que todo agente deve portar ao menos duas armas não letais. “No âmbito dos estados da Federação e mesmo dos municípios, o emprego de produtos não letais é uma realidade benéfica que ajuda a combater a violência de todos, inclusive a policial, reduzindo a -letalidade”, defende a Condor.

Nos últimos três anos, os contratos do governo federal com a companhia carioca para a

No Bahrein e na Grécia, foram encontradas cápsulas de gás lacrimogênio Made in Brazil

aquisição de armas não letais cresceram de forma impressionante. Até 2007, de acordo com o Portal da Transparência, não havia nenhum contrato. No ano seguinte, após a criação do Pronasci, as compras de armas não letais alcançariam 2,9 milhões de reais, valor que subiu para 13 milhões em 2009 e saltou para 24,7 milhões em 2011. Os estados também adquiriram da Condor artefatos do gênero. O governo do Distrito Federal, por exemplo, gastou 841 mil reais com armas não letais, e o governo do Paraná, 1,1 milhão, sempre com inexigibilidade de licitação.

Para que tanta bala de borracha, tanto gás lacrimogêneo e tanto spray de pimenta? Estariam os governos se armando contra manifestações? Na criticada reintegração de posse da comunidade do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), até o secretário nacional de Arti-culação Social, Paulo Maldos, foi atingido por uma bala de borracha. Na ocupação da Cracolândia, em São Paulo, também foi noticiado o uso do artefato. O mesmo ocorreu durante a greve dos PMs na Bahia, no mês passado. No carnaval de Salvador, noticiou-se que integrantes da Força Nacional que reforçavam o policiamento iriam utilizar armas “taser”, aquelas dos choques elétricos.

Até mesmo os agentes do Instituto Chico Mendes, que trabalham na proteção de parques nacionais, ganharam kits com gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha. De acordo com o Centro de Comunicação do Exército, o aumento do emprego de tropas em missões de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), como as recentes greves das PMs, incrementou a demanda por armas não letais. O Ministério da Justiça, por sua vez, diz que a utilização dos artefatos serve justamente para “evitar o uso desnecessário, des-proporcional ou abusivo da força”.

O problema é que, apesar do nome, a não letalidade dessas armas é posta em dúvida. No que diz respeito às balas de borracha, os próprios fabricantes aconselham atirar nas pernas a uma distância de ao menos 20 metros, o que não é levado exatamente ao pé da letra nos momentos de conflito. Se mais de perto, o disparo pode ferir gravemente e até matar. Há quatro anos, a Anistia Internacional divulgou um estudo no qual afirma que as armas “-taser” foram responsáveis pela -morte de 334 pessoas nos Estados Unidos, entre 2001 e 2008.

 

A industria armamentista brasileira teve um período de grande apogeu no passado recente, agora, parece estar retomando esse caminho.

É uma área que repassa tecnologia para o meio civil (basta observar a dependência dos EUA nesse quesito) e desenvolve pesquisa, além é claro de gerar empregos e divisas para o país. Se não fosse produzido internamente, teríamos que comprar de fora, ou no pior dos cenários, como mostra a reportagem, manter as armas letais na linha de frente do enfrentamento às rebeliões populares (justas ou não).

Devemos lembrar que o Pronasci é um programa federal (ou seja do PT), que o emprego das Forças Armadas em GLO é autorizada pelo Presidente da República que é do PT, tendo ouvido entre outros o Ministro da Defesa que também é do PT. Será que o PT não é democrático?

Em relação à questão levantada sobre o número de mortes por taser nos EUA (334), é o tipo de discussão vazia e sem sentido. Tipo de dado que serve para rechear noticias de impacto na mídia, mas totalmente idiota.

Entre 2001 e 2003 quase 30 mil pessoas morreram por armas de fogo nos EUA, segundo dados divulgados pelo Violence Policy Center. Comparando-se à morte por tasers, representado aqui por um período muito maior, essas foram de aproximadamente 1,15% das mortes por armas letais.

A Anistia Internacional ou está defendendo a morte por armas letais, ou como disse um comentarista na reportagem de Cyanara Menezes no site da Carta, deve defender que a policia enfrente o crime com a “Biblia” nas mãos.