"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, junho 01, 2010

A crise longe do fim

Blog do Luis Nassif - 01/06/2010 - 07:13


Por webster farias

Nassif,

Segue matéria do Paulo Rabello de Castro sobre o novo capitalismo burocrático. Merece uma reflexão.

Bolhas, de A a W: o novo Capitalismo Burocrático

Publicado em 31-Mai-2010
Paulo Rabello de Castro

De Atenas a Wall Street, o mundo capitalista passou a ser regido por um novo paradigma, o do manejo burocrático das bolhas financeiras. Essas bolhas vão pipocando à medida em que novos passivos a descoberto são identificados pelos apostadores do mercado. A maneira como os Estados Unidos manejaram o episódio inicial da crise, ainda na virada de 2007 para 2008, passou a determinar o comportamento de outros países, cujas autoridades monetárias e fiscais estão seguindo pelo mesmo caminho de tentar neutralizar as apostas que se opõem à política de “recessão sem dor” adotada pelos dirigentes políticos dos EUA.

A política de “recessão sem dor” se caracteriza pela conjugação de um pacote de estímulo fiscal sem paralelo na história econômica daquele país, que vem provocando um deficit da ordem de 10% do PIB americano por dois anos consecutivos, complementado por um aumento da massa monetária (via aumento substancial das reservas bancárias) em montante superior a mais um outro US$ 1 trilhão.

Tais estímulos gigantescos de fato evitaram a deflação de preços e mantiveram o desemprego aberto em “apenas” 10% da força de trabalho ativa. Em compensação, a política atualmente praticada de inundação monetária e deficit fiscal cavalar jogará a dívida pública federal americana, em poder do mercado, para perto de 80% do PIB, para um número da ordem de US$15 trilhões até 2020, segundo o próprio Escritório do Orçamento no Congresso – o “Congressional Budget Office”, um órgão neutro dentro da burocracia parlamentar deles – dobrando, assim, o nivel de exposição do governo americano a aumentos no custo de rolagem desse enorme passivo em dívida pública.

Por outro lado, o que tem garantido as emissões monetárias do Federal Reserve são os ativos de qualidade duvidosa que as agências federais (como Fannie Mae e Freddie Mac, as estatais do ramo hipotecário) e próprio mercado não conseguiram carregar durante o auge da crise em sua fase inicial. O Federal Reserve foi obrigado a comprar os “micos” que vinham para suas mãos em cada intervenção para “não deixar quebrar” esta ou aquela instituição do mercado, entre grandes bancos, seguradoras, como a AIG, companhias hipotecárias, montadoras de automóveis, como a GM, financiadoras de crédito etc.

É importante relembrar o modo de intervenção financeira dos dirigentes americanos, ao inaugurar a era dos negócios considerados “grandes demais para quebrar”: tal lembrança serve para entender porque os europeus também montaram uma operação gigante de resgate financeiro do sistema bancário europeu, que se estende, indiretamente, para a ajuda a empresas não-financeiras, ligadas aos bancos pelo cordão umbilical das dívidas corporativas acumuladas como ativos nas carteiras desses bancos. O princípio é o mesmo: não deixar os grandes quebrarem, sob nenhuma hipótese. Muito menos, deixar transparecer o calote de um país, seja ele a Grécia ou qualquer outro, entre os convencionalmente lembrados pela mídia.

Há, de fato, um entrelaçamento de compromissos financeiros. Se a Grécia deve muito, deve todo esse tanto aos bancos da região, que tomaram os papéis gregos, hoje desvalorizados na carteira de instituições bancárias que não aguentam muito desaforo de maus clientes. O capital total dos bancos é muito baixo – na média não passa de 5% do total dos ativos que os bancos mantêm em carteira.

Assim, bastaria uma perda nessa carteira da ordem de 5% do total exposto, para corroer por completo os 100% do capital do sistema bancário europeu, algo impensável para os já traumatizados alemães, que são os fiadores morais e informais do Euro, a moeda da nova federação de países, agora fragilizada por uma onda de desconfiança.

Não há novidade, portanto, no pacote europeu anunciado recentemente. É a reprodução da fórmula americana inaugurada em 2007 de despejar uma tonelada de dinheiro sem lastro nos mercados, pela via das reservas dos bancos, refinanciando grandes posições consideradas vulneráveis, de modo a afastar a própria noção de “crise”, palavra expurgada do dicionário político mundial.

E daí? – perguntaria um leitor ainda intrigado por essa nova abordagem onde políticos aflitos e burocratas da área financeira estão dispostos a cometer qualquer loucura fiscal para fazer rolar as posições vulneráveis do mercado. Terão eles finalmente descoberto o Santo Graal da resolução dos soluços do Capitalismo, quando este ameaça regurgitar o excesso de crédito tomado durante anos a fio? Por um lado, adiam-se os enfrentamentos espinhosos, que implicariam em deixar os mais quebrados quebrarem, os passivos impagáveis ser explicitados e os preços das mercadorias refletirem a real dificuldade do momento. No capitalismo burocrático, quebrados não quebram, mas vagam como meios zumbis. Passivos são rolados a perder de vista. E os preços das commodities, ao invés de cair, sobem e permanecem altos como se a economia mundial estivesse nos píncaros do aquecimento. Por outro lado, os passivos vão se acumulando, enquanto o estado crítico da economia mundial vai passando para um estágio hiper-crítico, de dantesco desequilibrio potencial.

Lições parciais e preliminares desta crise. Primeiro, longe de haver acabado, como tanto se noticiou de meados de 2009 para cá, a crise apenas sai do âmbito americano para alcançar um nivel realmente mundial. Segundo, o Brasil está curtindo o final da fase eufórica da saída de sua módica quota-parte no problema, e o faz através do crédito, de modo até inteligente, já que espaço havia para tal expediente na politica econômica local. Mas este espaço é relativamente curto e só respeitará, provavelmente, o resto de mandato do presidente Lula. Terceiro, por seus aspectos financeiros intrincados e pela indisposição de politicos, mundo afora, de atacar de frente os desequilibrios cambiais e fiscais existentes no planeta, a atual crise demandará muito mais tempo para virar a curva da “pioria” e, de fato, nos carregar para um momento de efetiva melhoria no plano mundial.

Paulo Rabello de Castro é economista, vice-presidente do Instituto Atlântico chairman da SR Rating e sócio – diretor da RC Consultores. Contato: paulo@rcconsultores.com.br

Por uma redução abrupta da jornada de trabalho. Entrevista especial com José Dari Krein

Instituto Humanitas Unisinos - 01 jun 10



Em entrevista à IHU On-Line, realizada por telefone, José Dari Krein, analisa a luta em prol da redução da jornada de trabalho e defendeu que o tempo no trabalho deve ser diminuído de forma abrupta “porque, com uma redução progressiva, as empresas vão fazer um processo de adaptação e, dificilmente, vão aumentar o número de contratações”.

Ele também avaliou a posição do governo frente a essa problemática e tratou de questões como a utilização do tempo livre pelo trabalhador e as doenças geradas pela intensificação do trabalho. “Estamos assistindo, atualmente, um processo de intensificação de plano de metas, de cobranças excessivas sobre o trabalhador, da exigência por ampliação das qualificações profissionais, ou seja, há uma pressão que gera doenças do trabalho próprias do século XXI”, apontou.

Graduado em filosofia pela PUC-PR, José Dari Krein tem mestrado e doutorado em Economia Social e do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas, onde atualmente é professor no Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Para o senhor, a que se deve a resistência dos empresários em aceitar a redução da jornada de trabalho semanal de 44 para 40 horas semanais? São razões econômicas ou ideológicas?

José Dari Krein – São as duas coisas. O capital sempre busca reduzir o custo da força de trabalho ao mínimo possível, além de manter o controle sobre as condições de uso, contratação e remuneração do trabalho. O empresariado, hoje, tem o poder de legitimar a forma como ele mesmo utiliza o trabalho, e sabe que a redução da jornada de trabalho

tem seu lado positivo, que é o aumento da produtividade, mas é contra porque quer utilizar o trabalhador com o maior tempo e menos custo possível.

"O empresariado, hoje, tem o poder de legitimar a forma como ele mesmo utiliza o trabalho"



Do ponto de vista histórico, tivemos um pequeno período em que se conseguiu o “relativo emprego”. Isso se deu, primeiro, pela introdução de novas atividades para atender às necessidades da sociedade, principalmente nas áreas da saúde e da educação, que são os setores que mais empregam. Ou seja, criou-se uma ocupação em relação a atividades que fazem sentido ao bem-estar da sociedade. Outra forma foi a redução da jornada de trabalho que é importante, principalmente, hoje, para a criação de emprego, mas também é uma medida indispensável para criar um ambiente de trabalho mais saudável.

Estamos assistindo, atualmente, um processo de intensificação de plano de metas, de cobranças excessivas sobre o trabalhador, da exigência por ampliação das qualificações profissionais, ou seja, há um processo de pressão que gera doenças do trabalho próprias do século XXI. Essas doenças estão inseridas num contexto em que crescem a insegurança e a incerteza das pessoas no trabalho. E mais, soma-se a isso uma situação onde as pessoas são submetidas a uma superexploração do trabalho. Portanto, a redução da jornada é também uma questão de saúde pública.

IHU On-Line – As centrais sindicais estariam negociando um escalonamento na redução. Primeiro viria um acordo para reduzir de 44 para 42 e depois para 40 horas semanais. Isso já é um avanço?

José Dari Krein – Qualquer redução do tempo de trabalho é um avanço. Mas o melhor seria se a redução fosse feita de maneira abrupta, porque, com uma redução progressiva, as empresas vão fazer um processo de adaptação e, dificilmente, vão aumentar o número de contratações. Reduzir o tempo de trabalho é sempre algo bem-vindo porque, em função da terceira revolução industrial, tivemos ganhos de produtividade extremamente elevados, mas que não foram redistribuídos para a sociedade. Por isso, defendo que a redução deveria ser feita de forma abrupta.

IHU On-Line – Qual é a média da jornada de trabalho semanal em outros países?

José Dari Krein – Na Europa, houve uma redução de jornada de trabalho do final do século XIX até a década de 1970 do século XX. Depois dos anos 1970, sob a hegemonia do neoliberalismo, houve uma a introdução de novas formas de gestão do trabalho que fez com que as pessoas ficassem mais tempo à disposição das empresas. Hoje, em alguns países, a jornada de trabalho formal é até maior, mas a real é negociada. Tivemos um movimento no período recente em que houve um retardamento na entrada das pessoas no mercado de trabalho, mas, por outro lado, houve mudanças na previdência social, elevando a idade mínima para a pessoa ter acesso à aposentadoria.

Assim, aconteceu um movimento que foi importante para a estruturação da sociedade, que foi retardar a entrada do jovem no mercado de trabalho, pois não tem necessidade alguma de se começar a trabalhar aos 16 anos. Mas ainda é preciso avançar de uma forma sistemática, no sentido de reduzir o tempo de trabalho na vida inteira, junto com a redução do trabalho semanal.

Alguns países já avançaram, pois, além da redução semanal, fizeram também a redução anual, que inclui a questão das férias. Assim, é possível ter um sistema mais civilizado, ampliando o tempo de descanso no ano, reduzindo a jornada semanal e incluindo mecanismos onde o tempo de trabalho na vida seja menor.

IHU On-Line – E como o senhor vê a posição do governo Lula nesse embate?

José Dari Krein – O governo foi extremamente tímido no que diz respeito à viabilização da proposta da redução da jornada de trabalho. Em 2002, o governo Lula só tinha duas propostas: A criação do Fórum Nacional do Trabalho, que não redundou na reforma sindical o que era esperado, e a redução de jornada

"O governo foi extremamente tímido no que diz respeito à viabilização da proposta da redução da jornada de trabalho"

para 40 horas semanais. Estamos no final do segundo mandato, e essas questões ainda estão pendentes. E o governo vai continuar assim se o movimento sindical não mostrar capacidade de articulação e mobilização em defesa da redução da jornada de trabalho. É fundamental inclusive fazer com que a sociedade se envolva nessa questão.

O governo também foi tímido quando foi colocada em discussão a Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). E, agora, durante o período eleitoral, quando ocorrem as aproximações com o setor empresarial, essa timidez se acentua ainda mais.

IHU On-Line – Desde a pré-crise, a jornada de trabalho tem se ampliado, chegando até a 60 horas semanais. Como o senhor vê a questão do valor da hora extra?

José Dari Krein – No Brasil, existe um abuso da utilização da hora extra. Apesar de haver muitos mecanismos de flexibilização, os números de horas extras são absurdos. Isso mostra que, de um lado, houve uma retomada da atividade econômica, e os setores mais qualificados começaram a pressionar os trabalhadores para que eles aceitassem fazer hora extra. Em 2005, uma pesquisa do Dieese mostrou que

"A maioria dos trabalhadores só faz hora extra porque se sente pressionado pela empresa"

a maioria dos trabalhadores só faz hora extra porque se sente pressionado pela empresa, e parte deles aceita esse jogo porque é uma forma de complementar os salários que são muito baixos. Um dos problemas é que muitos trabalhadores preferem trabalhar mais e ganhar mais e participar de forma mais intensa desse mercado de consumo, porque é isso que dá uma certa identidade e perspectiva de inserção na sociedade.

IHU On-Line – Se essas horas fossem transformadas em vagas, como isso mudaria a realidade do setor industrial?

José Dari Krein – A diminuição da hora extra, num ambiente em pleno crescimento, teria um efeito direto na criação de novos postos de trabalho. Embora a hora extra tenha um custo relevante, ainda assim o setor industrial prefere que se faça a hora extra do que se contrate outro trabalhador. Por isso, ela deve ser proibida.

IHU On-Line – Como o senhor vê a utilização do tempo livre pelo trabalhador brasileiro? Ela está associada ao rendimento ou independe disso?

José Dari Krein – Nós não temos estudos mais sistemáticos sobre como o trabalhador utiliza o tempo livre. Acho que numa sociedade como a nossa, em que a educação não adquiriu a importância que deveria, é fundamental fazer um processo de reeducação para que as pessoas deem valor para outras dimensões da vida que não sejam as mesmas do mercado, como o lazer, a cultura e a integração.

O neoliberalismo está levando a União Europeia ao fracasso, afirma Touraine

Instituto Humanitas Unisinos - 01 jun 10

“O modelo ocidental está sendo sacrificado nas mãos de especuladores vorazes e bancos super-poderosos. É imprescindível devolver ao trabalho a parte do produto social que lhe foi retirado pelo capital e restabelecer o vínculo saudável entre a função financeira e as funções de produção”. A opinião é do sociólogo Alain Touraine (foto) em artigo publicado no Clarín, 31-05-2010. A tradução é do Cepat.

Segundo Touraine, “a nova etapa de construção europeia tropeça apenas em um obstáculo: o neoliberalismo, cujos centros estiveram e estão nos Estados Unidos e no Reino Unido, países que tiraram da Europa toda autoridade e a transferiram para os bancos”.

Eis o artigo.

As recentes críticas de Obama à União Europeia são compartilhadas por um grande número de europeus. A participação da União Europeia nas decisões que impediram que a crise atual degenerasse em catástrofe foi quase invisível, ainda que tenham tomado iniciativa, a título individual, países como Reino Unido, Alemanha e França. Os europeus demonstraram que não queriam desempenhar um papel ativo na política mundial ao escolher como presidente e como ministra de Assuntos Exteriores da UE personalidades pouco conhecidas e, no que diz respeito à segunda, pouco preparada para assumir esse papel.

Tudo se desenrolou como se os europeus tivessem decidido deixar que os EUA continuassem se ocupando dos assuntos mundiais, enquanto eles se dedicavam à tarefa quase infinita de terminar sua integração, agora mediante a incorporação dos países balcânicos, sem que se quer examinar seriamente os sólidos argumentos apresentados por muitos favoráveis a entrada da Turquia, país que, sentindo-se indesejável na Europa, esforça-se para se voltar às sociedades islâmicas.

Se considerarmos que o frágil crescimento previsto para a Europa num futuro provavelmente prolongado irá minguar sua presença no mundo, no qual numerosos países caminham a passos largos, cabe perguntar se a Europa não entrou num declínio que será doloroso a partir da geração de nossos netos ou de nossos bisnetos. Um objetivo que é imprescindível alcançar é adotar, na economia e no social, uma política que rompa com o neoliberalismo que nos têm arrastado para a grave crise que vivemos.

No terreno internacional, o mais urgente é escolher um plano de ação comum com países do mundo islâmico, mas que não sejam árabes, porque estes estiveram colonizados durante muito tempo e seus Estados são frágeis e quase sempre autoritários. Se a Europa quer demonstrar que pode atuar no sentido oposto ao que escolheu os Estados Unidos quando atacou o Iraque, tem que acolher a Turquia e escolher uma política de reorientação do mundo muçulmano e eliminar as posições carregadas de ódio que conduziram ao terrorismo.

Muitos pensam, assim como eu , que a teocracia iraniana e sua frustrada política podem ser derrotadas por uma oposição interna que se veria reforçada se os ocidentais se mostrassem dispostos a apoiá-la. Uma coalizão europeia, turca e iraniana nesse país, uma vez que a oposição interna houvesse conseguido o seu objetivo, poderia por fim ao enfrentamento atual entre o mundo islâmico e o Ocidente.

Cabe pensar que o êxito dessa nova política permitirá o reconhecimento mútuo entre um Estado palestino e o Estado de Israel, sem o qual, o retorno da paz não é possível. A um nível ainda mais vagamente definido, é necessário que a Europa assuma a direção de um combate contra os regimes autoritários que têm condenado grande parte de sua população à violência interna, ao autoritarismo e à guerra. A Europa tem se demonstrado demasiada débil para ser considerada candidata a essa hegemonia mundial que ficou nas mãos dos Estados Unidos.

No que se refere às realidades econômicas e sociais, é preciso restabelecer prioridades que possam levar a uma defesa mundial contra os ataques dos especuladores. Em todo o mundo se experimenta a necessidade de devolver ao trabalho a parte do produto social que foi retirada pelo capital e, mais ainda, de restabelecer o vínculo entre a função financeira e as funções de produção, impedindo ao mundo financeiro lançar-se de novo à busca exclusiva do seu máximo benefício e afastando-se do seu papel de investimento e crédito.

Pode-se pensar que o mundo europeu está naturalmente orientado para tais objetivos. Não construiu um ambicioso sistema de seguridade social? Não sonha com uma reconciliação e um co-desenvolvimento com os países que colonizou? Não mostrou um duplo apego à existência de Israel e a um Estado palestino? De onde vem, pois, este fracasso em todos os aspectos da Europa, sua perda de crescimento, o desaparecimento de seu papel mundial e sua impotência para apoiar as democracias?

Nós podemos buscar as causas nas “debilidades” da Europa. Mas, em vez de ser a sua debilidade material o que acarreta a sua perda de confiança em si mesma e em seu futuro, é essa perda de confiança que leva a impotência da Europa e inclusive a sua reação ao se propor novos modelos e ao mundo.

Essa impotência apenas explica-se pela diversidade e inclusive as contradições dos interesses nacionais na Europa e a construção desta. Por acaso sua construção não se baseou, antes de mais nada, na vontade de pôr fim as guerras internas, suicidas e destrutivas de uma Europa presa aos regimes militaristas e totalitários? Por isso, a Europa consciente de ser a autora de sua própria desgraça, e querendo atuar mais sobre si mesma do que sobre o mundo, encerrou os interesses nacionais em regras econômicas, jurídicas e inclusive políticas comuns. A obra empreendida teve êxito e a queda do império soviético permitiu aos países da Europa central e oriental restabelecer os seus vínculos históricos com a Europa do oeste.

Mas agora, quase cumprida essa grande tarefa, a Europa deve se voltar para o mundo e recuperar a influência que seus próprios erros a fizeram perder. Esta nova etapa de construção européia tropeça apenas em um obstáculo: o neoliberalismo, cujos centros estiveram e estão nos Estados Unidos e no Reino Unido. Países que lhe tiraram toda autoridade e a transferiram para os bancos, cujo poder sobre as empresas aumenta.

Os Estado Unidos também estão submetidos a esse capitalismo financeiro, mas tem unidade política e uma forte confiança em si mesmos, o que faz dos europeus – e quem sabe também do Japão – as vítimas mais graves da crise atual.

Como podem os europeus, que inventaram o espírito das Luzes e a crença na razão e nos direitos humanos, aceitar passivamente aquilo que corre o risco de se transformar no fim do modelo ocidental, ou seja, da associação do progresso científico e do técnico, a destruição dos privilégios e o reconhecimento dos direitos fundamentais de cada um?

Governo já pode começar obras de Angra 3

Instituto Humanitas Unisinos - 01 jun 10

A construção da Usina de Angra 3, projeto engavetado há 35 anos, vai começar a sair do papel ainda no governo Lula. Ontem, a Eletronuclear obteve da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) a licença de construção, que permite o início das obras do prédio do reator. A previsão para a operação da usina, porém, é entre 2015 e início de 2016. "Esse é o marco zero do projeto", afirmou o presidente da CNEN, Odair Dias Gonçalves.

A reportagem é de Mônica Ciarelli e Wellington Bahnemann e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-06-2010.

O projeto de Angra 3 foi elaborado durante a assinatura do acordo nuclear Brasil-Alemanha. Na época, o governo brasileiro comprou equipamentos para construir as usinas de Angra 2 e Angra 3. Os materiais, que chegaram ao Brasil ainda na década de 70, continuam armazenados. Em 1984, a Eletronuclear chegou a retomar o projeto de Angra 3, mas as obras de preparação do terreno foram interrompidas dois anos depois.

Para Gonçalves, o fato de as duas usinas terem projetos semelhantes acelerou o trabalho de licenciamento. Além disso, permitiu redução significativa nos custos, que ficaram em torno de 20% do valor do licenciamento de nova usina nuclear, que gira em torno de US$ 100 milhões.

A licença foi liberada pela CNEN com 30 condicionantes. A maior parte são adaptações que permitam ao projeto de Angra 3 segurança semelhante ou maior do que a de Angra 2. Um exemplo é a exigência de maior detalhamento sobre sísmica, em razão do recente abalo no Chile, sentido no litoral de São Paulo. O superintendente de Gerenciamento de Empreendimentos da Eletronuclear, Luiz Manuel Messias, espera iniciar até o fim desta semana a concretagem do prédio onde será instalado o reator.

Segundo Messias, à medida que as exigências forem cumpridas pela Eletronuclear, a CNEN concede outras autorizações para a execução das obras da usina, que terá 1,4 mil MW de potência. "A partir de agora, não existe nenhum impedimento legal às obras do projeto", comemorou.

A Eletronuclear previa o início da construção de Angra 3 em 2009, mas a dificuldade de obter as licenças alterou o cronograma. Além da demora da autorização da CNEN, a estatal enfrentou problemas para conseguir a licença do uso do solo pela prefeitura de Angra dos Reis, onde está localizado o complexo nuclear.

Outro ponto que provocou atraso foi a discussão com o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o valor do contrato original, firmado com a Andrade Gutierrez em 1983. O acordo com o TCU, que reduziu em R$ 120 milhões o valor do contrato, para R$ 1,3 bilhão, foi concluído em novembro de 2009.

Licenças

A licença de construção não é a última que a Eletronuclear precisava para tocar o projeto. A usina ainda precisa da licença de uso de material radioativo, da licença prévia e da licença permanente. "Essas licenças serão obtidas entre o fim de 2014 e 2015", disse Messias. A previsão de investimentos em Angra 3 gira em torno de R$ 9 bilhões. Para este ano, a expectativa é gastar R$ 800 milhões no projeto.

Para o presidente do CNEN, a licença de Angra 3 é um marco na história do programa nuclear brasileiro. Para Gonçalves, independentemente do resultado das eleições, o programa é "irreversível".

Israel ataca frota que levava ajuda humanitária a Gaza

Site do Azenha - 31 de maio de 2010 às 9:28

Israel ataca barcos que tentavam furar bloqueio a Gaza; ataque repercute no mundo

do UOL

Clique aqui para ver um vídeo divulgado por uma emissora da Turquia

A Marinha de Israel atacou nesta segunda-feira (31) uma frota de seis embarcações com ativistas pró-palestinos que tentavam furar o bloqueio à faixa de Gaza e entregar suprimentos à região.

Segundo a TV israelense, no mínimo 19 pessoas teriam morrido na ação. Em entrevista à rádio do Exército, o ministro da Indústria e Comércio de Israel, Binyamin Ben-Eliezer, disse lamentar as mortes.

A exata localização das embarcações é incerta. Israel teria advertido as embarcações para que não invadissem suas águas territoriais.

Mas, segundo os ativistas, os barcos estavam em águas internacionais, a mais de 60 quilômetros da costa.

Os barcos, organizados pela ONG Free Gaza, levavam 750 ativistas e cerca de 10 mil toneladas de suprimentos para a faixa de Gaza.

Imagens da TV turca feitas a bordo do barco turco que liderava a frota mostram soldados israelenses lutando para controlar os passageiros.

As imagens mostram algumas pessoas, aparentemente feridas, deitadas no chão. O som de tiros pode ser ouvido.

A TV árabe Al-Jazeera relatou, da mesma embarcação, que as forças da Marinha israelense haviam disparado e abordado o barco, ferindo o capitão.

A transmissão das imagens pela Al-Jazeera foi encerrada com uma voz gritando em hebraico: “Todo mundo cale a boca!”.

A frota de seis embarcações havia deixado as águas internacionais próximo à costa do Chipre no domingo (30) e pretendia chegar a Gaza nesta segunda-feira (31)

Israel havia dito que bloquearia a passagem dos barcos e classificou a campanha de “uma provocação com o intuito de deslegitimar Israel”.

Repercussão

As mortes dos ativistas envolvidos na expedição de ajuda aos palestinos causou grande repercussão na comunidade internacional. O Ministério de Assuntos Exteriores da Turquia reagiu duramente ao ataque e, em comunicado, afirma que o governo israelense terá que enfrentar as consequências por seu comportamento.

A Turquia também estabeleceu um centro de crise para acompanhar o desenvolvimento dos eventos.

O embaixador israelense em Ancara, Gaby Levy, foi convocado ao citado Ministério para dar explicações e receber o protesto do governo turco.

O comunicado diz que o Exército israelense usou a força contra um grupo de ajuda humanitária, que inclui “idosos, mulheres e crianças” que viajam nos navios, o que considerou “inaceitável”.

“Tomando como alvo civis inocentes, Israel mostrou mais uma vez que não se preocupa com a vida humana, nem com as iniciativas pacíficas. Condenamos fortemente esta prática desumana de Israel”, acrescentou a nota.

“Este incidente, que aconteceu em águas internacionais abusando da lei internacional, terá consequências impossíveis de compensar”, avisou o Ministério turco.

“Não importa qual seja a razão, esta ação contra civis que atuam com propósito humanitário é impossível de aceitar. Israel terá que enfrentar as consequências de seu comportamento e da violação das leis internacionais”, conclui o comunicado.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, que se encontra no Chile cancelou sua visita à América Latina e anunciou que fará declarações nas próximas horas.

O Ministério de Assuntos Exteriores da Grécia iniciou um mecanismo de gestão de emergência com um telefone à disposição dos familiares dos gregos que estão na “Frota da Liberdade”, pois três dos navios que a compõem procedem deste país.

Yanis Maistros, porta-voz em Atenas da seção grega da iniciativa, declarou que “os cinco navios foram sequestrados”; e que “receberam disparos a partir de lanchas e helicópteros israelenses quando estavam navegando em águas internacionais, próximas ao litoral israelense”.

Assim como os gregos, a comunidade europeia também reagiu ao incidente. A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, pediu hoje às autoridades israelenses uma “investigação completa” sobre o ataque à “Frota da Liberdade”. A diplomata também destacou por meio de seu porta-voz que a UE continua seriamente preocupada com a situação humanitária em Gaza e destacou que o bloqueio é “inaceitável e politicamente contraproducente”.

Segundo Ashton, a comunidade europeia exige a “abertura imediata, incondicional e permanente” das vias de acesso a Gaza para permitir a chegada de ajuda humanitária, bens comerciais e pessoas.

ANP

O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, decretou três dias de luto nos territórios palestinos devido ao ataque israelense à “Frota da Liberdade”, que se dirigia para a faixa de Gaza, no qual teriam morrido 14 ativistas.

Em comunicado emitido da Cisjordânia, por meio da agência oficial palestina “Wafa”, Abbas não anunciou, no entanto, uma interrupção do diálogo indireto de paz que mantém com Israel.

“O que Israel cometeu contra os ativistas da ‘Frota da Liberdade’ é um massacre”, disse Abbas.

Seu porta-voz, Nabil Abu Rudeina, qualificou a ação de “crime contra a humanidade, já que foram atacados ativistas que não estavam armados e tentando romper o bloqueio sobre Gaza fornecendo ajuda”.

“A agressão israelense terá perigosas consequências na região e no mundo”, advertiu Abu Rudeina.

Por sua vez, o primeiro-ministro palestino, Salam Fayyad, leu diante das câmaras um comunicado no qual assegura que “nada pode justificar” o “crime” cometido hoje por Israel.

“Esse crime reflete mais uma vez a falta de respeito de Israel pelas vidas de civis inocentes e pelo direito internacional”, acrescentou.

Um dos principais assessores de Abbas, o chefe negociador palestino Saeb Erekat, qualificou o ocorrido de “crime de guerra” que “confirma que Israel age como um Estado acima da lei”. Ele pediu uma resposta “rápida e apropriada” da comunidade internacional.

“Eram embarcações civis, que levavam civis e bens civis – remédios, cadeiras de rodas, comida, materiais de construção – para os 1,5 milhão de palestinos fechados por Israel. Muitos pagaram com suas vidas. O que Israel faz em Gaza é horrível, nenhum ser humano esclarecido e decente pode dizer algo diferente”, apontou Erekat.

Por sua vez, o chefe de governo em Gaza do movimento islâmico Hamas, Ismail Haniyeh, qualificou o ataque como “brutal” e convocou um Dia da Ira, ou seja, que os palestinos tomem as ruas em protesto pelas mortes.

Ele pediu à “comunidade internacional, principalmente as Nações Unidas, que ajam o mais rápido possível para proteger os navios e os ativistas e pôr fim ao bloqueio” que mantém Israel sobre Gaza há anos com a cooperação do Egito.

Além disso, pediu a Abbas que suspenda “imediatamente” o diálogo entre israelenses e palestinos com mediação dos Estados Unidos.

Representantes da comunidade palestina com cidadania israelense convocaram para amanhã uma manifestação geral.

Protesto

A ação do governo de Israel também foi alvo de protesto na Turquia e centenas de manifestantes turcos se concentraram nesta manhã em frente das delegações diplomáticas de Israel para protestar contra o ataque israelense.

Desde o começo da manhã, várias centenas de pessoas se concentraram em frente ao consulado israelense em Istambul e tentaram entrar nele.

A polícia bloqueou os manifestantes, cujo número aumentava com a passagem das horas. Outros acamparam em frente ao consulado, que fica na região de escritórios de Levent, lendo versículos do Corão e gritando palavras de ordem contra o ataque de Israel.

Em Ancara, um grupo de manifestantes enfurecidos se concentrou em frente à residência do embaixador israelense, Gaby Levi, do qual se espera que vá ao Ministério de Exteriores da Turquia, pois foi chamado para consultas.

Histórico

Israel decretou um bloqueio quase total à entrada de mercadorias na faixa de Gaza desde que o grupo islâmico Hamas tomou à força o controle da região, em junho de 2007.

O Hamas é acusado pelos disparos de milhares de mísseis contra o território israelense na última década.

Israel diz que permite a entrada de 15 mil toneladas de suprimentos de ajuda humanitária a Gaza a cada semana. Mas a Organização das Nações Unidas diz que isso é menos de um quarto do necessário.

Não há uma só linha sobre a posição americana que é o principal aliado do Governo de Israel. Quem pode ter a bomba no Oriente Médio? Irã eu sei que não é. Acrescentei o vídeo abaixo com imagens do ataque.