"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Apolo 11

Pesquisa mostra que brasileiros são os mais preocupados com o aquecimento Global
Última Atualização: Terça-feira, 30 jan 2007 - 08h53

Um levantantamento feito entre 25 mil internautas mostrou que os brasileiros e chineses são os mais bem informados e conscientes sobre o impacto das atividades humanas no aquecimento global. A pesquisa, feita em 46 países foi divulgada ontem e mostra que os norte-americanos são os menos conscientes dos riscos.

Segundo a pesquisa, feita pela empresa ACNielsen, 13% dos norte-americanos pesquisados nunca ouviram falar sobre o problema, apesar de seu país ser o maior emissor de gases componentes do Efeito Estufa.

De acordo com o trabalho, 57% dos entrevistados consideram o aquecimento do planeta um "problema muito grave", enquanto outros 34% classificam o fenômeno como "um problema grave".

Patrick Dodd, presidente da ACNielsen na Europa, acredita que foram necessários o surgimento de padrões ambientais extremos e perigosos para que as pessoas passassem a se preocupar mais com o problema. Segundo Dodd, será necessário um esforço global gigantesco para revertê-lo.

Dos pesquisados pela ACNielsen, os latino-americanos são os mais preocupados, ao contrário dos norte-americanos. Somente 42% dos entrevistados consideraram como "muito grave" o fenêomeno do aquecimento global.

Entre os cientistas quase não há dúvidas de que o aumento das temperaturas do planeta é causado diretamente pela pela queima descontrolada de combustíveis fósseis. Um relatório da ONU, a ser divulgado na próxima sexta-feira, dia 2, deverá confirmar que existe uma probabilidade de 90% de que são realmente as atividades humanas a principal causa do aquecimento global nos últimos 50 anos.

A maioria dos países industrializados é signatário do Protocolo de Kyoto, que limita a emissão de gases danosos ao meio ambiente. Contrariando seus colegas, o presidente norte-americano George Bush não assinou o acordo em 2001, mas na semana passada acenou com a possibilidade de cooperar, ao considerar a mudança climática um "sério desafio". Atualmente os Estados Unidos emitem emitem 25% de todos os gases causadores do Efeito Estufa, seguidos de China, Rússia e Índia.

A pesquisa da ACNielsen, divulgada em Oslo, na Noruega, mostra também que mais de 90% das pessoas já tinham ouvido falar do problema, e que 50% já sabiam que ele fosse causado por atividades humanas. O censo também confirmou que as pessoas que vivem em regiões vulneráveis a desastres naturais são as mais preocupadas e citou os latino-americanos, vítimas de severos prejuízos às plantações de café e banana até as populações da República Checa, que em 2002 foram fortemente atingidos por violentas enchentes.


Automóvel
O grande vilão

Todas as grandes cidades do mundo registram altos níveis de emissão gases do efeito estufa, geralmente lançados na atmosfera pelos veículos de transporte. Em São Paulo, segunda maior cidade da América do Sul, 90% dos gases são provenientes dos automóveis. Dados do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da USP indicam que na capital se vive cerca de dois anos menos do que em cidades com o ar menos poluído.

Não basta que a sociedade aponte como vilão principal apenas as grandes potências e suas indústrias pesadas, que lançam ao ar milhares de toneladas de monóxido de carbono. Considerando-se que 90% da emissão de gases componentes do Aquecimento Global é gerado pela atividade do cidadão comum que se desloca, seja ele proprietário ou não de um automóvel, é necessário encontrar combustíveis alternativos urgentes, já que aproximadamente 500 novos veículos que usam combustível fóssil são colocados nas ruas diariamente.


Efeito Estufa
Durante o dia, uma parte da energia irradiada pelo Sol é captada e absorvida pela superfície da Terra, enquanto outra parte é irradiada de volta para a atmosfera. De uma forma natural, os gases que existem na atmosfera funcionam como uma espécie de capa protetora que impede que o calor se disperse totalmente para o espaço exterior. Isso evita que durante a noite o calor se perca, mantendo o planeta aquecido durante a ausência do Sol.

Todo o processe que cria o efeito estufa é natural. Caso não existisse, a temperatura da superfície seria cerca de 34 graus mais baixa, praticamente impedindo a vida na Terra.

Alguns gases, como o CO2 (dióxido de Carbono) criam uma espécie barreira, exatamente igual a uma estufa, daí o nome do efeito. Essa barreira deixa passar livremente os raios solares mas impede que o calor saia.

Pelo exposto, é fácil concluir que um aumento no nível de CO2 na atmosfera aumentará a quantidade de calor aprisionado. Esse aumento de temperatura pelo efeito estufa é a causa primária do fenômeno do aquecimento global.

Como se vê, o Efeito Estufa gerado naturalmente pela natureza é fundamental para a vida na Terra. No entanto, se a composição dos gases for alterada, para mais ou para menos, o equilíbrio térmico da Terra também sofrerá mudanças.

O CO2 é responsável por cerca de 64% do efeito estufa e é formado pela queima incompleta dos combustíveis fósseis, entre eles o petróleo, gás natural, carvão e a desflorestação.


Como é o capitalismo visto pelo cinema?


O Instituto Humanitas Unisinos será o cenário de um debate sobre os primórdios do capitalismo no próximo dia 17 de março. A discussão será inspirada na exibição do filme Como era verde meu vale (How Green Was My Valley), de John Ford (EUA, 1941, Drama, 118 min) e o debate será conduzido pela Profa. Dra. Gláucia Angélica Campregher, da Unisinos.

A exibição da película abre o Ciclo de Cinema e Debate em Economia. O Capitalismo Visto pelo Cinema, promovido pelo IHU. Sem conformar qualquer ideologia prévia, o evento leva o participante, por meio de filmes, aos momentos mais importantes da formação e do desenvolvimento do capitalismo, mundial e brasileiro, desde sua origem até hoje. Os filmes foram escolhidos segundo a sua potencialidade para suscitar uma compreensão sistêmica e crítica da realidade. Dessa forma, visualizam-se, através do cinema, assuntos como o pré-capitalismo; o surgimento da ordem mercantil; a produção fabril; a concorrência, o mercado e o estado; o capitalismo financeirizado; a tentativa socialista; o fenômeno da alienação e o futuro do capitalismo, inclusive o brasileiro.

O que se quer é capacitar o participante a compreender alguns elementos centrais da formação e do desenvolvimento do capitalismo, tomando como base as interpretações geradas pelo cinema a esse respeito.

Outros filmes que serão debatidos, até o mês de novembro deste ano, sempre nas manhãs de sábado, são: Coração de cristal; Tempos modernos; Tucker - um homem e seu sonho; A fraude; Reds; Os idiotas; Brazil – o filme. Serão 8 encontros, totalizando 24 horas de evento. Inscreva-se e busque mais informações no site http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=4267

Instituto Humanitas Unisinos - 01/02/07

O pós-humanismo. As suas possibilidades. Entrevista especial com Roberto Marchesini

Roberto Marchesini, estudioso de ciências biológicas e de epistemologia, escritor e ensaísta, publicou vários artigos e pesquisas sobre o relacionamento entre homens e animais nas aplicações didáticas. Presidente da sociedade italiana das Ciências Comportamentais Aplicadas e diretor da Scuola di Interazione Uomo Animale, ele também ensina Ciência Comportamental Aplicada em algumas instituições italianas. Entre seus livros publicados, citamos: Bioetica e scienze veterinarie (ESI, 2000), Lineamenti di zooantropologia (Edagricole-Calderini, 2000), Post-human (Bollati Boringhieri, 2002), Imparare a conoscere i nostri amici animali. Guida per insegnanti (Giunti, 2003), Nuove prospettive nelle attività e terapie assistite dagli animali (Edizioni Scivac, 2004), Canone di Zooantropologia Applicata (Apeiron, 2004), Fondamenti di Zooantropologia. Zooantropologia applicata (Alberto Perdisa Editore, 2005).

Confira, a seguir, a entrevista que Marchesini concedeu, por e-mail, com exclusividade para a revista IHU On-Line, no. 200, 16-10-2006, na qual afirma que “a tecnociência não é uma celebração do homem, mas um meio para favorecer a conjugação do homem e para conhecer melhor e apreciar o não-humano”.

IHU On-Line - Como o homem contemporâneo vive a dicotomia de permanecer o único protagonista do universo e a necessidade de mergulhar e deixar-se moldar pela alteridade tecnológica?

Roberto Marchesini - O paradigma pós-humanístico coloca em discussão a visão antropocêntrica, portanto não lê a tecnociência como uma atividade para aumentar o domínio do homem, mas sim como um modo para aumentar o laço da nossa espécie com o mundo, por meio do conhecimento e da responsabilidade operativa. A lógica pós-humana não se baseia na superação do homem, mas na admissão de que as qualidades humanas se constroem na realização com o não-humano, por exemplo, com os outros animais. As qualidades humanas são, portanto, consideradas fruto da relação com os outros seres viventes, assim, o homem deve reconsiderar tal relação, incentivando-a e valorizando as alteridades. O que é rejeitado é exatamente a pretensão de considerar o homem como único protagonista do universo. Segundo o pós-humanismo, o erro é considerar o homem como centro e medida da realidade, ideal humanístico que nos vê como especiais porque somos separados dos outros seres viventes, auto-suficientes na realização ontológica e totipotentes, com o próprio destino firmemente em nosso poder. Esta visão nega qualquer forma de alteridade não humana, seja terrena ou divina - até mesmo Deus existe enquanto e na medida em que é pensado pelo homem - e condena o homem ao total isolamento e à presunção de ser suficiente a si mesmo. O pós-humanismo rejeita esta idéia: a tecnociência não é, portanto, uma celebração do homem, mas um meio para favorecer a união do homem e para conhecer melhor e apreciar o não-humano.

IHU On-Line - Como a técnica auxilia na construção da identidade do sujeito contemporâneo?

Roberto Marchesini - A ciência é uma grande experiência educativa antes mesmo de ser portadora de conhecimento e de aplicações técnicas. Explico-me melhor: graças à ciência, o homem sai dos preconceitos e principalmente da visão da realidade por meio da projeção, ou seja, afasta-se do antropocentrismo mediante uma obra de descentralização. Isso é muito importante na concepção da identidade: o nosso perfil - individual, cultural, humano - nasce do encontro e do acolhimento do outro, e não da sua exclusão. Acredito que o grande risco para o homem contemporâneo seja o de considerar a técnica como uma casca que o separa do mundo; ao contrário, é necessário compreender que o saber não nos torna mais auto-suficientes, e sim mais necessitados um do outro. O saber conjugativo do enfoque pós-humanístico é muito diferente do saber de domínio de tipo baconiano. Precisamos aprender a usar mais seguidamente o nós - toda vez que conhecemos nos declinamos, ou seja, hospedamos a alteridade - e isso deveríamos aprender com os cães, que vivem perto de nós em uma dimensão co-extensiva.

IHU On-Line - A técnica criou sujeitos “pós-humanos”? Vivemos um novo conceito de humanidade?

Roberto Marchesini - A questão não se refere tanto ao que somos, mas a como nos percebemos. O homem do mundo antigo se sentia parte de um conjunto de tensões gravitadas em um ponto final, sustentado pelo fato; obviamente a sua percepção de si era muito diferente da do homem moderno, completamente responsável pelo próprio percurso e propenso a submeter o mundo aos seus objetivos. O nosso tempo, por meio das tecnologias, torna o homem uma entidade mais conexa, e isso reforça a expressão multiforme da pessoa, quer dizer, a percepção de uma entidade múltipla e mutante: o multivíduo no lugar do indivíduo. Entretanto, isso não é uma simples expressão de poder, ao contrário, transforma a pessoa em uma raiz declinável ou, se preferirmos, em um palco onde o não-humano faz surgir novos roteiros. Se confrontarmos estes temas com o velho paradigma humanístico, não os compreenderemos: a nossa tecnociência nos tornou mais híbridos, está dando espaço ao não-humano, faz-nos ver sob uma nova luz. Somos pós-humanos simplesmente porque compreendemos que ser homens significa acolher os outros, que se fazer animais significa progredir, e não regredir, que as máquinas não são externas, mas nos modificam.

IHU On-Line - Como propor uma ética universal com base nesta realidade? É ainda possível pensar em ética no contexto em que vivemos?

Roberto Marchesini - A ética é a reflexão sobre as tensões que o homem sente na sua relação com o mundo: essa é ao menos a minha visão, e neste sentido não posso evitar a religiosidade. Obviamente, cada técnica interpreta um modo particular de enfocar a religiosidade. Para algumas religiões, a realidade terrena é somente um rascunho, ou até mesmo é contrastante à elevação moral: isso leva ao abandono do laço com os outros seres vivos e a sonhar com uma outra dimensão, o paraíso, por exemplo. Junto com essa visão sempre houve uma religiosidade fundada no revelar as leis do mundo como um ato de humildade e de fé: penso no pensamento de Demócrito , Epicuro , Plutarco , Francisco de Assis , Espinoza, Bruno, Einstein . Essa ética se baseia no estupor, no amor pelo mundo e na responsabilidade. Considero que todo bom cientista no fundo esconde no seu coração esta tensão, mas é evidente que este êxtase com relação ao mundo é da arte, da música e de toda atividade da cultura.

IHU On-Line - Podemos aproximar o conceito de pós-humano ao do além-do-homem nietzschiano, responsável pela construção da vida como obra de arte, sem amarras religiosas e metafísicas?

Roberto Marchesini - Acho que Nietzsche entendeu antes de todo o mundo o declínio do humanismo e não teve medo disso, ao contrário de Heidegger. Todavia, as raízes humanísticas do homem demiurgo são ainda fortes nele, e o além-do-homem se realiza por meio de um ato individual e não da hibridação: essa é a diferença. No pós-humano, eu sou porque fui invadido pela alteridade e não porque me realizo solipsisticamente. Não acredito, no entanto, que o abandono da metafísica corresponda à renúncia da religiosidade: podemos sentir o êxtase até mesmo abraçando um cavalo, como fez Nietzsche, ou na compaixão pânica pelas criaturas, como nos ensinou Leopardi. Ir além do homem é a diretriz pós-humanística, não para destruir o homem, mas para doar-lhe uma dimensão relacional, para superar aquela arrogância destruidora que é a verdadeira blasfêmia contra toda forma de religiosidade. O além-do-homem, como o pós-humano, é um ato de amor e de hospitalidade, e não um modo para elevar-se sobre os outros.

IHU On-Line - É possível compreender o pós-humano com base na experiência niilista da morte de Deus? A técnica ocupa hoje o lugar da religião?

Roberto Marchesini - Se a idéia de Deus for aquela mesma antropomórfica de muitas religiões - Deus feito à imagem e semelhança do homem - acredito que esteja se consumindo um divórcio profundo, não ainda explícito, mas em um rápido suceder-se. Perdendo a idéia de homem como medida, também esta forma de religiosidade é destinada a desaparecer. A tecnociência não toma o lugar de Deus, mas acrescenta em nós o estupor em relação ao mundo, torna-nos de algum modo panteístas, faz-nos enfocar a religião de um modo menos projetivo. Devo dizer que talvez esta seja a minha esperança, porque constato com horror como o antropocentrismo, também na religião, esteja destruindo o mundo e desvalorizando o homem.

IHU On-Line - O que seria o antropocentrismo ontológico? O pós-humano é a exacerbação do conceito de homem, que não depende de nada e a nada deve dar satisfações?

Roberto Marchesini - Este é o ponto nevrálgico do assunto. O antropocentrismo ontológico significa considerar o homem autofundado, quer dizer, acreditar que para reforçar as qualidades humanas se deva purificar o homem do não-humano. Acredito que as coisas estejam caminhando em um sentido inverso: os predicados humanos se realizam na medida em que o homem acolhe o mundo e se faz menos auto-referido. Parece um paradoxo, mas nós realizamos as nossas qualidades antropo-decentrando-nos, ou seja, não desligando-nos do mundo e fechando-nos em nós mesmos, mas assumindo outras perspectivas. A cultura é o exemplo mais claro do nosso débito com relação aos animais: a dança, a arte, a moda, a música, a técnica, são formas de hibridação com os animais. As máquinas são o melhor exemplo da nossa fusão com as outras espécies; as máquinas são quimeras, meio homens e meio animais são instrumentos que se animam, e o universo das outras espécies é a grande fonte inspiradora da taxonomia maquínica. Superar o antropocentrismo ontológico significa entender este débito e respeitá-lo. É um pouco como o egocêntrico que não cresce se não supera a falsa impressão de que o mundo gira ao seu redor. O conhecimento nos faz híbridos, não nos purifica; nos torna mais dependentes, não mais autônomos.

IHU On-Line - Como fica a alteridade nesse cenário? E a representação democrática, se o homem é auto-referente?

Roberto Marchesini - O pós-humanismo reforça o valor da alteridade e tolhe ao homem aquela auto-referência que o humanismo lhe havia consignado. As alteridades constroem a nossa identidade, isso significa que, destruindo as alteridades, nós colocamos uma pesada hipoteca sobre as nossas possibilidades de identidade. Quem tinha bem entendido isso era o escritor Philip Dick, que afirmava que não poderia haver um futuro para o homem além da relação com os animais, e é por isso que também os seus replicantes sonham com ovelhas, mesmo que elétricas. O homem não é um compasso para o mundo, a idéia de Leonardo teve o seu tempo, e hoje corre o risco de transformar o mundo em um deserto. Aí sim é que a tecnociência se tornaria uma arma perigosa e devastadora.

IHU On-Line - Essa concepção auto-referente pode ser a base para entendermos as inúmeras intolerâncias que ainda persistem, como a religiosa, a sexual e racial?

Roberto Marchesini - O mito da pureza, a submissão dos animais ao homem, a idéia existencialística da forma perfeita, foram as bases de toda a forma de discriminação. Santo Agostinho já havia entendido isso, pois onde há discriminação humana versus não-humano e maltrato aos outros viventes, há o modelo para submeter o homem ao homem. Não é por acaso que o operador discriminativo sempre apelou à natureza zoomorfa do discriminado: o louco, a mulher, a criança, o estrangeiro sempre foram representados como animais ou como portadores de uma maior dose de animalidade. Para entender as máquinas, precisamos começar a entender melhor as nossas relações com os outros seres vivos e sair desta solidão de espécie. O pós-humanismo é o contrário da auto-referência, é a celebração da hibridação, é a consciência de que o homem não apenas não é a medida do mundo, mas não é nem mesmo a medida de si mesmo.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

Correio Braziliense - 31/01/07

IRÃ

EUA travam miniguerra fria

Regime dos aiatolás aproveita erros da Casa Branca, expande influência e intimida os adversários no Oriente Médio. Aliados responsabilizam o governo norte-americano pelo acirramento da tensão sectária

Anthony Shadid

The Washington Post

Quatro anos depois da invasão do Iraque, o Irã está em alta e os EUA, em retirada. Os países árabes, que se sentem enfraquecidos, são lacerados por disputas sectárias que, muitos apontam, foram acirradas pelos próprios americanos. “Eles são os maiores culpados pela expansão da influência do Irã no Oriente Médio”, aponta o escritor e acadêmico saudita Khaled Al-Dakhil. Eyal Zisser, chefe do Departamento de Oriente Médio e África na Universidade de Telavive, em Israel, resume um sentimento comum na região quando se discute a política norte-americana: “Depois de todo esse investimento na democracia, o Ocidente está perdendo e o Irã é que está ganhando”.

Nas últimas semanas, a Casa Branca acusou o golpe e sinalizou uma atitude mais firme para conter a crescente desenvoltura do regime dos aiatolás. O presidente George W. Bush autorizou explicitamente as tropas americanas no Iraque a “eliminar” agentes iranianos surpreendidos no país — onde Teerã exerce influência sólida sobre o novo governo, derrama dólares, cultiva amizades e tira do caminho os adversários. O novo “número 2” do Departamento de Estado, John Negroponte, admitiu perante o Congresso que a expansão da influência do Irã “vai além da questão do programa nuclear”.

“Os simpatizantes do Irã estão por toda parte, do Iraque ao Afeganistão”, comenta o ex-diplomata iraniano Najaf Ali Mirzai, que atualmente dirige um centro de estudos no Líbano. “E os soldados americanos no Oriente Médio são reféns do Irã, no caso de uma guerra. Os iranianos podem atingi-los em qualquer lugar, e mísseis Patriot não poderão protegê-los.”

Os vizinhos árabes, muitos deles aliados de longa data de Washington, assistem com apreensão e ansiedade a outro efeito colateral da ascensão iraniana: a tensão crescente entre muçulmanos sunitas e xiitas. Mas, ao mesmo tempo, muitos suspeitam das reais intenções de Washington ao confrontar os aiatolás. “Eles precisavam criar um inimigo para justificar o fracasso no Iraque”, critica Talal Salman, editor-chefe do jornal libanês As-Safir. “Assim, com o ‘lobo’ à porta, temos de chamar tropas e frotas estrangeiras para nos proteger.”

Sem adversários

Vem de séculos a rivalidade entre o Irã, de maioria xiita, e seus vizinhos árabes, em geral com maioria sunita. Mas, como na maioria dos conflitos contemporâneos do Oriente Médio, os contornos são agora definidos por interesses políticos. O Irã cresce quase por ausência de adversários. Primeiro, em 2001, a invasão norte-americana ao Afeganistão tirou do poder os extremistas sunitas do Talibã, que nos anos 90 andaram às portas de uma guerra com Teerã. Dois anos depois, foi a vez do Iraque de Saddam Hussein, que iniciou uma guerra de oito anos com o Irã (1980-1988).

“Discordo da política iraniana, mas não há como negar que eles têm uma agenda e fazem planos para cumpri-la”, analisa Abdullah Al-Shayji, cientista político da Universidade do Kuweit. “Não perdem uma só oportunidade.”

Em poucos lugares isso é mais evidente do que no Líbano, onde os xiitas são 45% da população. No sul de Beirute, reduto do partido pró-iraniano Hezbollah, uma faixa sobre uma ponte destruída por bombardeios israelenses, em agosto último, resume a situação: “O inimigo sionista destrói, a República Islâmica reconstrói”.

“Quer saber minha opinião, honestamente?”, provoca o libanês Hassan Sbeiti, comerciante xiita de 44 anos. “Se você me cumprimenta, vou achar que gosta de mim. Se cumprimenta e pergunta se preciso de alguma coisa, vou te ver como um amigo. Agora, se você me cumprimenta, pergunta do que preciso e me dá dinheiro, virou meu irmão.”

Folha de São Paulo - 31/01/07

Venezuela absorverá produção boliviana de derivados da coca

DA REDAÇÃO

A Venezuela anunciou que vai comprar da Bolívia todos os produtos industrializados cuja matéria-prima é a folha de coca. A declaração foi dada pelo embaixador venezuelano na Bolívia, Julio Montes, ao jornal boliviano "La Rázon".

"Igual ao que a África do Sul faz com o Peru, nós estamos dispostos a comprar o mate que saia daí [fábrica], os medicamentos. Tudo que saia daí estamos dispostos a comprar."

Segundo Montes, a produção seria entregue à "população venezuelana por meio dos mecanismos de distribuição de alimentos que o Estado possui".

Desde que assumiu a Presidência da Bolívia, em janeiro de 2006, Evo Morales tem incentivado a industrialização da coca e defendido uma política de "cocaína zero, mas não coca zero". Morales também está em campanha para valorizar a planta. De acordo com a Convenção de Viena, a folha de coca é uma substância controlada. Mas Morales tenta inverter essa situação.

A proposta da Bolívia é industrializar 4.000 toneladas de coca em chás, farinhas, biomedicamentos e outros produtos.

A Venezuela também tem investido na industrialização da planta e está financiando uma unidade na Bolívia para fabricação de produtos derivados da coca, como xampu e tempero.

De acordo com Montes, esses produtos terão mercado garantido, ainda que ele acredite que, no início, o mercado nacional absorverá a produção.

Ao ser questionado se a exportação de produtos que tem a coca como base não rompe os acordos da Convenção de Viena, Montes respondeu: "pergunte à Windsor (marca que produz chá de coca) se viola a Convenção de Viena".

Expansão da área legal

No final do ano passado, Morales anunciou um plano para aumentar a área legal cultivada com folha de coca de 12 mil hectares para 20 mil. Estima-se que a produção ocupe hoje cerca de 25 mil hectares no país.

O anúncio desagradou os EUA, que cortaram imediatamente 25% do valor da ajuda ao combate às drogas que entrega ao país andino.

"Por que não controlam o consumo de cocaína em seu país [nos EUA]? Lá existem 40 milhões de consumidores", replicou Montes ao "La Rázon".

Estima-se que menos de 1% da cocaína boliviana vá para os EUA. O principal destino é o Brasil, que recebe cerca de 90% da droga boliviana.

Folha de São Paulo - 31/01/07

PAC: vale a pena apoiá-lo

ANTONIO DELFIM NETTO

O LANÇAMENTO do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi recebido com frieza por alguns setores que se pensam portadores da verdade "científica". A despeito de tudo o que se afirma, o desenvolvimento é um estado de espírito apoiado em condições materiais adequadas. O velho Adam Smith já disse há 250 anos que ele depende: 1º) da paz interna e externa; 2º) de uma tributação leve; e 3º) de uma tolerável administração da Justiça. É preciso reconhecer a precariedade de três condições no Brasil de hoje: 1º) a paz interna nas grandes aglomerações urbanas é discutível; 2º) a tributação é a maior do mundo para países com o nosso nível de renda per capita; e 3º) a Justiça (principalmente a do Trabalho) deixa a desejar.

Como deveria ser óbvio, tal situação não pode ser debitada ao atual governo. E, o que é mais dramático, não há a menor possibilidade de alterá-la a não ser a pouco e pouco, quando riscos iminentes produzirem ataques de "racionalidade" que permitam corrigir a Constituição Cidadã.

As críticas ao PAC que exigem a mudança imediata daquelas condições são absolutamente irrelevantes e extemporâneas. O que o PAC se propõe é muito menos ambicioso do que sugerem os "cientistas" (medidas imediatas de regulação, reforma tributária, previdenciária etc.), mas não menos importante.

É a aposta na criação de um "estado de espírito" favorável a uma aceleração do crescimento (acima dos ridículos 2,4% dos últimos 12 anos). O presidente reconheceu isso quando disse que "o governo pode tomar iniciativas, pode criar os meios, mas, para que qualquer projeto amplo tenha sucesso, é preciso o engajamento de todos. Temos que ver o PAC não como um conjunto de medidas, mas como um foco de novas atitudes".

Da mesma importância é a idéia que não se quer "qualquer" desenvolvimento. O "correto" é condicionado: 1º) à diminuição das desigualdades pessoais e regionais, com aumento da qualidade de vida (alimentação, habitação, vestuário, educação, saúde e segurança); 2º) ao equilíbrio fiscal, com a redução da relação dívida/PIB e da vulnerabilidade externa; 3º) à redução da inflação sem controle de preços, com um banco central autônomo; e 4º) à ampliação das liberdades civis e dos direitos democráticos.

Marca-se, assim, um claro distanciamento do delírio andino que ameaça parte da América Latina.

Tais compromissos podem ser assumidos porque o governo conquistou credibilidade fiscal e monetária e dispõe de mecanismos de correção, a tempo, de qualquer desvio. A taxa de crescimento será a maior possível, dentro das condições existentes e da colaboração do setor privado.

O Globo - 31/01/07

Clima: até 3,2 bilhões podem ficar sem água

Novo estudo sobre aquecimento global revela que geleiras perderam 50% de sua área nos últimos 150 anos

CANBERRA. O aquecimento global poderá provocar uma crise de escassez de alimento e água de proporções jamais enfrentadas. Dados preliminares do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que, até o fim do século, de 1,1 bilhão a 3,2 bilhões de pessoas enfrentarão a escassez de água. A falta de alimento atingiria de 200 milhões a 600 milhões.

As regiões mais afetadas pela falta de água serão China, Austrália e partes da Europa e dos EUA. O relatório aponta ainda que, nas regiões costeiras, cerca de sete milhões de casas serão atingidas pelo aumento do nível do mar. Tais previsões são relativas a um aumento global de 2 a 3 graus Celsius.

O trecho do relatório do IPCC que trata das conseqüências diretas do aquecimento só será divulgado oficialmente em abril (a primeira parte será lançada amanhã). Mas o jornal Australiano "The Age" teve acesso a alguns dados.

- A mensagem é que todas as regiões da Terra serão expostas - afirmou Graeme Pearman, um dos autores do relatório do IPCC. - A China, como a Austrália, perderá um volume de chuva significativo em suas áreas agrícolas.

A grande barreira de corais da Austrália estará "funcionalmente extinta" e a neve desaparecerá por completo do país até o fim do século. Na Europa, as geleiras desaparecerão por completo da parte central dos Alpes. Um outro estudo divulgado ontem apresenta sinais inequívocos das mudanças climáticas.

De acordo com o Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras, afiliado à ONU, as geleiras estão derretendo numa velocidade três vezes superior à de 1980. E, pior: desde 1850, já perderam 50% de seu gelo. As temperaturas globais nesse período aumentaram 0,8 grau Celsius. Um aumento de 3 graus Celsius, como prevê o IPCC, na Europa, por exemplo, representará uma perda de 80% da neve remanescente dos Alpes.

- Se as previsões estiverem corretas, somente as maiores e mais altas geleiras do mundo sobreviverão ao século XXI - afirmou Michael Zemp, do serviço de monitoramento.

Diante dos novos e alarmantes dados, a Agência da ONU para o Meio Ambiente já pediu ao secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, uma reunião de emergência sobre clima.

O Globo - 31/01/07

Chávez controlará energia

Lei que permite presidente governar por decreto é ampliada. Oposição pressiona Judiciário

A Assembléia Nacional (Congresso) venezuelana dará sinal verde hoje ao projeto de Lei Habilitante que, ampliado, permitirá ao presidente Hugo Chávez governar por decreto durante 18 meses. Segundo confirmou ontem a presidente da Assembléia Nacional, a congressista Cilia Flores, o presidente terá faculdades extraordinárias para legislar nas seguintes áreas de governo: transformação das instituições do Estado, participação popular, valores essenciais do exercício da função pública, setores econômico, social, financeiro e tributário, saúde, segurança cidadã e jurídica, ciência e tecnologia, ordem territorial, defesa, infra-estrutura, transporte e serviços. Ontem, a lista de âmbitos a serem controlados pelo presidente incorporou o setor energético, que não estava incluído no projeto original.

Com a Lei Habilitante, o presidente pretende aprovar, entre outras iniciativas, a estatização do serviço de energia elétrica de Caracas, da Companhia Anônima Nacional de Telefones da Venezuela (CANTV) e de algumas etapas da exploração de petróleo na Bacia do Orinoco controladas por seis multinacionais: British Petroleum, Exxon Mobil, Chevron Texaco, ConocoPhillips, Total e Statoil.

Segundo explicou ao GLOBO o economista e ex-chefe de pesquisas do Banco Central venezuelano, José Guerra, a incorporação do setor energético ao projeto de Lei Habilitante tem como principal objetivo a nacionalização das associações estratégicas entre empresas estrangeiras e a companhia estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA), que atuam na bacia.

- Hoje, a PDVSA controla 30% dessas associações estratégicas, que processam petróleo pesado, um negócio de altíssimo rendimento. O governo quer investir cerca de US$10 bilhões e aumentar sua participação para 60% ou até mais - disse Guerra, lembrando que Chávez também pretende nacionalizar as empresas que processam e vendem o gás venezuelano.

Lei será aprovada em praça pública

Depois de ter passado por votações preliminares, o projeto de Lei Habilitante será aprovado hoje numa sessão extraordinária, que será realizada ao ar livre, na praça Bolívar, de Caracas.

- A Lei Habilitante será sancionada pelo povo. Estamos construindo uma sociedade socialista - afirmou Flores.

Movimentos opositores do governo chavista já confirmaram sua intenção de recorrer à Justiça para enfrentar a nova ofensiva do presidente.

- Chávez quer adotar medidas que têm um objetivo eminentemente personalista, de quem quer se eternizar no poder - declarou o líder do movimento Aliança Bravo Povo, Antonio Ledezma.

Segundo ele, a Venezuela está caminhando para uma "hegemonia governamental, financeira e dos meios de comunicação". Ledezma questionou a decisão do presidente de não renovar a concessão ao canal Radio Caracas de Televisão (RCTV), de eliminar a autonomia do Banco Central e de buscar maneiras de controlar governos regionais opositores. Chávez já ameaçou afastar governadores e prefeitos que não estejam cumprindo metas:

- Se tivéssemos de começar a raspar prefeitos, começaremos a raspar prefeitos. E se tivéssemos de começar a raspar governadores, começaremos a raspar governadores.

As declarações provocaram forte tensão entre setores opositores, que acompanham com preocupação as primeiras medidas do novo mandato de Chávez e, sobretudo, o processo de reforma da Constituição de 1999 - sem a convocação de uma assembléia. Ontem, representantes do Copei, um dos partidos mais tradicionais do país, recorreram ao Supremo Tribunal de Justiça para exigir um pronunciamento sobre a reforma.

- A Lei Habilitante não tem credibilidade legal nem política, já que a Assembléia Nacional está em mãos do governo e não tem autonomia - argumentou o secretário geral do Copei, Luis Ignácio Planas.

O Globo - 31/01/07

Chávez controlará energia

Lei que permite presidente governar por decreto é ampliada. Oposição pressiona Judiciário

A Assembléia Nacional (Congresso) venezuelana dará sinal verde hoje ao projeto de Lei Habilitante que, ampliado, permitirá ao presidente Hugo Chávez governar por decreto durante 18 meses. Segundo confirmou ontem a presidente da Assembléia Nacional, a congressista Cilia Flores, o presidente terá faculdades extraordinárias para legislar nas seguintes áreas de governo: transformação das instituições do Estado, participação popular, valores essenciais do exercício da função pública, setores econômico, social, financeiro e tributário, saúde, segurança cidadã e jurídica, ciência e tecnologia, ordem territorial, defesa, infra-estrutura, transporte e serviços. Ontem, a lista de âmbitos a serem controlados pelo presidente incorporou o setor energético, que não estava incluído no projeto original.

Com a Lei Habilitante, o presidente pretende aprovar, entre outras iniciativas, a estatização do serviço de energia elétrica de Caracas, da Companhia Anônima Nacional de Telefones da Venezuela (CANTV) e de algumas etapas da exploração de petróleo na Bacia do Orinoco controladas por seis multinacionais: British Petroleum, Exxon Mobil, Chevron Texaco, ConocoPhillips, Total e Statoil.

Segundo explicou ao GLOBO o economista e ex-chefe de pesquisas do Banco Central venezuelano, José Guerra, a incorporação do setor energético ao projeto de Lei Habilitante tem como principal objetivo a nacionalização das associações estratégicas entre empresas estrangeiras e a companhia estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA), que atuam na bacia.

- Hoje, a PDVSA controla 30% dessas associações estratégicas, que processam petróleo pesado, um negócio de altíssimo rendimento. O governo quer investir cerca de US$10 bilhões e aumentar sua participação para 60% ou até mais - disse Guerra, lembrando que Chávez também pretende nacionalizar as empresas que processam e vendem o gás venezuelano.

Lei será aprovada em praça pública

Depois de ter passado por votações preliminares, o projeto de Lei Habilitante será aprovado hoje numa sessão extraordinária, que será realizada ao ar livre, na praça Bolívar, de Caracas.

- A Lei Habilitante será sancionada pelo povo. Estamos construindo uma sociedade socialista - afirmou Flores.

Movimentos opositores do governo chavista já confirmaram sua intenção de recorrer à Justiça para enfrentar a nova ofensiva do presidente.

- Chávez quer adotar medidas que têm um objetivo eminentemente personalista, de quem quer se eternizar no poder - declarou o líder do movimento Aliança Bravo Povo, Antonio Ledezma.

Segundo ele, a Venezuela está caminhando para uma "hegemonia governamental, financeira e dos meios de comunicação". Ledezma questionou a decisão do presidente de não renovar a concessão ao canal Radio Caracas de Televisão (RCTV), de eliminar a autonomia do Banco Central e de buscar maneiras de controlar governos regionais opositores. Chávez já ameaçou afastar governadores e prefeitos que não estejam cumprindo metas:

- Se tivéssemos de começar a raspar prefeitos, começaremos a raspar prefeitos. E se tivéssemos de começar a raspar governadores, começaremos a raspar governadores.

As declarações provocaram forte tensão entre setores opositores, que acompanham com preocupação as primeiras medidas do novo mandato de Chávez e, sobretudo, o processo de reforma da Constituição de 1999 - sem a convocação de uma assembléia. Ontem, representantes do Copei, um dos partidos mais tradicionais do país, recorreram ao Supremo Tribunal de Justiça para exigir um pronunciamento sobre a reforma.

- A Lei Habilitante não tem credibilidade legal nem política, já que a Assembléia Nacional está em mãos do governo e não tem autonomia - argumentou o secretário geral do Copei, Luis Ignácio Planas.

O Globo - 31/01/07

Indiana vence CSN e leva Corus por US$11,3 bi

Após disputa de 3 meses, Tata compra a maior siderúrgica britânica em leilão. Brasileira ofereceu US$11,207 bi

LONDRES, BOMBAIM e RIO. A siderúrgica indiana Tata Steel superou a oferta da brasileira CSN e adquiriu o controle da anglo-holandesa Corus em leilão que durou mais de oito horas e foi encerrado no fim da noite de ontem. O Painel de Aquisições britânico informou, em comunicado enviado por e-mail, que a Tata concordou em oferecer aos investidores da Corus 608 pence por ação em dinheiro, ou 5,75 bilhões de libras, o equivalente a US$11,3 bilhões de dólares. A CSN ofereceu 603 pence por ação pela Corus, ou US$11,207 bilhões, segundo o Painel.

"O conselho (da Corus) fará suas recomendações mais tarde, durante o dia", informou um porta-voz do grupo anglo-holandês, após o leilão, que começou às 16h30m (14h30m, horário de Brasília).

Em Nova Déli, na Índia, a direção da Tata confirmou o lance. Com a aquisição, a siderúrgica ocupará a quinta posição no ranking mundial do setor, que é encabeçado pela Mittal Arcelor.

A briga entre as siderúrgicas brasileira e indiana pelo grupo britânico durou três meses. Antes do leilão, convocado pelo Painel de Aquisições na semana passada para pôr fim à batalha de aquisição, a CSN tinha a dianteira com uma oferta de 4,9 bilhões de libras (US$9,6 bilhões de dólares), ou 515 pence por ação, valor aceito pela Corus em 11 de dezembro. Essa oferta superou o valor anterior da Tata Steel, de 500 pence por ação. A Tata deu início à disputa com uma oferta de 455 pence por ação no dia 20 de outubro.

Ontem, as ações da Corus avançaram 0,5% no mercado londrino. Já os papéis da CSN, empresa comandada por Benjamin Steinbruch, subiram 2,46%, a sexta maior alta do pregão na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa).

- Os papéis da CSN caíram muito desde novembro, quando ela anunciou a intenção de comprar a Corus. Já outras ações do setor siderúrgico avançaram no mesmo período. Por isso, acredito que a alta de ontem reflete mais um ajuste nas cotações - avaliou Leonardo Messer, diretor de Renda Variável da Meta Asset Management.

Na atual tendência à consolidação, as siderúrgicas em todo o mundo estão pagando grandes prêmios para comprar os rivais. Segundo especialistas, com os preços dos metais aumentando, as companhias estão tentando cortar vagas e custos de matéria-prima, para ganhar competitividade.

Tanto a CSN quanto a Tata estavam dispostas a comprar a Corus para se tornarem um importante participante no mercado siderúrgico. A compra permitirá que a Tata agregue unidades de finalização na Europa, região que fornece matéria-prima para grandes fabricantes de automóveis, como a Ford. A Corus, de acordo com informações do International Iron and Steel Institute (IISI), produziu 18,2 milhões de toneladas de aço em 2005, e ocupa a 9ª posição no ranking mundial.

A maior aquisição no setor siderúrgico foi a da Mittal Steel, sediada na Holanda. Ela comprou a Arcelor, de Luxemburgo, em 2006, por US$38,3 bilhões.

Ontem, a Tata Steel anunciou que seu lucro líquido trimestral subiu 41%, ficando abaixo das expectativas, devido ao custo de matérias-primas.

(*) Agências internacionais, com Bloomberg News

COLABOROU Patricia Eloy

Instituto Humanitas Unisinos - 31/01/07

EUA censura cientista que tratam da mudança climática

Cientistas dos EUA asseguram ter sido pressionados pelo governo George W. Bush para que mintam sobre os perigos do aquecimento globa. A denúncia é do presidente do Comitê de Supervisão e Reforma Governamental, Henry Waxman. Ele diz que há provas de que “o governo intentou deliberadamente enganar o público sobre a ameaça que pende sobre o planeta” por causa do efeito estufa. A notícia é do jornal Clarin, 31-1-2007.

Waxman, do partido democrata, e Tom Davis, o líder republicano na Comissão (que examina as interferências políticas do governo) pediram várias vezes ao governo a documentação sobre a política climática. O governo sempre se negou a responder ao pedido.

“Sabemos que a Casa Branca possui documentos que contêm provas de que funcionários governamentais tentaram enganar o público a injetar dúvidas na ciência do aquecimento global e minimizar o perigo potencial”, insistiu Waxman.

A denúncia surge a partir do testemunho de dois grupos de ativistas privados que asseguraram numa audiência pública legislativa que cientistas de sete organismos governamentais denunciaram terem recebido pressões políticas para diminuir a importância do perigo do aquecimento global.

Os grupos apresentaram uma pesquisa segunda a qual dois de cada cinco dos 279 especialistas em climatologia se queixaram de que alguns dos seus estudos foram editados de tal forma que o seu significado muda.

Quase a metade dos 279 cientistas disseram que várias vezes lhes foi dito pelo governo que eliminassem referências ao “aquecimento global” ou à “mudança climática” dos seus informes.

Instituto Humanitas Unisinos - 31/01/07

De volta para o futuro, A esquerda da América Latina. Artigo de José Luís Fiori

"A ira e o desencanto dos liberais de direita e de esquerda tem sua razão de ser. De repente tudo mudou, e o cenário ideológico latino-americano ficou diversificado e repleto de idéias e propostas. Podem dar certo ou errado, mas não há como impugná-las, como vem acontecendo, pelo simples fato de serem projetos antigos", escreve José Luís Fiori, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, em artigo publicado hoje, 31-1-2007, no jornal Valor.

Segundo ele, "todos tem raízes profundas na história latino-americana e não se pode dizer que fracassaram, porque sempre foram interrompidos pelos golpes da direita liberal".

Eis o artigo.

"Chama a atenção a ira dos conservadores. Mas também chama a atenção o desconcerto e a crítica da esquerda ao comportamento e às posições dos novos presidentes sul-americanos, em particular da Venezuela, Bolívia e Equador. No caso dos conservadores, por razões óbvias, de interesse imediato, mas no caso da esquerda, por motivos menos explícitos e com argumentos mais sinuosos que, em geral, escondem um preconceito profundo contra estes novos líderes indígenas, sindicalistas ou soldados que não conhecem o manual das boas maneiras do "esquerdista perfeito". Quase todos estes intelectuais já gostaram dos personagens e enredos fantásticos de Alejo Carpentier, Garcia Marques e Vargas Llosa, mas muito poucos conseguem entender e se relacionar com o mundo real das sociedades hispano-indígenas e com seus líderes que não são iluministas, nem intelectuais de salão. De qualquer maneira, durante os primeiros anos todas as divergências e críticas pareciam reduzir-se a um problema de excentricidades pessoais. Até ali, os novos governos de esquerda da América do Sul pareciam condenados à mesmice, como se todos fossem prisioneiros perpétuos da "verdade científica" da economia neoclássica e da "modernidade inevitável" das reformas neoliberais.

A origem deste pesadelo é bem conhecida: na década de 90, as teses neoclássicas e as propostas neoliberais transformaram-se no senso comum dos governos e de uma boa parte da intelectualidade sul-americana. Foram os "anos dourados" das privatizações, da desregulação dos mercados e da crença no fim das fronteiras e na utopia da globalização. Mas, mesmo depois das derrotas dos neoliberais, os novos governos de esquerda, recém-eleitos, mantiveram o mesmo "modelo econômico". Eles não tinham objetivos estratégicos próprios e sua política econômica seguia sendo a mesma dos governos anteriores. Mas este quadro começou a mudar depois das nacionalizações do governo de Evo Morales. Num primeiro momento, pareciam medidas pontuais e indispensáveis à fragilidade fiscal do governo boliviano. Mas depois foi ficando claro que se tratava de uma ruptura mais profunda e estratégica com o passado neoliberal da Bolívia, e um anúncio do novo projeto de "socialismo do século XXI", que seria proposto, uns meses depois, pelo presidente Hugo Chavez, da Venezuela. E eis que de repente, não mais que de repente, acabou a mesmice e rompeu-se a "concertação por antagonismo" entre a "mão invisível" neoliberal, e a "esquerda pasmada". Goste-se ou não, foi assim que ressurgiu, na América do Sul, a palavra e o projeto socialista - e, depois disto, ao contrário do que muitos previam, a esquerda não se dividiu. Pelo contrário, clarificou a sua diversidade interna e explicitou a multiplicidade dos seus caminhos sul-americanos. Como se pode ver, por exemplo :

1) No caso do projeto "socioliberal", do governo chileno de Michelle Bachelet, que vem modificando gradualmente o modelo econômico ortodoxo das últimas décadas, mas ainda se mantém muito distante do projeto socialista do governo de Salvador Allende. Assim mesmo, é cada vez maior o seu parentesco com as políticas da Frente Popular, que governou o Chile entre 1936 e 1948 com o apoio dos socialistas, radicais e comunistas, privilegiando as políticas de universalização, "com qualidade", dos serviços públicos universais de saúde e educação.

2) No caso do projeto de "new deal keynesiano" do governo argentino de Nestor Kirchner, cada vez mais distante do "modelo econômico" do governo Menem. Depois da moratória argentina, o presidente Kirchner redefiniu suas relações com a "comunidade financeira internacional" e transformou em prioridade absoluta do seu governo a criação de empregos e a recuperação da massa salarial da população argentina, utilizando-se da formula clássica da social-democrata européia, da "concertação social", para conter a inflação. Além disto, voltou a proteger a indústria, estatizou vários serviços públicos e lançou, recentemente, um programa de reestatização opcional da própria Previdência.

3) No caso do projeto de "socialismo do século XXI", anunciado pelo presidente Hugo Chavez e apoiado pelos governos da Bolívia e Equador, retomam-se idéias e políticas que vêm da Revolução Mexicana e que fizeram parte dos programas de vários governos revolucionários ou nacionalistas do continente, culminando com a experiência de "transição democrática ao socialismo" do governo de Salvador Allende, no início da década de 70. Em todos os casos o ponto central foi o mesmo: a criação de um núcleo produtivo estatal, com capacidade estratégica de liderar o desenvolvimento do país, na perspectiva da construção de uma sociedade mais igualitária. Uma espécie de "capitalismo organizado de Estado" onde convivam o grande capital estatal e privado com as pequenas cooperativas da economia indígena, dentro de um sistema o comunal de participação democrática.

4) Por fim, no caso do "desenvolvimentismo com inclusão social" do segundo governo Lula, suas primeiras medidas e propostas são muito claras: seu objetivo estratégico não é construir o socialismo, é "destravar o capitalismo" brasileiro para que ele alcance altas taxas de crescimento, capazes de criar empregos e aumentar os salários de forma sustentada, fortalecendo a capacidade fiscal de investimento e proteção social do Estado brasileiro. Com este objetivo, o governo Lula está retomando o velho projeto desenvolvimentista que remonta à década de 30 e que só foi interrompido nos anos 90. Mas, ao mesmo tempo, está querendo criar uma vontade política através de uma grande coalizão social e econômica que reúna as várias vertentes do desenvolvimentismo brasileiro, conservadoras e progressistas, que estiveram separadas durante a ditadura militar.

Resumindo: a ira e o desencanto dos liberais de direita e de esquerda tem sua razão de ser. De repente tudo mudou, e o cenário ideológico latino-americano ficou diversificado e repleto de idéias e propostas. Podem dar certo ou errado, mas não há como impugná-las, como vem acontecendo, pelo simples fato de serem projetos antigos. Todos tem raízes profundas na história latino-americana e não se pode dizer que fracassaram, porque sempre foram interrompidos pelos golpes da direita liberal."


terça-feira, janeiro 30, 2007

Bresser Pereira - 29/01/07

Globalização comercial e financeira
29/1/2007 -

As duas alternativas para a globalização -a do Fórum Econômico Mundial e a do Fórum Social Mundial- não são relevantes para o Brasil. A primeira porque é a mera celebração do atual estágio do desenvolvimento capitalista; a outra porque, embora generosa, é utópica. Para nós, o que interessa é outra distinção; é compreender que a globalização comercial é uma grande oportunidade para quem tem mão-de-obra ainda barata, e a financeira, a causa de quase estagnação de países em desenvolvimento como o nosso.

A globalização enquanto fenômeno econômico é a competição comercial em nível mundial entre os Estados-nação por meio de suas empresas. Logo, a questão fundamental é saber como cada país será ou não bem-sucedido nessa competição. No início dos anos 1990, quando a hegemonia ideológica dos Estados Unidos estava no auge, o globalismo -a ideologia da globalização- afirmava que bastava para isso realizar reformas que abrissem todos os mercados, inclusive os financeiros.

Verificamos, 15 anos depois, que essa receita foi desastrosa para quem a seguiu porque não distinguiu a globalização comercial da financeira. Para países em desenvolvimento, cuja mão-de-obra é barata em relação aos países ricos, a globalização comercial representou uma incrível oportunidade. Primeiro os tigres asiáticos e depois a China estão aí para demonstrá-lo. Em compensação, a abertura financeira foi a principal razão da quase estagnação da América Latina.

O segredo do desenvolvimento dos países asiáticos dinâmicos foi ter limitado a globalização financeira. Eles compreenderam que a flutuação sem controles da moeda nacional podia anular a vantagem existente na globalização comercial, porque, quando a taxa de câmbio deixa de ser administrada, a moeda local nos países em desenvolvimento tende a se tornar apreciada e, portanto, não competitiva. A doença holandesa, causada pela disponibilidade de recursos baratos e abundantes, é a causa dessa tendência: a taxa de câmbio resultante -apreciada- é definida por esse recurso barato, cuja exportação é rentável a essa taxa. Outros bens comercializáveis com maior valor adicionado per capita, embora utilizem tecnologia no estado da arte, ficam inviabilizados porque necessitam de uma taxa de câmbio mais depreciada -uma taxa livre da doença holandesa- para serem rentáveis. E assim fica inviabilizado o desenvolvimento econômico que implica a transferência de mão-de-obra de setores econômicos com baixo valor adicionado per capita para setores com maior conteúdo tecnológico e maiores salários.

É isso o que acontece hoje no Brasil. Com a liberalização comercial, em 1990, que automaticamente baixou a taxa de câmbio efetiva, e a liberalização cambial, em 1992, que levou à perda da sua capacidade de administrar o câmbio, o país perdeu suas defesas contra a doença holandesa e estagnou. Sua indústria vai se transformando em uma indústria "maquila", que apenas usa mão-de-obra barata e pouco qualificada, como aconteceu com a economia mexicana. Nos anos 1990, a essa perda de defesa somou-se a adoção da "política de crescimento com poupança externa", ou seja, de crescimento com déficits em conta corrente, que apreciou ainda mais o câmbio e foi duplamente desastrosa.

Para competir com sucesso na globalização, a necessária estratégia nacional de desenvolvimento deverá se basear em uma taxa de câmbio competitiva. Para isso, além de estabelecer limites rigorosos ao endividamento externo, deverá poder limitar a entrada de capitais sempre que for necessário. Não precisará limitar sua saída, porque essa é uma política à qual recorrem os países que aceitam as recomendações da ortodoxia convencional, endividam-se e ficam ameaçados de crise de balanço de pagamentos. Não basta, porém, evitar crises: a doença holandesa é compatível com equilíbrio a longo prazo da conta corrente. Só administrando a taxa de câmbio competitiva o Brasil poderá aproveitar seu potencial empresarial e tecnológico e crescer competitivamente na era global.


Ciência Hoje - 29/01/07

Serpente asiática "terceiriza" toxina de sapo

A serpente Rhabdophis tigrinus , do sudeste da Ásia, tem uma estratégia de defesa incomum: ao invés de produzir seu próprio veneno, ela recorre à toxina de sapos do gênero Bufo dos quais se alimenta. Após predar o anfíbio, a serpente armazena parte dos esteróides tóxicos produzidos por ele em glândulas de defesa situadas em sua nuca. A constatação, relatada esta semana na revista PNAS , foi feita por cientistas norte-americanos e japoneses. A equipe analisou o conteúdo das glândulas de serpentes coletadas em diferentes localidades. Aquelas capturadas em regiões nas quais os sapos eram abundantes apresentavam uma alta concentração da toxina; já as cobras capturadas em uma ilha na qual não havia sapos não tinham qualquer resquício do composto. O grupo mostrou ainda que as serpentes com altas concentrações de toxina podem transmiti-la a seus filhotes e aumentar sua chance de sobrevivência. O seqüestro de toxinas de outras espécies era conhecido em alguns insetos e gastrópodes, mas é incomum entre vertebrados.

Jornal de Brasília - 30/01/07

Ofensa à Bandeira revolta brasilienses

Raphael Bruno com agências

A comunidade brasileira nos Estados Unidos e a população brasiliense estão indignados com a atitude do apresentador de TV norte-americano Cristopher Antal, que urinou na Bandeira Brasileira, conforme matéria exibida no programa Fantástico, da Rede Globo, no último domingo.

"Isso é mais do que um incidente diplomático. É um mau presságio da intolerância de alguns norte-americanos para com os imigrantes brasileiros", observa o professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Argemiro Procópio. Ele considera que o caso do apresentador é grave e não deve ser menosprezado.

Respeito mútuo

"Me revolta muito. É uma falta de respeito. E me revolta a postura da emissora de TV também. Todo mundo apóia a liberdade de expressão, mas a liberdade de um acaba onde começa a do outro", queixa-se o músico suíço Marco Lopes, de 21 anos.

O desrespeito à bandeira do Brasil se deu quando Cristopher Antal, conhecido como “O Gambá”, arrancou uma bandeira do Brasil de um árvore, agrediu os brasileiros, jogou a bandeira no chão e, aparentemente, urinou sobre ela. A Associação Americano-Brasileira de Framingham – cidade próxima a Marlboro e Boston –, pediu que o canal parasse de exibir o programa. Mas a direção da emissora alegou que como a constituição americana protege o direito à livre expressão, o canal não pode censurar o programa.

Gambá, que também é lutador amador, tentou, em 2001, se eleger prefeito com um plataforma contra os imigrantes do Brasil.

Contradição

De acordo com o professor Argemiro Procópio, a dificuldade de alguns setores dos Estados Unidos de lidar com a questão da imigração é uma contradição histórica. "A sociedade norte-americana foi formada e constituída por imigrantes. Inclusive a riqueza americana foi resultado do trabalho de imigrantes", observa.

Argemiro diz que a imagem que os norte-americanos formaram dos brasileiros nos últimos anos contribui para a intolerância. "Os imigrantes brasileiros estão expostos ao crime. Os ilegais estão ligados a pequenas atividades criminosas. Hoje é grande o número de brasileiros em prisões norte-americanas. Em 2006, foram três aviões jumbos de brasileiros extraditados. Isso estigmatiza o brasileiro", diz.

O Ministério das Relações Exteriores informou que está ciente do ocorrido e que está pesquisando a situação, mas que pelo menos por enquanto não comentará o assunto.

Folha de São Paulo - 30/01/07

Cubanos de Miami preparam festa para morte de Fidel

Celebração, considerada mórbida por parte dos exilados, deve ser no Orange Bowl

Prefeitura de Miami planeja o evento; ditador cubano não é visto em público desde fim de julho, quando passou por cirurgia no intestino

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO

ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

A Prefeitura de Miami já organiza a festa oficial da morte do ditador cubano Fidel Castro. O evento está previsto para acontecer no Orange Bowl, o estádio de futebol americano da cidade, e no bairro de Little Havana, onde vive a maioria dos exilados do regime castrista nos EUA, tão logo morra o líder comunista.

Apesar da falta de notícias sobre o ditador, uma comissão foi montada no início de janeiro para planejar os custos, o tempo e a programação dos eventos, quais músicos e artistas participarão e definir até a estampa de camisetas com dizeres "por uma Cuba livre".

Fidel, 80, não é visto em público há quase seis meses. Ele se afastou do poder em 31 de julho de 2006, quando foi submetido a uma cirurgia no intestino e transferiu o governo interinamente para seu irmão Raúl. Desde então, apareceu apenas em fotos e imagens de TV -a mais nova delas, de outubro.

Com a falta de informação oficial sobre a saúde do ex-ditador, proliferam versões sobre o seu estado. As hipóteses mais freqüentemente citadas são as de que ele sofra de câncer e de que tenha diverticulite.

Centenas de exilados cubanos têm ido às ruas de Little Havana, na região central de Miami, para comemorar a doença Fidel. As cenas de carnaval refletem a expectativa da população de 800 mil cubano-americanos do sul da Flórida de que o regime comunista na ilha possa estar chegando ao fim depois de 48 anos.

Segundo a prefeitura, o estádio Orange Bowl foi escolhido por ter sido palco, em 1961, de um discurso do então presidente John F. Kennedy em que prometia "a liberdade em Cuba" e por ter abrigado, na década de 1980, refugiados vindos da ilha no barco Mariel.

"Ele [Fidel] representa tudo de ruim que possa ter acontecido ao povo cubano nas últimas cinco décadas. Há motivos para comemoração, independentemente do que venha a acontecer no futuro", avalia Tomás Regalado, secretário da cidade.

Morbidez

A festa, no entanto, é vista com morbidez por parte das associações de expatriados cubanos. Para a fundação Movimento Democracia, a comunidade internacional deve reprovar a comemoração, que tem apoio do governador republicano Charlie Crist. O partido obtém muito de sua força no Estado do apoio de cubano-americanos por sua abordagem sem compromissos em relação ao regime de Castro. Os eleitores latinos do Estado tiveram papel crucial na vitória do presidente George W. Bush em 2000.

Analistas prevêem um fluxo de refugiados cubanos pelos estreitos da Flórida se a ilha cair na violência. Outros cenários possíveis incluem uma fuga em massa de exilados viajando na direção oposta para encontrar parentes ou voltar para casa.

Desde agosto passado, quando o governo comunista informou a passagem de poder, a Guarda Costeira da Flórida criou uma força-tarefa para conter uma possível corrente de cubanos rumo aos EUA.

Folha de São Paulo - 30/01/07

Bush volta a advertir Irã; embaixador iraniano oferece assessoria a Bagdá

DA REDAÇÃO

O presidente George W. Bush disse ontem que os EUA "responderão com firmeza" se o governo iraniano "intensificar ações militares no Iraque".

A declaração de Bush à rádio pública dos EUA foi uma reação à entrevista concedida no domingo ao "New York Times" pelo embaixador iraniano em Bagdá, Hassan Kazemi Qumi. O embaixador disse que seu governo está disposto a oferecer treinamento, equipamento e assessores militares ao governo iraquiano, dominado pelos xiitas, a mesma facção do islamismo que é predominante no Irã.

O plano de expansão dos laços entre Irã e Iraque, revelado pelo embaixador, inclui a abertura de uma agência do banco nacional iraniano em Bagdá.

O embaixador reconheceu que dois iranianos detidos pelas forças americanas no mês passado e mais tarde libertados eram funcionários de segurança. Mas disse que eles estavam participando de discussões legítimas com o governo iraquiano. Na última sexta-feira, Bush autorizou os soldados americanos no Iraque a matarem "agentes iranianos". Neste mês, americanos detiveram outros cinco iranianos na invasão de um escritório diplomático em Erbil, no norte do Iraque.

Qumi ridicularizou as evidências de que os iranianos detidos agiam ilegalmente, que incluíam mapas de Bagdá que delineiam os bairros sunitas, xiitas e mistos. Os mapas são tão comuns que não provam nada, disse.

Com o "NYT" e agências internacionais

O Estado de São Paulo - 30/01/07

Venezuela fará avião militar com Irã

Governo de Chávez firma acordo com Teerã para desenvolver aeronave não tripulada e recuperar caças F-5

CARACAS

O governo da Venezuela anunciou ontem ter firmado um acordo de cooperação técnica com o Irã para a construção de aviões militares não tripulados e a recuperação de caças F-5 - para os quais os EUA se negam a oferecer manutenção. O anúncio foi feito pelo ministro da Defesa venezuelano, general Raúl Isaías Baduel. Os aviões não tripulados, conhecidos como “drones”, são utilizados com sucesso pelos EUA no Iraque e no Afeganistão em missões de espionagem e apoio a ofensivas por terra. “No acordo com o Irã, manejamos a idéia desse tipo de equipamento”, declarou Baduel. “Temos um avanço nos trabalhos de nossa aviação militar em relação ao projeto de um avião não tripulado.”

O ministro acrescentou que a recusa dos EUA em fornecer peças de manutenção para os F-5 da Força Aérea venezuelana obriga o governo a “buscar em países amigos uma plataforma de suporte para que as aeronaves se mantenham em nível de eficiência operativa”.

Há um ano, os EUA negaram à Espanha licença para a venda de aviões militares que utilizam componentes americanos. No fim de 2006, a Venezuela comprou 24 caças Sukhoi-30 da Rússia, além de 53 helicópteros artilhados MI-24 e 100 mil fuzis Kalashnikov.

Baduel também afirmou que a Lei Habilitante - pela qual a Assembléia Nacional dará a Chávez poderes plenos para governar por decreto - regulamentará a “participação ativa dos militares na missão de ajudar no desenvolvimento nacional”. Vários planos de governo de Chávez são organizados em missões de características militares, como as de alfabetização e acesso a serviços de saúde de parte da população.

Também ontem, o presidente mexicano, Felipe Calderón, respondeu às acusações feitas por Chávez - que o qualificou de “seguidor de seu antecessor, o cãozinho do império Vicente Fox”. “É indispensável que os líderes latino-americanos possam expressar-se de forma madura e sem desqualificações pessoais”, disse Calderón.

AP, AFP E EFE