"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Tribunal suspende resultados de eleições presidenciais, mas não tomada de posse de Ianukovitch

darussia.blogspot.com - 18 fev 10



O Tribunal Administrativo Supremo da Ucrânia suspendeu a decisão da Comissão Eleitoral Central de reconhecer os resultados das presidenciais até que seja tomada uma decisão sobre a queixa de Iúlia Timochenko.

A segunda volta das eleições presidenciais na Ucrânia teve lugar no passado 07 de Fevereiro. Segundo dados da CEC, Victor Ianukovitch, dirigente do Partido das Regiões, conseguiu 48,95 por cento, enquanto a sua rival, a primeira-ministra, Iúlia Timochenko, obteve 45,7 por cento.

Na véspera, Timochenko, apresentou pessoalmente uma demanda judicial no Tribunal Administrativo da república, em que contesta os resultados das recentes eleições presidenciais.

No entanto, o Tribunal recusou-se a satisfazer o pedido da candidata derrotada de suspender a tomada de posse de Ianukovitch, marcada para 25 de Fevereiro pela Rada Suprema (Parlamento) da Ucrânia.

Os juízes consideraram que Ianukovitch não é arguido e, por isso, não pode proibi-lo de realizar esse acto.
Segundo os advogados ucranianos, o Tribunal Administrativo Supremo da Ucrânia poderá levar de dois a três dias a ditar sentença.

Moscovo acorda instalação de base militar na Abkhásia

darussia.blogspot.com - 18 fev 10



A Rússia e a Abkhásia assinaram hoje dez acordos de cooperação, entre os quais um sobre a instalação de uma base militar russa no território dessa região separatista da Geórgia.

“Trata-se apenas do início do trabalho”, declarou o Presidente russo, Dmitri Medvedev, depois do encontro com o seu homólogo abkhase, Serguei Bagapcha, no Kremlin.

Segundo ele, as direcções fundamentais da cooperação entre as duas partes são “transportes, comunicações, grandes projetos energéticos e cooperação técnico-militar”.

O acordo sobre a instalação da base militar russa, que foi assinado por 49 anos com a possibilidade de prolongamento automático por mais 15, define o estatuto dos militares russos e suas famílias na Abkhásia, o funcionamento da base e a utilização conjunta dela “para a defesa da soberania e segurança da Ankhásia, incluindo o combate a grupos terroristas internacionais”.

A Abkhásia proclamou a independência em relação à Geórgia em Setembro de 2009, depois de uma breve guerra em que tropas russas entraram em território georgiano a pretexto da defesa dos seus cidadãos.

Ao comentar os documentos assinados, Medvedev declarou: “eles correspondem às nossas conceções sobre o desenvolvimento da cooperação com a Abkhásia. Estão de acordo com os nossos compromissos internacionais”.

“O principal é que eles lançam a base para o desenvolvimento pacífico da Abkhásia enquanto Estado independente”, acrescentou.

Dmitri Medvedev aproveitou a oportunidade para reafirmar que o seu colega georgiano, Mikhail Saakachvili, é “persona non grata na Rússia”, precisando: “não desejo ter qualquer tipo de relação com ele”.

“O povo georgiano deve, no quadro dos processos constitucionais existentes, decidir quem deve governo o Estado e quem é capaz de levar a Geórgia ao progresso e às relações de amizade normais com os vizinhos: Rússia e Abkhásia”, concluiu.

Chefia militar russa previne Estados Unidos de ataque contra Irão



As consequências de uma possível decisão dos Estados Unidos de atacar o Irão “serão terríveis”, declarou hoje o general Nikolai Makarov, chefe do EMGFA da Rússia.

O general russo não exclui que Washington possa virar a sua atenção para o Irão depois de resolver as tarefas colocadas no Iraque e no Afeganistão.

“Penso que as consequências (do ataque) serão terríveis não só para o Irão, mas também para nós e para toda a comunidade da Ásia e do Pacífico”, afirmou o general numa conferência de imprensa.

Makarov recordou que a Rússia e o Irão mantêm relações e laços tradicionais de aliados em diferentes áreas.

O general Makarov mostrou preocupação face aos planos de alargamento do sistema de defesa antimíssil dos Estados Unidos na Europa Oriental, ao mesmo tempo que a Rússia reduz seus meios e força militares na região de Kalininegrado, enclave russo no Báltico.

Segundo ele, em 2008-2009, a Rússia retirou da região mais de 600 tanques, 500 blindados e cerca de 600 tipos de canhões e lança-mísseis.

“Realizámos a desmilitarização da região”, sublinhou.

“Tendo em conta essas circunstâncias, os planos norte-americanos provocam incondicionalmente certas emoções tanto na direção da Rússia, como nas suas Forças Armadas. A nossa posição face a isso é negativa”, disse, ao responder à pergunta de qual é a sua opinião sobre os planos norte-americanos sobre a instalação do terceiro círculo de defesa antimíssil na Europa.

Os Estados Unidos planeavam instalar elementos desse sistema na República Checa e na Polónia, mas o Presidente Barack Obama, em Setembro de 2009, anunciou alterações a esse plano.

Depois, a Roménia e a Bulgária ofereceram os seus territórios para a instalação desses elementos, decisão mal recebida por Moscovo.

O general Nikolai Makarov defendeu a aquisição de porta-helicópteros da classe Mistral a França.

Os navios deste tipo “são multifuncionais e superam três vezes os nossos vasos em todas as características”, afirmou, acrescentando que “a indústria naval russa será capaz de fabricar navios semelhantes apenas dentro de 5 a 10 anos”.

Simon: a Justiça está na UTI

Conversa Afiada - 18/fevereiro/2010 12:21

Pedro Simon defendeu Fausto De Sanctis em seu pronunciamento

Pedro Simon defendeu Fausto De Sanctis em seu pronunciamento

O Conversa Afiada reproduz o pronunciamento análise do Senador Pedro Simon sobre as atuações da Polícia Federal e o caso Satiagraha:

17/02/2010 – 19h22
Pedro Simon analisa desempenho do Judiciário em relação a operações da Polícia Federal Esta matéria contém recursos multimídia

Clique aqui para ler a íntegra do discurso.

Aqui para ouvir o discurso.

E aqui para ver o vídeo.

Em discurso nesta quarta-feira (17), o senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez uma análise da atuação do Judiciário brasileiro em relação a operações da Polícia Federal. Para ele, decisões de tribunais superiores entraram em choque com decisões de primeira instância tanto na Operação Satiagraha quanto na Operação Castelo de Areia.

Simon leu o artigo “A Justiça na UTI”, de autoria da procuradora Janice Ascari, publicado pelo jornal Folha de S.Paulo em 24 de dezembro do ano passado, onde ela examina os desdobramentos jurídicos da Operação Satiagraha. Para a procuradora, “após sucessivas intervenções jurídicas incomuns” as investigações sobre “um dos mais escabrosos casos de corrupção” do Brasil foram prejudicadas. Na opinião dela, leu Simon, a Satiagraha surpreendeu o país devido às “manifestações de autoridades e de instituições públicas e privadas em defesa dos investigados”.

- Dos casos sob a responsabilidade do juiz Fausto De Sanctis, o mais conhecido, sem dúvida, é a Operação Satiagraha. Mas há outros dois casos igualmente intrincados e que envolvem pessoas poderosas. A Operação Satiagraha tem como principal acusado o senhor Daniel Dantas, badalado banqueiro, nacionalmente famoso depois que obteve do Supremo dois habeas corpus quase simultâneos que o livraram da cadeia, onde se encontrava por ordem do magistrado acima citado – acrescentou Simon.

“Nunca se viu tamanho massacre contra os responsáveis pela investigação e julgamento do caso. Em vez do apoio à rigorosa apuração e punição, buscou-se desacreditar e desqualificar a investigação criminal colocando em xeque, com ataques vis e informações orquestradas e falaciosas, o sério trabalho conjunto do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, bem como a atuação da Justiça Federal”, afirma a procuradora Janice Ascari no artigo, lido por Simon.

O senador também lembrou que liminares do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), lançadas no fim do ano passado, “podem invalidar as investigações da Satiagraha”, pois suspenderam ações e invalidaram provas da operação.

Outro caso também a cargo do juiz Fausto De Sanctis, acrescentou Simon, foi proveniente da Operação Castelo de Areia da Polícia Federal, que investigou doações da Camargo Corrêa a políticos de diversos partidos.

- No processo da operação Castelo de Areia a investigação do juiz De Sanctis foi suspensa em pleno recesso da Justiça, agora em janeiro, pelo Superior Tribunal de Justiça que aceitou as alegações dos advogados da empresa no sentido de que a investigação teria sido iniciada ilegalmente por quebra de sigilo telefônico em decorrência de denúncia anônima – disse Simon.

O senador voltou a comentar a Operação Satiagraha ao lembrar que o juiz De Sanctis determinou a prisão de Daniel Dantas duas vezes e, nas duas oportunidades, o banqueiro foi beneficiado por decisão do presidente do STF.

- Ali eu me perguntei: será que em outros países é assim, será que na França, nos Estados Unidos, um ministro da Corte Suprema revoga a decisão de um juiz e dá em seguida declarações bombásticas quanto a esse mesmo magistrado? O problema, em poucas palavras, é o seguinte: estarão as decisões dos Tribunais Superiores brasileiros travando investigações contra poderosos, ao mesmo tempo em que desprestigiam policiais competentes, humilham magistrados inflexíveis? – questionou Simon.

Em aparte, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) elogiou e apoiou o pronunciamento do colega gaúcho.

Da Agência Senado.

Chomsky: A compra direta das eleições

Site do Azenha - Atualizado em 18 de fevereiro de 2010 às 13:22 | Publicado em 18 de fevereiro de 2010 às 13:20

A apropriação da democracia dos EUA pelas empresas

16-Feb-2010

Com a decisão do Supremo Tribunal dos EUA de 21 de Janeiro deste ano, os gestores das empresas podem passar a comprar eleições directamente.

Por Noam Chomsky, na Esquerda.Net

O dia 21 de Janeiro de 2010 irá permanecer como um dia sombrio na história da democracia dos EUA e do seu declínio.

Nesse dia, o Supremo Tribunal dos EUA decidiu que o governo não poderá impedir as empresas de fazer gastos políticos nas eleições - uma decisão que afecta profundamente a política governamental, quer interna quer externa.

A decisão marca ainda mais a apropriação pelas empresas do sistema político dos EUA. Para os editores do The New York Times, a decisão "atinge o coração da democracia" tendo "aberto caminho para as empresas usarem as suas vastas tesourarias para dominar as eleições e pressionar os políticos eleitos a cumprir as suas ordens."

O Tribunal estava dividido, 5-4, com os quatro juízes reaccionários (erradamente designados "conservadores") a receber o apoio do Juiz Anthony M. Kennedy. O Presidente do Supremo, John G. Roberts Jr., escolheu um caso que poderia ter sido facilmente resolvido em esferas mais baixas e manobrou o tribunal, usando-o para impor uma decisão de grande alcance, que derruba um século de precedentes restringindo as contribuições das empresas para campanhas federais.

Agora, os gestores das empresas podem efectivamente comprar eleições directamente, ultrapassando meios indirectos mais complexos. É bem sabido que as contribuições das empresas, embrulhadas por vezes em formas complexas, podem inclinar a balança nas eleições, conduzindo dessa forma a política. O tribunal acabou de atribuir muito mais poder ao pequeno sector da população que domina a economia.

A "teoria do investimento político" do economista político Thomas Ferguson é um prognóstico bastante eficaz da política do governo durante um longo período. A teoria interpreta as eleições como ocasiões em que segmentos do poder do sector privado se unem para investir no controlo do Estado.

A decisão de 21 de Janeiro apenas reforça os meios para minar o funcionamento da democracia.

O contexto é esclarecedor. No seu voto de vencido, o juiz John Paul Stevens reconheceu que "há muito que sustentamos a ideia de que as empresas estão cobertas pela Primeira Emenda" - a garantia constitucional da liberdade de expressão, que incluiria o apoio aos candidatos políticos.

No início do século XX, os teóricos de Direito e os tribunais implementaram a decisão do tribunal de 1886 pela qual as empresas - "estas entidades legais colectivistas" - têm os mesmos direitos que as pessoas de carne e osso.

Este ataque ao liberalismo clássico foi duramente condenado por uma espécie de conservadores em extinção. Christopher G. Tiedeman descreveu o princípio como "uma ameaça à liberdade do indivíduo e à estabilidade dos Estados norte-americanos enquanto governos populares."

Morton Horwitz escreve na sua história do Direito que o conceito de personalidade empresarial evoluiu paralelamente à mudança do poder dos accionistas para os gestores, e finalmente para a doutrina em que "os poderes do conselho de administração são idênticos aos poderes da empresa." Anos mais tarde, os direitos das empresas foram expandidos muito além das pessoas, nomeadamente pelos mal designados "acordos de livre comércio." Segundo esses acordos, por exemplo, se a General Motors instalar uma fábrica no México, pode exigir que seja tratada como qualquer negócio mexicano ("tratamento nacional") - ao contrário de um mexicano de carne e osso que procure "tratamento nacional" em Nova York, ou mesmo os direitos humanos mínimos.

Há um século atrás, Woodrow Wilson, na altura um académico, descreveu uma América na qual "grupos comparativamente pequenos de homens," gestores empresariais, "detêm um poder e controlo sobre a riqueza e as operações de negócios do país," tornando-se "rivais do próprio governo."

Na verdade, estes "pequenos grupos" tornaram-se cada vez mais os donos do governo. O tribunal de Roberts deu-lhes um alcance ainda maior.

A decisão de 21 de Janeiro chegou três dias depois de uma outra vitória para a riqueza e o poder: a eleição do candidato republicano Scott Brown para substituir o falecido senador Edward M. Kennedy, o "leão liberal" de Massachusetts. A eleição de Brown foi descrita como uma "vaga populista" contra as elites liberais que lideram o governo.

Os dados da votação revelam uma história bastante diferente.

Elevados índices de participação nos subúrbios ricos, e baixos nas áreas urbanas maioritariamente democratas, ajudaram a eleger Brown. "Cinquenta e cinco por cento dos eleitores republicanos afirmaram estar 'bastante interessados' na eleição", informou a sondagem do Wall St. Journal/NBC, "comparado com os 38% dos democratas."

Assim, os resultados foram de facto um acto de revolta contra as políticas do presidente Obama: para os ricos, ele não estava a fazer o suficiente para enriquecê-los ainda mais, enquanto que para os sectores mais pobres estava a fazer demasiado para atingir esse fim.

A irritação popular é bastante compreensível, dado que os bancos estão a prosperar, graças às ajudas do governo, enquanto o desemprego aumentou para 10%.

No sector industrial, uma em cada seis pessoas está desempregada - um desemprego ao nível da Grande Depressão. Com a financiarização crescente da economia e o esvaziamento da indústria produtiva, as perspectivas são sombrias para a recuperação dos empregos perdidos.

Brown apresentou-se a si mesmo como o 41º voto contra o sistema de saúde - ou seja, o voto que poderia minar a maioria do Senado dos EUA.

É verdade que o programa de cuidados de saúde de Obama foi um factor importante na eleição de Massachusetts. Os títulos dos jornais estão correctos quando se lê que a população está a voltar-se contra o programa.

As sondagens explicam porquê: o projecto de lei não vai suficientemente longe. A sondagem do Wall St. Journal/NBC demonstra que a maioria dos eleitores desaprova a forma como tanto os republicanos quanto Obama têm lidado com a reforma do sistema de saúde.

Estes números estão de acordo com as recentes sondagens nacionais. A opção do sistema público foi apoiada por 56% dos entrevistados, e a adesão ao Medicare aos 55 anos de idade foi apoiada por 64%; ambos os programas foram abandonados.

Oitenta e cinco por cento acreditam que o governo deveria ter o direito de negociar o preço dos medicamentos, como acontece noutros países; Obama garantiu à indústria farmacêutica que não irá seguir em frente com essa opção.

Largas maiorias são a favor da redução de custos, o que faz todo o sentido: os custos per capita dos EUA para o sistema de saúde são cerca do dobro relativamente a outros países industrializados, e os resultados da saúde estão a regredir.

Mas a redução de custos não pode ser levada a cabo seriamente quando as indústrias farmacêuticas são agraciadas, e o sistema de saúde está nas mãos das seguradoras privadas praticamente desreguladas - um sistema peculiar bastante caro aos E.U.A.

A decisão de 21 de Janeiro levanta novas barreiras significativas para ultrapassar a grave crise no sistema de saúde, ou para lidar com questões críticas como as ameaçadoras crises ambiental e energética. O hiato entre a opinião pública e a política pública avizinha-se crescente. E o prejuízo para a democracia norte-americana dificilmente pode ser sobrevalorizado.


Publicado em Znet

Traduzido por: Sara Vicente

Os desejos em tempos de pressa

Instituto Humanitas Unisinos - 18 fev 10

“A ética em um mundo de consumidores" é o novo livro de Zigmunt Bauman traduzido para o italiano. Nele, o pensador da “modernidade líquida” reflete sobre a ditadura do presente. O jornal italiano La Repubblica, 15-02-2010, publica um extrato do livro. A tradução é de Alessandra Gusatto.

Eis o texto.

Foi Stephen Bertman que cunhou o termo “cultura do momento” e “cultura da pressa” para definir o nosso modo de viver nesta sociedade.

São definições idôneas e que são extraordinariamente cômodas cada vez que procuramos apreender a natureza da condição humana líquido-moderna. A minha tese é de que tal condição se caracteriza principalmente pela sua tendência (um caso até aqui único) de renegociar o significado de tempo.

O tempo, na era líquido-moderna da sociedade de consumo, não é nem cíclico nem linear, como era normalmente para as outras sociedades conhecidas pela história moderna ou pré-moderna. Eu diria que do contrário é pontilhada, fragmentada em uma série de pedacinhos diferentes, cada um reduzido a um ponto que se assemelha sempre mais à sua idealização geométrica de não dimensionalidade. Como devem-se recordar, nas aulas de geometria os pontos não são longos, largos ou profundos: existem, se poderíamos dizer, antes do espaço e do tempo; isto se o espaço e o tempo ainda não começaram.

Mas como aquele único ponto, segundo as teorias cosmogônicas mais avançadas, precedia o Big Bang que deu início ao universo, presume-se que cada contenha um potencial infinito de expansão e uma infinidade de possibilidades que podem explodir se devidamente detonadas. E recordemos que no momento que precede precede a erupção do universo não se tinha nada que pudesse fornecer, ainda que um mínimo sintoma, de que estava chegando o momento do Big Bang.

Os cosmólogos dizem um monte de coisas sobre o que aconteceu nas primeiras frações de segundo depois do big bang; mas mantém um odioso silêncio sobre os segundos, os minutos, as horas, os dias, os anos ou os milênios anteriores. Cada ponto-tempo (mas não tem jeito de saber antecipadamente qual) poderia – conter em si a possibilidade de outro Big Bang, até se desta vez em uma escala bem mais modesta, de “universo individual”, e os pontos sucessivos continuariam a ser vistos como pontos que continham tal possibilidade, independentemente daquilo poder ter acontecido com os pontos anteriores.

Não obstante a experiência acumulada mostrar que a maior parte das possibilidades é normalmente prevista de maneira errada, negligenciada ou faltosa, a maior parte dos pontos se revela infrutífera e a maior parte da agitação morre ao nascer. Um mapa da vida pontilhada, se um dia fosse traçado, se assemelharia a um cemitério de possibilidades imaginárias ou irrealizadas. Ou, dependendo do ponto de vista, seria um cemitério de ocasiões perdidas: em um universo pontilhado, as taxas de mortalidade infantil e de gestações abortadas da esperança são muito elevadas.

É exatamente por está razão que uma vida “do momento” normalmente é uma vida “de pressa”.

A possibilidade que poderia estar contida em cada ponto o seguirá na tumba: por aquela única, extraordinária possibilidade não teremos uma “segunda chance”. Cada ponto pode ser vivido como um novo início, mas muitas vezes a linha de chegada será um pouco depois da partida, e no meio terá acontecido quase nada. Somente uma aglomeração, uma expansão desenfreada, de novos inícios pode – simplesmente pode – compensar a profusão de falsas partidas. Somente as vastas extensões de novos inícios que estamos convencidos nos esperem mais adiante, somente uma multidão esperada de pontos dos quais a possibilidade de big bang ainda não foram colocadas à prova, e que por isso ainda não foram desacreditadas, podem salvar a experiência com os destroços das conclusões prematuras e dos inícios abortados.

Como eu disse antes, na vida “agorista” do ávido consumidor de novas ‘Erlebnisse’ (experiências vividas), a razão de apressar-se não é adquirir ou colecionar o mais possível, mas destruir e substituir o mais que se pode. Há uma mensagem latente por trás de cada comercial que promete uma nova oportunidade inexplorada de felicidade: não faz sentido chorar o leite derramado. Ou o big bang acontece exatamente agora, neste exato momento e na primeira tentativa, ou parar um pouco naquele exato ponto não faz mais sentido: é hora de mover-se para outro ponto.

Na sociedade dos produtores que já está desaparecendo da memória (pelo menos do nosso lado do planeta), o conselho, em um caso similar, teria sido: “insista”.

Mas não na sociedade dos consumidores: aqui, os utensílios ineficazes devem ser abandonados, não afiados e testados com mais competência, mais empenho e melhores resultados. E se deixam pra trás também aqueles eletrodomésticos que não conseguiram fornecer a “plena satisfação” prometida por aquelas relações humanas que produziram um “bang” menos “big” do que se esperava. A pressa deve ser máxima quando se trata de correr de um ponto (que desiludiu, que está desiludindo, que está começando a desiludir) a outro (ainda não aferido). Dever-se-ia relembrar a amarga lição do Fausto de Christopher Marlowe: acabar no inferno por ter desejado que o momento, somente por ser prazeroso, durasse para sempre.

Dada a infinidade de oportunidades prometidas e presumidas, que transformam em “pontos” esmigalhados a mais atraente novidade do tempo, uma alteração que se pode estar seguros deveria ser abraçada avidamente e explorada com paixão, é a dupla expectativa ou esperança de prever o futuro e neutralizar o passado. Conseguir colocar à mostra um duplo sucesso deste tipo, depois de tudo, é o ideal da liberdade. (...) Partimos da extraordinária empreitada de neutralização do passado. Essa se reduz a uma única mudança na condição humana, mas uma mudança realmente milagrosa: a possibilidade de “renascer” com facilidade.

De agora em diante, não são somente os gatos que podem ter sete vidas. Durante aquele espaço de tempo terrivelmente breve que passamos sobre a terra, nos queixando não faz muito tempo pela sua odiosa brevidade e que desde então não se prolongou mais tanto, os seres humanos – como os proverbiais gatos – agora tem a capacidade de esgotar muitas vidas, uma série infinita de “recomeços”.

Renascer significa que o/os nascimento/s precedente/s, juntamente com as respectivas conseqüências, é/ são anulado/s: parece o advento da omnipresença de tipo divino, sempre sonhada, mas até agora nunca experimentada. O poder de determinação causal pode ser desarmado, e o poder do passado de limitar as opções do presente pode ser contido drasticamente, talvez abolido de vez.

Aquilo que eras ontem não impede mais a possibilidade de tornar-se alguém totalmente diferente hoje.
A partir do momento que cada ponto no tempo, relembremos, é cheio de potencial, e que cada potencial é diferente e único, se pode ser diferente de maneiras realmente incontáveis: é algo que suplanta até a surpreendente multiplicidade de permutações e a maravilhosa variedade de formas e aspectos que os encontros casuais de gênios conseguiram até agora e provavelmente continuarão a produzir no futuro da espécie humana. Aproxima-se àquela capacidade de eternidade que assusta, na qual, considerando a sua infinita duração, cada coisa pode/ deve, cedo ou tarde, suceder, e em cada caso poderá ou será, cedo ou tarde, feita.

Agora aquela excepcional potência da eternidade parece ter sido comprimida no intervalo de tempo, tudo menos eterno, de uma única vida humana. Conseqüentemente, a empreitada de remover o detonador e neutralizar a capacidade do passado de limitar as escolhas sucessivas, e, portanto de circunscrever pesadamente as possibilidades de “renascimentos”, rouba da eternidade o seu atrativo mais sedutor. No tempo pontilhado da sociedade líquido-moderna, a eternidade não é mais um valor e um objeto de desejo, ou melhor, aquilo que era o seu valor e que a tornava objeto de desejo foi apagado e transplantado no momento presente. Conseqüentemente, a “tirania do momento” da tardia modernidade, com o seu preceito do carpe diem, gradativamente, mas constantemente, e talvez imparavelmente, restitui a tirania pré-moderna da eternidade, com a sua divisa do memento mori.
Instituto Humanitas Unisinos - 18 fev 10

Muitos dos países ricos doadores não vão cumprir suas promessas, feitas cinco anos atrás, de aumentar a assistência ao mundo em desenvolvimento, de acordo com análise do órgão que monitora essa ajuda.

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), instituto intergovernamental baseado em Paris, publicou um relatório ontem no qual prevê que seus países-membros mais ricos doarão US$ 107 bilhões em ajuda neste ano, no equivalente ao câmbio de 2004. Mas as promessas feitas em 2005 no encontro dos países do G-8 em Gleneagles, na Escócia, diziam que o total chegaria a perto de US$ 130 bilhões agora.

A reportagem é de Alan Beattie, do Financial Times, e publicada pelo jornal Valor, 18-02-2010.

Um esboço das conclusões do relatório, visto pelo "Financial Times", diz que a promessa feita por 15 países da União Europeia de aumentar a ajuda internacional para pelo menos 0,51% da renda nacional (PIB) não seria cumprida França, Alemanha, Áustria, Portugal, Grécia e Itália. A ajuda italiana em 2010 deve ficar perto de 0,19% de sua renda nacional, disse a OCDE. Roma vem sendo fortemente criticada por ficar muito atrás de sua promessa inicial.

Max Lawson, assessor da Oxfam, ONG internacional de auxílio humanitário, disse: "Isso é um indicador de que os países ricos acham dinheiro para salvar seus bancos, mas não para salvar vidas".

EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia devem alcançar suas metas, enquanto o Japão deve ficar um pouco abaixo, disse a OCDE.

Ángel Gurria, o secretário-geral da OCDE, disse em seu comentário no relatório: "A maior parte dos doadores está reconhecendo suas responsabilidades internacionais. Entretanto alguns estão diminuindo muito seus comprometimentos e outros estão deixando de cumprir suas promessas".

A OCDE disse que, da diferença total de US$ 21 bilhões entre o prometido e o doado, a maior parte, US$ 17 bilhões, resulta da falta de cumprimento das metas. Só US$ 4 bilhões se dariam por causa da redução da renda nacional dos países em consequência da crise econômica global.

E ainda tem um bando de golpistas que defendem os interesses políticos-econômicos do IPCC. Quem vai pagar as contas da mudança do modelo energético propostos pelos interesseiros do IPCC, esses países acima? ou as populações com acréscimos dos seus endividamentos?

'O verdadeiro trabalhador teme o sindicato'

Instituto Humanitas Unisinos - 18 fev 10

"Acho o governo Lula com muitas virtudes, mas não é uma coisa perfeita. Como todo governo, tem suas idiossincrasias, suas preferências. É um Estado onde o sindicalismo tem um poder muito maior do que tinha, apesar da participação dos sindicatos ter diminuído. O verdadeiro trabalhador teme o sindicato. Mas tudo isso são pequenas coisas dentro de um grande projeto. É uma ilusão tentar diminuir o governo Lula, como é uma ilusão tentar diminuir o governoFernando Henrique, que cometeu seus erros. Desde 1988 o país foi encontrando seu caminho com um sistema político organizado. Talvez seja o único país subdesenvolvido que não tem nenhum problema maior". A análise é de Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento dos governos da ditadura militar e conselheiro do presidente Lula e sua equipe, em longa entrevista concedida ao jornal Valor, 18-02-2010.

Perguntado sobre a ressurreição do consenso acerca do Estado grande, Delfim responde:

"É preciso separar as coisas. Estado balofo é um equívoco. A economia de mercado não é o sistema financeiro. A economia de mercado é o sistema produtivo, a economia real. Esse foi vítima, tendo sido encoleirado pelo sistema financeiro, que deveria ser servo do sistema produtivo. Foi uma farra em que todo mundo ganhou e é visível que esse sistema não pode continuar sem um controle eficaz das operações financeiras. Mas isso nada tem a ver com o sistema produtivo. O Estado produtor é uma tragédia, mas Estado indutor é fundamental. Não há desenvolvimento econômico no mundo que não tenha sido feito sem o apoio de um Estado indutor. A maior ilusão é pensar que o desenvolvimento inglês, na revolução industrial, não tinha o Estado por trás. Os americanos então nem se fala. Algumas pessoas imaginam que os EUA sempre foram liberais. Não tem nada disso".

Delfim Netto afirma que não vê ninguém no governo Lula defendendo um Estado balofo. "É preciso distinguir o partido do governo - afirma. O PT tem isso no sangue, não adianta ficar com ilusão. É o Estado que convém ao estamento sindical. Não acredito que algum dos dois candidatos [do PT e do PSDB] tenha uma ideia de Estado balofo. Os dois, acredito, defendem um Estado indutor forte, mas isso nada tem a ver com o Estado cheio de funcionário público fingindo que está trabalhando".

Delfim Netto é duro na crítica à política cambial:

"A política cambial brasileira é um desastre. É uma ilusão em um país pobre como o Brasil, cujo câmbio é um ativo financeiro manipulado por forças que ele não conhece, ficar defendendo a ideia de que é o mercado quem produz o equilíbrio cambial adequado. Essa ilusão é dirigida por esse mito do fundamentalismo mercadista de que a taxa de câmbio é um fenômeno natural, que intervir é um pecado capital, uma violação às leis divinas. O real valorizado está destruindo nossas cadeias produtivas. Isso está destruindo o que tínhamos de mais precioso, que era uma indústria extremamente sofisticada e diversificada. Nós temos que continuar insistindo na diversificação das exportações, no aperfeiçoamento dos ganhos de valor adicionado interno".

E continua:

"Fico espantado de ver as mesmas pessoas que diziam que o câmbio de R$ 1,60 era ruim, agora pedindo para o BC vender dólar a fim de evitar que a cotação alcance R$ 2,00. Sabe qual é a explicação disso? É que as mesmas experiências de derivativos tóxicos realizadas por empresas no período pré-crise estão sendo realizadas agora. Acho que o governo deveria explodi-los mesmo. Nós já fizemos o que podíamos fazer por eles. Daqui para frente é usar o regime iraquiano, que é a limpeza do sistema"

Perguntado sobre os candidatos a presidente, ele diz:

"A gente só vai julgar os candidatos com seus programas. A coisa mais fundamental é chamar a atenção dos eleitores para um debate novo. Há uns candidatos que chamo de "vendedor de óleo de cobra", que era aquele sujeito do Velho Oeste que vendia uma solução para qualquer problema, de unha do pé encravada a tumor cerebral. Tem outros que vão vender as coisas possíveis. Temos de insistir em determinados assuntos. O eleitor precisa entender que existem sim limites físicos que não são manipuláveis por nenhum vendedor de óleo de cobra. Que crescimento rápido hoje exige menor consumo. Aumento do consumo hoje significa redução do crescimento amanhã. Portanto, por maior que seja o desejo de redistribuir e crescer, existe um limite físico para isso".

Odebrecht compra usina e cria gigante do etanol

Instituto Humanitas Unisinos - 18 fev 10

A ETH Bioenergia, empresa do grupo Odebrecht, anuncia hoje a compra da Companhia Brasileira de Energia Renovável (Brenco).

A notícia é de Aguinaldo Novo e publicada pelo jornal O Globo, 18-02-2010.

Com a operação, nascerá uma das maiores produtoras de etanol do mundo, com capacidade inicial de três bilhões de litros/ano e geração de 2.500 gigawatts-hora (GWh) de energia a partir da queima do bagaço de cana.

Criada em 2007, a Brenco passava por problemas de gestão e de caixa, e a negociação com a ETH foi a melhor solução encontrada pelos atuais sócios para tentar preservar o capital já investido.

Entre os sócios da empresa, estão o indiano Vinod Khosla (fundador da Sun MIcrosystems), o ex-presidente do Banco Mundial (Bird) James Wolfensohn, o BNDESpar (braço de investimentos do BNDES) e o ex-presidente da Petrobras Henri Philippe Reichstul.

Já a ETH é administrada pela Odebrecht em associação com a japonesa Sojitz, dona de 33% das ações.

A operação também vai representar mais um movimento na direção da consolidação do setor no país. No início do ano, a Shell fechou acordo com a Cosan para “produção de etanol, açúcar e energia elétrica, além da oferta, distribuição e transporte de combustíveis”. Com mais de US$ 3,8 bilhões em caixa depois de vender as operações de fertilizantes para a Vale, a Bunge foi outra a anunciar que pretende dobrar suas apostas na produção de etanol.

— O setor vai sair de uma situação competitiva na oferta do produto para uma situação de oligopólio — afirmou o consultor Julio Maria Martins Borges, para quem no prazo de cinco a dez anos o número de produtores no Brasil deve cair de 300 para 15 ou 20 no máximo.

Para o consultor, passada a crise financeira de 2008, que fez os empresários engavetarem projetos de novos investimentos, o cenário aponta para o aumento do preço do barril do petróleo a médio e longo prazos.

E, nesse cenário, a busca por fontes alternativas de combustíveis vai ganhar cada vez mais espaço na estratégia dos gigantes mundiais do setor.

— Os grandes players começam a se movimentar e o Brasil e um dos grandes tabuleiros nesse jogo — afirmou Borges.

De 60% a 70% da companhia devem ficar com a Odebrecht As negociações entre ETH e Brenco começaram em outubro passado. Antes, a Brenco também conversou com a britãnica BP, a francesa Total e até a Petrobras. Procuradas ontem, as companhias não quiseram comentar a operação. No meio da tarde, em nota, a ETH anunciou para hoje entrevista “sobre a combinação de ativos das duas empresas”.

Pelas informações de executivos que têm acesso às empresas, a Odebrecht deverá ficar com um percentual entre 60% e 70% da nova companhia e com sete dos dez assentos no conselho de administração.

Como parte da operação, a Brenco também deve fazer nova emissão de debêntures, no valor aproximado de R$ 155 milhões, e destinar o dinheiro para a construção de novas usinas.

O projeto inicial da Brenco previa a inauguração de dez usinas até 2015, com investimentos superiores a R$ 5 bilhões. Instaladas na região Centro-Oeste do país, teriam como objetivo principal suprir a demanda por etanol do mercado externo. Mas, depois de R$ 700 milhões investidos e novos aportes dos sócios, nenhuma ainda começou a operar. A expectativa é que a usina de Morro Vermelho (GO) inicie o processamento de cana-de-açúcar neste semestre. Alto Taquari (MT) ficou para o fim do ano e Costa Rica (MS) e Água Emendada (GO), para 2011. Já a ETH tem cinco usinas, sendo que três começaram a operar no ano passado: Rio Claro (GO), Santa Luzia (MS) e Conquista do Pontal (SP).

Para fechar o negócio, a EHT teria exigido a manutenção do atual cronograma de investimentos por parte das empresas — por isso, a emissão de R$ 155 milhões em debêntures.

Concluída a compra, o projeto é fazer a abertura de capital da nova companhia até o próximo ano.

Para entidade, investidores voltaram a apostar no etanol Para o diretor-técnico da União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, os investidores voltaram a apostar no etanol.

Mas ele frisa que, por ora, o interesse é pela compra de ativos já existentes, e não a construção de novos.

— O setor comemora todos os negócios, mas o que temos até agora não traz crescimento assegurado de oferta para os próximos anos.

Pelas contas da entidade, o número de novas usinas que entraram em operação caiu de 30, em 2008, para 19 em 2009. A previsão é de dez a 12 para este ano.

Rodrigues afirmou que a combinação de falta de crédito e de baixa de preços do produto no mercado interno “desestimulou” novos aportes de capital nos últimos dois anos.

— É preciso investir em novos projetos. Uma usina pode levar de três a cinco anos para entrar plenamente em operação — disse o diretor da Unica.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

2º trim./2010: Agravamento brutal da crise sistémica global – Reforço das cinco tendências negativas fundamentais

resistir info - 18 fev 10


por GEAB [*]

Para o LEAP/E2020, o efeito dos milhões de milhões gastos pelos Estados para "atravessar a crise" já se terá dissipado. Estas quantias imensas terão permitido atenuar durante alguns meses a evolução da crise sistémica global. Mas, como antecipado nos GEAB anteriores, esta estratégia não terá servido in fine senão para implicar definitivamente os Estados na crise gerada pelas instituições financeiras.

Neste GEAB Nº 42 nossa equipe antecipa pois um agravamento brutal da crise no segundo trimestre de 2010, gerada por um duplo efeito de alcançar por fim fenómenos que foram provisoriamente "congelados" no segundo semestre de 2009 e pela impossibilidade de manter as medidas paliativas do ano passado.

Igualmente, neste mês de Fevereiro de 2010, um ano após o nosso anúncio de que o fim do ano 2009 iria assinalar o arranque da fase de deslocação geopolítica mundial, toda a gente pode constatar que tal processo está efectivamente em curso: Estados à beira da cessação de pagamentos, subida inexorável do desemprego, milhões de pessoas a perderem benefícios de protecção social, baixas de salários, supressões de serviços públicos, desagregação do sistema de governação global (fracasso da cimeira de Copenhaga, confrontação crescente China/EUA, retorno do risco de conflito Irão/Israel/EUA, guerra monetária global, etc...) [1] . Entretanto, não estamos senão muito no princípio desta fase de que o LEAP/E2020 fornecerá um calendário antecipativo no próximo número do GEAB.

O agravamento brutal da crise sistémica global vai assim ser caracterizado por uma aceleração e/ou um reforço de cinco tendências negativas fundamentais:

  • a explosão da bolha dos défices públicos e a ascensão consequente das cessações de pagamentos de Estados
  • a colisão fatal do sistema bancário ocidental com a subida dos incumprimentos de pagamento e o muro das dívidas a chegarem à maturidade
  • a inelutável subida das taxas de juros
  • a multiplicação das tensões internacionais
  • a insegurança social crescente.

Neste GEAB Nº 42, a nossa equipe desenvolve as três primeiras tendências desta evolução e apresenta uma antecipação sobre a evolução da Rússia frente à crise; assim como, naturalmente, nossas recomendações mensais.

O CASO GREGO

Neste comunicado público, optámos por analisar o "caso grego", por um lado porque ele nos parece emblemático daquilo que nos reserva o ano 2010 e, por outro, porque ele ilustra perfeitamente a evolução da informação sobre a crise mundial no sentido de uma "comunicação de guerra" entre blocos e interesses cada vez mais conflitantes. Em linguagem clara, é um "must" para chegar decifrar a informação mundial dos próximos meses e anos, que vai ser um vector crescente de operações de manipulação.

Figura 1.

As cinco características que fazem do "caso grego" a árvore com a qual se tenta esconder a floresta

Vejamos agora o "caso grego" que desde há algumas semanas agita os media e os peritos. Mas antes de entrar no pormenor das evoluções em curso, precisemos desde já cinco pontos essenciais da nossa antecipação sobre o assunto:

1- Como indicado nas nossas antecipações para o ano 2010, publicadas no GEAB Nº 41, daqui a algumas semanas o problema grego terá desaparecido dos radares mediáticos internacionais. É a árvore utilizar para esconder em simultâneo a floresta bem mais perigosa das dívidas soberanas (as de Washington e de Londres) e princípio da nova queda da economia mundial, com os Estados Unidos à cabeça [2] .

2- O problema grego é uma questão interna à zona Euro e à UE e a situação actual proporciona uma ocasião única aos dirigentes da zona Euro para finalmente obrigar a Grécia (país que desde 1982 se qualifica de "alargamento falhado") a sair do seu feudalismo político e económico. Os outros países da zona Euro, Alemanha à cabeça, vão fazer de tudo para obrigar as elites gregas a adaptar o seu país ao século XXI em troca da sua ajuda. Ao assim fazer, jogando com o facto de que a Grécia não representa senão 2,5% do PNB da zona Euro [3] , eles exploram os mecanismos de estabilização em tempos de crise de que a zona Euro tem necessidade [4] .

3- Os dirigentes e os media anglo-saxónicos utilizam a situação (tal como no ano passado com o chamado tsunami bancário vindo da Europa do Leste que iria arrebatar a zona Euro [5] ) para mascarar a evolução catastrófica das suas economias e das suas dívidas públicas, bem como para tentar enfraquecer a atractividade da zona Euro num momento em que os EUA e o Reino Unido têm uma dificuldade crescente para atrair os capitais de que têm uma necessidade urgente. Paralelamente, Washington e Londres (que, desde a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, estão totalmente excluídos da governação do Euro) ficariam maravilhados por ver o FMI, que eles controlam perfeitamente [6] , introduzir-se na governação da zona Euro.

4- Os dirigentes da zona Euro actualmente estão encantados por ver o Euro baixar para 1,35 em relação ao dólar. Eles sabem muito bem que isto não é durável uma vez que problema tendencial é o afundamento do valor do dólar (e da libra esterlina), mas apreciam este "balão de oxigénio" para os exportadores.

Figura 2. 5- Os especuladores (hedge-funds e outros) e os bancos pesadamente envolvidos na Grécia [7] têm um interesse conjunto em tentar promover um apoio financeiro rápido da Eurozona à Grécia pois, caso contrário, se os europeus se recusarem a recorrer ao livro de cheques (à maneira escandalosa da dupla Paulson-Geithner com a AIG e o conjunto da Wall Street em 2008/2009), a agências de classificação os terão involuntariamente enganado. Na verdade, um rebaixamento da classificação da Grécia mergulharia este pequeno mundo nos espasmos de importantes perdas financeiras se, para os bancos, o valor dos seus empréstimos à Grécia fossem analogamente desvalorizados ou se as suas apostas contra o Euro não funcionassem no devido tempo [8] .

Goldman Sachs como actor de tragédia grega ... e das próximas falências soberanas

No "caso grego", assim como em toda aventura com suspense, é preciso haver um "mau" (ou, para retomar a lógica da tragédia clássica, um "deus ex machina" ). Ora, nesta fase da crise sistémica global, o papel do "mau" é geralmente desempenhado pelos grandes bancos de investimento da Wall Street e, mais particularmente, pelo líder, o Goldman Sachs. E o "caso grego" não escapa à norma uma vez que o banco de negócios nova-iorquino esteve directamente implicado na prestidigitação orçamental que permitiu à Grécia qualificar-se para entrar no Euro quando os seus défices orçamentais reais teriam devido desqualificá-la. Na realidade foi o Goldman Sachs que, em 2002, pôs de pé uma destas montagens financeiras astuciosas de que ele tem o segredo [9] e que, de maneira quase sistemática desde então, retornam alguns anos mais tarde contra o próprio cliente. Mas o que importa se no momento o GS (Goldman Sachs) pôde aumentar o seu lucro!

No caso grego, o que o banco de investimento propôs foi muito simples: montar um empréstimo invisível do ponto de vista orçamental ( acordo Swap que permitia reduzia ficticiamente a amplitude do défice público grego) [10] . É claro que a responsabilidade dos dirigentes gregos da época é total e eles deveriam, segundo o LEAP/E2020, serem submetidos a inquéritos políticos e judiciários tanto gregos como europeus por terem enganado a UE e os seus próprios cidadãos no quadro de um processo histórico de grande importância, a criação da moeda única europeia.

Mas, sejamos muito explícitos: a responsabilidade do banco de investimento de Nova York (como cúmplice) é igual, sobretudo quando se sabe que o vice-presidente para a Europa do Goldman Sachs naquela época era um certo Mario Draghi [11] , actual presidente do Banco Central da Itália e actual candidato [12] à sucessão de Jean-Claude Trichet à testa do Banco Central Europeu [13] .

Sem pré-julgar o papel do Sr. Draghi no negócio do empréstimo manipulador de estatísticas à Grécia [14] , pode-se perguntar se não seria útil questioná-lo acerca deste assunto [15] . Em democracia, a imprensa [16] assim como os parlamentos (no caso, grego e europeu) são supostos encarregarem-se desta tarefa. Dada a importância tomada pelo GS nos negócios financeiros mundiais destes últimos anos, nada do que este banco faça deveria deixar indiferentes os governos e os legisladores. Foi aliás Paul Volcker , o actual patrão dos conselheiros económicos de Barack Obama, que se tornou um dos censores mais rigorosos das actividades do Goldman Sachs [17] . Ora, como já havíamos escrito no momento da eleição do actual presidente americano, esta é a única pessoa no seu círculo que possui a experiência e a capacidade para tomar as medidas difíceis [18] e que, no caso, sabe do que, ou melhor de quem, fala.

Nesta mesma lógica, e com a ilustração do papel nefasto do Goldman Sachs e dos grandes bancos de investimento em geral em matéria de transparência das actividades financeiras e orçamentais públicas, o LEAP/E2020 considera que seria muito útil à União Europeia e aos seus 500 milhões de cidadãos, interditar o acesso a todas as funções dirigentes financeiras, orçamentais e económicas (BCE, comissão, bancos centrais nacionais) aos antigos responsáveis destes mesmos bancos de investimento [19] . A confusão de géneros não pode conduzir senão a uma maior confusão dos interesses públicos e privados, a qual só pode ser em detrimento do interesse público europeu.

Para começar, a zona Euro poderia igualmente, a partir de hoje, exigir ao governo grego que cesse de recorrer aos serviços da Goldman Sachs uma vez que, segundo o Financial Times de 28/01/2010, Atenas continua sempre a recorrer aos seus serviços.

Se o patrão do Goldman Sachs considera-se "Deus", como ele disse numa entrevista recente [20] , seria sábio supor que o seu banco e os seus homólogos podem comportar-se como diabos e, portanto, tomar as precauções consequentes. Este conselho, segundo a nossa equipe, é válido para a Europa assim como para todos os outros continentes. Há "serviços privados" que vão contra o "interesse colectivo": pergunte aos cidadãos gregos e aos proprietários americanos de casas arrestadas pelos bancos!

Em conclusão, a nossa equipe propõe um jogo edificante àqueles que querem saber onde encontrar a próxima crise de dívida soberana: investigue qual estado recorreu ao Goldman Sachs nestes últimos anos e terá uma pista importante [21] !

Notas:

(1) As recentes declarações do antigo secretário de Estado do Tesouro de G. W. Bush, Hank Paulson, segundo as quais a Rússia e a China teriam conspirado para fazer cair a Wall Street no Outono de 2008, ilustram o grau de desconfiança que existe doravante entre os grandes actores globais. Fonte: DailyMail , 29/01/2010

(2) Desde há quatro anos a nossa equipe expõe regularmente as aberrações do sistema de medição do PNB dos EUA. Portanto não retornaremos aqui a este aspecto muito "grego" das estatísticas americanas. No que se refere à evolução da economia americana nos próximos meses, basta constatar que o índice sectorial da tonelagem dos transportadores rodoviários estava em queda livre em Janeiro de 2010, como estivera no fim do primeiro semestre de 2008. Fonte: USAToday , 11/02/2010

(3) Ver o gráfico abaixo para reconduzir o "caso grego" a justas proporções em matéria de PIB da zona Euro.

(4) E de que o GEAB sublinha a necessidade desde há quatro anos, assim como o amplo apoio público (mais de 90% em média segundo os GlobalEurometres mensais) de que beneficiaria uma governação económica da zona Euro.

(5) Recordamos a este respeito que o GEAB nº 33, na Primavera de 2008, foi um dos raros media a denunciar o carácter mentiroso e manipulador do grande pavor de um "tsunami bancário" vindo da Europa do Leste e que era suposto engolfar o sistema bancário da zona Euro. Na época, o Euro havia mergulhado para níveis bem mais baixos que os de hoje ... para levantar-se outra vez algumas semanas mais tarde. Convidamos igualmente aqueles que desejam compreender bem a situação mediática actual a reler o comunicado público do GEAB Nº 33 .

(6) E o facto de um francês estar à testa nada muda nesta situação.

(7) Fontes: Le Figaro, , 12/02/2010

(8) Dito isto, nesta matéria, a manipulação mediática é notável. Nestes últimos dias viu-se/leu-se/ouviu-se um pouco por toda a parte que somas enormes , eram lançadas contra o Euro (a apostar na baixa do Euro) ... ou seja oito milhões de milhões de dólares. De facto "somas enormes", é uma gota de água no oceano do mercado mundial dos câmbios que a cada dia monta a várias centenas de milhões de milhões de dólares. Fonte: Financial Times , 08/02/2010

(9) No mesmo espírito altamente construtivo para os países onde ele actua que levou os Estados Unidos em 2006/2007 a jogar na baixa por sua própria conta os produtos financeiros baseados no imobiliário que vendia aos seus clientes.

(10) Fonte: Spiegel 08/02/2010 ; Le Temps , 13/02/2010 ; Reuters , 09/02/2010

(11) Durante a preparação da entrada da Itália no Euro, era o director-geral do Tesouro italiano. Fontes: Banque d'Italie ; Wikipedia ; Goldman Sachs .

(12) Muito activamente apoiado pelos meios financeiros londrinos e americanos como já nos havíamos feito eco, há alguns meses, no nosso boletim ... e naturalmente por Silvio Berlusconi. Fonte: Sharenet/Reuters , 10/02/2010

(13) O seu concorrente mais sério é Axel Weber , actual patrão do Bundesbank.

(14) Pois seria espantoso que o patrão para a Europa do banco encarregado de um emprétimo destinado a mascarar uma parte do défice público de um país, e ele próprio antigo patrão do Tesouro de um país vizinho, não esteja ao par da operação.

(15) E, em vista das suas responsabilidades passadas, não se pode senão apreciar o seu sentido de humor quando ele fala de um reforço da gestão económica da zona Euro. Fonte: Les Echos , 13/02/2010

(16) Que se contenta no momento em recopiar os artigos anglo-saxónicos que fazem o caso grego desempenhar o papel de "derrubador dos mercados mundiais", e que repete ao longo do artigo que o Euro cai ... quando ele está num nível que esta mesma imprensa há apenas quatro anos considerava impossível atingir.

(17) Fonte: Reuters , 12/02/2010

(18) Ele pertence a estas gerações de americanos que construíram o "império EUA" do após guerra, que sabem da sua fragilidade e que conhecem perfeitamente o seu modo de emprego, ao contrário dos Summers, Geithner e outros Rubin. Nossa equipe raramente faz cumprimentos a Barack Obama, mas se ele continuar a ouvir pessoas como Paul Volcker estará inegavelmente na boa direcção.

(19) Nossa equipe sabe, por ter conhecido, que houve uma época, há uma trintena de anos, em que os banqueiros de investimento sabiam intervir tendo em mente o interesse a longo prazo dos seus clientes. Esta época está bem ultrapassada e doravante eles têm em vista apenas o seu próprio interesse a curto prazo. É preciso portanto extrair todas as consequências e proibir-lhes o acesso às funções públicas chave, ao invés de pretender reformar o seu comportamento. Se houvesse banqueiros de investimento crianças (como há crianças soldado), poder-se-ia esperar salvar alguns do seu vício nos lucros a curto prazo; mas para os banqueiros de investimento adultos, é demasiado tarde.

(20) Fonte: Times, 08/11/2009

(21) Do lado do sector privado, pergunte à Lehman Brothers, AIG, ... eles poderão confirmar que é um bom indício.
15/Fevereiro/2010
[*] Global Europe Anticipation Bulletin

O original encontra-se em www.leap2020.eu

A crise econômica grega aproxima-se dos EUA

resistir info - 17 fev 10

por Niall Ferguson [*]

Cartoon de El Roto. Começou em Atenas. Está a estender-se a Lisboa e Madrid . Mas seria um erro grave supor que a crise da dívida soberana que se está a desdobrar ficará confinada às economias mais fracas da zona euro. Porque isso é mais do que apenas um problema mediterrâneo de âmbito local . É uma crise fiscal do mundo ocidental. Suas ramificações são muito mais profundas que a maioria dos investidores supõe atualmente.

Há, naturalmente, uma característica distinta na crise da zona do euro. Devido ao modo como foi concebida a União Monetária Européia, não há de fato nenhum mecanismo de socorro para o governo grego por parte da União Européia, de outros estados-membros ou do Banco Central Europeu (artigos 123 e 125 do Tratado de Lisboa). É verdade que o Artigo 122 pode ser invocado pelo Conselho Europeu para ajudar um estado-membro "seriamente ameaçado por dificuldades severas causadas por desastres naturais ou ocorrências excepcionais além de seu controle", mas neste momento ninguém quer fingir que o escancarado déficit da Grécia foi um ato de Deus. Nem há possibilidade de a Grécia desvalorizar sua moeda, como deveria ter feito nos dias pré-UME do dracma. Não há nem mesmo um mecanismo para que a Grécia deixe a zona do Euro.

Isso deixa apenas três possibilidades: um dos mais excruciantes esmagamentos fiscais na história moderna da Europa – reduzir o déficit de 13% a 3% do produto interno bruto em apenas três anos; moratória imediata de parte ou de toda a dívida do governo grego; ou (o mais provável, como apontado por funcionários alemães na quarta feira) algum tipo de socorro liderado por Berlim. Dado que nenhuma destas opções é atrativa, e porque qualquer decisão sobre a Grécia gera implicações para Portugal, Espanha e possivelmente outros países, deve haver muitas negociações cautelosas antes alcançar uma delas.

A CRISE É DE NATUREZA GERAL

Trabalhadores manifestam-se em Atenas. Mas as idiossincrasias da zona do euro não devem distrair-nos da natureza geral da crise fiscal que agora aflige a maioria das economias ocidentais. Chame-se a isto geometria fractal da dívida: o problema é essencialmente o mesmo da Islândia à Irlanda, à Inglaterra e aos Estados Unidos. Apenas as dimensões sã muito diferentes.

O que estamos a aprender no mundo ocidental é que não existe o tal almoço gratuito keynesiano. As dívidas não nos "salvam" nem a metade do que o faria a política monetária – taxas de juro nulas mais a facilidade quantitativa (quantitative easing) [NT] . Primeiro, o impacto do gasto do governo (o sagrado "multiplicador") tem sido muito menor do que os proponentes do estímulo esperavam. Em segundo lugar, há uma boa dose de "vazamento" das economias abertas num mundo globalizado. Por fim, e crucialmente, explosões da dívida pública incorrem em contas que vencem muito mais rápido do que esperamos.

Para a maior economia do mundo, os EUA, o dia do juízo ainda parece reconfortantemente remoto. Quanto pior ficam as coisas na zona do euro, mais o dólar americano se revigora, à medida em que investidores nervosos alocam seus recursos no "porto seguro" da dívida governamental americana. Esse efeito pode persistir por alguns meses, do mesmo modo como o dólar e os Tesouros se reanimaram quando estávamos no fundo do poço do pânico bancário no final de 2008.

Entretanto, mesmo uma olhada casual na posição fiscal do governo federal (para não falar dos estados) torna absurda a frase "porto seguro". A dívida do governo americano é um porto seguro no mesmo sentido em que Pearl Harbor o foi em 1941.

EQUILÍBRIO ORÇAMENTAL NUNCA MAIS

Mesmo pelas novas projeções orçamentárias da Casa Branca, a dívida federal bruta detida pelo público excederá 100% do PNB já nos próximos dois anos. Neste ano, como no ano passado, o déficit federal estará em volta dos 10% do PNB. As projeções de longo prazo do Gabinete de Orçamento do Congresso sugerem que os Estados Unidos nunca mais administrarão um orçamento equilibrado. É isso mesmo, nunca.

O Fundo Monetário Internacional publicou recentemente estimativas dos ajustes fiscais que as economias desenvolvidas teriam que fazer para restabelecer a estabilidade fiscal na próxima década. Os piores foram o Japão e a Inglaterra (um aperto fiscal de 13% do PNB). Em seguida vêm Irlanda, Espanha e Grécia (9%). E no sexto lugar? Os EUA, que terão que apertar a política fiscal em 8,8% do PNB para satisfazer o FMI.

Explosões da dívida pública prejudicam as economias de várias maneiras, como vários estudos empíricos têm mostrado. Elevando-se os temores de moratória e/ou depreciação da moeda acima da inflação real, aumentam as taxas de juros reais. Taxas de juro mais altas, por sua vez, agem como obstáculos ao crescimento, especialmente quando o setor privado está também pesadamente endividado – como no caso da maioria das economias ocidentais, não apenas os EUA.

Apesar da taxa de poupança interna americana ter subido desde que começou a Grande Recessão, não aumentou o suficiente para absorver um milhão de milhões (trillion) de dólares de emissões do Tesouro por ano. Assim, somente duas coisas até agora ficaram entre os EUA e retornos maiores para os títulos: compras dos títulos federais (e títulos hipotecários, que muitos vendedores essencialmente trocaram por títulos federais) pelo Federal Reserve, e acumulação de reserva pelas autoridades monetárias da China.

Mas agora o Fed está reduzindo essas compras e deve acabar com a quantitative easing. Ao mesmo tempo, os chineses reduziram abruptamente suas compras de títulos federais americanos de cerca de 47% das emissões novas em 2006 para 20% em 2008 e para estimados 5% no último ano. Não é de admirar que o Morgan Stanley suponha que os rendimentos dos títulos a 10 anos se elevarão de cerca de 3,5% a 5,5% este ano. Sobre uma dívida federal bruta se aproximando rapidamente de $1,5 milhão de milhões, isso significa mais de $300 mil milhões de pagamentos de juros adicionais – e chega-se lá bem depressa com o vencimento médio da dívida hoje inferior a 50 meses.

O novo orçamento da administração Obama supõe alegremente um crescimento real do PNB de 3,6% nos próximos cinco anos, com inflação média de 1,4%. Mas, com taxas reais de juro crescentes, o crescimento pode muito bem ser menor. Nestas circunstâncias, os pagamentos de juros podem elevar sua participação na receita federal – de um décimo a um quinto a um quarto.

Na semana passada, o Moody's Investors Service avisou que a classificação (rating)

Ao refletir-se sobre isso, parece apropriado que a crise fiscal do ocidente tenha começado na Grécia, o berço da civilização ocidental. Ela logo cruzará o canal para a Inglaterra. Mas a questão chave é quando esta crise chegará ao ultimo bastião do poder do Ocidente, no outro lado do Atlântico.
de crédito AAA dos EUA não pode ser considerada líquida e certa. Esse aviso lembra a questão fatal de Larry Summers (formulada antes do seu retorno ao governo): "Por quanto tempo o maior tomador de empréstimos do mundo pode continuar a ser a maior potência mundial?"

[NT] quantitative easing (facilidade quantitativa): medida pela qual o banco central compra ativos financeiros de instituições financeiras criando para isso moeda sem lastro.

[*] Niall Ferguson é editor contribuidor do Financial Times e autor The Ascent of Money: A Financial History of the World .

  • Ver tamb�m: Greece Is Irrelevant, We Are All Now Insolvent

    O original encontra-se no Financial Times de 10/Fevereiro/2010 e em
    http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=17578 . Tradução de RMP.
  • UM NOVO CANTO

    aijesus.blogspot.com - 16 fev 10

    O Canto da Filosofia é um dos sítios de que este blogue gosta e que recomenda
    [ver, na barra da direita, as várias hiperligações com o título "Gostamos e recomendamos"].
    Trata-se de um sítio velhinho, que
    [na altura em que o seu responsável, segundo o próprio confessa, amuou com a ex-ministra e a 1ª versão deste governo por terem chamado preguiçosos aos professores]
    contava mais de 4 milhões de cliques nas suas páginas. Após aquele amuo, o responsável nunca mais o actualizou -- embora, mesmo desactualizado, o sítio continue a receber as suas visitinhas.



    Consta que o Canto está a mudar de poiso
    [sinal de que o amuo estará a passar?].
    Consta que a esmagadora maioria do conteúdo está ainda no antigo endereço. Mas a casa nova já tem os seus fundamentos lançados.