"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, abril 08, 2014

Video: Swiss Mini Gun – A menor arma do mundo


recebido via linkedin - sexta-feira, 4 de abril de 2014



A Swiss Mini Gun é um revólver em miniatura que tem as mesmas características de uma arma de tamanho normal. A diferença é que o seu comprimento é de apenas 5,5 cm e suas balas de calibre 2,34 mm, o que a torna a menor arma funcional do mundo. Confira abaixo algumas fotos e um vídeo mostrando como funciona a menor arma do mundo!



Foto:




A Indústria Nacional de Defesa - uma questão econômica

recebido via linkedin - 31 março 2014


publicado por Barral M Jorge


Debates acerca da Defesa nacional no Brasil, como em outros países, dificilmente escapam de argumentos político-ideológicos. No Brasil especificamente, as discussões estão inseridas, por um lado, no contexto histórico de redemocratização recente – pós-regime militar – e, por outro, num período de paz demasiado longo para que as gerações atuais tenham sido diretamente afetadas por conflitos armados em território nacional. Essa conjuntura, somada aos problemas socioeconômicos que o país enfrenta, alimentam questionamentos acerca da viabilidade e até necessidade de investir-se em defesa no Brasil, uma visão que negligencia a relevância econômica da indústria de defesa.

Apesar da aparente falta de apelo político, no entanto, investimentos neste setor têm aumentado gradativamente, aliados a políticas públicas de apoio à base industrial de defesa. É o caso, por exemplo, da aprovação da Lei n° 12.598 em 2012, que estabeleceu um marco regulatório para o setor no país e instituiu o Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa (Retid) – o qual suspende a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados, o PIS-Pasep e o Cofins que recairiam sobre peças, equipamentos, sistemas, matérias-primas e serviços usados em materiais de defesa. Ainda, observou-se que entre 2003 e 2007, o atendimento médio das demandas das Forças Armadas no Congresso era de 35%, valor elevado para 61% no período entre 2008 e 2014*. 

Essas e outras evoluções são, em grande parte, reflexo da elaboração do Livro Branco de Defesa Nacional e da Estratégia Nacional de Defesa (END), documentos que reforçam o compromisso do país em operacionalizar o sistema de defesa. O desenvolvimento da indústria bélica é um dos três eixos basilares da END, por exemplo. E resultados práticos começam a surgir. Projetos como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), o KC390, o programa nuclear, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz) já são realidade. Do mesmo modo, o Centro de Defesa Cibernética foi lançado em 2012, os softwares usados na Rio+20 foram desenvolvidos no Brasil por empresas nacionais e há projetos entre a Força Aérea e a Finep para desenvolver empresas nesse setor.

Mas ainda não é suficiente. O Brasil passou por ciclos de investimento e sucateamento das Forças Armadas anteriormente e, em cada uma dessas oportunidades, conhecimentos gerados foram perdidos pela falta de compreensão das particularidades da indústria de defesa**. Os investimentos em defesa são, em geral, de longo prazo e altamente onerosos. Nesse sentido, e por se tratar de um mercado restrito onde o Estado é, ao mesmo tempo, o regulador e o principal cliente, a própria nação precisa desenvolver políticas de fomento industrial e tecnológico direcionadas especificamente para esta área. Vale ressaltar que outros governos, também na posição de compradores, consideram se produtos são ou não usados pelas Forças Armadas do país que os fabrica em suas avaliações, de modo que compras governamentais nacionais têm impacto até mesmo nas exportações.

O obstáculo, portanto, para o desenvolvimento dessa área tem sido depender de políticas de governo e, assim, ficar ao sabor de mudanças políticas em geral. Ilustrando essa questão, no início de 2014, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão anunciou um corte de R$3,5 bilhões no orçamento aprovado pelo Congresso Nacional para o Ministério da Defesa, o maior entre todas as pastas no bloqueio de recursos no orçamento deste ano. A imprevisibilidade gerada por cortes como este impossibilita o planejamento estratégico do empresariado brasileiro que, por sua vez, não consegue obter apoio financeiro ou escala de produção suficientes para produzir e competir com as estrangeiras. Mas o país dispõe de enorme potencial para este setor e há certamente ganhos políticos e, principalmente, socioeconômicos por fazê-lo.

O Brasil encontra-se numa busca por ocupar uma posição cada vez mais notável no cenário internacional. Tendo em vista a abundância em recursos naturais e a situação geopolítica privilegiada, o debate sobre defesa nacional torna-se extremamente relevante no escopo político brasileiro corrente. Para tanto, é fundamental que o Estado possua uma Indústria Nacional de Defesa bem estruturada, a fim de dar uma pronta resposta às necessidades estratégicas de soberania nacional mesmo em um contexto pacífico. No que tange à soberania nacional, segurança internacional e poder de dissuasão, a pretensão é o fortalecimento dos três setores de importância estratégica - espacial, cibernético e nuclear -, a capacitação da indústria nacional para a obtenção de autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa, o aumento da capacidade de atender aos compromissos internacionais de busca e salvamento, entre outros aspectos***. A título de exemplo, o Sisgaaz, programa de vigilância e monitoramento da costa brasileira mencionado anteriormente, objetiva também prover segurança para as áreas de exploração do pré-sal – reconhecidamente uma das principais riquezas do país.

No cenário doméstico, por outro lado, o estímulo à indústria contribui significativamente para o desenvolvimento do país, pois viabiliza a geração de divisas, a criação de empregos, e, nesse sentido, de qualificação da mão de obra, e a geração de tecnologias de ponta cujos processos e conhecimentos levam ao desenvolvimento de outros setores de produção. A baixa intensidade tecnológica nas exportações brasileiras hoje traz preocupações quanto ao desempenho futuro da economia do país. Produtos de defesa têm alto conteúdo tecnológico e alto valor agregado, são oportunidades para inovação tecnológica – e não só militar.

Exemplos clássicos como o forno micro-ondas, criado na II Guerra Mundial durante pesquisas com a tecnologia de radares; os sonares, desenvolvidos para a identificação de navios e submarinos e hoje largamente utilizados na medicina e na odontologia para produzir ecografias, ultrassonografias etc.; e até a câmara digital, resultado de pesquisas da NASA, ilustram como tecnologias criadas para fins militares são transferíveis para as áreas civis. Um exemplo brasileiro mais recente, a fabricação dos jatos comerciais Legacy da Embraer, vendidos para todo o mundo, foi possibilitada pelos projetos para o caça militar AMX.

Ainda no cenário doméstico, é válido lembrar que a atuação da Defesa no Brasil têm ido além da segurança internacional para uma presença crescente em temas de segurança pública. É o caso da participação das Forças Armadas na pacificação de favelas, em obras sociais e civis, e, no caso mais presente, na segurança de grandes eventos. Na Copa, por exemplo, a Defesa está responsável pela proteção do espaço aéreo e da área marítima, claramente dentro de seu escopo de atuação, e pela Força de Contingência, que poderá ser acionada pela presidenta em caso de necessidade. Em outro exemplo relevante da dualidade das ações das Forças, o Sisfron, projeto que envolve o controle e proteção de aproximadamente 17 mil quilômetros de fronteira, visa também reduzir o tráfico de drogas e o tráfico humano em nossas fronteiras. Enfim, independente de seu mérito, atividades como estas exigem Forças preparadas, bem equipadas, aliadas a uma indústria igualmente bem estruturada para atender a suas demandas.

A fim de se manter como potência econômica mundial, o Brasil precisa de uma política de defesa de longo prazo para se adequar aos desafios do século 21. A elaboração do Livro Branco, da END e da PND representa um passo nessa direção, mas contingenciamentos frequentes evidenciam que ainda não houve uma mudança significativa de pensamento na classe política brasileira. Como afirmou o professor Darc Antonio da Luz Costa,estratégia nacional de defesa é inseparável de estratégia nacional de desenvolvimento. É necessário, portanto, transformar a capacidade tecnológica e humana no setor de defesa nacional compatível com as dimensões e ambições do país.



Verônica Baltazar Prates é sócia da Barral M Jorge Consultores Associados e graduada em Relações Internacionais pela London School of Economics (LSE-UK). Andrezza Muniz Barreto Fontoura é estudante de Direito na Universidade de Brasília e colaboradora da Barral M Jorge.

Aeronave dos EUA vai sobrevoar a floresta e coletar dados na Amazônia


recebido via linkedin - segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014





Voos devem auxiliar estudos sobre atmosfera e crescimento urbano. Pesquisas têm aporte financeiro de R$ 24 milhões, diz Fapeam.

Pela primeira vez, em aproximadamente 20 anos, uma aeronave de pesquisa internacional foi autorizada pelo Governo Federal a entrar no espaço aéreo brasileiro. Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), a aeronave Gulfstream ARM 1 será utilizada para verificar o potencial de crescimento urbano em áreas ambientais, especialmente na Amazônia. De propriedade do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE/EUA), o equipamento também servirá para analisar a interação da floresta amazônica com a atmosfera.


Com um aporte financeiro de R$ 24 milhões da Fapeam, as pesquisas já possuem base nos municípios de Manacapuru e Iranduba - a 61 e 27 km de distância de Manaus, respectivamente. Os estudos também serão realizados no Observatório com Torre Alta da Amazônia (Projeto ATTO), nas proximidades da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã; e em Manaus, nas dependências do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).


A Fazenda Exata abriga 15 contêineres-laboratórios com uma série de equipamentos para medir, entre outros, propriedades da atmosfera, formação e desenvolvimento das nuvens, fluxos de radiação solar e atmosférica, além de variáveis meteorológicas como temperatura, velocidade e direção do vento. Segundo a Fapeam, há ainda quatro torres instrumentadas, duas em Uatumã, com pesquisas entre os Institutos Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Max Planck de Química (MPIC/Alemanha), e duas no Bosque da Ciência, no Inpa, em uma parceria entre o Inpa e a UEA..



Programação de voos
Ainda de acordo com o órgão, a aeronave - também conhecida como G-1 - deve realizar 75 horas de voo no entorno de Manaus durante a estação úmida. No dia 27 de março, o avião retorna para os Estados Unidos.


Após essa etapa, a aeronave retorna para Manaus nos meses de setembro e outubro para realizar voos durante a seca. Para essa fase, está prevista a vinda de outro avião, o High Altitude and Long Range Research Aircraft (Halo), da Alemanhã. Nesse período, as aeronaves serão equipadas para coletar dados de gases, aerossóis e medidas de nuvens, em voos com duração de quatro a cinco horas.

Será que só irão coletar esses dados?

segunda-feira, abril 07, 2014

Começou uma nova Guerra Fria. Que Alívio


Data de publicação em Tlaxcala: 04/04/2014

The Saker El Saqr Балобан الصقر 
Traduzido por  Coletivo de tradutores Vila Vudu


Considerada a relativa calmaria que parece configurar-se na Ucrânia, o momento parece propício para examinar o impacto que os dramáticos desenvolvimentos naquele país tiveram sobre o cenário político interno da Rússia e o que esse impacto, por sua vez, pode significar para a (des)ordem internacional. Para isso, gostaria de começar por um breve resumo de uma tese que já mencionei antes.[1]
Preparando a parte russa do palco
Primeiro, uma lista itemizada dos tópicos que já se discutiram nesse blog:  
1.    Não há real oposição parlamentar na Rússia. Mas, não, não, não porque “Putin é um ditador”, nem porque “a Rússia não é uma democracia”, mas, sim, simplesmente, porque Putin manobrou brilhantemente ou para cooptar ou para cortar as garras de qualquer oposição. Como? Usou bem sua autoridade pessoal e carisma para promover uma agenda à qual os demais partidos não se poderiam opor abertamente. Formalmente, continuam a existir os partidos de oposição, é claro. Mas absolutamente não têm qualquer credibilidade. É situação que pode mudar, com a nova Lei dos Partidos Políticos.
2.    A única oposição “dura” a Putin, na Rússia moderna, são os vários indivíduos abertamente pró-EUA (Nemtov, Novodvorskaia, etc) e movimentos e partidos associados a eles. Representam (no máximo!) 5% da população.
3.    Putin aplicou ‘movimento de judô’ nos reais opositores (adiante, mais sobre isso), usando a “Constituição (fortemente) presidencial” aprovada em 1993, para, basicamente, concentrar todos os poderes na presidência.
4.    A “oposição” *real* a Putin e ao seu projeto só existe *dentro* do Kremlin, no partido “Rússia Unida” e em algumas figuras influentes. Chamo essa oposição real de “Atlanticistas Integracionistas” (AI), porque o objetivo-chave deles é integrar a Rússia à estrutura mundial anglo-sionista de poder.
5.    A base *real* de poder de Putin está no povo russo que o apoia diretamente e pessoalmente, na Frente de Todos os Povos Russos,[2] e no grupo que chamo de “Eurasianos Soberanistas” (ES), cujo objetivo básico é desenvolver uma nova ordem mundial, multipolar, para livrar-se do atual sistema financeiro internacional anglo-sionista; reorientar a maior parte possível da antiga URSS na direção de integrar-se com o Ocidente; e desenvolver o norte da Rússia.

Se quisesse simplificar ainda mais as coisas, poderia dizer que em 1999 os Atlanticistas Integracionistas (AI) e os Eurasianos Soberanistas (ES) uniram-se para levar Putin ao poder, substituindo Ieltsin. Os AI (em termos genéricos, representam os interesses do big money & big business) queriam burocrata mais cinzento e obscuro, como Putin (era o que eles supunham), que assegurasse o continuísmo e não sacudisse demais o bote depois da partida de Ieltsin. Os Eurasianos Soberanistas (em termos gerais, representantes dos interesses de certa elite da antiga KGB, especialmente seu Primeiro Diretorado-Comando[3]) e o próprio Putin, usaram brilhantemente o poder dado a Putin pela Constituição de 1993 (aprovada no governo de Ieltsin e dos Atlanticistas Integracionistas!), para mudar, lenta mais firmemente, a rota da Rússia: de total submissão e colonização ao/pelos EUA, para um processo que Putin e seus apoiadores chamam de“soberanização”, i.e., de libertação nacional.

A partir disso, seguiu-se longa disputa de quebra-de-braço, sobretudo nos bastidores, mas com eclosões de tempos em tempos que se veem do lado de fora, como a trombada entre Putin e Medvedev no caso do Irã e da Líbia ou a demissão de Kudrin por Medvedev (os dois foram empurrados para uma mesma rota de colisão, por Putin, claro). Como derradeira super simplificação, posso dizer que Medvedev representa os Atlanticistas Integracionistas; e Putin, os Eurasianos Soberanistas.

Tudo aqui está muito supersimplificado, para não alongar demais o postado. Todos encontrarão informação um pouco mais detalhada em outros postados indicados nas notas, inclusive os comentários dos leitores do blog.
Preparando a parte ucraniana do palco
Antes desse inverno, a maior diferença entre Rússia e Ucrânia era que na Rússia Putin basicamente destruíra a velha oligarquia que EUA e Israel controlavam, e a substituiu por outra, que ou apoiava o Kremlin ou mantinha-se neutra. A mensagem de Putin para a oligarquia russa foi simples: “podem ser ricos, mas não comprometam o bem-estar da nação russa nem tentem intrometer-se na luta política.” Para os que não entendam por que Putin não eliminou a oligarquia russa como grupo, tenho de repetir que TUDO que Putin fez desde 1999 até agora, sempre foi numa relação de acordos e concessões entre os seus Eurasianos Soberanistas e os ainda muito poderosos Atlanticistas Integracionistas. Putin de modo algum poderia desafiar diretamente esse grupo muito poderoso, muito rico, muito bem relacionado; então, teve de andar devagar e com cuidado, passo a passo.

Na Ucrânia, bem diferente disso, os oligarcas consumaram o que eu chamaria de “Sonho de Khodorkovsky”: compraram basicamente tudo, toda a economia, toda a imprensa-empresa de massa, todo o Parlamento e, claro, também a presidência. Ao longo dos últimos 22 anos, a Ucrânia viveu basicamente escravizada por vários oligarcas que fecharam negócio bem simples com o ocidente: vocês nos apoiam e nós apoiamos vocês.

Resultado disso, os líderes ocidentais e a imprensa-empresa “não perceberam” que todos os políticos ucranianos são corruptos até a medula, inclusive Ianukovich e Tymoshenko; que – diferente da Rússia, e ao contrário do que diz a propaganda anglo-sionista – as desavenças políticas na Ucrânia foram muitas vezes decididas por assassinatos encomendados; que a plutocracia ucraniana estava, literalmente, saqueando toda a riqueza da Ucrânia (“toda”, aí, significa literalmente tudo). Até que a muitíssimo rica Ucrânia ficou miseravelmente pobre e sem recursos e riqueza para pilhar, e a crise tornou-se visível, e todos viram.

Além da pilhagem de recursos e riqueza, outra grande ‘realização’ dos oligarcas ucranianos foi a total subordinação do estado e de seus instrumentos às necessidades dos oligarcas: Para eles, o próprio estado tornou-se instrumento de poder e influência. Por exemplo, o serviço de segurança ucraniano SBU (ex-KGB) passou todo o tempo e consumiu todos os seus recursos, envolvidos nas lutas de poder entre vários oligarcas e suas bases de poder. Resultado disso, SBU, em 22 anos, não capturou nenhum espião estrangeiro! Para piorar, o SBU foi comandado, de fato, a partir da base local da CIA-EUA. Essa total destruição do próprio aparelho do estado teve, ela mesma, papel chave nos eventos desse inverno e ainda é fator central na situação em campo: para todos os propósitos práticos, não existe “estado ucraniano”.
Os euroburocratas e o Tio Sam entram na dança
Foi nesse quadro de colapso total da Ucrânia como estado e como nação, que a União Europeia decidiu entrar com sua jogada: ofereceu à Ucrânia uma associação com a União Europeia. Tio Sam amou a ideia, especialmente porque incluía um capítulo político para conduzir a política externa e de segurança da Ucrânia pela pauta da União Europeia. Essa ideia de uma Ucrânia comandada pela União Europeia também tinha grande apelo aos olhos dos EUA, que acreditavam que a Ucrânia seria chave para as sempre pressupostas ambições imperiais da Rússia. Além do mais, a Casa Branca sabia que, se a Ucrânia fosse governada pela União Europeia, e a União Europeia governada pelos EUA (como sempre foi), então a Ucrânia seria governada pelos EUA. E o ocidente pôs-se a balançar uma grande cenoura no nariz do povo ucraniano: “façam uma escolha civilizacional”[4] e unam-se à União Europeia e fiquem ricos, saudáveis e felizes. Quanto à Rússia, nada tem a opinar: a Ucrânia é estado soberano”.

Para milhões de ucranianos empobrecidos e explorados, foi como sonho que se realiza: não apenas se tornariam milagrosamente ricos e felizes como supõe-se que os europeus sejam (só na propaganda, mas... xáprálá), como, além disso, afinal se livrariam da maldita gangue de corruptos que estavam no poder. E os oligarcas ucranianos também gostaram muito da ideia: poderiam continuar a explorar a Ucrânia e seu povo, desde que se posicionassem contra a Rússia; para eles nem foi difícil, porque os oligarcas ucranianos têm medo pânico de Putin e muito mais, sim, da ideia de um “Putin ucraniano”.
A grande explosão
Há um ditado que diz que se você está com a cabeça enterrada na areia, está com o traseiro ao vento e, de fato, a realidade voltou para morder o traseiro dos ucranianos numa estranha vingança: o país estava quebrado, arruinado, a apenas duas semanas de ter de declarar um calote, e o único lugar onde poderiam encontrar dinheiro que evitasse o colapso final era a Rússia. Mas os russos impuseram uma condição para ajudá-los: nada de associarem-se com a União Europeia, porque a Rússia não podia ter um livre mercado com a Ucrânia ao mesmo tempo em que a Ucrânia abrisse seu mercado aos bens e serviços da União Europeia (não foi nenhum ‘plano maquiavélico’ urdido por Putin, mas simples e óbvia necessidade, compreensível por qualquer um que tenha tido nota 5 em qualquer curso de “Economia 1”). Nesse ponto, Yanukovich fez seu giro repentino de 180º, que sinceramente confundiu muitos ucranianos e pediu socorro a Moscou. E abriram-se as portas do inferno: ucranianos ultrajados tomaram as ruas, querendo saber por que lhe fora negado seu sonho de prosperidade. Os EUA também  entraram em pânico – se permitissem que a Rússia salvasse a Ucrânia, a Rússia fatalmente controlaria o país: “Se você paga, você manda” – ensina a lógica norte-americana.

Então, os EUA entraram com sua maior arma: os “Talibã ucranianos”, também conhecidos como “Setor Direita”, Partido Liberdade (Svoboda, ex-Partido Social-Nacionalista) e suas falanges de bandidos neonazistas. O surgimento repentino de Banderistas[5] e outros neonazistas assustaram tanto os falantes de russo que, enquanto os doidos do novo regime revolucionários estavam ocupadíssimos proibindo o idioma russo e descriminalizando a propaganda nazista, a Crimeia separou-se do restante da Ucrânia, no momento em que a Ucrânia entrou num período de completo caos e nenhuma lei.

Todos sabemos o que aconteceu a partir daí e não é preciso repetir. Podemos agora considerar os mesmos eventos do ponto de vista da política interna da Rússia e o seu provável impacto global.
A visão de Moscou
A primeira coisa a dizer aqui é que a popularidade de Putin alcançou novos píncaros: está hoje em 71,6%, e, isso, apesar de ter havido poucos progressos no front anticorrupção, progresso zero na muito necessária reforma do sistema judicial, e com a economia russa entrando em tempos difíceis. Mesmo assim, apesar dos muitos problemas ainda não resolvidos que a Rússia enfrenta – Putin é hoje homem impossível de atacar, dado que se posicionou como o presidente que salvou a Crimeia e, é possível, até a Rússia (adiante, mais sobre isso).

O segundo efeito dramático dos eventos na Ucrânia é que polarizaram ainda mais a sociedade russa. Não estou dizendo que seja justo, mas o fato é que hoje os políticos russos têm de escolher. Têm de se posicionar:

1) ou são verdadeiros patriotas russos que apoiam Putin, a reintegração da Crimeia, a política russa de defender o país contra o ocidente,

2) ou alinham-se com os “liberais” russos, que são russofóbicos, comprados e pagos pelos EUA, nada além de uma “5ª coluna”[6] (expressão que Putin já usou), pró-capitalistas, pró-OTAN e até pró-nazistas (lembrem que, agora, o ocidente já está declaradamente apoiando os nazistas na Ucrânia!).

Desnecessário dizer, todos os políticos russos estão se atropelando uns os outros para mostra que pertencem, firmemente, ao Grupo 1, acima. Até Sergei Mironov, presidente do Partido “Só Rússia” e último líder da oposição “real” que restava no Parlamente, já assumiu a liderança da ajuda à Crimeia (o que lhe valeu aparecer incluído na lista de sanções dos EUA e União Europeia). Os que não fizeram o mesmo são cachorro morto.

O mais confiável de todos, Alexei Navalnyi,[7] o único líder de oposição não associado ao regime de Ieltsin dos anos 1990s, escreveu artigo no NYT intitulado “Como castigar Putin”,[8] no qual chega a oferecer uma lista de nomes que os EUA devem punir. No atual clima político na Rússia é praticamente suicídio político e a carreira política de Navalnyi está acabada. É provável que emigre para Londres ou para os EUA.

Mas o maior resultado da crise na Ucrânia foi ter posto Rússia e EUA em rota aberta de colisão.

Vistos os eventos do ponto de vista da Rússia, eis o que o ocidente fez:

1)   organizou um golpe armado ilegal;
2)   derrubou um governo legítimo (embora corrupto)
3)   apoiou neonazistas
4)   pôs suas políticas anti-Rússia acima dos valores democráticos
5)   pôs suas políticas anti-Rússia acima do direito à autodeterminação
6)   recusou-se a reconhecer o desejo do povo russo na Crimeia
7)   recusou-se a reconhecer o desejo dos falantes de russo na Ucrânia
8)   puniu a Rússia com sanções (só simbólicas, porque não pôde fazer mais)
9)   só não interveio militarmente porque se acovardou ante a força militar russa
10) ativou pesadamente o mundo, na ONU, contra a Rússia.

Nesse quadro – que chance têm os Atlanticistas Integracionistas de obter qualquer apoio para suas políticas? Claramente: nenhuma.

Não só isso, mas, mais que isso, as sanções usadas pelo ocidente permitiram a Putin fazer o que jamais antes conseguira: assustar os russos e espantá-los para bem longe dos bancos ocidentais (ou correm para as off-shores ou para os bancos russos); criar um sistema russo de tipo SWIFT,[9] de pagamento interbancário; facilitar os esforços para exportar mais gás para a China e o resto da Ásia; diminuir a participação dos russos em corpos nos quais os EUA mandam, como o G8 ou a OTAN; forçar a Rússia a deslocar mais capacidades militares, e mais poderosas, para as fronteiras ocidentais (pôr Iskanders[10] em Kaliningrad, Tu-22M3s [11] na Crimeia); reduzir o turismo russo para o exterior e direcioná-lo para dentro da própria Rússia. E afinal, mas não menos importante, reduzir ainda mais o uso do dólar norte-americano pelos russos.[12] Tudo isso é como sonho realizado para economistas como Glazyev[13] ou políticos como Rogozin,[14] que muito trabalharam a favor dessas medidas, há muitos anos, mas cujos conselhos Putin teve de ignorar, para não se expor ao contra-ataque dos Atlanticistas Integracionistas. Agora, há conversas ainda mais sérias que essas, na Rússia, sobre o país retirar-se de muitos tratados militares chaves (estratégicos nucleares, estratégicos convencionais, de supervisão nuclear, etc.) ou até da Organização Mundial do Comércio (pouco provável).

Agora se tornou extremamente fácil para Putin demitir qualquer um, sob o argumento de que alguém não esteja efetivamente implementando as decisões do presidente. Agora, todos sabem que todo e qualquer Atlanticista Integracionista está exposto ao risco de ser sumariamente descartado. Na verdade, é preciso dizer que Barak Obama ajudou Putin imensamente e que, graças à política absolutamente ensandecida dos EUA na Ucrânia, a posição dos Atlanticistas Integracionistas (em geral, pró-EUA) foi destruída e assim permanecerá por muitos e muitos anos.

Piadinha contada pela primeira vez na TV russa, pelo (é quase inacreditável, mas é verdade) porta-voz da Comissão Russa de Investigação (uma espécie de “FBI russo”, pode-se dizer), personagem não conhecido pelo senso de humor, está hoje, já, nas ruas. É a seguinte:

Barack Obama boicotou os Jogos de Sochi e não apareceu – e os russos saímos de lá cobertos de medalhas, nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. Obrigado, camarada Obama!

Obama depois apoiou muito os extremistas da Junta em Kiev – e a Crimeia voltou correndo para nós. Obrigado, Camarada Obama!

Obama impôs sanções contra os malditos oligarcas – e o dinheiro deles voltou, do Ocidente, onde estava, para a Rússia. Obrigado, Camarada Obama!

Agora, quer dizer... Se pudermos pedir mais uma coisinha... Camarada Obama! Consiga para nós a Copa do Mundo, aquela, a do Brasil, plízzz...
 [pano rápido]

Piadas à parte, há muita verdade nessa piada: quanto mais os EUA tentam maximizar as apostas para esmagar a Rússia, mais forte a Rússia fica, e mais forte fica Putin, na Rússia.

Quanto aos poucos fracos ativistas pró-EUA deixados na Rússia, a situação deles é desesperadora: ao longo de anos tiveram de reagir contra acusações de terem sido parceiros nos horrores do regime de Ieltsin nos anos 1990s, e agora, a esse legado terrível, têm de somar o peso das acusações de serem “pró-Banderastão”. Sinceramente: que tratem de fazer as malas e partir para o ocidente. Na Rússia, estão acabados.
O que significa isso, para o resto do mundo?
Várias vezes escrevi sobre a luta oculta entre os Atlanticistas Integracionistas e os Eurasianos Soberanistas como luta “interna” ou “por trás das cortinas”, o que era verdade, no geral, até agora.

Os eventos na Ucrânia mudaram isso, e o tipo de questões às quais os Eurasianos Soberanistas até agora só aludiam em termos mais ou menos oblíquos, já são abertamente discutidas pela TV russa: como coexistir com um ocidente histericamente anti-Rússia e abertamente pró-nazistas? Como reduzir a participação russa no – e a dependência russa do – sistema financeiro internacional controlado por anglo-sionistas? Que tipo de medidas tomas para assegurar que EUA e OTAN jamais tenham opção militar viável? Como lidar com a “5a. Coluna interna” dentro da Rússia, para evitar uma “Maidan em Moscou”? Como lidar com o tipo de organizações subversivas patrocinadas pelos EUA (como NED, Carnegie, etc.) que ainda operam na Rússia? Como garantir que nenhum governo pervertidamente anti-Rússia sobreviva economicamente e socialmente em Kiev? Etc.

Pessoalmente, acho que o “parecer Nuland”[15] deva ser aplicado, não à União Europeia, mas aos EUA. E isso significa uma nova Guerra Fria?

Ah, sim. Podem apostar que sim, significa!

Mas é preciso dizer já, imediatamente, que essa nova Guerra Fria é completamente, inteiramente, 100%, invenção dos EUA e o que a Rússia fez foi, apenas, aceitar a nova realidade e operar dentro dela. Nem Putin nem ninguém na Rússia jamais quis essa nova Guerra Fria. Ela lhes foi unilateralmente imposta pelos EUA e suas colônias na União Europeia já há 20 anos ou mais.

Pensem bem: a verdadeira principal razão pela qual EUA e União Europeia não estão impondo nenhuma sanção realmente significa tica à Rússia é que já fizeram isso no passado e, hoje, já não há o que impor além de sanções que ferirão o ocidente, tanto quanto e provavelmente mais, que a Rússia. O mesmo vale para a chamada “imagem internacional da Rússia”. Alguém esqueceu os ditos idiotas e canalhas sistematicamente repetidos e promovidos como mantras pela imprensa-empresa de propaganda ocidental sobre a Rússia antes da crise na Ucrânia? Listei algumas, de meu artigo anterior sobre o tema:

– Berezovsky apresentado como empresário “processado”
– Politkovskaya “assassinada pelos assassinos da KGB”
– Khodorkovsky na cadeia, por amar a “liberdade”
– A “agressão” da Rússia contra a Georgia
– As guerras “genocidas” dos russos contra o povo checheno
– “Pussy Riot” [Agito das Bucetas] como “prisioneiras de consciência”
– Litvinenko “assassinado por Putin”
– Homossexuais russos “perseguidos” e “maltratados” pelo estado
– Magnitsky e, na sequência, a “Lei Magnitsky”
– Snowden como “traidor escondido na Rússia”
– “Eleições roubadas” para a Duma e para a presidência
– A “Revolução Branca” na praça Bolotnaya
– O “novo Sakharov” (Alexei Navalnyi)
– O “apoio da Rússia” a “Assad, o “açougueiro (químico) de Bagdá”
– A constante “intervenção dos russos” em assuntos da Ucrânia
– O “total controle”, pelo Kremlin, sobre a mídia russa

Diria que a lista já está longa que chegue, e que ninguém na Rússia precisa se preocupar, porque nada que o Kremlin venha a fazer doravante poderá ser pior que isso. E em vez de fazerem guerra à Rússia, fizeram guerra ao Iraque, ao Afeganistão, ao Paquistão, à Bósnia, à Croácia, ao Kosovo, à Líbia, à Síria – os EUA inflaram o mais que puderam suas políticas anti-Rússia, e fato é que não obtiveram grande coisa.

Como se diz de pequena porção de mal, insuficiente para realmente ferir você? Nietzsche diria que o que não me destrói me fortalece. A medicina moderna fala de imunização. As palavras não importam aqui, só o fenômeno: EUA e União Europeia infligiram dor considerável à Rússia, sim, mas não suficiente para quebrá-la, e por consequência direta disso, a Rússia recebeu poderosa dose de “imunização anti-anglo-sionista, que a fará mais forte do que antes.

E essa é boa notícia para todos.

Para melhor ou para pior, a Rússia é objetivamente líder incontestável da resistência mundial contra o Império Anglo-sionista. Sim, a economia chinesa é muito maior, mas o exército chinesa não é, e a China depende crucialmente da Rússia para energia, armas e alta tecnologia. Creio firmemente que, inevitavelmente, a China assumirá a liderança na luta contra o Império Anglo-sionista, mas não é para já: a China precisa de mais tempo.

O Irã é, definitivamente, o país que há mais tempo, foi o primeiro, a abertamente desafiar os anglo-sionistas (além de Cuba e da República Popular Democrática da Coreia, mas são países muito fracos), e as ambições do Irã são primariamente regionais (o que, sim, é sinal de sabedoria da liderança iraniana).

Quanto ao Hezbollah, é, na minha avaliação, o líder moral da Resistência mundial, não só por seus feitos militares realmente fenomenais, mas, principalmente, pela disposição para lutar completamente sozinhos, se necessário. Mas ser um farol moral não implica ser capaz de desafiar globalmente o Império. Rússia, China, Irã e o  Hezbollah são o que eu chamaria, parafraseando Dábliu Bush, o “Eixo da Resistência ao Império”, e a Rússia tem o papel chave nessa forte, embora informal, aliança.

A outra parte do mundo onde “isso” está acontecendo é, é claro, a América Latina, mas a recente votação na Assembleia Geral da ONU mostrou que Bolívia, Venezuela, Nicarágua e Cuba são os únicos países latino-americanos que ousaram desafiar abertamente a hegemonia dos EUA (e, na Venezuela, hoje, o regime luta pela própria sobrevivência). Vê-se que, embora a América Latina tenha enorme potencial, ele está longe de realizar-se, pelo menos nesse ponto do tempo. 
Conclusão
Uma Nova Guerra Fria começou a ser construída no minuto em que a Guerra Fria de antes foi oficialmente encerrada. Assim, só se pode receber como bem vinda a nova realidade introduzida pela crise na Ucrânia: agora, a Rússia aceitou abertamente o desafio dos EUA, e todas as encenações de alguma espécie de parceria estratégica EUA-Rússia são passado remoto.

Quanto à União Europeia, teve papel tão vergonhoso e desgraçado, que será tratada pela Rússia como merece ser tratada: como protetorado submisso dos EUA, sem políticas nem ideias próprias. Agora, aquela falsa “parceria” foi afinal desmascarada, e podemos esperar uma Rússia mais assertiva, se não confrontacional, no cenário internacional.

Evidentemente, não estou dizendo que Putin pôr-se-á a bater com o próprio sapato na bancada da ONU, como se diz que Krushchev teria feito, nem Putin ameaça “enterrar” o ocidente. Putin, Lavrov e Churkin são estadistas e diplomatas e manter-se-ão impecavelmente elegantes. Mas podem esperar muitos mais votos “não” na ONU e muitos mais “lamentamos, mas, não” em questões bilaterais.

O grande beneficiário dessa nova Guerra Fria será o Irã, é claro, mas também a China.  Não apenas Irã e China provavelmente obterão as armas de que tanto precisam (S-300 e Su-35 respectivamente). A China também obterá excelentes bons negócios nos preços da energia russa (os chineses são suficientemente espertos para não tentar superexplorar essa nova situação; farão tudo “na medida certa”). Síria e Hezbollah terão mais dinheiro, mais armas e mais apoio político. Países que eventualmente aspirem a tornar-se membros do “Eixo da Resistência contra o Império” terão mais ajuda financeira e política (Cuba, Nicarágua, Bolívia e, especialmente, a Venezuela precisam de toda a ajuda que possam obter); e o mesmo se diga de países mais ou menos pragmáticos que não se venderam completamente aos EUA (os países BRICS, claro, mas também países menores como Argentina, Iraque, Afeganistão, Paquistão e todos os demais que se abstiveram naquela infame votação na ONU, recentemente). Ninguém tampouco deve subestimar a importância da assistência que a China pode dar a esses países ou todos os benefícios que esses países podem obter da cooperação com os demais países BRICS.

Quanto à União Europeia, terá o gás que comprar e pagar, e terá de lidar com as ondas de pós-choque econômico de seu envolvimento na crise ucraniana: terá de manter à tona a economia ucraniana, com o queixo acima d’água, pelo menos, e terá de lidar com o inevitável fluxo de refugiados econômicos; além de caber-lhe o duvidoso prazer de resolver o problema dos “Talibã ucranianos”, hoje soltos sem rédea no Banderastão lá deles. A União Europeia terá de lidar com tudo isso sob o alto patrocínio de EUA que mal consegue disfarçar o desprezo pela Europa, ou que, como no caso Nuland, já nem se dá ao trabalho de disfarçar coisa alguma.

O Tio Sam – que queima sempre tudo em que põe a mão, terá de fazer exatamente isso no seu Banderastão: convertê-lo num Kosovo maior – grande dor para seus vizinhos, e quintal que a máquina militar norte-americana poderá usar a seu bel prazer. Mas, diferente do Kosovo, a Ucrânia fatalmente se partirá em mil pedaços, de um modo ou de outro, embora a ficção de estado funcional possa ser mantida por longo tempo. Especialmente se houver consenso entre as plutocracias que governam o ocidente, de que a forma sempre conta mais que a substância, enquanto se mantiver a aparência de um estado ucraniano unitário, tudo bem.

Francamente, e sem intenção de ofender nenhum ucraniano nacionalista que me leia, o Tio Sam tem peixe muito maior na frigideira, e não se ocupará de problemas de um “Kosovo versão 2” na Europa Central.

As linhas que esbocei acima são, é claro, apenas tendências gerais. Haverá alguns "zigs" e alguns "zags" nesse processo, mas, exceto por algum grande evento imprevisível, esse é, me parece o rumo que as coisas tomarão. Sim, haverá uma eleição presidencial a ser disputada em condições grotescas, um oligarca completamente corrupto como Poroshenko comprará a própria vitória, enquanto os regime de Kiev apoiado pelos EUA e os “Talibã ucranianos” acertam as contas e matam-se entre eles. O mais provável é que a Rússia não intervenha militarmente, a menos que a situação vire loucura absolutamente total. Haverá, mais provavelmente, alguma espécie de acordo EUA-Rússia; e o leste da Ucrânia tentará achar meio de fazer mais dinheiro com a Rússia. A Crimeia viverá um boom econômico sem precedentes, que atrairá muita atenção na falida Ucrânia, que estará desesperada para obter qualquer pequena porção da catarata de financiamentos de que a Crimeia se beneficiará. Como se diz, “dinheiro conversa com dinheiro”.

Quanto a Obama, entrará para a história como o pior presidente dos EUA em todos os tempos. Exceto o seguinte, claro.
 




Poussée de tension dans l’est de l’Ukraine


mediaDes militants pro-russes à l'extérieur du siège de l'administration locale de la région est, Kharkiv, 7 avril 2014.REUTERS/Stringer
    Plusieurs bâtiments officiels sont occupés depuis dimanche par des séparatistes pro-russes dans plusieurs villes de la région russophone du pays, notamment à Donetsk, fief du président déchu Ianoukovitch où des militants pro-russes réclament un référendum d’autodétermination. Après une réponse très mesurée, les autorités de Kiev multiplient les efforts pour tenter de ramener le calme dans cette région, qui semble peu à peu leur échapper.
    Ecoutez le reportage de notre envoyé spécial à Kharkiv, devant le bâtiment de l'administration régionale07/04/2014 - par Sébastien GobertÉcouter
    Les autorités de Kiev semblent avoir été prises de court par ces attaques menées dans cette région orientale, dans laquelle aucun des hauts responsables ukrainiens ne s’était rendu, depuis le renversement de pouvoir à Kiev. A Lougansk, des manifestants se sont emparés d'armes dans l'immeuble des services locaux de la sécurité nationale. A Donetsk, la police n’a quasiment pas résisté, ce dimanche, laissant des jeunes gens encagoulés, en tenue de sport, s’emparer du siège de l’administration locale. Selon l'Agence France Presse les manifestants demandent la tenue un référendum sur la création d'une République de Donetsk d'ici au 11 mai.
    Après plusieurs heures de flottement, les autorités de Kiev tentent ce lundi de reprendre la main, en convoquant en urgence un conseil de sécurité. Mais, leur marge de manœuvre est limitée. L’usage de la force contre les manifestants pourrait facilement se retourner contre le pouvoir, voire fournir un prétexte pour une intervention des troupes russes.
    Le spectre d'une intervention russe
    C’est d’ailleurs ce que dénonce sans détours le Premier ministre ukrainien : « Ces incidents font partie d'un plan pour déstabiliser le pays, pour qu'une armée étrangère passe la frontière et envahisse le territoire ukrainien, ce que nous ne permettrons pas », a affirmé Arseni Iatseniuk. «Je suis persuadé que les habitants de Donetsk, Lougansk et Kharkiv veulent vivre dans un pays uni et dont l'intégrité territoriale est préservée. Tous les appels fantaisistes à une fédéralisation sont une tentative de détruire l'Etat ukrainien. C’est un scénario qui a été écrit en Russie, et dont le seul but est le démembrement, la destruction de l'Ukraine… il s’agit de rendre le territoire ukrainien esclave du diktat de la Fédération de Russie » a ajouté le Premier ministre ukrainienqui pourrait se rendre dans la journée dans les régions troublées.
    Le ministre de l'Intérieur se trouve lui, déjà à Kharkiv. Sur sa page Facebook, Arsen Avakov affirme que le bâtiment de l'administration régionale de la ville a été totalement libéré des séparatistes. Ce qui n’est pas le cas à Donetsk, où a été dépêché le vice-Premier ministre chargé des questions de sécurité, Vitali Iarem et où est attendue la candidate à la présidentielle Ioulia Timochenko.