"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Comentários

Li recentemente na Carta (não a mais recente) do susto que o escritor do artigo teve como a nomeação de Nelson Jobim e do "pito" que Dilma teria dado no General Elito. Já havia dito antes que o tratamento de Dilma com os militares não seria o que os "companheiros" esperavam.
Por sinal o articulista achou um absurdo que mesmo após os afagos que Lula teria dado aos militares com o aumento nos gastos de armamento, tivesse sido necessário o "pito" de Dilma.
Bom, em um primeiro momento, gostaria de lembrar ao articulista que o aumento em gastos com armamentos não é afago aos militares, é estratégia da Defesa Nacional, segurança mesmo.
Para se inteirar melhor de onde veio isso, acesse o site do OPSA e procure se não me engano em "Estudos e Cenários". Os vários artigos sobre o aumento de gastos na compra de armamentos de países vizinhos ao Brasil, da preocupação com a reativação da Quarta Frota Americana, entre tantas outras coisas. darão a visão necessária para entender de onde surgiu a idéia desses gastos. 
E mais, afago seria se Lula tivesse dado o aumento que nós necessitamos. Quem sabe nossa presidenta dá.



A segunda parte vou iniciar com uma nota que também li na Carta, creio que por volta de abril. A nota tinha titulo "A Quem Interessa".
Na época já tinha feito um comentário sobre, mas resolvi retomar por achar pertinente. A nota falava sobre a desclassificação da classe política e a quem interessava tal situação.
Bom, nossos políticos acabaram de se dar um humilde aumento salarial.Logo depois ocorreram e estão ocorrendo todas estas tragédias no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais (focos principais), que apesar de ser repetidamente falado sobre a responsabilidade da população em ocupar áreas de risco. Só que esta população está lá exatamente pelo encarecimento do solo urbano, da falta de políticas públicas que garantam o acesso à moradia e a um emprego com salário digno, entre outras coisas.
Lembro que o Brasil é um país rico (que não significa desenvolvido), estando à frente da maioria dos países europeus, da Austrália, do Canadá, da Holanda e vários outros. Bom, e aí onde vai esse dinheiro todo, já que temos um sistema de educação ruim, de saúde ruim, de saneamento quase inexistente, etc.
Nosso problema são os políticos, que deveriam estar ali resolvendo tais problemas e não ampliando mais ainda seus rendimentos e a vazão dos cofres públicos.
O melhor de tudo é que como dizem que vivemos em uma democracia, eles estão lá por nós os colocamos lá, e o auge disso tudo é que eles podem se desviar de suas promessas de campanha e nós democraticamente não podemos fazer nada, a não ser pagar com o nosso suor seus salários e aposentadorias vitalícias.
Como disse Rousseau: "nunca existiu, não existe e nunca haverá de existir um Estado verdadeiramente democrático". Na realidade, toda essa história de democracia popular, em que todo poder emana do povo na realidade nunca passou de uma fantasia. O que na realidade existe é um tipo de "democracia burguesa", onde as classes dominantes valendo-se de seu poder organizam infra e super-estruturas visando perpetuar seu poder (como disse Marx), e dão ao povo uma mera ilusão de "democracia" por meio de eleições.

Desafiando o Rio-mar - Partida para Oriximiná

Hiram Reis e Silva, Oriximiná, PA, 13 de janeiro de 2011.

“O Rio Trombetas, que Acuña denomina Cunuris, e na língua geral é Oriximiná, não foi ainda navegado até as suas cabeceiras, porque numerosas e altas cataratas se contrapõem aos viajantes, que lhes vão procurar nos arredores a salsaparrilha e o cravo-do-maranhão. Acima das cachoeiras, dizem que o Rio corre através de campos. A sua bacia inferior é tão plana, como a dos demais afluentes do Amazonas, e comunica-se a ele por um furo Ocidental com o seu vizinho Rio Neamundá (Nhamundá, Iamundás). Até a foz Oriental deste último, calculam os navegantes em seis léguas a distância, que percorremos num dia.
(Johann Baptist Von Spix e Carl Friedrich Philipp Von Martius. - 1819)

- Partida para Oriximiná (14 de janeiro de 2011)

Fui dormir cedo na véspera da partida, pois havia marcado minha partida para as 4h30 (horário do Pará). O enorme Estado do Pará possui apenas um fuso horário e como o município de Juruti se encontra no extremo oeste dele, isto significava que eu pretendia navegar em torno de duas horas à noite em uma área totalmente desconhecida. Instalei minha lanterna de cabeça e parti na hora marcada. O porto de Juruti é muito concorrido e isso exigia medidas adicionais de segurança. Segui a corrente pelo Paraná de Juruti procurando ficar próximo da Ilha de mesmo nome evitando a rota tradicional das demais embarcações. Como sempre os banzeiros estavam presentes sem dar trégua. Depois de contornar a ilha eu tinha de seguir rumo norte atravessando o canal onde trafegam os grandes navios. Chamei pelo rádio o Sargento Barroso e pedi que ele me ultrapassasse para que eu seguisse na sua esteira. Pretendia aproveitar a luz do holofote de popa para avistar as marolas marotas que surgiam de todos os lados. O Piquiatuba parou de repente para aguardar um grande navio que passava rumo a Manaus. Passados alguns minutos continuamos nossa jornada e pedi que avisassem ao piloto que mantivesse a velocidade de quatro nós (7,2 km/h). Só mais tarde soube que não dispunham de nenhum medidor de velocidade a bordo e apesar da Rosângela informar, insistentemente, o piloto de que eles estavam se distanciando demais de mim nada foi feito até a primeira parada. Embora eu tenha mantido um ritmo bastante forte, de 5 a 6 nós eu não estava conseguindo seguir na esteira da embarcação de apoio e, em consequência, não podia aproveitar as luzes do holofote trazeiro.

O banzeiro diminuiu e, finalmente, consegui manter a estabilidade do caiaque e me comunicar com o piloto determinando que ele parasse para me abastecer de líquido e tratar da forte dor muscular no trapézio. Estava começando a clarear no horizonte e determinei que a partir daquele ponto o Piquiatuba deveria me seguir. Agora já se podia avistar, com alguma dificuldade, a silhueta da ilha de Santa Rita que eu deveria contornar antes de penetrar no Paraná de Cachoeiri ao Norte dela. Entrei no Cachoeiri, às 7h30, e verifiquei que o Paraná possuía uma correnteza forte graças à sua grande profundidade, em torno dos 40 metros. Às 10h45 avistei o Rio Trombetas, rumei para a margem esquerda do Paraná para facilitar sua abordagem. Colado na margem procurei diminuir o ritmo das remadas economizando energia para atravessar o belo afluente do Amazonas. Felizmente o Trombetas ainda estava muito baixo e não tive qualquer dificuldade em passar para sua margem esquerda. Chegamos ao Porto de destino, às 11h15, e depois de um banho ligamos para o irmão Capitão Marcelo, comandante da Polícia Militar em Juruti. Mais uma vez os irmãos da PM demonstraram sua disposição em nos ajudar e conseguimos graças aos seus contatos ficar hospedados gratuitamente no excelente Oriximiná Hotel, administrado pela senhora Kátia Maria Feijão Ribeiro.

- Visita ao Lago Iripixi (15 de janeiro de 2011)

“A natureza é nossa, nós temos que preservá-la. As pessoas não têm a consciência de coletar seu lixo e isso é prejudicial. Aqui a gente não vê mais o boto, muitos peixes já sumiram”. (Dinéa Machado)

Às nove horas abastecemos a voadeira e seguimos rumo ao Lago Iripixi. As areias brancas e as águas limpas do Lago são convidativas. Conversamos com populares, visitamos o belo Parque de Exposições José Diniz Filho e tomamos um revigorante banho no Lago. Infelizmente a beleza da natureza é ameaçada com a poluição irresponsável de quem não se preocupa com o meio-ambiente. Cacos de vidro, plásticos e outros detritos maculavam aquela bela obra da natureza que estava sendo corrompida graças à sua proximidade com o núcleo urbano.

- Tour em Oriximiná

À tarde o Mário conseguiu um veículo com um amigo, o que nos permitiu conhecer a bela cidade. O ponto mais marcante foi, sem dúvida, a Praça do Centenário idealizada pelo ex-prefeito de Oriximiná: Raimundo José Figueiredo de Oliveira (1975/1985). Criada com o objetivo de comemorar os 100 anos de Oriximiná a Praça foi totalmente remodelada pelo Prefeito Luiz Gonzaga Viana Filho e inaugurada em dezembro de 2003. Um projeto arquitetônico inovador e harmonioso que incluiu espelhos d’água em diversos níveis onde repousam enormes tambaquis.

- Tudo Justo e Perfeito

“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre”. (Salmo 133)

Os caros irmãos da Loja Maçônica Vitória Régia convidaram a mim e ao Teixeira para um fraternal bate-papo. O convívio fraternal foi acompanhado de muitas histórias, lendas e boa música que reproduziremos em artigos futuros e no próximo livro.

- Visita ao Lago Caipuru e ao Rio Cuminá (16 de janeiro de 2011)

“Recebo carta amiga contando a morte de Gastão CRULS (...) Imagino a saudade com que todos estão recordando aqueles convites para a Rua Amado Vervo, na pequena casa decorada com lembranças da viagem ao Amazonas, o sorriso enternecido à lembrança de suas brincadeiras, que tinham um perfume de meninice, de primeiro-de-abril antigo - os presentinhos anônimos, os cartões disparatados que deixavam risonhos e intrigados os seus destinatários”. (Rachel de Queiroz - Revista O Cruzeiro - 29 de Agosto de 1959)

Às dez horas partimos de voadeira rumo ao Lago Caipuru. As raízes retorcidas da vegetação de várzea me fizeram lembrar Mamirauá. Descemos nas belas praias e registramos suas imagens para a posteridade. Partimos, então, para o Cuminá. A simples lembrança de que Rondon ali estivera, acompanhado de Gastão Cruls, fazia com que a emoção tomasse conta de todo o meu ser. A decisão de Cruls de abandonar os livros de lado e se embrenhar definitivamente na Hiléia para vivenciá-la tinha muito a ver com minha decisão de levar adiante o Projeto Aventura desafiando o Rio-mar.

Gastão Cruls, filho de Dr. Luís Cruls, foi médico sanitarista, geógrafo, astrônomo e romancista, nasceu na Cidade do Rio de Janeiro, em 4 de maio de 1888, e nela faleceu a 7 de junho de 1959. Formou-se em Medicina em 1910, especializando-se em medicina sanitária. A partir de 1926 dedicou-se exclusivamente à literatura. De 1931 a 1938 dirigiu a revista literária Boletim de Ariel. Suas obras procuravam retratar a vida brasileira, em especial a realidade Amazônica. Seu romance “A Amazônia Misteriosa” (1925), baseado nas mitológicas Amazonas, foi transformado em filme em 2005, com o título de “Um Lobisomem na Amazônia”. A sua obra embora tenha como cenário a região Norte do país, era ainda desconhecida pessoalmente pelo autor. Em 1928, Cruls resolveu conhecê-la pessoalmente acompanhando a expedição do General Rondon, que subiu o Rio Cuminá até os campos do Tumucumaque nos anos de 1928 e 1929. A viagem iniciou a 13 de setembro de 1928 e, Cruls retornou após ter chegado aos campos situados ao Sul da cordilheira do Tumucumaque, seguindo o conselho de Rondon, enquanto esse e sua equipe continuaram até chegar às próprias cordilheiras. O livro “A Amazônia que eu vi” é fruto dessa viagem que Cruls relata na forma de diário de viagem. O relato de Cruls, ao contrário dos demais viajantes que o antecederam, não possuía nenhum interesse econômico, e outros integrantes da equipe, por sua vez, se encarregavam dos objetivos científicos, sua função na expedição era simplesmente de ser o seu “cronista”. Cruls demonstra, ao contrário dos pesquisadores europeus, um profundo respeito pela cultura regional reportando as informações colhidas junto aos membros mais humildes da expedição.



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Desafiando o Rio-mar - Partida para Juriti

Hiram Reis e Silva, Oriximiná, PA, 13 de janeiro de 2011.

“Juruti: missão, que extrai este nome de Lago, em que foi estabelecida no ano de 1818: cujo Lago jaz na margem austral do Amazonas pouco arredado dela para dentro, e da montanha dos Parintins, que lhe demora à esquerda. Ali habitam 385 indianos, Mundurucus e Maués de ambos os sexos debaixo da direção de um missionário congruado como o de Curi. A Igreja é consagrada a Nossa Senhora da Saúde, e filial de Matriz da Vila de Faro. Na circunvizinhança deste Lago são as florestas abundosas de salsa e cravo. No mesmo Lago também residem alguns brancos, que fabricam guaraná, farinhas de mandioca, agricultam algodão, e sacam da espessura salsa e cravo”. (Antônio Ladislau Monteiro Baena - 1839)

- Partida para o Rio do Balaio (11 de janeiro de 2011)

Por estes amazônicos acasos encontrei Ângelo Corso em Parintins. O Ângelo está subindo o Amazonas a partir de Santarém, pretende subir o Rio Negro, alcançar o Orenoco, pelo canal Cassiquiare, e chegar ao Caribe venezuelano, eu havia tomado conhecimento de sua proposta por e-mail onde ele comentara que talvez pudéssemos nos encontrar pelo caminho. Depois de passar pouco mais de um mês em Santarém, iniciou sua lenta jornada até Parintins onde permaneceu igual período e onde nos encontramos. O Ângelo deixou seu caiaque, na véspera da partida, no Piquiatuba e partimos por volta das 5h30, ele subindo e eu descendo o Rio Amazonas. Os banzeiros me acompanharam todo o trajeto dificultando e atrasando bastante a progressão, mesmo assim, consegui imprimir um ritmo forte por volta de 3 horas, fazendo minha primeira parada num pequeno braço do lago interno da Ilha de Parintins, depois de remar mais de 30 quilômetros. Descansei um pouco e continuei minhas remadas até encontrar a equipe de apoio, logo abaixo, na foz do Paraná de Parintins tirando fotos de uma pequena preguiça capturada por um ribeirinho. Troquei meu cantil vazio por outro cheio e parti imediatamente, enfrentando os fortes banzeiros que assolavam as costas da Serra de Parintins.

Serra de Parintins: elevação de altitude máxima de 152m na divisa do Estado do Amazonas com o Estado do Pará. Conhecida também de Serra Valeria em homenagem à moradora mais antiga do local.

O local de parada programado não possuía um bom abrigo para o Piquiatuba e tive de estender minha jornada por mais de 13 quilômetros até a foz do Rio do Balaio. O Rio permite que se acesse a sede da Vila de Juriti Velho, situada no aprazível Lago Grande do Juruti Velho.

- Partida para o Lago Grande de Juruti Velho (12 de janeiro de 2011)

O Sargento Aroldo Sérgio Barroso, prático do Piquiatuba, chegou de madrugada e, finalmente, passou a integrar a tripulação. Depois de confirmar com o Barroso se ele conhecia suficientemente a região do Lago, decidi alterar a programação já que estávamos há apenas 24 quilômetros de Juruti, nosso próximo objetivo. Partimos, no Piquiatuba, às cinco horas admirando as belas paisagens do Lago e da serra do Xituba, do Rio Balaio até chegarmos à Vila de Muirapinima (Juruti Velho) no Lago Grande. No trajeto observamos bandos de belas garças, patos selvagens, biguás e marrecas de várias espécies. Dois animais, em especial, chamaram minha atenção uma pequena garça negra voando com suas irmãs imaculadamente brancas e um pequeno baiacu de rio.

Garça negra (Egretta gularis): semelhante à garça-branca-pequena. Distingue-se pela plumagem escura, quase negra, queixo branco, pelo bico ligeiramente mais longo e pelas tonalidades amareladas no bico e nos tarsos.

Baiacu-amazônico (Colomesus asellus): normalmente encontrado em águas doces embora tolere águas levemente salobras. Relativamente pequeno, atinge no máximo 15 cm. As faixas negras no dorso são grossas e possui também uma faixa negra ao redor da nadadeira caudal. Esta espécie não possui os característicos espinhos grandes, grossos e triangulares dos baiacus de espinho. Os baiacus tem o fígado impregnado por um poderoso veneno (tetrodoxina) apenas porque consomem alimentos tóxicos como estrelas do mar e moluscos. Criados em cativeiro e com nutrientes adequados os animais não apresentam nenhum nível de toxidez.

- Partida para Juruti

Retornamos à foz do Rio do Balaio, e parti, de caiaque, por volta das dez horas com destino a Juruti enfrentando fortes banzeiros. O Piquiatuba ancorou junto ao porto, colocamos o Cabo Horn no convés inferior e de repente o barco foi invadido por populares que procuravam entrar no barco de passageiros que estacionara ao lado do nosso. Passado o “paraense tumulto” o Sargento Barroso foi manobrar para colocar a embarcação em um lugar mais calmo quando a corrente do leme arrebentou e enroscou na hélice quebrando-a. A tripulação levou quase 24 horas para fazer a devida substituição.

- Lago Jará

Fiz contato com a Polícia Militar do Estado do Pará, pela primeira vez, através do “190” e o Tenente Helder imediata e gentilmente nos atendeu assumindo o compromisso de contatar elementos da prefeitura e da Omnia - Grupo Alcoa. Graças ao irmão (maçon) Edilson Pereira, amigo do Teixeira, conhecemos as belas instalações da Loja Maçônica General Adalberto Coelho da Silva acompanhados pelo Venerável Albany e do 2º Vigilante Charles. A cerimônia de Sagração da Loja, realizada em agosto de 2010, contou com a presença do Grão Mestre do Grande Oriente do Estado do Pará, Waldemar Chaves Coelho, do Grão Mestre Adjunto Raimundo Farias além de vários Maçons de Belém, Santarém e Oriximiná. Conhecemos, também, na mesma oportunidade, o lago Jará. O Lago é Área de Proteção Permanente (APP), está localizado na sede do município de Juruti e é utilizado para a pesca, lazer e navegação. Infelizmente, a retirada sistemática da mata ciliar a ocupação desordenada, colocação de lixo no Lago ou nas suas proximidades e outros usos inadequados vêm causando uma progressiva e alarmante degradação do manancial.

- Prefeito Municipal

No dia seguinte o Tenente Elder da Polícia Militar tinha agendado uma entrevista nossa com o prefeito e seus secretários. O Prefeito de Juruti, Henrique Costa, costuma reunir semanalmente seus assessores em um balneário às margens do Lago Jará. Degustamos um café regional enquanto aguardávamos a presença do prefeito aproveitando para conhecer os membros de sua equipe. Logo que o Prefeito chegou fiz uma abordagem geral sobre o projeto para todos os presentes ao mesmo tempo em que solicitava um contato pessoal com seu Secretário de Cultura e algum pesquisador ou pesquisadora ali presente. O Prefeito ouviu atentamente a explanação e colocou à minha disposição dois membros de seu staff. Irei tratar, em outra oportunidade, dos assuntos tratados já que ambos ficaram de remeter para o meu e-mail o material solicitado.

- Alcoa

O Tenente Elder providenciou para que no dia 13 de janeiro, à tarde, fizéssemos contato com a Superintendente Juana Galvão. Expliquei à Juana os objetivos do Projeto e ela ficou de remeter o material solicitado via e-mail. Tenho curiosidade em conhecer as ações comunitárias e de meio-ambiente levadas a efeito na empresa.

- Festival das Tribos

O evento mais importante da cidade é o Festival das Tribos que acontece no final do mês de julho com a participação das tribos Mundurukus e Muirapinima. As tribos recebem total apoio da Prefeitura para o evento. A paixão da população pelas duas tribos é similar às torcidas do Caprichoso e Garantido de Parintins. No ano passado foi realizado, no Tribódromo, o XV Festival das Tribos Indígenas de Juruti sagrando-se vitoriosa a tribo Azul e Vermelha, Muirapinima.

- Terras Caídas

“Denominação dada na Região Amazônica ao escavamento produzido pelas águas dos rios, fazendo com que os barrancos sejam solapados intensamente, assumindo por vezes aspecto assustador. Em alguns casos, podem-se ver pedaços grandes de terra sofrerem deslocamentos como se fossem ilhas flutuantes”. (A. T. Guerra)

Nenhum fenômeno das “terras caídas” foi tão desastroso como o que ocorreu em Juruti na década de 1980. A cidade, na sua origem, construída em terra firme teve, ao longo dos tempos, sua frente aumentada por sedimentos carreados pelo rio Amazonas. Com o passar dos anos o nível do depósito foi se elevando e os moradores passaram a construir edificações e ruas. A associação do aumento significativo do peso sobre o instável depósito e as frequentes mudanças na dinâmica do Rio, finalmente, romperam o equilíbrio e tudo desceu levado pelas águas. O Rio, no dia dos pais, em 1984, retomou praticamente 200 metros da cidade em um intervalo de tempo que durou das 20h30 até a meia noite.



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

domingo, janeiro 16, 2011

Explicações

Aos que acompanham o blog peço desculpas pelo abandono e pouca atualização do blog. Gostaria de explicar que um dos fatores é que estou envolvido em dois projetos novos. Um deles é um site que criei http://sindeaux.webnode.pt/, que diferentemente do blog tem objetivos mais amplos, pois aborda outros temas pelos quais sou apaixonado, a música e a fotografia.
Espero que entendam.

Testes de Israel com vírus atrapalham programa nuclear do Irã

iG São Paulo | 16/01/2011 16:13

Projeto conjunto entre governo israelense e EUA teria fechado um quinto das centrífugas iranianas em novembro


Os serviços de inteligência dos EUA e Israel colaboraram no desenvolvimento de um vírus informático para sabotar os esforços do Irã de fabricar armas nucleares, informa neste domingo o jornal americano The New York Times.
Segundo especialistas militares e de inteligência ouvidos pelo diário, Israel testou o vírus Stuxnet, que aparentemente causou o fechamento de um quinto das centrífugas nucleares iranianas em novembro, além de atrasar a capacidade da República Islâmica de construir suas primeiras armas nucleares.
Foto: AP
Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, visita usina de enriquecimento de urânio a 300 quilômetros de Teerã (foto de arquivo)
As provas foram realizadas no fortemente protegido complexo israelense de Dimona, no deserto de Neguev, que abriga o não declarado programa de armas nucleares do Estado hebreu.
Especialistas e funcionários disseram ao jornal que o projeto para a criação do Stuxnet foi um esforço conjunto entre Israel e Estados Unidos, com a ajuda, consciente ou não, de Alemanha e Grã-Bretanha.
Antes dessas informações, especulava-se amplamente sobre se Israel estaria por trás do Stuxnet. Teerã também acusou Israel e os EUA de assassinar dois cientistas nucleares em novembro e janeiro.
A notícia publicada pelo The New York Times foi divulgada num momento em que o Irã afirma que seu polêmico programa de enriquecimento de urânio avança "significativamente", apesar das sanções de que é alvo objeto.
A informação foi divulgada dias antes da reunião de alto nível entre Teerã e seis potências mundiais (Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Rússia, China e Alemanha) sobre o programa nuclear iraniano em 21 e 22 de janeiro, em Istambul, Turquia.

Desafiando o Rio-mar - Parintins

Hiram Reis e Silva, Parintins, AM, 10 de janeiro de 2011.

Vila Nova da Rainha - Vila Bela da Imperatriz

“Era tarde da noite de 24 de outubro quando chegamos a Vila Nova. Deparamos com uma povoação miserável, cujas casas estavam à beira da ruína. Não havia no Porto senão uma pequena embarcação ali ancorada. A Cidade foi construída no fundo de uma pequena baía, protegida por um rochedo baixo, sob o qual estão empilhados blocos de “diorito” como os de Santarém”. (Richard Spruce)

Histórico
O município de Parintins como quase todos os demais municípios brasileiros, foi primitivamente habitado por indígenas. Sua descoberta ocorreu em 1749, quando, descendo o Rio Amazonas, o explorador José Gonçalves da Fonseca notou uma ilha que, por sua extensão, se sobressaía das outras localizadas à direita do grande Rio.
Cronologia Histórica
1796    -    Fundação da localidade por José Pedro Cordovil, que veio com seus escravos e agregados para se dedicar à pesca do pirarucu e à agricultura, chamando-a Tupinambarana. A rainha D. Maria I deu-lhe a ilha de presente. Ali instalado, fundou uma fazenda de cacau, dedicando-se à cultura desse produto em grande escala.
1803    -    José Pedro Cordovil ofertou a ilha à rainha. Tupinambarana foi elevada à Missão Religiosa pelo Capitão - Mor do Pará, Conde dos Arcos, que incumbiu sua direção ao Frei José das Chagas, recebendo a denominação de Vila Nova da Rainha. A eficiente atuação de Frei José provocou um surto de progresso e desenvolvimento na Vila, mediante a organização da Comarca do Alto Amazonas.
1833    -    Em 25 de julho passa a Freguesia, com o nome de Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Tupinambarana. Era ainda Tupinambarana simples freguesia quando iniciou a revolução dos Cabanos no Pará e se alastrou por toda a província. O seu vigário - Padre Torquato Antônio de Souza teve atuação destacada durante a sedição servindo de delegado dos legalistas no Baixo Amazonas. Como Tupinambarana estivesse bem defendida foi poupada aos ataques dos “Cabanos”.
1848    -    Em 24 de outubro, pela Lei Provincial do Pará n° 146, elevou a freguesia à categoria de Vila, com a denominação de Vila Bela da Imperatriz, e constituiu o município até então ligado a Maués.
1852    -    Em 15 de outubro, pela Lei n° 02, é confirmada a criação do município.
1853    -    Em 14 de março dá-se a instalação do município de Parintins.
1858    -    Em 24 de setembro é criada pela Lei Provincial a Comarca, compreendendo os Termos judiciários de Vila Bela da Imperatriz e Vila Nova da Conceição.
1880    -    Em 30 de outubro, pela Lei Provincial n° 499, a sede do município recebe foros de Cidade e passou a denominar-se Parintins.
1881    -    Foi desmembrado do município de Parintins o território que constituiu o município de Vila Nova de Barreirinha.
1911    -    Na divisão administrativa o município é constituído por quatro distritos: Parintins, Paraná de Ramos, Jamundá e Xibuí.
1933    -    Nova divisão administrativa com um distrito Parintins.
1938    -    Em 1° de dezembro, pelo Decreto-Lei Estadual n° 176 é criado o distrito da Ilha das Cotias, passando o município a constituir-se de dois distritos: Parintins e Ilha das Cotias.
1952    -    Em 24 de setembro pela Lei Estadual n° 226, a Comarca de Parintins perde os Termos judiciários de Barreirinha e Urucará, que são transformados em Comarcas.
1956    -    Em 19 de dezembro pela Lei Estadual n° 96, é desmembrado do município de Parintins o Distrito da Ilha das Cotias, que passa a integrar o município de Nhamundá.
1981    -    Em 10 de dezembro pela Emenda Constitucional n° 12, o território de Parintins é acrescido do distrito de Mocambo.
Aspectos Físicos e Geográficos
Limites: Estado do Pará, Barreirinha, Urucurituba, Nhamundá, Distrito de Mocambo e Parintins.
Localização: 9° Sub-Região - Região do Baixo Amazonas Altitude: 50 m acima do nível do mar. Área Territorial: 7.069 Km² Temperatura Média: 26,3° C.
Distância: em linha reta entre Parintins e a Capital do Estado, 369 km. Por via fluvial entre Parintins e a Capital do Estado, 420 km.
Relatos Pretéritos - Parintins
Manuel Aires de Casal (1817)
Vila Nova da Rainha é mediana e abastada de peixes, junto à embocadura do Maués, paragem vantajosa para crescer. Quase todos os seus habitadores são índios Maués, os melhores mestres na composição do guaraná, cujo vegetal é comum no seu território, igualmente apropriado para a cultura dos cacaueiros, já assaz numerosos os plantados. As árvores do cravo não são assaz raras em alguns sítios do seu extenso distrito. (CASAL)
Spix e Martius (1819)
Alcançamos, portanto, a 1° de outubro, o registro de Parintins, algumas palhoças ao sopé de uma colina de uns 200 pés de altura, coberta de mata virgem densa, que, de certo modo, pode ser considerado como ponto limítrofe entre as províncias do Pará e do Rio Negro. (...) O ar é puro; o horizonte, relativamente vasto para estas regiões, é claro e sereno; o calor é quase diariamente atenuado por fresca viração que sopra do Rio acima, e a praga dos mosquitos não flagela demais. Os arredores mais próximos são cobertos de matas aqui e acolá arejados por derribadas e roças, que passam para arbustos cerrados ou capinzais, onde pasta algum gado. Mais para dentro, dizem que se estendem vastas campinas sobretudo em torno de lagoas piscosas, muito procuradas pela gente do lugar nos meses secos. Perto das goiabeiras, avistamos um grande assacu, a difamada árvore de veneno, com cujo leite os índios tinguijam (entorpecem) os peixes.
Antônio Ladislau Monteiro Baena (1839)
Vila Nova da Rainha: missão situada sobre a terra mediocremente alta de uma Ilha pertencente ao sistema de ilhotas jacentes ao longo da ribeira austral do Amazonas, entre o Rio Madeira e o Rio Tupinambaranas: cuja Ilha do lado, em que se acha engastada a missão é lambida pelas correntes do Amazonas, que lhe dão um excelente Porto, e pelos outros lados é lavada por uma porção de águas derivada do furo ou canal Urariá e chamada vulgarmente Rio Ramos, que dividindo-se em dois braços entra no Amazonas por cima e por baixo da mesma Ilha, a qual demora 12 léguas acima do Rio Nhamundá, confim oriental da Comarca no Amazonas. (...) Ela deve sua indicativa ou primordial assento a José Pedro Clodovil, que em 1803 congregou um certo número de silvícolas Maués e Mundurucus atraídos com dispêndio seu e trabalho, e lhe deu o nome de Tupinambaranas que quer dizer Tupinambá não verdadeiro: cujo nome foi pelo Governador do Pará o Conde dos Arcos para a denominação atual quando a estabelece ampliando os descimentos, e encarregando de agregar ao redil muitos Gentios e Carmelitas Frei José das Chagas, que então missionava a Povoação de Canumá. Em 3 de setembro de 1818 vinte e nove moradores subscreveram o seu nome em uma petição, que endereçaram a El-Rei para que sublimasse esta missão à graduação de Vila, obrigando-se eles a edificar à sua custa casa de Câmara e cadeia. Também na mesma petição trataram de acompanhar a Câmara da Vila de Silves e dezenove vizinhos da mesma Vila no seu perdimento ao trono de ser constituído o Governo subalterno da Capitania do Rio Negro em Governo Geral, e de lhe criar uma Junta de Fazenda, e de promover para Este novo Governo o Major do Estado Maior do Exército Manoel Joaquim do Paço, que então era o Governador daquela Capitania. A Ilha em que está erguida a missão, não difere das outras do sistema em ser por maravilha fértil: todas são uns torrões, em que a riqueza natural provoca a atividade do homem. Se ele por meio de uma doutrina rural bem entendida fizer uso industrioso de tantas produções da terra e das águas poderá não só tirar muita abundância, mais ainda enfastiar o apetite humano com a superfluidade. (BAENA, 2004)
Henry Walter Bates (1849; 1854/55)
Continuamos nossa viagem e chegamos a Vila Nova, um lugarejo muito espalhado, com cerca de setenta casas, muitas das quais dificilmente mereciam esse nome, já que não passavam de meras choupanas de barro cobertas com folhas de palmeira. Ficamos ali quatro dias. A Vila era construída num trecho rochoso do barranco à beira do Rio, composto do mesmo conglomerado que já mencionei algumas vezes. Em alguns pontos, uma camada de tabatinga cobre o conglomerado. O solo das redondezas é arenoso, e a mata, que em sua maior parte não parece composta da floresta primitiva, é cortada por vários e largos caminhos que vão terminar, tanto na direção ao Sul quanto do Leste, à beira de Lagoas e Charcos que se estendem em série pelo interior a dentro. (BATES)
Luiz Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz (1865-1866)
Vila Bela. 27 de agosto (1866) - Parada de algumas horas, ontem à tarde, em Óbidos para receber lenha. Ninguém desce em terra. Embarcada a lenha, dirigimo-nos diretamente a Vila Bela, situada na outra margem do Rio, na foz do Tupinambaranas. Somos aí cordialmente recebidos pelo Dr. Marcos, um dos antigos correspondentes de Agassiz, que enviou várias vezes exemplares da fauna amazônica para o Museu de Cambridge. Hoje, à tarde, iremos fazer uma excursão de canoa por alguns dos Lagos próximos. (AGASSIZ)



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Desafiando o Rio-mar - Parintins - Bairro Vila Amazônia

Hiram Reis e Silva, Parintins, AM, 09 de janeiro de 2011.

“A história atual do cultivo da juta no Vale Amazônico começa quando da minha chegada ao Amazonas como chefe da missão japonesa, em agosto de 1930. Essa missão seguira por ordem do governo japonês, de acordo com contrato concluído entre 11 de março de 1927, entre o governo do Amazonas e dois japoneses - Kinroku Awazu e Genzahuro Yamanishi”. (Isukasa Uyetsuka)







- Basílio Tenório

O Subtenente Klinger, da Polícia Militar, apresentou-me ao ilustre pesquisador Basílio Tenório, homem inteligente, de fala mansa, memória invejável e uma capacidade incomum de manter a atenção e o interesse de seus ouvintes.  Passamos horas ouvindo, encantados, os relatos do renomado palestrante, viajamos de garupa na história da cidade dos Parintins descrita com muito bom humor entremeada de belas e selecionadas toadas dos bois-bumbás. Dentre os diversos casos e projetos narrados, vou me deter, desta feita, na Vila Amazônia que teve início em um acordo bilateral entre o Governo do Amazonas e o Império do Japão. Basílio Tenório defende o tombamento do cemitério japonês, situado na Vila Amazônia, em reconhecimento ao trabalho nipônico aqui desenvolvido há oito décadas e cujos frutos das alvissareiras sementes lançadas em solo fértil a região ainda hoje colhe. Infelizmente, os vestígios do cemitério se perderam, ao longo dos anos, frente ao descaso e ao vandalismo.

- Vila Amazônia

Na década de 20, do século passado uma delegação japonesa visitou a região a convite do governador do Estado do Amazonas. Com o declínio do comércio da borracha o governador Ephigênio Salles, plagiando iniciativa similar do governador do Estado do Pará, procurava alternativas econômicas para seu Estado e ofereceu aos japoneses 1 milhão de hectares, em troca de mão-de-obra especializada. Os empresários japoneses Kinroku Awazu e Genzahuro Yamanishi, ante a magnitude do empreendimento e a distância de sua terra natal, acabaram desistindo da idéia. O deputado Isukasa Uyetsuka, porém, ao tomar conhecimento do projeto acreditou na sua viabilidade assumindo a responsabilidade de executá-lo. Embora a doação das terras tenha sido rejeitada pelo Senado Federal, Uyetsuka, determinado, comprou uma área de 1,5 mil hectares banhada pelo Rio Amazonas e pelo Paraná do Ramos, a leste da cidade de Parintins, aproximadamente 20 minutos de barco. A localização estratégica permitiria escoar a produção tanto para Manaus quanto para Belém.  A opção adotada foi o cultivo da juta oriunda da Índia que seria o carro chefe da produção e serviria de base econômica para a colônia. A fibra era fundamental para o comércio internacional onde era usada nos sacos de café e outras mercadorias e poucos países a produziam em larga escala.

No dia 21 de outubro de 1930, foi lançada a pedra fundamental na antiga Vila Batista que recebeu o novo nome de Vila Amazônia. Tsukasa Uyetsuka procurando melhor preparar os imigrantes que iriam encarar os desafios do empreendimento transformou uma escola de artes marciais, no Japão, na “Escola Superior de Imigração” (Kokushikan Koutou Takushoko Gakko). Cuja denominação passou a identificar seus alunos, os koutakuseis, rapazes entre 18 a 20 anos que aprendiam técnicas agrícolas, noções de construção civil e língua portuguesa. No dia 20 de junho de 1931, chegaram a Manaus os primeiros 35 koutakuseis e três formandos da Faculdade de Agronomia de Tóquio, acompanhados do professor Sakae Oti.

Todas as etapas do projeto estavam indo de vento em popa, localização adequada, produto valorizado, trabalhadores qualificados. A juta, porém, não atingia o tamanho ideal para o corte e os colonos além de ter de realizar o plantio e a colheita em locais alagados precisavam se dedicar à construção da infra-estrutura da vila. Dois anos se passaram até que Riyota Oyama observou que duas de suas mudas eram maiores e mais saudáveis e decidiu transportá-las para um local mais adequado, na viagem acabou quebrando uma delas. Oyama, então, colheu as sementes do único espécime que restara e as levou para Uyetsuka.

“Pensei que seria sem dúvida uma graça de Deus, e dei ordem para semear as sementes”. (Tsukasa Uyetsuka)

As sementes foram plantadas e transformaram-se em novas matrizes dando origem a novas sementes. Uyetsuka buscou recursos junto a Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo e outras empresas japonesas, fundando, em 1935, a Companhia Industrial Amazonense. Em 1937, foi colhida a primeira tonelada de juta da Vila Amazônia. Sete turmas de koutakuseis, 249 jovens, foram enviadas ao Brasil, em um período de sete anos. A perspectiva era de que a colônia da Vila Amazônia abrigasse dez mil imigrantes, ou dez mil famílias.

No início a infra-estrutura na Vila era precária, sem energia elétrica ou água encanada e a maioria das casas era de palha. Duas tecelagens foram instaladas em Manaus, a Brasiljuta e a Fitejuta, a renda obtida com a produção da juta trouxe o progresso e, em breve, surgiram melhorias e a vila ganhou escola, templo, armazéns e hospital, com médicos oriundos do Japão, que prestavam atendimento até para pacientes vindos de Belém. Surgiram culturas paralelas, de hortaliças e frutas. O cultivo da juta prosperou e se esparramou pelas várzeas do Rio Amazonas e de seus tributários de águas brancas, tornando conhecida a Vila Amazônia, valorizando a imigração japonesa pela produção dessa fibra vegetal que deu sustentação econômica à região durante décadas.

- II Guerra Mundial

O ataque surpresa da Marinha Imperial Japonesa à base naval norte-americana de Pearl Harbor, às 8 horas da manhã, de 7 de dezembro de 1941, marcou a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra do Pacífico. No Brasil e em todo o mundo os imigrantes japoneses passaram a ser vistos como inimigos nacionais perderam o direito à posse da terra, foram proibidos de fazer reuniões públicas e falar seu idioma. O fluxo imigratório foi interrompido. Na Amazônia muitos deles foram feitos prisioneiros de guerra e levados para Tomé-Açu, no Pará, onde já existia uma grande colônia instalada e ainda hoje é uma importante colônia japonesa. Apesar dos contratempos o cultivo da juta continuou.

Nos idos de 1938 e 1942, foram produzidas mais de 5 mil toneladas da fibra. Em 1941, depois de uma conversa entre Tsukasa Uyetsuka e o presidente Getúlio Vargas, em Parintins, foi aprovado um Decreto oficializando a cultura. Apesar disso, em 1946, os bens da Vila Amazônia foram a leilão como espólio de guerra e a Companhia Industrial Amazonense foi vendida para a empresa J.G. Araújo. No início da década de 50 Uyetsuka tentou, sem sucesso, dar continuidade à saga dos koutakuseis.

Hoje, na antiga Vila Amazônia, existem poucas lembranças dos valorosos guerreiros da juta, a bela sede da antiga administração está em ruínas e no antigo cemitério japonês as poucas lápides, quebradas por vândalos, materializam o descaso do poder público, mas guardam ainda muito da determinação daqueles heróis orientais que tombaram ante a malária, a febre amarela e outros desafios da selva tropical. Infelizmente, mais uma parte de nossa história se vai, a “inconstância tumultuária” do Rio-mar parece cravar suas garras na consciência de um povo acostumado à dinâmica de um Rio que leva por diante barrancos, ilhas e a memória ancestral. Os governantes e a população contaminados pelo Rio menino são incapazes de tomar atitudes que preservem nosso patrimônio cultural.

Fonte: Homma Alfredo - Imigração Japonesa na Amazônia - Sua Contribuição ao Desenvolvimento Agrícola - Embrapa, 2008.



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br