"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, novembro 01, 2008

Base naval russa na Líbia?

darussia.blogspot.com - 31/10/08



A Líbia está pronta a instalar uma base militar naval russa no seu território a fim de se proteger dos Estados Unidos, escreve hoje o diário Kommersant.
A notícia é publicada no dia em que o Presidente líbio, Muammar Kaddafi chega a Moscovo a convite do seu homólogo russo, Dmitri Medvedev, para uma visita oficial de três dias.
Kaddafi não visitava a capital russa há 23 anos.
Segundo a fonte do jornal, ligada à preparação da vidita, Kaddafi, durante os encontros com os dirigentes russos, irá levantar a questão da criação da base naval russa no porto líbio de Bengazi.
Recentemente, um grupo de navios de guerra da Marinha russa, entre os quais se encontrava o cruzador atómico pesado Piotr Velikii, visitou a Líbia. O vaso de guerra Neustrachimii entrou também no porto de Tripoli quando se dirigiu para as costas da Somália, onde se encontra a combater a pirataria.
“Segundo o dirigente líbio, a presença militar russa será a garantia de que os Estados Unidos não irão atacar a Líbia”, escreve o Kommersant.
Durante a visita à Rússia, espera-se que Kaddafi faça aquisições substanciais de armamentos russos, no valor de cerca de dois mil milhões de dólares. O líder líbio está particularmente interessado nos sistemas russos de defesa anti-aérea, aviões e helicópteros.
Em Abril passado, quando Vladimir Putin visitou a Líbia, o Kremlin perdoou 4,5 mil milhões de dólares da dívida líbia à Uião Soviética. Em troca, Tripoli comprometeu-se a adquirir maquinaria e armamentos.

OS SAADI – TIO E SOBRINHO -, THOMAZ BASTOS, DANIEL DANTAS, A “BrOI” E VIVA O BRASIL !

Conversa Afiada - 31/10/2008 13:10



O Dr Jaber Saadi se aposentou da PF e foi prestar serviços a Thomaz Bastos

Paulo Henrique Amorim

. Jaber Saadi era Superintendente Regional da Polícia Federal em São Paulo.

. Foi Jaber Saadi quem ajudou a prender o traficante colombiano Abadia, aquele que morou anos em São Paulo, debaixo dos bigodes da polícia de São Paulo, que lhe tomava dinheiro e não o prendia.

. Jaber Saadi aposentou-se, tirou carteira da OAB de São Paulo e foi advogar – o presidente da OAB, Flavio D’Urso prestigiou a posse de Jaber Saadi.

. Um editor do Conversa Afiada ligou para o escritório do Dr. Marcio Thomaz Bastos, aquele que foi Ministro da Justiça.

. Marcio Thomaz Bastos, ainda Ministro da Justiça, foi jantar na casa do senador Heráclito Fortes com Daniel Dantas, três dias depois de a Veja publicar reportagem escrita a quatro mãos por Marcio Aith e Daniel Dantas, que provava a existência de contas secretas do presidente Lula E DE MARCIO THOMAZ BASTOS no exterior...

. O editor do Conversa Afiada telefonou para o escritório do Dr Thomaz Bastos e disse que queria falar com o Dr Jaber Saadi.

. A secretária pediu para esperar: “um momento”.

. Demorou e voltou: “ele não fica aqui”.

. O editor ligou outra vez: “O Dr Jaber Saadi trabalha aí ?”

. A secretária respondeu: “Não, ele não trabalha. Ele presta serviços. Mas, não trabalha aqui.”

. “Presta serviços ao escritório ?” perguntou o editor.

. Sim, ela respondeu.

. O Dr Jaber Saadi tem um sobrinho na Policia Federal.

. É o Dr Ricardo Saadi.

. Ricardo Saadi dirige importante delegacia da Polícia Federal: a do combate aos crimes financeiros.

. Essa delegacia tem o “quem é quem” da elite brasileira que faz transações escusas, lava dinheiro ou sonega o Fisco.

. Ricardo Saadi tem também a importante tarefa de substituir o ínclito delegado Dr Protógenes Queiroz, que presidiu a Operação Satiagraha e prendeu Daniel Dantas duas vezes.

. O presidente Lula, como se sabe, numa mesma vassourada, demitiu Queiroz e seu antigo chefe na PF, o ínclito delegado Dr Paulo Lacerda.

. Nessa espinhosa tarefa - não é fácil substituir um delegado corajoso, como o Dr Protógenes ! -, o Dr Ricardo Saadi tem que, por exemplo: decifrar os 13 HDs apreendidos na Satiagraha (12 na parede falsa de Dantas e um no Banco Opportunity); e apurar as falcatruas da “BrOi”, já que o Dr Queiroz acompanhou, on line, a troca de e-mails e de documentos, além da escuta telefônica que testemunham a construção da patranha da “BrOi”.

. Clique aqui para ver como o presidente Lula escalou o Senador Suplicy para apagar ESSE incêndio .

. O Dr Ricardo Saadi tem tudo isso à sua disposição.

. Ele sabe direitinho como é que a rapaziada da Brasil Telecom, da Oi, da Telemar, do Citibank e Daniel Dantas montou a patranha à custa da grana do Fundo de Amparo ao Trabalhador, administrado pelo BNDES ...

. Se o Dr Ricardo Saadi quiser, vai todo mundo em cana ...

. Estão lá, por exemplo, Gilberto Carvalho, secretario do Presidente Lula, e o “Gomes”, o deputado Greenhalgh, uma das estrelas que mais intensamente brilham no firmamento do PT de São Paulo.

. Vai todo mundo em cana, é claro, se o Dr Ricardo Saadi encaminhar as provas que detém aos corajosos Juiz De Sanctis e ao Procurador De Grandis.

. Mas, o que tudo isso tem a ver com o tio, o Dr Jaber ?

. Simples.

. 99%, ou melhor, 99,99% dos clientes do escritório do Dr Marcio Thomaz Bastos passam, passaram ou passarão no pente fino da Delegacia de Crimes Financeiros.

. Os clientes do Dr Marcio Thomaz Bastos são gente graúda.

. O Dr Ricardo Saadi é o chefe da Delegacia de Crimes Financeiros.

. O Dr Jaber Saadi, o tio dele, e seu protetor na Polícia Federal, “presta serviços” a Marcio Thomaz Bastos.

. Que serviços ?

. Serviços “indeterminados”, provavelmente.

. Viva o Brasil !

BC SAI DE CIMA DO MURO E APERTA OS BANCOS

Conversa Afiada - 31/10/2008 10:57



Meireles pode aumentar o tamanho da crise

Paulo Henrique Amorim


. Finalmente, o PiG decidiu tratar do “empoçamento”.

. Mas, só trata depois que o Banco Central do presidente do BankBoston resolveu apertar os bancos.

. Depois que o BC aperta os bancos, o PiG acorda.

. Desde a estatização dos bancos na Inglaterra e nos Estados Unidos, o Conversa Afiada criticou a leniência do presidente do BankBoston com os bancos brasileiros.

. Clique aqui para ler: "Por que o PiG passou a falar em “estatização” ?"

. Clique aqui para ler: "Se é para imitar o Gordon Brown, vamos imitar direito."

. Hoje, a manchete da Folha (da Tarde *) anuncia que o Governo só vai deixar que os bancos apliquem 30% do compulsório em títulos do Governo.

. Só 30% podem “empoçar”.

. O resto tem que voltar para a economia, primeiro, sob a forma de compra de carteiras de bancos mais frágeis.

. Agora, vamos ver se os bancos cumprem.

. E o BC do BankBoston pune.

. O Conversa Afiada e seus gurus estão convencidos de que a crise no Brasil pode ser do tamanho “P”.

. A inépcia e a lassidão do Banco Central podem transformá-la em crise de tamanho “M”.

. O mais interessante do noticiário do PiG é que a resistência à medida, aparentemente, era do Ministro da Fazenda ...

. Quer dizer, na Inglaterra e nos Estados Unidos, o Gordon Brown e o Henry Paulson podem apertar os bancos e obrigá-los a re-emprestar.

. Aqui, o Ministro da Fazenda tem medo ...

. Francamente, esse Governo Lula, tem medo da sombra ...

Eppur se muove

Blog do Luis Nassif - 31/10/08

Duas decisões, ontem, mostram que o governo começcou a utilizar munição mais pesada e a definir os rumos da economia em 2009.

Uma - surpreendente - do Banco Central definindo medidas punitivas (rentabilidade do compulsório) para bancos que não utilizarem o compulsório liberado para adquirir carteiras de terceiros. É tão inusitada (e bem vinda) a decisão que, para a Folha, o BC fez questão de dizer que tomou a medida sozinho. Parabéns!

A segunda foi a decisão de reduzir as metas de superãvit fiscal para o ano que vem. A terceira, a de criar linhas de crédito imobiliário para servidores.

Por Roberto São Paulo/SP

Creio que é um passo na direção correta.

Do Banco Central do Brasil

CIRCULAR 3.417

Dispõe sobre o cumprimento da exigibillidade de recolhimento obrigatório e encaixe obrigatório sobre recursos a prazo de que trata a Circular nº 3.091, de 1º de março de 2002.

A Diretoria Colegiada do Banco Central do Brasil, emreunião extraordinária realizada em de 30 de outubro de 2008, combase no art. 10, incisos III e IV, da Lei nº 4.595, de 31 de dezembrode 1964, com a redação dada pelos arts. 19 e 20 da Lei nº 7.730, de31 de janeiro de 1989, e na Resolução nº 1.857, de 15 de agosto de1991

D E C I D I U :

Art. 1º O art. 2º da Circular nº 3.407, de 2 de outubro de2008, passa a vigorar com a seguinte alteração:............................

Art. 3º O cumprimento da exigibilidade de recolhimentocompulsório e de encaixe obrigatório sobre recursos a prazo de quetrata o § 1º da Circular nº 3.091, de 1º de março de 2002, deverá serefetuado:

I - 30% (trinta por cento) mediante vinculação, no SistemaEspecial de Liquidação e de Custódia (Selic), de títulos públicosfederais registrados naquele sistema;

II - 70% (setenta por cento) em espécie.....................

Na contramão da crise mundial, Moçambique vê capitalismo prosperar

BBC Brasil - 31/10/08


Obra em Moçambique
Obras voltaram a Moçambique após acordo de paz em 1992
Economia subindo em média 7% ao ano, bolsa de valores com alta de 12% no acumulado de 2008, investimento estrangeiro crescendo, obras sendo realizadas e aumento do consumo da população.

Esse é o cenário econômico atual em Moçambique, um dos países mais pobres do mundo, em um momento em que os países ricos vivem sob a ameaça de uma recessão global.

Enquanto os países desenvolvidos se preparam para taxas de crescimento próximas ou até abaixo de zero, em Moçambique – onde o capitalismo começou há apenas 16 anos – quase todos descartam uma recessão e comemoram o bom momento nacional. Com a economia arrasada por uma guerra civil entre 1976 e 1992, Moçambique passou a última década crescendo rapidamente, sobretudo graças a investimentos estrangeiros.

Embora ainda não se perceba sinais da crise financeira, há temores aqui de que qualquer tropeço da economia mundial possa reduzir o ritmo acelerado de crescimento – que é fundamental para combater a extrema miséria da população de Moçambique, o oitavo país com maior índice de pobreza no mundo.

Bolsa em alta

Um dos símbolos do novo momento capitalista do país é a Bolsa de Valores de Moçambique, no centro da capital Maputo.

Há 20 anos, Moçambique era socialista e quase toda a economia era estatal. Criada no final dos anos 90, durante a transição para o capitalismo, a bolsa começou movimentando US$ 4 milhões em títulos, quase todos de empresas recém privatizadas.

Hoje, o mercado financeiro moçambicano negocia US$ 350 milhões em títulos de empresas com capital aberto. Desde o começo do ano, o movimento cresceu 12%, mesmo em meio à queda das bolsas em todo o mundo.

O presidente da Bolsa de Moçambique, Jussub Nurmamade, reconhece que a bolsa de Maputo é minúscula para os padrões do mercado financeiro – apenas seis corretores operam comprando e vendendo ações – mas diz que as operações refletem o otimismo do novo empresariado nacional.

Moçambique em números
Maputo
População: 21,4 milhões
PIB: US$ 8,8 bilhões
PIB per capita: US$ 310
Expectativa de vida: 42 anos (homens e mulheres)
Principais exportações: frutos do mar e algodão
Ranking de qualidade de vida*: 172º (de 177 países)
* Índice de Desenvolvimento da ONU

"Temos uma classe nova de empresários novos motivados, com idéias novas", explica Nurmamade à BBC Brasil. Os setores de mineração, frutos do mar, turismo e agricultura são os que mais crescem em Moçambique.

O sinal mais visível do crescimento econômico de Moçambique está nas ruas. O governo diz que o investimento estrangeiro no país cresceu 700% entre 2006 e 2007, puxado pela instalação de fábricas e, em grande parte, por construtoras chinesas. Em Maputo, há diversos outdoors de construtoras "das quatro estrelas do Oriente" vendendo apartamentos.

No bairro de Zimpeto, 14 quilômetros ao leste do centro de Maputo, cerca de 100 operários chineses constroem o novo Estádio Nacional de Moçambique, com capacidade para 42 mil torcedores. O país quer receber as seleções de futebol na fase preparatória que antecede a Copa do Mundo de 2010, na vizinha África do Sul, o que daria um impulso ao crescente turismo.

A obra é financiada pelo governo da China. Um dos diretores da obra, que preferiu não se identificar, disse à BBC Brasil que o estádio de US$ 57 milhões terá atrações inéditas aos torcedores moçambicanos – como modernos telões, câmeras de segurança e grama sintética – semelhante ao que se viu na Olimpíada de Pequim deste ano.

Futuro incerto

Apesar do otimismo vivido pelo país, os políticos e empresários acreditam que a crise mundial terá algum tipo de impacto na economia do país.

Prédio a venda. Foto: Daniel Gallas/BBC
Construtoras chinesas dominam aos poucos a paisagem de Maputo

"A crise financeira internacional tem impactos tremendos em diferentes países, mas nós não vislumbramos isso, porque a nossa economia está resistindo bem", disse recentemente a jornalistas o ministro das Relações Exteriores, Olegário Balói.

O presidente da Bolsa de Valores de Moçambique diz que com a crise financeira, grandes investidores estrangeiro – como China, África do Sul e Estados Unidos – terão menos crédito para obras em Moçambique.

"Como podemos pensar que não vamos ser afetados se dependemos muito da ajuda externa, sobretudo de países que nos ajudam, como Estados Unidos e países europeus", questiona Nurmamade. "Eu penso que o que pode acontecer é diminuir as nossas taxas de crescimento, mas posso garantir que de modo algum nos vamos entrar em uma recessão, como se vê no resto do mundo."

A economia de Moçambique já vai crescer menos neste ano, na comparação com 2007. A Direção Nacional do Orçamento, órgão do governo que cuida das finanças públicas, prevê que o PIB crescerá 7,3% em 2008, em vez dos 8,4% registrados no ano passado.

Crianças
Em Moçambique, 58% das crianças vivem abaixo da linha da pobreza

A queda seria mais por conta do excelente ano vivido pela economia em 2007 do que por influência da crise mundial - e o país ainda conseguiu manter seu crescimento acima da média da última década, de 7% ao ano.

Combate à pobreza

Mas há temores que a desaceleração possa ser maior. O FMI prevê que o crescimento médio dos países da África subsaariana cairá de 6,5% ao ano em 2007 para 6% em 2008 e 2009. No caso de Moçambique, o Fundo prevê que a taxa de crescimento possa ficar abaixo de 7% já no próximo ano.

Apesar de a redução ser modesta, ela é preocupante em Moçambique, o país com o sexto pior IDH (índice de qualidade de vida da ONU) do mundo. Entre 1997 e 2003, período de prosperidade e aceleração, a porcentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza caiu de 69% para 54%.

Segundo o FMI, cada vez que o PIB per capita cresce um ponto percentual em um país da África subsaariana, 0,5% da população ultrapassa a linha da pobreza, de US$ 1 por dia. O medo entre muitos moçambicanos é que uma retração da economia nacional, por menor que seja, agrave ainda mais a miséria e a desigualdade no país.

"Eu concordo e aceito que a economia do país está subindo", disse à BBC Brasil Manoel Matte, comerciante de artesanato do mercado público de Maputo.

"Mas aqui na capital do país temos problemas de alimentação. Os alimentos são produzidos no norte do país, e essa produção vai para o Malauí nós aqui no sul estamos sofrendo de fome. Esta é a única falha que eu estou vendo. O resto, eu acho que está melhor, pois temos transporte e estabilidade da nossa moeda, o que é um sinal de que a nossa economia está subindo."

O Estado segundo Obama e McCain: dois modelos econômicos em colisão

Instituto Humanitas Unisinos - 31/10/08

O democrata acredita que o Estado tem um papel na economia e que os mercados devem ser regulados. O republicano se opõe a qualquer tipo de intervenção. E as diferenças entre os dois se dão fundamentalmente ao nível da política fiscal. A reportagem está publicada no jornal argentino Clarín, 30-10-2008. A tradução é do Cepat.

Barack Obama quer redistribuir a riqueza, eu quero criar riqueza. Ele quer castigar os que têm êxito, eu quero premiá-los. Eu quero ser presidente para que todo o mundo possa ter êxito”, disse ontem John McCain, em plena campanha eleitoral norte-americana, acusando o seu rival democrata de “socialista” e “comandante-em-chefe da redistribuição da riqueza”. E continuou sua investida: “A resposta à desaceleração econômica não é mais impostos, mas é exatamente isso que Obama vai fazer”.

O democrata não ficou atrás. “Com John McCain, a classe média verá como os ricos serão mais favorecidos que os trabalhadores, os empregos serão mandados para o exterior e o custos com saúde e educação aumentarão drasticamente”, replicou acusando o seu adversário de querer continuar com as políticas falidas de George Bush que, segundo ele, provocaram a grave crise financeira enfrentada pelos Estados Unidos. “Durante oito longos anos nosso presidente sacrificou investimentos em saúde, educação, energia e infra-estrutura no altar dos cortes em impostos para as grandes companhias e para os executivos multimilionários... foram bilhões de dólares que não tem nada a ver com o conservadorismo que prometeu com paixão”, disse Obama.

A apenas cinco dias das eleições, Obama e McCain concordam em apenas uma coisa: as divergências econômicas que têm. Com efeito, trata-se de um verdadeiro duelo entre um admirador do New Deal e um simpatizante dos chamados Chicago boys.

Diante da atual e grave crise financeira e econômica, o “Plano para resgatar a classe média” e o programa econômico que Obama promete colocar em prática se situam na tradição do New Deal, isto é, na série de medidas adotadas por Franklin D. Roosevelt durante a Grande Depressão (1933-1936) para aliviar o desemprego, reformar as práticas financeiras e a maneira de fazer negócios para conseguir reativar a economia.

Obama acredita que o Estado tem um papel na economia e que os mercados devem ser regulados. Está convencido de que uma das causas da atual crise se deve à desregulação que vem se dando nos Estados Unidos desde Reagan.

O plano econômico de McCain, pelo contrário, se situa na tradição dos Chicago boys, isto é, os seguidores do famoso professor da Universidade de Chicago, Milton Friedman.

Se bem que no começo fosse um keynesiano que apoiava o New Deal e o aumento dos impostos, em 1950 Friedman desafiou o modelo de John Keynes e se converteu num grande defensor da liberdade dos mercados e das privatizações, opondo-se a qualquer tipo de intervenção do Estado na economia e, por conseguinte, nas regulações. Friedman foi o ideólogo dos governos de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher.

Neste contexto, as diferenças entre Obama e McCain se dão fundamentalmente ao nível da política fiscal. O republicano quer estender o corte impositivo estabelecido por Bush em 2001. Caso for eleito presidente, reduzirá, além disso, o imposto sobre os lucros das empresas de 35% para 25%. Também propõe um crédito impositivo de cinco mil dólares para que as famílias possam ter um seguro de saúde. Promete reduzir todos os gastos, exceto o militar.

Obama, por sua vez, propõe estender os cortes impositivos de Bush apenas para aqueles que ganham menos de 250.000 dólares por ano, mas anulará estes cortes no caso dos que ganham mais que essa quantia. Se bem que fará um corte impositivo aos que têm problemas com as hipotecas, aumentará os impostos sobre os lucros e os dividendos. O gasto mais importante de Obama são os 100 bilhões de dólares que pensa investir para que todos possam ter seguro médico.

Distribuição

Néstor Restivo

Um dos pais do liberalismo, David Ricardo, escreveu em carta de 1820 dirigida a Thomas Malthus que a economia política devia ser “um estudo sobre a distribuição do produto da indústria entre as classes que concorrem para a sua formação”. E acrescentava: “Não se pode associar nenhuma lei à quantidade de riqueza produzida, mas assinalar uma muito satisfatória à sua distribuição”, que – terminava dizendo – “constitui o objeto mesmo da ciência”.

Os atuais liberais como McCain gostam, ao contrário, de dizer que para distribuir – sempre uma idéia “populista – primeiro é preciso criar riqueza, algo óbvio. Mas depois, se suas políticas conseguirem que a economia cresça, mesmo de forma desequilibrada, elaboram academicamente a chamada “teoria do derrame”. Uma teoria que, com certa picardia, é chamada de “choro” em alguns países sul-americanos, mesmo que não saibam bulhufas.

À procura de escuridão

Instituto Humanitas Unisinos - 31/10/08

Hoje mais de metade da humanidade vive em áreas urbanas e a grande cidade começa a roubar o direito à escuridão. Escuridão que descobre-se agora é de vital importância para a saúde da humanidade e do planeta.

O comentário é do jornalista e ambientalista Washington Novaes em artigo no jornal O Estado de S.Paulo, 31-10-2008.

Eis o artigo.

Quem já viajou de barco à noite por rios e igarapés da Amazônia, perto da linha do Equador - onde brilham no céu estrelas dos dois hemisférios -, sabe o que é a sensação de uma noite realmente escura e de um céu estrelado. O autor destas linhas teve o privilégio de, num barco atracado no Rio Andirá, a algumas centenas de metros de uma aldeia indígena, botar a cabeça para fora da janelinha, ao lado do beliche em que dormia, e ter a sensação de que o mundo era feito só de estrelas - no céu e refletidas nas águas quase imóveis do rio. Sensação semelhante de deslumbramento descreve em seu livro Diversidade da Vida o biólogo Edward O. Wilson, maravilhado com a escuridão da floresta amazônica e as mudanças que ali se processam quando o Sol se esconde e a vida passa a ser regida por seres adaptados à ausência de luz solar, capazes de se orientar pelo olfato, pelo tato, por sensibilidade magnética e outros caminhos.

É uma possibilidade cada vez mais rara num universo que se urbaniza rapidamente - hoje mais de metade da humanidade vive em áreas urbanas e assim será cada vez mais, principalmente com a transferência de centenas de milhões de pessoas para as cidades, na China, na Índia e outros lugares. Sem falar que mais 2 bilhões de pessoas se somarão à população até meados do século. No Brasil mesmo, mais de 80% das pessoas já estão nas cidades, da mesma forma que em toda a América Latina. E isso significa mais problemas, como já observava em 1996 a conferência mundial Habitat II, ao chamar a atenção para o risco de insustentabilidade na qualidade de vida das pessoas, que já exigia "pensar na alternativa de trocar a estratégia de "lugar de consumo" pela "de consumo de lugar". Pássaros e outras espécies também sofrem na busca de alimentos e processos reprodutivos.

Na década de 90, o antropólogo espanhol Julio Baroja já dizia que "a grande cidade começa por nos roubar o essencial: o som dos nossos passos e a visão da nossa própria sombra". Tem toda a razão. Mas a esse pensamento muitos cientistas acrescentam agora outra perda: a da visão do escuro e do céu estrelado. A tal ponto que já se formam instituições - como a International Dark-Sky Association, no Arizona, EUA, que promove visitas a parques escuros, ou a Associação Internacional do Céu Noturno, que reúne 12 mil astrônomos de 75 países - empenhadas em preservar a visão do céu e das estrelas. Em Reykjavik, capital da Islândia, há poucos meses ocorreu o "dia sem luz artificial", 24 horas em que nenhuma luz nos edifícios, nos veículos ou nas ruas foi acesa.

A preocupação dos cientistas com a perda do escuro tem várias razões. The Wall Street Journal (25/7/8), por exemplo, relatou as pesquisas de Robert Lee Holtz, segundo quem a intensidade de luz artificial no mundo, medida em lúmens per capita, triplicou desde 1970 - e isso tem conseqüências na vida animal, na saúde humana e no "espírito humano". Dois terços das pessoas nos EUA e na Europa nem vêem mais um céu estrelado e nunca têm escuro suficiente para que seus olhos se adaptem a uma visão noturna. Nas cidades vêem apenas umas poucas dezenas de estrelas; nas áreas rurais, cerca de 2 mil. As luzes de Los Angeles podem ser avistadas a 200 quilômetros de distância, no Vale da Morte. Há pouco tempo, médicos tiveram de atender habitantes de Los Angeles, assustados com o que viram, durante um blecaute: "Uma estranha substância líquida no céu" (era a Via Láctea).

Mais preocupados ainda estão epidemiologistas como os da Universidade Harvard, segundo os quais enfermeiras que trabalham no período da noite têm incidência mais alta de câncer colo-retal. A pesquisadora Eva Schemhammer, que pesquisou o tema durante anos, também diz que o risco é mais alto para quem trabalha à noite três vezes por semana durante 15 anos. Outros cientistas, da Universidade de Connecticut, afirmam que essa incidência é 73% mais alta, de acordo com pesquisas que fizeram em Israel. E isso se deve a que a ausência de escuro reduz a produção do hormônio melatonina, que pode ajudar a evitar tumores. Tanto a Organização Mundial de Saúde como a Agência Internacional de Pesquisas do Câncer já incluíram o trabalho noturno na lista de possíveis fatores cancerígenos.

Psicanalistas também estudam as conseqüências da urbanização descontrolada na psicologia de crianças, privadas do contato com árvores, animais e até outras crianças, por falta de espaço para o convívio. E conseqüências até em adultos, permanentemente cercados por edifícios e veículos (na cidade de São Paulo são 4 mil veículos por quilômetro quadrado, eles já ocupam mais de 50% do espaço urbano). Não por acaso, o tema mais freqüente nos lançamentos de edifícios e condomínios é o "espaço verde", a "reconquista da liberdade" e coisas assim.

Estranho que pareça, o tema não costuma freqüentar a pauta política e/ou eleitoral, como a recente campanha demonstrou mais uma vez. Embora seja um tema político relevante: afinal, é a qualidade de vida, a saúde dos cidadãos, que está em risco. Porque a urbanização sem controle vem também acompanhada de estatísticas estarrecedoras, como as divulgadas na semana passada: segundo a Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares, "54,6 milhões de pessoas no Brasil não vivem dignamente" - em casas sem água tratada e sem rede coletora de esgotos ou, ainda, em áreas de ocupação irregular ou com construções precárias. É em troca disso que se perde o direito à visão do céu? Ou para viver em gavetas enfumaçadas, com medo de tudo e ódio dos vizinhos, direito só a algumas horas de TV à noite? Imagine-se o que aconteceria se, por um problema qualquer, uma metrópole ficasse uma semana sem TV, com as pessoas confinadas e olhando uma para as outras...

E, no final das contas, onde fica o prazer? É preciso, como prega o poeta Thiago de Mello, não abrir mão: "Faz escuro mas eu canto."

OS BRICS NÃO SE DESCOLAM, MAS NÃO DERRETEM

Conversa Afiada - 30/10/2008 10:27




A situação mudou, mas o Brasil não vai á breca

Paulo Henrique Amorim

. A economia brasileira vai crescer este ano 5,6% e a inflação será de 5,7%.

. Ano que vem, a economia brasileira vai crescer 3,3% e a inflação será, de novo, de 5,7%.

. Ou seja, a economia brasileira vai se desacelerar – como a do mundo todo.

. O PIB da China, por exemplo, de 2008 para 2009 vai cair de 9,8% para 8,7%.

. O da Índia, de 7,5% para 7%.

. O da Rússia, de 6,2% para 4%.

. Os BRICs vão andar mais devagar.

. Mas, não vão quebrar, nem derreter, como prometem o PiG e os defensores do “quanto pior melhor”.

. Essas previsões são de uma newsletter do departamento de economia da Goldman Sachs, chefiado por Jim O’Neill, divulgada ontem, quarta-feira.

. Jim foi o autor do estudo que popularizou a expressão “BRICs”, Brasil, Rússia, Índia e China, cuja soma dos PIBs será maior do que a das economias do G-7, em algumas décadas.

. O’Neill foi o primeira a falar em “descolamento”: as economias do G-7 iam entrar em parafuso, mas as dos países emergentes se descolariam.

. Até setembro, isso foi verdade, disse O’Neill, nessa última newsletter.

. Agora, a coisa ficou diferente.

. Alguns países emergentes não vão se descolar com tanta facilidade.

. Mas, outros, sim.

. E os resultados acima expostos – os dos BRICs – demonstram que eles vão sofrer, mas não vão para o saco, como defendem, aqui, o PiG e o partido do “Quanto Pior Melhor”.

CADÊ O ÁUDIO DO GRAMPO DA VEJA E DO GILMAR?

Conversa Afiada - 30/10/2008 10:02



Será que o Supremo Presidente achou um áudio embaixo da ponte ? (*)

Paulo Henrique Amorim

. Soube-se outro dia que o senador Eduardo Suplicy ia visitar o Supremo Presidente do Supremo, o empresário Gilmar Mendes.

. (Ele tem um negócio tão próspero que consegue anunciar na Veja!!! – clique aqui para ler ...)

. Seria o caso de o Senador perguntar ao Presidente Supremo se ele tem alguma idéia de como achar o áudio do grampo da Veja, aquele em que o Supremo Presidente e o Senador Demóstenes Torres aparecem num diálogo inútil.

. Até hoje, a nova Polícia Federal, que protege Daniel Dantas, não achou o áudio do grampo.

. Será uma contribuição do Brasil à tecnologia universal, uma revolução copernicana: criar um grampo telefônico sem áudio.

. Este áudio sem grampo (até agora) foi aquele que levou o Ministro serrista da Defesa, Nelson Jobim, a mentir para o presidente Lula (lembram da babá eletrônica do Ministro Jobim?) e provocar a demissão do ínclito delegado, Dr. Paulo Lacerda, da ABIN.

. Outra questão pendente: será que a Polícia Federal, que, agora, protege Daniel Dantas, não conseguiu ainda decifrar as 12 fitas que o ínclito delegado Protógenes Queiroz achou atrás da parede falsa do apartamento de Dantas em Ipanema?

. Que dificuldade, hein?

. O Conversa Afiada, modestamente, consultou um especialista – Dantas sabe quem é ... – e mostrou à Policia Federal que não há código que não possa ser quebrado.

. E ensinou como se deve decifrar essas fitas ...

. É só querer.

. E mandar aos corajosos Juiz De Sanctis e Procurador da República De Grandis ...

Em tempo: por falar em Justiça, quando será que a turma do Ministro Eros Grau vai reexaminar os DOIS Habeas Corpus que o Supremo Presidente deu a Daniel Dantas em QUARENTA E OITO HORAS ?

(*) No grampo da privatização, quando alguém disse “isso vai dar m...” e “chegamos ao limite da nossa irresponsabilidade”, tudo para o Daniel Dantas ganhar o leilão, o governo Fernando Henrique achou o áudio embaixo de uma ponte ... Vai ver que é a mesma ponte onde se esconde o áudio do Presidente Supremo...

O caso do porto de Salvador

Blog do Luis Nassif - 30/10/08

Da Comunidade de Gestão

PORTO DE SALVADOR, O PLEITO DO TERMINAL DE CONTÊINERES E O MARCO LEGAL
* Posted by Cesar Meireles

Em 19 de outubro p.p. leio no jornal A TARDE de Salvador a matéria “Porto corre risco de perder cargas”, trazendo à luz das discussões o contraponto do tema nas falas de profissionais experientes e reconhecidos nas áreas onde atuam.

É certo que o Porto de Salvador, assim como tantos outros nos quatro cantos do mundo, foi de certa forma sufocado pelo crescimento da cidade que se viu tomada pelo avanço urbano desordenado no seu entorno. Essas cidades foram fruto das instalações portuárias, as quais se beneficiaram dessa condição para o desenvolvimento, tanto da própria urbe, quanto da sua hinterlândia. Em Cidades e Portos: os espaços da globalização, Editora DP&A, Rio de Janeiro, 1999, seus autores Silva & Cocco, trazem muitos exemplos versando sobre o assunto em vários países.

O pleito do TECON Salvador, bem argumentado pelo seu diretor executivo, traz como elemento basal o fato de ter realizado investimentos à luz de uma realidade à época do certame público, do qual se saiu vencedor em 1999.

Desde então, o Brasil e o seu comércio internacional viram-se impulsionados pelo comércio exterior mundial. Em conseqüência, demandam navios cada vez maiores como os das novas gerações de “full containers” que, lançados no “trade” global, passarão ao largo do Porto de Salvador caso não venha a ser aprovada a expansão da atual capacidade instalada do porto para a movimentação, embarque e desembarque de contêineres (continua).

As lições de Jeffrey Sachs

Blog do Luis Nassif - 30/10/08

Por José Meirelhes

Em 27/10/2008 o Financial Times publicou artigo do Jeffrey Sachs com o título "The best recipe for avoiding a global recession" (A melhor receita para evitar uma recessão global). O texto está disponível em clique aqui.

Nesse artigo o J. Sachs elenca 7 ações para enfrentar a recessão mundial. A primeira é a seguinte:

First, the US Federal Reserve, the European Central Bank and the Bank of Japan shoud extend swap lines to all main emerging markets, including BRAZIL, Hungary, Poland and Turkey, to prevent a drain of reserves. ( Primeiro, o FED, o Banco Cental Europeu e o Banco do Japão deveriam fornecer linhas de swap para todos os principais mercados emergentes, incluindo Brasil, Hungria, Polônia e Turkia, para impedir uma fuga de reservas.)

A segunda medida é a seguinte:

Second, the International Monetary Fund shoud extend low conditionality loans to all countries that request it, starting withPakistan. (Segundo, o FMI deveria fornecer empréstimos com poucas contrapartidas para todos os países que os solicitem, começando com o Paquistão.)

Parece que o Sachs está bem informado, pois esses dois passos já foram anunciados. Só faltam os outros cinco. Vamos aguardar.

O Beato Salu, por outro lado, não consegue apontar qual o caminho para sair do buraco. Parece que só consegue olhar lá para baixo. Como é um economista bem formado e informado, deve ter algum outro interesse para assim proceder. Idiota ele não é.

Do Guia Financeiro

A receita de Scahs

Qualquer expansão coordenada deverá incluir as seguintes ações:

Primeiro - O Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão devem estender linhas de swap a todas as principais economias emergentes, incluindo Brasil, Hungria, Polônia e Turquia, para impedir a perda de reservas;

Segundo - O Fundo Monetário Internacional deverá estender empréstimos de baixa condicionalidade a todos os países que o solicitarem, como o Paquistão;

Terceiro - Os Estados Unidos, os bancos centrais europeus e reguladores devem trabalhar junto aos seus grandes bancos para desencorajar a retirada abrupta de linhas de crédito para as operações no exterior. A Espanha tem um papel a cumprir com os bancos na América Latina;

Quarto - China, Japão e Coréia do Sul deverão realizar uma expansão macroeconômica coordenada. Na China, isso representaria o aumento das despesas com habitação e infra-estrutura. No Japão, aumento nos gastos com infra-estrutura e com o financiamento a nações em desenvolvimento da Ásia e da África;

Quinto - O Oriente Médio deveria financiar projetos de investimento em mercados emergentes e de baixa renda, além de acompanhar as despesas domésticas, apesar da queda do petróleo

Sexto - Os Estados Unidos e a Europa devem expandir os créditos à exportação de baixo e médio rendimento dos países em desenvolvimento, tanto para atender suas promessas não cumpridas como para atuar como estímulo contra-cíclico;

Sétimo - Existe espaço para a expansão da política fiscal nos Estados Unidos e na Europa, apesar dos grandes déficits orçamentários. Os EUA deverão se concentrar na infra-estrutura e na transferência de capital para estados "amarrados", sem cortes fiscais. Este pacote pode não interromper a recessão americana e em parte da Europa, mas conteria a recessão na Ásia e nos países em desenvolvimento.

A visão keynesiana da crise

Instituto Humanitas Unisinos - 30/10/08

A Associação Keynesiana Brasileira publicou um livro com vários artigos curtos sobre a visão keynesiana da crise.

Coloquei na Comunidade de Desenvolvimento (clique aqui para ir até lá).

O Não-Me-Toques do BC

Blog do Luis Nassif - 30/10/08

Do Valor de hoje

(...)"O problema hoje é de crédito e esse deve ser o foco da atuação dos governos, especialmente na área federal. O dinheiro precisa circular", receita Mauro Ricardo Costa, secretário da Fazenda do Estado de São Paulo.


Mauro Ricardo avalia que a equipe econômica adotou algumas medidas corretas, mas agiu muito timidamente para resolver a falta de crédito e desmanchar o empoçamento da liquidez, que mantém os recursos que deveriam financiar a produção parados nos bancos. Para ele, as medidas envolvendo a liberação de recursos dos depósitos compulsórios não funcionaram e só surtirão efeito quando os bancos forem penalizados por não emprestar dinheiro.

Essa penalização, sugere, deve ser feita via redução da remuneração dos bancos. O depósito compulsório, diz, poderia ser remunerado a 20% da Selic. "Você não precisa obrigar ninguém a emprestar, mas você pode reduzir as vantagens de quem não o faz", observa. "Enquanto os bancos não começarem a reclamar é porque as medidas ainda não foram suficientes".

Comentário

O mundo mudou, a atuação dos Bancos Centrais mudará radicalmente. Mas não se conseguirá definir a nova forma de atuação com os mesmos quadros.

Daqui para frente, acabou o piloto automática de montar um cenarinho de preços aqui e definir livremente um nível de Selic ali – sem a menor preocupação de errar por excesso.

O novo BC exigirá ação pró-ativa sobre o sistema financeiro, impondo regulação mais rígida, pressionando quando for necessário, identificando problemas antes que ocorram.

Esse não-me-toques em relação ao crédito está dificultando a recuperação da economia brasileira no próximo ano.

Caatinga é destruída mais rapidamente do que a Amazônia

Instituto Humanitas Unisinos - 30/10/08

O lançamento do Mapa das Unidades de Conservação e Terras Indígenas Caatinga, ontem em Brasília, serviu para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc constatar o que os cientistas já sabem. "A caatinga está sendo destruída num ritmo mais acelerado do que a Amazônia. Não quero que daqui a alguns anos o que restou da caatinga vire deserto", disse Minc à Agência Brasil. De todo o bioma, 59% já foi alterado. Desertificação e cana são as ameaças.

A notícia é do jornal Folha de S. Paulo, 30-10-2008.

Como lá não tem imensas riquezas minerais no subsolo ou grande número de espécimes vegetais desconhecidas que poderão ser patenteadas pelos grandes grupos farmacêuticos internacionais, não vemos as "dedicadas" ONG's gritarem contra tal fato.
Comentário meu.

O circulo vicioso do sistema bancário

Instituto Humanitas Unisinos - 30/10/08

Atualmente, uma vez mais os contribuintes dos Estados Unidos, da Europa e Ásia estão sendo forçados a recapitalizar os bancos. Agora vem à luz que a realidade financeira é o contrário do que os economistas nos quiseram fazer crer: vemos que os bancos sempre receberam dinheiro dos contribuintes através dos bancos centrais para emprestá-lo, a juros, aos próprios contribuintes. O artigo é de Hazel Henderson, economista, autora do artigo Sociedade Sustentável e desenvolvimento sustentável: limites e possibilidades, publicado nos Cadernos IHU Idéias, no. 58. A edição está disponível nesta página. O presente artigo foi publicado pela Agência Carta Maior, 29-10-2008.

Eis o artigo.

As últimas ações empreendidas pelos governos e bancos centrais para injetar maciçamente dinheiro novo em seus bancos deixa os cidadãos médios ultrajados e desconcertados. Não eram os bancos os lugares que guardavam nossos depósitos e depois nos emprestavam para construirmos nossas comunidades e fazer crescer nossos negócios? Disseram-nos que tínhamos de confiar nos bancos. Agora descobrimos que os bancos não confiam entre si.

Não é de estranhar que as chocantes revelações sobre os erros de Wall Street, estimulados pela falta de regulamentação e supervisão, tenham levado a uma falta de confiança nos bancos. Suas temerárias especulações financeiras estão levando ao questionamento da maneira fundamental com que foram estruturados os sistemas bancário e monetário. Os pânicos bancários foram recorrentes no século passado e sempre foram os contribuintes, através de seus governos, que salvaram os banqueiros de seus erros.

Atualmente, uma vez mais os contribuintes dos Estados Unidos, da Europa e Ásia estão sendo forçados a recapitalizar os bancos. Agora vem à luz que a realidade financeira é o contrário do que os economistas nos quiseram fazer crer: vemos que os bancos sempre receberam dinheiro dos contribuintes através dos bancos centrais para emprestá-lo, a juros, aos próprios contribuintes. Como permitimos que tal fraude continuasse por tanto tempo?

O Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) é uma corporação privada dirigida por 12 bancos regionais com apenas os membros da direção e da presidência designados pelo governo. O Fed empresta nosso dinheiro, criado pelo Tesouro, aos bancos, que são autorizados a emprestá-lo em quantidade 10 vezes superior às suas reservas monetárias, o chamado encaixe bancário. Aos bancos pede-se que mantenham 8% de seus ativos em reserva, mas exercem incessante pressão para reduzir esse “colchão” amortizador de perdas.

Desde que o Fed foi criado em 1913, o Congresso cedeu seu poder constitucional de criar as existências em dólares ao sistema bancário. Agora, vemos a um simples olhar como isto funciona. Quando os bancos estão com problemas, correm riscos estúpidos, etc, o Fed simplesmente imprime mais dinheiro e o dá aos bancos. E se isto não é suficiente, o Fed acrescenta novas reduções de taxas de juros, empréstimos especiais e resgates bancários, como o plano do Secretário do Tesouro norte-americano, Henry Paulson, de US$ 700 bilhões.

Paulson pretendia que os contribuintes cedessem os US$ 700 bilhões aos seus ex-colegas da Goldman Sachs, Morgan Stanley e outras instituições financeiras de Wall Street em troca dos “tóxicos” empréstimos hipotecários destinados a credores insolventes criados por essas mesmas instituições. Felizmente, o Congresso criou algumas salvaguardas e US$ 250 bilhões agora irão diretamente para a compra de ações dos bancos em risco, bem como incorporando muitos planos alternativos.

Como muitos altos funcionários, incluindo Paulson, são ex-executivos da Goldman Sachs, os contribuintes deveriam insistir para que Goldman Sachs e Morgan Stanley, cujas equipes aconselharam o Tesouro no salvamento, e outras firmas envolvidas sejam excluídas de todo manejo desses US$ 700 bilhões. Entretanto, Paulson anunciou que um ex-empregado da Goldman Sachs, Neel Kashkari, estará encarregado da administração dos US$ 700 bilhões dos contribuintes norte-americanos.

Para a longamente atrasada reforma dos sistemas monetários, há propostas bem pensadas: nos Estados Unidos pelo American Monetary Institute, na Grã-Bretanha pelo reconhecido especialista bancário James Robertson e no Canadá por Comer.org. Chegou a hora de regulamentar Wall Street e o cassino global, bem como de fazer com que o sistema financeiro volte ao limitado papel de servir às necessidades das economias reais e produtivas. Com estas e outras reformas se poderá conseguir que os bancos cumpram seus propósitos originais.

Eles podem financiar a manutenção das esquecidas infra-estruturas públicas e complementar os investimentos privados que agora estão entrando em torrente na crescente economia verde, na medida em que muitos países estão tentando sair da anterior Era Industrial baseada nos combustíveis de origem fóssil e entrar na sustentável Era Solar.

Linha direta Brasil-EUA

Instituto Humanitas Unisinos - 30/10/08

O Banco Central (BC) brasileiro vai ter mais US$ 30 bilhões à disposição para enfrentar a turbulência internacional. O montante virá de uma linha anunciada ontem pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), que envolve troca de moedas entre os dois países, conhecida como swap. Isso significa que o Brasil poderá trocar reais por dólares e injetar liquidez no mercado.

A reportagem é de Patrícia Duarte e Juliana Rangel e publicada pelo jornal O Globo, 30-10-2008.

A medida, que já havia sido fechada pelo Fed com outros nove bancos centrais do mundo, terá validade até o dia 30 de abril de 2009. Mas, ao contrário de outros países, que reduziram seus juros, o Comitê de Política Monetária brasileiro decidiu ontem manter a taxa básica em 13,75% ao ano, após quatro altas seguidas.

A troca de reais por dólares foi permitida pela medida provisória (MP) 443, editada pelo governo na semana passada. Segundo o BC, a operação, se acontecer, será da seguinte maneira: os dólares serão depositados nas reservas internacionais e o equivalente em reais vai para uma conta do Fed, numa cotação que será fechada no dia. A operação não terá juros, nem variação cambial. Na data marcada para fazer as devoluções, será levada em consideração a cotação fechada no início da operação.

— Existe um significado importante neste acordo, que é a inclusão do Brasil, formal, entre as economias que são sistematicamente importantes — afirmou o presidente do BC, Henrique Meirelles, em um pequeno pronunciamento à noite, e sem responder a qualquer pergunta dos jornalistas.

— É um reconhecimento importante da qualidade da política econômica implementada pelo Brasil.

No Palácio do Planalto, a avaliação é de que o acordo com o Fed mostra que o Brasil está em outro patamar. Um ministro chegou a dizer que o BC deu ontem uma demonstração de força expressiva na queda-de-braço que passou a travar com o mercado.

Para analistas, linha acalmará mercado

O BC, por enquanto, não definiu se vai usar a linha. Quando foi baixada a MP 443, Meirelles afirmou que a medida tinha apenas um caráter preventivo e que só a usaria em caso extremo. Isso porque o país possui reservas internacionais bastante elevadas, acima dos US$ 200 bilhões, e o BC a tem usado pouco para dar liquidez no mercado, bastante afetado pela crise. Isso ocorre por meio de leilões de venda direta de dólares, em torno de US$ 5 bilhões desde a fase mais aguda da turbulência. No mercado, a avaliação é que o Brasil não vai usar de fato a linha do Fed.

— É um valor bastante considerável, uma gordura importante para a política cambial. Provavelmente não será usada, devido ao nível de reservas que o país possui, mas é simbólico porque mostra que o BC tem condições de combater a espiral do câmbio — afirma a economistachefe do ING, Zeina Latif, referindo-se à escalada do dólar, que chegou a ultrapassar a casa dos R$ 2,50 durante as negociações diárias.

— Os Estados Unidos costumavam fazer empréstimos-ponte para o Brasil na década de 80. Na época, pediam títulos do governo americano como lastro. Essa é a primeira vez em que o real é a própria garantia da operação — diz o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.

Para Cristiano Souza, economista do Banco Real, o anúncio deverá acalmar o mercado de câmbio no Brasil.

— Essa linha serve para dizer ao mercado que o BC tem US$ 200 bilhões de reservas, uma possibilidade enorme de operações no mercado futuro e mais esses US$ 30 bilhões que poderão ser usados para conter a volatilidade, se for necessário. Imaginamos que o câmbio pode cair lentamente até chegar a R$ 2 no fim do ano.

O Fed fechou ontem a mesma linha com outros três bancos centrais de países emergentes: Cingapura, Coréia do Sul e México. São US$ 30 bilhões para cada um, com prazo igual ao brasileiro. Ou seja, o BC americano acertou que pode injetar US$ 120 bilhões no mundo. Desde que a crise se agravou, em meados de setembro, o Fed já fechou acordos semelhantes com outros bancos centrais, mas de países ricos. Entre eles, os de Austrália, Canadá e Inglaterra, além do Banco Central Europeu, o segundo mais poderoso do mundo. Estas linhas ultrapassam US$ 180 bilhões.

Em nota, o BC brasileiro explicou que a nova linha “não implica condicionalidades de política econômica (como os empréstimos do Fundo Monetário Internacional no passado) e será utilizada para incrementar os fundos disponíveis para as operações de provisão de liquidez em dólares.”

'Capitalismo de compadres'. MP 443 e o balcão de negócios. Entrevista especial com Reinaldo Gonçalves

Instituto Humanitas Unisinos - 30/10/08

Segundo o economista Reinaldo Gonçalves, a situação do Brasil é grave em relação à crise financeira mundial “em decorrência das vulnerabilidades e fragilidades do país, bem como dos erros de estratégia e política do governo Lula”. Em entrevista à IHU On-Line, realizada por e-mail, o professor reflete sobre as conseqüências do problema econômico que abala o mundo para o Brasil, sobre o contexto latino-americano e, ainda, sobre as estratégias traçadas pelo governo Lula para conter a expansão da crise no país. Para ele, o governo brasileiro subestimou a crise e afirma que “o argumento central é que a crise atual brasileira tem repercussões e está envolvida em incertezas críticas muito mais sérias do que aquelas implícitas nas medidas tomadas pelo governo Lula no imediato pós-crise nos Estados Unidos”.

Reinaldo Gonçalves é economista, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Obteve o título de mestre em Economia, pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), e de doutor em Letters And Social Sciences, pela University of Reading, na Inglaterra. Em 1991, a UFRJ, onde é professor de Economia Internacional, lhe concedeu o título de Livre-docência. É, também, professor no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e do Instituto Coppead de Administração e diretor Associação Nacional dos Cursos de Graduação Em Economia. É co-autor de A economia política do governo Lula (Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 2007).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – O governo afirmou que o país está sofrendo forte especulação, assim como outros países emergentes. O que podemos esperar de conseqüências para o Brasil ainda dentro desta crise?

Reinaldo Gonçalves – O Brasil tem enorme vulnerabilidade externa nas esferas comercial, produtiva, tecnológica e monetário-financeira. A blindagem do Brasil é falsa. É uma blindagem de papel crepom. As reservas internacionais correspondem ao valor da dívida externa, porém o passivo externo total é cinco vezes maior do que estas reservas. Somente o passivo de curto prazo é três vezes maior do que estas reservas. Além disto, com a liberalização financeira e cambial, estas reservas desaparecem em poucas semanas, pois qualquer um (estrangeiros e brasileiros) podem converter ativos monetário (reais), ativos financeiros e ativos reais em divisas estrangeiras (dólares) e enviar para o exterior.

IHU On-Line – Qual a sua opinião sobre as medidas que o governo tomou em relação ao BB e CEF para com as instituições mais afetadas pela crise? É possível distinguir quais instituições são essas ou quais têm tendência para sofrer com as conseqüências da crise?

Reinaldo Gonçalves – A Medida Provisória No. 443 (22 de outubro de 2008) permite ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal comprarem participação em empresas financeirasreestruturação financeira. O caso bem-sucedido é o da Suécia, em 1992. Entretanto, a eficácia das AMCs depende não somente do marco jurídico e institucional como também da qualidade do quadro de administradores e da natureza dos ativos. Em outros países, as experiências com AMCs não foram tão positivas. Em países com má governança e “capitalismo de compadres”, o risco maior é o das AMCs se transformarem em balcão de negócios – bons negócios para grupos específicos e mal negócio – para o Tesouro Nacional. Portanto, cabe criar mecanismos públicos de supervisão das AMCs. (bancos, seguradoras, empresas de previdência, capitalização etc.) e construtoras. As asset management companies (AMCs) podem ser instrumentos eficazes de

IHU On-Line – O Brasil subestimou a crise?

Reinaldo Gonçalves – A situação brasileira é particularmente grave em decorrência das vulnerabilidades e fragilidades do país, bem como dos erros de estratégia e política do governo Lula. Os países desenvolvidos defrontam-se com crises gêmeas (lado real e setor financeiro), enquanto no Brasil o espectro de crises e incertezas críticas é muito maior: crise no lado real, crise financeira, crise cambial, crise no setor de commodities, deterioração acelerada dos desequilíbrios de fluxos externos (balanço de pagamentos), elevado desequilíbrio de estoque (passivo externo de curto prazo), pressão inflacionária e risco de má governança.

Após a eclosão da crise no Brasil, o governo Lula tem se limitado a um conjunto de medidas que se enquadram na chamada “estratégia da linha de menor resistência”. Nesta estratégia, a maior parte das medidas tem viés pró-setores dominantes (bancos, agronegócio e construtoras). Não há dúvida que o governo Lula subestima os riscos de ocorrência de crise cambial e econômicacrise cambial e econômica e que estejam à altura do potencial de destruição da crise

IHU On-Line – O senhor diz que a Bolívia e o Peru não sofrerão com a desaceleração da economia, que Paraguai, Colômbia e México terão forte desaceleração econômica e que Brasil, Argentina, Venezuela e Uruguai terão forte efeito de desaceleração. O que explica as conseqüências sobre estes países?
ainda mais grave no país. O argumento central é que a crise atual brasileira tem repercussões e está envolvida em incertezas críticas muito mais sérias do que aquelas implícitas nas medidas tomadas pelo governo Lula no imediato pós-crise nos Estados Unidos. Não há dúvida que nos países desenvolvidos e, mais ainda no Brasil, a crise atual é multidimensional. Portanto, é necessário tomar medidas que efetivamente evitem a eclosão de uma mega

Reinaldo Gonçalves – A análise do impacto da criseforte efeito de desaceleração. internacional na região destaca o nível da taxa de crescimento da renda e a sua desaceleração no período 2008-09. Três grupos de países podem ser identificados. No primeiro, estão os “sobreviventes” – Bolívia e Peru –, que terão taxas de crescimento relativamente elevadas e não sofrerão o processo de desaceleração. No segundo grupo, estão os países “atropelados” – Paraguai, Colômbia e México – com baixas taxas de crescimento e forte desaceleração econômica. O terceiro grupo é o de “atingidos”, composto do restante dos países do painel: aqueles que terão taxas relativamente baixas de crescimento e sofrerão menor impacto de desaceleração (Equador, Chile e Brasil); e aqueles países (Argentina, Venezuela e Uruguai) que terão taxas elevadas de crescimento e sofrerão

O custo do enfrentamento da crise internacional nos países da região depende da situação das finanças públicas. Situações fiscais relativamente confortáveis são as da Bolívia, Chile, Peru e, em menor medida, Argentina e Venezuela. Entretanto, a fragilidade de muitos dos países da região está na forte dependência da receita fiscal em relação à exportação e aos preços das commodities internacionais (com destaque para Equador, Venezuela e Bolívia).

No que se refere às contas externas, de modo geral, o processo de deterioração deve se agravar. Este processo implica maior risco econômico. Na ausência de maiores turbulências no sistema financeiro internacional, a expectativa é de manutenção de significativos ingressos líquidos de capital externo privado. Portanto, a percepção otimista é que haja menor risco financeiro. Entretanto, vale destacar que crises financeiras internacionais restringem a oferta de crédito e encarecem a captação de recursos externos. Estes fatos provocam tensão nos sistemas financeiros dos países da América Latina. Vale notar que o agravamento da crise financeira nos Estados Unidos provocou significativa contração de créditos internacionais, principalmente no início do segundo semestre de 2008.

No que se refere ao risco financeiro associado ao descompasso entre ativos e passivos correlatos, a existência de bolhas de preços de ativos ou de volume de crédito, volume excessivo de investimentos em ativos imobiliários, a evidência disponível não é robusta. Dados sobre investimentos no exterior de fundos de pensão mostram, por exemplo, a pequena exposição dos fundos na Argentina e a grande exposição de fundos no Chile. A integração da economia do México na economia dos Estados Unidos e a dolarização no Equador também sugerem elevado risco financeiro frente a problemas no sistema financeiro dos Estados Unidos.

O desalinhamento da taxa de câmbio também aumenta o risco financeiro. O trade-off evidente destas apreciações cambiais é o risco financeiro. Forte apreciação cambial aumenta a probabilidade de desvalorizações abruptas e, portanto, maior risco financeiro. Atualmente, constata-se significativa apreciação cambial nos casos do Paraguai, Brasil, Venezuela e Colômbia, o que expõe estes países a maiores riscos financeiros frente aos problemas internacionais. Este problema reduz, também, o grau de liberdade dos países no sentido de usar a taxa de câmbio para combater as pressões inflacionárias no futuro próximo.

IHU On-Line – Será preciso repensar um projeto econômico para o Brasil?

Reinaldo Gonçalves – No caso específico do Brasil, a análise aponta no sentido de que o país está no grupo de países latino-americanos mais afetados pela crise econômica internacional que se iniciou em meados de 2007 e que eclodiu em meados de 2008. A vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira e os erros de estratégia e política econômica do Governo Lula são os fatores determinantes da “blindagem de papel crepom” do Brasil. Esta crise econômica deve forçar o país a repensar a sua trajetória “sem rumo e sem prumo” dos últimos anos (principalmente, depois de 1990). O Brasil está se tornando um verdadeiro “fracasso civilizatório”. Defendi este argumento no meu livro Vagão descarrilhado (Rio de Janeiro: editora Record, 2002).

IHU On-Line – De que forma o desaquecimento da economia chinesa muda o "jogo" para o Brasil? Podemos nos aproveitar, de certa forma, dessa crise?

Reinaldo Gonçalves – A economia brasileira ficou mais dependente da China nos últimos anos. Isto é particularmente ruim, pois o Brasil exporta produtos primários e importa manufaturados. Houve aumento das participações da China e do México como destino das exportações brasileiras. E estes países dependem significativamente do mercado dos Estados Unidos. Outrossim, no período em questão houve aumento do peso relativo das exportações de bens como fonte de expansão da demanda agregada. Em 2006, o coeficiente de abertura da economia foi de 14,6%. O resultado destes processos é que, no conjunto, os três mercados (Estados Unidos, China e México) tornaram-se importantes para a economia brasileira. Por um lado, houve queda na participação total destes três mercados nas exportações de bens do Brasil de 31,2% em 2001 para 27,3% em 2006. Por outro, com a elevação do grau de abertura da economia brasileira e a maior importância relativa da China e do México nas exportações do país, estes três países passaram a ter maior impacto direto sobre o PIB brasileiro. Assim, as exportações do Brasil para Estados Unidos, China e México tiveram impacto direto sobre o PIB do país de 0,38% em 2001 e 0,40% em 2006. Ou seja, o crescimento de 10% das exportações para estes três mercados tem como efeito direto o aumento do PIB brasileiro de 0,38% em 2001 e 0,40% em 2006. Assim, ao longo dos anos a queda do peso específico dos Estados Unidos foi mais do que compensada pelo aumento do grau de abertura da economia brasileira e pelo peso específico da China e do México, que dependem do dinamismo do mercado dos Estados Unidos.

IHU On-Line – Essa crise afeta de que forma o modelo econômico atual? Podemos prever um novo tipo de modelo para depois que a crise acabar?

Reinaldo Gonçalves – O “fracasso civilizatório” brasileiro atingiu um nível que talvez seja o da irreversibilidade. Isto significa, na prática, a manutenção de tendências quanto a putrefação dos grupos dirigentes, a força do bloco dominante (bancos, agronegócio, empreiteiras), a vulnerabilidade externa da economia, a ineficiência sistêmica da econômica, a deterioração das instituições, a degradação do tecido social, a fragilidade da sociedade civil e a inércia do povo. Todos estes processos já atingiram níveis críticos. Muito provavelmente o Brasil sairá ainda mais subdesenvolvido e frágil desta crise. No livro A economia política do governo Lula, já alertava para o risco que o Brasil sofria com a reversão da fase ascendente do ciclo internacional.

Para evitar o aprofundamento da crise, o governo Lula teria de tomar as seguintes medidas:

1. Redução da taxa de juro básica e na ponta dos empréstimos
2. Aumento dos limites de garantias de depósitos
3. Punição da administração temerária
4. Controle pela sociedade das operações de resgate e capitalização via Caixa Econômica e Banco do Brasil
5. Imposto de exportação
6. Internalização da receita de exportação (obrigar os exportadores a trazerem os dólares que ficam no exterior)
7. Redução da carga tributária sobre os trabalhadores
8. Expansão dos gastos públicos
9. Controles de capitais (entrada e saída)
10. Controle do câmbio

Lula não tem interesse nem coragem para tomar estas decisões. O que é trágico para o país. Ele só implementará estas medidas se houver sério risco de perda de legitimidade do Estado; mais, especificamente, uma grave crise de governabilidade. De qualquer forma, até 2010 muita água (podre) correrá embaixo da ponte.

Para ler mais:

» A crise financeira internacional. O retorno de Keynes. Edição 276 da Revista IHU On-Line de 06-10-2008.

» A financeirização do mundo e sua crise. Uma leitura a partir de Marx. Edição 278 da Revista IHU On-Line de 20-10-2008

» Soluções para a crise financeira? Uma questão política e jurídica que esbarra nos limites do capitalismo. Entrevista especial com André Lourenço

» Ainda que seja inevitável que a economia brasileira sofra com essa crise, ela tem boas condições para enfrentá-la. Entrevista especial com Simone de Deos

» 'Para evitar novos danos no futuro, os mercados financeiros precisam ser regulamentados'. Entrevista especial com Thaiza Regina Bahry

» 'O conteúdo da política social do Governo Lula é o mesmo do Governo FHC'. Entrevista especial com Reinaldo Gonçalves