"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, julho 09, 2010

Perigo verde no mundo rosa

Instituto Humanitas Unisinos - 09 jul 10

"Eu sou uma mãe medíocre e reivindico esse direito." A filósofa e feminista francesa Elisabeth Badinter aplica essa conclusão pessoal às mães em geral. "Todas nós somos mães medíocres." Autora de vários livros de sucesso, que imediatamente após o lançamento entram na lista dos mais vendidos na França, Elisabeth é famosa por suscitar polêmicas nos meios intelectuais do país e também é criticada pelas próprias defensoras dos direitos das mulheres. Há 30 anos, havia dito que o instinto materno não existe e que surgiu a partir do fim do século XIX apenas por razões econômicas, para estimular o aumento da mão de obra. Agora, a filósofa acaba de declarar guerra ao "mito da mãe perfeita" em seu último livro, "Le Conflit, la Femme et la Mère" (O conflito, a mulher e a mãe, em tradução literal).

A reportagem é de Daniela Fernandes e publicada pelo jornal Valor, 09-07-2010.

Nessa nova obra, mais uma vez Elisabeth provocou grande polêmica na França. A intelectual de 66 anos acusa os movimentos ambientalistas de representar grande perigo para a emancipação feminina. Mais do que isso: eles contribuem para a regressão do papel da mulher na sociedade, com seus discursos sobre a necessidade de amamentar, de usar fraldas de pano em vez das descartáveis e de alimentar as crianças somente com pratos preparados em casa, de preferência com produtos orgânicos.

É o que ela chama de "ofensiva naturalista". Essas obrigações todas, segundo Elisabeth, limitariam a mulher ao papel único de mãe e as levariam a ficar em casa e abdicar de uma vida profissional. Publicado em fevereiro na França, o livro já vendeu cerca de 180 mil exemplares, segundo a editora Flammarion. Ele deve ser lançado neste ano no mercado brasileiro pela Editora Record (o título no Brasil ainda não foi definido).

Elisabeth
diz que ambientalistas contribuem para a regressão do papel da mulher, com seus discursos sobre a necessidade de usar fraldas de pano em vez das descartáveis

"Denuncio um discurso que não leva em conta as ambivalências da maternidade. As mulheres não têm mais liberdade para dizer não. Nas maternidades públicas, há pressões para que as mulheres amamentem. As que não fazem isso se sentem culpabilizadas. Todas as revoluções morais ocorrem graças ao sentimento de culpabilidade", disse Elisabeth.

Casada com o advogado Robert Badinter, ex-ministro francês da Justiça que pôs fim à pena de morte no país, em 1981, a filósofa é filha de um grande publicitário, Marcel Bleustein-Blanchet, fundador do grupo Publicis, a terceira maior agência de propaganda do mundo. A feminista, presidente do conselho de administração da companhia, é a principal acionista da Publicis, com pouco mais de 10% do capital. Essa atividade também lhe rendeu algumas críticas na época do lançamento do livro e questionamentos sobre a sua não intervenção em publicidades que ressaltariam o papel de dona de casa das mulheres.

Em um momento em que os discursos para a preservação do planeta, como também a necessidade de hábitos de consumo mais saudáveis ganham força a cada dia, a filósofa conta ter ficado revoltada com a proposta de uma ministra francesa de aumentar os impostos sobre as fraldas descartáveis.

A ideia, lançada em setembro de 2008, não entrou em vigor e a secretária de Estado do Meio Ambiente em questão, Nathalie Kosciusko Morizet, já até mudou de pasta no governo do presidente Nicolas Sarkozy. Mas Elisabeth utiliza esse exemplo para mostrar como o discurso naturalista passou a exigir uma série de comportamentos e deveres que tornariam a maternidade um trabalho em tempo integral. "Ela deveria ter sugerido a criação de fraldas biodegradáveis. Não acho que as árvores tenham mais prioridade do que as mulheres", afirma.

"Tornar a ecologia responsável pelas carências herdadas do mundo patriarcal europeu é algo errado e estéril", diz Cécile Duflot, secretária-geral do Partido Verde francês. Segundo ela, Elisabeth "deveria questionar as diferenças salariais entre homens e mulheres e o problema da divisão das tarefas domésticas".

Na França, aliás, a situação não é muito diferente do que ocorre em muitos outros países. As mulheres ganham, em média, 20% menos do que os homens. Uma pesquisa do Instituto Nacional de Estudos Demográficos da França, divulgada no fim do ano, revelou que 80% das tarefas domésticas são realizadas pelas mulheres. O desequilíbrio aumenta com a chegada de um filho.

Em seu elegante apartamento parisiense com vista para o jardim do Luxemburgo, em uma das áreas mais nobres de Paris, Elisabeth, mãe de três filhos e avó, conta ter tido a ideia de escrever "O Conflito" ao ouvir uma notícia no rádio, em 1998. O ministro da Saúde da época, Bernard Kouchner, atual chanceler francês, havia assinado um decreto, na prática a aplicação de uma diretiva europeia, que proibiu a publicidade do leite em pó nos hospitais públicos na França e também a doação do produto às mães.

"Esse minúsculo fato me pareceu simbólico de uma verdadeira mudança em relação à maternidade. Passou a ser necessário encorajar a qualquer preço, até mesmo obrigar moralmente as mulheres a amamentar", afirma. Elisabeth diz ter se interessado por todo movimento iniciado a partir de 1980, "período em que as mulheres faziam o que queriam", até os dias de hoje, em que o governo francês passou a fixar metas em relação ao número de mães que amamentam na maternidade. Segundo ela, em razão dessa política de pressões, o número de mulheres na França que dão o leite materno aos filhos vem crescendo 2% por ano.

"Estamos assistindo a uma verdadeira mudança radical, que está ocorrendo de forma subterrânea. Há um aumento considerável dos deveres maternos. A natureza se tornou um novo Deus, com critérios morais que culpabilizam quem não seguir o discurso", afirma Elisabeth. A filósofa diz que o "direito de amamentar" está se tornando uma obrigação, reforçada pela Organização Mundial da Saúde, que recomenda essa prática por um prazo de dois anos, que pode ser estendido. Mas a feminista ressalta que não critica o ato em si. "Só não quero que seja um modelo imposto. A mamadeira também é boa para a criança. Os estudos provam isso."

Na prática, diz a filósofa, a liberdade de escolha das mulheres está sendo ameaçada por "uma santa aliança reacionária", que inclui autoridades médicas, feministas naturalistas, ecologistas radicais e a Liga do Leite. Essa associação americana que promove a amamentação, criada em 1956 em Chicago, ganhou força nas últimas décadas em vários países, principalmente nos escandinavos, e conta com o apoio de grandes organizações internacionais, diz Elisabeth em seu livro, que reúne estatísticas sobre o assunto. Exemplo: na Noruega, 99% dos bebês continuam sendo amamentados após deixar a maternidade.

Logo após o lançamento do "Conflito, a Mulher e a Mãe", Elisabeth recebeu uma saraivada de críticas e enfrentou discussões acirradas em programas de debates na TV. Na linha de frente, obviamente, representantes dos ecologistas, pediatras e defensores da amamentação, que a acusaram de minimizar os benefícios do lei materno.

"Elisabeth Badinter continua o mesmo caminho da escritora Simone de Beauvoir. É o feminismo à francesa, que recusa a maternidade", rebate Bénédicte Opitz, presidente da Liga do Leite na França. "A reivindicação de direitos em relação a um modelo masculino, como ocorreu nos anos 70, acabou. As mulheres querem hoje que suas especificidades sejam levadas em conta e a amamentação não é incompatível com as atividades profissionais", diz a militante da Liga do Leite.

Talvez incompreendida, Elisabeth alerta justamente sobre os perigos de um conceito que, segundo ela, define as mulheres de maneira uniforme. "Não devemos, não podemos fazer todas a mesma coisa. É reduzir a mulher à espécie animal, como se todas nós fossemos chimpanzés fêmeas." Como para a Liga do Leite não existe nenhuma desculpa aceitável para recusar a amamentação, a liberdade de dizer não deixa de existir, diz a filósofa.

"É realmente ideal que as mães de hoje voltem ao trabalho alguns dias após o parto e transfiram a educação de seus filhos já nas primeiras semanas para outras pessoas?", questiona a escritora canadense Nancy Houston, que vive em Paris há 30 anos e chegou a integrar o Movimento de Libertação das Mulheres.

"Considerar que a ecologia envia as mulheres para casa e as leva a sair da esfera social e profissional é uma caricatura grosseira, até mesmo desonestidade intelectual", afirmam, em uma carta aberta, sete jornalistas e feministas francesas ligadas a movimentos ecológicos, entre elas Pascale d'Erme, presidente da associação "EcoMamans", que tem como objetivo "sensibilizar as mães em relação aos grandes desafios ambientais e ajudá-las a mudar de comportamento".

Acostumada às críticas, Elisabeth dá outros exemplos da "ofensiva naturalista". Além da "guerra do leite", como ela define as pressões para que as mulheres amamentem, o discurso ecologista influencia, segundo ela, outros comportamentos. "Os potinhos para bebê se tornaram um sinal de egoísmo da mãe, então voltamos para os purês preparados em casa", afirma. "Em nome dessa ideologia, nos países escandinavos quase não há mais anestesia peridural nos partos, ela até mesmo é fortemente desaconselhada", diz.

Segundo Elisabeth, o discurso naturalista ganhou força por causa das crises econômicas, que tornaram o trabalho mais precário e estressante. "As crises representam primeira causa da regressão da condição feminina e "mudaram profundamente as mentalidades."

Desde os anos 80 a situação no emprego vem se tornando mais difícil, principalmente para as mulheres, com salários inferiores e "demitidas como um lenço de papel usado", afirma. "As mulheres têm dificuldade para encontrar um emprego, são mal pagas e mal vistas quando ficam grávidas. Elas passaram a questionar se valeria a pena trabalhar duro, sem satisfação pessoal, para ganhar pouco ou se seria melhor cuidar dos filhos em casa e se realizar plenamente como mãe."

Mas a questão agora é saber se com a redução dos gastos públicos nos países europeus e a possível diminuição das ajudas sociais, as mulheres ainda poderão fazer esse tipo de questionamento.

Tava demorando para esses dois grupos que lutam pelas liberdades baterem de frente um com o outro. Apenas como questionamento. Devemos dar acesso aos direitos das minorias, mas, se esses direitos forem amplos não teremos uma "democracia" que não vai a lugar nenhum, exatamente por cada grupo defender os seus interesses e não os da coletividade? A ausência de um senso comum nesse caso não levará à ingovernabilidade?

A história do amianto e da lei que ''não pegou''

Instituto Humanitas Unisinos - 09 jul 10

"Mais uma vez foi adiado o desfecho da interminável história das tentativas de banir a produção, o transporte e o uso do amianto em território brasileiro", informa Washington Novaes, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 09-07-2010. Isto porque "na semana passada e nesta, a chamada "bancada do amianto" conseguiu manobrar e evitar a votação de relatório do grupo de trabalho da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, que recomendava o banimento".

Eis o artigo.

Mais uma vez foi adiado o desfecho da interminável história das tentativas de banir a produção, o transporte e o uso do amianto em território brasileiro. Na semana passada e nesta, a chamada "bancada do amianto" conseguiu manobrar e evitar a votação de relatório do grupo de trabalho da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, que recomendava o banimento.

É uma longa história. Já em 1986 o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), diante de uma profusão de denúncias, criou comissão especial para estudar o tema. E em 1987, com os resultados, baixou a Resolução 007, que obrigava os fabricantes de produtos de amianto (principalmente telhas, caixas d"água, canos, pastilhas de freios) a escrever em todos eles, "em caracteres bem visíveis", a advertência: "Cuidado! Este produto contém fibras de amianto. Evite a geração de poeira. Respirar poeira de amianto pode prejudicar gravemente sua saúde. O perigo é maior para fumantes." Também mandava que se fornecessem aos consumidores folhetos explicativos. E o Congresso Nacional aprovou, na mesma época, a Convenção 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que regulamentou as medidas indispensáveis nos locais de trabalho que usassem amianto.

A resolução do Conama "não pegou", como "não pegam" tantas leis e resoluções. Melhoraram-se um pouco as condições para operários nas mineradoras, mas no comércio e nas indústrias transformadoras tudo seguiu como antes. E até agora mesmo o governo federal mantém uma posição ambígua sobre o assunto, com Ministérios a favor do banimento (Meio Ambiente, Trabalho, Cultura, Saúde) e Ministérios contra (Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Minas e Energia, que até apoiam a exportação para países que ainda não baniram o amianto). O argumento utilizado pelos defensores do amianto é de que a crisotila - a variedade brasileira - não seria prejudicial à saúde, embora esteja banida em mais de 50 países e condenada por centenas de estudos científicos, que a consideram tão nociva quanto o anfibólio.

De qualquer forma, quatro Estados brasileiros já aprovaram leis que banem essa substância (SP, RJ, RS, PE). Na Assembleia Legislativa paulista há um projeto que pretende anular a lei anterior, como informou este jornal (28/6). Mas há também em curso no País cerca de 70 projetos a favor das restrições, todos mencionando os problemas para a saúde causados pelo amianto, principalmente câncer do pulmão, fibrose pulmonar e mesoteliomas, entre outros. A Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconheceu o potencial carcinogênico da substância, em todas as variedades. A OIT atribui 100 mil mortes anuais ao amianto. E prejuízos de R$ 3 bilhões/ano. No Canadá, apontado durante algum tempo como país que não condenava a crisotila, sucedem-se os estudos científicos em direção contrária. Um dos últimos é do Departamento de Epidemiologia, Bioestatística e Saúde Ocupacional da Universidade McGill, com apoio da Associação Médica do Canadá e da Sociedade do Câncer. Ali, a Associação Nacional de Saúde recentemente fez uma crítica ao governo por exportar amianto (crisotila). Também a Confederação Europeia dos Sindicatos (82 centrais em 32 países) condena com veemência a produção e o consumo.

Alguns países continuam a produzir amianto, como Rússia, China, Casaquistão e Zimbábue. Os defensores da substância no Brasil argumentam que a proibição inviabilizaria um setor que movimenta R$ 2,6 bilhões anuais, exporta mais de metade das 300 mil toneladas anuais produzidas (para Índia e África, principalmente) e envolve cerca de 170 mil trabalhadores na transformação e no comércio e 600 operários na mineração. Também tornaria inviável o município de Minaçu, em Goiás, onde está a mineração. Mas, embora há quase 25 anos o banimento esteja na pauta, até hoje nada se fez para viabilizar alternativas para essa cidade. Na transformação, diz a indústria de fibrocimento, há muito tempo já se criaram essas alternativas para produtores, comerciantes e trabalhadores. Na contramão de tudo, a indústria de Minaçu planeja aplicar US$ 16 milhões na ampliação de suas atividades (O Popular, 14/4).

Em novembro passado o Ministério da Cultura brasileiro baixou portaria que veda a ele mesmo e a órgãos vinculados "a aquisição e a utilização de produtos e subprodutos que contenham qualquer tipo de asbesto ou amianto e suas fibras em sua composição". E isso inclui, diz o texto, tanto o amianto do tipo anfibólio quanto a crisotila. Logo depois voltou à cena controvérsia de alguns anos atrás, quando foi apresentado resultado de pesquisa atribuída a institutos universitários que concluía pela não-periculosidade da crisotila. Mas naquela ocasião, em depoimento no Congresso Nacional, o coordenador da pesquisa, professor Ericson Bagatin, admitiu serem ele e outros autores do trabalho peritos contratados pela empresa de Minaçu para darem pareceres em processos nos quais ela era acionada por trabalhadores com graves danos de saúde; também admitiu que a maior parte do custo da pesquisa fora financiada não por instituições científicas, e sim pela produtora da crisotila.

Agora, em novembro último, surgiu nova pesquisa, inicialmente anunciada como financiada pelo Conselho Nacional de Pesquisas e Desenvolvimento (CNPq). Depois, veio a público que a parte do financiamento atribuída ao CNPq cabia ao CT Mineral, órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia. De qualquer forma, a verba por esse caminho correspondia a apenas um quarto do total. O restante cabia ao Instituto Brasileiro de Crisotila e à Secretaria de Ciência e Tecnologia de Goiás. E dela fazia parte o mesmo coordenador da pesquisa que isentava de problemas a crisotila, mas era perito contratado pela empresa mineradora.

De qualquer forma, com o novo adiamento no Congresso, a legislação sobre o amianto continua "não pegando".

A urgência da auditoria da dívida pública

Instituto Humanitas Unisinos - 09 jul 10

"É inadmissível que um país gaste bilhões dessa forma e ninguém se manifeste sobre isso; é preciso saber para onde vai o dinheiro público", advoga Ivan Valente, deputado federal pelo PSOL/SP, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 09-07-2010.

Eis o artigo.

O Copom (Comitê de Política Monetária) aumentou para 10,25% a taxa de juros com a justificativa de contenção da inflação. O que não se fala é que, com esse aumento - que consolida o Brasil como paraíso dos capitais especulativos-, dispara também a dívida pública do país.

Enquanto se mantém a atração do capital financeiro internacional, as consequências internas com escassez de recursos para áreas sociais são desastrosas. O relatório final da CPI da dívida pública, proposta por nosso mandato, reconhece que o fator mais importante para o crescimento da dívida foram as altas taxas de juros.

O documento afirma que as decisões do Copom sobre o tema não são transparentes. Mas os dados levantados pela CPI vão além e revelam como a dívida se tornou o nó da política econômica brasileira. De 1995 a 2009, ela saltou de R$ 60 bilhões para R$ 2 trilhões, sendo que R$ 1 trilhão foi pago apenas em juros e amortizações.

Somente no ano passado, R$ 380 bilhões -36% do Orçamento do país - foram alocados para juros e amortizações. Outro bolo foi destinado à rolagem da dívida. Enquanto isso, foram destinados menos de 3% para educação e menos de 5% para saúde.

Os documentos analisados pela CPI também apontam para acordos e contratos extremamente lesivos aos cofres e interesses nacionais, desde o boom da dívida externa até sua transformação, depois do Plano Real, em dívida interna.

As ilegalidades incluem a aplicação de juros flutuantes nos contratos da dívida externa com bancos privados internacionais na década de 70, com dano de US$ 223 bilhões ao patrimônio público, e cláusulas ilegais em acordos com bancos privados nos anos 80 e 90.

Incluem também aplicação do mecanismo de "juros sobre juros", proibido pelo STF, e recompras antecipadas de títulos da dívida externa por meio do pagamento de ágio de até 50% do valor de face do título e da emissão de títulos da dívida interna, mais onerosa para o país.

Ao longo dos trabalhos da CPI, PSDB, DEM, PT e PMDB impediram a convocação de autoridades monetárias, como os ministros Pedro Malan e Antônio Palocci. Depois de muita batalha, conseguimos ouvir o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro Guido Mantega. Ambos negaram que a dívida seja um problema para o país.

O próprio Tribunal de Contas da União (TCU), no entanto, encontrou várias ilegalidades nas auditorias pontuais da dívida feitas pelo órgão -isso porque a maioria dos fatos examinados pela comissão nem sequer chegou a ser auditada pelo TCU. Ou seja, é preciso aprofundar as investigações. Por isso, todos os documentos da CPI foram encaminhados à Procuradoria-Geral da República, que criou um grupo especial para investigá-los. Pelas mesmas razões, defendemos a realização imediata de uma auditoria integral da dívida pública, conforme prevê a Constituição Federal. A sociedade precisa saber para onde vai o dinheiro público.

Essa enorme sangria de recursos nunca é quantificada em sofrimento e humilhação dos milhões de brasileiros que pagam um preço monumental pela educação sucateada, pela falta de sistema de saúde de qualidade, de moradia decente, de aposentadorias dignas e de empregos que adviriam de investimentos públicos. Ou seja, camufla-se o impacto da dívida pública para os brasileiros.

É inadmissível que um país gaste bilhões dessa forma e ninguém se manifeste sobre isso. A passividade no enfrentamento e a ocultação dessa verdade à população impedem a construção de um país soberano e com justiça social. Com a palavra, os candidatos à Presidência da República.

Fundos garantem obra de Belo Monte

Instituto Humanitas Unisinos - 09 jul 10

Os três principais fundos de pensão de empresas estatais do país decidiram participar do projeto de construção da usina hidrelétrica de Belo Monte (PA).

A reportagem é de Maria Cristina Frias e Kennedy Alencar e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 09-07-2010.

Segundo a Folha apurou, Funcef e Petrus participarão diretamente da construção. A Previ, fundo dos funcionários do Banco do Brasil, participa via Neonergia, empresa na qual é sócia da espanhola Iberdrola.
A Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, terá uma cota de 7,5% no projeto. O Petrus, fundo da Petrobras, entrará com 10%. A Neoenergia terá uma fatia de 10%.

Em 12 de junho, a Folha antecipou que os fundos negociavam participação entre 25,02% e 30,02% do projeto.

Segundo um auxiliar direto do presidente Lula, a participação dos fundos viabiliza o projeto de construção da usina hidrelétrica que é uma prioridade do governo. De acordo com o que a Folha apurou, houve intensa negociação técnica entre o Ministério das Minas e Energia, a Casa Civil e os fundos de pensão para chegar a um acordo.

Os fundos questionavam a rentabilidade do projeto, orçado em R$ 25 bilhões. Como há participação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a entrada dos fundos na construção da usina será sobre uma parcela do valor total previsto para a obra.

Nas palavras de um auxiliar direto do presidente, foi encontrado um acordo técnico que viabilizou um projeto de importância política para o governo no ano eleitoral. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, foi a mentora de Belo Monte quando ocupava a chefia da Casa Civil.

Para o governo Lula, era uma questão de honra colocar de pé a construção de Belo Monte, criticada quando lançada. Alguns grupos empresariais, como as construtoras Odebrecht e Camargo Corrêa, boicotaram o projeto de Dilma nos bastidores. Com o apoio dos três principais fundos de pensão, Belo Monte ganhará fôlego para sair do papel.

quarta-feira, julho 07, 2010

Trivial de Lampião

Por Fuhgeddaboudit™

Há 112 anos nascia LAMPIÃO – o Rei do Cangaço

Vídeo: Antonio dos Santos, mais jovem cangaceiro de Lampião, conhecido como Volta Seca, canta a versão original de Mulher Rendeira e Acorda Maria Bonita, em Cantigas de Lampião.



O delegado que não assistiu ao estupro pretende culpar a vítima?O delegado que não assistiu ao estupro pretende culpar a vítima?

Site do Azenha - 7 de julho de 2010 às 11:19

“Eu não posso dizer que houve estupro. Houve a conjunção carnal. Houve o ato. Agora, se foi concedido ou não, se foi na marra eu não posso fazer esse comentário porque eu não estava presente”.

Palavras do delegado Nivaldo Rodrigues, diretor da Polícia Civil na Grande Florianópolis, a respeito da denúncia de estupro feita pela família de uma menor contra dois (ou três) menores.

Acho que o delegado deve mesmo ser cauteloso. Acho importante preservar sempre a presunção de inocência. Acho que é preciso sempre preservar menores de idade.

Porém, a declaração do delegado me parece muito com a argumentação de advogados de defesa, quando pretendem culpar a vítima.

Já vi isso quando eu era um jovem repórter e o cantor Lindomar Castilho assassinou Eliane de Grammont. Para mencionar um caso mais atual, tenho visto isso em relação ao caso do goleiro Bruno, quando se tenta desqualificar a vítima com o intuito de sugerir que ela mereceu ser morta. Trinta anos se passaram e o machismo resiste firme e forte na sociedade brasileira. É como se as mulheres pedissem para morrer ou, pelo seu comportamento, se oferecessem para o estupro.

No caso de Santa Catarina, é óbvio que houve uma tentativa de proteger adolescentes de famílias influentes. Para além disso, no entanto, não deixa de ser chocante que um delegado se comporte como se fosse advogado de defesa dos acusados. Sim, ele não estava lá, como provavelmente nunca esteve lá em nenhum dos crimes que investigou. Se pretendia ser cauteloso, não deveria nunca sugerir que a menor acusadora teria “concedido” sexo aos dois (ou três) menores que ela agora acusa de estupro. Ao fazer o que disse que não pretendia fazer, ele “especulou” em defesa dos acusados.

O que eu considero ainda mais podre é a ausência da cobertura do caso (como se faz no goleiro Bruno ou nos Nardoni) por parte do SBT e Bandeirantes. A Globo é claro está silenciosa (ninguém é obrigado a produzir provas contra si próprio, não é isso que alega a lei?).

Deputada Cidinha Campos X dep. José Nader - Parte 1

Lembram que postei a revolta e discurso da Deputada Cidinha Campos sobre a corrupção na Câmara Legislativa do Rio de Janeiro. Ela afirmava que depois falaria sobre cada um. Aqui vai o seu discurso dirigida ao Deputado José Nader.


segunda-feira, julho 05, 2010

Golfo do México: A opção nuclear no furo da BP

Resistir Info - 05 jul 10

por Washington's Blog

"Uma das coisas penosas acerca do nosso tempo é que aqueles que sentem certezas são estúpidos, e aqueles com alguma imaginação e entendimento estão cheios de dúvidas e indecisão".
Bertrand Russell

"A ignorância mais frequentemente provoca a confiança do que o faz o conhecimento".
Charles Darwin

. A CBS News , o Christian Science Monitor , a CNN e a Reuters

Na verdade, alguns cientistas nucleares russos, bem como peritos da indústria petrolífera, sugeriram que tal abordagem pararia o jorro de petróleo no Golfo. Aqui está um filme de arquivo dos russos a "matarem" uma fuga de gás com um dispositivo nuclear.

E o secretário da Energia de Obama e vencedor o Prémio Nobel da Física, Steven Chu, inclui o homem que ajudou a desenvolver a primeira bomba de hidrogénio na década de 1950 no grupo de cinco homens encarregados de travar o petróleo.

E o perito da indústria de petróleo Matt Simmons propõe a utilização de um dispositivo nuclear táctico todas as vezes em que é entrevistado na televisão nacional.

Contudo, mesmo a história da utilização com êxito pela Rússia de um dispositivo nuclear para fechar o jorro tem algumas restrições importantes.

Como observa o artigo da Reuters:
perguntaram, todos eles, se a BP deveria disparar uma ogiva nuclear no seu furo de petróleo em fuga.

Vladimir Chuprov do escritório de Moscovo do Greenpeace é ainda mais insistente do que a BP em não dar atenção ao conselho dos veteranos físicos soviéticos. Chuprov contesta os relatos dos veteranos de explosões pacíficas e diz que várias fugas de gás reapareceram posteriormente. "O que é louvado como um êxito e um feito pela União Soviética no essencial é uma mentira", diz ele.

[O ex-ministro russo da energia nuclear e antigo físico soviético Viktor] Mikhailov concorda em que a URSS teve de abandonar o seu programa devido aos problemas que apresentou. "Acabei o programa porque sabia quão inútil era tudo aquilo", diz ele com um suspiro. "O material radioactivo ainda estava a emanar através das fendas no chão e a espalhar-se no ar. Não valia a pena".

O Christian Science Monitor destaca:

Anteriormente os russos utilizaram ogivas nucleares pelo menos cinco vezes para extinguir incêndios em furos. ... O Komsomoloskaya Pravda sugeriu que os Estados Unidos poderiam também arriscar-se com um ogiva, baseado no histórico da taxa de falha de 20%. Ainda assim, a experiência soviética com o disparo subterrâneo de uma ogiva nuclear em furos de gás podia demonstrar-se mais fácil em retrospectiva do que tentar selar o desastre com o furo de petróleo no Golfo do México que teve lugar 5.000 pés [1.524 m] abaixo da superfície. Os russos estavam a utilizar ogivas para extinguir incêndios em furos de gás em campos de gás natural, não a selar furos de petróleo que jorravam líquido, de modo que há grandes diferenças e este método nunca foi testado em tais condições.

O artigo da CBS New destaca que nem todas as ogivas nucleares russas funcionaram:

Mas nem todos os casos de utilização de energia nuclear tiveram o resultado desejado. Uma carga de 4 kilotoneladas posta na região de Kharkov da Rússia falhou em travar uma fuga de gás. "A explosão foi misteriosamente deixada à superfície, formando uma nuvem em cogumelo", relatou o jornal.

Na verdade, vários peritos disseram que disparar uma ogiva nuclear no furo pode piorar a situação.

O artigo da Reuters nota:

Há uma probabilidade de que qualquer explosão possa fracturar o leito do mar e provocar um jorro subterrâneo, segundo Andy Radford, engenheiro de petróleo e conselheiro do American Petroleum Institute sobre questões offshore.

A reportagem da CNN nota ser concebível que o disparo da ogiva no furo em fuga desestabiliza outros furos de petróleo a quilómetros de distância.

O New York Times escreve :

Governo e peritos nucleares privados concordam em que utilizar uma bomba nuclear seria ... tecnicamente arriscado, com consequências da radiação desconhecidas e possivelmente desastrosas ...

Um cientista senior de Los Alamos, a falar na condição de anonimato porque os seus comentários não foram autorizados, ridicularizou a ideia de utilizar uma explosão nuclear para resolver a crise no golfo.

"Isso não está em vias de acontecer", disse ele. "Tecnicamente, seria explorar novo terreno em meio a um desastre — e você pode torná-lo pior".

E um dos físicos de topo do mundo – o teórico das cordas Michio Kaku – escreve :

Penso que isto é uma ideia má, do ponto de vista da física. Deixe-me dizer que o meu mentor quando estava na faculdade e em Harvard, Edward Teller, pai da bomba H, era um firme advogado da utilização de armas nucleares para escavar canais e outros grandes projectos de engenharia.


Debaixo do chão, temos então uma cavidade esférica de gás vaporizado, com paredes que foram vitrificadas a partir da areia. Esta cavidade esférica é estável durante umas poucas horas ou uns poucos dias, mas finalmente o peso da rocha leva a esfera ao colapso. O resultado é um colapso súbito da esfera, muitas vezes libertando gás radioactivo para o ambiente.


Se isto se verificar sob o leito do mar (o que nunca foi feito antes), haverá complicações. Primeiro, haveria a libertação de produtos químicos perigosos e solúveis em água tais como iodo radioactivo, estrôncio e césio, os quais contaminariam a cadeia alimentar no Golfo. Segundo, o "selo" criado pela areia vitrificada provavelmente seria instável. E terceiro, pode realmente tornar o problema pior, criando muitas mini fugas no leito do oceano. Determinar o efeito preciso de semelhante explosão debaixo da água dependeria de cruciais simulações em computador das várias camadas de rocha sob o leito do oceano, as quais nunca foram feitas antes.


Por outras palavras, isto seria um enorme experimento científico, com consequências inesperadas. Além disso, com a estação de furacões sobre nós, e previsões de oito ou mais furacões nesta estação, significa que a água do mar várias centenas de pés abaixo da superfície da água podia ser agitada e então depositada a Sul. Esta água do mar, contendo óleos e produtos radioactivos da cisão, ampliaria o problema ambiental.


Em suma, não é uma boa ideia utilizar ogivas nucleares para selar fugas de petróleo.

Além disso, o presidente Bill Clinton disse domingo à CNN (começa às 03h13 no vídeo) que havia examinado a questão e que uma ogiva nuclear não é necessária. Ele disse que a Armada pode utilizar explosivos convencionais para selar o furo. Como antigo comandante-em-chefe, provavelmente Clinton está a obter tal informação de alguém muito alto na Armada.

Para mais sobre a opção nuclear, ver isto .

02/Julho/2010
  • Bomba, bomba ! Serra é o nosso Rei

    Conversa Afiada - Publicado em 05/07/2010

    Ele sempre quis ser um Napoleão


    Saiu no blog Os Amigos do Presidente Lula:

    Índio do Serra quer ser rei

    Uma das mídias mais populares da internet, atualmente, é o Facebook. Se o que for postado ali vale como um posicionamento do dono do espaço, Indio da Costa tem idéias muito peculiares. Está lá, abrindo seu Facebook deste domingo, um brazão sob o título “Identidade Imperial”. O texto é o seguinte: “Somos parte de um movimento que anseia pelo retorno do regime monárquico em nosso país. Entendemos ser o melhor caminho, o da informação. Tendo ciência do passado, refletiremos no presente, para construir um futuro melhor. O Império do Brasil e suas glórias. Não queremos mais um Brasil mergulhado na currupção [assim mesmo] e na imoralidade. Somos uma nação, mas queremos voltar a ter orgulho de sermos uma nação”. Sem comentários. Aqui no Sul21

    Navalha

    Quer dizer, então, que o vice do Serra é simpático ao regime monarquista ?

    Sabia-se que, quando está na oposição, Serra é favor do Parlamentarismo.

    Ele se esqueceu do Parlamentarsimo quando foi Ministro do Planejamento e da Saúde do Governo do Farol de Alexandria.

    Na época ele era 100% Executivista.

    Clique aqui para ler sobre uma mudança na politica editorial do Conversa Afiada.

    Agora, qual a nossa surpresa ao constatar que o vice dele tem simpatias pelo regime monarquista.

    Esse obscuro rapaz defende multas contra quem der esmola.

    E provavelmente pretende coroar Serra nosso Rei.

    Nem os sonhos megalomaníacos do Serra foram tão alto.

    Serra vai acabar como o Napoleão do hospício.

    Paulo Henrique Amorim

    Vicentinho: “Nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra”

    Site do Azenha - 5 de julho de 2010 às 10:25

    por Conceição Lemes

    Há duas semanas foi ao ar o programa nacional do PSDB. José Serra, candidato tucano à Presidência da República, ocupou metade da apresentação, onde foi dito que ele criou o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e o seguro-desemprego.



    O site de Serra insiste: Emenda de Serra criou o FAT e tirou o seguro o seguro-desemprego do papel.

    Na Convenção Nacional do PTB, em 12 de junho, o próprio Serra alardeou em seu discurso:

    Fui também o autor da emenda à Constituição brasileira que instituiu o que veio a ser o Fundo de Amparo ao Trabalhador, o FAT. O Fundo, hoje, é o maior do Brasil e é patrimônio dos trabalhadores brasileiros, e financia o BNDES, a expansão das empresas, as grandes obras, os cursos de qualificação profissional, o salário dos pescadores na época do defeso. Tudo isso vem do FAT. E tenho orgulho de ter iniciado esse processo.

    Graças ao FAT, também, tiramos o seguro-desemprego do papel e demos a ele a amplitude que tem hoje. O seguro-desemprego dormia há mais de 40 anos nas gavetas. Existia na lei, mas pouco na prática. Conseguimos viabilizá-lo e ele já pagou mais de 50 milhões de benefícios na hora mais difícil de qualquer família e de qualquer trabalhador.

    “Nem o FAT nem o seguro-desemprego são criações do Serra”, afirma o deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema e ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Eu respeito o Serra, mas ele não pode usar a mentira como expediente para se promover e alavancar a sua candidatura, pois ele vai perder mais credibilidade.Ainda mais hoje em dia que, graças à internet, tudo é descoberto rapidamente.”

    JORGE UEQUED É AUTOR DA LEI DO FAT; SARNEY CRIOU O SEGURO-DESEMPREGO

    Vicentinho tem razão. O autor de projeto de lei (PL) que criou o FAT é o ex-deputado federal Jorge Uequed (PMDB-RS), considerado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar – o Diap — um constituinte nota 10. O PL é o número 991, de 1988. Ele foi apresentado em 11 de outubro de 1988.

    O projeto de Serra sobre o Fundo de Amparo ao Trabalhador foi apresentado sete meses depois: 5 de maio de 1989. Recebeu o número 2250/1989: www. camara. gov.br/internet/sileg/ Prop_Detalhe.asp?id=201454

    Na sessão de 13 de dezembro de 1989, foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados devido à aprovação do projeto de Jorge Uequed.

    O trâmite do projeto de Serra na Casa comprova que o candidato tucano à Presidência está faltando com a verdade em relação ao FAT.

    Quanto ao seguro-desemprego, Serra reincide. Na campanha de 2002, o presidenciável tucano já havia trombeteado que criara o seguro-desemprego. A Frente Trabalhista, então integrada pelo PTB, PPS (hoje aliados de Serra) e PDT, contestou.

    Em entrevista à Folha de S. Paulo, publicada em 10 de agosto de 2002, o senador José Sarney (PMDB-AP) desmentiu Serra: “Não sei de onde ele tirou que criou o seguro-desemprego. O seguro foi criado no meu governo. Na época, ele [Serra] era secretário de Economia e Planejamento do governador Franco Montoro”.

    Verdade. O seguro-desemprego foi criado em 1986, quando Sarney ocupava a Presidência da República. Foi instituído junto com o Plano Cruzado pelo decreto-lei nº 2.284, de 10 de março de 1986. Passou a ser concedido aos trabalhadores após a sua regulamentação, que ocorreu 40 dias depois, pelo decreto nº 92.608, de 30 de abril do mesmo ano.

    “Se o Serra mente assim na campanha que dirá, depois, governando”, arremata Vicentinho. “Ainda bem que ele não vai ganhar.”

    Como a blogosfera detonou a SporTV no Paraguai

    Site do Azenha - 5 de julho de 2010 às 11:47

    por Luiz Carlos Azenha (com dicas do Stanley Burburinho e Conceição Oliveira)

    Em comum, todos tem um sorriso permanente estampado no rosto. Sorriso plastificado. Nem disfarçam mais, fazendo “cara de conteúdo”. Difícil discernir entre os locutores que fazem televendas, os humoristas do CQC e os telejornalistas encarregados das coberturas esportivas. Eles estão permanentemente de bom humor e tratam o telespectador como um imbecilóide, como a criança que recém migrou do show da Xuxa para a adolescência das coberturas esportivas e que, se tudo der certo, em breve se tornará bovinamente “consumidor de notícias” do Jornal Nacional.

    O mais curioso é que os mentores dessa imbecilização generalizada se alimentam de preconceitos antigos para suas “sacadas” modernosas. Nascem daí momentos imperdíveis de nosso telejornalismo, como o que o SporTV produziu sobre o Paraguai, a título de fazer uma graça. Houve, sim, um tímido pedido de desculpas (mas eles continuam pensando a mesma coisa sobre o Paraguai, só lamentam não poder dizer isso em voz alta). É produto genuinamente brasileiro, como a jabuticaba: um tele-entretenimento jornalístico que ganha dinheiro reproduzindo a própria ignorância.

    PS: Um leitor do Viomundo me enviou um e-mail dizendo que havia denunciado a SporTV ao jornal paraguaio La Nación, inclusive postando no You Tube o vídeo imbecilizante da emissora. Infelizmente, não consigo localizar a mensagem para dar crédito ao internauta.


    Vídeo da SporTV



    Resposta de Ramonita Vera

    BP, a Bastilha do petróleo? Artigo de Ulrich Beck

    Instituto Humanitas Unisinos - 05 jul 10

    A catástrofe do Golfo do México ameaça transformar Obama em um “presidente fracassado”. Mas também poderia ser, como sugere o próprio presidente, a oportunidade para o começo do fim da era da energia fóssil, escreve o sociólogo Ulrich Beck em artigo publicado no El País, 04-07-2010. A tradução é do Cepat.

    Ulrich Beck é professor emérito da Universidade de Munique e professor da London School of Economics.

    Eis o artigo.

    Como é que não aconteceu um assalto à Bastilha do Grande Petróleo depois do gigantesco vazamento na Deepwater Horizon, uma das maiores catástrofes ecológicas da história dos Estados Unidos? Por que não se enfrenta os problemas mais urgentes de nossa época – as crises ecológicas e a mudança climática – com a mesma energia, o mesmo idealismo, o mesmo entusiasmo, otimismo e espírito democrático progressista com que se enfrentou as tragédias anteriores da pobreza, da tirania e da guerra? Irá se comemorar retrospectivamente a Deepwater Horizon como o outubro vermelho ecológico do capitalismo do Grande Petróleo? De fato, o estado da indústria petrolífera recorda o ancien régime pouco antes de vir abaixo.

    A catástrofe do vazamento do Golfo do México contém várias verdades. Temos a falta de cuidado e a indiferença da empresa BP. Mas também o fracasso dos supervisores estatais. O que até este momento os lobbies propugnavam como política de apoio à economia se denuncia agora como “cumplicidade com canalhas”. Com as horrendas imagens do petróleo derramado divulgadas por todo o mundo, nos cenários culturais de todas as partes se representam agora, dando-lhes um cunho ecológico, dramas antigos. Há dragões e heróis que matam dragões, deuses e demônios, com a diferença de que agora respondem a fórmulas técnicas e têm os rostos do presidente executivo da BP, Tony Hayward, e do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

    O presidente da BP se apresenta como pecador arrependido e fala de “uma combinação inédita de falhas”. Em um comparecimento à Câmara de Representantes dos Estados Unidos, um congressista democrata lhe apresentou a longa lista de catástrofes da BP, revelando deste modo outra verdade: são centenas, milhares, as plataformas petrolíferas que funcionam em condições duvidosas em todas as regiões do mundo.

    Centrar agora o ataque na BP é fácil. A Deepwater Horizon é o símbolo do crescente fracasso de um experimento mundial, de um modelo de progresso e desenvolvimento baseado na exploração de recursos fósseis e que, após as crises ecológicas e a mudança climática, minou de forma irreparável a confiança da humanidade em si mesma.

    Nos últimos 200 anos o fogo e o vapor movem máquinas e motores. Este descobrimento foi o ponto de partida do bem-estar material e seguiu sendo sua base até hoje. Entretanto, toda uma geração cresceu sabendo que uma indústria baseada nos combustíveis fósseis, em especial no petróleo, em sua marcha triunfal sobre a terra, queima suas próprias bases porque os recursos petrolíferos são finitos. Há mais de cem anos Max Weber antecipou o fim deste capitalismo petroleiro dizendo que o homem só irá parar “quando tiver queimado a última tonelada de combustível fóssil”. Entretanto, esta economia impulsionada pelo fogo fóssil trabalha diligente em sua própria queda, como se não tivesse outra alternativa, o que é uma afronta ao senso comum.

    Por que um mundo que recebe diariamente do sol, de forma gratuita e inesgotável, várias vezes a energia que consome, teria de tolerar de braços cruzados nuvens de petróleo que se elevam desde uma profundidade de 1.500 metros, asfixiando qualquer vida? Aqui, sim, fazem falta a tão traída força inovadora do capital e o entusiasmo utópico da engenharia. A divisa do movimento pacifista era: “convertamos as espadas em arados”. A do movimento ecológico, “transformemos os desertos em fontes de energia solar”.

    Mas, enquanto o petróleo brota aos borbotões, a verdade vem à tona passo a passo. Subestimamos as complicações – confessa o pecador arrependido Tony Hayward – que podem se apresentar em uma perfuração petrolífera a 1.500 metros de profundidade. Ninguém dispõe das técnicas de segurança para evitar ou dar resposta a uma catástrofe desta magnitude. Não são os fracassos, mas os triunfos que tornam incontroláveis os riscos em que incorremos. Os engenheiros se tornaram cada vez mais ousados na busca do petróleo; perfuraram cada vez a profundidades maiores, considerando controláveis as consequências potencialmente mortais de seus sucessos; algo semelhante ao que fizeram os malabaristas financeiros e os economistas matemáticos com os créditos tóxicos. A deprimente verdade é que o “risco residual” das perfurações em grande profundidade se baseia no desconhecimento. Caso a tecnologia de segurança fracassar, a BP calcula que serão necessários entre dois a quatro anos até que a totalidade do petróleo tenha vazado para o mar.

    Diante desta ameaça de catástrofe a longo prazo, que põe em perigo a segurança da população norte-americana e a sobrevivência política do presidente Obama, este “declara a guerra” ao inimigo negro abismal. Também ele tem agora sua própria guerra do Golfo, mas desta vez é o Golfo do México. De fato, a catástrofe petrolífera apresenta como Estado falido a maior potência militar e econômica mundial. E Obama corre o risco de se transformar em presidente fracassado. O que o matador de dragões, o comandante em chefe deverá fazer? Mandar sua frota de submarinos torpedear o vazamento de petróleo? Enviar as tropas contra os executivos da BP e contra “aqueles que estiverem por trás deles”? Ou deveria, talvez, a “guerra contra o vazamento de petróleo” de Obama responsabilizar o Reino Unido como suposto país de origem pelo catastrófico “ataque” contra a população norte-americana?

    A tudo isto, a BP havia antecipado há muito tempo destino globalizador. Assim como a marca Made in Germany se estende a produtos que são qualquer coisa menos fabricados na Alemanha, a British Petroleum não é britânica. A empresa fez uma fusão, em 1998, com o gigante petrolífero norte-americano Amoco, e desterrou o adjetivo “britânico”, substituindo-o pela esperançadora palavrinha “beyond”, de modo que desde então as siglas BP respondem a Beyond Petroleum: para além do petróleo. É talvez responsável por esse rebatismo a sábia antecipação de seu colapso catastrófico? Com a BP começa o futuro sem petróleo!

    É agora que se evidencia que a política interna mundial possibilita uma nova forma de irresponsabilidade organizada. Quem acredita ter pilhado in flagranti a British Petroleum (BP) acabará se dando conta de que estamos diante de um conglomerado empresarial que também pertence aos norte-americanos, cujas plataformas petrolíferas foram construídas por coreanos e cujos impostos são transferidos para o Ministério das Finanças da Confederação Helvética, em Berna. (BP também é a sigla de “Bern Petroleum”!)

    A tecnologia de segurança dos engenheiros se parece cada vez mais com aquele proverbial freio de bicicleta do avião intercontinental. De acordo com o Direito Administrativo alemão, a catástrofe do reator de Chernobil não existiu porque, em virtude da definição legal, só as centrais nucleares alemãs podem causar catástrofes alemãs. O Direito norte-americano prevê para as catástrofes petrolíferas uma indenização máxima de cinco milhões de dólares. Num primeiro momento, Barack Obama condenou a empresa perpetradora ao pagamento de 20 bilhões de dólares. Entretanto, diante da pressão da opinião pública mundial, esta reconhece que é provável que o desastre custe mais do dobre só em perdas econômicas.

    Uma política que de uma vez por todas seja realista tem que levar em conta a transformação das relações globais de poder. China, Índia, Brasil e os países africanos não apoiarão um projeto internacional que pretenda fixar limites ao seu progresso econômico, e com razão.

    Representa a política ambiental mundial um comércio de privilégios globais para os pecados do CO2, cujas contradições levarão – previsivelmente – a fracasso após fracasso nas Conferências sobre o Clima? Ou antes, a ousadia de inventar uma modernidade baseada na energia solar e implantá-la em um mundo em que o bem-estar já não seja um pecado ecológico?

    Obama anunciou solenemente: “Chegou a hora de introduzir energias mais limpas”. Aqui, e deste modo, poderia começar o assalto à Bastilha Petroleum (BP). No Golfo do México talvez tenha soado uma hora decisiva da história dos Estados Unidos. Obama poderia marcar com sua marca o futuro e introduzir de fato a nova era: Beyond Petroleum, depois do petróleo.

    A revolução agrícola de Lula na África

    Instituto Humanitas Unisinos - 05 jul 10

    “Que o Brasil deve ser parceiro no desenvolvimento das nações africanas, isso não tenho dúvida, o problema é o tipo de conselho e de exemplo que vamos dar”, afirma Leonardo Sakamoto em seu blog, 03-07-2010, sobre o “conselho” de Lula sugerindo a reprodução do modelo de agrocombustíveis brasileiro em território africano.

    Eis o artigo.

    O presidente Lula, que está participando de uma reunião de chefes de Estado em Cabo Verde, disse que o Brasil deve continuar incentivando o desenvolvimento da agropecuária na savana africana. Comparou o seu potencial ao do Cerrado brasileiro e destacou a produção de agrocombustíveis como alternativa econômica. “Podemos reproduzir a revolução da agricultura brasileira”, afirmou, em registro feito pela Agência Brasil.

    Que o Brasil deve ser parceiro no desenvolvimento das nações africanas, isso não tenho dúvida. O problema é o tipo de conselho e de exemplo que vamos dar e, o mais importante, qual participação vamos ter neste processo – até porque, por trás do discurso do presidente, há também o bafo de empresas multinacionais brasileiras com especial interesse na África. Se por um lado, o avanço agropecuário feito com responsabilidade, tecnologia e com a participação do pequeno produtor pode garantir soberania alimentar e energética, por outro o avanço feito de forma irracional ou concentrado na mão de grandes empresas pode levar à destruição do meio e do empobrecimento da população. Exagero? Nem de longe. Nos últimos séculos, a história do contato da África com outros povos tem sido uma história de pilhagem.

    Vale lembrar o que ocorreu no próprio continente. O segredo da “revolução verde” na África tropical, como bem lembrou Samir Amin, foi altamente rentável por conta das remunerações baixíssimas para os trabalhadores. Por conta disso, mesmo com uma produtividade fraca, os preços continuaram competitivos. A rentabilidade foi obtida através da pilhagem do solo, do desmatamento, da inutilização de terras. E junto com a terra, a mão-de-obra acabou sendo prejudicada, como mostraram os altos índice de mortalidade, de desnutrição, de fome, de êxodo rural, enfim. Sabemos bem porque algo parecido tem acontecido em regiões de fronteira agrícola por aqui. E, principalmente em nosso Cerrado, bioma mais desmatado e desprotegido.

    Por fim, o Brasil está batalhando por influência em um espaço de produção e um mercado em que a China vem galgando posições cada vez mais, comprando terras, construindo parcerias, para fazer frente à sua fome por recursos naturais e produtos agropecuários. Ela não costuma adotar critérios sociais, em outras palavras, está pouco se lixando para os impactos causados na produção de uma mercadoria em terras estrangeiras e em seu território, contanto que o preço seja baixo. Se conseguirmos estabelecer negócios respeitando o povo de lá e sua terra, talvez façamos a diferença que afirmamos ser no cenário internacional.

    Mata refeita pode trazer mais lucro, afirma USP

    Instituto Humanitas Unisinos - 05 jul 10

    Experimento no interior paulista vai testar recomposição de reserva legal. Ideia é criar floresta que possa produzir madeira com mais rentabilidade que pastagem. Estudo afeta debate sobre lei.

    A reportagem é de Claudio Angelo e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, 05-07-2010

    O ecólogo Sérgius Gandolfi caminha na floresta e para diante de um jequitibá de 15 metros de altura. São pouco mais de 16h, mas já começa a escurecer sob aquele trecho de mata atlântica em Iracemápolis, interior paulista. Gandolfi aponta o chão, onde brotam "filhas" do jequitibá e de outras árvores. "Isso mostra que a floresta está funcionando", diz.

    O que é uma grande notícia: afinal, há apenas 23 anos, aquilo que hoje é mata fechada era um canavial. A mata ali é resultado de replantio numa área de preservação permanente (APP). Essa e outras experiências de reposição de mata nativa em áreas devastadas estão no foco de uma polêmica nacional nesta semana.

    Hoje, em Brasília, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) deve apresentar a uma comissão especial da Câmara a versão final de seu projeto de reforma no Código Florestal, a lei de 1965 que protege as florestas do país. O projeto de Rebelo visa adequar a maior parte dos agricultores do Brasil à lei.

    Para isso, deve reduzir a proteção às APPs (margens de rio, encostas, várzeas e topos de morro) e dispensar cerca de 90% dos proprietários de terra de replantar florestas na reserva legal -fração de uma propriedade que deve ser mantida como mata. A anistia a desmatamentos já feitos na reserva legal é uma antiga bandeira dos ruralistas. "É um custo com o qual nós não podemos arcar e tem eficiência questionável do ponto de vista biológico", argumenta o pecuarista Assuero Veronez, da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

    Refazenda

    Sérgius Gandolfi e seus colegas do Lerf (Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal) da USP de Piracicaba querem provar o contrário. Segundo eles, é possível repor ao menos parte dos 43 milhões de hectares de reserva legal estipulados pelo código atual. E dá até para fazer dinheiro com isso.

    A ideia está sendo testada em uma área de 300 hectares da fazenda Guariroba, em Campinas. Ali, eles plantaram há quatro anos uma floresta que, esperam os cientistas, será a primeira reserva legal para proteção da biodiversidade e produção de madeira da mata atlântica. O Lerf criou um método que permite "recriar florestas tropicais com alta diversidade em qualquer lugar".

    O truque: plantar pelo menos 80 espécies, numa ordem tal que árvores nobres, como jequitibás e cedros, possam crescer à sombra de plantas de desenvolvimento rápido, como quaresmeiras. Não é barato. Implantar uma reserva custa de R$ 10 mil a R$ 12 mil por hectare em dois anos. A cana rende R$ 500 por hectare/ano. "Você precisa de 20 anos da renda da cana para poder pagar um hectare de floresta", diz Giselda Durigan, pesquisadora do Instituto Florestal e uma das maiores autoridades do país em restauração. Ela é cética em relação à reposição de reserva legal.

    Mercado futuro

    Os pesquisadores do Lerf apostam em tirar essa diferença transformando as reservas legais em polos produtores de madeira. Após dez anos, seria possível cortar as árvores pioneiras para fazer lenha e carvão vegetal. Após 20 a 30 anos, viria a exploração das árvores nobres. Nesse período, o produtor que refizesse a mata poderia ganhar até R$ 500 por hectare/ano com a produção de madeira.

    "É duas vezes mais do que a renda de uma pastagem", diz Ricardo Rodrigues, coordenador do Lerf. No quadragésimo ano, com as árvores nobres da propriedade já maduras, a renda subiria para quase R$ 2.000 por ano no pior cenário, e R$ 3.500 no melhor. "A reserva legal pode ser um grande negócio", diz Gandolfi. Ele lembra que os Estados do Sudeste hoje são os maiores consumidores de madeira nativa, que vem quase toda da Amazônia. Produzir tal madeira em São Paulo valeria a pena.

    E nem é preciso brigar com lavouras rentáveis como a cana e a laranja. Segundo o grupo, há na mata atlântica 7 milhões de hectares de áreas de baixa aptidão agrícola que poderiam ser aproveitadas. "Nas áreas mais agricultáveis do Estado de São Paulo você tem aproveitamento de 70% da propriedade no máximo", diz André Nave, do Lerf. "O resto são trechos de baixa aptidão, com reflorestamento de exóticas [plantas que não são nativas do país, como o eucalipto] ou áreas abandonadas, que poderiam voltar a ser reserva legal."

    Durigan compara a perspectiva de lucrar com a reserva legal à venda de indulgências pela Igreja Católica: pague agora, receba no Além. "No livro está tudo muito bonitinho, mas não sei se na prática funcionaria. Depende de uma série de providências, depende do mercado."

    Rede pública está 3 anos atrás da particular

    Instituto Humanitas Unisinos - 05 jul 10


    Aluno que termina ensino fundamental em escola particular sabe mais que formando do ensino médio público; apesar disso, distância entre as redes diminuiu entre 2005 e 2009, segundo dados do Ministério da Educação.

    A reportagem é de Antonio Gois e Angela Pinho e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, 05-07-2010.

    Apesar de a distância que separa a rede pública e a particular ter caído de 2005 a 2009, um aluno que completa o ensino fundamental em colégio privado sabe, em média, mais que um formado no ensino médio público, com três anos a mais de estudo.

    Essas são constatações que podem ser feitas a partir dos resultados do Ideb, principal indicador do MEC de avaliação da qualidade da educação brasileira. O ministério divulga hoje dados por Estados, municípios e redes. O Ideb agrega num único índice, numa escala que vai de zero a dez, taxas de aprovação de alunos e médias em testes de português e de matemática.

    De 2005 a 2009, a diferença entre a rede pública e a particular caiu em todos os níveis pesquisados. A desigualdade entre as duas redes, no entanto, é gritante ao comparar o quanto um aluno de escola pública aprendeu ao final do ensino médio (antigo 2º grau), em comparação com um da rede privada que finalizou o fundamental (antigo 1º grau).

    Como as provas do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica, um dos componentes do Ideb) têm a mesma escala e grau de dificuldade para todas as séries, é possível comparar alunos de diferentes anos. Em matemática, por exemplo, a média dos estudantes ao final do ensino fundamental na rede privada foi de 294 pontos numa escala de zero a 500. Na pública ao fim do ensino médio, a média é de 266. Em português, a média foi de 279 pontos em particulares no último ano do ensino fundamental e 262 em públicas ao fim do médio.

    Sem surpresas

    O sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, diz não se surpreender com a distância. "As escolas privadas têm uma série de vantagens. Podem escolher o aluno, tirar o indisciplinado, têm uma direção com mais autonomia.

    Nas escolas públicas, isso é mais rígido. Ou seja: se uma escola privada tiver interesse em melhores resultados, dá para trabalhar para isso. Em uma pública, é mais difícil." Outro ponto a ser considerado é que o nível socioeconômico dos alunos é o fator que, comprovadamente, mais impacto tem nas suas notas. Como os alunos de escolas particulares vêm de famílias mais ricas e escolarizadas, esta diferença não pode ser atribuída apenas ao trabalho da escola.

    O presidente da Undime (entidade que representa os secretários municipais de educação), Carlos Eduardo Sanches, diz que, considerando o quanto é gasto por aluno em cada rede, a distância deveria ser maior. Ele diz que o Fundeb [fundo que distribui recursos públicos por estudante] dá hoje R$ 1.415 por ano por aluno, enquanto uma mensalidade em escola particular já fica, em média, em torno de R$ 800. "É claro que as públicas precisam melhorar, mas, com essa quantidade de recursos, o retrato do sistema privado é que é dramático."

    Schwartzman concorda, lembrando que o ensino particular no Brasil, quando comparado com o de outros países no Pisa (exame internacional de avaliação do ensino), deixa a desejar. "Mesmo as melhores particulares do Brasil são piores do que as dos outros países. São muito orientadas para vestibulares, têm muitas matérias e o mesmo problema com a má formação dos professores no setor público."

    É bom verificar a profundidade dos dados. Sei que nas escolas públicas são realizadas provas para verificar o rendimento dos alunos. Nas particulares não sei se acontece com a mesma abrangência. Uma coisa é se analisar todas as escolas públicas e outra é analisar as maiores particulares. Basta pensar na quantidade de pequenas escolas particulares que existem. Será que todas tem um rendimento tão bom assim? Apresentam alto grau de aprovação no vestibular? Penso que os resultados finais vem dos grandes gurpos que tem a possibilidade de alto investimento. As particulares de bairros não devem ter tal índice de rendimento.
    Com relação ao direcionamento para o vestibular, infelizmente tem que ser assim. Não é culpa das escolas, e sim das Universidades (que têm pedagogos pesquisadores e que escrevem sobre as mudanças necessárias no ensino) que impõem um programa vasto na sua seleção de vestibular, totalmente desnecessária e sem sentido. Se houvesse um enxugamento desses programas, provavelmente como efeito cascata as escolas iriam dedicar-se aos conteúdos mais significativos (contanto que fossem estes a serem cobrados no exame).

    Movimento faz blitz para barrar ficha-suja

    Instituto Humanitas Unisinos - 05 jul 10

    Apesar das recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contrárias à lei da Ficha Limpa, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) se arma para, em parceria com o Ministério Público Eleitoral e a Polícia Federal, verificar com lupa o registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e nos tribunais regionais.

    A reportagem é de Moacir Assunção e Carol Pires e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 05-07-2010.

    Hoje, até as 19 horas, é o prazo limite para o registro dos candidatos e o primeiro momento em que podem haver impugnações de pretendentes com ficha suja. Segundo a diretora do MCCE, Jovita José Rosa, vários seminários têm sido organizados para implementar a fiscalização.

    "Temos conversado muito com o Ministério Público e a Polícia Federal para fazer o controle social desse processo. Teremos comitês nas principais capitais brasileiras para acompanhar o registro bem de perto", afirmou. Os comitês, de acordo com Jovita, estão sendo montados em parceria com entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), as principais das 44 entidades que compõem o MCCE.

    Nestes locais, os membros do MCCE atuarão em contato direto com órgãos públicos ligados à transparência administrativa, como a Controladoria Geral da União (CGU) e a Polícia Federal. Além da Ficha Limpa, as entidades estarão de olho em questões como a compra de votos e denúncias relacionadas a improbidade administrativa.

    A diretora do MCCE observou que, para integrantes do movimento, tanto o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) quanto a deputada estadual Isaura Lemos (PDT-GO) - que obtiveram decisões do STF favoráveis ao registro de suas candidaturas estão inelegíveis. "Eles foram condenados por um colegiado e a lei é clara", anotou.

    O presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), Mozart Valadares Pires, foi cauteloso ao comentar as decisões do Supremo. Ele não viu "flexibilização ou fragilização" da lei nos casos em que o STF permitiu o registro das candidaturas de políticos com a ficha suja. "É preciso ter cuidado e serenidade", disse Pires.

    "O senador entrou com recurso e o prazo para o registro termina amanhã (hoje). O ministro (Gilmar Mendes) só concedeu o efeito suspensivo ao senador para evitar dano irreparável ou de difícil reparação." Ele ressaltou que a lei da Ficha Limpa é um marco e se disse tranquilo quanto à aplicação. "Não é porque temos lei rígida que vamos querer impedir que todos sejam candidatos. Não pode se transformar em caça às bruxas."

    Será que depois do efeito De Sanctis, os comentários sobre as decisões de Gilmar Mendes estão mais comedidos?