"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Por que a Grécia está em chamas

Le Monde Diplomatique Brasil - Jan 09

Repressão policial, corrupção endêmica, democracia esvaziada. Faltava, mesmo, só a crise econômica para desencadear uma revolta com características muito originais. Anarquistas e esquerda radical estão à frente. E não se trata de um fenômeno apenas grego...

Valia Kaimaki

Amigo, seja bem-vindo ao terreno das lutas sociais. A partir de agora, você precisa proteger a si mesmo e também a suas reivindicações.” Essa foi a resposta do octogenário Leonidas Kyrkos, veterano da vida política grega e personagem-chave da esquerda local, à seguinte pergunta: “O que o senhor tem a dizer aos jovens que se manifestam atualmente?”.

Os protestos começaram depois que um rapaz de 15 anos, Alexis Grigoropoulos, foi morto pela polícia em 6 de dezembro passado. Estudantes invadiram as ruas de várias cidades gregas: Atenas, Salônica, Patras, Larissa, Iraklion, Chania (Creta), Ioannina, Volos, Kozani, Komotini. Essas manifestações espontâneas, que foram combinadas por mensagens de celular e emails, resultaram em explosões de violência movidas por uma raiva espantosa.

A revolta tem em sua origem múltiplos fatores, dos quais a repressão policial é apenas o mais evidente. Alexis não é a primeira vítima dessa brutalidade, mas apenas a mais jovem dentre elas. O terreno fértil no qual o levante germinou é obviamente a crise econômica, que já vinha atingindo duramente o país muito antes que a tempestade mundial produzisse seus efeitos. A ela, acrescenta-se uma crise política profunda, que é ao mesmo tempo sistêmica e moral. Provocada pela falta de transparência nas ações dos partidos e dos representantes políticos, ela resulta numa falta de confiança em todas as instituições do Estado.

De maneira nenhuma o homicídio de Alexis pode ser explicado como fruto de um “tropeço acidental”: o seu nome figura numa extensa lista de assassinatos e torturas contra manifestantes ou imigrantes. São crimes que até hoje permanecem impunes. Em 1985, por exemplo, outro jovem de 15 anos, Michel Kaltezas, foi morto por um policial. O agente acabou absolvido pelo sistema judiciário grego, que ficou com uma péssima imagem perante a sociedade.

Isso não quer dizer que as forças da ordem atenienses ajam de modo diferente das de outros países da Europa. Mas, na Grécia, as feridas da ditadura (1967-1974) permanecem abertas. O subconsciente coletivo não se esqueceu do período detrevas que dominou o país durante sete anos. Os gregos não perdoam facilmente. Isso explica a grande dessemelhança desses acontecimentos com os eventos nas cidades periféricas da França em 2005, que fizeram com que o futuro presidente Nicolas Sarkozy, então ministro do Interior, pudesse proferir o discurso sedutor “da lei e da ordem”.

A Syriza, uma aliança dos movimentos de esquerda radical, consegue se comunicar com os jovens. Daí a expansão espetacular de sua popularidade: de 5,04 % de votos, nas eleições legislativas de setembro de 2007 para 13º agora, segundo pesquisas

Os gregos, pelo contrário, formam uma frente única contra a repressão. Um movimento tão forte que vem abalando as fundações do governo de direita. Entre os líderes dessa aliança há representantes de uma geração que está longe de ser adulta. Não é por menos. A vida cotidiana dos estudantes colegiais se caracteriza por uma escolarização intensiva, cujo principal objetivo é conquistar uma vaga na universidade. A seleção é rigorosa, e os jovens se preparam para enfrentá-la a partir dos 12 anos de idade. Os felizes vencedores descobrem então a realidade da vida depois da faculdade: no melhor dos casos, eles conseguirão um emprego remunerado com um salário de 700 euros por mês (cerca de R$ 2.100). Há muito tempo, a Grécia vem lidando com essa “geração que vale 700 euros”. Alguns dos seus membros reúnem-se em uma associação chamada “Geração 700”, ou “G700”, que se esforça para fazer com que sua voz seja ouvida ao mesmo tempo que oferece serviços jurídicos gratuitos a seus membros. Isso porque até aqueles que têm a “sorte” de ganhar esses 700 euros são contratados como prestadores de serviços terceirizados.

Nesse país, o contrato de duração determinada (CDD) constitui uma exceção, uma vez que dá direito à seguridade social, ao décimo terceiro salário, a indenizações em caso de demissão e outras “regalias”. Em contrapartida, os contratos dos terceirizados, frequentes inclusive nos serviços públicos, não são regidos pelo direito trabalhista. Em vez de “trabalho precário”, fala-se na “locação” de trabalhadores.

É contra essa violência que os jovens reagem com brutalidade. “Os índices de avaliação da situação econômica atual e das expectativas dos cidadãos em relação ao futuro alcançaram um nível tão baixo que já constituem um recorde”, observa Stratos Fanaras, integrante do instituto de estudos estatísticos MetronAnalysis. “As pessoas estão muito decepcionadas e não têm nenhuma esperança de que a situação possa melhorar. E isso independentemente da classe social, do nível educacional ou do sexo. A Fundação dos Estudos Econômicos e Industriais, que publica um relatório todo mês desde 1981, constata também um nível excepcionalmente baixo do índice que mede o dinamismo econômico”, completa.

Em meio a esse ambiente de desânimo, os cidadãos comuns acabam não dispondo das informações e instrumentos necessários para analisar a situação do país. São arrancados da passividade apenas pela violência policial, que termina por definir os campos de conflito. Geralmente desnorteados, os “eles percebem os assassinatos como ações que se inscrevem claramente dentro de uma lógica maniqueísta”, prossegue Stratos Fanaras. “A tragédia de Alexis lhes permitiu distinguir novamente o ‘bem e o mal’ e, portanto, tomar partido.”

Esse engajamento, porém, não está verdadeiramente vinculado à política, tamanha é a descrença dos jovens no sistema e nos partidos. Em resumo, três agremiações vêm dominando a cena política grega desde os anos 1950. Os dois grandes partidos, a Nova Democracia (de direita) e o Pasok (socialista), dividem o poder entre si. Já o Partido Comunista (KKE, também chamado de “do exterior”) não consegue aparecer como uma força alternativa em condições de oferecer soluções, principalmente porque insiste em manter sua tradição stalinista [1].

Por sua vez, a Syriza, uma aliança dos movimentos que pertencem à esquerda radical, oriundos em sua maioria do Partido Comunista chamado “do interior”, fundadoem 1968, parece conseguir se comunicar melhor com os jovens. Daí a expansão espetacular de sua popularidade: embora não obtivesse mais que modestos 5,04% de votos, nas eleições legislativas de setembro de 2007, seis meses mais tarde as pesquisas lhe atribuíam 13% das preferências.

Os jovens afirmam que, num país onde predomina a corrupção, ninguém corre o risco de ser punido. Os manifestantes mais radicais quebram e incendeiam as cidades. Em Atenas, reúnem-se na praça Exarchia, onde Alexis foi morto e onde a juventude venceu a ditadura, em 1973

A eleição de um jovem de 33 anos, Alexis Tsipras, integrante da Coalizão da Esquerda e do Progresso, principal força da Syriza, contribuiu amplamente para essa ascensão. Seu posicionamento original em relação aos problemas atuais e suas “jogadas midiáticas” – que incluíram a escolha de uma jovem imigrante para acompanhá-lo na grande recepção oferecida pelo presidente – permitiram-lhe conquistar a simpatia de uma parte da juventude. Mesmo depois da sua estabilização nas pesquisas de opinião, a Syriza conta atualmente com 8% das intenções de voto, muito à frente de um KKE que se revela incapaz de compreender essa transformação.

A disputa pela supremacia no âmbito da esquerda contestatória motivou os comunistas a aprovar o governo da Nova Democracia e o partido do Alarme Popular Ortodoxo (LAOS, de extrema direita [2]), que denunciavam publicamente a Syriza como sendo um “refúgio dos arruaceiros”. Claro, eles precisavam de um bode expiatório para distrair a opinião pública sobre as verdadeiras causas da crise. Já o Pasok prefere manter- se calado, com a esperança de retornar mais rápido do que o previsto ao poder.

O governo atual tem uma grande responsabilidade pela situação de conflito que vive o país. Eleito pela primeira vez em 2004, o primeiro-ministro Kostas Karamanlis prometeu um governo transparente, mas agora está atolado, junto com sua equipe, em escândalos ainda mais graves do que os de seus predecessores. As denúncias giram em torno de subornos, nepotismo e desvio de verbas públicas. O mais recente deles diz respeito à venda ilegal de terras estatais aos monges do monte Áthos. Os autores do processo ilícito permanecem desconhecidos.

Os jovens estão totalmente corretos quando afirmam que, num país onde predomina a corrupção, ninguém corre o risco de ser punido. Escondendo o rosto com lenços ou capuzes – aliás, eles são chamados de “os encapuzados”–, os manifestantes mais radicais quebram e incendeiam as cidades gregas. Em Atenas, eles costumam se reunir na praça Exarchia, mesmo local onde Alexis foi morto. O lugar tem ainda outro simbolismo: está situado ao lado da Escola Politécnica, onde a juventude travou uma batalha decisiva contra a ditadura, em 1973. Para a polícia, os enfrentamentos entre anarquistas e forças da ordem já se tornaram uma amarga tradição.

“É um fenômeno novo”, observa um estudante “Até então, nas manifestações, os estudantes e os delegados dos sindicatos ocupavam a frente do cortejo. Eles eram seguidos pelos partidos políticos, entre os quais a Syriza, que sempre vinha por último

As imagens difundidas por emissoras do mundo inteiro mostravam, sobretudo, os incêndios provocados por esses grupos. Entretanto, o espectador atento pôde constatar diferenças notáveis em relação ao espetáculo habitual. Em primeiro lugar, as multidões de “quebradores” estavam muito mais densas do que anteriormente. Além disso, eles não limitaram o palco das operações apenas a Atenas, ampliando seu raio de ação em muitas outras cidades. E principalmente, os atos de violência urbana prosseguiram ao longo de vários dias. Isso permite concluir que, desta vez, uma grande massa de jovens se envolveu nessa onda de violência. A maioria nunca tivera contato antes com o anarquismo ou outra ideologia de esquerda. Por trás das barricadas levantadas nos mais diversos lugares estavam até estudantes de 13 e 14 anos.

O governo valeu-se dos “encapuzados” para denunciar uma “ofensa à democracia”. “De qual democracia estão falando?”, rebateram os contestadores. Não há dúvida de que os colegiais e os universitários que aderiram aos protestos atacaram a polícia a pedradas. É verdade também que eles destruíram agências bancárias. Mas, alguns dias antes, esse governo, indiferente ao afundamento na miséria de centenas de milhares de gregos, havia oferecido aos bancos mais importantes do país um polpudo pacote de 28 bilhões de euros. Essas mesmas instituições delegam para certas companhias privadas de cobrança a tarefa de forçar o pagamento dos pequenos créditos — o que elas fazem lançando mão de insultos, ameaças e confiscos.

Apesar de se revelar violenta em muitos casos, a cólera da juventude nem por isso é politizada. Mas isso poderia ser diferente quando os próprios partidos, com a exceção dos da extrema esquerda, mantêm-se indiferentes às exigências do movimento? “Nada obtivemos. Nenhuma abertura de diálogo, nem mesmo uma troca de mensagens e menos ainda sinais de que conclusões foram tiradas do ocorrido. Eles agem como se tivessem optado por esperar que os jovens se cansem da ‘quebradeira’ para que a revolta seja encerrada”, comenta o analista Fanaras. Ele avalia ainda que muitos dos manifestantes terão de se conformar e voltar para casa com as mãos abanando... até a próxima provocação ou pretexto.

Enquanto isso, outros serão atraídos pelos grupos violentos. “Este já havia sido o caso depois do assassinato de Michel Kaltezas”, confirma o ex-jornalista Alexandre Yiotis, um antigo anarcocomunista que no passado fora um membro ativo dessa vertente na França, na Espanha e na Grécia. E acrescenta: “Os estudantes revoltados naquela época foram reforçar, entre outras, as fileiras da organização terrorista 17 de Novembro”. Aposentado do ativismo, Yiotis aponta ainda que a maior parte das bandeiras erguidas durante as manifestações combinava as cores vermelho e preto, simbolizando a união do comunismo e do anarquismo.

Na propaganda de Estado que vem sendo divulgada pela mídia, sobretudo pela televisão, dois elementos chamam a atenção. O primeiro diz respeito ao papel dos imigrantes nos acontecimentos. Um dos comentários apontou que os saques das lojas incendiadas foram perpetrados por imigrantes esfomeados. Em outro programa foi dito que, na Ásia, “esta constitui uma prática comum: protestar, quebrar, furtar”! Ora, está claro que os manifestantes violentos foram recrutados essencialmente entre os autóctones, revoltados contra um sistema político corrupto. E se alguns ciganos tomaram parte nas depredações, tratava-se para eles, sobretudo, de vingar seus familiares, vítimas esquecidas da repressão policial.

O movimento ganha aliados em outros países da Europa. A razão é simples: essa é a primeira geração, desde a Segunda Guerra Mundial, a perder as esperanças de viver melhor que seus pais. E não se trata de um fenômeno exclusivamente grego...

Além disso, em certos lugares multidões esfomeadas de fato perpetraram saques, mas a maioria era exclusivamente grega. “Este é um fenômeno novo”, observa um estudante “Até então, nas manifestações, os estudantes e os delegados dos sindicatos ocupavam a frente do cortejo. Eles eram seguidos pelos partidos políticos, entre os quais a Syriza, que sempre vinha por último".

"Depois apareciam os anarquistas e, quando o conflito começava, estes entravam nas fileiras da Syriza… e todo mundo levava uma surra. Agora, depois dos anarquistas, começou a aparecer um novo bloco: o dos esfomeados. Quer sejam imigrantes, drogados ou desesperados, eles sabem que nas manifestações conseguirão encontrar comida.” O poder e a mídia também lançaram mão de outra invenção: “cidadãos irados” teriam se organizado entre si para defender a lei e rechaçar os “quebradores”. Mas foi justamente o contrário que aconteceu: eles tentaram expulsar… os policiais militares! Pequenos comerciantes interpelaram os agentes da ordem, intimando-os aos berros a se retirar, enquanto transeuntes se jogavam sobre eles para libertar os estudantes presos.

Tomando consciência de que não era mais possível manter seus filhos em casa, pais e avôs foram para as ruas junto com eles para protegê-los. Um mundo às avessas… Será esse um movimento de longa duração? “Considerando que a crise econômica mundial em breve tomará conta do nosso país, que uma grande parte da juventude permanecerá marginalizada, que a situação da educação não irá melhorar tão cedo e que nós estamos muito longe de assistir ao fim da corrupção política, não faltará combustível para alimentar essa fogueira”, sublinha o jornalista e analista político Dimitris Tsiodras.

O movimento ganha aliados em outros países da Europa. A razão é simples: essa é a primeira geração, desde a Segunda Guerra Mundial, a perder as esperanças de viver melhor que seus pais. E não é um fenômeno exclusivamente grego.

[1] A ponto de considerar que a União Soviética morreu em 1956, o ano do 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, que foi o palco do relatório secreto de Nikita Kruchov v e do começo da desestalinização.

[2] Com esse partido racista e antissemita, a extrema direita voltou a ocupar assentos no Parlamento, em 2007, pela primeira vez desde 1974.

O que quer a Wall Street

resistirinfo - 13/02/09

O plano de recuperação financeira do inferno

por Michael Hudson [*]

'Activos congelados', de Diego Rivera, 1931. O anúncio de terça-feira do plano de recuperação Obama-Geithner é basicamente uma extensão do plano Bush-Paulson – ainda mais dádivas para os iniciados do mundo financeiro, tendo em vista concentrar o sistema bancário dos EUA num cartel de apenas uns poucos grandes bancos. Isto não é uma notícia totalmente má para a parte ainda relativamente saudável do sistema bancário (saudável no sentido de ainda evitar situação líquida negativa). Os bancos mais pequenos e menos perturbados serão comprados pelos grandes "perturbados", para benefício financeiro pessoal dos seus accionistas. Isto não pode resolver o problema financeiro de hoje: o facto de o encargo da dívida exceder de longe a capacidade de pagamento da economia. De facto, difundir-se-ão as distorções que os grandes bancos introduziram, até que todo o sistema presumivelmente venha a assemelhar-se ao Citibank, Bank of America, JP Morgan Chase e ao Wells Fargo.

Mas isto é claramente apenas a Etapa Um de um plano de duas etapas que ainda não foi anunciado, embora a página editorial do Wall Street Journal haja proporcionado pistas, que gotejaram durante os últimos três meses, quanto ao "sonhado plano de recuperação" da Wall Street.

Ele não é exactamente o que a maior parte das pessoas esperavam. De facto, ele ameaça ser um cenário de pesadelo para a economia como um todo. Acautele-se da frase mágica: "dificuldade quanto à situação líquida" ("equity kicker"), ouvida pela primeira vez na crise hipotecária das caixas económicas (S&L) da década de 1980.

RECUPERAÇÃO PARA QUEM?

A primeira questão a perguntar acerca do Programa de Recuperação é: "recuperação para quem?". A resposta é: para as pessoas que conceberam o dito Programa de Recuperação e a sua clientela, o lobby dos bancos. A segunda questão é: o que é que eles querem recuperar? A resposta é uma outra Bolha na economia, pois viram a Bolha de Greenspan torná-los muito ricos com a sua espécie particular de "criação de riqueza": riqueza na forma de endividamento da economia "real" como um todo junto ao sistema bancário, e ganhos de capital sem precedentes a serem feitos a cavalgar a onda de inflação dos preços dos activos.

Para as elites financeiras, o problema é que não é possível inchar uma outra bolha a partir dos níveis de endividamento de hoje, com situação líquida negativa generalizada, e ainda com altos níveis de preços no imobiliário, nas acções e nos títulos. Nenhuma quantidade de novo crédito ou capital para o sistema bancário induzirá os bancos a proporcionarem crédito ao imobiliário já super-hipotecado, ou a indivíduos e corporações já super-endividados. Todos os observadores profissionais previram que os preços da propriedade manter-se-iam em mergulho pelo menos até ao próximo ano, o que é o máximo que se pode vislumbrar nas condições instáveis que hoje estamos a experimentar.

Enquanto os planeadores financeiros da administração Obama contorcem as mãos em público em dizem à generalidade dos devedores "Nós sentimos o vosso sofrimento", eles também reconhecem que os últimos dez anos foram uma era dourada para o sistema bancário e a Wall Street. Os 1 por cento mais ricos da população aumentaram a sua fatia nos retornos da riqueza – dividendos, juros, rendas e ganhos de capital – de 37 por cento do total de dez anos atrás para 57 por cento de cinco anos atrás e uma estimativa de 70 por cento hoje. Mais de dois terços dos retornos da riqueza agora vão para os 1 por cento mais ricos da população. Isto é a proporção mais alta já registada. Estamos a aproximar-nos dos níveis cleptocráticos russos.

Mas a Direita Dura financeira do espectro político – os lobbystas agora no controle do Tesouro, do Federal Reserve e o Departamentos da Justiça para iniciantes – repetem a nova Grande Mentira: que foram os pobres que deitaram o sistema abaixo, "explorando" os ricos ao tentarem macaqueá-los e viverem para além dos seus meios. Famílias subprime retiraram empréstimos subprime, o pobre mentiroso assinou documentos para obter "empréstimos de mentira", como os Alt-A, tais como são chamados os empréstimos sem documentação no comércio de papel lixo financeiro.

Aprendi a realidade uns poucos anos atrás em Londres, ao conversar ali com o estrategista de um banco comercial. "Nós tivemos um grande avanço intelectual", disse ele. "Ele mudou a nossa filosofia de crédito".

"O que é?" perguntei, imaginando que estava prestes a confessar uma nova fórmula de matemática lixo.

"Os pobres são honestos", disse ele, acompanhando as suas palavras com uma queda de queixo assombrosa, como que a dizer "Quem poderia ter imaginado?"

O significado era bastante claro. Os pobres pagam as suas dívidas por uma questão de honra, mesmo com grandes custos pessoais. Ao contrário de Donald Trump, é menos provável que os pobres fujam dos seus lares quando os preços do mercado afundam abaixo do nível da hipoteca. Na linguagem neoliberal da Escola de Chicago de hoje, os pobres comportam-se "não economicamente". Isto é, eles tomam opções que não fazem sentido económico, mas ao contrário reflectem uma moralidade de grupo. Esta ingenuidade sociológica é o que os faz ricas presas para prestamistas predatórios tais como Countrywide, Wachovia e Citibank.

Como disse acima, foi uma era dourada. A bolha financeira e imobiliária é o mundo que a elite do poder financeiro da América gostaria de recuperar. O problema para eles é como começar uma nova bolha e fazer ainda outra fortuna. A alternativa seria manter o que têm e fugir – não tão mau, mas um cenário que talvez eles possam melhorar.

As discussões acerca de salvamentos de emergência centraram-se sobre colocar em vigor bastante nova capacidade de empréstimo pelo sistema bancário para mais uma vez começar a inflacionar preços a crédito. Mas uma nova bolha não pode ser principiada a partir dos níveis de preços actuais dos activos. Estes US$2 milhões de milhões (trillions) desta semana ou pouco mais em novo dinheiro de salvamento para os bancos ("capital", e especificamente capital financeiro, não confundir com capital industrial) só serão emprestados quando os preços caírem mais 30 a 50 por cento. De modo que isto pode representar apenas a Etapa 1.

A questão para a Etapa 2 é: como podem os US$10 a US$20 milhões de milhões de ganhos de capital obtidos com os anos de Greenspan serem repetidos numa economia que está totalmente endividada?

Uma coisa que a Wall Street sabe é que para fazer dinheiro não só é preciso que os preços dos activos reais subam como também que desçam outra vez – e outra vez para cima e outra vez para baixo. Sem irem abaixo, afinal de contas, como podem eles subir? Quanto mais frenética a fibulação [1] dos preços, mais fácil se torna para os programas computorizados de compra e venda fazerem dinheiro sobre opções e derivativos. O que está a ser planeado hoje parece-se a um movimento semelhante de sobe e desce no imobiliário.

O primeiro truque é preservar a riqueza da classe credora – a Wall Street, os bancos e outros veículos financeiros que enriquecem os 1 por cento mais ricos e na verdade os 10 por cento mais ricos da população. A Etapa Um envolve comprar os seus maus empréstimos a um preço que os salve de terem uma perda. Isto é feito através da comutação da perda para os "contribuintes" – o trabalho, sobre cujos ombros o fardo fiscal tem sido agravado firmemente, passo a passo desde 1980, com a Comissão Greenspan impondo um oneroso imposto de Segurança Social sobre a classe média e utilizando o dinheiro apurado para cortar impostos sobre os escalões mais elevados. A seguir vem um banco "agregador" (soa como "alligator", crocodilo, dos pântanos de resíduos tóxicos) comprar as dívidas podres e colocá-las numa agência pública. O governo chama a isto o banco "mau". Mas ele faz bem para a Wall Street – por comprar empréstimos que deram para o torto – ou talvez, mais próximo da verdade, empréstimos que nunca foram bons desde o princípio.

A parte mais difícil é ressuscitar oportunidade para os credores efectuarem uma nova matança. (E é a economia que está a ser morta.) Aqui está como imagino que o plano possa funcionar.

Suponha que um comprador recente haja comprado uma casa por US$ 500.000, com uma hipoteca de taxa ajustável de US$500.000 aprazada para iniciar a 8 por cento. Suponha também que o actual preço de mercado haja caído para US$250.000 – uma perda de 50 por cento no fim de 2009. Afinal de contas, é preciso que haja bastante tempo para os preços declinarem. Caso contrário, não haveria economia para "recuperar". O sr. Geithner e Summers precisam "sentir o seu sofrimento" para confessarem publicamente o pacote que estou a descrever. O governo trocará "dinheiro por lixo" ("cash for trash"), imprimindo novos títulos do Tesouro (com juros a serem pagos pelo "contribuinte") em troca da hipoteca de US$500.000 que está a apodrecer, apontando para um preço de mercado de apenas US$250.000.

O banco "mau" que o plano Obama decidiu não estar totalmente pronto para ser criado esta semana assumirá a forma de uma parceria pública/privada (PPP), daquele espécie que tornou Tony Blair tão notório na Grã-Bretanha. Será financiado com fundos privados – de facto, com os fundos agora a serem dados para recapitalizar os bancos da América (encabeçados pelos bancos da Wall Street que actuaram tão torpemente). Os bancos utilizarão o dinheiro que receberam do Tesouro para vender as suas hipotecas lixo pelo seu valor facial – juntamente com outro financiamento do salvamento – para comprar acções numa nova instituição de US$5 milhões de milhões. Algo como a Fanny Mae ou o Freddie Mac será criado e seus títulos garantidos (isto é a parte "pública" – "socializar" o risco). A instituição PPP começará com, digamos, US$3 milhões de milhões em fundos, e terá o poder de comprar e renegociar as hipotecas que passaram para as mãos do governo e de outros proprietários. Este "Fundo de Recuperação de Lares da Classe Média" (“Middle Class Homeowner Recovery Trust”) utilizará o seu financiamento privado para a finalidade "socialmente responsável" de "salvar o contribuinte" e os proprietários de casas renegociando a hipoteca em queda dos seus US$500.000 originais para o novo preço de US$250.000.

Aqui está o tipo de conversa que se pode esperar, com os habituais eufemismos orwellianos. O "resgate dos proprietários de casas" PPP, um verdadeiro Banco Salvador, irá para uma família amarrada à dívida hipotecária da sua casa e sentindo-se cada vez mais desesperada quando o preço do seu principal activo mergulha profundamente dentro do território da Situação Líquida Negativa. Será feita uma oferta: "Propomos um negócio para salvá-lo. Renegociaremos a sua hipoteca por US$250.000, o actual preço de mercado, e também reduziremos a sua taxa de juros para apenas 5,50 por cento. Isto cortará os seus encargos mensais da dívida em aproximadamente dois terços. O sr. escapará da situação líquida negativa e pode dar-se ao luxo de permanecer na sua casa".

A família provavelmente dirá: "Excelente".

Mas eles terão de fazer uma concessão. É aqui que a nova parceria pública/privada faz a sua matança. O seu Banco Salvador, financiado com dinheiro privado destinado a assumir o "risco" (e também os prémios") dirá à família que concorda em renegociar a sua hipoteca. "Agora que o governo assumiu uma perda e o deixamos permanecer no seu lar, precisamos recuperar o dinheiro que foi perdido. Assim quando chegar o momento de você vender, ou renegociar a sua hipoteca, nosso Banco Salvador receberá o ganho de capital em relação à quantia original cancelada. Se nós o ajudamos no momento difícil, você agora deve pagar-nos o que havíamos perdido".

Por outras palavras, se o proprietário da casa vender a propriedade por US$400.000, o Banco Salvador obterá US$150.000 do ganho de capital. Se a propriedade for vendida por US$500.000, o banco obterá US$250.000. E se ela for vendida por mais, graças a algum novo clone de Alan Greenspan a actuar como fabricante de bolhas, o ganho de capital será dividido de alguma forma. Se a divisão fosse 50/50, então se a casa fosse vendida por US$600.000 o proprietário naquele momento dividiria o novo ganho de capital de US$100.000 com o Banco Salvador. O Banco Salvador portanto ganhará muito mais através da sua fatia de ganhos de capital do que extrai em juros!

Este plano será ainda melhor para a Wall Street do que foi a bolha de Greenspan! Anteriormente, era a classe média que obtinha os ganhos. Naturalmente era realmente o banco que obtinha os ganhos, porque os encargos de juros da hipoteca absorviam todo o valor de locação. Mas pelo menos os proprietários das casas tinham uma oportunidade de beneficiarem-se, se não dilapidassem o seu dinheiro refinanciando suas hipotecas. E muito utilizaram as suas casas "como um mealheiro" a fim de suportar os seus padrões de vida.

Mas desta vez a Wall Street não é obrigada a fazer o seu dinheiro tornando ricos os proprietários de casas da classe média. Proprietários afogados em dívida estão desejosos de meramente acomodar-se com um plano que os deixe nas suas casas! Assim, Wall Street poder obter para si própria os ganhos de capital que foram a força condutora da "criação de riqueza" dos EUA, estilo bolha Alan Greenspan.

A ironia é que a única espécie de políticas que são politicamente correctas nestes dias são aquelas que tornam a situação pior: ainda mais dinheiro do governo na esperança de que os bancos venham a criar ainda mais crédito/dívida para levantar os preços das casas e torná-las ainda mais inacessíveis; inchar uma bolha; dar ao que realmente deveria ser chamado os "maus bancos" – os Quatro ou Cinco Grandes onde as hipotecas lixo, CDOs lixo e derivativos lixo resultantes da matemática lixo estão concentrados – ainda mais dinheiro para comprarem bancos mais pequenos que ainda não tenham sido infectados com o temerário oportunismo financeiro.

E além disso, os lobbistas destes maus bancos estão a gritar em altos brados que todas as soluções para o problema são politicamente incorrectas: cancelamentos de dívidas a fim de fazer com que o fardo da dívida fique dentro da capacidade de pagamento. Isto é o que se supõe que faça o mercado – pela bancarrota num colapso anárquico, se não por política fundamentada do governo. Os maus bancos, depois de exigirem "mercados livres" durante todos estes anos, travaram-no quando este deles se aproximou, e dos seus bónus. Para eles, os mercados são livres de regulamentação contra empréstimos predatórios; livres para tributar a riqueza de modo a transferir o fardo para o trabalho; livres para o sector financeiro envolver-se na economia "real" como uma planta parasita em torno de uma árvore e extrair todo o excedente na forma de engenharia financeira.

Isto é uma paródia de liberdade. Mas o pior de tudo é a "liberdade" da discussão económica de hoje a partir da sabedoria da economia política clássica e da experiência da história económica quanto ao modo como as sociedades têm arcado com sobrecarga de dívida ao longo das eras históricas.

Uma política alternativa para salvar a economia de ser "resgatada" pela Wall Street

Há uma alternativa para impedir tudo isto. Uma redução do valor (write down) da dívida, seguido por um imposto territorial de modo a que o "almoço gratuito" (o que John Stuart Mill denominou o "incremento não ganho através do trabalho" da elevação dos preços da terra, um ganho que os latifundiários obtém "a dormir") servisse como imposto base ao invés de o trabalho e a indústria serem sobrecarregados com um imposto sobre o rendimento.

O primeiro movimento seria impedir os bancos de emprestarem contra o valor da terra. Eles poderiam emprestar contra os edifícios, mas não a terra. Isto cortaria o empréstimo máximo permissível para 50 a 60 por cento do preço total da propriedade – a menos que o governo fizesse o que os economistas clássicos advogavam e tributasse o preço de mercado da terra (o seu valor locativo) como o imposto base, retirando o imposto do trabalho. Isto alcançaria a espécie de mercados livres que Adam Smith, John Stuart Mill e Alfred Marshall descreveram e que a Era Progressiva pretendia alcançar em 1913 com o primeiro imposto sobre o rendimento da América.

Um imposto sobre a terra impediria os preços da habitação de subirem outra vez. Isto salvaria os proprietários de casa de assumirem demasiada dívida a fim de obter habitação. E salvaria a economia de ver a "criação de riqueza" assumir a forma dos "incrementos não ganhos com o trabalho" a serem capitalizados em empréstimos bancários mais altos com a sua associada capacidade carga (juros e amortização). A chave para bolha imobiliárias é inchar avaliações.

11/Fevereiro/2009
[1] fibulação: sutura dos bordos de uma ferida por meio de agrafos.

[*] mh@michael-hudson.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/hudson02112009.html

COM QUE ANDAM ENTRETIDOS OS NOSSOS POLÍTICOS

aijesus.blogspot.com - 13/02/09

O aijesus é um blog português, então refere-se aos políticos de lá. Mesmo assim achei a discussão pertinente.

Há coisas que eu não entendo
[e tenho alguma dificuldade em aceitar coisas que não entendo].
Dizem-me as notícias que a agenda dos trabalhos da Assembleia da República esteve dominada pela violência doméstica. Não entendo porque é que se fala em violência doméstica; violência doméstica não é violência? Violência-ponto-final.



Dizem-me as notícias, ainda, que "da proposta de lei do Governo destaca-se o alargamento do estatuto de vítima de violência doméstica, de forma transversal a géneros e faixas etárias". Ou seja,
"além das mulheres, o estatuto de vítima proposto pelo PS contempla também crianças, idosos e homossexuais como grupos a proteger".
Aceitaria que se protegessem esses grupos, se esses grupos fossem grupos frágeis. Mas... porquê proteger as mulheres mais do que os homens? Porquê proteger os homossexuais mais do que os heterossexuais? E, já agora, porquê não proteger as pessoas mais frágeis como são os menos altos
[podia ser com altura inferior à média]?
ou os menos gordos
[os que pesassem menos do que os quilos necessários para esmagar o parceiro violento]?
ou os menos sei-lá-o-quê?

Admito a hipótese de uma excepção: as crianças
[porque são, efectivamente, seres indefesos].
No mais, como diria o ti Zé dos bois, homem sábio já falecido, vão "inventar" pró ca...ho! Ou, como diria a esposa, mais comedida mas não menos sábia, percam o tempo com coisas sérias!

Rublo: moeda de reserva regional?



Os dirigentes russos não se cansam de apregoar que o rublo, moeda nacional da Rússia, pode e deve transformar-se numa moeda de reserva regional, mas as ambições são “arrefecidas” pela crise económica e financeira.
Há um ano atrás, dirigentes e cidadãos russos olhavam com optimismo para o futuro. Em 2007, o Produto Interno Bruto russo conhecera um crescimento recorde de 08,1pc e os prognósticos para 2008 eram de 07,6 pc, o que permitia acreditar na promessa do primeiro-ministro Bladimir Putin de duplicar o PIB até 2010.
O alto preço dos combustíveis no mercado mundial, o aumento em flecha dos investimentos estrangeiros na economia russa o reforço do rublo em relação ao dólar levaram os dirigentes russos a defender a transformação da moeda nacional numa divisa de reserva, convertível.
“A partir das altas tribunas, a direcção do país começou a falar da transformação do rublo numa divisa de reserva, por enquanto regional, mas claramente com planos posteriores mais ambiciosos”, recorda a analista económica Ekaterina Mereminskaia.
Hugo Chavez e Daniel Ortega, presidentes da Venezuela e Nicarágua, defenderam, em Dezembro passado, a transformação do rublo russo na moeda de reserva da Alternativa Bolivariana para a América.
Não obstante as declarações de Vladimir Putin e de outros dirigentes russos de que a Rússia era uma “ilha de estabilidade”, de que “o país não será atingido pela crise”, os investidores estrangeiros começaram a debandar do mercado russo, a produção desceu abruptamente e o rublo entrou numa perigosa queda.
Porém, no início de Fevereiro, Putin voltou a defender a transformação do rublo em moeda de reserva pelo menos no interior da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), organização que reúne 11 das 15 antigas repúblicas da URSS.
Ele assinalou, nomeadamente, que “90pc das mercadorias russas exportadas para a Bielorrússia são pagas em rublos e 45pc das importadas”.
Além disso, Moscovo defende que os combustíveis russos podem ser vendidos em rublos aos países estrangeiros, existindo já contratos assinados com a Bielorrússia, o Cazaquistão e outros países da CEI.
No entanto, os analistas, não pondo de parte a possibilidade de o rublo se vir a tornar no “dólar da CEI”, consideram que isso não está para breve.
“Claro que, potencialmente, o rublo se pode transformar numa divisa de reserva! Mas tomemos como exemplo a Ucrânia, um forte parceiro comercial nosso... Aí, a grivna (moeda nacional ucraniana) perdeu, num curto espaço de tempo, 2/3 do seu valor em relação ao dólar, o rublo perdeu 1/3. Como será possível estabelecer um câmbio fiável entre essas moedas se não se sabe o que irá acontecer com elas amanhã?”, pergunta Andrei Netchaev, antigo ministro da Economia da Rússia e actual presidente da “Corporação Financeira da Rússia”, em declarações aos jornalistas.
O economista kazaque Dossim Satpaev, director do “Grupo de Avaliação de Riscos”, chama a atenção para outros obstáculos.
“Em muitos países da CEI, nomeadamente da Ásia Central, há desconfiança em relação à Rússia. Todos vêem que a Rússia tenta reforçar a sua influência, reforçar as suas posições, e eles receiam que, ao ao avançar essa ideia, a Rússia simplesmente quer impôr o seu domínio económico”, considera ele.
“Além disso, embora já tenham passado 17 anos da desintegração da URSS, muitos ainda recordam como a Rússia expulsou esses países da zona do rublo”, acrescentou.
“Para que o rublo seja visto como o dólar ou o euro, é preciso percorrer um longo caminho... Hoje, essa questão precisa ainda de ser bem estudada”, considera Karim Massimov, primeiro-ministro do Cazaquestão.

José Pedágio: os semelhantes se atraem

Conversa Afiada - 13/fevereiro/2009 8:45

Bergamo: diga-me com quem andas e direi quem és

Bergamo: diga-me com quem andas e direi quem és

. Saiu na Mônica Bergamo, pág E2 da Folha:

“Fofo (??? – PHA) 2- E Serra tem surpreendido (??? – PHA) por seus vôos rasantes no Rio de Janeiro. Nesta semana, foi ao aniversário de 60 anos de Francisco Brandão, da agencia FSB, de comunicação (??? – PHA), no Copacabana Palace, onde dividiu mesa com João Roberto Marinho das Organizações Globo”.

Clique aqui para ler a nota “Fofo” (??? – PHA) , também uma elegia suave e candorosa a José Serra.

O Daniel Dantas devia estar na mesa ao lado.Essa empresa de comunicação (??? - PHA), a FSB, integra, com outra, a Double, que a Bergamo conhece muito bem, o inigualável Sistema Dantas de Comunicação (clique aqui para ler).

Um Sistema para manipular informações, quer dizer, “comunicações” no PiG (*).

Na sobremesa, que Dantas não come, Dantas deve ter aproveitado para dar uma palavrinha ao Pedágio sobre o andamento dos negócios entre a irmã dele, de Dantas, e a filha de Serra, sócias num empreendimento em Miami (êpa !).

A filha de Pedágio, como se sabe, é o Lulinha dos tucanos.

Clique aqui para ler sobre a Decidir.com Inc

João Roberto Marinho entra nessa história como “o pai de todos”.

Paulo Henrique Amorim


Krugman não gostou do plano de Obama

Conversa Afiada - 13/fevereiro/2009 8:23

Krugman fala muito mal do Fernando Henrique

Krugman fala muito mal do Fernando Henrique

. O prêmio Nobel de economia e colunista do New York Times Paul Krugman não gostou do pacote de estímulo de Obama.

. Acha que não foi suficiente para levantar a economia (e o moral dos americanos).

. Para ele, o plano não injeta na economia o dinheiro necessário para reverter a tendência assustadora da crise.

. Que Obama fez muitas concessões aos conservadores (tucanos) e cortou mais impostos do que devia.

. E Krugman ainda não entendeu exatamente o que é o programa para salvar os bancos.

. Leia sobre o que Martin Wolf disse sobre o programa de Obama para salvar os bancos

. Krugman, porém, espinafra os tucanos de FHC, os Republicanos americanos de John McCain, que jogaram no Partido do Quanto Pior Melhor e fizeram o que puderam para jogar água fria no plano.

. É o que o Farol de Alexandria mandou o PSDB fazer com as medidas anti-crise do Presidente Lula

. Não tem erro.

. Tucano é um só.

. No Hemisfério Norte e no Hemisfério Sul …

Campanha eleitoral antecipada: Serra Póóóde; Lula não póóóde

Conversa Afiada - 13/fevereiro/2009 19:27

Todos são iguais, mas alguns são mais iguais

Todos são iguais, mas alguns são mais iguais

O noticiário dos últimos dias imita o bordão da dra. Lorca, a nutricionista louca do Zorra Total:

-Serra fazer propaganda da Sabesp, a empresa de saneamento paulista, para vender esgoto no Acre e no Mato Grosso: PÓÓÓDE.

-Serra vender Rodoanel na Paraíba, com propaganda paga pelo contribuinte de São Paulo: PÓÓÓDE.

-Lula e Dilma fazer encontro de prefeitos para propagandear o PAC: NÃO PÓÓÓDE.

Leia também:

Sabesp vai exportar “tecnologia” do esgoto a céu aberto

Diretor da PF leva jornalistas amigos para passear de avião

Conversa Afiada - 13/fevereiro/2009 9:01

Corrêa: como fazer amigos e conseguir reportagens “sob encomenda”

Corrêa: como fazer amigos e conseguir reportagens “sob encomenda”


O Conversa Afiada recebeu esse e-mail de um amigo que navega fundeado num ancoradouro muito próximo ao prédio da Polícia Federal, em Brasília…

Paulo Henrique,

Um delegado escanteado depois da saída de Paulo Lacerda, me ligou para contar duas coisas:

1) O atual diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, na semana passada, deu um jantar em casa para jornalistas “amigos da casa”.

2) Os jornalistas estavam convidados, como “amigos da casa”, a viajar com Luiz Fernando, entre os dias 16 e 19 de fevereiro, para Curitiba, Corumbá e Campo Grande a fim de acompanhar o diretor-geral, em vôo de avião da PF, na assinatura de convênios de cooperação policial com a Bolívia e o Paraguai.

Bom, a estrela do jantar e a convidada especial da viagem foi … a Andréa Michael!

Você lembra, né ?

Andréa é aquela que, no relatório da Operação Satiagraha, aparece como autora de uma reportagem “sob encomenda” para Daniel Dantas, na Folha de S. Paulo …

Acho que nem preciso falar mais nada, né?

Fica bastante claro que tipo de relação é essa, e como ela serviu para a publicação daquela matéria antes da operação, em abril de 2007.

A reportagem “sob encomenda”, se os teus leitores não lembram, serviu para Dantas fazer duas coisas:

1) justificar um pedido de HC preventivo, que ele dirigiu para Gilmar Dantas, quando houve o recesso do Supremo;
2) para tratar de subornar o presidente do inquérito, uma vez que o Protógenes disse à Andrea que não era ele que presidia.

Da próxima vez que for ao Marrocos se encontrar com o José Dirceu – foi o que demonstrou a Carta Capital – será que o Corrêa também vai convidar “os amigos da casa” ?

A seguir, a programação da viagem.
16/02/2009

18h – Embarque para Curitiba-PR
19h – Chegada prevista em Curitiba

Hospedagem: Hotel Promenad Curitiba
Rua Mariano Torres 976 - Centro

17/02/2009

11h – Posse do SR-PR
Local: Auditório da SR
13h – Almoço – Restaurante Madalosso, Avenida Manoel Ribas, Santa Felicidade
14h - Embarque Aeronave do DPF – EMB 145 - Campo Grande
14h– Chegada prevista em Campo Grande (horário local)
14h30 – Visita à SR/DPF/MS
15h – Reunião com o efetivo
19h – Jantar

Hospedagem: Novo Hotel

18/02/2009

09h – Cerimônia de Abertura do Evento de Estratégia de Cooperação Policial Brasil-Bolívia 2009
09h30 – Palestra do Dr. Luiz Fernando Corrêa – Considerações a respeito das diretrizes de Cooperação Policial Brasil-Bolívia 2009
10h – Palestra do Comandante Geral da PNB - Considerações a respeito das diretrizes sobre estratégias de Cooperação Policial Brasil-Bolívia 2009
10h30 – Assinatura dos Termos da Estratégia de Cooperação Policial Brasil-Bolívia 2009
11h – Palestra do Dr. Roberto Troncon - Estratégias de Combate ao Crime Organizado em Cooperação Policial
11h30 – Palestra do Comandante da FELCN – Estratégias de Combate ao Narcotráfico em Cooperação Policial
12h – Almoço – Local: Novo Hotel
14h30 – Reunião com Diretores, Superintendentes e Comandantes Bolivianos
16h – Diretor-Geral do DPF e do Comandante-Geral da PNB visitarão à SR/DPF/MS
19h30 – Jantar de Confraternização - Local: Novo Hotel

19/02/2009

07h20 – Embarque para Corumbá – Aeronave DPF – EMB 145
07h50 – Chegada prevista em Corumbá
08h – Café da manhã – Local: DPF Corumbá
08h30 – Visita à Delegacia de Corumbá
09h – Reunião como efetivo
11h30 – Embarque para Ponta Porã – Aeronave DPF – EMB 145
12h50 – Chegada prevista em Ponta Porã
13h – Almoço com Policiais Paraguaios – Local: a confirmar
15h – Encerramento da Operação Conjunta ALINÇA
16h – Embarque – Aeronave DOF – EMB 145
17h30 – Chegada prevista em Brasília – Hangar do DPF

Traficante paga policial para se esconder na cadeia de José Pedágio

Conversa Afiada - 13/fevereiro/2009 8:00

A melhor maneira de combater o tráfico é fechar o Denarc de São Paulo

Abadía: a melhor maneira de combater o tráfico é fechar o Denarc de São Paulo

. Saiu na Folha, pág. C9:

“Traficante diz que pagou para não ser preso. Ramón Manuel Yepes Penagos, que ficou preso por nove meses em São Paulo como se fosse mineiro (!!! - PHA), disse em depoimento informal à Polícia Federal que pagou cerca de US$ 300 mil a policiais do Denarc; a secretaria não comenta… (O traficante) Afirmou que só foi para a prisão, porque se recusou a dar R$ 2 milhões para um grupo de policiais. Yepes é considerado pela polícia colombiana e pelo DEA (a polícia anti-drogas dos Estados Unidos) como homem de confiança de Juan Carlos Abadía, encarregado de cuidar do dinheiro do mega-traficante.”

Juan Carlos Abadía trabalhou dois anos em São Paulo em sociedade com a Polícia de São Paulo.Abadía traficava e os policiais tomavam uma grana de Abadía.

Negócio limpo, às claras. Ninguém reclamava.

Um dia, a Polícia Federal, quando era uma Polícia Republicana, estourou o Abadía.

Não avisou nada à Polícia tucana de São Paulo e prendeu o Abadía.

Preso, Abadía disse: a melhor forma de combater o tráfico de drogas em São Paulo é fechar o Denarc (a delegacia de combate ao tráfico).

Gilmar: farinha pouca meu pirão primeiro

Conversa Afiada - 13/fevereiro/2009 8:37

Gilmar não quer nem saber: ele quer o dele

Gilmar não quer nem saber: ele quer o dele

Saiu na primeira página do Estadão:

“STF pressiona Congresso por aumento salarial de 13% - Gilmar Mendes pede a Michel Temer aprovação do reajuste para ministros – O Supremo Tribunal Federal está pressionando o Congresso para garantir a aprovação salarial de 13,1%. Considerado o teto do funcionalismo brasileiro, o salário dos ministros do STF subiria de R$ 24.500 para R$ 27.716. Isso provocaria a correção dos vencimentos de toda a magistratura federal.”

Isso é que é espírito público.Segundo o PiG (*), o Brasil está mergulhado na mais profunda crise de sua história.Demissões em massa.Metalúrgicos desesperados ocupam as estradas para defender empregos.Empresas se aproveitam do noticiário apavorante para demitir, demitir.

A FIE P (**) aproveita, para, de mãos dadas com José Pedágio, rasgar a Consolidação das Leis do Trabalho e romper a rede de proteção ao trabalhador.

Crise profunda.

Os urubus que a Miriam Leitão cria debaixo da cama estão gordos.

Aí, vem o Supremo Presidente do Supremo, Gilmar Dantas, segundo Ricardo Noblat, e tenta descolar uma grana no Congresso.

Viva o Brasil !

Paulo Henrique Amorim

(*)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista
(**) O Conversa Afiada prefere tratar a FIESP sem o “S”. E faz assim, desde que a FIE P ajudou a extinguir a CPMF, com a desculpa de que a inflação ia desabar … Tirou o leite das crianças e facilitou o Caixa Dois das empresas – o “bahani”, como se diz na Chuíça (***) …
(***) Chuíça é como o PiG (*) de São Paulo quer que o resto do Brasil pense que São Paulo é: uma combinação do dinamismo econômico da China com o IDH da Suíça.

O mito do neonazista

Blog do Luis Nassif - 13/02/09

Por Flaggsmasher

Um texto interessante retirado do livro COMO LER JORNAIS, de Janer Cristaldo:

“O fantasma do neonazi — O jornalismo contemporâneo, para atingir o maior número de leitores, baliza o texto com fotos ou grafismos de modo a tornar o mais esquemática possível a mais complexa das realidades. Como a mente do leitor já vem alimentada por um imaginário do cinema e da TV, os ícones do século são preciosos sinais de tráfego para orientação da leitura. As reportagens assumem a estrutura romanesca e os personagens são apresentados de forma que o leitor perceba onde está o bem e o mal, quem é herói e quem é vilão, vítima ou algoz.

De uns tempos para cá, a mídia foi invadida pela figura do neonazi. Se um grupo de jovens, brancos e preferentemente europeus ou de origem européia, sai a fazer balbúrdias e agride imigrantes, negros ou árabes, está configurado o neonazismo. Podem até mesmo jamais ter ouvido falar de nazismo, Hitler ou Segunda Guerra. Mas são evidentes neonazis.
Se não há agressão alguma, cria-se pelo menos atos criminosos por omissão.

[...] Imprensa importa neonazis — Se há neonazistas na Europa, tem de existir também no Brasil. Assim, quando ocorre qualquer incidente nalgum país europeu, preferentemente em países germânicos ou nórdicos, os editores saem a catar nos arquivos grupos equivalentes no Brasil. Basta achar um careca, branco e preferentemente parrudo, vestido com couro e correntes, e lá está a ameaça nazista.

[...] A farsa de Marie — Dia 10 de julho de 2004, a máquina de produzir racismo voltou a funcionar. Uma jovem de 23 anos, Marie L., que viajava com seu bebê de 13 meses no metrô de Paris, apresentou queixa à polícia de ter sido agredida por um grupo de jovens desconhecidos com idades entre 15 e 20 anos. Os agressores seriam negros e africanos do norte. Rasgaram sua roupa, cortaram seus cabelos, atiraram seu bebê no chão e pintaram suásticas em sua barriga por acreditar que ela fosse judia. Ainda segundo Marie, cerca de vinte pessoas assistiram à agressão passivamente, sem sequer prestar-lhe auxílio.
Escândalo na França, horror na Europa. Os jornais do continente deram suas primeiras páginas ao fato abominável. Jacques Chirac manifestou seu susto ao tomar conhecimento “desta odiosa agressão” e pediu que seus autores fossem “julgados e condenados com severidade e responsabilidade”. Organizações religiosas e de direitos humanos condenaram com veemência não tanto a agressão dos árabes e negros, mas principalmente a omissão e passividade dos demais passageiros. Um clima de progrom perpassou a Europa. Neste domingo passado, o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, exortou os judeus da França a viajar imediatamente a Israel. “Proponho a todos os judeus que venham a Israel, mas para os judeus da França é absolutamente necessário, e eles devem partir imediatamente”, disse Sharon. Como se a França tivesse declarado guerra a Israel.

Por 48 horas, o país foi tido como uma reencarnação da Alemanha nazista. Logo se descobriu que a denunciante era uma moça com problemas mentais, que já apresentara queixas semelhantes no passado.

Um exame das imagens das câmeras de segurança da estação de metrô não mostraram agressão alguma. Eventuais testemunhas foram chamadas a depor e nenhuma se apresentou. Diante das evidências, a moça acabou “quebrando” e admitiu a farsa.

Jornal algum, nem mesmo o sisudo Le Monde, teve a preocupação de checar a notícia, que tinha todos os componentes para ser um blefe. E blefe dos mais perigosos, pois joga com ressentimentos de duas comunidades que nutrem ódios milenares. A prefeitura de Lyon chegou a programar uma passeata contra o anti-semitismo, cancelada após a confissão de Marie L. Os muçulmanos, por sua vez, tiraram sua casquinha, denunciando uma “islamofobia reinante, acentuada pelos meios de comunicação e as autoridades, que se lançaram a denunciar os fatos sem esperar para verificá-los”.

É fácil acusar uma multidão. Os fabricantes de racismo desde há muito intuíram isto. Como ninguém é acusado individualmente, ninguém reclama. Mais difícil é acusar uma ou duas pessoas. O acusado se vê forçado a defender-se e o acusador arrisca um processo. Como a luta de classes está fora de moda, o racismo tornou-se o novo motor da história. Multidões serão novamente denunciadas por crimes que não foram cometidos nem podem ser provados. Mesmo desmentidos, comunidades e países inteiros herdarão a pecha de racistas. O alvo é a Europa. Como o fantasma do comunismo não conseguiu dobrá-la, como previa Marx já no Manifesto, suas viúvas brandem um outro, o da luta racial.”

Apesar de ser um texto interessante e que leva a certas considerações, não podemos cair na condição de aceitar o título como verdade, ou seja, o neonazismo não é um mito, existem sim grupos com essa ideologia na Europa, EUA (que por sinal são os criadores da eugenia), América Latina e sim Brasil.


A fotografia de reportagem

Blog do Luis Nassif - 13/02/09

Por antonio francisco

Nassif, não sei se comentaram que o fotógrafo brasileiro Luiz Vasconcelos ganhou o prêmio World Press 2008 com a espantosa foto de uma índia e sua filhinha no braço - contra policiais.

Resolvi publicar também a foto vencedora cuja estória está abaixo. É somente uma amostra da diferença do impacto da crise lá e aqui.

A escolha da fotografia vencedora de 2008, em preto e branco, mostra um policial dentro de uma casa em Cleveland, Ohio, onde os moradores tiveram que sair às pressas em consequência da execução de uma hipoteca. A foto foi publicada em março de 2008, pela revista Time, em uma reportagem sobre a crise econômica nos Estados Unidos. A escolha da foto foi justificada pelos jurados porque mostra a exclusão das pessoas, dando ideia de que a guerra está entrando na casa de quem não consegue pagar suas dívidas.

Anthony Suau/Divulgação/Reuters

Anthony Suau/Divulgação/Reuters / Foto vencedora mostra contrastes: parece uma foto clássica de guerra, mas é somente um despejo
Foto vencedora mostra contrastes: parece uma foto clássica de guerra, mas é somente um despejo

Raízes da crise

Blog do Luis Nassif - 13/02/09

Por Roberto São Paulo/SP

REVISTA DO BNDES, RIO DE JANEIRO, V. 15, N. 30, P. 129-159, DEZ. 2008

Analisando a Crise do Subprime/GILBERTO RODRIGUES BORÇA JUNIOR
ERNANI TEIXEIRA TORRES FILHO/Economistas do BNDES

………..3. O Papel das Instituições Privadas nos Empréstimos Subprime

A Figura 1 mostra, de forma estilizada, a engenharia financeira montada pelas instituições financeiras privadas para o repasse desses créditos securitizados a terceiros no mercado de capitais. Os segmentos em tom mais claro resumem a operação original, seja do financiamento imobiliário ou da venda direta de títulos aos investidores, enquanto os segmentos em tom mais escuro mostram os passos seguintes, nos quais são utilizados derivativos de crédito. Em outras palavras, isso significava que eram emitidos novos títulos de dívida cujos valores derivavam de outros títulos, baseados nas hipotecas subprime…..

………..Na posição final, estava a tranche senior do tipo AAA. Seus detentores só teriam prejuízos caso todos os demais cotistas tivessem sofrido perdas integrais. Trata-se, portanto, de uma classe de investimento extremamente segura, mas que, por isso mesmo, proporcionava um ganho pequeno em relação ao que era pago aos demais investidores…………….

………O caso das tranches de risco médio está retratado na Figura 1 pelos retângulos de tom intermediário. Essas cotas eram transferidas a um fundo CDO, junto com outros títulos de dívida, como recebíveis de cartões de créditos, recebíveis de financiamentos a automóveis, empréstimos estudantis (students loans) e, até mesmo, outros investimentos imobiliários…………..

………….Resolvido o custo de captação dos créditos classificáveis pelas agências, restava ainda o que fazer com a tranche de pior risco – o toxic waste………..

……..A saída encontrada foi a criação de empresas de investimentos estruturados – as SIVs – cujo único propósito era emitir títulos de curto prazo lastreados nas hipotecas – asset backed commercial papers –, usados, nos EUA, para remunerar aplicações de caixa de empresas,

A maior dificuldade nesse tipo de estruturação era que os commercial papers possuíam maturidade curta, de três ou seis meses, enquanto os ativos que as SIVs mantinham em carteira, lastreados nos fluxos de pagamentos futuros dos financiamentos imobiliários, eram de até trinta anos……………

O artigo completo em PDF no site do BNDES apresenta todos os gráficos.

Sarney e Lula

Instituto Humanitas Unisinos - 13/02/09

"Entendo que o presidente Sarney ficará ainda mais ligado ao Lula e fará o que LulaSarney não é um simples apoiador do Lula. Ele comanda todo o sistema energético brasileiro", afirma Itamar Franco, ex-presidente da República, em entrevista concedida ao determinar. jornal Valor, 13-02-2009.

E Itamar continua:

"Dou um exemplo. Furnas sempre foi dirigida por mineiros. O dr. José Pedro [Rodrigues dos Santos, mineiro, amigo de Itamar] saiu há pouco da presidência de Furnas. Não foi nenhum mineiro para lá, não. Foi quem o Sarney determinou. Ele controla o próprio ministro [Edison Lobão], a Eletrobrás, Furnas, a Eletronorte. Até na Petrobras tem influência. Então, este homem está hoje devedor de Lula, muito mais do que Lula lhe deve pelo apoio. Controlar o sistema energético é ter muito poder. Quando Fernando Henrique tentou privatizar Furnas, eu era governador, e lutei contra. Graças a minha resistência, Furnas e Cemig continuam brasileiras. Mas isso, hoje, a gente só comenta. Para alguns eu não existi nem existo. Quando saí da Presidência ainda fiquei aborrecido, mas me lembrei de um verso de Castro Alves. Percebi que algumas pessoas que eu achava que eram estrelas eram apenas pirilampos ["Julguei-te estrela - e eras pirilampo", do poema "Dalila"].

O paraíso dos sem-crise

Instituto Humanitas Unisinos - 13/02/09

No dia em que foi aberta, em novembro do ano passado, a loja das Casas Bahia na favela de Paraisópolis vendeu mais do que qualquer outra unidade em São Paulo. Desde sua inauguração, que atraiu cobertura do 'Financial Times', seu volume de vendas mantém-se superior ao de muitas das lojas que o grupo mantém em shoppings, o que animou a direção a abrir unidades semelhantes nas maiores favelas de São Paulo e do Rio - Heliópolis e Rocinha.

A reportagem é de Maria Cristina Fernandes e publicada pelo jornal Valor, 13-02-2009.

Em 2007, 250 famílias da comunidade recebiam refeições gratuitas na associação de moradores. O número foi se reduzindo e agora está em 110 famílias atendidas.

O presidente da associação, Gilson Rodrigues, militante de 24 anos do movimento de alfabetização de adultos, atribui ao perfil do emprego dos moradores da região - empregadas domésticas, babás, faxineiras, motoristas, porteiros, seguranças e jardineiros - absorvidos pelo vizinho Morumbi, a impermeabilidade à retração econômica.

A brecha para a crise seria a queda no emprego na única indústria que atrai mão de obra na região, a da construção civil. Mas é também a retração no setor que tem freado um de seus mais latentes focos de tensão, a avidez da indústria imobiliária sobre uma comunidade em que 90% das edificações estão em terrenos irregulares.

A proximidade de um dos bairros mais ricos de São Paulo faz de Paraisópolis uma favela atípica numa cidade em que a pobreza está radicalmente periferizada. É da relação com os vizinhos, entre os quais alguns dos melhores hospitais e escolas privadas da cidade, que vem uma longa tradição em parceiras com organizações não-governamentais que amplia a precária rede de serviços de saúde e educação ofertados aos moradores da favela.

Estão separados de seus empregadores por poucos quarteirões, ou apenas por um muro, como mostra a premiada foto de Tuca Vieira, do prédio com uma piscina por andar que desce, em cascata, até o limite do casario empilhado de tijolos sem reboco.

Ao contrário de outros favelados, que distam de três a quatro horas de transporte público de seus locais de trabalho, os de Paraisópolis se deslocam a pé. São os únicos pedestres na silenciosa paisagem de ruas arborizadas, sinuosas e cheias de cancelas.

Esse pacto de convivência esteve ameaçado dez dias atrás quando um grupo de jovens desceu os 187 degraus que separam a favela da avenida que corta o Morumbi. O motim foi resumido por uma dona de casa de 42 anos, que passava pelo local em seu Siena prata, aos repórteres Vitor Brandalise, Bruno Tavares e Bruno Paes Manso, de "O Estado de S.Paulo": "Me senti no meio do inferno. Eram garotos de 10 a 15 anos com pedras nas mãos, pedindo celular, a bolsa. Quebraram tudo. Perguntaram se eu estava bem, mas disseram: 'Precisávamos fazer isso porque mataram um dos nossos".

O inquérito sobre o motim ainda não foi concluído, mas as apurações apontam para a deterioração nas relações entre a polícia local e os moradores que serviu de combustível para os chefes do tráfico local, supostamente ligados ao PCC.

As estatísticas policiais corroboram a hipótese de disputa pelo comando do tráfico. Pelos números oficiais, a região tem indicadores de segurança melhores do que a maioria das favelas da cidade. O que tem crescido acima da média paulistana são as ocorrências ligadas ao tráfico de drogas que ali abastece grande parte da zona sul paulistana.

A associação dos moradores avalia que atuação de mais de 50 organizações governamentais atenda à metade da demanda local. Avalia-se que, apesar das quatro escolas municipais e quatro estaduais da região, haja 5 mil crianças e 1 mil jovens desmatriculados, além de 15 mil analfabetos.

O ensino médio abriga apenas 20% da população elegível. Apenas 0,5% dos jovens entre 18 e 24 anos estão no ensino superior. Quinze anos atrás, quando o Prouni era uma miragem, esse índice chegou a ser duas vezes maior.

A favela abriga o PAC Paraisópolis, que reune investimentos federal, estadual e municipal em habitação. A menos de um quilômetro da favela está o Palácio dos Bandeirantes, onde ontem foi anunciada a antecipação de investimentos do governo paulista em reação à crise.

A economia de Paraisópolis bombava quando a cacicada local mandou seus meninos arregaçarem nas ruas do Morumbi, moradia de grande parte dos mais atingidos pelas perdas financeiras da crise.

Como buchas de canhão do tráfico, acabaram espicaçando um bem-sucedido modelo de parcerias público-privadas que dá sinais de ter chegado ao seu limite. Não são capazes de redimir a ausência do Estado na assistência a uma legião de excluídos espremidos entre as bolsas de estudo disputadas a tapa em colégios de elite e o crediário em 48 prestações.

O motim mostra os riscos trazidos pela crise. Que entre o Morumbi e Paraisópolis se erga mais uma cancela. Entre os que clamam por mais Estado para redimir suas perdas e aqueles que, sem nunca terem tido acesso às suas benesses, fiquem cada vez mais longe delas.

Obama e suas cabras

Instituto Humanitas Unisinos - 13/02/09

"Estados Unidos começam a auditar grandes bancos, meio quebrados, para decidir em quais vai injetar dinheiro", escreve Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 13-02-2009.

Eis o artigo.

Imaginem que dúzias de auditores do Banco Central baixassem em todos os maiores bancos do Brasil. Que fizessem tal coisa um dia depois de o ministro da Fazenda ter dito que o governo faria auditorias para saber qual deles estava à beira da morte. Que, feita a auditoria, os bancos receberiam algum empréstimo do governo, um "capital tampão" para os rombos presentes e futuros. Que tal empréstimo pode ser convertido em ações do banco em estado de risco falimentar.

A auditoria em massa parece ter começado na quarta-feira para os maiores bancos americanos, segundo o "New York Times". Cerca de cem agentes de supervisão bancária baixaram no Citigroup. Outras "dúzias" foram investigar as contas de Bank of America, JPMorgan e mais 15 grandes bancos, perfazendo 18 no total. O governo, pois, não acredita que tais bancos tenham capital suficiente. Duvida dos seus balanços.
E daí? Sem resolver o descalabro dos bancos americanos e europeus, a seca de crédito mundial vai se transformar num Saara financeiro. A seca que começou em setembro de 2008 já foi bastante para derrubar a economia brasileira e mundial.

O secretário do Tesouro, o ministro da Fazenda deles, Timothy Geithner, dissera no anúncio de seu plano de socorro que os bancos passariam por um "teste de estresse" (uma auditoria para saber de quanto precisam para não falir caso percam mais dinheiro, dados tais e quais cenários econômicos até 2010).

O plano de Geithner era também "aumentar a transparência": checar o valor dos títulos e empréstimos dos bancos, muitos deles agora podres. Com tal transparência e com o empréstimo tampão do governo, diz Geithner, os bancos seriam "encorajados" a arrumar capital privado (é o que diz seu plano de sete páginas). De onde virá dinheiro privado, porém, se ficar evidente que os bancos estavam quase insolventes, que têm pouco para emprestar e que não vão pagar dividendos (outra condição do pacote de socorro)?

O "teste de estresse" suscita ainda uma grande curiosidade. O plano Paulson-Bush de compra de papéis podres dos bancos foi à breca entre outros motivos porque ninguém sabia como avaliar o preço de tais ativos. Portanto, ninguém sabia ou sabe bem o tamanho do rombo nos balanços. Como fazer "testes de estresse" sem dar um preço a tais papéis?

De resto, se algo nisso tudo faz sentido, bancos que não passarem no "teste de estresse" serão: a) parcial ou totalmente estatizados ou b) receberão empréstimos camaradas do governo Barack Obama, incondicionalmente. Sim, pois, se houver condições, tal como alguma interferência do governo na gestão, haveria estatização de fato, mas disfarçada.

Mas, na noite de terça, após o anúncio do plano Geithner, Obama havia dito em entrevista à TV ABC que ele e equipe avaliaram que estatizar não era uma boa solução, pois os EUA têm milhares de bancos e que estatizar não é uma tradição do país (mas tradições se inventam).

Um desses investidores habitualmente ouvidos pela reportagem de finanças dizia pitorescamente ontem à Bloomberg que "há profundo cinismo no mercado a respeito do que está acontecendo, e em Washington o pessoal sabe tanto o que fazer como uma cabra". Pois é.