"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, março 07, 2013

Pyongyang menace d'utiliser la bombe atomique

RFI  - Article publié le : jeudi 07 mars 2013 - Dernière modification le : jeudi 07 mars 2013

 

Le numéro 1 nord-coréen Kim Jong-un, en février à Pyongyang.

Le numéro 1 nord-coréen Kim Jong-un, en février à Pyongyang.

REUTERS/KCNA

Par RFI

Le ton monte sur la péninsule coréenne. La Corée du Nord vient de menacer d’effectuer des « frappes nucléaires préventives » contre ses ennemis. Une menace qui intervient alors que le Conseil de sécurité de l’ONU s’apprête à voter de nouvelles sanctions, très alourdies, pour punir le régime de Pyongyang, suite à son troisième essai nucléaire du 12 février dernier.

Avec notre correspondant à Séoul, Frédéric Ojardias

La Corée du Nord continue son escalade verbale. Le porte-parole du ministère nord-coréen des Affaires étrangères a déclaré : « Etant donné que les Etats-Unis sont sur le point de déclencher une guerre nucléaire, nous exercerons notre droit à une attaque nucléaire préventive contre le quartier général de l’agresseur ».

Pyongyang ne dispose pas d’un lanceur lui permettant d’atteindre le territoire américain, mais le régime multiplie quand même les menaces. La Corée du Nord a aussi promis de noyer Séoul et Washington sous « des océans de flammes » et d’annuler l’armistice qui a mis fin à la guerre de Corée. Mercredi 6 mars, la Corée du Sud s’est déclarée prête à des frappes de représailles contre le commandement du Nord en cas d’attaque.

En brandissant ses prétendues capacités de dissuasion atomique, la Corée du Nord veut en fait se faire reconnaître comme puissance nucléaire légitime. Elle montre qu’elle ne renoncera pas à ses bombes. Ce qui ne devrait pas empêcher le Conseil de sécurité de l’ONU de voter de nouvelles sanctions. Celles-ci sont soutenues même par la Chine, le dernier allié d’un régime nord-coréen qui se trouve de plus en plus isolé.

Des observateurs de l'ONU pris en otage par des combattants syriens au Golan


RFI -   Article publié le :mercredi 06 mars 2013 - Dernière modification le : mercredi 06 mars 2013

Des observateurs des Nations unies à Kuneitra, un point de passage entre la Syrie et Israël, sur le plateau de Golan, le 5 mars 2013.
Des observateurs des Nations unies à Kuneitra, un point de passage entre la Syrie et Israël, sur le plateau de Golan, le 5 mars 2013.
REUTERS/Baz Ratner

Par RFI
Une vingtaine d'observateurs des Nations unies ont été capturés par des combattants syriens, a annoncé l’ONU ce mercredi 6 mars. Ils seraient retenus sur le plateau du Golan, la zone qui sépare la Syrie d'Israël. Des hommes qui se réclament des rebelles syriens et qui accusent l’ONU de collaborer avec les forces de Bachar el-Assad.

Avec notre correspondant à New York, Karim Lebhour
L’ONU n’a pas précisé qui sont ces hommes en armes qui ont pris en otage une vingtaine de casques bleus sur le plateau du Golan, dans la zone de séparation entre la Syrie et Israël, mais déjà plusieurs vidéos circulent sur internet.
On y voit des hommes qui se réclament de la brigade des « Martyrs de Yarmouk » et qui disent qu’ils ne relâcheront les observateurs de l’ONU que si les forces de Bachar el-Assad se retirent du village de Jamla. Les hommes en armes se sont filmés devant les véhicules de l’ONU. Ils accusent les Nations unies de collaborer avec le régime syrien.
Les casques bleus étaient en mission de ravitaillement. Ils ont été capturés près d’un poste de l’ONU qui avait été évacué  en raison de violents combats la semaine dernière entre l’armée syrienne et les rebelles.
C’est la première fois que les observateurs de l’ONU sont pris pour cibles par les rebelles syriens. Plus de 1 000 casques bleus sont déployés sur le plateau du Golan. L’ONU assure avoir envoyé une mission sur place pour tenter de résoudre cette prise d’otages.
En Syrie, la barre du million de réfugiés a été dépassée, selon les Nations unies. Et presque deux ans après le début de la révolte, les opposants à Bachar el-Assad ont pris, ce mercredi 6 mars, le contrôle total de Raqa, dans le nord-est du pays, près la frontière avec la Turquie. C'est la première capitale provinciale prise par les rebelles, selon l'Observatoire syrien des droits de l'homme (OSDH).

A dívida absurda ou a aberração da dívida

resistir info - 05 mar 13


por Guilherme da Fonseca-Statter
Somos alguns milhões – só em Portugal – a sermos esbulhados, por meio de impostos e contribuições cada vez mais exorbitantes, para pagarmos uma dívida pública "externa" que não contraímos. Alguns papagaios, comentadores e "economistas" de aviário dizem-nos também que "não há alternativa", temos mesmo que pagar ("eles emprestaram ou não emprestaram"?...).

Vamos por uns minutos imaginar que esta dívida pública (esta e as outras, dos outros páises todos...) é uma dívida legítima. Que até resulta de empréstimos feitos por entidades que tinham acumulado esses capitais financeiros com toda a legitimidade e, sobretudo, sem terem fugido ao pagamento dos impostos sobre os lucros ao longo de várias décadas. Mesmo assim, nessas hipotéticas circunstâncias de legitimidade, o que me parece mais aberrante (estupidamente aberrante...) é que isso, o pagamento da dívida (se por milagre alguma vez acontecesse...),
não serve para nada...

Ou seja, aquele dinheiro todo "que nos vai sendo emprestado e que nós vamos pagando"
não vai ter uma qualquer outra aplicação que não seja voltar a ser emprestado. Acumulando juros e "capital emprestado".

Quando muito na compra
("investimento" dizem eles...) de coisas que já existem...

Per secula seculorum... Se entretanto os povos não se revoltarem, claro...


Acontece que existe no sistema capitalista um característica muito peculiar e que eu designo por
"esgotamento progressivo de oportunidades de investimento". Investimento lucrativo, claro. Não é difícil demonstrar a existência dessa característica, mas isso não cabe agora aqui. Em todo o caso essa demonstração está feita e disponível para quem estiver interessado.

Em consequência desse esgotamento progressivo das oportunidades de investimento, os donos e gestores de todo aquele capital financeiro procuram naturalmente aplicações alternativas. Vamos imaginar que na busca de aplicações financeiras rentáveis conseguem todos os seus objectivos; ou seja a obtenção de oportunidades de aplicação rentável em coisas ou actividades úteis e necessárias à sociedade e que sejam susceptíveis de "compra e venda" (os mercados, sempre os mercados....).


Como vão assinalando os observadores mais atentos, aquelas "coisas ou actividades úteis e necessárias à sociedade" que constituem aquelas oportunidades de investimento e que estão assim "à mão de semear", são a privatização de tudo e mais alguma coisa que compete a um Estado moderno, progressista e com um mínimo de preocupação por tudo quanto é social.


Vamos pois imaginar que eles conseguem privatizar todos os ensinos públicos e todos os serviços nacionais de saúde e que conseguem também privatizar toda a distribuição de água (um monopólio natural por execelência...). Acrescentemos a isso a privatização de portos e transportes (vias férreas e todo o tipo de estradas) e ainda (porque não, já agora...) a privatização da segurança interna e da Justiça.


Vamos então imaginar que com todas essas privatizações, e através da manipulação de preços, os donos do capital financeiro, conseguem obter taxas de lucro melhores do que as "meras" aplicações financeiras. Nessa altura, em vez de nos retirarem "poder de compra" por via dos impostos para "pagarmos a dívida", vão-nos retirar "poder de compra" por via dos preços – que teríamos que pagar – por aqueles serviços que antes eram prestados de modo tendencialmente gratuito pelo Estado.


E depois?...


Nesse cenário de pesadelo absurdo de onde viria o "poder de compra" necessário e suficiente para escoar a oferta daqueles serviços todos?...


É neste contexto que se coloca a questão da aberração do pagamento indefinido de uma dívida absurda. Se os senhores da "troika" e seus mandatários locais (aqui ou na Grécia, por exemplo) tivessem um pingo de bom senso, talvez fosse possível perguntar-lhes "o que vão fazer com o dinheiro dos pagamentos das dívidas públicas"...


Para onde vão todos esses fundos financeiros?... Para que servem?... Em que vão ser aplicados (ou "investidos")?


Muito provavelmente responderiam que "não temos nada a ver com isso", o dinheiro é deles (ou melhor dos seus patrões...) e eles, os patrões, é que têm que decidir o que querem fazer com os dinheiros que alguém fabricou, sendo que este "fabrico de dinheiro" resultou a partir de lucros empresariais minimanente legitimos
(mas sobretudo engordados com o não pagamento de impostos) , ou a partir da fabricação de dinheiro ou capital fictício resultante da criação de empréstimos bancários virtuais...

Mas a resposta mais prosaica seria muito provavelmente a de que
esses fundos financeiros todos serão de novo aplicados na compra de mais dívida pública...

É evidente que o Planeta está cheio de oportunidades para fazer coisas, úteis e necessárias; desde a regeneração do meio ambiente (o mar e as florestas...) até à renovação de estruturas físicas e desenvolvimento de novas tecnologias de fontes de energia e de aproveitamento "verde" das coisas da Natureza.


Só que isso, tudo isso, cai cada vez mais no âmbito da coisa pública...


Não constitui oportunidade de investimento que tenha o lucro como objectivo imediato.


Ou seja, o sistema parece ter entrado num beco sem saída.


Mas "saídas" há: o caos (e a barbárie...) ou o Socialismo.
O original encontra-se em umoutroparadigma.blogspot.pt/...


Alguns se iludem com a democracia, outros com o socialismo e ainda há os neoliberais. Gostos para todo tipo de bobagem. Será que algum dia vão realmente pensar no homem?

Ditadura na Europa

resistir info - 03 mar 2013

por Juan Torres López
Cartoon de Malagon. Nem 24 horas se passaram desde o encerramento das urnas na Itália e Angela Merkel ditou o que é preciso continuar a fazer ali. O porta-voz do seu partido afirmou que seja qual for o governo que se forme só admitirá um caminho a seguir, o das reformas de Monti. E o seu ministro da Economia reiterou que não há mais alternativas senão as medidas que executava o presidente-banqueiro que agora foi fragorosamente derrotado nas eleições.

Não há forma mais clara de afirmar que o que disseram os cidadãos através do voto é que se estão a marimbar para aqueles que hoje em dia converteram a Europa numa ditadura de facto.


Na Europa está a desmantelar-se a democracia e é lógico que isto esteja a ocorrer. É a única maneira que as autoridades têm de garantir que se possam continuar a aplicar políticas cujo fracasso é indisfarçável e assim beneficiar uma minoria muito poderosa que vive de um modelo social desigual e injusto.


O relatório de Inverno apresentado há alguns dias pelo comissário da Economia, Olli Rehn, demonstra claramente que os resultados das políticas que se vêm impondo são totalmente distintos do que disseram que iam conseguir quando as anunciavam como nossa salvação. Tudo é ao contrário do que haviam previsto: o crescimento é menor, o desemprego aumentou, os bancos não financiam, as empresas continuam a fechar, o défice e a dívida crescem e ao invés de recuperar-se a economia europeia entra em recessão.


Os danos sociais que isto provoca aumentam em todos os países, sem excepção. Os indicadores que o Eurostat, o gabinete de estatística europeu, apresentou esta semana mostram que já quase um de cada quatro europeus (24,2%) e uns 27% dos jovens menores de 18 anos está em risco de pobreza ou exclusão social. Percentagens que são terrivelmente mais altas em alguns países da União Europeia, como a Bulgária (49,1 e 51,8%), onde as pessoas na rua acabam de derrubar o governo. E que alcançam proporções siderais quando se dão em famílias de baixos níveis de estudos. Neste caso, a percentagem de menores de 18 anos em risco de pobreza monetária no conjunto da UE é de 49,2%, de 76,2% na Chéquia ou de 78,3% na Roménia. Inclusive em países que sempre havíamos considerado a vanguarda do progresso está a começar a ser desencadeada a pobreza infantil e juvenil em famílias com baixo nível de estudos: 54,4% na Suécia, 52,5% em França ou 55,1% na Alemanha. A única coisa que avança na Europa é a concentração do rendimento e o peso dos rendimentos do capital no conjunto dos rendimentos.


E o problema maior que tudo isto está a provocar é que a deterioração económica está a deixar de ser conjuntural. Estamos a ponto de cruzar uma fronteira a partir da qual os danos, em forma de destruição de tecido empresarial, de emprego, de inovação e de capital físico, social, investigador e humano para o investimento futuro são irreversíveis. Por isso é dramático que os líderes europeus se fechem em copas perante qualquer sinal de reforma que não seja as que eles apregoam como representantes dos grandes capitais, cujos negócios ajudam e gerir quer no âmbito público como no privado através das portas giratórias que funcionam tão bem sob o seu mandato.


A Alemanha está a cometer com a Europa o mesmo erro que com ela cometeram os países europeus que a venceram na Primeira Guerra Mundial. Então, foi-lhe imposta uma política de reparações que criou o demónio que anos mais tarde incendiou todo o continente e agora os alemães emprenham-se em impor uma política de austeridade que não só é injusta e tosca como também é impossível que possa ter êxito. Mais uma vez, ateiam fogo à Europa.


As exigências alemãs para que os demais países continuem a reduzir salários e exportem cada vez mais são simplesmente estúpidas. É materialmente inviável que todos os países se especializem da mesma forma e que todos possam ter vantagens se se dedicarem a desenvolver a mesma estratégia. É um engano porque oculta que assim só se beneficiam as grandes corporações exportadoras à custa do empobrecimento de todo o mercado interno europeu. E o empenho em reduzir despesas públicas é paranóico porque o que na verdade a cada dia gera mais dívida são os juros por culpa de um banco central europeu que não o é.


O impressionante, contudo, é que não há reacção potente dos governos de países europeus que vêem como esta estratégia afunda suas economias e destroça suas sociedades. Inclusive uma grande potência como a França assume-a sem sequer refilar. A Espanha tem um peso suficiente na Europa para forçar mudanças, mas nem sequer tenta. E assim um atrás do outro, pois não parece que ao novo governo italiano se vá dar muita capacidade de manobra.


As imposições da Merkel e do capital alemão já são muito mais do que um empenho ideológico. Não vale recorrer outra vez ao santo temor alemão à inflação ou ao seu conceito pecaminoso de dívida. São as suas políticas que alentam um poder de mercado que arrasa o poder aquisitivo da imensa maioria das famílias europeia ou os que impõem um banco central que é a fonte real do incremento do défice e da dívida.


O que há por trás de tudo isto é a decisão de salvaguardar o poder financeiro acima de qualquer outra vontade e a vontade firme de saltar em estilo toureiro as preferências dos povos, e de evitar o que dizem nas urnas. Mas vamos deixar de dissimulações. Isso já conhecemos na Europa e chama-se ditadura.

28/Fevereiro/2013
O original encontra-se em http://juantorreslopez.com/impertinencias/dictadura-en-europa/

darussia.blogspot - Segunda-feira, Março 04, 2013

 
A figura do dirigente soviético José Estaline, que faleceu há 60 anos, continua a provocar forte polémica e a dividir a sociedade russa, e quase metade da população considera o seu papel positivo.
No dia em que passam exatos 60 anos depois da sua morte, as sondagens mostram que a popularidade do homem que dirigiu a URSS com braço de ferro não pára de aumentar na Rússia.
"Em 1988, menos de 1 por cento dos respondentes consideravam Estaline uma grande figura que seria recordada dentro de 20-30 anos. Hoje, ele encontra-se na lista das figuras mais significativas dessa época na consciência social", constata Lev Gudkov, diretor do Centro Analítico Levada-Tsentr.
"Segundo as sondagens, atualmente 48 por cento dos respondentes reconhecem o papel positivo de Estaline, 22 por cento avaliam a sua personalidade de forma extremamente negativa", acrescenta Gudkov, frisando que "em 1998, 60 por cento dos inquiridos olhavam para Estaline de forma negativa".
O sociólogo explica este fenómeno com a "mudança de gerações, perda da experiência pessoal, formação da sociedade de consumo, influência dos media e da literatura".
Por outro lado, sondagens realizadas pelo mesmo centro mostram que 60 por cento dos respondentes estão contra a proposta de devolver à cidade de Volgogrado o nome de Estalinegrado e 56 por cento não apoiam a construção de um monumento ao ditador comunista em Moscovo.
Estes sinais contraditórios são alimentados pelas posições ambíguas do Kremlin face ao antigo dirigente soviético.
"O país mudou radicalmente, transformou-se de agrário em industrial, mas o campesinato desapareceu? Vencemos a guerra [Segunda Guerra Mundial] e ninguém tem direito a atirar pedras aos organizadores da vitória", afirmou Vladimir Putin.
O marechal Gueorgui Jukov, um dos obreiros da vitória soviética, escreveu sobre as qualidades militares de Estaline: "Ele foi o criador de alguma operação? Sim, infelizmente. Uma operação foi planeada e realizada no Báltico, na região de Libava, que se repetiu várias vezes sem resultado e nada deu além de pesadas baixas".
Guennadi Ziuganov, atual dirigente do Partido Comunista da Federação da Rússia, tem uma opinião diferente: "A industrialização, a vitória na Grande Guerra Pátria [Segunda Guerra Mundial], a descoberta do átomo e exploração da energia atómica, os voos ao Espaço e outros grandes feitos, bem como a imagem da grande potência URSS estão inseparavelmente ligados ao nome de Estaline".
Alexandre Burdonski, neto de Estaline e conhecido realizador de teatro, tem uma explicação para a criação do mito em torno do seu avô: "Se na Rússia se organizasse uma vida normal e se construísse um Estado normal, a necessidade do mito, do ídolo, passaria cada vez mais para segundo plano".
"Tal como aconteceu com Hitler na Alemanha, onde não passa pela cabeça de ninguém discutir hoje sobre a atualidade dessa figura política", concluiu.

As falhas na obra da Ferrovia Norte-Sul



Por joao
Do Estado de Minas
Após anos de abandono, a obra da ferrovia foi retomada em 2007, em meio a corrupção
Sílvio Ribas - Estado de Minas
Basta uma visita a Uruaçu para ver os estragos da corrupção antes e depois da interdição. O cenário é desolador. O mato toma conta e as enxurradas das chuvas levaram terra e cascalho, deixando em algumas partes trilhos levitando sobre o leito da ferrovia. Há também risco ao meio ambiente e à segurança urbana gerados pelos canteiros abandonados. A linha nova, com modernos dormentes de concreto, grafados com as marcas Valec e Constran (construtora contratada), e trilhos importados que enferrujam com a falta de atividade, se contrasta com o claro descuido em volta. 
Uruaçu (GO) – A obra da Ferrovia Norte-Sul (FNS) — a maior da história do setor no Brasil e essencial para integrar trilhos de todas as regiões e encurtar o caminho da exportação para diversos setores da economia — completou 25 anos em 2012. Marcada pelas falhas na elaboração e na execução do seu projeto e pelos desvios de recursos públicos, seus trilhos poderiam estar ajudando a reduzir o chamado custo Brasil, gerando empregos e abrindo frentes de negócios.
Mesmo depois de tanto tempo, o seu longo traçado original, 1,5 mil quilômetros de Açailândia (MA) à Estrela D’Oeste (SP), a Norte-Sul teima em não sair do papel e o adiamento de sua operação preocupa empresários e especialistas. Edson Tavares, superintendente do porto seco de Anápolis (GO), afirma que diversas indústrias estão prontas para operar com contêineres vindos do litoral. “A chegada dos trens representaria ainda a largada para vários investimentos”, completa.

Desde a sua retomada, em 2007, no segundo mandato do presidente Lula, após quase duas décadas de total abandono, a União gastou R$ 6 bilhões, que foram insuficientes para torná-la realidade. Embora tecnicamente próxima da conclusão, a ferrovia que incorporou mais dois trechos, se estendendo até Barcarena (PI) e Panorama (SP), precisa de revisão em diferentes partes, sobretudo no trecho goiano.

Com demoradas paradas sofridas em virtude de escândalos de corrupção desde a primeira licitação, em 1987, no governo Sarney, ou de trâmites burocráticos, a obra sofreu um último baque em julho de 2011. Foi quando o engenheiro e político goiano José Francisco das Neves, o Juquinha, ex-presidente da Valec Engenharia, estatal responsável pela construção da ferrovia, chegou a ser preso pela Polícia Federal, na operação Trem Pagador. Ele chefiou a empresa desde o começo da gestão petista, em 2003, tendo tido salto espetacular no patrimônio.

Os 680 quilômetros dos cinco lotes oficialmente em construção têm novo prazo para ser entregue até o fim do próximo ano, quando termina o mandato da presidente Dilma Rousseff. Até o momento, 15% das obras desse percurso estão prontas. Com orçamento total de US$ 6,7 bilhões, os trabalhos foram suspensos por causa dos escândalos do ex-presidente da Valec desbaratados pela PF e por relatórios do Tribunal de Contas da União de 2010, apontando superfaturamento em diferentes fases.

DESOLAÇÃO Preocupada em entregar a “espinha dorsal do país” ainda em seu governo, Dilma realizou uma faxina na Valec e no Ministério dos Transportes e aumentou a pressão política para acelerar o cronograma, sem mais “surpresas”. Ela visitou o ramal de Anápolis e o município de Goianira em março e avisou que só voltaria para inaugurar “a chegada do trem”, quando a Norte-Sul estaria operando de fato. Indiretamente, fazia alusão à repetida inauguração de trechos com apenas trilhos colocados, que marcou a gestão Lula. A presidente deu a entender que não mais desfilaria em locomotivas usadas em obras, cercada de políticos e assessores. “Quero ver a estrada funcionando, do Maranhão até aqui”, sublinhou.

Apesar da vontade da presidente, não há qualquer movimento da obra desde junho de 2011, pouco antes da prisão do presidente da Valec, diz um morador local. A cena mais impressionante é a do alojamento de máquinas da mineira SPA, que estava envolvida na obra com a Constran. Uma fila de tratores, caminhões e escavadeiras são consumidos pelo tempo. A construtora não respondeu aos pedidos de entrevista.

O impacto da perda de Chávez para a diplomacia brasileira

viomundo - publicado em 6 de março de 2013 às 10:10


É isso aí que está em jogo (foto LCA, na faixa do Orinoco)
por Luiz Carlos Azenha
Hugo Chávez nasceu da primeira revolta genuinamente popular contra o neoliberalismo na América Latina. Extraiu sua força política do Caracazo, a rebelião contra as medidas impostas pelo Fundo Monetário Internacional ao governo de Carlos Andrés Pérez, em 1989. Violentamente reprimido, deixando centenas de mortos, o Caracazo antecipou em quase 20 anos a implosão do modelo neoliberal que atingiu primeiro Wall Street e hoje derrete a zona do euro. Andrés Pérez era da AD, a Ação Democrática, um dos partidos da oligarquia que se revezavam no poder desde um acordo firmado em 1958 na cidade de Punto Fijo.
A ascensão de Chávez pôs fim simultaneamente a Punto Fijo e à influência dos Estados Unidos na política local, que tinha um aspecto mais sombrio: a Disip, serviço de inteligência venezuelano, era um braço da Central de Inteligência Americana para a desestabilização de Cuba e a manutenção de regimes pró-americanos na região. O terrorista cubano-venezuelano Luís Posada Carriles usou seus contatos na Disip para planejar a derrubada de um avião da Cubana de Aviación que matou 73 civis, em 1976.
Mais importante que isso, Hugo Chávez pôs fim ao domínio indireto que os Estados Unidos exerciam na estatal petrolífera PDVSA, que bancava a vida nababesca da elite local em Miami e gordas contas nos maiores bancos de investimento dos Estados Unidos. Quando eu era correspondente da TV Manchete em Nova York, cobri o escândalo que envolveu uma funcionária brasileira do Citibank, acusada de desviar dinheiro de clientes latinoamericanos. A tarefa dela, segunda me contou em um presídio, era visitar os países da América Latina, dentre os quais a Venezuela, para conseguir clientes dispostos a depositar “com segurança” pelo menos um milhão de dólares na agência do Citibank que ficava no 666 da Quinta Avenida, em Manhattan.
[Para entender a importância do desvio da renda do petróleo para o sistema financeiro internacional leiam Poisoned Wells: The Dirty Politics of African Oil, do excelente Nicholas Shaxson]
[Clique aqui para ver uma série que eu, Azenha, gravei na Venezuela]
Eleito pela primeira vez em 1998, Chávez só assumiu de fato o poder quando destituiu a direção da PDVSA, o que levou a um locaute empresarial entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2003. A greve petrolífera desnudou o que realmente sempre esteve em jogo na Venezuela: o controle sobre as imensas reservas de petróleo.

Não deixa de ser irônico que a revista Time já tenha dedicado uma capa ao verdadeiro ditador venezuelano, Marcos Pérez Jímenez, que governou a Venezuela com um misto de fraudes e mão de ferro, entre 1952 e 1958: “a golden rule”, um governo dourado, elogiou a revista, se referindo a investimentos promovidos pelo ditador com o dinheiro do petróleo.
Quem dominava a indústria petrolífera venezuelana, então, era a norte-americana Standart Oil.
Tanto Jiménez quanto Chávez são de extração militar. Este último frequentemente criticado por seu bonapartismo. Não se trata, no entanto, de um fenômeno desligado da História da Venezuela. Ao contrário do Brasil e de outros países da região, a Venezuela viveu uma guerra de independência devastadora e a reorganização do país se deu em torno da instituição que melhor resistiu à destruição: o exército.
Hugo Chávez abriu caminho, na América Latina, para o funeral da ALCA — a aliança comercial que os Estados Unidos pretendiam impor à região –, e o poder imperial do FMI com seu Consenso de Washington.
Os ventos que ele ajudou a soprar varreram do mapa latinoamericano desde a base aérea de Manta, controlada pelos Estados Unidos na costa do Equador, até Gonzalo Sánchez de Lozada, o Goni, boliviano que falava espanhol com sotaque gringo e infelicitou a Bolívia antes de ser botado para correr por uma rebelião popular contra reformas inspiradas… pelo FMI.
Chávez deixa mais que um legado de avanço social para milhões de venezuelanos, antes excluídos e fisicamente isolados nos morros que cercam Caracas: deixa um país extremamente politizado e uma mídia tão diversa que é um prazer sentar num quarto de hotel de Caracas e sintonizar as diferentes emissoras privadas ou estatais. As opiniões recolhidas ali formam um mosaico de um país polarizado mas que discute aberta e francamente seu destino político, muito longe do consenso bovino expresso de forma monocórdica pela mídia brasileira.
Finalmente, Chávez representa uma grande perda para a diplomacia brasileira. Era o biombo ideológico atrás do qual o Itamaraty operava o projeto que serve de formas múltiplas à economia, à soberania, à diplomacia e à segurança do Brasil. A adesão da Venezuela ao Mercosul levou o Brasil ao Caribe. Fortaleceu um projeto que poderíamos chamar de a América Latina para os latinoamericanos. E reduziu substancialmente a capacidade históricamente demonstrada dos Estados Unidos — nos golpes e intervenções militares, do Chile ao Panamá, do Brasil à Nicarágua, de Cuba à Venezuela — de usar a região, como fez desde a Doutrina Monroe, como um quintal para a Standart Oil, a United Fruit, a IT&T e suas equivalentes.
Abaixo, um vídeo sobre terrorismo Made in USA (siga o link do You Tube para as outras partes):

O fim do chavismo ?

conversa afiada - Publicado em 06/03/2013

Chávez permanecerá como um rosto da virada histórica da América Latina deste início do século XXI.




O Conversa Afiada reproduz texto de Antonio Luiz M. C. Costa, extraído da Carta Capital:


O fim do chavismo?



*Reportagem publicada por CartaCapital em dezembro de 2012

O segredo mantido pelo presidente Hugo Chávez sobre a natureza exata de sua doença sempre sugeriu que se tratava de um câncer de mau prognóstico (confira A política da doença, em -CartaCapital 701)*. O anúncio da recaída e da quarta cirurgia em 18 meses indica que a esperança de um milagre não se realizou. A última operação foi bem-sucedida segundo os boletins oficiais e os cubanos certamente se empenharam pelo homem que tirou Cuba do isolamento e da crise a sufocá-la desde o colapso da União Soviética. A medicina tem limites e a recuperação seria “complexa, difícil e delicada”, admitiu seu vice e chanceler Nicolás Maduro.

Antes de partir para Havana, o líder bolivariano admitiu pela primeira vez que podederia ocorrer algo para “inabilitá-lo de alguma maneira” e pediu que nesse caso o povo venezuelano eleja Maduro.

A notícia da recaída atropelou a campanha para as eleições dos governos e assembleias estaduais em 16 de dezembro. Depois da reeleição do presidente, o desfecho da disputa pelo governo do estado de Miranda, entre o ex-candidato presidencial da oposição Henrique Capriles e o ex-ministro e ex-vice chavista Elías Jaua, deveria ser o fato político mais importante, pois definiria se Capriles terá fôlego para liderar a oposição nos próximos seis anos. Agora, isso passou a segundo plano. Mais importante, para os analistas, -será sentir nas ruas e nas urnas se a -doença do líder levou desânimo a seus eleitores e militantes ou os mostra dispostos a construir um chavismo sem Chávez.

Apesar das esperanças declaradas da oposição venezuelana e das direitas -latino-americanas e estadunidenses, o falecimento de Chávez não significa a morte do chavismo. O varguismo permaneceu no poder por uma década após o suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e foi a principal referência da oposição até ser superado pelo PT em 1989. E o peronismo manda na Argentina de hoje, quase quatro décadas após a morte de Juan Perón em 1974.

Chávez já governou a Venezuela por quase 14 anos, pouco menos que a duração da primeira era Vargas (1930-1945) e bem mais que a soma dos dois governos de Perón (1946-1955 e 1973-1974), com a diferença de ter sido sempre -escolhido em eleições livres e sem fraudes (com forte ajuda da máquina estatal, sim, mas é outra questão). Tanto quanto ambos, se não mais, transformou seu país de forma a deixar sua marca por muito tempo e influenciou mais os rumos das nações vizinhas que qualquer um deles. Pode não ser mais o sucessor aparente de Fidel Castro como porta-voz das esquerdas latino-americanas (e não é impossível que o idoso cubano lhe sobreviva), mas tudo indica que seu futuro como símbolo, ao menos, parece tão assegurado quanto o de Che Guevara, Salvador Allende ou o próprio Simón Bolívar. Mas símbolo do quê, exatamente?

O mundo ouviu falar do tenente-coronel Chávez pela primeira vez em 4 de fevereiro de 1992, quando liderou um golpe fracassado contra o governo de Carlos Andrés Pérez. Para os jornalistas de fora, soou como uma quartelada latino-americana como qualquer outra, mas tanto o líder como as condições de seu país eram muito peculiares.

O primeiro governo de Pérez, em 1974-1979, cumpriu o programa -oficialmente social-democrata de seu partido Ação Democrática e foi relativamente progressista. Reatou relações com Cuba, apoiou o retorno do socialista Felipe González à Espanha após a morte de Franco, combateu os regimes de Augusto Pinochet, no Chile, e Anastasio Somoza, na Nicarágua, e ampliou políticas sociais com base no aumento da renda das exportações proporcionado pelos choques do petróleo.

Mas ao mesmo tempo reprimia as guerrilhas comunistas no interior. E o então capitão Chávez, enviado a combater os guerrilheiros do partido Bandera Roja, de linha albanesa, veio a simpatizar com sua causa, embora não aprovasse seus métodos e se indignasse com a tortura no Exército e a corrupção visível nos meios militares tanto quanto nos civis.

Segundo o próprio Chávez, sua simpatia pelas esquerdas vinha de antes. Foi inspirado em especial pelo general e líder peruano Juan Velasco Alvarado, que conheceu como cadete ao participar no Peru das comemorações dos 150 anos da Batalha de Ayacucho, na qual Antonio José de Sucre, lugar-tenente de Bolívar, conquistou a vitória final sobre os espanhóis nas Américas. A partir de 1974, Chávez leu avidamente os livros e discursos de Velasco e fez amizade com o filho do coronel e líder panamenho Omar Torrijos, outro militar que promovia o nacionalismo, a reforma agrária e o combate aos privilégios das elites. Em 1977 criou uma organização clandestina, o Exército de Libertação do Povo da Venezuela e começou a buscar contatos com a esquerda civil. Ao se tornar organização cívico-militar, veio a se chamar Movimento Bolivariano Revolucionário 200 ou MBR-200, em homenagem aos 200 anos de Simón Bolívar (nascido em 1783), herói da América Latina e especialmente de Chávez, fascinado por sua vida e pensamento desde a juventude.

Enquanto isso, a guerra entre o Irã e o Iraque, o aumento da produção petrolífera fora da Opep e os conflitos internos do cartel derrubaram o preço da mercadoria e a Venezuela, como muitos outros integrantes da Opep, enfrentou dificuldades sérias.

Em 1988, Pérez candidatou-se de novo e fez campanha atacando o FMI como “uma bomba de nêutrons que mata as pessoas, mas deixa os edifícios de pé” e os funcionários do Banco Mundial como “genocidas a serviço do totalitarismo econômico”. Mas, ao vencer e tomar posse em 2 de fevereiro, de 1989, aceitou de imediato o pacote neoliberal -imposto -pelos EUA e pelo FMI em troca de um empréstimo de 4,5 bilhões de dólares. Isso incluiu a retirada súbita dos subsídios aos combustíveis, com um impacto brutal nos preços dos transportes e no custo de vida.

Não foi o único latino-americano da época a eleger-se com um discurso nacionalista e popular e aderir ao Consenso de Washington após a posse. Carlos Menem, na Argentina, foi outro exemplo notório. Mas a virada de Pérez foi mais -chocante, por sua história e por governar um país mais desigual, onde os desfavorecidos eram ampla maioria. A frustração popular explodiu com uma revolta sem precedentes no país, o Caracazo de 27 de fevereiro. A repressão aos saques e depredações pelo Exército e pela polícia política (a Disip) deixou mais de 2 mil mortos, a grande maioria gente pobre dos chamados cerros, as favelas da periferia de Caracas, que foi sepultada anonimamente e em segredo, em valas comuns.

O evento tornou-se um divisor de águas na história da Venezuela, tanto quanto o Bogotazo, de 1948, na Colômbia. Perderam legitimidade tanto Pérez quanto o sistema político criado pelo chamado Pacto de Punto Fijo, quando, após a queda do ditador Pérez Jiménez, os principais chefes políticos se reuniram na povoação do mesmo nome na casa de Rafael Caldera, líder do democrata-cristão COPEI e acertaram um regime de eleições livres, mas limitadas na prática à alternância de seu partido com a social-democrata ACD e de Caldera, com o banimento dos comunistas.

Foi nesse contexto que Chávez e o MBR-200 tentaram o golpe de fevereiro de 1992. Mobilizaram-se em várias cidades, mas não conseguiram capturar Pérez nem pôr sua mensagem no ar para mobilizar apoio popular. Desistiram após confrontos que deixaram 14 mortos e 130 feridos. Rendido, Chávez falou à tevê e pediu a seus partidários para desistirem “por enquanto”. Tornou-se, porém, um herói. Manifestações populares foram apoiá-lo em frente à prisão. Em novembro, fracassou outra tentativa de golpe militar por simpatizantes de Chávez na Marinha e Aeronáutica que resultou em 172 mortos, 40 dos quais em execuções extrajudiciais de civis e rebeldes rendidos.

Entretanto, Caldera rompeu com a COPEI e aliou-se à oposição de esquerda (inclusive comunistas) na chamada Convergência Nacional, isolou Pérez e o derrubou com um impeachment por corrupção em maio de 1993. Caldera foi eleito em dezembro, pôs fim a 35 anos de bipartidarismo e cumpriu a promessa de anistiar os militares golpistas. Mas a crise piorou e, em 1997, apelou ao FMI, voltou a retirar o subsídio aos combustíveis e ensaiou a privatização do petróleo, o que desencadeou novos protestos e garantiu a eleição de Chávez pelo recém-fundado Movimento V República, em 1998.

A cobertura por The Economist destacava sua promessa de reduzir o déficit público – grande à época, devido à queda do preço do petróleo a meros 9 dólares por barril, um mínimo histórico – e sugeria que, como o argentino Carlos Menem, o novo presidente venezuelano nomearia um economista “independente” como Domingo Cavallo para tranquilizar os investidores. A partir daí, a revista nunca mais deixou de errar em -suas avaliações sobre Chávez, cuja derrota previu praticamente a cada ano desde 2001. Errou ainda mais o presidente da Câmara de Comércio EUA-Venezuela, Antonio Herrera: descrevia Chávez como “um pragmático flexível que abandonou slogans de campanha e colaboradores inconvenientes com a maior facilidade”.

Como indicava o nome de seu partido, Chávez não se propunha apenas a fazer um governo de centro-esquerda, muito menos usar o populismo para alavancar reformas neoliberais. Queria refundar a república e foi o que fez. Tomou posse em fevereiro. Em abril, 88% dos eleitores aprovaram em referendo a convocação de uma Constituinte, formada em 95% por seus partidários, eleitos em julho.

Em dezembro, a nova Constituição foi aprovada com 72% dos votos. Além de rebatizar o país como República Bolivariana da Venezuela, aboliu o Senado, ampliou os poderes do presidente e das Forças Armadas e criou dois novos poderes independentes além dos três tradicionais: o Eleitoral e o Cidadão. A popularidade de Chávez continuou a aumentar, -tanto -pelas obras sociais promovidas pelas Forças Armadas quanto pela recuperação dos preços do petróleo que favoreceu ao acabar com a tradição venezuelana de burlar as quotas da Opep.

Por outro lado, começou a perder aliados de primeira hora, que o acusaram de “autocrata” e a ganhar a hostilidade da classe média e da Igreja. Mesmo assim, em 2000, foi reeleito sob a nova Constituição com uma maioria ainda mais ampla. Tratou de recuperar o controle estatal do setor de petróleo (minado pela abertura do setor a transnacionais desde Pérez e pela autonomia conferida à PDVSA pelo governo Caldera ao preparar sua privatização) e estabelecer a aliança com Fidel Castro, que lhe forneceu professores, médicos e assistência técnica em troca de petróleo.

A fúria da direita desembocou no fracassado golpe de abril de 2002. Chávez foi capturado e por um dia e meio, o empresário petroquímico Pedro Carmona, presidente da federação das indústrias, agiu como ditador com apoio da mídia, de Washington e do FMI, revogou a Constituição, anunciou a ruptura com Cuba e a Opep e anunciou a privatização do petróleo. Acabou expulso pelas massas populares mobilizadas pela militância chavista e pela ameaça de bombardeio pelos militares fiéis ao presidente, que também recebeu o apoio da maioria dos governos sul-americanos. Os antichavistas não se deram por vencidos. Apostavam no desgaste do governo ante a queda do preço do petróleo por efeito da crise estadunidense e promoveram um locaute nacional e a paralisação da PDVSA de dezembro de 2002 a fevereiro de 2003.

Foi um duplo erro da oposição. O golpe revelou seu perfil intolerante, truculento e elitista e a greve deu a Chávez oportunidade e apoio popular para afastar executivos e sindicalistas hostis, demitir 18 mil (metade dos funcionários) e assumir o controle total da estatal no momento em que os preços do petróleo voltavam a disparar e a economia se recuperava, proporcionando uma enorme ampliação dos programas sociais.

Além disso, a tentativa de golpe queimou as pontes entre o governo e a oposição tradicional. Até então, o -discurso chavista mantinha-se próximo daqueles do peruano Velasco e do panamenho Torrijos (embora mais democrático que ambos), identificando o “bolivarianismo” como uma terceira via nacionalista e popular entre o capitalismo e o socialismo clássico. A partir de 2004, radicalizou-se e em janeiro de 2005, no V Fórum Social Mundial, Chávez adotou a palavra de ordem marxista do “socialismo do século XXI”, proposta pelo sociólogo e professor da Unam Heinz Dieterich Steffan, e formalizou acordo com Cuba na Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba). Em 2007, transformou seu movimento no Partido Socialista Unificado Venezuelano (PSUV).

Em 2004, Chávez derrotou nas urnas, sem dificuldade, a tentativa da oposição de tirá-lo do poder por meio do mecanismo de revogação de mandato criado por sua própria Constituição e, em 2005, a oposição cometeu outro grande erro ao boicotar as eleições parlamentares para tentar deslegitimá-las. Conseguiu apenas dar uma maioria esmagadora ao chavismo e lhe possibilitar aprovar o que quisesse.

O prestígio internacional de Chávez cresceu com a eleição de seu aliado Evo Morales, na Bolívia, em 2005, e de Rafael Correa, no Equador, e Daniel Ortega, na Nicarágua no ano seguinte, que se uniram à Alba e promoveram reformas sociais e constitucionais semelhantes. A rejeição das elites acentuou então sua face mais brutal e racista. Chávez não só foi classificado como “tirano” pela mídia conservadora de todo o continente, como regularmente ameaçado de morte e ofendido como “macaco”, “gorila”, “negro” e “zambo (cafuzo) de m…” nos meios de seu país, assim como Evo foi rejeitado por ser “índio” ou “colla”.

Quanto ao desempenho econômico, a era Chávez é medíocre, mas não desastrosa. O crescimento médio do PIB, desde a sua posse é de 2,75% ao ano, melhor que o do México (2,39%), e um pouco abaixo do Brasil (3,20%), Argentina (3,58%) e Chile (3,97%). Nunca houve um programa de estabilização e a inflação segue na casa dos 20% (era 36% no último ano de Caldera), similar à da Argentina (maquiagem à parte) e acima do resto da região. Mas a melhora dos indicadores sociais é clara: a população atingida pela fome (segundo a FAO) caiu de 20%, em 2002, para 2%, em 2012 e o índice Gini de concentração de renda caiu de 48,65, em 1992, para 39,28, em 2009 (o do Brasil foi de 60,02 para 54,27).

A exasperação dos conservadores atingiu o auge após a não renovação da concessão para tevê aberta da arqui-inimiga e golpista RCTV (que continua a transmitir a cabo), mas foi fútil. Apesar das periódicas dificuldades econômicas e das previsões de analistas em contrário, Chávez venceu todas as eleições desde 1998, exceto (por margem minúscula) o plebiscito de 2007 sobre a reforma socialista da Constituição. Isso foi parcialmente compensado pela vitória no plebiscito de 2009, que lhe permitiu candidatar-se ao quarto mandato em 2012 e novamente vencer, apesar da oposição do ex-golpista Capriles ao recorrer a uma estratégia mais inteligente, se comparar a Lula e aceitar o discurso social do bolivarianismo.

E o que é o bolivarianismo? Apesar da ira das direitas latino-americanas e das esperanças de parte das esquerdas, não chega a ser socialismo no sentido que Che Guevara dava à palavra. Chávez teve o apoio de um círculo minoritário de empresários, a chamada “boliburguesia” e não parece cogitar de estatização em massa ao estilo stalinista. Latifúndios foram expropriados para a reforma agrária e algumas transnacionais hostis foram nacionalizadas, mas essas medidas só se destacam contra o fundo de extremismo neoliberal que as precedeu. Em outras épocas, teriam sido reconhecidas como reformistas, como foram as de governos nacionalistas da Índia, Egito, Peru e outros países do chamado “terceiro mundo” até os anos 1970. Em nenhum momento o chavismo censurou a imprensa ou rompeu com as práticas da democracia. Acatou sem discutir a derrota da proposta de mais “socialismo”, em 2007, e o ímpeto reformista arrefeceu à espera de condições políticas mais favoráveis.

O que não dá para negar foi seu caráter personalista e supercentralizado. A teimosia de Chávez em decidir sobre praticamente tudo, não designar sucessor, romper com ex-aliados que dele discordavam e conferir poder demais a incompetentes ou corruptos que mostrem fidelidade incondicional prejudicam visivelmente sua popularidade. Nem por isso ele mudou de atitude, mesmo ao saber da gravidade de sua doença. Assinou leis e decretos no leito do hospital e, como se pensasse ser imortal e insubstituível, não cogitou de um afastamento temporário e muito menos ceder a candidatura. Até o gesto simbólico de 10 de dezembro, no qual entregou a espada de Bolívar, símbolo do poder presidencial, a Maduro.

Apesar dos defeitos, Chávez permanecerá como um rosto – talvez não o mais bem-sucedido, mas certamente o mais ruidoso e expressivo – da virada histórica da América Latina deste início do século XXI, na qual as massas populares nativas e mestiças, após cinco séculos de marginalização, começam a conquistar a inclusão econômica e o protagonismo político e as elites a ceder parte do que sempre julgaram ser seu direito de nascença. Não se trata de ideias fundamentalmente novas, mas de dar conteúdo real a uma retórica nacionalista que é moeda corrente, mas sem lastro, desde o tempo de Bolívar – o que se mostra, para os privilegiados, muito mais assustador.

Por suas origens e pela coerência, embora rude e teimosa (e nem sempre perspicaz), com os próprios ideais declarados, o venezuelano conquistou um papel simbólico que líderes mais pragmáticos e ambíguos não podem ocupar inteiramente, mesmo se governam países maiores com índices de popularidade ainda mais altos. Seus esforços de cooperação e articulação ideológica internacional contra o imperialismo ganharam uma projeção que ultrapassa o continente: as esquerdas francesas e gregas, por exemplo, admitem sua influência. Com um rosto com o qual o povo pode se identificar, desafiou as elites e as potências com uma voz que o cidadão comum pode entender e esforçou-se por cumprir suas promessas e encorajar as massas a se apossar de fato da pátria que sempre lhe disseram ser sua, sem que isso saísse da teoria. É bem possível que, como outros líderes do passado, inspire gerações – e se falhar nisso, terá sido mais pela relutância em fortalecer discípulos e sucessores com luz própria do que por quaisquer outros erros.
 













Apenas corrigindo Luiz Costa. Não existe "outra questão" no fato de Chavez ter ficado 14 anos no poder. Como dizem os defensores do mito "democracia", a alternância no poder é importante. Nesse caso, ou se aceita que a alternância não é tão importante assim, ou que Chavez governava a Venezuela por vias não democráticas.
Em meu ponto de vista,  alternância só é válida se significa melhoria real para a qualidade de vida do povo. 
No caso Chavez, por ter sido eleito diversas vezes, aparentemente era o que o povo considerava. Então, nessas condições não há problema. Até mesmo porquê a democracia é um ser tão mitológico quanto o Papai Noel.