"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, novembro 06, 2008

Mensagem à nação com ataques aos Estados Unidos

darussia.blogspot.com - 05/11/08



Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, começou a sua mensagem à nação com fortes ataques à política dos Estados Unidos, lançado para cima deste país a culpa da guerra no Cáucaso e da crise financeira mundial.
Segundo ele, “o ataque desferido pelas tropas georgianas contra a Ossétia do Sul (em Agosto) é uma consequência da política unilateral dos Estados Unidos”.
“O conflito no Cáucaso foi utilizado como pretexto para o envio pela NATO de navios de guerra para o Mar Negro e, depois, para acelerar a imposição à Europa de sistemas de defesa antimíssil americanos, o que, claro está, provocará medidas de resposta por parte da Rússia”, acrescentou.
“Nós não iremos recuar no Cáucaso. Iremos superar as consequências da crise económica mundial e sairemos dela ainda mais fortes”, frisou.
“Não temos problemas com o povo americano. Espero que a nova administração enverede pela via da criação de relações completas com a Rússia”, declarou, ao comentar os resultados das eleições presidenciais nos Estados Unidos.
Medvedev prometeu também desenvolver as relações com a União Europeia.
No campo interno, Dmitri Medvedev prometeu não recorrer à “nacionalização” do sistema financeiro para combater as consequências da crise mundial na Rússia.
“A liberdade política dos cidadãos e a propriedade privada são intocáveis”, sublinhou.
O dirigente russo considerou que “a ingerência da burocracia em todas as esferas da sociedade impede o desenvolvimento da democracia, multiplica a corrupção e o niilismo jurídico”.
Medvedev propôs todo um conjunto de medidas para “elevar o nível e a qualidade da representação popular no poder, capazes de garantir um maior envolvimento na vida política”.
Por exemplo, defendeu que os pequenos partidos, que obtenham entre 05 e 07 pc dos votos, devem também ter representação parlamentar.
Segundo a lei actual, só os partidos que superam a barreira dos 07 pc é que podem eleger deputados para a Duma Estatal.
No lugar da nomeação dos governadores das regiões e repúblicas da Rússia por parte do Kremlin, norma imposta por Vladimir Putin quando era Presidente, Medvedev propõe que os candidatos a esse cargo sejam propostos ao presidente pelos partidos que vencerem as eleições regionais.
Além disso, defendeu que os poderes do Conselho da Federação, câmara alta do Parlamento russo, deverão ser alargados, nomeadamente no que respeita ao controlo das actividades do Governo.
O Presidente russo apelou também ao desenvolvimento mais activo da Internet e da televisão, considerando-as “a garantia da liberdade de expressão”
O dirigente do Kremlin propôs também alargar os mandatos do Presidente e da Duma Estatal, câmara baixa do Parlamento russo.
“Aumentar os mandatos do Presidente e da Duma Estatal para seis e cinco anos, respectivamente”, defendeu ele.
Até agora, tanto o Presidente, como a Duma Estatal tinham mandatos de quatro anos.
A política de defesa esteve também no centro das atenções de Medvedev, tendo o dirigente russo anunciado toda uma série de medidas para neutralizar a instalação do sistema de defesa antimíssil norte-americano no Leste da Europa.
“A Rússia não se deixará envolver na corrida aos armamentos, mas as segurança dos seus cidadãos será bem garantida”, sublinhou, mas anunciou várias medidas concretas para neutralizar o sistema de defesa antimíssil a instalar no Leste da Europa.
“Caso seja necessário para neutralizar o sistema de defesa antimíssil, iremos instalar na região de Kalininegrado o sistema de mísseis Iskander”, frisou.
Esta parte do seu discurso recebeu fortes aplausos das mais de mil pessoas que assistiram ao discurso de Dmitri Medvedev no Kremlin.

OS DOIS MOTIVOS PARA O SENADOR HERÁCLITO FORTES QUERER PRENDER O DELEGADO PROTÓGENES

Conversa Afiada - 05/11/2008 22:25



Heráclito precisava elogiar a ministra da BrOi

Paulo Henrique Amorim

.A Polícia Federal de SP (sempre a de São Paulo!) entrou na casa do ínclito delegado dr. Protógenes Queiroz, em Brasília, para cumprir uma ordem expedida pelo juiz Ali Mazloum, da 7a Vara Criminal Federal de São Paulo.


.Segundo a Folha Online, essa operação de busca e apreensão contra o ínclito delegado dr. Protógenes Queiroz deriva de ação iniciada pelo presidente da Bancada Dantas no Congresso, senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

. O Conversa Afiada tem motivos para acreditar que a PF, que hoje trabalha para Dantas, se inspirou na tentativa, até agora inútil, de tirar Gilmar Mendes e Nelson Jobim da forca, porque não se acha o áudio do grampo que teria sido feito com o Supremo Presidente do STF.

.Mas vamos supor que a Folha Online também tenha razão.

.Por que cargas d'água o líder da Bancada Dantas no Senado quer investigar, e eventualmente prender, o único servidor público que ousou encarcerar Daniel Dantas duas vezes?

.Primeira razão para Heráclito querer prender Protógenes: ele, Heráclito aparece na Operação Satiagraha com incontido júbilo ao saber que a ministra Dilma Roussef tinha dado o sinal verde à patranha da BrOi.

.E combina fazer um pronunciamento no Senado em defesa da ministra, que naquela altura estava na mira da oposição por causa dos gastos do presidente Fernando Henrique Cardoso e dona Ruth com cartão corporativo.

.Heráclito, queria retribuir a generosidade da ministra, que aprovou uma operação que só se tornou possível porque Daniel Dantas ganhou um cala-boca de US$ 1 bilhão. O outro motivo para o senador querer prender Protógenes é o fato de ele próprio e o ministro Nelson Jobim ter sido flagrados em um edificante diálogo no qual o ministro da Defesa defende os negócios de Dantas e pede a Heráclito para avisar Carlinhos Rodenburg, sócio de Dantas, que os investimentos de Dantas na Amazônia são muito perigosos.

. Um conselho de amigo para amigo.

.Heráclito foi o estafeta.

.Heráclito, Jobim e Mendes formam uma espécie de triunvirato que precede, como em Roma Antiga, a ditadura imperial. São eles os autores intelectuais do Golpe de "Estado de Direita".

MARTIN WOLF: REFORMA DO SISTEMA FINANCEIRO COM O BRASIL DENTRO

Conversa Afiada - 05/11/2008 08:40



Wolf: reforma do sistema financeiro com o Brasil dentro

A cúpula dos G20, que acontecerá em Washington em 15 de novembro, pode ser a úlitma chance de definirmos uma trajetória eficiente para a economia mundial. Em artigo no Financial Times, o colunista Martin Wolf enumera os principais pontos que motivaram a crise mundial do sistema financeiro e os desafios que a economia mundial passa. Sobre o que pode sair desse encontro, Wolf é enfático: "espero que a cúpula do G-20 defina uma agenda para uma reforma séria, mediante a criação de grupos de trabalhos que compromvem sua capacidade para produzir propostas radicais e eficazes". Para ele, o ideal seria um G-14 com a participação do Brasil, China, Índia, México, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul.

Leia o artigo, veiculado do Valor Econômico, na íntegra:

"Bretton Woods II": vital e dificílimo

Chegamos ao ponto de uma crise em que líderes ambiciosos pedem um “novo Bretton Woods”. É fácil ironizar tal discurso. Mas é também fácil ver porque esta crise faria tais pessoas pensarem em termos tão heróicos.

Em primeiro lugar, a economia mundial está de volta à condição que motivou o acordo original de Bretton Woods - uma gigantesca crise financeira proveniente dos EUA -, então, e ainda hoje, a potência financeira dominante no mundo. A Grande Depressão da década de 30 foi acompanhada - e agravada - por malogros de cooperação econômica, desintegração da economia mundial e ressurgimento de nacionalismo. Mas também produziu uma revolução no pensamento econômico. “Nunca mais” foi o objetivo dos negociadores em Bretton Woods, no Estado de New Hampshire. Atolados na pior crise financeira desde os anos 30, temos boas razões para dizer o mesmo.

Em segundo lugar, é desnecessário aguardar momentos mais calmos para repensar o sistema econômico. A conferência de Bretton Woods culminou em julho de 1944, enquanto a Segunda Guerra Mundial estava longe de terminar. Se então puderam combater uma guerra e reestruturar uma economia mundial simultaneamente, também podemos combater uma crise e, ao mesmo tempo, reestruturar as instituições mundiais.

Terceiro, o sistema financeiro mundial atual é disfuncional. O que está em jogo para uma reforma é a manutenção da economia mundial aberta que oferece oportunidades a tantos. Está também em jogo a cooperação sustentada entre países. Nada é menos provável do que cooperação efetiva entre governos “ensimesmados” administrando sociedades atemorizadas, ou mesmo xenofóbicas.

Finalmente, o que está acontecendo está na intersecção entre macroeconomia mundial - dinheiro, câmbio e balança de pagamentos - e o sistema financeiro mundial: fluxos de capital, fragilidade financeira e contágio. O imperativo de cooperação permanece. Mas como disse Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, em 6 de outubro: “precisamos modernizar o multilateralismo e os mercados para uma economia mundial em mutação”.

Então, como fazê-lo? Precisamos partir dos desafios fundamentais.

O primeiro é a impossibilidade de influenciar as políticas de países que registram enormes e persistentes superávits em conta corrente. Essa foi uma preocupação dominante de John Maynard Keynes em 1944. Ironicamente, o problema naquele momento eram os superávits americanos. Hoje, o problema é o colapso da capacidade das famílias americanas e em um punhado de outros países de alta renda de contrabalançar os enormes superávits em conta corrente gerados pela China, Alemanha, Japão e pelos países exportadores de petróleo. Os países superavitários adoram criticar aqueles que gastam o que os primeiros desejam conceder como empréstimos. Aqueles logo descobrirão que não podem dispensar a prodigalidade destes.

O segundo é o financiamento a países sujeitos a “paralizações repentinas” dos afluxos de capital, do tipo que estamos testemunhando, à medida que bancos e outros emprestadores de moeda estrangeira sustam o financiamento a um amplo leque de tomadores de empréstimos, especialmente a países emergentes. Muitos destes fizeram um imenso e oneroso esforço para reduzir a vulnerabilidade acumulando reservas em moeda estrangeira. Em agosto deste ano, o total de reservas em moeda estrangeira dos países emergentes tinha chegado a US$ 5,5 trilhões, muitíssimo maior do que os US$ 260 bilhões disponíveis ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto, auto-seguro é algo ineficiente e também, conforme comprovado, distribuído desigualmente.

O terceiro desafio é o de tornar o sistema financeiro menos instável e, acima de tudo, menos vulnerável a tais enormes oscilações no apetite por riscos - de financiar qualquer coisa, por mais ridícula, a financiar nada, por mais meritória. Além disso, neste momento, como enfatizou Stephen King, do HSBC, no fórum dos economistas do FT, os esforços dos governos no sentido de obrigar os bancos socorridos a financiar tomadores de empréstimos domésticos tendem a sacrificar seus empréstimos a países emergentes.

O último desafio da lista é o de tornar a arquitetura institucional mundial menos ilegítima do que hoje. As instituições criadas por Bretton Woods - o FMI e o Banco Mundial - são dominadas pelas potências ocidentais: no caso do Fundo, os EUA ainda detêm 17,1 % das quotas (que em larga medida determinam os votos) e a União Européia outros 32,4% (em maio de 2007). Por seu turno, a China tinha apenas 3,7% e a Índia 1,9%. Trata-se, simplesmente, de uma anomalia. Também é anômala a persistência do G-7 como grupo coordenador da economia mundial, especialmente na medida em que três deles - Alemanha, França e Itália - não têm moedas independentes. O Grupo dos 20, cuja cúpula acontecerá em Washington em 15 de novembro, parece grande demais. Zoellick sugere um G-14, com Brasil, China, Índia, México, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul.

O interessante sobre essa agenda é em que medida grande parte dela poderia parecer familiar aos olhos dos participantes de Bretton Woods, com uma exceção. Keynes ficaria horrorizado com o fato de o mundo ter deixado escapar da lâmpada o gênio dos livres fluxos de capital. É por isso, assinalaria ele, que mais financiamento externo é necessário do que em qualquer momento anterior, porque enormes reservas em moeda estrangeira foram acumuladas e porque crises financeiras são novamente mundiais, em vez de locais. Ele acrescentaria que “um banqueiro sensato, infelizmente, não é aquele que antevê o perigo e o evita, mas aquele que, quando está arruinado, fica arruinado de uma maneira convencional e ortodoxa juntamente com seus semelhantes, de modo que ninguém pode realmente culpá-lo”. Temos um número excessivo desses banqueiros. Keynes certamente acrescentaria que essas instituições subcapitalizadas e ilíqüidas são praticamente bombas-relógios financeiras.

Mas, poderá algo de proveitoso ser feito para enfrentar tais desafios? É, certamente, possível - e, em verdade, necessário - mudar a arquitetura mundial, particularmente em resposta a mudanças nos pesos econômicos. É igualmente necessário prover o FMI de mais recursos financeiros para sustentar sua nova linha de financiamento de curto prazo. Mas é, sem dúvida, otimismo excessivo acreditar que o Fundo possa emitir advertências confiáveis de ameaças de crises. Mesmo se o fizesse, é ainda menos provável que os países relevantes viriam a fazer algo em resposta.

Também não sou otimista quanto a que possamos romper os vínculos que conectam a atividade bancária como burocracia monótona que presta serviços essenciais à economia à atividade bancária como cassino que cria a possibilidade de fazer apostas enormes. Os banqueiros receberam autorização para jogar com o dinheiro dos contribuintes. Para quem está por dentro do negócio, é maravilhoso. É também uma atividade que parecemos incapazes de conter.

Mas eu gostaria que os fatos me provassem errado. Espero que a cúpula do G-20 defina a agenda para uma reforma séria, mediante a criação de grupos de trabalho que comprovem sua capacidade para produzir propostas radicais e eficazes. Pois o que está acontecendo agora pode ser a última oportunidade para uma economia mundial aberta e dinâmica. Em primeiro lugar, temos de atravessar a crise atual. Depois, precisaremos tornar esses catastróficos colapsos financeiros tremendamente menos prováveis. Se não nós, quem? E se não agora, quando?

Clique aqui para ver o artigo no site do Financial Times.

Altamiro: O coro da mídia pelo "corte de gastos"

Site do Azenha - Atualizado em 05 de novembro de 2008 às 12:23 | Publicado em 05 de novembro de 2008 às 12:20

O coro da mídia pelo “corte de gastos”

por ALTAMIRO BORGES, EM SEU BLOG

Os empresários seguem a risca o ditado de “quem não chora não mama”. Diante da grave crise que se abate sobre a economia capitalista, eles procuram empurrar o seu ônus para as costas da sociedade, em especial dos trabalhadores. No ciclo da bonança, privatizaram os lucros; agora querem socializar os prejuízos. A caradura dos capitalistas, maiores responsáveis pela atual crise – com seus dogmas neoliberais do “estado mínimo” e da total desregulamentação financeira – é impressionante. Eles afundaram a economia e querem que os trabalhadores paguem o pato.

Nas últimas semanas, a mídia hegemônica alardeia a proposta do “corte dos gastos públicos”. Os empresários são beneficiados com novas linhas de crédito e redução do compulsório aos bancos, que já injetaram bilhões nas empresas. Mas eles exigem mais: eles querem arrochar os servidores públicos, abortar a valorização do salário do mínimo, penalizar a Previdência e reduzir os “gastos sociais” do orçamento. Segundo Jorge Gerdau, o barão da siderurgia, este gastos “são inúteis” e o governo deveria cortá-los para “garantir mais crédito aos investimentos e às empresas”.

Ganância destrutiva do capitalismo

A proposta do “corte dos gastos” evidencia a ganância destrutiva dos capitalistas. Os adoradores do “deus-mercado”, partidários da “mão invisível (e assassina) do mercado”, não enxergam que a redução dos investimentos públicos – seja na Previdência, no salário mínimo ou no programa Bolsa Família – restringirá ainda mais o consumo da sociedade, o que terá impacto negativo na produção e, de quebra, no emprego e renda. Um círculo vicioso, satânico, que dificultaria ainda mais a saída da atual crise econômica. Serviria apenas aos especuladores, os culpados pela crise.

A cegueira dos empresários, difundida pela mídia burguesa, é tanta que eles não ouvem sequer os conselhos de renomados economistas e nem observam os movimentos inversos realizados por outras nações capitalistas. Até nos EUA, pátria da desregulamentação, o governo apresentou pacote estimulando o consumo da sociedade e elevando os gastos públicos. Para Paul Krugman, ganhador do Premio Nobel de Economia, “no momento, aumentar os gastos públicos é a decisão acertada a ser tomada pelo governo dos EUA. Do contrário, a recessão será mais cruel e longa”.

Reflexões de outubro. Artigo de José Luís Fiori

Instituto Humanitas Unisinos - 05/11/08

"Os problemas sistêmicos provocados pela crise financeira já estavam se anunciado, nos últimos dias do mês de outubro. Até então, a intervenção das grandes potências manteve em funcionamento as funções básicas do sistema (como se fosse cérebro, coração e pulmão) , mas não teve como impedir o efeito contágio da crise, que já passou das finanças para o crédito, e deve atingir a produção, o emprego e as exportações de todo mundo, e de forma muito mais grave, no caso dos países menos desenvolvidos e com menor capacidade autônoma de socorrer seus próprios bancos e produtores", escreve José Luís Fiori, em artigo publicado no jornal Valor, 05-11-2008.

Eis o artigo.

"Nós decidimos tomar medidas decisivas e utilizar todos os instrumentos à nossa disposição para sustentar as instituições financeiras que tenham importância sistêmica e impedir que elas possam falir." - Plano de Ação do G7, Washington, 10/10/2008.

Na segunda-feira, dia 13 de outubro de 2008, o mundo amanheceu em silêncio e ficou em suspense, durante quase todo o dia, à espera do que seria uma espécie de "duelo final" entre o poder político e os mercados, que estaria se travando nos principais centros financeiros do mundo. No final do dia, entretanto, os primeiros sinais já indicavam que não houve duelo e que o poder político havia imposto sua autoridade sobre os "mercados financeiros". Depois de uma semana de pânico, entre os dias 5 e 12 de outubro, em poucas horas os governos das principais economias do mundo conseguiram formular um "plano comum" de intervenção massiva e estatização parcial dos seus sistemas financeiros, que cumpriu com o seu objetivo imediato de estancamento de "sangria" e estabilização do cambio. Quem quis, pode ver e aprender, naqueles dias, que existe uma relação essencial e expansiva entre o poder político e o capital financeiro, e que apesar de tudo o que foi dito e repetido nestes últimos anos, o poder político tem uma precedência hierárquica e dinâmica, com relação aos mercados e ao capital financeiro. Ou seja: o poder e a riqueza capitalista se expandem juntos, mas o poder político é uma condição essencial, permanente e dinâmica dos mercados e do capital financeiro.

Neste sentido, é interessante observar que o plano de nacionalização dos principais sistemas financeiros do mundo tenha sido formulado pela Inglaterra, com base na experiência da Holanda e antes de ser aceito pelos EUA e pela UE. Logo a Inglaterra e a Holanda, as duas potências marítimas e econômicas que teriam estado na origem do "capitalismo liberal" e na defesa permanente do laissez-faire. Nas semanas seguintes, depois do dia 13/10, a própria evolução da crise foi dando maior transparência à uma outra relação que costuma embaralhar a análise dos economistas: entre a moeda estatal e as infinitas moedas privadas e financeiras que coexistem dentro de um mesmo sistema econômico nacional e internacional.

Permitindo separar a crise do "mercado financeiro do mundo", que se estabeleceu nos EUA depois de 1980, de uma crise eventual do dólar e da hegemonia monetária dos EUA que ainda não aconteceu. E foi esta a estratégia que o governo americano adotou no campo internacional buscando sustentar a confiança e a centralidade mundial do dólar.

Durante todo o mês de outubro, os EUA mantiveram uma comunicação e uma coordenação com os governos e os BCs do Japão e da China - os maiores detentores mundiais de obrigações do Estado americano -, sendo que no caso da China, em particular, estabeleceu-se uma verdadeira parceira estratégica com o Tesouro americano, na defesa do dólar, e dos interesses financeiros comuns dos dois países.

Na mesma linha de atuação, depois do dia 13/10, o banco central americano, Fed, tomou a iniciativa e fechou acordos para garantir liquidez em dólares dos BCs da Austrália, Canadá, Dinamarca, Inglaterra, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, e com o próprio Banco Central Europeu. Logo depois, no dia 29 de outubro, o Fed ofereceu as mesmas facilidades e condições e mais uma linha de US$ 30 bilhões, para cada um dos BCs, do Brasil, México, Coréia do Sul e Cingapura. No mesmo dia em que o FMI anunciou, em acordo com o governo americano, a criação de uma nova linha de crédito sem condicionalidades, para países em desenvolvimento que estejam sofrendo os efeitos da crise e que mantenham políticas econômicas "sadias". Ao lado dos programas tradicionais de ajuda do FMI que vem sendo negociados neste momento com os governos de quase todos os países da Europa Central, além da Islândia, Turquia, Paquistão e outros prováveis candidatos do sudeste asiático. Ou seja: em poucas semanas, depois do dia 13 de outubro, o Tesouro americano e o Federal Reserve, junto com o FMI, tomaram a iniciativa dentro e fora dos Estados Unidos e passaram a atuar de forma agressiva, coordenada e global, para sustentar a estabilidade e a centralidade do dólar. Não há sinais de que os EUA estejam perdendo seu poder e sua capacidade de coordenação monetário-financeira, dentro da economia mundial.

Por isto se pode dizer - com razoável grau de segurança - que os problemas sistêmicos provocados pela crise financeira, deverão vir de outro lado, e eles já estavam se anunciado, nos últimos dias do mês de outubro. Até então, a intervenção das grandes potências manteve em funcionamento as funções básicas do sistema (como se fosse cérebro, coração e pulmão) , mas não teve como impedir o efeito contágio da crise, que já passou das finanças para o crédito, e deve atingir a produção, o emprego e as exportações de todo mundo, e de forma muito mais grave, no caso dos países menos desenvolvidos e com menor capacidade autônoma de socorrer seus próprios bancos e produtores. Todos organismos internacionais estão prevendo quedas acentuadas da produção, dos preços e das exportações. E a OIT está prevendo um aumento imediato de 10% do desemprego mundial, mais concentrado nas regiões mais pobres do mundo. Nestas regiões, deve se prever um processo complicado de desintegração social e política, e o mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão maior intensidade e violência nos territórios situados em "zonas de fratura" ou de disputas e conflitos geopolíticos crônicos. Isto poderá ocorrer em vários pontos da Europa do Leste e em alguns países da Ásia Central, e poderá assumir uma forma dramática no continente africano, sobretudo se esta regressão econômica e social coincidir com uma nova corrida imperialista sobre a África, que pode ser uma prolongação muito provável da crise atual.

Não é o momento para pseudo-ortodoxias

Instituto Humanitas Unisinos - 05/11/08

"O problema é que a situação atual não é de falta de liquidez, mas de "empoçamento de liquidez". Os grandes bancos brasileiros não emprestam, não porque lhes falte liquidez, mas porque receiam que esses empréstimos possam não ser pagos", escreve José Luis Oreiro, professor do Departamento de Economia da UnB, em artigo publicado no jornal Valor, 05-11-2008. Segundo o economista, "quando a crise de confiança ameaça contaminar os planos de investimentos das firmas, a política fiscal deve auxiliar a política monetária por intermédio do aumento dos gastos públicos, principalmente com investimentos em infra-estrutura".

Eis o artigo.

Nas últimas seis semanas os efeitos da crise financeira internacional atingiram em cheio a economia brasileira. No final de agosto o dólar ainda era cotado em torno de R$ 1,60. O dólar fechou cotado a R$ 2,14 no dia 29/10. Uma desvalorização de 33% em dois meses. Conseqüência do "câmbio flutuante que flutua", diriam alguns. No entanto, ao contrário do que pensam os paladinos do regime de flutuação cambial, essa rápida e desordenada desvalorização do câmbio provocou efeitos desestabilizadores sobre a economia brasileira. Diversas empresas do setor produtivo amargaram prejuízos bastante significativos com a desvalorização do real. Economistas ligados ao mercado financeiro calculam que os prejuízos com as operações de "derivativos cambiais" podem superar a cifra espantosa de US$ 50 bilhões. Como resultado desses prejuízos ocorreu um aumento significativo do risco de crédito das empresas do setor produtivo. Tal situação, agravada pelo clima de incerteza originado pela crise financeira internacional, fez com que os bancos brasileiros reduzissem o crédito, principalmente o crédito ao financiamento do capital de giro das empresas. Se essa situação de "evaporação de crédito" não for resolvida rapidamente, a economia brasileira corre o risco de entrar em recessão ainda este ano devido a "implosão" da oferta de bens e serviços, a qual resulta da incapacidade das firmas de obter o financiamento necessário às suas atividades normais de produção.

A gravidade da crise não tem sido adequadamente percebida pelo governo. O Banco Central ainda acredita que os efeitos da crise internacional se limitam a uma questão da "falta de liquidez" do setor bancário. Dessa forma, as medidas tomadas até aqui se resumem a liberação (parcial) dos depósitos compulsórios com vistas a irrigar o mercado financeiro com a liquidez necessária para que o mesmo funcione normalmente. O problema é que a situação atual não é de falta de liquidez, mas de "empoçamento de liquidez". Os grandes bancos brasileiros não emprestam, não porque lhes falte liquidez, mas porque receiam que esses empréstimos possam não ser pagos. Esse receio tem o poder de se tornar uma "profecia auto-realizável": o receio gera contração do crédito, a contração do crédito gera uma queda do nível de produção e de emprego, a queda do nível de produção e de emprego gera um aumento da inadimplência dos empréstimos bancários, sancionando assim o temor inicial e dando origem a uma nova rodada de contração de crédito.

Qual seria a estratégia mais adequada para se lidar com essa crise, de maneira a defender a economia nacional, ou seja, garantir a manutenção de uma taxa razoável de crescimento (em torno de 4% a.a) da economia brasileira para os próximos dois ou três anos?

Em primeiro lugar, são necessárias medidas no sentido de garantir a estabilidade da taxa de câmbio. O Banco Central tem atuado nesse sentido por intermédio da venda de reservas internacionais e por meio da venda de swaps cambiais para irrigar o mercado de câmbio, atuando assim como um market maker. Tais medidas foram bem sucedidas no sentido de trazer a taxa de câmbio para um patamar entre R$ 2,10 e R$ 2,20; após ter flutuado em torno de R$ 2,30 nas ultimas duas semanas. O problema é que essa estratégia não é suficiente para assegurar uma estabilidade duradoura da taxa nominal de câmbio. Com efeito, o déficit cambial verificado até o dia 24/10 somava US$ 4,397 bilhões de dólares, resultado de um déficit expressivo na conta financeira de US$ 6,131 bilhões de dólares.

Em outras palavras, a crise financeira detonou um movimento de saída de capitais do Brasil. Isso significa que a estabilidade da taxa de câmbio só poderá ser mantida, no marco institucional atual de liberdade de movimentação de capitais, às custas da perda de reservas internacionais a disposição do Banco Central. Embora o volume de reservas à disposição da economia brasileira seja ainda bastante confortável, não podemos desconsiderar o fato de que o Brasil possui atualmente um déficit em conta corrente em torno de 2% do PIB e que o cenário internacional é de aversão global ao risco, o que deve reduzir os fluxos de capitais para os países emergentes. Nesse contexto, uma situação de perda de reservas pode atuar como o "evento detonador" de uma crise cambial resultante da "parada súbita" do financiamento externo à economia brasileira. Se isso ocorrer, a taxa nominal de câmbio irá apresentar uma forte depreciação, podendo facilmente superar a cotação de R$ 3,00 por dólar.

Se esse cenário de "parada súbita" do financiamento externo se concretizar serão necessárias medidas no sentido de impor controles (temporários) a saída de capitais do Brasil, de forma a garantir a estabilidade da taxa de câmbio.

Qual seria um valor razoável para a taxa nominal de câmbio? Num estudo apresentado pelo autor deste artigo no 5º Fórum de Economia da FGV-SP constatava-se a existência de um desalinhamento cambial médio de 25% no final de 2007. Considerando que o câmbio médio de dezembro de 2007 era de R$ 1,77 por dólar, isso significa que a taxa de câmbio nominal compatível com os fundamentos macroeconômicos é de aproximadamente R$ 2,17 por dólar.

Além disso o Conselho Monetário Nacional precisa adotar medidas urgentes de "direcionamento de crédito" para induzir os bancos a retomar as linhas de crédito ao setor produtivo. Uma medida concreta nesse sentido seria atrelar a liberação dos compulsórios a concessão de crédito para o financiamento de capital de giro e para o financiamento das exportações. Algumas medidas nesse sentido já têm sido adotadas pelo governo, mas ainda são muito tímidas no que se refere aos valores envolvidos.

Por fim, não é o momento para pseudo-ortodoxias na condução da política monetária e fiscal. Num contexto de desaceleração cíclica do nível de atividade econômica é papel da autoridade monetária garantir a menor queda possível do nível de produção e de emprego. Quando a crise de confiança ameaça contaminar os planos de investimentos das firmas, a política fiscal deve auxiliar a política monetária por intermédio do aumento dos gastos públicos, principalmente com investimentos em infra-estrutura. Dessa forma, a verdadeira ortodoxia econômica prega a adoção de uma política monetária expansionista, com redução significativa da taxa de juros e ampliação da base monetária, em conjunto com uma política fiscal expansionista. Eventualmente poderá haver algum aumento da dívida líquida do setor público. Se ocorrer, paciência, é o preço a ser pago pelo uso da política anti-cíclica para corrigir as "falhas de mercado em grande escala" geradas, de tempos em tempos, pela dinâmica endógena das economias capitalistas. Esperemos, portanto, que a política econômica brasileira não seja conduzida por idéias heterodoxas neste momento crucial.

As empresas exportadoras e a aplicação em derivativos. Um problema não resolvido

Instituto Humanitas Unisinos - 05/11/08

Integrantes do governo se apressaram, nos últimos dias, em afirmar que o problema das empresas exportadoras com aplicações em derivativos cambiais estava resolvido. A realidade, infelizmente, não é essa. Houve forte redução, no mercado interno, de posições vendidas em dólar, mas, como as operações mais vultosas com derivativos foram feitas lá fora, com bancos estrangeiros, não se sabe ainda o tamanho do rombo. Este não é um problema isolado. Ele ajuda a agravar a escassez de crédito que ameaça colocar o país em recessão.

A reportagem é de Cristiano Romero e publicada pelo jornal Valor, 05-11-2008.

A entrada do Brasil na crise internacional teve dois momentos: um antes e outro depois da quebra do banco Lehman Brothers. Antes, imaginava-se que a crise atingiria o país via transações correntes. Uma maior remessa de lucros, a queda dos preços das commodities e a diminuição das exportações elevariam o déficit externo. O ajuste seria feito pela taxa de câmbio, com a desvalorização do real frente ao dólar. No pior cenário, isso alimentaria a inflação e obrigaria o Banco Central (BC) a aumentar os juros, reduzindo a taxa de crescimento da economia, mas possivelmente sem provocar recessão.

Depois da queda do Lehman, episódio que mudou o padrão da crise, na medida em que as autoridades americanas decidiram cruzar os braços, ao contrário do que fizeram em março quando outro banco (o Bear Stearns) quebrou, a turbulência tomou novo ímpeto e atingiu o Brasil, e outras economias emergentes, de forma inesperada. O crédito externo simplesmente secou. Como a economia brasileira vinha, nos últimos dois anos, recorrendo fortemente a essa forma de funding para financiar o comércio exterior, o baque foi imediato.

Como informa o economista Luiz Guilherme Schymura na Carta do Ibre deste mês, a diferença entre o câmbio contratado e o embarcado, somando exportações e importações, foi da ordem de US$ 80 bilhões nos últimos 24 meses. Com o desaparecimento das linhas externas, cresceu a demanda por crédito dentro do país, elevando as taxas dos CDBs. Obrigados a remunerar mais pelos CDBs que emitiam, bancos pequenos e médios perderam rentabilidade numa ponta e ficaram impedidos de ganhar na outra (em geral, esses bancos operam com empréstimos consignados, cujos juros são limitados pelo governo).

Com o agravamento da crise, as remessas ao exterior aceleraram e o dólar se tornou moeda escassa, empurrando o real para um autêntico overshooting. Empresas exportadoras que haviam montado, interna e externamente, posições em derivativos cambiais passaram a sofrer, como se viu, pesadas perdas, com reflexos sobre a oferta de crédito na economia como um todo. "Em conseqüência desses prejuízos, vários bancos que intermediavam aquelas operações tiveram, por razões contratuais, de financiar chamadas de margem na BM&F, sugando ainda mais a liquidez já escassa", diz Schymura na Carta do Ibre.

Não foram apenas os bancos envolvidos nas operações cambiais que passaram a empoçar a liquidez. Como ninguém sabe, e esta é efetivamente uma falha de regulação, o tamanho da exposição total das empresas em derivativos, a incerteza gerou receio. Sem saber quanto as empresas perderam no exterior - elas não são obrigadas a dar essa informação aqui dentro -, os bancos preferiram não emprestar. "Nesse ambiente, bancos e empresas começaram a elevar o caixa. Com isso, a oferta de crédito, inclusive para capital de giro, desabou", diz Elsom Yassuda, analista do banco Credit Suisse Hedging-Griffo.

Os setores com maior grau de alavancagem, margem mais baixa de lucro e descasamento entre ativos e passivos estão sofrendo mais que os outros. Nesse cenário, os riscos de inadimplência aumentaram, o que obriga os bancos a serem ainda mais prudentes na concessão de crédito. Companhias encrencadas com câmbio estão renegociando seus contratos com os bancos. Isso é positivo, mas tem efeito colateral: as perdas estão se transformando em crédito dos bancos a essas empresas, tornando ainda mais escassos os recursos para crédito novo.

"A incerteza em relação aos riscos mais sistêmicos, a necessidade de renegociar parte desses prejuízos e o encurtamento das linhas externas explicam essa forte contração na oferta de crédito que estamos vendo", resume Yassuda, um observador perspicaz da crise atual e de seus efeitos sobre o Brasil.

A natureza da crise, que combina escassez de crédito e volatilidade do câmbio, explica a reação persistente do Banco Central. Todas as medidas adotadas pela instituição até agora procuram atacar as dificuldades de crédito e evitar a criação de uma dinâmica autônoma no mercado cambial. O BC já colheu resultados positivos da segunda tarefa - a volatilidade do dólar diminuiu sensivelmente nos últimos dias. No caso da primeira, mais complicada e crucial, a luta continua.

A boa notícia é que o arsenal do BC é considerável. Para mencionar apenas duas possibilidades, o recolhimento compulsório sobre depósitos à vista ainda é muito alto (47%) e a taxa básica de juros (Selic), que está em 13,75% ao ano, tem espaço para diminuir (a depender da inflação, claro), caso se materialize uma recessão. A má notícia é que o tempo está correndo...

Dívida da Aracruz cresce R$ 2,55 bilhões em um mês

Instituto Humanitas Unisinos - 05/11/08

A demora em fechar a negociação com os bancos a fim de desmontar os contratos de venda de dólar em operações de derivativos cambiais elevou a dívida da Aracruz de R$ 1,95 bilhão para R$ 4,5 bilhões, avaliam analistas de mercado.

A reportagem é de Agnaldo Brito e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 05-11-2008.

O crescimento da dívida em pouco mais de um mês foi de R$ 2,55 bilhões, cifra equivalente a dois anos de geração de caixa da companhia (estimada em R$ 1,2 bilhão por ano) ou mais do que o lucro do Unibanco neste ano, até 30 de setembro, que foi de R$ 2,2 bilhões.

Ontem, a direção da Aracruz distribuiu fato relevante no qual anunciou, oficialmente, que chegou a um acordo com o grupo de bancos e anunciou perda de US$ 2,13 bilhões.

A empresa informou que não vai falar sobre as negociações, o tipo de acordo que está costurando, tampouco as conseqüências para a operação industrial do grupo no médio e longo prazos. No mercado, o anúncio foi bem recebido. As ações da Aracruz subiram 8,39%, para R$ 2,97.

Segundo a nota, 97% dos derivativos batizados no mercado de "exóticos" (por fugirem do padrão de instrumentos financeiros de proteção a variações cambiais usados por exportadores típicos como a Aracruz) foram renegociados e, segundo analistas, provavelmente por operações de empréstimos. A empresa deve assumir o valor como dívida e liquidar o passivo ao longo do tempo.

A companhia anunciou que concluirá a negociação com os bancos até o dia 30 deste mês. É esperado para o fim do mês também o detalhamento do acordo com bancos para o desmonte dos contratos de derivativos cambiais. Entre os bancos envolvidos estão o JPMorgan, Santander, Barclays, Goldman Sachs, ING, Merrill Lynch, Itaú BBA, Calyon e BNP Paribas.

"Para os bancos, foi uma solução interessante. Transfere uma operação contratual, com risco de não ser honrada, em um financiamento. A operação entra na carteira de crédito dos bancos", diz Marcelo Brisac, analista de recursos naturais da Itaú Corretora de Valores.

Para Brisac, a exposição aos tais derivativos cambiais poderia ter sido liquidada antes. "A impressão é que daria para zerar [a dívida] antes. Talvez esperaram uma situação cambial mais favorável, mas nesse caso, o tempo só piorou as coisas."

Felipe Ruppenthal, analista do setor de papel e celulose do banco Geração Futuro, avalia que a taxa de câmbio foi de R$ 2,10. O impacto no item endividamento da Aracruz, diz Ruppenthal, será brutal. Até 30 de setembro, a empresa tinha dívida de R$ 2,6 bilhões, uma posição confortável de 2,2 vezes a geração de caixa da empresa, de R$ 1,2 bilhão em 12 meses.

Com o mercado mundial em crescimento, esse era um múltiplo de dívida confortável, que permitia à empresa partir para o endividamento necessário ao financiamento de projetos de expansão, como a conclusão da segunda fábrica de celulose em Guaíba (RS) e os projetos para formação da base florestal da segunda unidade da Veracel (empreendimento em parceria com a Stora Enso) e da fábrica de Governador Valadares (MG). Esses projetos estão temporariamente suspensos.

"Com os derivativos, a empresa se endividou sem ter feito os investimentos", resume Ruppenthal. Os R$ 4,5 bilhões vão elevar a dívida da Aracruz para R$ 7,15 bilhões, estima o analista, o que projeta relação entre endividamento líquido sobre geração de caixa (Ebitda) de 5,79 vezes. Significa que a empresa precisará de toda a geração de caixa, durante mais de cinco anos, para pagar a dívida.

Itaú Unibanco. As tarifas escorchantes

Instituto Humanitas Unisinos - 05/11/08

Os clientes do Unibanco devem continuar a pagar tarifas mais caras e taxas de juros mais elevadas que as cobradas pelo Itaú na maioria dos serviços e empréstimos, pelo menos nos próximos seis meses e até que as duas instituições definam de que maneira será feita a integração operacional que resultará no maior banco do País e da América Latina. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) com base em 35 tarifas dos dois bancos mostra que em 29 delas o Unibanco cobra valores mais altos. A diferença chega a 238% em alguns serviços, como o fornecimento de extrato mensal de conta de depósitos à vista e de poupança.

A reportagem é de Marcelo Rehder e Marianna Aragão e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-11-2008.

“Normalmente em casos desse tipo o padrão tem sido a operação do maior banco servir de referência para o de menor porte”, diz Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). “Ou seja, a tendência é de que o cliente Unibanco seja beneficiado com um custo mais baixo se prevalecer a política do Itaú.” Em julho, o Itaú tinha R$ 343,8 bilhões em ativos totais, enquanto o Unibanco quase R$ 172 bilhões.

De acordo com o Itaú e o Unibanco, nada mudará para os clientes no curto prazo. Antes de mais nada, a fusão depende da aprovação do Banco Central (BC) e de outros órgãos reguladores como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), e esse tipo de decisão demanda tempo.

Além disso, as novas regras tarifárias do BC, que entraram em vigor no último dia 30 de abril, não permitem aumentos em um intervalo menor que seis meses. Dentro desse prazo, o banco ainda é obrigado a comunicar a clientela sobre as mudanças com antecedência mínima de um mês. De acordo com o Idec, o banco criado pela fusão não poderá aumentar suas tarifas nos próximos seis meses, já que o Unibanco, no dia 30 de outubro, fez seu último reajuste.

A expectativa dos órgãos de defesa do consumidor é de que as tarifas sejam niveladas por baixo. “Se a tarifa de um determinado serviço do Unibanco for menor que a do Itaú, essa deverá ser adotada e vice-versa”, afirma Marcos Diegues, assessor jurídico do Idec. Porém, não há regra que determine essa medida. “Não há controle nem tabelamento de tarifas ou juros no País, tanto que as nossas taxas estão entre as mais altas do mundo”, observa Evandro Zuliani, diretor de atendimento do Procon de São Paulo. “Nossa expectativa é baseada no princípio de respeito ao consumidor e na boa fé dos bancos”, acrescenta Diegues.

Tanto o Procon quanto o Idec orientam o correntista a ficar atento a novos reajustes nos preços dos pacotes de serviços já contratados, ao tipo de atendimento que tem hoje e se não haverá nenhum tipo de alteração unilateral de contrato. A quebra de contratos é expressamente proibida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).

O diretor-presidente da Engenheiros Financeiros & Consultores, Carlos Coradi, acredita que a tendência é de que não ocorra aumento de tarifas no novo banco. “Mas também não vejo razão para que o novo conglomerado, maior que seus concorrentes, reduza suas tarifas.” Segundo Coradi, grande parte do faturamento das instituições deriva da cobrança de serviços. “O que os bancos faturam com tarifa é suficiente para pagar toda sua folha de pagamento e ainda sobrar 60% a 80%.”

Para Brasil e América Latina, eleição de Obama traz poucas mudanças

Instituto Humanitas Unisinos - 05/11/08

Dois ex-embaixadores brasileiros em Washington, os diplomatas Rubens Ricupero e Rubens Barbosa, são realistas em relação ao presidente eleito, Barack Obama, o que na prática significa que nada ou muito pouco mudará para o Brasil.

A reportagem é de Eduardo Nunomura e José Maria Mayrink e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-11-2008.

Com uma pauta prioritariamente econômica, o chefe da maior potência do mundo não terá tempo de cuidar de temas caros aos Estados Unidos, como a guerra ao terror e o Oriente Médio. Durante a campanha que opôs Barack Obama e John McCain, já estava claro que a América Latina continuará fora do radar de preocupações.

“Na agenda prioritária americana, a nossa capacidade de influir é pequena”, afirma Ricupero, que foi embaixador entre 1991 e 1993. “Mais importante do que perguntar o que fará o novo presidente é saber qual será a posição do governo brasileiro em relação ao governo norte-americano, pois tudo indica que, da parte de Washington, não vai mudar muita coisa”, disse Barbosa, que ocupou o mesmo cargo entre 1999 e 2004.

Desde o fim da Guerra Fria, os americanos vêem a América Latina a partir dos acordos de livre comércio, do combate ao narcotráfico e da luta contra a migração, sustenta Ricupero.

“Na questão do comércio, os produtos brasileiros que têm problema nos EUA, o suco de laranja, o etanol, o açúcar, o tabaco, enfrentam lobbies muito estruturados no Congresso e (o novo presidente, Barack Obama) não terá qualquer ingerência.”

Barbosa acrescenta: “É possível que esse contencioso aumente, com a imposição de novas barreiras comerciais, por causa da crise financeira e do agravamento do problema do desemprego.”

Ex-ministro da Fazenda, Ricupero ressalta que o primeiro grande teste para Obama será já no dia 15, na reunião em Washington com o G-20.

Para Barbosa, o fato de a América Latina ter baixa prioridade na política externa americana favorece o Brasil. “É preciso saber o que vamos querer agora, pois nos últimos anos, quando os Estados Unidos tiveram crescimento de 3% a 3,5% ao ano, o Brasil perdeu uma boa fatia do mercado americano”, afirma.

Presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias de São Paulo, Barbosa diz que o Brasil deu prioridade às relações Sul-Sul. Em sua opinião, o País deveria reexaminar o tipo de relações que quer manter com Estados Unidos e Europa. “Não sei o que vai acontecer com o futuro governo dos Estados Unidos, se houver desdobramento do que Celso Amorim declarou após sua visita ao Irã.”

O chanceler defendeu, em Genebra, relações “normais e boas” com Teerã. O governo iraniano tem sido atacado nos Estados Unidos. Por outro lado, ele acredita que o Brasil pode ajudar em problemas como o embargo econômico a Cuba. “Obama não vai suspender o embargo, assim como John McCain não tomaria essa medida, mas poderá facilitar viagens e remessa de divisas para Cuba.”

SIMBOLISMO

Ricupero, que declara que teria votado em Obama se fosse americano, traça um paralelo entre o democrata e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lembrando do simbolismo que representou a ascensão de um ex-metalúrgico à Presidência.

“O (novo) governo americano vai procurar a parceria brasileira. É inegável que o atual presidente conquistou uma posição excepcional, porque ele tem um trânsito muito bom com os países de esquerda, assim como com os outros. Um trunfo que os americanos vão apreciar”, finaliza Ricupero.

Encontro com a escassez

Instituto Humanitas Unisinos - 05/11/08

O dia 4 de novembro de 2008 representa o fim de uma era. Economicamente, marca o final do longo boom iniciado em 1983.

A reportagem é de David Brooks, publicada pelo jornal New York Times e traduzida pelo jornal Folha de S. Paulo, 05-11-2008.

Politicamente, provavelmente marca o final do domínio conservador iniciado em 1980. Geracionalmente, marca o final da supremacia da geração baby boom, iniciada em 1968. Nos últimos 16 anos, membros da geração baby boom (os norte-americanos nascidos entre 1946 e 1960) ocuparam a Casa Branca.

Quando os historiadores analisarem a era que está se encerrando agora, verão um período de realizações privadas e de decepção pública.

Nas duas últimas décadas, os EUA se tornaram um lugar muito mais interessante. Empresas como Starbucks, Apple, Crate & Barrel, Microsoft e muitas outras iluminaram as vidas cotidianas. Cidadãos privados, sobretudo os jovens, repararam os danos no tecido social, se dedicaram ao serviço comunitário e promoveram uma redução no número de viciados em drogas e de gestações na adolescência.
Mas, ao mesmo tempo, a esfera pública não floresceu.

A despeito de décadas de prosperidade, questões já antigas como a saúde, a educação, a política energética e os benefícios sociais não foram conduzidas devidamente. A geração baby boom, que iniciou sua vida adulta prometendo ativismo permanente, provou ser uma geração sem distinção política alguma.

Produziu dois presidentes, nenhum dos quais confirmou o potencial que parecia apresentar. E seus integrantes se mantiveram aferrados à guerra cultural que consome a geração deles. Estão transmitindo o manto da supremacia política depois de desperdiçar uma série de oportunidades.

A frustração parece vir crescendo mês a mês. Os americanos estão ansiosos sobre suas vidas privadas, e seus líderes lhes são absolutamente repulsivos. Por isso, mudança é necessária.

Os republicanos escolheram como candidato um velho guerreiro cujo histórico envolve tomar decisões difíceis e absorver as conseqüências adversas que elas podem causar. Muitos de nós o consideram como um dos heróis de nossa era. Mas a demanda do público por mudança é total.

Barack Obama é uma criança dos anos 60. Para as pessoas da geração de Obama, os grandes tumultos do país já haviam passado quando eles chegaram à idade adulta. A geração deles tem por ordem a consolidação e um novo tradicionalismo - uma geração adepta de filtro solar e de capacetes para andar de bicicleta, e cuja principal preocupação é criar bem os filhos.

Obama é membro não só dessa geração ponderada como de seu segmento mais educado. Seu grupo social, formado por pessoas prósperas nascidas depois do baby boom, o vem apoiando com fervor inabalável. A classe privilegiada e de nível elevado de educação nas universidades, na mídia, na medicina e nos centros financeiros bancou sua campanha de US$ 600 milhões (que dependeu ainda mais que a de George W. Bush em 2004 de doações em montante elevado). Esse grupo em breve se tornará a classe governante. E a ironia é que terão de enfrentar o problema para o qual estão menos preparados: o da escassez.

Criados em ambientes prósperos, favorecidos pela genética, esses jovens líderes da meritocracia terão de governar em um período em que a procura pela riqueza do país supera a oferta. Terão de arcar com o fardo cada vez mais pesado de uma sociedade envelhecida, custos de saúde em alta e preços elevados para a energia. Terão de cobrir o US$ 1 trilhão ou mais que o governo gastará para evitar uma recessão profunda. Enfrentarão dificuldades para manter suas promessas de cortar impostos, criar uma revolução na energia, aprovar um dispendioso programa para a saúde, e tudo mais.

Nos próximos anos, a riqueza do país estará estagnada ou em queda. A contração fiscal se tornará mais severa.

Haverá disputas mais ferrenhas por recursos escassos, divisões mais gritantes entre facções. O desafio do próximo presidente será atenuar a dor da recessão atual e ao mesmo tempo construir uma sólida fundação fiscal para que o país possa voltar a prosperar em algum momento futuro.

Em outras palavras, provavelmente estamos ingressando em um período no qual os jovens e inteligentes liberais terão de encarar uma escassez inamovível, para a qual não têm planos.

Na era da transição, caberá aos filhos arcar com o fardo deixado por seus pais.

A DEMOCRACIA "MADE IN USA"

aijesus.blogspot.com - 04/11/08

Ao observar as longas bichas de estado-unidenses que avançam lentamente para os centros de votação, confirmo
[uma vez mais]
que este espectáculo é também ele responsável da ideia tão falsa como generalizada em Portugal
[basta ler alguns blogs e listas de discussão]
de que o maior país da América do Norte é o berço, a sede e a caixa-forte da democracia ocidental.


Os políticos dessa nação estão dispostos a tudo
[guerras de Iraque e Afganistão; guerras frias e quentes; golpes de estado como no Chile de Allende; controlo político e económico como em quase toda a América Latina, etc.]
para manter, exportar ou impor esta maravilha da política moderna.


Segundo rezam as enciclopédias e dicionários, a democracia está ancorada na ideia de que o poder reside no povo
[poder exercido através do voto]
que escolhe os melhores para o governarem.


A realidade supera a ficção: o povo dos Estados Unidos de América é um dos menos participativos.


Na realidade, o governo dos Estados Unidos é um dos menos representativos:
  1. Nas bichas que hoje nos mostram as grandes cadeias de televisão está uma ínfima minoria de cidadãos com direito ao voto.
  2. O que digam hoje os votantes importa muito pouco, porque…
  3. O poder real das eleições está nas mãos do «Colégio eleitoral», formado por um selecto e elitista grupo de 538 pessoas
    [nas eleições de 2000 o povo elegeu Al Gore, mas o Colégio Eleitoral achou que Bush seria mais conveniente. E Bush foi presidente].
Esta noite saberemos a quem os grandes interesses dessa nação entregaram a presidência do país. Porque a realidade é que o poder neste país continuará nas mãos das grandes corporações que controlam a indústria armamentista, a do petróleo e o mundo financeiro
[basta uma olhadela para a actual crise financeira para ver como os bancos, que se descapitalizaram para enriquecer os seus executivos, recebem agora bilhões de dólares para não irem à falência].
Democracia? Claro!

Desunião marca Dia de Unidade Nacional

darussia.blogspot.com - 04/11/08



A Rússia assinalou hoje o Dia da Unidade Nacional, jornada que foi celebrada com manifestações de vários quadrantes políticos e que ficou marcada por confrontos de rua na capital russa.
Dezenas de policias russos ocuparam posições na estação de metro Arbatskaia, no centro de Moscovo, para onde os nacionalistas russos do Movimento Contra a Imigração Ilegal tinham convocado uma concentração que não fora autorizada pelas autoridades.
Os agentes não actuaram no interior da estação de metropolitano, mas apenas apelavam aos militantes nacionalistas a saírem para a rua, onde eram esperados por fortes destacamentos da OMON (polícia de intervenção).
Quando os manifestantes tentaram cortar uma das principais artérias rodoviárias de Moscovo e começaram a lançar very-lights, a OMON carregou e, segundo dados oficiais, deteve cerca de quinhentas pessoas, que mais tarde libertou.
As autoridades de Moscovo tinham autorizado uma manifestação nacionalista, mas noutro bairro da cidade.
Empunhando ícones ortodoxos, bandeiras imperiais russas e soviéticas, os manifestantes nacionalistas exigiram a “Rússia para os russos!” e a “realização de uma política verdadeiramente russa”.
“Não se admite que imigrantes ilegais entrem aos milhões no nosso país e nos roubem o emprego. Com a crise, estão a ser despedidos milhares de russos e o Governo faz de conta que nada está a acontecer”, declarou à Lusa Mikhail, estudante universitário.
O mais recente relatório da organização não governamental russa SOVA, que monitoriza os crimes de ódio no país, faz um balanço de 75 imigrantes mortos na Rússia em 2008 em ataques raciais, outros 291 feridos, apenas até Setembro deste ano. O número acusa novo aumento em relação a 2007, em que 57 pessoas foram mortas em crimes raciais (mais 19 por cento do que em 2006).
A Rússia Unida, partido dirigido pelo primeiro-ministro Vladimir Putin, juntou cerca de oito mil manifestantes no centro de Moscovo para apelar à concórdia no país.
Não obstante a atmosfera de alegria e relaxe reinante entre os manifestantes, os oradores não deixaram de abordar os problemas económicos e sociais que enfrenta a Rússia.
Andrei Issaev, um dos dirigentes da Rússia Unida, declarou que o seu partido condena a “posição dos patrões que despedem as pessoas sem pagarem subsídios ou compensações”.
“Dizemos um não decisivo a isso!”, sublinhou Issaev durante uma intervenção no comício.
Manifestações semelhantes tiveram lugar em numerosas cidades russas e só em Novossibirsk ficaram marcadas por confrontos entre antifascistas e nacionalistas russos.
O Dia da Unidade Nacional ficou também marcado pela explosão de duas bombas em Moscovo e no Daguestão, no Cáucaso do Norte. A última provocou ferimentos em quatro polícias.
O Dia da Unidade Nacional começou a ser oficialmente celebrado em 2005 e simboliza a força do espírito nacional russo. Esta festa nacional visa recordar o dia 04 de Novembro de 1612, quando forças populares e tropas russas expulsaram os invasores polacos de Moscovo.
Na realidade, o Kremlin tentou, com esta celebração, fazer esquecer outra data importante da História da Rússia e que foi celebrada até muito recentemente: o dia 07 de Novembro, dia da revolução comunista de 1917.

ITAÚBANCO: FUSÃO É O QUE NÃO É. ITAÚ COMPROU O UNIBANCO

Conversa Afiada - 04/11/2008 08:47



Quem vai mandar é o Roberto Setúbal

Paulo Henrique Amorim

. Globo, Valor, Folha, Estadão e a Miriam Leitão que conversou ontem “com o banqueiro Pedro Moreira Salles” (ela e a torcida do Flamengo ...) falam em fusão.

. Fusão é o que não é.

. O Itaú engoliu o Unibanco.

. O Itaú vai ficar com 66% do Itaúbanco.

. E o Unibanco vai ficar com 33% do Itaúbanco.

. Roberto Setúbal vai tocar o Itaúbanco.

. E Pedro Moreira Salles vai dirigir o Conselho de Administração.

. Setúbal é quem vai mandar.

. Quem está mais tranqüilo, hoje, nesta manhã de terça-feira: o funcionário do Itaú ou o do Unibanco ?

. O Unibanco já esteve para ser engolido pelo Bradesco, quando mandavam Amador Aguiar e Walther Moreira Salles.

. Desde então estava claro que o Unibanco não tinha músculos para enfrentar o Bradesco e o Itaú.

. A inflação e os juros altos do Banco Central deram uma sobrevida ao Unibanco.

. Com a dificuldade de sucessão no Unibanco, e a maciça profissionalização do Itaú, ficou claro quem ia ganhar a guerra.

. Agora, falta ver o próximo lance do Bradesco.

. Que não vai ficar parado.

. Então, para início de conversa, era bom não enganar ninguém e chamar a coisa pelo seu nome: o Itaú comprou o Unibanco.

O reaparelhamento das Forças Armadas

Blog do Luis Nassif - 04/11/08

Por Cesar de Aquino

Ja que a economia esta monopolizando as discussões eu gostaria de mudar o foco um pouco para questão da modernização das forças armadas.

O que aparece até agora na midia parece tender para algumas medidas:

1) Adoção do Scorpene pela Marinha brasileira como novo submarino convencional padrão, alguns pontos altamentes discutivieis dessa opção:

_ Praticamente joga fora nossa experiencia construindo os IKL-209 alemães, tinhamos alinhavado a adoção do IKL-214 mas parce que vamos desisitir em prol do Scorpene, apesar do IKL-214 ser a opção natural.

_ O custo unitário da adoção do Scorpene é muito maior do que foi a escolha pela marinha chilena do mesmo projeto.

_ Justifica-se o Scorpene por que ele seria base tecnologica para o submarino nuclear, quem vê o porte do Scorpene e compara com o proximo submarino nuclear francês, o Barracuda, vê que os pontos principais de um submarino nuclear, propulsão e desenho, não são compativeis com um casco tão pequeno.

2) Adoção do Rafale, novamente uma escolha altamente discutivel:

_ É um avião sem mercado, o projeto esta atrasado na França, corremos o risco de sermos o unico operador externo.

_ Só existe certeza de uso de armamento francês, que não representa o que exsite de mais moderno.

_É um modelo de 4º geração, não representa o que existe de mais moderno e ainda corremos o risco da França optar por UAV, veiculo não pilotado, o que nos deixaria com um projeto sem investimento.

Por Fábio

Comprar material de defesa avançado não é a mesma coisa que fazer uma licitação para adquirir papel higiênico....

Adquirir material de defesa avançado é fazer uma aliança estratégica de médio e longo prazo com o país fabricante.

A Marinha de Guerra argentina possuía diversos navios e sistemas de armas britânicos. Quando estourou a Guerra das Malvinas ficou sem peças de reposição, situação que perduar até hoje...

As Forças Armadas iranianas eram equipadas basicamente com material norte-americano. Cessadas as relações entre os dois países o Irã teve grande dificuldade em enfrentar a Guerra Irã-Iraque, muito embora suas Forças Armadas fossem infinitmente superiores em qualidade de equipamento e pessoal às iraquianas.

Em razão disso considero que o primeiro parâmetro para a escolha de qualquer equipamento militar avançado é definir se o país fabricante possui laços estratégicos com o Brasil.

Seja em razão dos laços estratégicos ou, ainda, para reduzir custos, os países buscam formar consórcios para fabricar equipamentos militar. Na Europa isso é muito comum.

Está faltando ao Brasil uma diplomacia militar, que não se faz apenas com guerra, mas, principalmente, com a formação de alianças estratégicas.

Na época da Guerra Fria os EUA tentaram que fosse formado uma organização de defesa no Atlântico Sul. Seria formada pela Argentina, Brasil, Chile e África do Sul.

Estava super correto, infelizmente, nossos diplomtas deram para trás...

Comentário

O parâmetro maior deverá ser o da transferência de tecnologia ao Brasil, desenvolvimento de projetos conjuntos e implantação de modelos de disseminação tencológica com a cadeia produtiva e institutos de pesquisa.

Por Mario Blaya

acho que há um erro de interpretação quanto ao Scopene, não será em seu casco original que seria instalado o reator nuclear, mas sim aproveitando o seu projeto basico, com o suporte francês, fariamos uma versão nacional de um submarino de ataque, que difere muito de um mero submarino costeiro como são os modelos alemães.

já o caça, não dou muito credito a essa estoria de transferencia de tecnologia, afinal a compra não é tão significativa assim para que justifique a transferencia, o que podemos conseguir seria uma experiencia na sua montagem e testes, mas nunca em seu projeto. Eu acho os Sukhois superiores, quando voam, e é esse a eterna duvida sobre aviões russos exportados, a baixa disponibilidade dos equipamentos. principalmente pela falta de peças.

Por Fernando Haderfeld

Caro Nassif

O post original tem o grande mérito de levantar a relevante questão do absolutamente necessário reaparelhamento das forças armadas brasileiras. Mas comete um grande número de equívocos, especialmente em relação ao submarino.

A tecnologia dos submarinos alemães U-214 não acrecentaria o conhecimento fundamental buscado pela marinha: o uso e construção de submarinos de casco duplo. O Marlin francês (sim, pois o nome Scorpène deve morrer junto com o acordo DCNS-Navantia) apresenta esta tecnologia. E de resto é tão avançado quanto o tipo alemão.

Tamanho do casco não está vinculado a trasferência de tecnologia, e não vamos usar o desenho do Marlin e simplesmente colocar um reator nuclear dentro. A nós interessa os segredos da metalurgia dos aços especiais, processos construtivos e de projeto para este tipo de casco. O recheio nuclear nem Mephisto transfere. Será por conta de nossos engenheiros mesmo.

Quanto ao Rafale podemos sim dizer que é uma compra de risco. Não por defeitos inerentes ao caça. Ele é basicamente tão bom (e falho) quanto qualquer um dos outros concorrentes. Mas é, realmente, usado apenas pela França e isto pode dificultar aspectos de logística e suporte no futuro.

O Gripen NG ainda é um projeto, embora ninguém duvide de suas qualidades e do potencial de transferência de tecnologia. Já o F/A-18E não é um projeto velho. Esta questão de quarta ou quinta geração tem muito de marketing. Mas com ele não se deve sonhar alto na transferencia tecnologica.

Um Bacen sem parâmetros

Blog do Luis Nassif - 04/11/08

Por Leão

Nassif,

vale a pena dar uma lida na matéreia "A iliquidez da política monetária" de José Roberto Afonso da UFRJ e de Geraldo Biasoto Junior da Unicamp, na A14 do Valor de hoje. O título diz tudo.

A iliquidez da política monetária

José Roberto Afonso e Geraldo Biasoto Junior

04/11/2008



(...) Abandonar dogmas e reconstruir instrumentos de controle são tarefas urgentes das autoridades econômicas. As brasileiras ainda não se aperceberam do real tamanho do desafio que precisam superar, pois não acreditamos que tentariam fugir a suas responsabilidades (até porque seria impossível na crise). Um bom retrato vem da idéia difundida pelo presidente do Banco Central, de que: "política monetária visa controlar a inflação com seu instrumento fundamental que é a taxa de juros base. Não devemos (sic) confundir isso com a gestão de liquidez".

A confusão está nos conceitos e na compreensão do enfrentamento desta crise. Manuais de finanças e apresentações no próprio sítio do Bacen ensinam que política monetária, em geral, é conduzida por meio de três instrumentos: a) as operações de mercado aberto, mediante as quais a autoridade monetária busca atingir sua meta operacional e fazer a gestão diária da liquidez do sistema; b) o redesconto, que é a válvula de segurança à disposição dos bancos para solucionar problemas de caixa ao final do dia; e c) os recolhimentos compulsórios, usados para limitar a capacidade de criação de crédito pelos bancos aos agentes não-bancários. Como as intervenções do Banco Central no mercado monetário são realizadas por meio do sistema bancário, os problemas de liquidez dos bancos (e das empresas) e de política monetária são intrinsecamente relacionados.

Desconhecer a complementaridade dos instrumentos pode ser fatal. A redução das alíquotas dos recolhimentos compulsórios, mantida alta a taxa de juros, pode ser inócua. Os bancos podem simplesmente decidir não dar crédito, dado que o risco envolvido em um empréstimo depende, entre outros fatores, da taxa de juros vigente e das expectativas quanto à sua trajetória futura. Aliás, as políticas adotadas pelos bancos centrais do mundo todo indicam que a taxa de juros e a gestão de liquidez são peças de uma mesma política de recuperação dos fluxos de crédito no sistema. As injeções de recursos têm sido acompanhadas de fortes cortes nas taxas de juros.

Numa situação como a atual, de radical aversão ao risco e total empoçamento da liquidez nas instituições de maior porte, um aumento adicional dos juros piorará ainda mais as condições de crédito, tanto para empresas como para bancos de médio e pequeno porte, acelerando nosso caminho para a recessão.

Mais relevante do que uma bizantina discussão sobre conteúdo da política monetária no meio do furacão é questionar se uma das principais autoridades econômicas do país ainda não atentou que conceitos e formas de fazer política econômica que prevaleceram nos últimos anos, num ambiente econômico específico, não podem ser transpostas para um quadro radicalmente distinto. A abundância de recursos externos e o regime de metas de inflação reduziram e resumiram a política monetária dos últimos anos à fixação da taxa de juros básica - a Selic. Não se fez política monetária, mas apenas se gerenciou a relação entre a taxa de juros e taxa de câmbio para incentivar a entrada de capitais e controlar a inflação. Nem a liquidez do interbancário, nem o crédito ao setor produtivo, nem as inovações financeiras foram objeto da ação do Bacen. Não por acaso, a grande "inovação" do sistema bancário brasileiro nos últimos anos foi o crédito consignado à pessoa física.

O mercado externo de títulos

Blog do Luis Nassif - 04/11/08

Por Igor Cornelsen

Veja que medida inteligente da Argentina recomprando seus bônus.

Todas as nações emergentes deveriam recomprar agora toda sua dívida externa com grandes descontos bem como as dívidas de seus bancos privados que não podem quebrar.

O Brasil e suas empresas não estão sabendo navegar na crise.financeira internacional

Recebi esta lista de um banco de investimento de NY oferecendo fazer mercado para bonds brasileiros.

A diferença que eles compram e vendem chega a ser absurda. Devem estar ganhando uma fortuna com a intermediação.

O BB deveria fazer ele o mercado destes papéis ou as próprias empresas com os seus próprios títulos e ganharem com isto em vez de deixarem tamanha margem para os grandes bancos internacionais.

Obama: os chineses estão chegando

Blog do Luis Nassif - 04/11/08

A grande maioria dos residentes letrados, do Cone Sul, sente orgulho de referirem aos EUA, como a Capital do mundo. Puro provincianismo. Nada mais natural do que os jornalistas que cobrem a eleição de hoje, em todo o território do leque norte, se manifestar com um certo entusiasmo, ao dizer que a nação norte-americana poderá ter um presidente negro. Isso tudo, faz parte de uma falsa questão. Ao projetarmos o futuro, não é difícil visualizar um mundo transformado pelo amor ou pela guerra - não há saída. A crise do seu sistema financeiro, com conseqüente desarranjo da economia daquele país, atinge em cheio o mundo civilizado. Isso é real, mas nada tem a ver com a questão racial. Os EUA são país multirracial. Quem, afinal, foram os construtores da América? Os desbravadores, tão bem demonstrados no filme a "Conquista do Oeste", de John Ford, ou os escritores Mark Twain; Walt Whitman; Herman Melville e Nathaniel Hawthorne; James Fenimore Cooper; Tenesse Williams; John Reed; Arthur Miller; Eugene O''Neill? Ou, quem sabe, Mohamed Dali ou Elvis Plesley?

A questão não é racial, e sim sócio/política. Nos anos noventa, os EUA estavam interessados na mão de obra, qualificada, do Leste Europeu. Além dos alemães, russos, poloneses que imigraram também vieram os orientais, nessa liberalização de acolher essa mão de obra, disputada por empresas de informática em franco desenvolvimento. Os negros entraram no país como escravos, no século XVIII, e, apesar de alguns deles terem conquistada a emancipação financeira, ainda são ex-escravos. Já os orientais, começaram a entrar mais ou menos, em 1849, antes da Guerra da Secessão e pelo Pacífico, portanto pela porta Oeste dos EUA. Tratava-se de mão de obra barata, contratada para trabalho pesado - mineração e ferrovias. Este movimento ocorreu até 1882, quando da lei de exclusão, proibindo a imigração chinesa (asiática). A partir daí, chinês não podia requerer cidadania, nem tinha direitos civis, por isso foram se juntando nos bairros orientais (Chinatown). O chinês só começou a ganhar cidadania com os movimentos pelos direitos civis, por volta de 1960, juntamente com os negros... Por isso, Bruce Lee "quebrava o pau" todos os dias com os gringos.

O negro faz parte da história, do símbolo do Capitalismo. Quando se manifesta uma crise dessa dimensão, os programas sociais tão caros aos democratas (norte-americanos), por conseqüência os negros pobres, são os primeiros a sofrer com isso. Já com os asiáticos, é diferente. Apesar de o chinês-norte-americano não representar um problema social tão crítico, os países de origem se fortaleceram politicamente, na última década. Uma asiatização dos Estados Unidos é uma questão real, para a mais radical direita branca. Tanto Obama como McCain, vão ter que arrumar uma outra "guerra externa", com reflexos internos.

O grande problema é que as guerras são financiadas por todos os cidadãos que lá residem, seja nato, naturalizado ou clandestino. O que faz dos EUA o país com maior dívida externa do planeta, são os gastos com essas guerras. Para retomar sua hegemonia, financeira, econômica e, também, territorial, o novo governo terá que apresentar um protocolo de relacionamento muito claro com a China. Do contrário, só tem duas saídas: outra guerra ou, então, Putin (que também pode significar guerra). Melhor perder os anéis, Obama! Não despreze os 1.300.000.000 habitantes da China. Se der a zebra McCain, a opção será a Rússia - e aí, a casa cai.