"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, julho 23, 2010

Mas que calor!

darussia.blogspot.com - 22 jul 10

Jose Milhazes


Caros leitores, cheguei a Moscovo com uma vontade grande de incentivar a publicação de textos no blog, mas é impossível, o calor não deixa fazer nada.

Vivo há 33 anos em Moscovo, mas nunca passei por um Verão assim. O mercúrio dos termómetros está acima dos 30 graus e ameaça continuar a subir até aos 36-38 nos próximos dias. Como não tenho, nem gosto de ar condicionado em casa, nada mais me resta do que aguentar, embora seja muito difícil.

Alguns leitores poderão considerar que estou a exagerar, pois temperaturas dessas registam-se em Portugal, no Brasil, etc., mas aqui é mais difícil suportar essas temperaturas. Ainda bem que os bombeiros têm conseguido, por enquanto, controlar os incêndios nas florestas em torno de Moscovo, porque, caso contrário, o fumo não deixaria respirar completamente.

Em Moscovo, o metropolitano não é salvação, porque a ventilação nunca foi grande coisa e, em algumas estações, a temperatura é de 32 graus. Os russos procuram um pouco de frescura nas fontes, lagos, rios, em qualquer lugar onde haja água fria, mas a falta de cuidado e o excesso de bebidas alcoólicas já mataram 1244 banhistas no mês de Julho.

A onda de calor, que se estende praticamente a todo o país, está a provocar uma das maiores secas na História da Rússia, o que terá sérios reflexos negativos na economia.

Quando conseguir novas forças, darei notícias.

Os Intocáveis

darussia.blogspot.com - quarta-feira, Julho 21, 2010

Blog dos leitores (Os Intocáveis)

Texto enviado pelo leitor António Campos:

"O caso Magnitsky é a melhor ilustração do fosso que separa as palavras e os actos do jurista presidente da Federação Russa no que toca ao seu combate pessoal ao que chamou o "niilismo legal" prevalecente no país. O tema é particularmente espinhoso, numa altura em que o Kremlin se desdobra em inúmeras manobras de charme para atrair investidores e fomentar a transferência de tecnologia, no contexto da mais recente cruzada de "modernização". Para que algum peixe incauto caia na rede, é imperativo passar uma imagem de que a Rússia é atraente para os empresários estrangeiros.

Daí que Sergei Magnitsky, mesmo depois de morto, continue a ser uma pedra no sapato do Kremlin. Um pouco de contexto para os poucos que ainda não ouviram falar deste jovem advogado: Magnitsky desmascarou uma conspiração de funcionários policiais que, em conivência com os tribunais, transferiram fraudulentamente a propriedade da gestora de fundos Hermitage Capital para um assassino condenado, tendo depois defraudado o estado em 230 milhões de dólares por via de um pedido de reembolso fiscal deferido em dois dias pela administração responsável. Na sequência do seu trabalho de investigação sobre o que constitui a maior fraude fiscal de que há memória na história da Rússia, Mangitsky foi acusado de corrupção pelos funcionários que desmascarou e encarcerado durante mais de um ano, tendo morrido na prisão com problemas de saúde por lhe ter sido recusada a necessária assistência médica.
Incansáveis, os membros da equipa da sociedade de advogados Firestone Duncan, onde Magnitsky exercia as suas funções, continuam a empreender todos os esforços ao seu alcance para sensibilizarem a opinião pública e os decisores ocidentais no sentido de pressionar o Kremlin a levar este caso a sério e punir os responsáveis tanto pela fraude como pela sua morte. A sua mais recente iniciativa é uma colecção de vídeos exibidos no Youtube dedicada à exposição dos funcionários que acusaram Magnitsky de corrupção. Neles é revelado que, enquanto Magnitsky literalmente apodrecia na prisão, o major Pavel Karpov e o tenente-coronel Artyom Kuznetzov acumulavam riquezas fabulosas e levavam estilos de vida bem para além do que os seus parcos salários de funcionários públicos alguma vez permitiriam. Por exemplo, a mãe do major Karpov, a viver de uma pensão de cerca de 500 dólares, terá adquirido um apartamento no luxuoso complexo Shuvalovsky em Moscovo, no valor de 930 mill dólares, terrenos no valor de 120 mil dólares, um Mercedes-Benz E280, um Porsche 911 e um Audi A3. Os serviços de fronteiras reportam que Karpov ausentou-se do país oito vezes num ano, tendo visitado o Chipre duas vezes, a Grã-Bretanha, Oman, os Estados Unidos e outros países. As riquezas acumuladas pela família Kuznetzov são ainda mais chocantes.

Esta exibição descarada de sinais exteriores de riqueza à boa maneira russa não parece preocupar os seus beneficiários, entretanto promovidos a posições superiores, uma vez que estão conscientes de que não vivem (e não vão viver tão cedo, contrariamente ao que a retórica de Medvedev sugere) num estado de direito. E o sinal mais reconfortante para os mesmos terá sido certamente o facto, reportado pelo jornal de negócios RBK Daily, de que o gabinete da administração presidencial, em vez de mandar investigar a fonte de tamanha opulência, que obrigaria o major a acumular o seu salário durante 145 anos para a adquirir, tê-lo-á instado a submeter à procuradoria-geral uma queixa por difamação contra a Firestone Duncan. Aparentemente, o kompromat difundido por esta sociedade anda a prejudicar de forma inaceitável a reputação das forças policiais russas, o que terá provocado esta presidencial reacção de repulsa. Se não fosse tão trágico, poderia até ser considerado cómico.

Para os interessados no deboche medieval apadrinhado pelo tandem no poder e dançado ao ritmo rap do "combate ao niilismo legal" , e especialmente, para os que continuam quixotescamente a balbuciar que "as coisas estão a mudar na Rússia" e para os aspirantes a investidores no país, os links abaixo são de leitura obrigatória. Os eméticos estão incluídos.


http://russian-untouchables.com/eng/

quinta-feira, julho 22, 2010

Política e os Militares

Em recente artigo na Carta Capital, foi feito uma análise sobre a politização à direita das Forças Armadas americanas.
Eisenhower, comandante supremo da tropas aliadas na Segunda Guerra e presidente dos EUA entre 1953-1961, em seu discurso de saída do mandato de presidente, alertou o povo americano sobre o risco de se deixar a economia e a política serem dominadas pelos interesses da indústria bélica.
O que vemos hoje nos EUA é exatamente a força e o peso da indústria de armamentos sobre a política americana.
Tanto faz se Obama, Clinton ou qualquer outro democrata chegue ao poder. Que seus programas políticos de capanha tenham falado de redução com os gastos militares e envio de tropas alhures. Os interesses da indústria bélica irão criar e fomentar guerras e consequentemente ditar a política externa americana.
Uma grande parte do poder político americano se deve ao imenso poder bélico que o país possui. Sua dívida e o dólar, sofreriam intenso processo especulativo se não existisse o resguardo de seu poderio militar. Grande parcela dos empregos nos EUA dependem direta ou indiretamente da industria de armamentos. Então não é nenhuma fantasia ou exagero se dizer que o Estado Americano é um Estado Bélico, e assim o tem que ser se quiser sobreviver econômica e politicamente.
Achar que ocorrerão diferenças na política externa americana por um presidente democrata negro ter sido eleito é a mais pura inocência, é tão infantil quanto acreditar no coelhinho da páscoa. O aumento de tropas no Afeganistão, Iraque entre outros, ou, a permanência dos "terroristas" em Guantánamo estão aí para mostrar isso.
Então, a politização dos militares americanos, nada mais é do que, a consequência natural de um Estado que se construiu a partir da força de sua indústria armamentista.
Basta lembrar-nos que até a Segunda Guerra, os EUA possuíam forças armadas mediocres e era uma economia em forte ascenção. Mas, foi a vitória no conflito da Segunda Guerra que consolidou os EUA como potência política e economica no mundo. E é essa mesma industria que os mantém hoje nessa condição.
Apenas como adendo. Em um outro artigo na mesma Carta. A maioria das tecnologias empregadas no mundo atual surgiram de pesquisas militares (incluindo aí a internet e o GPS¹, que nós tanto usamos) . Após o uso intensivo nos conflitos militares é que essa tecnologia fica disponível para a comercialização civil.

²


Notas:
¹ Até hoje é menos preciso do que poderia ser, por interferência no sinal provocado pelo Pentágono.
² Não encontrei o discurso de Eisenhower em português, mas creio que dá para entender bem a mensagem que está em espanhol.

terça-feira, julho 20, 2010

O Problema dos Ex

Esse é o título de artigo de Marcos Coimbra na Carta da semana passada. Fala sobre a insistência dos ex-presidentes em permancerem apegados ao poder. Só que Marcos Coimbra não fez a pesquisa de forma correta ao comentar que pelo menos "os presidentes-ditadores tiveram a boa educação de morrer". Bom, levando em consideração que vivíamos um período cruel de ditadura, é de se supor que os militares podiam tudo, até mesmo se perpetuar no poder, por exemplo, após o término do mandato presidencial ir para o Legislativo, como é o caso de certo "ex" citado por Marcos Coimbra, ou ir governar um Estado, como é o caso de outro também citado. Além de diversas outras oportunidades.
Bom, Emílio Garrastazu Médici, saiu da presidência em 1974 e faleceu em 1985, onze anos após sua saída da presidência. Nunca mais voltou a disputar nenhum cargo público, na verdade, abandonou a vida pública de vez. Ernesto Geisel saiu da presidência em 1979, faleceu em 1996. Deu apoio político à Tancredo Neves, o que fez reduzir as resistências militares à Tancredo e facilitou a transição para os governos civis. Jamais se candidatou a nada após sua saída da presidência. João Baptista Figueiredo saiu da presidência em 1985 e faleceu em 1999, sem jamais retornar à política.
Após esse breve comentário, pode-se perceber que ao contrário do que Marcos Coimbra diz, ou assim se faz pensar, os "ex" ditadores, não voltaram à cena política por interesse próprio, e não pelo fato de terem tido a boa educação de morrer, pois tempo para fazerem o tiveram

Toda a estupidez da mídia americana, em breve flagrante

Site do Azenha - 19 de julho de 2010 às 3:09

Quem é esse Evo Morales que o Washington Post inventou?

Tudo indica que o jornal foi buscar a ilustração nesta foto:

A vida imita a arte: Isso completa meu argumento

por Mark Weisbrot, no jornal britânico Guardian, em 16.07.2010

Tradução do Viomundo

É legal quando você faz um documentário sobre como a grande mídia distorce a realidade e a resposta da mídia ao filme comprova a sua argumentação. Na verdade, a resposta da mídia ao documentário South of the Border, de Oliver Stone, que eu escrevi com Tariq Ali, realmente completa alguns dos argumentos do filme.

O primeiro tem a ver com o desleixo e a falta de conhecimento que caracterizam o debate sobre as relações dos Estados Unidos e a América Latina, problemas com os quais a grande mídia regularmente contribui. Algumas das críticas ao filme foram marcadas pela dificuldade em acertar os presidentes e os países envolvidos. Talvez o exemplo mais relevante foi dado pelo Washington Post, que colocou uma foto do ministro de governo da Bolívia, Sacha Llorenti, identificando-o como “Evo Morales”. Llorenti é desconhecido nos Estados Unidos, mas aparece no filme como tradutor para o presidente Morales. Alguém no Post deve ter visto ambos no filme e deve ter chegado à conclusão que o cara mais branco falando inglês tinha de ser o presidente.

O ataque frontal de Larry Rother ao filme ocupou quase toda a primeira página do caderno de Artes do New York Times, com uma grande sub-manchete que dizia “Surgem questões sobre a precisão [do filme]“. No entanto, ele não conseguiu encontrar nenhum erro factual — apesar de algumas tentativas desesperadas de fazê-lo. Em uma delas Rother usou dados da importação de petróleo [venezuelano pelos Estados Unidos] de 2004 a 2010 para tentar desmentir um analista que aparece em um clipe de TV aproveitado pelo documentário, de abril de 2002. A fala de cinco segundos do especialista não tem nenhuma relevância, mas ainda assim Rother comete um erro.

Aqui, uma resposta detalhada a Rother, em inglês

Os erros cometidos nas resenhas foram muito numerosos para listar aqui. (Você pode votar em seu erro favorito aqui — Nota do Viomundo: no site Daily Kos, em inglês). Muitos críticos reforçaram a análise que o filme faz da mídia ao considerar toda a história em termos ideológicos e não entendendo os pontos mais substantivos. Por exemplo, o filme oferece cinco provas do envolvimento de Washington no golpe de 2002 que derrubou o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chávez. Elas incluem um documento do Departamento de Estado reconhecendo que “o NED [National Endowment for Democracy], o Departamento de Defesa [DOD] e outros programas de assistência dos Estados Unidos deram treinamento, apoio institucional e de outro tipo para indivíduos e organizações que sabiam estar envolvidos ativamente na breve derrubada do governo Chávez”.

Isso, e outra documentação apresentada no filme — parte da qual nunca sequer chegou a ser divulgada na grande mídia [americana] — reforça a tese de que Washington esteve envolvida no golpe. Essa conclusão é apoiada por Scott Wilson, do Washington Post, que era editor internacional quando foi entrevistado por mim e que estava em Caracas durante o golpe.

Eduardo Porter, do conselho editorial do New York Times, também aparece no filme e faz referência ao apoio do governo Bush ao golpe: “Este incidente em particular foi a pior decisão possível que os Estados Unidos poderiam ter tomado. Não apenas trancou Washington na posição de inimigo eterno do governo Chávez como tornou difícil para qualquer outra pessoa na América Latina gostar dos Estados Unidos”.

Ainda assim tivemos milhares de artigos e reportagens sobre as relações dos Estados Unidos e da Venezuela nos últimos oito anos e quase nenhum sobre o papel dos Estados Unidos no golpe. Quando muito isso é mencionado como uma “acusação” feita por ninguém menos que Hugo Chávez — uma fonte demonizada — ou descartado como algum tipo de “apoio tácito”. A maior parte dos resenhistas do South of the Border também parece ter considerado essa questão e as provas apresentadas no documentário como irrelevantes.

Quando os resenhistas notaram a crítica que o filme faz à mídia, o problema foi atribuído à [rede de TV de extrema-direita] Fox ou outras emissoras de TV. Mas o documentário enfatiza que toda a grande mídia — não apenas a Fox ou as emissoras de TV — é que deu aos americanos uma impressão distorcida das mudanças históricas que aconteceram na última década na América Latina. Foi o conselho editorial do New York Times que abertamente apoiou a derrubada de um governo eleito democraticamente em 2002 — um ponto importante do filme. Isso também não foi notado, apesar do fato de que é que algo que o jornal mais importante dos Estados Unidos não fazia provavelmente nos últimos 30 ou 40 anos.

Não há surpresa no fato de que o filme atraiu a hostilidade característica dada a quem trata dessa questão [da mídia] (embora também tenha havido críticas positivas). A resenha do Los Angeles Times, que contém vários erros importantes, criticou o filme por não ter substância. Mas parece que a substância que o filme tem foi além do que a maior parte da mídia é capaz de lidar.

Escravas sexuais no Iraque e no Afeganistão: o novo escândalo norte-americano

Instituto Humanitas Unisinos - 20 jul 10

Uma menina iraquiana de 12 anos é obrigada a se prostituir nos subsolos de Bagdá, enquanto os guardas privados norte-americanos fazem uma coleta de poucos dólares e fazem fila. As moças são recrutadas no Leste Europeu com a promessa de um trabalho como doméstica em Dubai e depois dali são desviadas e segregadas ao coração do Iraque. As garçonetes dos restaurantes chineses de Kabul, por trás das luzes vermelhas, escondem o segredo que todos conhecem.

A reportagem é de Angelo Aquaro, publicada no jornal La Repubblica, 19-07-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O último horror das "guerras gêmeas" que Barack Obama herdou de George W. Bush tem o rosto das mulheres exploradas em nome daquele outro ídolo que divide o altar com o dinheiro: o sexo. Mas oito anos depois do início da guerra contra o terror, o balanço dessa batalha é ainda mais magro: zero a zero. As ordens do presidente eram retumbantes como as proclamações da vitória que não chegava.

É severamente proibido que os contratantes ou funcionários do governo se tornem responsáveis pelo tráfico sexual nas zonas de guerra. Qualquer um que se torne responsável pelo tráfico sexual será suspenso do cargo. Quem for surpreendido em tráfico sexual será denunciado às autoridades. Os resultados? "Não há nenhum processo aberto", diz a ex-detetive do Human Rights Watch, Martina Venderberg. "Enfim, não há vontade de fazer com que se respeite a lei".

A vergonha foi descoberta por uma investigação do Center for Public Integrity, publicada neste domingo pelo Washington Post. E os contratantes da ex-BlackwaterXe Service.

Um ex-guarda conta que não quer revelar o nome por medo de represálias: "Eu mesmo vi guardas mais velhos recolherem dinheiro, enquanto moças iraquianas, dentre as quais meninas de 12 e 13 anos, se prostituíam". O guarda diz também que denunciou tudo ao seu superior, mas que "nenhum procedimento foi tomado: me entristece só de falar nisso".

De fato, quem não se entristece é a porta-voz da ex-Blackwater, Stacy De Luke, que, no Washington Post, nega "com força essas acusações anônimas e sem provas: a política da empresa proíbe o tráfico humano". Claro.

O caso das trabalhadores do leste que pensam em voar para Dubai e acabam no Iraque foi descoberto por uma jornalista freelancer. Aqui, a organização era muito mais acurada. Um verdadeiro tráfico organizado por subcontratantes que trabalham para o Exército e para o Exchange Service da Aeronáutica: nome que deveria indicar o escritório que se ocupa de organizar o serviço de restaurantes, mas que evidentemente também se ocupa de outras coisas. Assim que aterrizam, as pobrezinhas são privadas do passaporte. Há também um preço para o resgate: 1.100 dólares. Uma quantia enorme, visto que se prostituem por poucos dólares.

A fábrica do sexo é ainda mais sólida no Afeganistão. Lá, há quatro anos, uma centena de chinesas foram libertadas em uma série de blitzes que, ao invés do Talibã, atingiram os bordéis. Mas o tráfico continuou. Com a "aquisição" de uma mulher por 20 mil dólares, um empresário do ArmorGroup, a empresa que, até pouco tempo atrás, se ocupava da segurança da embaixada norte-americana em Kabul, se orgulhava de poder organizar um tráfico rentável. A investigação que iniciou rapidamente chegou ao altos níveis do FBI. Mas parou por aqui.

Os federais defendem que não tiveram meios suficientes. Nas zonas de guerra, enfileiraram-se cerca de 40 agentes, mas eles já têm muito a fazer ao se ocupar de fraudes e corrupção. Mas os ativistas dos direitos humanos têm uma outra explicação: a verdade é que as autoridades preferem fechar um olho. Diz Christopher H. Smith, deputado e autor de uma lei antitráfico, para a crônica republicana: como é possível tolerar que essa gente possa explorar as mulheres com o dinheiro que nós pagamos? Eis uma outra herança da qual Obama deverá se ocupar.

Seria surpresa encontrar o acobertamento de Dick Cheney e Bush nesses casos também?

China fecha porto devido a vazamento de petróleo em oleoduto submarino

Instituto Humanitas Unisinos - 20 jul 10

O porto de Dalian, um dos maiores da China, fechou na segunda-feira, 19-07-2010, por causa da explosão de um oleoduto submarino, que provocou um grave vazamento de óleo, fez uma refinaria reduzir sua produção e obrigou os importadores a desviarem suas cargas para outros terminais.

Sábado, dia 17 de julho, os bombeiros tentam apagar o incêndio no porto de Xingang, em Dalan (nordes da China), seguido da explosão de dois oleodutos. Uma mancha de óleo se espalhou por 50 quilômetros ao longo do porto

Fonte: China Daily/Reuters

O incêndio do fim de semana pode prejudicar também o embarque de minério de ferro e soja, além de gerar um debate na China sobre as regras ambientais – menos de uma semana depois das suspeitas de acobertamento das autoridades num vazamento tóxico numa mina de cobre no sul do país.

O incêndio começou na noite de sexta-feira, quando dois dutos explodiram durante o carregamento de um navio-tanque fretado pela estatal PetroChina.

A notícia é da Uol Notícias e reproduzida por EcoDebate, 20-07-2010.

Ninguém ficou ferido, mas centenas de bombeiros levaram mais de 15 horas para controlar as chamas, segundo a imprensa estatal. Cerca de 1.500 toneladas de petróleo vazaram no mar, deixando uma mancha com 183 quilômetros quadrados, dos quais 50 quilômetros quadrados de contaminação “severa”.

Outros seis navios com capacidade para 12 milhões de barris (1,9 bilhão de litros) devem ser desviados para outros portos na Coreia do Sul ou China, segundo fontes do setor de navegação.

O porto petrolífero de Xingang, em Dalian, tem um depósito estratégico de 19 milhões de barris 2,27 bilhões de litros de petróleo – é um dos quatro grandes depósitos chineses já em operação. Ali funcionam também armazéns da CNPC e da PetroChina, com capacidade ainda maior.

Duas refinarias da PetroChina escoam por ali a sua produção, equivalente a 600 mil barris diários (71,5 mil litros por dia).

A PetroChina montou um plano de contingência para enfrentar uma interdição de uma semana no principal terminal petrolífero, que costuma receber petróleo bruto e exportar gasolina e diesel.

Fontes do setor se dividem a respeito de quanto tempo o porto ficará fechado, com estimativas que variam de 7 a mais de 10 dias. As autoridades dizem que não é possível prever o prazo.

A PetroChina começou a reduzir em “vários milhares de toneladas” por dia as operações em uma das suas refinarias. “O porto foi lacrado logo depois da explosão. Temos um plano de contingência de uma semana, mas esperamos que o vazamento de óleo possa ser limpo assim que possível”, disse um executivo.

Trabalhadores usam barreiras físicas e dispersantes para tentar conter a mancha de petróleo, segundo o jornal China Daily. A poluição se concentra a cerca de cem quilômetros da costa.

“Até a noite de domingo, cerca de 7.000 metros de barreiras flutuantes foram instalados, e pelo menos 20 recolhedores de óleo estão trabalhando para limpar o vazamento”, disseram autoridades locais ao jornal.

A quem interessa proteger as florestas brasileiras?

Instituto Humanitas Unisinos - 20 jul 10

"Caso a proposta de alteração do Código Florestal seja finalmente aprovada, as enchentes, os rios secos, as áreas desertificadas, as espécies extintas, passarão a ser ‘legais’”, escreve Raul Silva Telles do Valle, advogado e coordenador adjunto do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA) no sítio do ISA, 19-07-2010.

Eis o artigo.

No último dia 6 de julho foi aprovado, por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, a proposta de alteração do Código Florestal brasileiro em seus pontos principais. Embora esse projeto ainda tenha que ser aprovado no plenário da casa e passar pelo Senado para se transformar em lei, preocupa o fato de que tenha contado com o apoio de 13 dos 18 deputados da comissão, mesmo sabendo-se que esta era dominada por membros da bancada ruralista.

O projeto parte do suposto que a conservação de florestas é simplesmente um ônus ao produtor e à produção agropecuária, um encargo que onera o país e nos torna menos competitivos no mercado internacional de commodities agropecuárias. Nesse sentido abre as portas para que sejam perdoados praticamente todos os desmatamentos ilegais já ocorridos, o que implica não só a anulação de multas já aplicadas mas, muito mais grave, o fim da obrigação de recuperar essas áreas, como exige a legislação atual. Basta que se reconheça que a vegetação nativa deu lugar a uma ocupação “consolidada”, o que, pelo projeto, abrange desmatamentos ilegais feitos até julho de 2008. Uma vez regularizadas, as ocupações deixam de estar ilegais.

Mas, como as leis da natureza não podem ser modificadas por caprichos humanos ou interesses corporativos, essas ocupações, mesmo legais, continuarão sendo imprudentes. Assim, por exemplo, as plantações de cana e as vilas residenciais situadas às margens do rio Mundaú, em Alagoas, vão continuar sendo alagadas nas fortes chuvas, pois, sem um mínimo de cobertura florestal na paisagem, as águas continuarão escorrendo rapidamente às calhas dos rios, que, cada vez mais assoreados, terão cada vez menos capacidade de abrigar a água que recebem sem transbordar e, uma vez transbordando, continuarão a levar tudo o que existir pela frente, inclusive casas e pessoas que indevidamente ocuparam suas áreas naturais de inundação.

A lei atual proíbe a ocupação de áreas de risco e ainda exige que em todos os lugares exista um mínimo de vegetação nativa. Se tivesse sido cumprida, seguramente, seriam muito menores os estragos ocorridos em Alagoas, em Angra dos Reis, no Vale do Itajaí e em todos os outros lugares que entram e saem rapidamente dos noticiários quando começam as temporadas de chuva.

Aliás, esse é o centro do problema que, infelizmente, não será resolvido pelo projeto aprovado. Grande parte dos produtores rurais do país estão irregulares com relação à legislação florestal, ou seja, não respeitaram a preservação das áreas por ela determinada. Isso significa que há um grande número de pessoas que estão, neste momento, prestando um “desserviço ambiental” à sociedade, assoreando rios, matando nascentes, derrubando encostas, extinguindo a biodiversidade. A grande maioria não faz porque quer, mas porque foi levada a essa situação por uma longa sequência de equívocos e omissões por parte do Poder Público e da sociedade como um todo, cujo detalhamento não cabe nesse artigo.

Todos queremos que esses produtores rurais deixem de estar na ilegalidade, ou seja, que possam cumprir o que a lei exige, e, assim, não só parem de sofrer com multas e embargos impostos pelos órgãos de fiscalização, como passem a efetivamente proteger os recursos naturais existentes em seus imóveis, vitais ao bem-estar da sociedade como um todo.

No entanto, o deputado Aldo Rebelo, autor da proposta aprovada, insuflado pelos ruralistas e apegado a um suposto nacionalismo, viu nas florestas apenas obstáculos. Assim, não se preocupou em propor medidas para que os proprietários hoje irregulares possam cumprir a lei e, como consequência, proteger os bens ambientais que ela visa tutelar. Pelo contrário, simplesmente abriu brechas para que, mesmo praticando um mau uso da terra, qualquer proprietário possa estar de acordo com a lei e, portanto, formalmente regularizado. Assim, caso a proposta seja finalmente aprovada, as enchentes, os rios secos, as áreas desertificadas, as espécies extintas, passarão a ser “legais”. Será esse nosso caminho?

O grande problema aqui, é o mesmo que citei quando escrevi "Raciocínio Limitado". Os ruralistas (com a maior bancada do Congresso) é claro vão defender os seus ganhos de capital, já os "verdes", defendem de uma forma retrograda a intocabilidade dos biomas. Não é assim que podemos chegar a um consenso. Os biomas tem que ser cuidadosamente analisados e a partir dessa análise se ver as possibilidades de ampliação da produção e em quais condições ela pode ocorrer. Mas, é um absurdo a anistia dada aos grandes produtores rurais. Os pequenos, bem, aí é outra situação. Sem apoio e conhecimento técnico e com bocas à alimentar, é um absurdo um "verde" que mora em seu apartamento, faz suas compras no supermercado e ganha seu dinheiro todo mês venha criticar o desmatamento por parte desse grupo de trabalhadores que estão tentando sobreviver. Não é certo o que estão fazendo, mas pelo menos que se dê uma condição digna para que esse indivíduo possa produzir e se sustentar sem ter que desmatar. Enquanto os dois lados partirem para o radicalismo, nada avançará como deve, e pior, como eles detêm o poder do capital, que sai perdendo é a sociedade como um todo.

China consome mais energia e amplia influência no setor

Instituto Humanitas Unisinos - 20 jul 10

A China ultrapassou os Estados Unidos no ano passado como o país com o maior consumo de energia no mundo. O fato indica continuidade no aumento na demanda global por combustíveis, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), mas dá também uma ideia de como a China deve influir cada vez mais no modo como a energia é usada no mundo - do tipo de carro que é produzido ao tipo de usina elétrica que é construída.

A notícia é do jornal Valor, 20-07-2010.

"À medida que a China ultrapassa os Estados Unidos como a maior consumidora de energia do mundo, isso deixa de ser apenas uma questão doméstica para a China e passa a ter repercussões para o resto do mundo, não só em termos de abastecimento, mas também na maneira em que a energia é consumida", afirmou o economista-chefe da AIE, Fatih Birol. "Se a China usar carros elétricos, híbridos e assim por diante, eles irão impor essa linha de produção à maior parte do resto do mundo."

Além disso, o contínuo aumento do uso de energia cria para Pequim o problema de diminuir a emissão de gases-estufa sem prejudicar o crescimento do país.

A China consumiu, em 2009, 2,25 milhões de toneladas métricas de petróleo equivalente, na forma de carvão, gás natural, energia nuclear, petróleo, e fontes renováveis, disse Birol. Isso excede os 2,17 milhões de toneladas usadas pelos EUA.

"Quando olhamos os países que são motores para o crescimento da demanda global por energia - ou seja, China, Índia e o Oriente Médio -, eu fico um pouco mais otimista", disse Birol.

A China tem o crescimento mais acelerado entre as maiores economias do mundo e está prestes a se tornar a segunda maior, ultrapassando o Japão. O país registrou uma expansão de 10,3% no segundo trimestre, mesmo com medidas do governo para esfriar o crescimento.

O aumento do consumo global vai ocorre num momento em que os estoques mundiais de petróleo irão ficar "apertados" após 2015, por causa da queda de produção fora da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e do aumento na regulação de reservas de produtoras estatais, disse Birol.

Isso leva a outras questões geopolíticas e ambientais.

Autoridades ocidentais vêm expressando preocupação quanto à agressividade de Pequim em assegurar o acesso privilegiado ao petróleo de países como Cazaquistão, na Ásia Central, e Sudão, na África. No ano passado, a China se tornou o maior comprador da Arábia Saudita pela primeira vez.

Além disso, a China é também o maior emissor mundial de gases-estufa. O governo chinês, por seu lado, tem como meta que 15% de sua energia venha de fontes limpas, como a nuclear, até 2020.

Pequim dá sinais de que já se preocupa em diversificar sua matriz energética. Ontem, o governo central deu permissão para a Guangdong Nuclear Power Group Co., segunda maior construtora de usinas nucleares do país, para construir dois novos reatores na Província de Guangxi, no sul do China.

A primeira fase do projeto vai custar US$ 3,5 bilhões e terá dois reatores com capacidade de 1,1 mil megawatts cada. A construção vai ter início no fim deste mês e será completada em 2016.

O uso de energia nuclear vem sendo incentivado por Pequim como forma de diminuir a emissão de gases-estufa.

''Separar economia do meio ambiente é não entender nada''. Entrevista especial com José Eli da Veiga

Instituto Humanitas Unisinos - 20 jul 10


José Eli da Veiga, professor titular da USP (FEA e IRI), analisa o relatório coordenado por Joseph Stiglitz, Amartya Sen, e Jean-Paul Fitoussi sobre a mensuração do desempenho econômico e do progresso social, em artigo publicado no jornal Valor, 20-07-2010.

Eis o artigo.

Quem teima em defender o obsoleto Produto Interno Bruto (PIB) precisa dar atenção ao caso da Irlanda, que realça como seria muito melhor avaliar o desempenho econômico das nações por alguma medida da renda domiciliar disponível para consumo. O PIB per capita irlandês disparou nos anos 1990, ultrapassando o japonês e os das maiores economias europeias em 1998, e quase igualando o dos EUA em 2007. Todavia, tanto seu consumo final efetivo, quanto as várias medidas possíveis de renda domiciliar disponível permaneceram 40% abaixo das americanas, bem próximas das da Itália.

Ou seja: em 2007 a situação econômica da Irlanda era muito pior do que as do Reino Unido, França e Alemanha, embora seu PIB per capita indicasse exatamente o inverso: um desempenho próximo ao da economia americana, muito acima dos exibidos pelas outras cinco grandes economias citadas.

Essa é uma das evidências apresentadas em dossiê de 30 páginas com 15 gráficos esclarecedores das recomendações do relatório coordenado por Joseph Stiglitz, Amartya Sen, e Jean-Paul Fitoussi sobre a mensuração do desempenho econômico e do progresso social. Obra de três técnicos do Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos (INSEE), a agência estatística da França: Marie Clerc, Mathilde Gaini e Didier Blanchet (*). Eles usaram o relatório para comparar a evolução de seis países: Alemanha, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. E, em alguns casos, de sete, quando obtiveram dados sobre a Irlanda.

É o primeiro sinal de que começa a ser rompido o soturno silêncio de dez meses em torno do relatório. Um fenômeno que certamente resulta do despreparo das agências de estatística, tanto as nacionais quanto as que são mantidas por poderosas organizações internacionais. No geral, elas são incapazes de medir o desempenho econômico pela renda disponível para consumo e compará-la ao vetusto produto bruto, interno ou nacional. E não dispõem dos meios necessários para a avaliação de qualidade de vida que combinem critérios consagrados - como a esperança de vida - a critérios hedônicos, como a satisfação. E nem sequer começaram a elaborar indicadores físicos de sustentabilidade ambiental.

Inteiramente impotente diante desses desafios, a comunidade estatística prefere ficar calada, contribuindo para reforçar a opção preferencial dos economistas por convenções que ignoram a obsolescência do PIB, a extrema precariedade do IDH, e a completa ausência de medidas consensuais de sustentabilidade.

Daí o imenso valor das pérolas exibidas nesse dossiê do INSEE. Chega a arriscar, por exemplo, duas ilustrações sobre a sustentabilidade. A primeira, preponderantemente econômica, na linha da 'poupança genuína" do Banco Mundial, indica que os seis países decaíram muito mais do que se pensa nas três últimas décadas do século passado - tendência que parecia estar começando a ser revertida a partir de 2003 somente na Alemanha e no Japão.

Em seguida, sobre a contribuição de cada país à insustentabilidade ambiental global - mais na linha do relatório - surge uma comparação entre as respectivas "pegadas carbono" -, em toneladas de CO2 por habitante e por ano. Desnecessário dizer que as dos EUA são quase o dobro das dos outros seis países, tanto sob ótica da produção, como "ainda mais" sob a do consumo.

No que se refere à necessidade de melhores indicadores de qualidade de vida, o maior destaque foi dado à saúde. Tem sido unânime a ideia de que nessa área não existiria melhor critério objetivo do que a esperança de vida ao nascer. Porém, em países que já atingiram elevada longevidade, o que mais passa a interessar é a esperança de vida ?em boa saúde?. Na Alemanha, enquanto a primeira se aproxima dos 80 anos, a segunda nem chega aos 60. Em forte contraste com o Reino Unido, onde a esperança de vida "em boa saúde" supera os 65 anos.

Embora a educação também receba grande destaque no âmbito da qualidade de vida, o dossiê não vai além de uma apresentação das porcentagens de diplomados do ensino superior na faixa etária 25-54 anos. Enquanto EUA e Japão lideram com mais de 40%, França, Alemanha e Reino Unido ficam no meio, entre 25% e 35%, seguidos bem de longe pela Itália que mal alcançou os 15%.

Os autores preferiram dar mais ênfase à insegurança econômica, ilustrada simultaneamente pelos irmãos siameses desemprego e pobreza. Surgem dois grupos conforme os pesos relativos dos desempregados de longa duração na população ativa. Do lado melhor, EUA, Reino Unido e Japão, com taxas inferiores a 1,5%. Do pior, França, Alemanha e Itália com taxas superiores a 3%.

Todavia, esse panorama praticamente se inverte quando se considera uma linha de pobreza de renda correspondente a 60% do nível de vida mediano, após transferências sociais e impostos. Por tal critério, há 20 anos permanece na pobreza um quarto dos domicílios americanos. No Japão e na Itália eles se aproximam de um quinto. São apenas 16% na Alemanha e Reino Unido, e 15% na França.

(*) www.insee.fr/fr/ffc/docs_ffc/ref/ecofra10d.pdf

Mais perversão na educação brasileira

Instituto Humanitas Unisinos - 20 jul 10

"A maioria pobre não somente financia a educação superior mas também subsidia a educação básica privada da minoria social privilegiada", constata Naomar de Almeida Filho, doutor em epidemiologia, reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e membro do Observatório da Equidade do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), em artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 20-07-2010.

Eis o artigo.

Na sociedade contemporânea, cada vez mais complexa e diversificada, formação universitária aparece como fator de ascensão social.

Neste Brasil de absurdos e iniquidades, educação superior supostamente implica uma profunda perversão social.

Eis o argumento: no nível básico de ensino, aos pobres, por seu reduzido poder econômico, resta a rede pública, com precária infraestrutura e docentes desmotivados por baixos salários.

Ao contrário, as camadas médias e altas da sociedade, por capacidade financeira própria, financiam a educação de seus jovens em escolas privadas, com melhores condições de vencer o filtro competitivo do vestibular.

Nas universidades públicas, recebem gratuitamente educação superior de qualidade, enquanto os pobres são obrigados a pagar caro em instituições privadas.

Essa análise oculta dois equívocos e uma falácia.

O primeiro equívoco refere-se ao conceito de gratuidade, como se pudesse existir alguma atividade, realizada com eficiência, sem custos estruturais e operacionais.

A universidade pública, dada sua missão social de excelência acadêmica, é cara e longe está de ser gratuita. É, de fato, pré-paga pelo orçamento público, constituído por impostos, taxas e também por contribuições sociais.

O segundo equívoco é achar que, "por capacidade financeira própria", as classes abonadas preparam seus jovens para ter acesso à universidade pública.

Isso não é verdade. No Brasil, importante parcela das despesas educacionais retorna às famílias com maior nível de renda sob a forma de descontos e restituição de impostos; dessa forma, enorme (mas oculta) renúncia fiscal subsidia a educação privada de seus filhos, o que lhes facilita predominar na educação superior pública.

A falácia encontra-se na premissa de que o Estado é sustentado por toda a sociedade, igualmente.

A estrutura tributária brasileira é, em si, importante fator de desigualdade social. Proporcionalmente à renda, os pobres contribuem para custear a máquina estatal, em todos os níveis e setores de governo, mais do que contribuintes de melhor situação econômica.

Dados do Ipea revelam que os mais pobres pagam 49 % de sua renda em impostos, enquanto os mais ricos contribuem com apenas 26 % da sua receita.

Ciclo vicioso, tripla perversão social. A maioria pobre não só financia a educação superior mas também subsidia a educação básica privada da minoria social privilegiada, que, não fossem as ações afirmativas, ocuparia a maior parte das vagas públicas.

Do ponto de vista da reprodução social, a formação daqueles oriundos da classe social detentora de poder político e econômico se dá, nas universidades públicas, em carreiras de maior retorno financeiro e prestígio social.

Por analogia ao conceito de mais-valia, a ideia de mais-perversão pode ser útil para entender e ajudar a superar a iniquidade social que tanto nos envergonha.

O estancamento da renúncia fiscal de despesas escolares contribuirá para resgatar a dívida social da educação, entrave ao desenvolvimento econômico e humano de nosso país.

Esse artigo veio ao encontro de um que escrevi aqui no blog sobre essa mesma questão, a da falsa gratuidade. Defendi que uma de minimizar essa condição seria cobrar mensalidade de quem pode (já que é feita uma pesquisa de renda familiar pelas Universidades dá para ter esse parâmetro), ou exigir que esses grupos exerçam atividade na rede pública por pelo menos um ano após a formação.

Tiro no Pé

recebido por e-mail - 20 jul 10

Prof. Msc. Fernando Braz de Lima Graciolli


Leiam e... pasmem!!!

Ata no original:


PETROBRAS
ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL ORDINÁRIA DA PETRÓLEO BRASILEIRO S..A. - PETROBRAS, REALIZADA EM 8 DE ABRIL DE 2009

(Lavrada sob a forma de sumário, conforme facultado pelo parágrafo primeiro do artigo 130 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976).


DIA, HORA E LOCAL: Assembléia realizada às 15 horas do dia 8 de abril de 2009, na sede social, na cidade do Rio de Janeiro, RJ, na Avenida República do Chile, no 65.

.........
Item IV:
Foram reeleitos como membros do Conselho de Administração da Companhia , na forma do voto da União, com mandato de 1 (um) ano, permitida a reeleição, a Senhora Dilma Vana Rousseff, brasileira, natural da cidade de Belo Horizonte (MG), divorciada, economista, com domicílio na Casa Civil da Presidência da República - Praça dos Três Poderes - Palácio do Planalto - 4º andar - salas 57 e 58, Brasília (DF), CEP: 70150-900, portadora da carteira de identidade nº 9017158222, expedida pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul - SSP/RS, e do CIC/CPF nº 133267246-91 e os Senhores Guido Mantega, brasileiro, natural de Gênova, Itália, casado , economista, com domicílio no Ministério da Fazenda - Esplanada dos Ministérios - Bloco P - 5º andar - Brasília (DF), CEP: 70048-900, portador da carteira de identidade nº 4135647-0, expedida pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo - SSP/SP, e do CIC/CPF nº 676840768-68; Silas RondeauCavalcante Silva, brasileiro, natural da cidade de Barra da Corda (MA), casado , engenheiro, com domicílio na S..A.U.S. - quadra 3 – lote 2 - Bloco C – Ed. Business Point - salas 308/309, Brasília (DF), CEP: 70070-934, portador da carteira de identidade nº 2040478, expedida pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de Pernambuco - SSP/PE, e do CIC/CPF nº 044.004.963- 68; José Sergio Gabriellide Azevedo, brasileiro, natural da cidade de Salvador (BA), divorciado, e conomista, com domicílio na Av. República do Chile, 65, 23º andar - Rio de Janeiro (RJ), CEP: 20031-912, portador da carteira de identidade nº 00693342-42, expedida pela Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia - SSP/BA, e do CIC/CPF nº 042750395-72 042750395-72 042750395-72 042750395-72 042750395-72 042750395-72 042750395-72 042750395-72 ; Francisco Roberto de Albuquerque, brasileiro, natural da cidade de São Paulo, casado, General de Exército Reformado, com domicílio na Alameda Carolina nº 594, Itu (SP), CEP: 13306-410, portador da carteira de identidade nº 022954940-7, expedida pelo Ministério do Exército e do CIC/CPF nº 351786808-63; e Luciano Galvão Coutinho, brasileiro, natural da cidade de Recife (PE), divorciado, economista, com domicílio na Av.. República do Chil e nº 100 , 19º andar, Rio de Janeiro (RJ), CEP 20031-917, portador da carteira de identidade nº 8925795, expedida pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo - SSP/SP, e do CIC/CPF nº 636831808-20.
............ .....
..
Item VII: Pelo voto da maioria dos acionistas presentes, em conformidade com o voto da representante da União,
foi aprovada a fixação da remuneração global a ser paga aos administradores da Petrobras em R$8.266.600, 00 (oito milhões, duzentos e sessenta e seis mil e seiscentos reais), no período compreendido entre abril de 2009 e março de 2010, aí incluídos: honorários mensais, gratificação de férias, gratificação natalina (13º salário), participação nos lucros e resultados; passagens aéreas, previdência privada complementar, e auxílio moradia, nos termos do Decreto nº 3.255, de 19.11.1999, mantendo-se os honorários no mesmo valor nominal praticado no mês precedente à AGO de 2009, vedado expressamente o repasse aos respectivos honorários de quaisquer benefícios que, eventualmente, vierem a ser concedidos aos empregados da empresa, por ocasião da formalização do Acordo Coletivo de Trabalho – ACT na sua respectiva data-base de 2009;

São SEIS PESSOAS para dividirem mais de 8 MILHÕES no ano.
Dá mais de CEM MIL REAIS POR MÊS para cada um!

Se alguém achar que é boato... é só acessar o link abaixo:

http://www2.petrobras.com.br/ri/port/InformacoesAcionistas/pdf/ATA_AGO_08abr09_port.pdf


Ou entre diretamente no portal da Petrobrás. Clique em +Sites Petrobrás. No menu superior clique em investidores. No menu à esquerda vá à informações aos acionistas. Procure o link para as atas das assembléias e depois selecione a do dia 08 de abril de 2009.

Agora uma pergunta: Em que condições épossível o acumulo de cargos públicos?


Aí eu me pergunto. Para que, alguém que seria a candidata com elevado grau de elegibilidade devido o índice de aprovação do Governo Lula, precisava se meter num imbróglio desses? Pelo amor de Deus. Isso é uma vergonha. Nenhum dos listados deveria receber tal valor ( e não só eles, qualquer um que chegasse a estar à frente da empresa). Pelo que eu saiba a maioria acionária ainda é do Estado. Então que este deixe de compactuar com o pagamento de salários abusivos que soam como afronta ao povo brasileiro. Sei que os altos dirigentes das grandes empresas estão acostumados a receber um valor milionário de renda anual, mas assim como os jogadores de futebol, o esforço empregado e exigido não é tão alto assim para compensar o salário recebido.
Assim como o Mino Carta em editorial recente, apesar do claro apoio à Dilma, eu também não estou cego e nem surdo.

segunda-feira, julho 19, 2010

Poesia de um aluno da APAE

recebido por e-mail - 16 jul 10



Esse poema foi escrito por um aluno da APAE, chamado, pela sociedade de excepcional. Excepcional é a sua sensibilidade!!!!!

Ele tem 28 anos, com idade mental de 15.




Ilusões do Amanhã

'Por que eu vivo procurando um motivo de viver,

Se a vida às vezes parece de mim esquecer?

Procuro em todas, mas todas não são você.

Eu quero apenas viver, se não for para mim que seja pra você.

Mas às vezes você parece me ignorar, sem nem ao menos me olhar,

Me machucando pra valer.

Atrás dos meus sonhos eu vou correr.

Eu vou me achar, pra mais tarde em você me perder.

Se a vida dá presente pra cada um,o meu, cadê?

Será que esse mundo tem jeito?

Esse mundo cheio de preconceito.

Quando estou só, preso na minha solidão,

Juntando pedaços de mim que caíam ao chão,

Juro que às vezes nem ao menos sei, quem sou.

Talvez eu seja um tolo,

Que acredita num sonho.

Na procura de te esquecer,

Eu fiz brotar a flor.

Para carregar junto ao peito,

E crer que esse mundo ainda tem jeito.

E como príncipe sonhador...

Sou um tolo que acredita, ainda, no amor.'




PRÍNCIPE POETA (Alexandre Lemos - APAE)


Lembro-me que quando assisti em 2005 no Festival de Gramado o documentário "Do Luto à Luta" de Evaldo Mocarzel sobre as pessoas que possuem Sindrome de Down, pensei , este é um filme para ser exibido obrigatoriamente (isso mesmo, obrigatoriamente) em todas as escolas do país. Mostra toda a nossa intolerância e preconceito em relação a esses cidadãos que tem plena capacidade de convívio social e que sofrem com a rejeição de nossa tão evoluída sociedade do século XXI, com seus maravilhosos avanços científicos e involução moral, ética e crítica.