"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, outubro 16, 2010

Viva a Democracia

O segundo turno em Brasília, de acordo com pesquisa do Ibope mostra o candidato Agnelo Queiroz (PT) na frente pela disputa do governo do Distrito Federal com 53% das intenções de voto. A candidata Weslian Roriz (PSC), mulher do ex-governador Joaquim Roriz (PSC), aparece 35 %. Mas, alguém duvida que isso possa mudar? Se fosse algo tão irreal a candidata Weslian Roriz teria ido para o segundo turno?
E onde fica o Tiririca?Ainda caçam o coitado,mas, é justo, afinal de contas ele não tem apadrinhamento politico na democracia.


sexta-feira, outubro 15, 2010

Eleições

Como não sou analista político, o que escrevo se resume a comentários pessoais. Mas, dos resultados da eleição recente, dois me surpreenderam. Uma é a derrota de Tasso Jereissati no Ceará e a outra a vitória de Tarso Genro no Rio Grande do Sul.
Com relação à primeira, até agora não consigo entender o que aconteceu. Cacique antigo da política cearense que dominava com maestria o estado, tendo promovido a eleição de diversos companheiros do partido ou não, Tasso não conseguiu repetir a façanha de se perpetuar no poder. Minha dúvida é se a derrota vai se refletir sobre os seus apadrinhado políticos. Cid Gomes foi reeleito, talvez seja um reflexo de que sua perda de poder não é assim tão grande. Além de que outro apadrinhado político que é Ciro Gomes, agora está novamente na linha de frente pró-Dilma (falarei sobre isso um pouco mais).
Agora a vitória esmagadora de Tarso Genro, me surpreendeu tanto quanto a derrota de Tarso. Nesse me arrisco a débitar de sua vitória o sentimento anti-Ieda que existia no estado. Basta lembrar que nas eleições passadas Ieda foi eleita de forma não intencional através do voto anti-PT. Espero que o partido não acredite que a vitória de Tarso tenha sido por mérito.
Partindo para a questão presidencial. Temos nos avizinhando o segundo turno. A tão famosa vantagem de Dilma, já não é tão segura. Lembro-me de Einstein quando disse que só existiam duas coisas infinitas, o universo e a estupidez humana. No caso a segunda me lembra o PT. Não acredito que depois de fazer diversas idiotices seguidas (desde a corrida presidencial contra Collor) que o partido não tenha constituido uma linha de ação mínima que seja, que possa orientar seus candidatos a manter suas vantagens eleitorais.
Como já havia falado aqui antes, o jogo de cena da saída de Ciro Gomes da disputa eleitoral traria mais desvantagens para Dilma do que para Serra. E agora estamos correndo o risco pelas inépcias do partido de ter como presidente José Serra. 
Até quando viveremos da sorte? Porque para mim, depois de tantas tentativas, a eleição de Lula foi pura sorte. Sorte de termos um governo que não soube distribuir a renda, sorte da conjuntura econômica ter desfavorecido o governo anterior e ele não ter sabido responder a altura, sorte do povo ter se cansado das falácias de Fernando Henrique.
Então, por favor, PT, acorde, aprenda a fazer política e nos livre de mais quatro anos de PSDB.

Reserva de Vagas

Existem temas que me atormentam, esse é um deles. Estava navegando na net em busca de uma discussão que relacionasse sistema de cotas e segurança pública. De repente encontrei esse artigo de Rildon Aurelino Evaristo Damaceno, que demonstrando total desconhecimento do que critica, escreve a asneira de considerar o sistema de cotas militares um privilégio de casta, pois " os militares ou seus filhos e filhas nunca foram discriminados ou perseguidos ao longo da história pátria, e não se enquadram com algumas exceções no conceito de carentes", ipsis literis.
Como já  havia publicado aqui antes, o primeiro Colégio Militar que foi o do Rio de Janeiro, surgiu para abrigar órfãos de militares mortos durante a Guerra do Paraguai em virtude da insensibilidade dos governos de então, sempre parcimoniosos, como os de todas as épocas, com relação aos pleitos e as necessidades da classe militar.
A criação dos demais Colégios foi uma forma de superar os inúmeros inconvenientes provocados pelas sucessivas transferências de oficiais e graduados ao longo de suas carreiras.
Por último e não menos importante, convém registrar que todos os integrantes dos Corpos diretivos, docentes, auxiliares de ensino, monitores, pertencem aos quadros do Exército (oficiais e graduados) e as despesas com sua manutenção oriundas do reduzido orçamento anual de verbas, historicamente alocadas ao Exército Brasileiro.
Gostaria de saber se o senhor Rildon Aurelino Evaristo Damaceno, pensaria da mesma forma se tivesse que ser transferido de três em três anos, podendo se alocado em áreas como São Gabriel da Cachoeira (entre tantos iguais) que apresentam extrema carência do sistema educacional e após sucessivas transferências viesse a se fixar (temporariamente) em uma cidade que tivesse um "Colégio Judicial". Se ao sentitr na pele tal situação ele não adoraria poder por seus filhos dentro de uma instituição que garantiria um ensino de qualidade e uma chance de ingresso no ensino superior.
Se o objetivo do senhor Rildon era criticar apenas os colégios militares ligados às polícias militares estaduais, deveria pensar que as praças (soldados, cabos e sargentos) estão bem longe de ter salários equivalentes de classe média (talvez o único lugar em que se aproxime disso seja Brasília, mas o custo de moradia local elimina essa vantagem). E não sei se os oficiais subalternos (tenentes) tem salário que possa ser considerado classe média.
Como já disse aqui várias vezes, criticar o outro é fácil, principalmente quando se tem duas férias ao ano, salários elevados e reajustados por canetadas do próprio poder e a facilidade da estabilidade tanto funcional como de moradia.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Maria Rita Kehl: Dois pesos…

 Estadão - 02 de outubro de 2010 | 0h 00

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de “acumulação primitiva de democracia”.
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

Esse artigo de Maria Rita Kehl mostra com clareza uma parte do jogo politico (no caso a boataria)  que vem sendo utilizada na campanha presidencial. Imagino se não existe ninguém (já que dizem possuir excelentes intelectuais nos quadros do partido) no PT que pudesse ter escrito algo assim em relação à questão do aborto? Precisava-se desqualificar membros da igreja por defenderem uma opinião da instituição? E não me venham com a desculpa de que parte da Igreja falou que o compromisso deve ser com a dignidade humana... Bem, queria ver esses bispos, padres ou quem quer que sejam falar abertamente que são a favor do aborto. Quando fizerem isso ao invés de se esconderem atrás de meias palavras pode-se aceitar sua opinião. Mas, enquanto isso continuamos com as baixarias de cada lado. É um problema bem enraizado na politica brasileira.
Infelizmente, devido a este texto, Maria Rita Kehl foi despedida.

Fala Sério

Peteleco da Viola
Mais uma prova de que consciência política, nada tem a ver com nível de escolaridade mais avançado. Ele é pedreiro.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Comentários

Nesse sábado me aconteceu duas situações antagônicas. Em primeiro fui assistir ao filme Tropa de Elite 2. Me surpreendi (e uma excelente surpresa). O filme transcende à questão do tráfico (questão central do primeiro) e vai diretamente na jugular do sistema político-social-econômico que envolve a organização e exploração das favelas no Rio de Janeiro, e que, deve se repetir em vários outros estados do país. 
É uma bela demonstração de como se usa a democracia com fins de benefício próprio, relegando o povo à massa de manobra eleitoreira. Como já dizia Zé Ramalho: Vida de Gado.
Mas, ao chegar em casa, ligando a tv resolvi assitir ao besteirol (às vezes é bom, se passa o tempo, não há preocupação com enredo ou lógica) "Todo Mundo em Pânico 4" na rede globo. Minha segunda surpresa (dessa vez desagradável) é que em um dos comerciais apareceu o Zeca Camargo comentando que no Fantástico iria ser discutido a morte de um dos personagens da atual novela das oito (que a muito tempo não passa às oito) "Passsione". Aquilo realmente me entristeceu. Lembrei-me de quando era adolescente, que às vezes deixavámos a roda de bate papo com os amigos para assistir uma reportagem do Fantástico. Se não estivéssemos envolvidos em alguma atividade, assistir ao Fantástico era um bom programa para aquisição de cultura. E fiquei pensando: que é isso? morte de personagem de novela? é nisso que se transformou o fantástico? Resultado, não conhecia os personagens, não sei até hoje quem morreu , algo que me causou estranheza (em um passado não muito distante, os comentários disso teriam chegado aos meus ouvidos, até mesmo pelos alunos, mas nada) e tive a grata supresa novamente de ver vários alunos comentando sobre a evolução do nível de discussão (mais cabeça como dizem) do Tropa de Elite 2. Ainda resta uma esperança.

Sobre a Carta que tem a capa "Aborto e Oportunismo Eleitoral" tenho algumas considerações a fazer (por enquanto até onde li). Uma delas não tem diretamente a ver com a revista que trás uma reportagem sobre o engenheiro Paulo Renato Corrêa do Amaral, que obteve ótimos resultados na ultramaratona. Mas, essa reportagem me fez lembrar do também engenheiro (militar) Cap Milton Augusto Maciel de Souza, que assim com Paulo Renato não tem patrocínio e banca do próprio bolso e com suas horas de lazer o seu treinamento. O Cap Augusto Maciel em 2009 foi o vice-campeão no Ultramen do Canadá. O Ultraman Canadá foi disputado em três dias seguidos: 01, 02 e 03 de agosto. No primeiro dia, o atleta nadou 10km em um lago e, logo após, percorreu144,8km de bicicleta. No segundo, novamente em bicicleta, foram percorridos mais 273,5km. No último dia, finalizando a prova, o atleta correu 84,3km. Apenas 19 atletas encerraram a prova. Não quero aqui passa a impressão de que desmereço o resultado de Paulo Renato, pelo contrário, feito desse tipo tem que ser divulgados para que estimulem outros, mas a ausência de uma reportagem do porte da que foi divulgada o feito de Paulo Renato, e a não divulgação de um tão magnifíco quanto, por parte de um militar, me leva a pensar que há um preconceito muito sério em relação à classe militar.

Com relação à reportagem da capa, bom, acho que não é surpresa alguma a igreja bater na questão do aborto. Nunca vi o Papa, a CNBB ou alta cúpula dizer que é a favor. Os evangélicos também. Se estamos em uma democracia, então deixem de criticar a opinião (já várias vezes reiterada) da igreja. Não nos cabe julgar como uso político a situação. Os vários Papas determinaram assim e pronto. A igreja é contra o aborto e se o PT quer bancar essa luta vai ter que aguentar o fogo contrário. Não adianta choramingar e querer se fazer de coitadinho,  se é essa a opção, assuma e tente vencer pelo argumento e não acusando a igreja . O politicamente correto, só para lembrar, é algo muito bonito na cabeça dos "intelectuais", mas o Brasil (se não tiver mudado) ainda é o maior país católico do mundo, então, feche-se a boca e aguente a pancada.
Em outra situação, Maurício Dias fala da "Lei do Abate", sobre o caso de um desertor. A legislação militar trata de forma específica essa situação (tanto em caso de guerra como de paz). Apesar de ser um direito a todo ser humano a tentativa de fuga, não é devido a esse direito que em uma situação que só quem estava passando pode detalhar, vai se permitir o uso desse direito. Imagine o Fernandinho Beira-Mar sabendo dessa defesa de Maurício Dias. Com certeza esse vai solicitar a proibição do seu abate em caso de tentativa de fuga.

Ode a um Velho Guerreiro

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 27 de setembro de 2010.

(Rivadávia Leite - A Saga de um Guerreiro).


Esta é a história de um guerreiro,
Que vivia sua vida triste e a penar,
Se infeliz foi, mas forte e altaneiro,
Da pugna fazia o seu sagrado altar.

Travou pelejas pela vitória da paz,
Sofreu derrotas, mas sempre a lutar,
Venceu o medo por ser ele capaz
Do estandarte, à mão empunhar.

Soldado foi na luta contra o adversor,
No teatro de guerra, sua vida a levar;
Na espreita do inimigo, o seu furor,
Enfrenta o mal preste a lhe causar.

Nas trincheiras da injustiça, foi mentor.
Estrategista hábil em lide e dedicação.
Sua espada era a justiça com destemor,
Nos combates diários... mira da traição.
Certames... vaticínio de mais tristeza.
Avante camaradas! Dizia com ardor!
Hasteiem a bandeira com toda alteza,
Com seu grito de guerra: ave o amor!

Fazia da arma a fortaleza da verdade,
Em cruéis combates sua compreensão,
Saudava os aliados em cumplicidade,
As vítimas em peleja, sua compaixão.

A saga deste intrépido guerreiro,
Que fez desta vida sua proposição,
Glorioso, esse pracinha ventureiro,
Vence a guerra... justa realização!

Hodierno herói! Você em anonimato!
Eventos vis que se propõe a vencer,
Veja neste bravo o seu fiel retrato,
Exemplário de luta, na dor de viver.

- Carta a El-Rei de Portugal, 1893
Moniz Barreto

“Senhor, umas casas existem, no vosso reino onde homens vivem em comum, comendo do mesmo alimento, dormindo em leitos iguais. De manhã, a um toque de corneta, se levantam para obedecer. De noite, a outro toque de corneta, se deitam obedecendo. Da vontade fizeram renúncia como da vida. Seu nome é sacrifício. Por ofício desprezam a morte e o sofrimento físico. Seus pecados mesmo são generosos, facilmente esplêndidos. A beleza de suas ações é tão grande que os poetas não se cansam de a celebrar. Quando eles passam juntos, fazendo barulho, os corações mais cansados sentem estremecer alguma coisa dentro de si. A gente conhece-os por militares... Corações mesquinhos lançam-lhes em rosto o pão que comem; como se os cobres do pré pudessem pagar a liberdade e a vida. Publicistas de vista curta acham-nos caros demais, como se alguma coisa houvesse mais cara que a servidão. Eles, porém, calados, continuam guardando a Nação do estrangeiro e de si mesma. Pelo preço de sua sujeição, eles compram a liberdade para todos e os defendem da invasão estranha e do jugo das paixões. Se a força das coisas os impede agora de fazer em rigor tudo isto, algum dia o fizeram, algum dia o farão. E, desde hoje, é como se o fizessem. Porque, por definição, o homem da guerra é nobre. E quando ele se põe em marcha, à sua esquerda vai coragem, e à sua direita a disciplina”.

- “Ultima Ratio Regis”

Necessário se faz esta pequena preleção inicial enaltecendo a profissão militar. Ao longo da história as grandes nações concluíram que suas Forças Armadas representavam a “ultima ratio regis”. Só as Forças Armadas são capazes de sustentar as decisões estratégicas do Estado, além de assegurar a soberania, integridade territorial e os interesses nacionais. Meu grande amigo e mestre Coronel Fregapani enviou-me um e-mail que faço questão de compartilhar com todos os verdadeiros cidadãos brasileiros. Conhecendo a alma do valoroso Soldado-Cidadão imagino a dor e o desespero que o atormentam e a todos aqueles que, como ele, optaram a dar tudo de si, sem nada pedir em troca, nem mesmo compreensão. A todos que servindo a seu país, almejam como recompensa apenas a grata sensação do dever cumprido.

- Desabafo
Coronel Gelio Augusto Barbosa Fregapani

Confesso que estou desapontado. Passei toda minha vida dando segurança para o meu País, e garantindo-lhe a soberania e a integridade. Pedi e cumpri as missões mais difíceis. Procurei voluntariamente a luta e a tormenta. Era por ideal. Meus próprios colegas me chamavam de “O Patriota”. Era pelo meu País, por suas instituições, pelo meu povo.

Agora olho o meu povo e o vejo prestes a se desagregar em etnias rivais; em conflitos sociais e a desfibrar-se na mesma libertinagem que, se não condenou Sodoma e Gomorra é certo que contribuiu para a queda de todos os impérios.

Olho para o meu Governo e o vejo cercado dos piores ladrões. Olho para o Legislativo e sinto um balcão de negócios, onde poucos se lembram que tem uma Pátria. Vejo um Judiciário que, no caso da Raposa, decide contra a integridade da própria Pátria mesmo contrariando a opinião geral, mas quando está em jogo a ficha limpa, decide não decidir.

Penso comigo: foi por isto que empenhei a vida toda? Valeu a pena brigar por esta gente? Por estas instituições?

Diz o poeta que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”. Bonitas palavras, mas não são suficientes para impulsionar. Contudo me ressoa na mente o incentivo de minha mãe: “Cabeça erguida, soldado”! – Sim, contudo, ainda há gente boa em nosso País.

Dias difíceis estão a caminho. Tudo bem, se não houvesse dificuldades, a Pátria não precisaria de nós. Se ela necessitar de mim, me encontrará pronto, com a arma na mão. Afinal, como se diz na minha terra: “Não tá morto quem peleia”.

Que Deus guarde a todos vocês.


Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Às Heróicas e Anônimas Amazonas

Hiram Reis e Silva, Cidreira, RS, 26 de setembro de 2010.


Tudo é sinistro de se ver, agora,
Uma nuvem vermelha escurece o céu,
O firmamento está manchado com o sangue de homens,
Enquanto as Valquírias cantam sua canção.
(Passagem das Lanças - 10ª estrofe, Njál’s Saga 157).


Voltei encantado ao perlustrar os fantásticos cenários dos amazônicos caudais. Mas a imagem mais bela, mais forte e que me arrebatou por inteiro foi a das corajosas mulheres daquela bela, mas inóspita região. Encantadoras e generosas na sua hospitalidade, fortes e destemidas ao enfrentar, muitas vezes sozinhas, os desafios da mata hostil, são elas verdadeiras amazonas a arrostar o cotidiano agreste sem esmorecer. Estas verdadeiras valquírias brasileiras merecem, com certeza, nosso mais grato reconhecimento e homenageando-as quero fazer aqui um tributo às guerreiras de toda nação brasileira. Reporto três passagens interessantes destas arrojadas mulheres que no remoto pretérito deram mostras de seu valor e cujas ações ficaram gravadas indelevelmente no inconsciente coletivo do planeta.


- Isabela de Godin

Jean Godin des Odonais era primo de Louis Godin, célebre astrônomo e membro da Academia de Ciências de Paris. Em 1735, Jean, graças ao primo astrônomo, fez parte da expedição geodésica (chefiada por Charles Marie de La Condamine) enviada ao Peru para medir o arco do meridiano terrestre. Embarcou em La Rochelle, a 16 de maio de 1735, e chegou a Quito, em 22 de maio de 1736. Em Riobamba Jean conheceu Isabel de Casa Mayor. Dom Pedro de Casa Mayor, pai de Isabel, era Vice-rei da província de Otavalo e viúvo de uma rica peruana. Bela e culta, Isabel encantou Jean, que a desposou em 27 de dezembro de 1741. A equipe de La Condamine permaneceu na área por oito anos. La Condamine voltou para a França, mas Jean Godin permaneceu com a esposa Isabel dilapidando a fortuna da mulher. Em março de 1749, partiu só, para Caiena (Guiana Francesa), na oportunidade Isabel estava grávida e impossibilitada de acompanhá-lo na jornada. Ficaram separados pelo destino durante 21 anos. A França e Espanha, na época, estavam em guerra contra os ingleses e os holandeses. Isabel depois de esperar muito tempo pela volta do marido resolveu ir ao seu encontro e considerando que cruzar o Darien ou contornar o continente pelo cabo Horn seria muito arriscado resolveu, então, ir por terra, enfrentando os três mil quilômetros de distância entre o Peru e Caiena. Somente em 1º de outubro de 1769, Isabel conseguiu empreender, com os dois irmãos, um sobrinho, um fiel servo e três servas, a longa viagem até Caiena. Pouco antes de partir, a equipe foi reforçada com um médico francês e dois de seus empregados. A partir de Canelos, arrasada pela varíola, a pequena expedição mergulhou no horror. Os carregadores e guias, tomados de pânico por causa da doença, fugiram. Alguns indígenas lhes serviram provisoriamente como guias, os abandonaram da mesma forma. O médico francês acompanhado de Joaquim, fiel servo de Isabel, foi procurar socorro em uma missão próxima e jamais voltou. Ao retornar, Joaquim, encontrou apenas cadáveres. Isabel e seus companheiros, depois de aguardar três semanas, resolveram continuar o caminho atravessando a floresta. Todos, exceto Isabel, morreram de fome, de sede e de cansaço. A corajosa amazona prosseguiu sozinha sua aventura, sem conhecer a direção a seguir, alimentando-se unicamente de frutos e de ovos. Depois de oito dias, ela chegou ao rio Bobonaza, onde indígenas a acolheram e levaram-na à missão espanhola de Loreto. O missionário Franciscano recusou-se, inicialmente, a recebê-la, tal o seu aspecto e seus andrajos. Pensou que se tratava de uma índia fugitiva, e só abriu a porta da Missão depois que ela cobriu o corpo com um tecido de palha. Madame Godin contou sua história e como estivesse muito fraca foi colocada em uma canoa que a transportou para o leste. Depois, um bergantim português transportou-a ao Oiapoque, onde, a 22 de julho de 1770 conseguiu chegar e dali partiu para a Guiana. Em Caiena nem o próprio marido a reconheceu.



- Angelina a Heroína dos Seringais

Quando do primeiro combate da Volta da empresa, em que Plácido de Castro foi emboscado pelas tropas do Coronel Rojas, um fato inusitado, marcou com sangue aquela pugna de bravos, pelo arroubo de uma heroína acreana. Próximo à beira do Rio vivia num rancho tosco de madeira, um seringueiro com sua mulher Angelina Gonçalves de Souza. Naquele dia encontrava-se atacado de beribéri que o reduzira a pele e ossos, atirado numa rede. Ali estava “febrilento”, prostrado, amargurado, irritado, por não poder participar com os companheiros na Revolução. Nisso chegou um soldado boliviano e vendo-o enfermo, quase um cadáver, aproveitou para atirar-lhe uma provocação de deboche vitorioso:

- ¡Mira! ¿Y tú? Te faltan las gambias? Porque não te escapaste también?

Mesmo em extrema fraqueza, o pobre seringueiro, ferido na sua dignidade íntima, reagiu, e num derradeiro esforço soltou na cara do atrevido, algumas palavras de revolta e ódio. Foi o que bastou para que um grupo de soldados de Rojas, saltasse sobre a carcaça cadavérica do infeliz seringueiro, e o agarrando à unha, arrastaram-no porta a fora, às cusparadas, pontapés e por fim crivaram-no de balas a queima-roupa. Nesse momento, Angelina que estava lá dentro do rancho, ouvindo aquela barulhada toda, passou a mão na espingarda do marido e quando o viu morto numa poça de sangue, investiu furiosa para cima dos soldados assassinos, como desvairada, enlouquecida, num furor de raiva e vingança, conseguiu disparar um tiro. Assim como uma “tigra” defendendo o seu covil, partiu para o ataque contra os executores do seu marido. E luta com eles. Tomada por uma fúria de desespero, de loucura e ódio, que se multiplicam em forças inexplicáveis, atordoa-os, aos gritos, aos socos, às mordidas, a pontapés. Por fim subjugaram a fera humana, e a levaram de arrasto para o Comandante.

Logo ali, estavam dois médicos bolivianos atendendo o Coronel Rojas, ferido de raspão pelo tiro disparado pela seringueira... A soldadesca se enfureceu. Clamou por vingança. Queria a punição imediata... Mas quem decidia era o Comandante. E este num gesto de grandeza humana, falou com energia, determinando que a libertassem imediatamente:

- Mujeres así no se mata. (FIGUEIREDO)



- A Anônima Mulher do Soldado

Curioso episódio também foi observado em relação à mulher de um dos soldados regionais do destacamento que acompanhou Roosevelt, desde Tapirapoan (Rio Sepetuba) às margens do Rio da Dúvida. Grávida já de nove meses, essa mulher acompanhou a pé todas as marchas da expedição, por terra, o que era motivo para admiração geral. Aconselhada em Tapirapoan a alojar-se ali para seguir depois de dar à luz, recusou-se peremptoriamente e declarou que estava acostumada a andar no sertão nesse estado de gravidez, sem se cansar. A convicção de suas afirmativas levou o Comandante do destacamento à tolerância de a deixar seguir, embora contra o voto do médico. Pois bem, essa mulher extraordinária não só marchou diariamente quatro a cinco léguas a pé, como também só interrompeu a marcha um dia (24 horas) para dar à luz. Ao dia seguinte do parto, prosseguia a marcha a pé carregando o filho ao colo. (MAGALHÃES)



Fonte: BRASIL, Altino Berthier - Desbravadores do Rio Amazonas - Brasil, 1996 - Ed. Posenato Arte & Cultura.
FIGUEIREDO, Osório Santana - Plácido de Castro, o Colosso do Acre - Brasil, 2007 – Gráfica Editora Pallotti.
MAGALHÃES, Major Amílcar Botelho de - Impressões da Comissão Rondon - Brasil, 1921 - Editora Brasiliana.



Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Governo Pornocrático Brasileiro

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 17 de setembro de 2010.


Mas como falar deste país sem o lanho do humor? Em tudo insere João Ubaldo a visão do humorista, que vê o que não aparece, identifica a nudez das gentes, entende os pensamentos ocultos.
(Antônio Olinto Marques da Rocha)


- João Ubaldo Ribeiro

O escritor, jornalista, roteirista e professor João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro nasceu na Bahia, em 23 de janeiro de 1941, filho primogênito de Maria Felipa Osório Pimentel e Manoel Ribeiro. Observador arguto, das cousas e das gentes, retrata, nas suas obras, o contexto social brasileiro, português e africano focado sob uma lente impregnada de inteligente ironia e humor. Em 2008, foi agraciado com o Prêmio Camões, considerado o maior laurel da língua portuguesa. O texto, abaixo, escrito há alguns anos continua impregnado de verdades insofismáveis e de uma atualidade incontestável.



- Me Visitem na Cadeia – João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro
02 de Abril de 2006

(...) Começo, não sem certo enfado, a dizer o que penso do Executivo, na figura do nosso presidente. Sua conduta me tem transmitido a impressão de que ele é enganador, cara-de-pau, evasivo, fanfarrão, oportunista, ardiloso, demagogo e cínico o suficiente para encarar com desplante todo mundo saber que ele é candidato, mas se aproveita de brechas na lei para fazer campanha às custas do erário e não raro enganosamente. Acho que só é de fato sincero quando se apresenta como o melhor presidente que “este país” já teve, pois o movem as certezas absolutas que a ignorância costuma suscitar. O povo é engabelado por cestas e bolsas mil, enquanto as reformas que efetivamente o redimiriam não vêm e tudo indica que não virão. Tampouco tenho — admito que muito subjetivamente — boa impressão do caráter de Sua Excelência e da sua propalada fidelidade aos amigos, diante da gana de grudar no poder. (...)

O que eu penso do nosso sistema político é que falta um bom nome para designá-lo, pois democracia é que não é. Tentando assim de orelhada, ocorrem-me cacocracia, cleptocracia, hipocritocracia ou, melhor ainda, pornocracia, pois é muito menos pornográfico um travesti se exibindo na Avenida Atlântica, para faturar um dinheirinho com os pais de família inatacáveis que constituem a parte mor de sua clientela, do que um vendilhão da pátria, um traficante de votos, um deslumbrado pelo poder, um criminoso disfarçado sob alegações grotescamente entortadas. E penso que nosso país é hoje moralmente flácido e desorientado. Não é incomum que o cidadão não consiga agir corretamente porque o sistema é tão corrompido que não aceita a integridade, ela nos é cada vez mais uma estranha. A corrupção está em toda parte, da gasolina adulterada ao peso roubado nos produtos embalados, aos remédios falsificados, aos atestados forjados, às instituições de caridade trapaceiras e a tudo mais que nos rodeia, onde sempre suspeitamos da existência de uma mutreta, pois a mutreta é o nosso “modus operandi” trivial. (...)




Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br