"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, maio 03, 2013

Conexões perigosas: a vigilância oculta na grande rede

resistir info - 03 maio 2013
 
por Marcos Dantas [*]
entrevistado por Coryntho Baldez



As grandes corporações privadas que atuam na internet, como Google e Facebook, não apenas usam o enorme volume de dados que possuem sobre os usuários como fonte de renda. Elas são capazes, hoje, de exercer um refinado controle ético e político sobre os indivíduos, de acordo com Marcos Dantas, professor titular da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ.

"Essas corporações detêm informações quotidianas sobre nossos hábitos e gostos, nível educacional, opção política e religiosa, que o próprio Estado não tem", alerta Dantas, que ministra as disciplinas "Sistemas e Tecnologias de Comunicação" e "Economia Política da Comunicação".


Nesta entrevista, o docente afirma ainda que cerca de 70% das comunicações da internet no mundo estão nas mãos de uma única empresa norte-americana: a Level Three. E, segundo ele, quem financia a construção da imensa infraestrutura física necessária para a internet funcionar – "o mundo virtual é mera ideologia" – é o capital financeiro.


Marcos Dantas não acredita que o movimento Cypherpunks, liderado por Julian Assange e que defende a criptografia como meio de preservar os direitos civis das pessoas e a soberania dos povos, seja uma solução para democratizar a internet. Para isso, em sua opinião, será preciso um amplo processo de mobilização política que coloque em xeque o poder das grandes corporações de controlar a rede.

UFRJ Plural – Muitos dos que defendem e ajudam a construir uma internet livre, como Julian Assange, o criador do WikiLeaks, temem que ela se transforme em centro de vigilância dos cidadãos por parte de Estados imperiais. Qual a sua avaliação sobre isso?


Marcos Dantas – Acho que é uma preocupação importante, lúcida e necessária. Mas, sob esse aspecto, também há controle da vida do cidadão por parte das grandes corporações capitalistas. Não é só o Estado que preocupa. Diria até que é menos o Estado que preocupa. Isto porque, se o Estado é democrático, ele também pode ser vigiado pelos cidadãos. As grandes corporações privadas não. As pessoas não sabem o que é feito com os seus dados. E as organizações privadas não somente controlam e fazem dessas informações uma fonte de muito dinheiro, mas também podem exercer um controle ético e político sobre os indivíduos. E, eventualmente, ser fonte de informação para o próprio Estado.


UFRJ Plural – A política de privacidade do Google tem sido alvo de várias críticas. No início deste mês, inclusive, alguns governos da Europa decidiram investigá-la mais a fundo. Por quê?


Marcos Dantas – Eles temem exatamente que corporações como o Google, o Facebook, a Microsoft e a Apple substituam o Estado no controle do cidadão. E passem a deter informações e orientar as práticas das pessoas em função dos interesses delas, e não dos interesses públicos. Essas corporações não são públicas e, hoje, são detentoras de enorme quantidade de informações cotidianas de todos nós, de hábitos e gostos, que o próprio Estado não possui. Elas têm informações até sobre a nossa saúde, o nosso nível educacional, as nossas opções políticas, religiosas, que o Estado não tem. Com isso, passam a ter o poder de orientar a vida dos cidadãos.


UFRJ Plural – Os usuários do Google e das redes de relacionamento, especialmente o Facebook, têm alguma ideia do uso de suas informações privadas para obtenção de lucro, à sua revelia?


Marcos Dantas – Nenhuma. Vou contar um caso pessoal que estou vivendo neste exato momento. Há alguns dias, comprei um smartphone mais moderno. E acabo de descobrir que, se eu quiser fazer uma transferência de um arquivo de números telefônicos que está no meu computador para o aparelho, tenho que jogá-lo numa nuvem controlada pela Microsoft. O atendente da loja afirmou que só é possível fazer essa transferência dessa maneira. Ora, não vou dar as minhas informações privadas e meus contatos para a Microsoft. Fui muito claro. Disse que não faço nada na nuvem. Eu vivo na Terra, e não nas nuvens. Então, não vou transferir meus dados para a Microsoft.


UFRJ Plural – Isso ocorre em qualquer sistema operacional?


Marcos Dantas – Comprei um com windows phone [sistema operacional móvel desenvolvido pela Microsoft], da marca Nokia. Mas com o sistema android acontece o mesmo. Quando alguém compra um smartphone, a primeira coisa que faz é se conectar à internet. Abrir um endereço no Google, se for android, ou então na Microsoft, se for o windows phone. A partir daí, toda transação que se fizer pelo smartphone, seja baixar um dado ou marcar uma agenda, vai passar pelos servidores de uma dessas duas corporações. Por exemplo, se eu marcasse no aparelho a agenda da entrevista que estamos realizando, ela ficaria reigstrada na Microsoft. Ou seja, o meu cotidiano é controlado. Quando as pessoas usam o smartphone para qualquer tipo de transação, não têm a menor consciência de que estão fazendo um trabalho de graça para essas empresas. É a mais-valia mais absoluta que existe no mundo, um traballho gratuito para enriquecer o Bill Gates. E também um repasse de informações poderosas para que essas organizações possam controlar o mundo.


UFRJ Plural – Mas não há o risco de essas informações migrarem para Estados de caráter imperial para que se faça uma vigilância política sobre os cidadãos?


Marcos Dantas – Não tenho nenhuma dúvida de que, na história dos Estados Unidos, as grandes corporações, ao longo de todas as épocas, desde os tempos da famosa Standard Oil, sempre foram instrumentos da política imperial norte-americana. E vice-versa, ou seja, o Estado abria caminho para a expansão de suas grandes empresas. As novas corporações norte-americanas, como o Google e a Microsoft, se já não são, serão instrumentos do poder imperial, numa perfeita simbiose.


UFRJ Plural – Existem na rede iniciativas com potencial libertário, como o WikiLeaks, e também sites e blogueiros que fazem circular informações omitidas na mídia tradicional. Essas iniciativas ainda não são capazes de contrabalançar a influência que o grande capital exerce sobre a internet?


Marcos Dantas – Não, porque se baseiam em princípios, na minha avaliação, equivocados. Elas não colocam a crítica ao capital como fundamento das suas propostas. Se isso não acontecer, essas inciativas permanecerão no plano do idealismo. Obviamente, permitem chamar a atenção e alertar a sociedade de que outro mundo é possível, o que é um aspecto positivo. Mas elas não colocam em questão o cerne do problema, o fato de que quem alimenta essa engrenagem são as relações capitalistas de produção e o capital.


UFRJ Plural – A Primavera Árabe é apontada como exemplo de que a internet também pode estar a serviço de movimentos democráticos de massa, de um novo modo de fazer política. Qual a sua avaliação sobre isso?


Marcos Dantas – Na verdade, superestimaram essas tecnologias. Elas foram usadas como meio de comunicação e, dessa forma, são extremamente eficientes. Em vez de eu pegar o telefone para convocar alguém para uma reunião, posso usar o Twitter ou o Facebook, e fazer isso com muito mais velocidade. Mas as grandes manifestações não são espontâneas. Vou dar um exemplo de uma época em que a internet não existia. Em 1968, mataram um estudante no Rio de Janeiro, o Edson Luís, e uma semana depois 100 mil pessoas estavam nas ruas protestando contra a ditadura militar. Mas esse fato foi apenas o estopim que gerou uma mobilização extraordinária. Antes já havia um processo de debate político acumulado entre jovens universitários, além de partidos políticos clandestinos atuantes. Se, por hipótese, os debates e reuniões que se faziam para discutir ações de resistência tivessem sido feitos em redes de amigos de Facebook, a polícia bateria em cima nos primeiros encontros. Outro exemplo foi quando o Collor estava sofrendo o processo de impeachment e convocou o povo a usar verde e amarelo. Como já havia uma mobilização contra o governo, os brasileiros usaram o preto como forma de protesto, numa manifestação nacional que não precisou de Twitter ou Facebook para acontecer. E na Primavera Árabe um dos líderes das mobilizações no Egito era um executivo do Google. Isso já diz tudo.


UFRJ Plural – Pode-se considerar preocupante o fato de todas as comunicações via internet da América Latina para a Europa ou a Ásia passarem pelos Estados Unidos?


Marcos Dantas – Pior do que isso. Cerca de 70% das comunicações da internet no mundo estão nas mãos de uma única empresa norte-americana, chamada Level Three .


Redes da Level Three.
UFRJ Plural – E como isso funciona?


Marcos Dantas – A rigor, para que a internet funcione, é preciso uma imensa estrutura física. O mundo virtual é mera ideologia. São necessários cabos, satélites, torres, servidores espalhados pelo mundo. É uma estrutura caríssima. Fazer um blog é barato, basta dispor de tempo, mas não seria possível sem essa estrutura física, que requer milhares de milhões de dólares de capital. Como ela é muito cara, poucas organizações no mundo podem fazer os investimentos necessários para construí-la e operá-la. Ou o Estado constrói esse tipo de estrutura, e hoje em dia ele não faz mais isso, ou grandes corporações financeiras o fazem. E é exatamente o capital financeiro que está por trás da Level Three, da AT&T, da British Telecom ou da Telefônica. Basicamente, as estruturas de comunicação servem ao capital financeiro nas transferências de fundos ao redor dos mercados mundiais.


UFRJ Plural – Essas redes passam, então, pelo centro de poder do capital financeiro?


Marcos Dantas – Sim, e obviamente pelos centros de poder militar também. Como acontece desde o tempo da telegrafia, essa infraestrutura tem sempre, acima do Equador, uma direção horizontal, ou seja, Estados Unidos, Europa e, cada vez mais, o Japão. E no sul tem uma direção sul-norte, da América do Sul para os Estados Unidos e para a Europa. Então, é claro que, se houver uma série crise internacional, essa configuração pode pesar na balança. Se o Brasil quiser fazer hoje uma comunicação com a África, terá que, necessariamente, passar pela Europa.


UFRJ Plural – Julian Assange afirma que a China está oferecendo a alguns países da África a construção de infraestrutura de backbones de acesso à internet em troca de grandes contratos comerciais. E aponta isso como a possibilidade de se configurar um novo colonialismo no século XXI. Como você avalia essa questão?


Marcos Dantas – Da mesma maneira que, no século XIX, os ingleses construíram ferrovias no Brasil e na Argentina. No Brasil, em São Paulo, para escoar café. E na Argentina, em Buenos Aires, para escoar carne. Na Índia, construíram uma malha ferroviária importante porque precisavam dela para movimentar o seu exército, porque lá a briga era dura. Portanto, os meios de comunicação sempre foram instrumentos fundamentais na geopolítica do poder. E a China está hoje construindo uma alternativa de poder geopolítico aos Estados Unidos, olhando os seus interesses muito bem olhados. Está sabendo por onde pode se expandir, e com muita inteligência.


UFRJ Plural – Por quê?


Marcos Dantas – Porque a África é um continente que foi completamente abandonado pelo Ocidente, depois de ter sido espoliada até dizer chega. É um estorvo para o grande capital o que fazer com aquela região. Quando eles estão se matando em alguma guerra e os humanistas pedem intervenção para evitar um genocídio, qual é a reação do grande capital e de seus governos? Deixa se matarem! É o que acontece a todo instante nos mais variados lugares da África. Só intervieram no Mali porque lá tem urânio, matéria-prima que interessa à França porque 70% da energia do país é nuclear. Então, a China, com a velha estratégia de avançar pelo elo mais fraco, está se expandindo na África a fim de construir cabeças de ponte para um projeto estratégico de longo prazo.


UFRJ Plural – Há um controle subterrâneo, invisível, da grande rede. Mas existem tentativas de oficializar o controle do próprio conteúdo produzido na internet. É o caso de duas legislações que estavam sendo discutidas no Congresso norte-americano, a Sopa (Lei de Combate à Pirataria On-line) e a Pipa (Lei de Prevenção a Ameaças On-line à Criatividade Econômica e ao Roubo da Propriedade Intelectual). Por que essas iniciativas ainda não vingaram?


Marcos Dantas – Em que pese meus amigos ciberativistas acharem que tem a ver com a luta deles, que eu compartilho e considero importante, a razão é outra. O fato é que o grande capital ainda não entrou em acordo sobre como fazer essa regulamentação. E a Sopa evidenciou isso muito bem. De um lado estava Hollywood e, do outro, o Google. Faltam ainda determinados acertos políticos e jurídicos entre as grandes corporações capitalistas para essas legislações vingarem.


UFRJ Plural – E que divergências são essas?


Marcos Dantas – A questão mais importante para o capital hoje não é a terra, mas o direito intelectual. É a patente, a marca, o direito autoral. O capital, hoje, se move em cima de um tipo de valor que não é mercadoria, ou seja, não é algo apropriável e cambiável. Quando o padeiro vende meia dúzia de pães, a cesta dele ficou com menos seis unidades de pães. E o caixa do padeiro aumentou com o dinheiro usado para comprar os pães, fruto do trabalho da pessoa que os adquiriu. Tem-se aí uma troca real, uma troca de equivalentes. Quando a indústria cinematográfica coloca um filme no mercado, não fica com menos filmes na sua estante. Há uma capacidade infinita de reproduzi-lo. Aqui não há troca, mas um licenciamento. Então, é preciso criar regimes para assegurar que aquelas pessoas que vejam o filme não possam replicá-lo a custo zero. Esse regime, em princípio, é o reconhecimento do direito autoral.


UFRJ Plural – E para garanti-lo é necessária uma série de controles?


Marcos Dantas – Sim. Como o reconhecimento do direito autoral, em si, não assegura que as pessoas não "pirateiem", criam-se estruturas físicas para isso, como o DRM [dispositivo para restringir a difusão e duplicação de cópias de conteúdos digitais]. Outro tipo de controle é o acesso a conteúdo por meio de pagamento, como é o caso de TVs por assinatura ou dos novos sistemas de smartphones. São estruturas criadas para garantir que as pessoas somente tenham acesso a uma música ou a um filme se tiverem um determinado terminal conectado a uma rede paga. Esse tipo de comercialização em que se baseia a rentabilidade de Hollywood e outras indústrias culturais ainda não conseguiu se adequar, por inteiro, ao outro modelo de negócios que vem sendo proposto pelo Google, pela Apple, enfim, pelas empresas que já nasceram no sistema reticular, ou seja, no sistema em rede.


UFRJ Plural – Fale mais sobre esse novo modelo.


Marcos Dantas – A rentabilidade desse modelo de negócios que o Google vem tentando construir está totalmente calcada na informação e na negociação dessa informação. É um modelo que defende a liberação das práticas sociais, ou seja, as pessoas podem fazer o que bem entenderem na rede. Mas, como falamos no início, toda essa movimentação está sendo monitorada, manipulada, tratada por algoritmos poderosos, com o objetivo de vender informação.


UFRJ Plural – E essas legislações que preveem o bloqueio de sites acusados de desrespeitar o direito autoral podem ir contra esse modelo?


Marcos Dantas – Exatamente isso. O Google está propondo uma alternativa. Vou dar um exemplo. Se todo mundo vai ter um smartphone, ele deve estar ligado a uma loja, seja iTunes, Nokia ou Samsung. Da mesma forma, o tocador Blu-ray também deve estar ligado a uma loja. No momento em que todo mundo estiver na rede, aí será possível construir esse pacto.


UFRJ Plural – O movimento Cypherpunks defende a criptografia como forma de preservar os direitos civis das pessoas e também a soberania e a autodeterminação dos povos. Como você avalia essa proposta?


Marcos Dantas – Pode ser uma alternativa interessante, mas, como já ensinava Norbert Wiener, código é uma questão de tempo para quebrar. Primeiro, é algo que exige um investimento técnico, uma organização que trabalhe a criptografia. Os grandes Estados nacionais trabalham com isso, em função de interesses estratégicos. Mas os Estados Unidos, neste momento, demonstram grande preocupação porque dizem que estão sofrendo ataques de ciberinvasores. E dificilmente haverá um país mais criptografado do que os Estados Unidos. Então, não sei se essa é a questão.


UFRJ Plural – E qual é a questão?


Marcos Dantas – Acho que deveríamos passar por um processo político que colocasse em questão o poder das grandes corporações de controlar a grande rede e, a partir daí, controlar a vida dos cidadãos.

16/Abril/2013
[*] (*) Entrevista publicada na edição de 15/abril/2013 do UFRJ Plural, boletim eletrônico da Coordenadoria de Comunicação da UFRJ.


O original encontra-se em www.plural.ufrj.br/007/entrevista.php

Os filhos do GULAG: alemães na URSS

darussia.blogspot - Terça-feira, Abril 30, 2013

Texto enviado pelo leitor Jest:
 

Em 2011 a realizadora alemã Loretta Walz concluiu o seu filme documental “Im Schatten des Gulag – als Deutsche unter Stalin geboren” (Na sombra do GULAG: os alemães nascidos sob Estaline), dedicado à vida dos alemães que fugindo dos nazis acabaram no inferno comunista.

Os comunistas alemães escolhiam o exílio soviético para evitar as perseguições nazis. Os seus filhos os acompanhavam, ou já nasciam no exílio. Durante as purgas estalinistas dos anos 1930 os adultos eram presos, deportados para GULAG ou fuzilados. Os seus filhos eram enviados aos orfanatos, outros deportados para Sibéria ou Cazaquistão. Vários deles passaram pelos trabalhos forçados e inimizade generalista sentida pelos “estranhos”, que aumentou sobremaneira durante a II Guerra Mundial.

Nos anos 1950 eles voltam à RDA, onde novamente se tornam “estrangeiros”, não falam alemão, são chamados de “russos” e não sentem muito amor pátrio. A própria RDA é governada pela gente que voltou do exílio soviético e tem muitas razões pessoais de ficar calada (e exigir o mesmo dos outros), principalmente sobre os acontecimentos do terror estalinista.

Apenas após a queda do Murro de Berlim em 1989, os “filhos do GULAG” decidem falam. Eles contam as histórias de abandono, do sentimento de distanciamento em relação aos pais ou relações dúbias que os obrigam até hoje habitar nas ideais comunistas dos progenitores.

O filme é baseado nos depoimentos de oito mulheres e homens que tem um ponto em comum: eles passaram a sua meninice e juventude na URSS, os seus pais foram vítimas do estalinismo, foram perseguidos e assassinados pelo regime soviético. Muitos deles até hoje desconhecem o destino dos pais ou o que se passou com eles próprios.

“Na sombra do GULAG” foi gravado na Alemanha e Rússia entre 2006-2009, além dos depoimentos das testemunhas usa vários materiais de arquivo.

Na Rússia o filme será exibido no âmbito do Ano da Alemanha na Rússia e sob apoio do Instituto Histórico da Alemanha e Instituto de Goethe em Moscovo, no dia 30 de abril de 2013, às 18h00 no Museu Estatal da História do GULAG (http://www.gmig.ru). A exibição será seguida do debate em que participará a Loretta Walz e um dos heróis do filme.

Endereço: Moscovo, rua Petrovka № 16,

Tel. + 7 495 6217310

Visitem também o Museu virtual do GULAG de São Petersburgo.

A receita neoliberal contra a crise

Por Marco Antonio L.
Da Carta Capital
Paulo Daniel
Quando a crise internacional explodiu, há pouco mais de cinco anos, alguns diziam que o neoliberalismo estava derrotado. Outros mostraram certa incredulidade no que observavam do processo econômico. Os mais otimistas, porém, estavam ansiosos para, de fato, implementarem medidas que contornassem a crise e pudesse provocar novos ciclos virtuosos na economia global.
Infelizmente, exceto no combate à crise de confiança e crédito, nada de novo no front foi nos apresentado. Pelo contrário. A tese segundo a qual o neoliberalismo estava em xeque desmanchou-se no ar. As medidas para o enfrentamento da crise foram, na realidade, a intensificação do neoliberalismo implementado a partir dos anos oitenta.
Basta observar o que vem ocorrendo na Eurolândia: redução dos direitos trabalhistas, demissões, contenção de gastos públicos etc. A receita típica para concentração de capital e concentração da renda. Isso sem contar a baixa credibilidade na política, haja vista, Itália e Grécia. A primeira enfrentou seríssimas dificuldades em formar um governo que coordenasse e implementasse, oxalá, novas formas de execução de política econômica. A segunda optou-se por eleger ou omitir-se, em não formar um governo que pudesse enfrentar a crise com certa altivez, mesmo com desemprego em alta, equivalente a mais que o dobro da média do bloco europeu, 12% da PEA (população economicamente ativa) sendo que 50% dos jovens gregos estão desempregados.
É praticamente comum, nas mais variadas opiniões, que o enfrentamento dessa crisetenha mais contornos políticos do que econômicos. No entanto, a política patina. Por quê? Por uma razão muito simples: as grandes corporações estão no domínio sobre os ditames da política econômica; portanto, mesmo com efêmeros avanços na política, como na França, a margem de manobra de mudanças na condução econômica são praticamente nulas, pois há um conjunto de engenhocas econômicas e financeiras beneficiando o grande capital podendo interferir diretamente nos rendimentos, podendo ameaçar sua competitividade, concentração e liderança de mercado e, é claro, a chantagem ao desemprego. Neste sentido, é mais do que evidente que conquistas daqueles(as) que vivem do trabalho estão completamente ameaçados via arrocho salarial, desemprego, redução e precarização das políticas públicas, sociais e de previdência.
O vencedor desta batalha poderá ditar novas formas de organização econômica e social como ocorreu no fim dos anos 70 e início dos anos 80, contaminando todo planeta. Não vamos esquecer que os países mais pobres ou menos desenvolvidos, principalmente na década de 90, viveram anos funestos até o início da primeira década do século XXI.
Portanto, a crise europeia e sua possível solução atrasada ou tardia nos interessa, não só devido às relações econômicas, comerciais e financeiras, mas também porque é necessário saber como as grandes corporações se comportarão frente ao novo cenário desenhado.
Aos curtoprazistas preocupados com a inflação do próximo mês e/ou se o Banco Central elevará a Selic ou não, devemos pensar em como nos preparar para o próximo passo, ou seja, em como enfrentaremos uma possível nova onda neoliberal? E a competitividade de nossas indústrias? A ampliação da renda e do investimento? Como e em que medidas o Estado brasileiro será altivo em relação ao novo cenário? Para tal, dois ingredientes são essenciais: educação e inovação tecnológica, além daquilo que produzimos e representamos mundo afora na conjuntura multipolarizada atual. Se nos reivindicamos capitalistas, então deveremos pensar nas expectativas futuras e como construí-las.

Somente os iludidos acreditavam nisso. Quando os malefícios da globalização eram expostos por Joseph Stiglitz, Pedro-Pablo Kuczynski em seu livro: Depois do Consenso de Washington, já declarava que as medidas neoliberais não davam certo por problemas decorrentes da sua correta instalação por parte dos países, ou seja, se os adotassem de forma correta o neoliberalismo, o "Sr.Mercado" tudo resolveria.
É, "alguéns" da área econômica não estam com a leitura em dia. 

Marinês, mulher de fiscal assassinado: “É um buraco sem fim dentro da gente”

viomundo - publicado em 2 de maio de 2013 às 23:07

por Gustavo Costa, especial para o Viomundo
Erastótenes foi escolhido dias antes, como é de praxe no Ministério do Trabalho, para fiscalizar e combater o trabalho forçado em propriedades rurais da região de Unaí, em Minas Gerais.
Segundo a investigação das Polícias Federal e Civil, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares e o motorista Aílton Pereira foram executados com tiros na cabeça apenas por acompanhar o alvo principal, o fiscal Nelson José da Silva.
A matança dos três auditores do Ministério do Trabalho e do motorista que os acompanhava, em 28 de janeiro de 2004, ficou conhecida como Chacina de Unaí.
O valor da “encomenda” dobrou depois que pistoleiros e mandantes descobriram que teriam que matar outras três pessoas além de Nelson.
Nelson batia de frente com o latinfúndio e fora ameaçado algumas vezes antes da chacina.
Uma delas, por Norberto Mânica, acusado de ser um dos mandantes: ” Só vou acabar com as perseguições à minha pessoa quando eu der um tiro na cabeça de um fiscal do trabalho”.
Norberto é irmão de Antério Mânica, outro acusado de encomendar o crime. Eleito duas vezes prefeito de Unaí pelo PSDB, ele nega participação e diz que hoje já não conversa com o irmão.
Segundo o Ministério Público Federal, além dos irmãos Antério e Norberto Mânica, outras sete pessoas tiveram participação na chacina.
Hugo Pimenta e José Aberto de Castro, o Zezinho, empresários de sucesso na produção de grãos, teriam sido os intermediários.
Francisco Helder Pinheiro, conhecido como Chico Pinheiro, o homem que contratou os pistoleiros.
Erinaldo Silva e Rogério Alan Rocha, os matadores.
Willian de Miranda, motorista dos bandidos.
E Humberto dos Santos, o responsável por tentar apagar os rastros da quadrilha.
Estão presos os pistoleiros e o motorista deles. Chico Pinheiro morreu em janeiro deste ano.
O julgamento dos acusados de encomendar o crime ainda não foi marcado.
A seguir, entrevista com Marinês Lina de Laia, viúva do fiscal Erastótenes, que expressa a dor das famílias e amigos das vítimas:
Se pudesse fazer uma avaliação, quais os prejuízos que a lentidão da Justiça causaram à senhora e à sua família?
Prejuízos… digamos que todo dano material, físico, psicológico causado nas famílias; a sensação é de que você foi totalmente lesada, perdeu.
Perdeu algo, assim, irreparável e a aparência é de que a Justiça não está fazendo nada. Por mais que o processo caminhe, que os advogados, os procuradores, o sindicato, as famílias se empenhem em lutar contra esse crime, não tem um resultado.
Então, a sensação é que a gente está num prejuízo total. Só a familia que perdeu, só as famílias. Nós perdemos maridos, pais, irmãos, amigos e aí vai.
O prejuizo ficou aqui. É um buraco sem fim dentro da gente.
E com esta demora do processo, do julgamento, a sensação dentro da gente é que a justiça não está sendo cumprida. Aliás, não está sendo feita. Por mais que eles não vão voltar. Mas sabemos que só o dia que isso for julgado, tudo concluido, que nós, as famílias, teremos sossego.
Por exemplo, vocês estão aqui: tem 9 anos, nós estamos recordando coisas de 9 anos atrás. E isso mexe com a gente. É como se cada vez que fosse falar disso a gente fosse lá enterrar os nossos mortos. É a mesma coisa. A gente vive o dia, o drama que foi o velório, a notícia. Revive tudo como se fosse hoje. Então, enquanto esse julgamento não for feito, não for terminado, nós vamos ter que conviver com essa sensação de que estamos perdendo. É tudo de novo, é massacrante, é cruel o que a Justiça faz conosco.
Porque se terminasse, se julgasse a gente poderia falar, pronto: tem agora só a nossa dor, a dor agora é só da família. Não precisa de mais ninguém. Mas não, temos que relembrar e sabemos que é necessário relembrar porque não podemos deixar morrer estes fatos, o que aconteceu. Porque se a família cala, se a família não vai atrás…
Isso que nós estamos pedindo: por favor, nós precisamos dar um ponto final, um basta nisso. Porque falar nisso dói muito, dói demais. As feridas estão aqui ó, novas, vivas. Então, a gente precisa acabar com isso.
A senhora consegue descrever a hora que recebeu a notícia?
Olha, fica sem chão. Até hoje tem hora que não acredito. Quando, por exemplo, você fala pra mim: tem fotos? Quado eu vou olhar a foto não sei o que é irreal o que é real, o que é mentira e o que é verdade. Eu fico, o que aconteceu? Como? Parece que dentro da gente um lado não quer aceitar aquele fato. Quando vejo a foto dele caído no carro do Ministério do Trabalho, fico imaginando se é ele mesmo. É ele mesmo?
Sensação que ele pode estar aqui, estar vivo. Parece que fica uma coisa assim, se não sabe o que é verdade e mentira. Ele saiu pra trabalhar perfeito, deu beijo, abraço, eu volto na sexta feira. Na terça à noite ele me ligou, tudo bem. Daí a uma semana a minha filha ia fazer 6 anos, era a festinha dela seis anos e eu fazendo lembrancinha, programando festa.
A pessoa sair daqui bom, andando, feliz e alegre. Eles eram felizes, pessoas perfeitas, com família que os amava.
[Ajude Gustavo Costa a investigar a matança dos awa guajá no Maranhão, clicando aqui]
Como a senhora vê a questão de que eram agentes do Estado que iam combater um crime — que não deveria mais existir no século 21 — e foram brutalmente assassinados?
Uma incoerência, um disparate, século 21, tecnologia e aí? E a poucos quilômetros de Belo Horizonte, em Minas Gerais mesmo, acontece uma barbaridade destas. Ainda o coronelismo da séculos passados, acontecendo nos dias de hoje. Isso é inadimissível. O fato que não deveria mais existir pela modernidade, questão do tempo, da consciência que as pessoas têm. E, de repente, você foi vítima no seu próprio Estado. Isso é inconcebível, trabalho degradante, trabalho escravo, estas práticas que eles estavam indo lá para cobrar.
É como se fosse assim, agora vou arrancar um pedaço de você!
Fui arrancada. De repente tive que ser o marido, a mulher, pai, mãe, tudo eu. Porque eu tinha um esposo, era casada, tinha um marido e de repente perdi isso. Até hoje eu sozinha pra tudo. Houve um desfalque físico, emocional, da minha alma. Foi decepado, arrancado com violência, fez aquele corte, arrancou de repente. Uma perda irreparável. Aqui neste mundo nada paga este perda.
Nada repara. A Justiça vai ser feita, precisa ser feita para dar um fim, mas esta perda que nós tivemos, nada, nada.
Depois que esta Justiça da terra for feita é só mesmo a Justiça divina para aliviar.
Este conforto ainda não chegou?
Não chegou. Não. A gente fica lutando. É de passo em passo. Você aprende a conviver com a situação, aprende a lidar com a nova realidade. Aí você vai lidando, mas aquele desfalque, aquele buraco, aquela ferida está lá. Você reaprende a viver, reaprende a caminhar.
A senhora não passou um dia sem pensar nele?
Com certeza, né? Eu ainda moro na mesma casa. Esta casa fomos nós que construímos, nós que idealizamos. Eu nem sai da minha casa, moro aqui.
Como foi pra filha da senhora?
É complicado, muito. Ela perdeu o pai dela com seis anos de idade, perdeu a oportunidade de conviver com um pai, de ter um pai, que a amava, um pai que era presente. Uma filha que foi sonhada, idealizada
Como a senhora reagiu quando a juíza se declarou incompetente para julgar?
Olha, fiquei indignada, de ver como um juiz… Se eu tenho um cargo e não tenho competência pra cumprir eu peço licença, digo não sou capaz de assumir a função. Por exemplo, eu sou professora, como eu vou entrar numa sala e dizer que não vou dar aula pra este turno, esta escola, esta série, este aluno? Eu fiz concurso, então se eu não for competente tem que exonerar, não dou conta mais, me sinto incapa
Como a senhora analisa ao ver os acusados de mando livres?
Falta Justiça, né? Falta Justiça.
Eles com tudo o que foi arquitetado, planejado, feito, estão lá vivendo com as famílias, eles tem as famílias e a gente aqui no prejuízo. Então, é sensação de impunidade, injustiça, de que pode fazer o que quiser se você tem classe social, recurso financeiro. Você pode fazer as suas leis, agir de acordo com os seus interesses porque a Justiça não vai acontecer, vai demorar. Nove anos e não aconteceu nada!
A senhora acha que se os acusados de mando tivessem a mesma condição social dos acusados de execução, o julgamento já teria acontecido?
Claro! Tudo isso a gente sabe que é por questão social, econômica, que neste Brasil infelizmente, o dinheiro fala alto, ele consegue dar pra pessoa uma condição de escorregar, de se livar de muitas coisas. Infelizmente, é pelo dinheiro, é pelo poder. Porque se fossem todos do mesmo nível social dos executores, com certeza este crime já tinha sido julgado e resolvido. Haja vista outros crimes que aconteceram e foram julgados, onde os fazendeiros não eram tão ricos e influentes como estes do caso Unaí.
A senhora foi comunicada quando da morte deles ?
Eles faleceram na quarta pela manhã, quando foi mais ou menos 11 horas três colegas do trabalho vieram aqui pra me dar a notícia. Eu não sabia de nada.
Eu lembro direitinho. Estava me preparando pra sair com a minha filha e meus sobrinhos, eles estavam de férias. Quando iamos almoçar e bateu a campainha. Quando vi os colegas achei que era algumma coisa que ele esqueceu e mandou pedir. Jamais pensaria tal coisa. Quando eles chegam e perguntam: já viu TV hoje, já ouviu rádio? Eu disse não. É porque…
Eu disse não, tão brincando. Ela falou que eles tinham sido baleados, mas não falou que eles estavam mortos. Mas a gente sempre acha que vai salvar. Eu quando vi ele no caixão, não acreditei. Mesmo à noite, ouvindo a reportagem, mas dentro de mim só quando vi no caixão, eu coloquei a mão nele.
Quanto tempo de casados?
Nove anos.
Ele sempre foi aquele filho nascido de família simples, trabalhador. Desde pequeno ele trabalhava, lembro que na adolescência ele saía acompanhando o pai vendendo verdura, peixe. Sempre teve a preocupação com a família, uma pessoa sempre preocupada com as questões sociais, carismático, prezava a amizade. Aquela pessoa, aquele homem até perfeito demais pra este mundo. Ah, é porque já foi! Quem conviveu com ele vai poder confirmar quem era o Eratostenes. O pelido carinhoso dele era Toti.
Ele chegou a falar de receio, ameaça?
Receio sempre tem. Como a gente sabe a estrutura social e politica do país, quando você vê que vai lidar com pessoas que tem um poder econômico mais influente, com certeza, não era só ele, são todos. No fundo, dá aquele receio. É como diz o ditado: vamos ter que mexer em peixe grande. Uma frase que não deveria existir. Existe e é prática.
Eratostenes, João, Nelson eram pessoas trabalhadoras, simples. Gente que conseguiu estar neste cargo porque lutaram, trabalharam, suaram, estudaram. Foi através de esforço porque família deles, dos três, digo porque conheço, não tinham recursos financeiros para bancar faculdade. Eles trabalharam lutaram. Trabalhadores, de origem simples.
A senhora acredita na Justiça?
Preciso acreditar. Se eu não acreditar, apesar de tudo o que eu falei, ela vai e volta. Você precisa acreditar. Os fatos vem e te dão um banho de água fria. Mas não posso perder a fé, se perder vou desanimar de viver, de lutar. Então, por mais que os fatos venham a dizer que isso está acontecendo, eu acredito que vai haver. Tenho que acreditar. Vai acontecer o dia, esse dia em que as coisas vão chegar no lugar certo e vai chegar o dia do julgamento, por um ponto final para a sociedade, porque pra nós só vai acabar quando a gente for para onde eles estão.
Esta é a frase que eu mais quero falar: a Justiça foi feita, foi cumprida.


Eduardo Campos: “Não vai ter campo produtivo com latifúndio improdutivo”

viomundo - publicado em 2 de maio de 2013 às 19:20

MST recebe Eduardo Campos e conquista desapropriação de duas fazendas
2 de maio de 2013
Por Ramiro Olivier

O governador do Pernambuco Eduardo Campos participou da festa de 20 anos do assentamento do MST Normandia, em Caruaru (PE), nesta quarta-feira (1/5), e assinou o decreto de desapropriação de duas fazendas.
Serão destinadas à Reforma Agrária os engenhos Camaragibe, no município de São Joaquim do Monte, no agreste, e Bonito, no município de Condado, na zona da mata. “Não vai ter campo produtivo com latifúndio improdutivo”, discursou o governador.
Campos foi recebido pelo coordenador do MST, Jaime Amorim, como “um governador de ousadia e coragem” por ter liderado uma longa luta pela desapropriação dessas áreas.
Em relação às eleições presidenciais, Amorim disse que o papel do MST é fazer a luta pela Reforma Agrária e que não faz parte da sua história ser “puxa-saco” de ninguém.
Campos lançou no assentamento o programa Terra Pronta, em parceria com a prefeitura municipal de Caruaru, e inaugurou a distribuição dos kits de irrigação de milho forrageiro para toda a região, voltado para amenizar os impactos causados pela seca na região Agreste.
O governador anunciou também o investimento de R$ 659 mil para obras de infraestrutura para combater a seca no estado.
Participaram da comemoração o prefeito de Caruaru José Queiroz, o secretário de Agricultura Ranilson Ramos e o dirigente do PSB Jetro Gomes.
Foram três dias de festa no Centro de Formação Paulo Freire, voltado para a formação dos trabalhadores rurais. As comemorações tiveram uma exposição de fotos do assentamento, uma apresentação de circo de crianças e shows do trio Pé de Serra, do grupo Café com Leite e do forrozeiro Azulão.
Trajetória de luta
Em 1º de Maio de 1993, o MST ocupou a fazenda Normandia. Nessa época, o Movimento possuía apenas quatro áreas ocupadas por trabalhadores. Segundo Jaime Amorim, da direção estadual do MST, o Movimento tinha a necessidade de ampliar as ocupações de terras para pressionar o Estado a desapropriar latifúndios para fins de Reforma Agrária.
Os trabalhadores sofreram quatro despejos violentos cometidos pelo aparato repressivo do Estado. Em 1996, os acampados decidiram fazer uma greve de fome, que durou por oito dias. Esse ato de protesto sensibilizou a população de todo o estado de Pernambuco.
A luta do MST nessa época garantiu a desapropriação de quatro áreas para fins de Reforma Agrária.

Vitória contra o amianto: Justiça decide a favor da vida e do meio ambiente

viomundo - publicado em 1 de maio de 2013 às 14:55

por Conceição Lemes
A fazenda de São Félix, com 700 hectares, fica no município de Bom Jesus da Serra, no sudoeste da Bahia, a 410 km de Salvador.
O turista desavisado logo se encanta com este canyon com lago de águas esverdeadas, circundado por imensos paredões. Dá vontade de conhecê-lo melhor de barco, talvez até mergulhar; os apaixonados por pesca logo se perguntarão sobre os peixes que vivem aí.
Só que quem vê paisagem, não vê o seu coração.
Além de uma galeria subterrânea de 200 km de extensão,  esse grande canyon é – acreditem! — o que restou da exploração da primeira mina de amianto no Brasil, a de São Felix, em Bom Jesus da Serra.
Até a década de 1930, o Brasil importava tudo o que consumia desse mineral cancerígeno. Em 1937, esse quadro começou a mudar com a  fundação da Sama (Sociedade Anônima Mineração de Amianto) e a descoberta da mina de amianto de São Felix do Amianto.
Em 1939, começava aí a exploração do amianto no País. Em 1967, a mina foi fechada.
Durante esse período, a Sama, inicialmente explorada pelos franceses da Saint-Gobain/Brasilit, e mesmo depois (o sucessor em interesse atualmente é a empresa nacional Eternit S/A),  não se preocupou com as condições de vida dos trabalhadores e habitantes do entorno da jazida. Tampouco adotou medidas para reduzir os prejuízos causados pela mineração e evitar a contaminação da água e do ar.
Em 2009, então, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado da Bahia entraram com uma ação civil pública contra a Sama (atualmente, chama-se S/A Minerações Associadas, que pertence ao grupo Eternit), por conta dos danos ambientais.
Em liminar, a Justiça Federal em Vitória da Conquista, Bahia, determinou à Sama a realização de uma série de medidas em defesa do meio ambiente e da segurança da população.
A Sama tentou anular a decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
Porém, por unanimidade,  o TRF-1 ( processo nº 0031223-88.2009.4.01.0000),   manteve a decisão de primeira instância.
A mineradora terá de realizar estudos técnicos para a elaboração do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).
Para isso, informa o Portal Poções, a Sama terá de presentar projeto ambiental pormenorizado, firmado por profissional habilitado e aprovado por técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com cronograma de execução e implantação.
Entre as medidas determinadas pela Justiça estão ainda:
* Isolamento da antiga mineradora com cercas de arame farpado, para impedir a entrada de pessoas não autorizadas.
* Sinalização da área com 30 placas informativas sobre o risco de danos à saúde do local.
* Recolhimento de resíduos de amianto espalhados na propriedade, observando-se todos os cuidados necessários.
* A empresa terá também de isolar todas as escavações provocadas pela atividade mineradora, onde se acumulam água, com muros de alvenaria ou pré-moldados com sinalização, indicando Atenção – Água imprópria para consumo humano.
“Aos poucos, o silêncio sobre os males do amianto vai sendo rompido”, comemora a engenheira Fernanda Giannasi, auditora-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),em São Paulo. “Cada vez mais nossas autoridades públicas demonstram coragem  para agir contra os perpetradores da maior tragédia ecossanitária industrial planetária de todos os tempos. Prova disso é a portaria assinada na sexta-feira 26 pelo procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT), proibindo o amianto no âmbito do MPT.”
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores (3º) e exportadores (2º) de amianto do mundo.
A extração, antes feita em Poções foi transferida para Minaçu, interior de Goiás, na divisa com o Tocantins. Aí fica a mina de Cana Brava, a única em exploração no Brasil.