"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Síria, a nova Líbia

resistir info - 14 fev 2012


por Pepe Escobar
Uma Kalashnikov era vendida no Iraque até recentemente por US$100. Agora, custa no mínimo $1.000, mais provavelmente $1.500 (longe vão os dias em que os sunitas que se uniam à resistência, em 2003, podiam comprar uma Kalashnikov falsa, fabricada na Romênia, por $20).

Destino preferencial das Kalashnikov de $1.500 em 2012: a Síria. Rede: a al-Qaeda na Terra dos Dois Rios, também conhecida como AQI. Compradores: jihadis infiltrados que operam ombro a ombro com o chamado Exército Sírio Livre (Free Syrian Army, FSA).

Também operam como correia de transmissão entre Síria e Iraque as explosões de carros e os suicidas-bomba, como as duas explosões recentes nos subúrbios de Damasco e o suicida-bomba, 6ª-feira passada, em Aleppo.

Quem imaginaria que o que a Casa de Saud deseja ver na Síria – um regime islâmico – é exatamente o que a al-Qaeda também deseja para a Síria?

Ayman "O Cirurgião" al-Zawahiri, número 1 da al-Qaeda, em vídeo de oito minutos, intitulado "Avante, Leões da Síria", acaba de convocar à luta os muçulmanos no Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia, para derrubar o "regime pernicioso, canceroso", de Bashar al-Assad. De fato, já estavam alistados, em geral, mesmo antes de O Cirurgião entrar em cena. E não só eles, mas principalmente os "combatentes da liberdade" líbios transplantados, conhecidos antigamente como "os rebeldes".

Quem imaginaria que o que o CCG-NATO (Conselho de Cooperação do Golfo+Organização do Tratado do Atlântico Norte) deseja ver na Síria é exatamente o que a al-Qaeda também deseja para a Síria?

Portanto, quando, apesar de todos os horríveis ataques militares que matam sobretudo os civis apanhados no fogo cruzado, o governo de Assad diz que está combatendo "terroristas", ele, em termos precisos, não está mentindo. Até aquela entidade onipresente, proverbial, "funcionário do governo dos EUA que não quis identificar-se" já culpa a al-Qaeda na Terra dos Dois Rios, AQI, pelas recentes explosões. E, além desses, também o vice-ministro do Interior do Iraque Adnan al-Assadi: "Temos informações de inteligência de que vários jihadists iraquianos partiram para a Síria."

Assim sendo, se não deu para fazer da Síria a nova Líbia, no sentido de uma resolução da ONU autorizar o bombardeamento humanitário – vetada por dois BRICs, Rússia e China –, a Síria pelo menos já é uma nova Líbia, no sentido dos escandalosos laços entre "os rebeldes" e os jihadis salafistas linha-dura.

E dado que o ocidente absolutamente adora situações de ganha-ganha, mesmo que pré-fabricadas, é perfeitamente possível que aí esteja, prontinho, o casus belli que o Pentágono esperava – libertar a Síria de uma "al-Qaeda" que, antes, não estava lá. Não esqueçam que – apesar de todo o alarde sobre a "deriva" do governo Obama/Pentágono, afastando-se do Médio Oriente e voltando-se para o Leste da Ásia, toda a "guerra global ao terror" (global war on terror, GWOT), que Obama rebatizou de "operações contingenciais além-mar" ("overseas contingency operations", OCO), continua bem viva, vivíssima.

Libertem-me, para eu matar à vontade

No ano passado, o Asia Times Online advertiu inúmeras vezes que a Líbia "libertada" – e "libertada" pelos chamados "rebeldes da NATO" – rapidamente se transformaria em inferno povoado de milícias armadas. Exatamente o que lá se vê hoje: há pelo menos 250 milícias diferentes, só em Misurata, segundo o Human Rights Watch; as milícias são polícia, juízes e carrascos-executores, tudo ao mesmo tempo. Por falar nisso, não há Ministério da Justiça na Líbia "libertada". Se você for preso e chegar à cela, ali mesmo será executado; e se for africano subsaariano, ainda ganha, de brinde, longo período de tortura, num campo libertado de prisioneiros, antes de ser executado.

Como se viu acontecer na Líbia – porque é questão estratégica para o eixo Casa de Saud/sunitas do Qatar –, já não há qualquer possibilidade de autêntico diálogo entre a insurreição (armada) e o regime de Assad. Afinal, o objetivo chave é derrubar o regime de Assad. Então, a propaganda reina absoluta, nos media árabes controlados quase todos ou pelos sauditas ou pelos qataris.

Por exemplo: o muito louvado Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres, e que vive de vomitar estatísticas sem qualquer comprovação, números e mais números, sem fim, dos "massacres" cometidos pelo governo sírio – falaram até em "genocídio" –, é mantido com dinheiro de uma entidade sediada em Dubai e financiada por obscuros doadores ocidentais e do Conselho de Cooperação do Golfo.

Para completar, os 'especialistas' mediáticos da "oposição" orientam com precisão de mira a laser toda a cobertura da imprensa-empresa ocidental. A rede CNN atribuiu as bombas de Aleppo, na 6ª-feira, a "terroristas" – assim, entre aspas. Imaginem a histeria total, se fosse a Zona Verde dos EUA, no Iraque, atacada à bomba pela resistência sunita, em meados da década dos 2000. A BBC acreditou realmente na versão de propaganda que a Fraternidade Muçulmana Síria distribuiu, segundo a qual o governo sírio se autobombardeara: tão verossímil como a 'notícia' de que o Pentágono se autobombardeava na Zona Verde. Quanto aos media árabes – em grande parte controlada por sauditas e qataris –, ignorou completa e absolutamente a conexão al-Qaeda.

A Liga do Conselho de Cooperação do Golfo – antiga Liga Árabe –, depois de bombardear o próprio relatório da própria comissão sobre a Síria, porque não reproduzia a narrativa pré-fabricada sobre um governo "do mal" que bombardeava unilateralmente o próprio povo, anda agora propagandeando um supostamente humanitário Plano B: uma missão de paz árabes/ONU, para "supervisionar a execução do cessar-fogo". Mas que ninguém se deixe enganar: a agenda ainda é a mudança de regime, como antes.

O príncipe Saud al-Faisal, ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, já começou a fazer os ruídos certos, descartando qualquer intervenção humanitária. Simultaneamente, é muito edificante ouvir a Casa ("oh, como somos progressistas") de Saud a lamentar a "falta de comprometimento do governo sírio" e a pontificar que "a Síria passa hoje, não por uma guerra de guerrilha, nem racista nem sectária, mas por matança em massa, sem qualquer consideração humanitária".

Imaginem o quanto seriam "humanitárias" as "considerações" da Casa de Saud, no caso de emergir um movimento pró-democracia entre a maioria xiita que habita a província Leste (já aconteceu; o movimento emergiu e foi reprimido com violência extrema). Melhor ainda: lembrem como os sauditas tinham ar "humanitário", quando invadiram o Bahrain.

A agenda do CCG-NATO permanece inalterada: mudança de regime, por não importa qual meio. Até o Guerreiro-em-Chefe e presidente dos EUA Barack Obama já disse isso, ele mesmo, em pessoa. Os fantoches do CCG obedecerão servis e felizes. Portanto, só resta esperar uma inflação de Kalashnikovs através da fronteira, mais carros-bomba, mais suicidas-bomba, mais civis mortos no fogo cruzado e a lenta, imensamente trágica, fragmentação da Síria.
14/Fevereiro/2012
O original encontra-se em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NB14Ak01.html


Como na Libia, a tal democracia ficará com os radicais islâmicos. Os demais interesses (escusos) ocidentais denunciados por um general americano (postada  por mim no dia 08 nov 11) estão a se confirmar cada vez mais.
 

Barões do amianto condenados a 16 anos de prisão na Itália

Azenha - 13 de fevereiro de 2012 às 11:23



Sala do Palácio de Justiça de Turim lotada para ouvir a decisão histórica contra os ex-proprietários da Eternit

por Conceição Lemes

Os procuradores de Justiça da Itália acabam de anunciar em Turim a condenação a 16 anos de  prisão dos ex-proprietários da Eternit, o barão belga Louis de Cartier de Marchienne e o magnata suíço Stephan Schmidheiny. É o maior processo criminal de todos os tempos por danos a trabalhadores e ao meio ambiente.  O processo diz respeito à morte de 2.500 trabalhadores, vítimas do cancerígeno amianto.
A engenheira Fernanda Giannasi, o maior símbolo da luta contra o amianto no Brasil, está em Turim, no Palácio da Justiça, acompanhando a leitura da decisão histórica:
“Há uma hora em pé estamos ouvindo o nome dos mortos pelo amianto na Itália e a condenação de indenizar toda esta população sofrida e heróica 30 anos de espera. Estou na sala principal em lágrimas.  Para a Prefeitura de Casale Monferrato, 25 milhões de euros”.


Por aqui (como já havia publicado), houve até estudo científico realizado por douto professor de universidade renomada do país, afirmando que o amianto não era problema. É claro que o dito pesquisador recebia financiamento do setor ligado à industria do amianto.

A integração da América Latina, por Roberto Amaral


Por Marco Antonio L.
Da CartaCapital
Roberto Amaral

Nenhum país em nosso continente terá futuro se antes não construirmos coletivamente a integração regional, econômica, política e cultural. O México jamais poderá pensar em projeto nacional e soberania, vista sua irremovível tragédia geográfica. E é por isso, principalmente, que, ao falar em integração, reporto-me exclusivamente à America do Sul, (sub)continente que, para os juízos que se seguem, começa na Patagônia (com as Malvinas)  e termina na fronteira da Colômbia com o Panamá, onde viceja o processo de “balcanização” (expressão de nossos dias) regional imposto pelos EUA.  Essa história se aviva a partir do século passado, via cizânia, mobilização dos conflitos domésticos e intervenções militares diretas.
p>Lembre-se, a propósito, que o imperialismo simplesmente repete o colonialismo europeu e sua comum política de dividir para melhor dominar. Produtos desse colonialismo e da “balcanização”, a América hispânica, a America Central, as Antilhas, o Caribe e o agora nossoHaiti, formam um cordel de economias e Estados inviáveis.
A dominação moderna surgiu como uma face da disputa entre o império nascente e as antigas potências coloniais. O bordão “A América para os americanos”, que a nossas elites soava como hino à Independência, era, na verdade, a América para os EUA. Do rio Grande para baixo, havia um senhor a respeitar, e ele trazia no ombro o big stick theodorerooseveltiano que jamais relutou em acionar.
Esse “americanismo” é explicativo do horror da geopolítica norte-americana a qualquer intento americanista não norte-americanista, bolivariano ou não, no que ele remeta a nuestra América– conceito hoje reduzido à integração regional, com todos os ingredientes detestados pela detestável classe dominante brasileira: nacionalismo, desenvolvimento autônomo e defesa, inclusive em sua acepção militar.
A política externa do governo Lula buscou a autonomia nacional pela via regional, e avançou sobre dois momentos anteriores, a OPA de JK, nos anos 50, e, mais recentemente, o Mercosul (Tratado de Assunção, 1991). A primeira experiência foi ridicularizada pela elite brasileira e seus porta-vozes, no Congresso (UDN) e na imprensa (ora, ora, o Brasil falando em política continental…), sendo posteriormente desmantelada por Kennedy e sua ‘Aliança para o Progresso’ – projeto do Pentágono para conter os movimentos populares e a emergência das massas, especialmente no Nordeste de Arraes, no início dos anos 60, e nos demais “nordestes” despertados no continente pela revolução cubana. O Mercosul mal sobrevive, reduzido a um acordo aduaneiro permanentemente atacado pelas assimetrias intra-regionais e pelas políticas nacionais dos parceiros. Mesmo assim, seu fortalecimento, que se daria com o ingresso de Venezuela, Equador e Bolívia, é obstaculizado pela direita parlamentar, atendendo à pauta da direita impressa que ainda sonha com algo como a Alca, a renúncia definitiva do continente à soberania.
Temos tudo para festejar as conquistas brasileiras nos nove anos do governo de centro-esquerda inaugurado por Lula. Todos os indicadores melhoraram, sejam econômicos, sejam sociais, cívicos (como a descoberta da cidadania pelas grandes massas), sejam psicossociais (como a auto-identificação de nossa gente com seu país e sua história). Mas é preciso ter em mente que estamos apenas no início de um longo e ainda difícil processo de construção nacional.
Os ganhos do imediatismo não podem esconder que, de certa forma, estamos, a médio e longo prazos, subjugados ao jogo do imperialismo, o qual, apesar da crise no mundo  capitalista, impõe a divisão internacional da economia, na qual nos foi,  a nós os ainda periféricos embora “emergentes”, designado o papel de fornecedores de commodities: produtos agrícolas, aliementos em geral, carne, grãos in natura, minério de ferro e minérios estratégicos. Em breve, além de fornecedores de produtos primários, deveremos ser exportadores de petróleo, talvez de petróleo cru, com quotas e preços determinados pelo mercado internacional.
No plano industrial, priorizamos setores mais atrasados ou conservadores, que não mais interessam às grandes metrópoles, por não serem grandes consumidores de capital e tecnologia, mas de trabalho, mal-remunerado ou mesmo sobrexplorado.  Falo das montadoras de automóveis, voltadas para o consumo interno, mas igualmente para suas matrizes (após mais de 50 anos de implantação da “indústria automobilística nacional” não temos uma só marca própria de veículos); das fábricas de tênis; das “fábricas” de eletrônicos que aqui montam aparelhos com chips e insumos importados. A tecnologia – a medida do progresso e da soberania—ou é produzida nas matrizes das multinacionais ou importadas pela industria nacional, avessa à inovação. Ou seja, tanto na agricultura de exportação, mecanizada, quanto na indústria robotizada, um mínimo de mão-de-obra e um nada de tecnologia e inovação nacionais. Isso quando, ninguém o ignora, a soberania do terceiro milênio será medida não pelas exportações de grãos ou carne, mas pelo índice de desenvolvimento científico e tecnológico de cada país. Nesse campo, superados pela China, estamos sendo ultrapassados pela Coréia do Sul (de quem importamos até carros) e da Índia (de quem importamos até fármacos).
O desafio, pois, é grande – e muito mais profundo do que supõe a vã filosofia dos simplórios, pois passa pela concepção de projetos nacionais vinculados a uma geopolítica regional. É difícil, mas possível, ainda, realizá-lo, porque é, acima de tudo, oportuno. Oportuno porque o império, acicatado por conflitos, precisando cada  de mais de fazer a guerra, e corroído por dentro pela crise do capitalismo, está hoje (viva nossa sorte!) mais preocupado com o que ocorre no centro hegemônico. Em outras palavras, nós os do ‘quintal’ temos nestes anos, como tivemos nos anos 30 do século passado (quando os EUA se voltaram para sua crise econômica), como tivemos quando das duas grandes guerras mundiais (quando a potência emergente teve de voltar-se para a Europa), a oportunidade de cuidarmos nós de nós mesmos, sem (muita) interferência do “grande irmão do Norte”. Este sonho é realizável hoje, enquanto o EUA e a UE viverem sua crise, e os EUA (com Otan ou sem ela) tiverem de lidar com as guerras que promoveram e promoverão no Oriente ou onde quer que julguem necessárias aos seus interesses.  E enquanto estiverem preocupados com a China.
Para sorte nossa, parece que ficarão preocupados com o grande Império do Meio por ainda muitos anos.

Moody's rebaixa Portugal, Itália e Espanha



Por Paulo F.
Do dinheirovivo.pt
Por Joana Petiz
Agência de notação financeira voltou a rever em baixa países afetados pela crise e pôs França, Reino Unido e Áustria sob vigilância negativa
A agência de notação financeira Moody’s voltou a cortar a direito nos ratings dos países mais afetados pela crise, colocando sob vigilância negativa França, Reino Unido e Áustria. Desta vez, as vítimas do downgrade foram Itália, Portugal, Espanha, Malta, Eslováquia e Eslovénia, mas pode haver novos cortes em breve.
A Moody's foi a primeira agência de rating a pôr Portugal no nível equivalente a lixo (Ba2) - em julho, quando cortou a notação da República quatro níveis, cm a justificação de que o país iria precisar de um segundo empréstimo externo e não conseguiria cumprir as metas orçamentais do acordo com a troika.
p>Ratings agências
Portugal desceu mais um nível
Luísa Sousa
Hoje, a agência justifica o downgrade de Portugal (um nível, para Ba3), Espanha (dois níveis, para A3) e Itália (um nível, para A3) com a suscetibilidade destes países “aos crescentes riscos financeiros e macroeconómicos decorrentes da crise na zona euro”, mas também as riscos internos decorrentes dos programas de austeridade, nomeadamente "a incerteza quanto ao resultado das reformas em curso, enfraquecimento das perspetivas macroeconómicas europeias, fraca confiança dos mercados e exposição dos países do euro às respetivas dívidas soberanas".
"O outlook de Itália, Portugal, Espanha, Malta, Eslováquia e Eslovénia mantém-se negativo dada incerteza quanto ao financiamento nos próximos trimestres e correspondente dificuldade de acesso aos mercados", acrescenta a Moody's em comunicado.
A agência de notação deixa ainda uma nota sobre a Grécia: "O rating de Ca mantém-se até que se clarifique o programa de reestruturação da dívida em curso."

Privataria: Tijolaço desmonta FHC

conversa afiada - Publicado em 09/02/2012

Saiu no Tijolaço, do destemido Fernando Brito:

Não é ideologia. É visão de país e moralidade pública


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz hoje que privatização não é uma questão ideológica.


Questão ideológica é a propriedade dos meios de produção.  É a discussão, que não está posta neste Governo, entre socialismo e capitalismo.


Totalmente diferente é o patrimônio público e o controle dos serviços públicos essenciais.


Separemos as coisas.


Entregar patrimônio público para grupos privados em condições ruinosas não é ideologia, é dilapidação.


Se as condições não são ruinosas, a questão passa a ser outra, a da importância daquele patrimônio para aqueles em nome dos quais você o administra e se a sua função é pequena ou suprível de outras formas.


A Vale, por exemplo, foi privatizada em condições ruinosas e tinha uma importância estratégica para o país – pelo fato de deter as maiores jazidas de ferro do planeta – insubstituível.


Tivemos N+1 governos de direita e nenhum deles  tentou vender a Vale, exceto do de FHC.


Dizer, como fez FHC, que o que foi feito aos aeroportos ontem segue o mesmo modelo do que fez ele à Vale é uma mistificação absurda, que não se sustenta diante de um sopro.


É o mesmo que dizer que alugar um apartamento é o mesmo que vendê-lo.


Pior, porque no imóvel há um cofre contendo uma fortuna incalculável, que vai junto.


A Vale foi vendida, os aeroportos tiveram a administração concedida.


Na concessão, não há entrega de patrimônio, que retorna ao Estado, com todas as benfeitorias.


A questões, aí, são de outra ordem: se o serviço é essencial – e neste caso se permanece controlável pelo concedente -  se a concessão atende ao interesse da população, a quem são entregues,  e se é pago ao poder público por ela uma justa remuneração.


Nas concessões da telefonia, por exemplo, o princípio da essencialidade deveria fazer com que o Estado mantivesse o podere os instrumentos para controlá-la, e ele abriu mão disso. As concessionárias são donas do negócio, que virou uma caixa-preta  diante da qual a Anatel faz papel de pateta.


O Estado não tem capacidade sequer para fixar tarifas. Ou alguém é capaz de dizer quanto custa um minuto de ligação telefônica?


Que dirá a de dirigir os investimentos na direção do que seja necessário para a população, como estamos vendo no processo de universalização da banda larga, que se arrasta a passos de cágado manco.


O processo de concessão das teles não apenas foi “preparado” com um brutal aumento das tarifas telefônicas como a outorga foi financiada com dinheiro do próprio Estado – caso da Telemar, hoje Oi – e dada ao controle de  multinacionais.


Nem é preciso entrar nos meandros da corrupção e favorecimentos que aconteceram ali e que estão parcialmente descritos no A privataria tucana. de Amaury Ribeiro Júnior.


Pode-se ser favorável ou contrário à  uma gestão mista
– 51% privada e 49% da Infraero -  de três grandes aeroportos do País. Mas não se pode apelar.


A primeira apelação é dizer que fora prometido manter exclusivamente estatais os aeroportos, como já ficou claro que não, nas palavras da própria então candidata Dilma Rousseff.


A segunda é comparar, por mais que se possa criticar, esta concessão às privatizações da era FHC.


E a terceira, e mais grave, é apelar para isso com o fim de se defender das evidências de que houve, além do crime de lesa-pátria, favorecimentos e maracutaias naqueles processos.


O problema de Fernando Henrique Cardoso não é ter privatizado por ser de direita. É ter privatizado por ser um vendilhão da pátria.

Música "Ai, Se Eu Te Pego" Vira Música de Protesto em Portugal!!

Os portugueses mais uma vez dão exemplo de mobilidade popular e reinvindicação por melhores condições de vida.