"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, março 30, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 30/03/07

Paraná quer banir uso de sacola plástica

Sacolas usadas por supermercados geram 81 toneladas de lixo todos os dias. A reportagem é de Jorge Olavo e foi veiculada na Gazeta do Povo, 17-03-2007.

A cada dia, pelo menos 2,7 milhões de sacolas plásticas são distribuídas em 2.613 supermercados paranaenses para facilitar o transporte das compras até a casa do cliente. Isso representa cerca de 81 toneladas de plástico que têm como destino aterros sanitários ou o próprio meio ambiente e outras 25 toneladas que iniciam um novo ciclo em usinas de reciclagem. "De cada 100 sacolas, 76 delas eu não sei para onde vão, eu perco para o meio ambiente. Acaba-se gerando um passivo ambiental", explica Laerty Dudas, coordenador do programa estadual Desperdício Zero.

Os números se baseiam na estimativa divulgada pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema) de que 80 milhões de sacolas são usadas nos supermercados do Paraná todos os meses. Entretanto, há quem conteste esse valor.

Baseado na distribuição mensal de 15 milhões de sacolinhas em Maringá, o presidente da Fundação Verde, Cláudio José Jorge, acredita que o total do estado esteja em torno de 500 milhões de sacolas por mês - o que representaria cerca de 666 toneladas de plástico por dia, tornando o problema ainda mais grave.

Para amenizar esse impacto ambiental, a Sema e o Ministério Público (através do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Proteção ao Meio Ambiente) intimaram a Associação Paranaense de Supermercados (Apras) para que apresentasse a eles soluções alternativas para o problema até ontem. Dudas conta que esse foi o reflexo de algumas reuniões feitas com o setor e que não surtiram nenhum resultado satisfatório. "Queremos que todos os setores dêem apoio logístico às indústrias recicladoras e participem do processo", afirma o coordenador.

A intenção do secretário da Sema, Rasca Rodrigues, é fazer com que os empresários do setor assinem um documento em que se comprometam a auxiliar de alguma forma na preservação do meio ambiente. "O supermercado que não assinar o termo de compromisso com as metas e forem encontradas sacolas dele em aterros será autuado pela lei de crimes ambientais", alerta Rodrigues. O secretário adianta que a mesma medida deve ser adotada posteriormente com outros setores, como farmácias e lojas.

Entre as propostas da Sema estão a adoção de sacolas oxibiodegradáveis no lugar daquelas feitas com plástico convencional e a implantação de postos de coleta de embalagens recicláveis dentro dos supermercados. Já Dudas acredita que a melhor solução seja abolir a entrega de sacolas - idéia compartilhada pelo engenheiro ambiental Nicolau Leopoldo Obladen. "O ideal é não produzir sacola. O melhor é você levar a sua sacola ou o seu carrinho de casa, como acontecia antigamente", afirma ele, que também é professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

A resposta da Apras, protocolada ontem, diz que a associação concentrará esforços para promover debates entre os afiliados e continuará incentivando os supermercados a gerenciar resíduos sólidos, o que já vem sendo feito em algumas redes. Caso a sacola oxibiodegradável seja "segura, adequada e necessária", a Apras também estimulará o uso delas pelas redes supermercadistas. Entretanto, em nota, a associação afirma que o valor desse tipo de material é 10% superior ao preço do plástico convencional e busca a dedução de impostos para que se possa viabilizar a utilização das sacolas. Segundo a Apras, os supermercados paranaenses chegam a reciclar 29,3% do lixo que produzem - aproximadamente 774 toneladas por mês.

As sacolas oxibiodegradáveis têm em sua composição um princípio ativo que faz com que elas entrem em processo de decomposição a partir do contato com luz, calor e outros fatores ambientais. O oxigênio faz com que o plástico se transforme em fragmentos moleculares que acabam convertidos por microorganismos em água, dióxido de carbono (CO2) e biomassa. O tempo do processo varia de acordo com a quantidade de aditivo colocada, podendo levar 18 meses ou apenas 60 dias. Estudos mostram que o plástico comum pode levar centenas de anos para se decompor no meio ambiente.

Indústria contesta biodegradação

O presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico no Estado do Paraná (Simpep), Dirceu Galléas, contesta a eficácia das sacolas oxibiodegradáveis. Para ele, a biodegradação não existe, o que faria com que micropartículas de plástico ficassem espalhadas no solo. Galléas ainda aponta que o volume de sacolas representa menos de 3% da quantidade de plástico que tem dentro de um supermercado.

Entretanto, Laerty Dudas, coordenador do Programa Desperdício Zero, apresenta um relatório com uma série de testes que são feitos para comprovar a decomposição do material e diz que esse tipo de sacola já é usado em países da Europa, assim como no Japão, Canadá e Estados Unidos.

No Paraná, a precursora da sacola oxibiodegradável foi a rede de supermercados Cidade Canção, de Maringá. O projeto-piloto começou em novembro passado em uma loja e no fim de janeiro já havia se expandido para outros nove estabelecimentos. Pelos cálculos do diretor-presidente do grupo, Carlos Alberto Tavares Cardoso, isso corresponde a um gasto extra anual de R$ 100 mil. "Eu entendo que o consumidor vai saber valorizar quem está preocupado com o meio ambiente. Toda a sociedade também está preocupada com isso", afirma.

Instituto Humanitas Unisinos - 30/03/07

San Francisco proíbe uso de sacolas de plástico


"Este dia demorou a chegar", disse Ross Mirkarimi nos degraus da Prefeitura de San Francisco nesta semana, rodeado por caixas e recipientes de sacolas recicladas. "Podemos dar passos para tornar nossa economia um pouco mais nobre", afirmou. "O destino está do nosso lado." Resumindo, cidade que ele governa está se livrando das sacolas plásticas de compra. A reportagem é da revista The Economist e traduzida pelo jornal Valor, 30-03-2007.

E com muita razão. As sacolas plásticas são um transtorno para a cidade; acabam presas nos galhos das árvores, levam anos para se decompor e elevam a demanda por petróleo, usado para produzi-las.

Proibir as sacolas plásticas reduzirá o consumo de petróleo em 3 milhões de litros por ano só em San Francisco, diz a prefeitura. Menos de 5% das 100 bilhões de sacos que são jogados fora nos EUA a cada ano são reciclados.

O secretário de Meio Ambiente da cidade, Jared Blumenfeld, diz que a proibição reduzirá o volume de lixo e o custo de removê-lo: cada vez que um funcionário é enviado para tirar os sacos das árvores, o custo é de US$ 150. Além disso, as sacolas de papel reciclado e de matérias compostos (feitos de goma de batata ou de milho) ajudarão a reduzir o lixo orgânico dos aterros, já que uma parte será usada para produzir os sacos. As pessoas seriam estimuladas a reciclar mais se tivessem sacolas biodegradáveis, diz. Blumenfeld espera que a taxa geral de reciclagem de San Francisco (hoje em 69%, mais que o dobro da de Nova York) chegue a 80%.

Outras cidades podem seguir a idéia. Los Angeles, Santa Monica, Oakland e Berkeley promovem medida similares. Em Nova York, fala-se em restrições ou algum tipo de imposto. Os grupos de pressão política que defendem os sacos plásticos agiram ativamente para tentar impedir a proibição em San Francisco, precisamente porque temiam que a medida pudesse se espalhar pelo resto do país.

Mas a Califórnia não pode reivindicar vanguarda nessa área. Em Taiwan e na Irlanda, é preciso pagar pelos sacos plásticas. Em Ruanda, Butão, Bangladesh (onde as sacolas causam enchentes ao entupir os bueiros), África do Sul (onde a distribuição do produto pode dar cadeia) e na cidade de Mumbai (Índia), as sacolas já são proibidas. Paris se juntará à lista no fim do ano, e o resto da França em 2010. Mas, as sacolas são só o começo: há muitas outras embalagens que se amontoam nos aterros.

Instituto Humanitas Unisinos - 30/03/07

Redução do perfil do consumo de energia. Artigo de Washington Novaes

"Uma avalanche de discussões e teses no Brasil sobre o etanol e o biodiesel, infelizment, (estão) focadas quase só nos aspectos econômicos dessas energias da biomassa, esquecidas da política de mudanças climáticas, das imprescindíveis discussões sobre a matriz energética (que coloquem eficiência energética e conservação de energia como prioridades, em lugar do aumento da oferta), das políticas para a expansão (onde e como) do agronegócio, de uma estratégia que coloque recursos e serviços naturais no centro de todas as políticas nacionais - por serem a grande vantagem comparativa do País", escreve Washington Novaes em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 30-03-2007.

Eis o artigo.

"Ainda que se queira, é difícil fugir ao tema das mudanças climáticas, tal a sua relevância e o caudal de informações a respeito, desde o susto que a comunicação levou no começo do ano com a divulgação do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e do estudo sobre conseqüências econômicas das mudanças do clima, coordenado pelo ex-economista-chefe do Banco Mundial sir Nicholas Stern. Ao que parece, devemo-nos preparar para outro alvoroço, com a divulgação, prevista para o período de 2 a 6 de abril, do relatório do Grupo II do IPCC, agora com informações científicas e socioeconômicas sobre impactos das mudanças, vulnerabilidade de cada região e a necessidade de cada país a elas se adaptar.

Para se ter idéia da inquietação que tais informações podem despertar, basta lembrar a discussão da semana passada no Rio de Janeiro, promovida pela UFRJ. Ali, especialistas em clima disseram ser indispensável iniciar imediatamente um levantamento topográfico da Baixada Fluminense, para definir as áreas em que será preciso erguer diques contra inundações inevitáveis com os novos padrões climáticos e a elevação do nível do mar; da mesma forma, seria necessário colocar mais 1 milhão de metros cúbicos de areia na faixa de praia Ipanema-Leblon para enfrentar os novos tempos.

Também não é difícil prever a controvérsia em torno da proposta que sir Nicholas Stern apresentou em Jacarta, Indonésia. Disse ele que a próxima reunião da Convenção do Clima precisa criar um sistema de pagamento dos países industrializados aos detentores de florestas tropicais - como Brasil e Indonésia - para que reduzam suas taxas de desmatamento em 50% (o Brasil é o maior desmatador, segundo a ONU, com 73% das perdas na América do Sul) e assumam compromissos de conservação. Pensa ele que US$ 15 bilhões anuais deveriam ser destinados a esse sistema. Mas também acha indispensável que países como China, Índia e Brasil assumam compromissos de reduzir suas taxas de emissões de poluentes. As duas propostas são polêmicas entre os países a que se destinam.

Desde 1992, na Conferência do Rio de Janeiro, o Brasil tem-se oposto a uma convenção sobre florestas, por entender que assumir compromisso de conservação de florestas implica restrições à soberania no uso de recursos naturais e prejuízos. Esse mesmo motivo (restrições ao desenvolvimento econômico baseado no uso de recursos naturais) tem lastreado a oposição brasileira, chinesa e indiana a compromissos de redução de emissões. No lugar disso, na última reunião da Convenção do Clima, em Nairóbi, o Brasil propôs o pagamento pelos países industrializados a nações que consigam reduzir o desmatamento - mas sem assumir compromissos de redução (o que torna inócua a proposta).

Conseguirá avançar a proposta de Stern? Argumentos não lhe faltam. A Indonésia, por exemplo, já está assumindo o terceiro lugar entre os maiores emissores de poluentes do planeta, com 3,01 bilhões de toneladas anuais - e 85% disso (2,56 bilhões de toneladas) se deve a desmatamentos e queimadas, estas inclusive em áreas de turfa (para plantio de palma destinada à produção de biodiesel e plantio comercial de madeiras), com forte liberação de carbono. No Brasil, as emissões em conseqüência de desmatamentos, queimadas e mudanças no uso do solo respondem por 75% das emissões totais de dióxido de carbono. Já a China, segundo o Dioxide Information Analysis Centre, pode até ultrapassar os Estados Unidos este ano como maior emissora, já próxima de 6 bilhões de toneladas anuais e com um crescimento torno de 10% a cada ano. Mas argumenta que suas emissões per capita estão em 3,2 toneladas/ano, enquanto a média mundial é de 3,7 toneladas anuais e nos Estados Unidos chegam a 20 toneladas anuais. Além do mais, dizem os chineses, boa parte de suas emissões ocorre na produção de bens consumidos nos Estados Unidos.

Tudo isso acontece em meio a uma avalanche de discussões e teses no Brasil sobre o etanol e o biodiesel, infelizmente focadas quase só nos aspectos econômicos dessas energias da biomassa, esquecidas da política de mudanças climáticas, das imprescindíveis discussões sobre a matriz energética (que coloquem eficiência energética e conservação de energia como prioridades, em lugar do aumento da oferta), das políticas para a expansão (onde e como) do agronegócio, de uma estratégia que coloque recursos e serviços naturais no centro de todas as políticas nacionais - por serem a grande vantagem comparativa do País.

Vale a pena citar o professor Antônio Barros Castro, hoje no BNDES: “No que se refere ao álcool, assim como à madeira e outras matérias-primas orgânicas, é preciso não explorar apenas recursos naturais, mas desenvolver soluções que multipliquem os usos dos recursos e resíduos de forma ambientalmente amigável. Esta é uma fronteira tecnológica e econômica que nós temos que desenvolver aqui, no Brasil, envolvendo tanto empresas nacionais como estrangeiras. O etanol não deve ser considerado meramente um combustível, mas uma porta de entrada na revolução biotecnológica que tem como foco as cadeias de carbono, e produzir também sucedâneos para plásticos, metais, fármacos - as possibilidades são ilimitadas” (Valor Econômico, 25/3).

Ou, então, o professor Ignacy Sachs: “Temos que começar a colocar no centro da estratégia a redução do perfil do consumo de energia, o aumento da eficiência no uso final, e só depois, em terceiro lugar, o problema dos substitutivos.” Também será indispensável, diz ele, compatibilizar biocombustíveis com segurança alimentar, com agricultura familiar.

É preciso prestar atenção. Este é um momento de decisões cruciais."

instituto Humanitas Unisinos - 30/03/07

Zaffari. Mais uma empresa gaúcha à venda?

O Grupo Pão de Açúcar está prestes a comprar a rede de hipermercados do grupo gaúcho Zaffari. A notícia é da jornalista Sonia Racy e foi publicada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, 29-03-2007. Segundo a jornalista, o negócio está quase acertado e o Pão de Açúcar já definiu que não pretende manter o Shopping Bourbon, que está sendo construído em São Paulo: deve ser transformado em hipermercado diferenciado.

Hoje, 30-03-2007, sob o título "Tempo, senhor da razão", a jornalista escreve no mesmo jornal:

"O Grupo Zaffari enviou e-mail a esta coluna negando veementemente que esteja em negociações com o Grupo Pão de Açúcar, conforme publicado nesta coluna.

E que vai manter os planos para o Bourbon Shopping Pompéia, que será inaugurado até o fim do ano."

Instituto Humanitas Unisinos - 29/03/07

'A economia brasileira está virando uma economia de serviços', constata economista da FGV

A revisão do PIB revelou que o Brasil está se tornando um país mais especializado em serviços do que em indústria, diz o economista Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Trata-se, segundo ele, de uma economia que, para crescer, depende mais do fator trabalho que do investimento, cujo padrão está mais para a Índia do que para a China. Ele concedeu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, 29-03-2007.

Eis a entrevista.

Qual a cara do economia brasileira depois da revisão do PIB?

Aprendemos com essa revisão que a economia brasileira está virando uma economia de serviços. A participação dos serviços no PIB cresceu quase 10%, enquanto a da indústria e da agricultura caíram na mesma proporção.

O que isso significa na prática?

Uma economia baseada em serviços depende muito mais do fator de produção trabalho que do investimento para crescer. Isso explica o fato surpreendente de que investimos menos do que imaginávamos e crescemos mais do que também imaginávamos. O setor de serviços é de mão-de-obra intensiva e utiliza menos capital do que a indústria.Eu diria que o nosso crescimento se assemelha mais ao da Índia do que o da China.

E quando vamos crescer os mesmos 7% que têm sido registrados pela Índia?

A Índia cresce o dobro do que estamos crescendo. Mas eu acho que não é comparável. A renda per capita no Brasil é muito maior do que a da Índia e ainda maior do que a da China. Não me parece razoável que uma economia com a renda per capita que nós temos cresça à mesma velocidade da Índia ou da China. Acho que uma taxa de crescimento 5% ao ano, com inflação controlada e situação externa folgada é mais do que razoável para uma economia como a nossa.

Para crescer acima de 5%, o País precisa mesmo investir 25% do PIB?

Isso mudou. A economia está crescendo mais com menos investimento. Essa é uma boa notícia. Mostra que o investimento é mais eficiente do que a gente imaginava.

O que é preciso para fazer o investimentos crescer mais?

Eu acho que desonerar, reduzir a carga tributária. O ato de investimento deveria ser totalmente desonerado, não deveria incidir nenhum imposto na aquisição de máquinas ou na construção civil de uma fábrica. O investimento deveria ser totalmente desonerado. E deveria se permitir um contrato de trabalho mais flexível, o que facilitaria muito a vida dos setores industriais intensivos em mão-de-obra.

O novo PIB de 2006 surpreendeu?

Para mim, sim, tudo está me surpreendendo. A gente tinha um cenário de uma economia que crescia 2,5% ao ano, desde os anos 80. Em quatro anos do governo Lula,. o crescimento foi de 2,7%. Agora, a gente soube que o crescimento foi de 3,3%. Isso muda toda a análise da economia brasileira.

Qual sua previsão de crescimento para este ano?

Não vai ser muito diferente dos 3,7% do ano passado. Talvez um pouco menos, alguma coisa entre 3,5% e 4%, mais para 3,5%. Acho que a economia acelerou o ritmo nos últimos anos, mas agora está rodando em céu de brigadeiro. Já me parece uma excelente notícia, porque é quase um ponto porcentual acima do que vinha rodando desde os anos 80.

Instituto Humanitas Unisinos - 29/03/07

A venda do Grupo Ipiranga. Fundo dos EUA teve lucro de R$ 1,1 milhão

A maior parte dos 26 investidores investigados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Ministério Público Federal por suspeita de uso de informação privilegiada no caso da venda do Grupo Ipiranga é formada por pessoas físicas. Mas é do fundo de investimentos norte-americano, cujo nome não foi ainda divulgado, a maior aplicação e lucro nominal mais vultoso com a operação até agora. A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 29-03-2007.

Segundo o procurador da República Sady Assumpção Torres Filho, que coordena a ação do Grupo de Mercado de Capitais do Ministério Público, o fundo investiu R$ 2,5 milhões e teve ganho de 44%, o que equivale a R$ 1,1 milhão. O dinheiro faz parte dos quatro lotes bloqueados judicialmente. 'Já temos elementos para o pedido de ação civil pública', disse ontem Torres Filho.

Ele detalhou as operações do fundo com sede no Estado norte-americano de Delaware, que diluiu as aplicações por três dias. 'No dia 14 (cinco dias antes do anúncio da compra da Ipiranga pelo consórcio Petrobrás, Braskem e Ultra), o fundo bancou uma pequena alta nas ações (ordinárias da Refinaria Ipiranga). No dia 15, voltou a promover alta, com nova compra. E no dia 16 apostou todas as fichas. O ganho foi de 44%', comentou Torres. Outros investidores, com aplicações menores, chegaram a ganhar 69%, comprando e vendendo os papéis num prazo de três dias.

O diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, disse ontem, em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, que a estatal terá uma posição 'muito forte' em relação ao suposto vazamento de informações. Um dos suspeitos de ter se beneficiado da informação privilegiada é, justamente, um gerente do grupo estatal, mais especificamente, da BR Distribuidora.

Na audiência na Câmara, representantes dos trabalhadores manifestaram preocupação com a concentração no setor petroquímico depois da venda do Grupo Ipiranga. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Pólo Petroquímico do Rio Grande do Sul, Carlos Eitor Rodrigues, também manifestou preocupação dos trabalhadores do setor com possíveis demissões.

Instituto Humanitas Unisinos - 29/03/07

"Passamos do ponto" no clima, diz David King, conselheiro científico de Tony Blair

O Protocolo de Kyoto não serve mais. Se a humanidade quiser lidar com o maior problema já enfrentado pela civilização, o da mudança climática, soluções mais radicais precisam ser tomadas. E isso inclui metas de redução de emissões de gases de efeito estufa até para países pobres, como o Brasil. Quem dá a mensagem é o físico britânico (nascido na África do Sul) David King. Conselheiro científico do premiê Tony Blair, Sir David foi o mentor das decisões britânicas de cortar 60% das suas emissões até 2050 e de fazer do clima uma prioridade de governo.

Ele veio ao Brasil para lançar hoje em Brasília o Ano Brasileiro-Britânico de Ciência e Inovação, no qual será discutida a cooperação para a produção de fármacos a partir da biodiversidade, entre outros assuntos. Mas o cavaleiro de Sua Majestade tem uma outra agenda: preparar o Brasil para a reunião do G8 em junho, na Alemanha, na qual a União Européia pressionará os renitentes Brasil, África do Sul, China, Índia, México e EUA a seguir sua liderança no combate ao aquecimento. "A Convenção do Clima da ONU foi montada sobre a idéia de que precisávamos evitar a mudança climática perigosa. Nós passamos do ponto de poder evitá-la. O que falamos agora é de evitar a mudança climática catastrófica", diz, com autoridade moral de um país que reduziu suas emissões em 14% em relação a 1990 e cresceu 40% nesse mesmo período. Ontem, dentro de um carro, num engarrafamento em São Paulo, King deu a seguinte entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, 29-03-2007.

A última vez que o sr. veio ao Brasil o sr. trouxe uma mensagem de que os gigantes do Terceiro Mundo deveriam se comprometer a metas num regime pós-Kyoto. Como o sr. espera fazer esses países aceitarem essas metas?

"Fazê-los" não é a frase que eu usaria. O que estamos fazendo no Reino Unido é tentar desfazer o nó. Estamos fazendo o G8+5 na Alemanha em junho. No Reino Unido e na UE, estamos nos comprometendo unilateralmente a reduzir emissões em 60% até 2050 no Reino Unido e em 20% até 2020 na UE. Temos um esquema de comércio de emissões funcionando desde 2005. É claro que gostaríamos de ver o comércio de emissões globalizado, mas entendemos os problemas em torno disso. Não estamos apenas dizendo que este é o único jeito de fazer. Estamos dizendo: "Isso é o que nós estamos fazendo, mas o que vocês estão fazendo"?

Se você falar de metas com o governo brasileiro, eles vão dizer que já estão dando uma enorme contribuição ao reduzir o desmatamento na Amazônia, portanto medidas voluntárias bastariam.

E o que nós diríamos é: a sua análise no Brasil do efeito do desmatamento é uma contribuição a emissões que são de cerca de 15% do total global. Há ainda muita contribuição ao nível global do CO2 na atmosfera.
Nós reconhecemos que nossas emissões históricas e nossa economia são diferentes das do Brasil, mas algum tipo de meta precisa ser estabelecido. Estamos defendendo que a meta global seja entre 450 e 550 partes por milhão de CO2 na atmosfera [hoje estamos em 385]. Se pudermos obter acordo internacional para manter o nível global nessa faixa, poderemos aceitar um processo no qual o Brasil ofereça algo diferente dos EUA, por exemplo.

O Brasil tem sido criticado por se manter pouco pró-ativo e apegado aos princípios da Eco-92, segundo os quais as nações ricas têm mais responsabilidade de agir que as nações pobres. O sr. acha que esses princípios envelheceram?

Sim. E, a propósito, os princípios de Kyoto talvez não sejam mais apropriados. Precisamos de uma discussão aberta na qual reconheçamos que o tempo passou e que nossa compreensão do problema avançou. A Convenção do Clima da ONU foi montada sobre a idéia de que precisávamos evitar a mudança climática perigosa.

Nós passamos o ponto de poder evitar a mudança climática perigosa. O que falamos agora é de evitar a mudança climática catastrófica. Estamos numa situação totalmente diferente. A urgência e a magnitude do problema são muito maiores. Precisamos abandonar nossas velhas posições e discutir o maior problema -eu não estou exagerando- que nossa civilização jamais precisou enfrentar.

Por que o sr. acha que a mudança climática de repente ganhou tanta publicidade?

A evidência científica tem se acumulado semanalmente. Se você olhar para o verão de 2003 na Europa Central, a análise mostrou que, se a curva de temperatura fosse uma linha reta, aquilo já seria um evento que só ocorre a cada mil anos. Mas a linha não é reta, ela é ascendente. O verão médio hoje na Europa é tão quente quanto o mais quente do século 20, o de 1947. A outra questão é que o governo britânico, ao propor em 2003 uma meta de 60% de redução de emissões em 2050, levantou muita curiosidade. Nós levantamos o perfil da questão. Espero que não seja só um modismo.

Mas houve uma "bolha" dessas em 1992.

Mas há uma diferença importante agora: o setor privado está se preocupando com isso. E, quando eles resolvem investir dinheiro, é porque o assunto é sério.

O Reino Unido conseguirá reduzir suas emissões em 60% sem o uso maciço de energia nuclear?

Não. Precisaremos de mais uma geração de novas usinas nucleares para chegar lá.

O sr. é a favor?

Eu estou aconselhando o governo de que nós precisamos dela. Temos problemas que todos entendemos: o urânio vai ficar escasso, temos a proliferação nuclear, o lixo nuclear, mas dados todos esses problemas e a magnitude do problema maior da mudança climática, nós precisamos disso. É por isso que eu falo de mais uma geração, porque precisamos de tempo antes que novas tecnologias, como a fusão nuclear, possam chegar ao mercado. Precisaremos substituir todos os nosso reatores até 2030. E, mesmo até 2020, precisaremos trocar 80% dos nosso reatores. Se o Parlamento aprovar, será um programa grande.

Instituto Humanitas Unisinos - 29/03/07

Desemprego aumenta e renda cai, diz Dieese

O desemprego em seis regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Distrito Federal, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo) ficou em 15,9% da População Economicamente Ativa (PEA) em fevereiro, ante 15,3% em janeiro. A informação consta na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada ontem pela Fundação Seade e pelo Dieese, que a partir deste mês passa a unificar o calendário de divulgação das regiões metropolitanas. A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 29-03-2007.

Segundo a PED, o número de desempregados nas seis regiões metropolitanas em fevereiro era de 3,05 milhões de pessoas, um aumento de 116 mil pessoas em relação a janeiro.

Em São Paulo, o índice de desemprego é de 15,3%, ante 14,4% em janeiro. O contingente de desempregados foi estimado em 1,54 milhão de pessoas, resultante da eliminação de 94 mil vagas em fevereiro e saída de 4 mil pessoas do mercado de trabalho, o que resultou no acréscimo de 90 mil pessoas ao total de desempregados nos 39 municípios da Grande São Paulo.

As demais cinco regiões metropolitanas obtiveram as seguinte taxas de desemprego: 17,9% no Distrito Federal; 12,9% em Belo Horizonte; 12,3% em Porto Alegre; 20,4% no Recife; 22,3% em Salvador.

Por atividade, as seis regiões metropolitanas tiveram as seguintes oscilações: Na indústria, menos 2,5%, com eliminação de 65 mil ocupações; nos serviços, menos 0,6%, com corte de 50 mil vagas; no comércio, 0,8%, com a criação de 22 mil postos; na construção civil, de 0,9%, com mais 18 mil vagas.

Os chamados outros setores, que incluem serviços domésticos, por exemplo, tiveram oscilação de menos 2,5% em fevereiro ante janeiro, o que resultou na eliminação de 37 mil vagas.

RENDA

Entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007, o rendimento médio real dos ocupados nas seis regiões metropolitanas caiu 1%, para R$ 1.032. Entre assalariados, o valor médio correspondeu a R$ 1.102, uma queda de 0,8% na mesma base comparativa.

'Continuamos com uma renda muito baixa e uma taxa de desemprego elevada, prejudicando a recuperação de renda', disse o gerente de Análise da PED da Seade, Alexandre Loloian.

quarta-feira, março 28, 2007

O Estado de São Paulo - 28/03/07

EUA fazem maior exercício militar no Golfo desde 2003
Treinamento, um recado direto para Teerã, envolve 10 mil soldados, 100 aviões e dois porta-aviões
AP, BAGDÁ

Cerca de 100 aviões americanos cruzaram os céus do Golfo Pérsico ontem, no que foi o maior exercício militar na região desde a invasão do Iraque, em 2003. As manobras envolveram 10 mil oficiais, 15 navios, os dois porta-aviões dos EUA estacionados nas proximidades da costa iraquiana e incluíram a simulação de ataques contra aviões, embarcações e submarinos inimigos.
Realizadas apenas quatro dias depois de militares iranianos terem capturado 15 marinheiros e fuzileiros navais britânicos, elas funcionaram como uma demonstração de força para Teerã. “O comportamento do Irã está levando a uma escalada de tensões”, disse o capitão Bradley Johanson, comandante do porta-aviões USS John C. Stenni. “Ao mostrarmos que temos uma presença forte na região (do Golfo), enviamos um sinal claro de que é melhor eles terem cautela antes de tentar intimidar outros países.”
Teerã sempre reclamou dos exercícios militares realizados pelos EUA em regiões próximas à sua costa. Os americanos, por sua vez, acusam o Irã de treinar e financiar milícias xiitas no Iraque, ajudando a insuflar a violência sectária no país. O apoio americano na ONU à adoção de sanções econômicas mais duras contra Teerã por sua recusa em abrir mão de suas atividades de enriquecimento de urânio aumentou ainda mais as tensões entre os dois países.
Segundo o comandante americano Kevin Aandahl, o principal objetivo das manobras no Golfo não é retaliar o Irã pela captura dos 15 britânicos, mas ele se recusou a dizer quando o treinamento foi planejado. A previsão é que se estenda por mais alguns dias e inclua a participação apenas de aviões e embarcações dos EUA.
“Esses exercícios mostram nossa flexibilidade e capacidade de responder à ameaças à segurança marítima”, disse o tenente americano John Perkins. “Eles são a prova de que podemos manter a segurança do Golfo - uma porta de acesso para a economia global.”
O USS John C. Stennis, chegou às proximidades da costa iraquiana entre segunda e terça-feira, e tem uma tripulação de 6.500 oficiais. O outro porta-aviões americano é o USS Dwight D. Eisenhower, que está na região desde o início da invasão no Iraque. O francês Charles de Gaulle também está estacionado no Golfo, mas sua missão é apoiar as forças da Otan no Afeganistão.

O Estado de São Paulo - 28/03/07

Blair faz dura ameaça contra Irã
Premiê promete partir para ‘fase diferente’ se não conseguir obter libertação de britânicos pela via diplomática
Ap e Reuters, Londres

Irritado com a recusa do Irã em libertar os 15 marinheiros e fuzileiros navais britânicos capturados no Golfo Pérsico na sexta-feira, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, lançou ontem uma dura ameaça contra Teerã: “Se não conseguirmos convencê-los a soltar os marines (pela via diplomática), teremos de partir para uma fase diferente.”
A ameaça foi feita durante entrevista para uma rede de televisão britânica e Blair não esclareceu se entre as novas estratégias estariam o rompimento de laços diplomáticos com o Irã e uma ação militar. Pouco depois, numa tentativa de reduzir o impacto da declaração do premiê, seu porta-voz disse que a Grã-Bretanha está mantendo “um diálogo discreto” com os iranianos e, se isso falhar, o próximo passo será tornar-se “mais explícita” em suas reivindicações.
Os marines britânicos foram detidos por militares em embarcações da Guarda Revolucionária do Irã enquanto participavam de uma operação de patrulha das fronteiras marítimas do Iraque. O episódio desatou uma grave crise diplomática e ameaça aumentar as tensões na região - já elevadas em conseqüência da recente aprovação, no Conselho de Segurança da ONU, de sanções mais duras contra Teerã por sua recusa em suspender seu programa nuclear.
Impulsionada pela crise, a cotação do petróleo no mercado internacional chegou a US$ 63,30 na segunda-feira - a mais elevada do ano. Ontem, ela registrou uma leve queda, fechando a US$ 62,93. A cotação havia subido em parte por rumores de que o Irã teria disparado um míssil contra um navio americano no Golfo Pérsico, o que foi desmentido ontem pela Marinha dos EUA.
O governo iraniano se recusa a libertar os marines alegando que eles invadiram as fronteiras marítimas do seu país e precisam ser interrogados. A Grã-Bretanha, porém, garante que os 15 estavam em águas iraquianas quando foram detidos e diz que pode apresentar provas. “Estamos tentando fazer o governo iraniano entender que essas pessoas devem ser libertadas porque não há nenhuma justificativa para as detenções”, disse Blair.
Preocupada com os rumos do incidente, a chanceler britânica, Margaret Beckett, resolveu interromper ontem uma visita à Turquia para voltar à Grã-Bretanha e administrar a crise. A decisão foi tomada depois de uma pouco animadora conversa telefônica com o ministro de Relações Exteriores iraniano, Manucher Mottaki. “Falei com Mottaki sobre a situação e os eventuais progressos na busca de uma solução, mas lamentavelmente não obtive uma resposta favorável”, disse Beckett.
Em Londres, o secretário de Defesa britânico, Des Brown, presidiu uma reunião do Comitê de Contingência Civil, convocado em momentos de crise. O objetivo, segundo os ministros e autoridades que participaram do encontro, era coordenar as respostas do governo britânico e manter todos os seus altos funcionários informados dos rumos da situação.
Uma das principais reivindicações dos diplomatas britânicos é ter acesso aos marines - que, segundo fontes iranianas, estão em Teerã. O governo do Irã diz que precisa concluir suas investigações antes de permitir tal acesso, mas garante que os prisioneiros estão sendo tratados “com humanidade e respeito” - o que incluiria privacidade garantida para a única mulher do grupo, Faye Turney. “Eles vão passar por um processo legal apropriado”, afirmou o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores iraniano, Mohammad Ali Hosseini.

FRASE
Tony Blair
Primeiro-ministro britânico

“Se não conseguirmos convencê-los a soltar os marines (pela via diplomática), teremos de partir para uma fase diferente. O Irã precisa entender que não há nenhuma justificativa para as detenções”

ATRITOS ENTRE IRÃ E OCIDENTE

Marines - 15 oficiais navais britânicos são presos pelo Irã no Golfo Pérsico, acusados de invadir águas territoriais do país. Grã-Bretanha afirma que militares estavam em águas iraquianas e exige libertação.

Hezbollah - Irã é acusado de financiar e armar a guerrilha xiita durante a guerra contra Israel no Líbano, em 2006.

Iraque - Governo iraniano é acusado de financiar e armar milícias xiitas no Iraque.

Questão nuclear - Irã se recusa a suspender seu programa nuclear. ONU aprovou novas sanções contra o país no dia 25.

O Globo - 28/03/07

Brasil e Itália firmam parceria para produzir etanol em países africanos
Projetos de investimento conjunto devem beneficiar Angola e Moçambique
Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA. Mais uma parceria na produção de etanol e outros combustíveis renováveis foi firmada pelo governo brasileiro. Depois da aliança acertada há três semanas com os Estados Unidos nessa área, os governos do Brasil e da Itália formalizaram ontem um memorando de entendimento que prevê investimentos conjuntos em nações mais pobres, especialmente na África.
Caberá ao Brasil financiar até 30% dos custos, ficando com os italianos o restante. Angola e Moçambique são destinos possíveis da nova parceria entre brasileiros e italianos, firmada durante encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi.
Além do memorando, foi assinado um acordo entre a Petrobras e a ENI (Ente Nazionale Idrocarburi) para o desenvolvimento conjunto de novas tecnologias de produção de biocombustíveis no Brasil e em outros países. Segundo o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, a ENI tem uma planta-piloto em operação na Itália para processamento de óleo pesado.
- Um dos primeiros pontos desse acordo será o envio de amostras de petróleo pesado para essa planta-piloto. Teremos uma avaliação dos testes, do tipo de nosso petróleo, nessa tecnologia - declarou.
Lula conversou com o primeiro-ministro italiano ainda sobre a Rodada de Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC), e o acordo que está sendo discutido entre Mercosul e União Européia.
- Temos de corrigir as injustiças de um modelo de liberalização comercial que ainda não trouxe os benefícios, tantas vezes prometidos, para a maioria dos membros da OMC - afirmou Lula.
Em seu pronunciamento, Prodi disse que há uma vontade comum de "trabalhar para um mundo mais participativo, onde os países mais atrasados possam ter voz ativa".
Entre 2003 e 2006, a balança comercial entre Brasil e Itália passou de US$3,9 bilhões para US$6,4 bilhões. Mas a relação ainda é pequena. A Sérvia, com cerca de 2 milhões de habitantes, mantém comércio com a Itália superior ao do Brasil.
Hoje, chega ao Brasília a chanceler mexicana, Patricia Espisona, para discutir uma nova agenda bilateral com o Brasil, na primeira reunião da Comissão Binacional. Os temas abrangem a integração energética, a concertação política na região e o ingresso dos mexicanos como membros associados ao Mercosul, como Chile, Peru, Bolívia e Equador. COLABOROU Eliane Oliveira

Instituto Humanitas Unisinos - 27/03/07

A crise do transporte no Chile derruba quatro ministros e popularidade de Bachelet despenca

Michelle Bachelet demitiu quatro ministros para resolver o descontentamento ocasionado pelo projeto Transantiago, o novo sistema de transporte coletivo da capital, que mudou todas as rotas dos ônibus, coordenando-os com o metrô e faz com que os passageiros viajem apertados como sardinhas em lata nas horas de pico e com serviço reduzido nos bairros pobres da cidade. A notícia é dos jornais El País e Clarín, 28-03-2007.
Segundo o jornal chileno La Tercera, 27-03-2007, a crise do governo Bachelet é a maior crise vivida pela “Concertação”, a aliança política que governa o país desde a redemocratização. A “Concertação” elegeu dois presidentes da Democracia Cristã (Alwin e Frei) e dois do Partido Socialista (Lagos e Bachelet).
Segundo Benito Baranda, diretor da obra Hogar de Cristo, fundada pelo jesuíta chileno Santo Alberto Hurtado, o projeto “Transsantiago foi a pior humilhação, em muito tempo, para os mais pobres. Se isto não se resolver logo o mal-estar crescerá e a violência será pior”.

Instituto Humanitas Unisinos - 27/03/07

O gasoduto sul-americano é para ser levado a sério, segundo Luís Nassif
"O novo gasoduto intercontinental é para ser levado a sério", afirma Luís Nassif, jornalista, no seu blog, 27-03-2007.
"Ontem participei do “Roda Viva” com José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobrás.
Um dos pontos relevantes tratados é o dos gasodutos, integrando os diversos países da América do Sul.Gabrielli admitiu que existe um grupo de estudos na Petrobrás incumbido de preparar até o final do ano, em parceria com técnicos da PDVESA (venezuelana) um estudo de viabilidade do gasoduto, que deverá integrar a produção venezuelana, boliviana, peruana e argentina.
Há riscos políticos? Historicamente prospecção de petróleo e gás embute riscos geopolíticos consideráveis. Mas não se deve esquecer que a Transiberiana (gasoduto unindo a Rússia à Europa) foi construída em plena Guerra Fria, e jamais deixou de funcionar nos momentos políticos mais tensos. Isso porque obras que permitem integração física entre países, e que amarram interesses dos fornecedores aos dos consumidores (e gasoduto amarra porque cria um cordão umbilical entre o fornecedor e o consumidor cativos), contribuem para a estabilidade da região.
Por isso mesmo, não dá para condenar o governo FHC por ter autorizado o gasoduto Brasil-Bolívia, mesmo sabendo-se da instabilidade crônica da Bolívia, e mesmo ainda não se tendo um mercado para o gás no Brasil. E não dá para condenar o novo gasoduto que está sendo pensado, apenas pelos arroubos de Hugo Chávez na Venezuela.
O desfecho da crise boliviana mostrou o potencial e os limites de instabilidade de uma crise dessas. Mostrou também que há regras de negociação que foram utilizadas na Bolívia pela Petrobrás. Aliás, a história de que a Petrobrás foi “complacente” com a Bolívia na crise do ano passado, não resiste a uma comparação óbvia: todos os demais países vítimas da desapropriação de Evo Morales agiram exatamente da mesma forma que a Petrobrás. Definidas as novas regras do jogo, voltarão de novo à Bolívia, mesmo correndo os mesmos riscos políticos. É algo intrínseco à atividade. O carnaval do ano passado, sobre a “honra nacional” manchada pela falta de reação teve como única motivação as eleições. Ainda bem que nem a Petrobrás arrefeceu na defesa dos seus interesses, nem o Itamarati curvou-se às pressões dos “bushianos” da mídia, agindo com cautela até que a biruta doida de Morales assentasse.
Por tudo isso, o novo gasoduto intercontinental é para ser levado a sério."

Instituto Humanitas Unisinos - 28/03/07

Na Argentina, pouco a pouco se faz agricultura sem agricultores

"O aumento das compras de terras por estrangeiros e os investimentos na área da mineração por parte de companhias estrangeiras podem ser explicadas pelo interesse crescente por recursos que estão sendo economizados no resto do mundo", afirma o economista argentino Miguel Teubal. Em decorrência, um dos setores mais afetados é a agricultura, especialmente com a monocultura da soja transgênica que expulsa das terras os pequenos agricultores e os indígenas.
Segue a íntegra da entrevista que o sociólogo concedeu ao Le Monde, 23-03-2007. A tradução é do Cepat.
Você é professor na Universidade de Buenos Aires e pesquisador do Conicet. Existe uma legislação que limita a venda de terras a estrangeiros?
Não há legislação comparável à existente na Europa, México ou Brasil. A única lei, inspirada pelo general Juan Perón, data de 1944, quando este era ministro. Ela proibia a venda a estrangeiros de terras que se encontravam a menos de 150 km das fronteiras e a menos de 150 km da costa, por razões de segurança nacional. Mas ela não está mais sendo respeitada e todos os projetos de regulamentação estão parados.
Como explica a compra de grandes extensões de terras por estrangeiros?
A Argentina sempre foi considerada como um país rico pos seus recursos naturais e suas grandes extensões de terras férteis. O aumento das compras de terras por estrangeiros e os investimentos na área da mineração por parte de companhias estrangeiras podem ser explicadas pelo interesse crescente por recursos que estão sendo economizados no resto do mundo. O valor da terra é depreciado na argentina e seus recursos minerais são até agora pouco explorados. A política neoliberal dos anos 1990 favoreceu os investimentos estrangeiros em todos os setores.
A ausência de um marco jurídico e os decretos de desregulamentação explicam que muitos desses investimentos sejam muito rentáveis e que não exista praticamente nenhum controle quanto às conseqüências ecológicas, sociais e econômicas.
Quais são os principais perigos?
O efeito mais pernicioso é sem dúvida este que afeta a agricultura em decorrência do boom dos preços da soja. Por pressão das sementeiras, é quase exclusivamente a soja transgênica que é semeada. A tecnologia e os grãos são vendidos pelas transnacionais, principalmente a Monsanto. Esta corrida pelo ouro verde requer importantes capitais e grandes extensões de terras. Ela já ultrapassa o Pampa e invade outras províncias do centro e do norte do país. Os pequenos agricultores e as comunidades indígenas estão sendo violentamente expulsas de suas terras.
Pouco a pouco a agricultura se faz sem agricultores por causa do desaparecimento dos médios e pequenos produtores. A rentabilidade da soja transgênica (mais de 90% é destinada à exportação) provoca o abandono da cultura de alimentos como o milho ou o trigo que formam a base do consumo popular, mas também a carne e os produtos derivados do leite. Esta monocultura erode os solos. A utilização de produtos químicos e o desmatamento têm graves conseqüências sobre o meio ambiente.

terça-feira, março 27, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 27/03/07

Uma política de economia solidária. Artigo de Paul Singer

A maioria dos movimentos sociais que lutam contra a miséria e a exclusão social se vale da economia solidária para alcançar seus fins, afirma Paul Singer, economista, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 27-03-2007.
Eis o artigo.
"A economia solidária se destaca por instaurar igualdade e democracia no âmbito da empresa, assim como no relacionamento entre empresas em rede e entre produtores e consumidores. A igualdade e a democracia também caracterizam as relações políticas entre as entidades representativas da economia solidária. Em suma, em todas as suas modalidades, rejeita o mando, preferindo, em seu lugar, a discussão, o entendimento e o consenso -e, quando este não pode ser alcançado, a decisão pelo voto.
Nos últimos anos, a economia solidária tem sido objeto de políticas públicas por parte de governos municipais, estaduais e, desde 2003, também do governo federal, que criou então a Senaes (Secretaria Nacional de Economia Solidária).
Essas políticas são formuladas e implementadas por órgãos de governo que, por lei, são hierárquicos e baseados no princípio da autoridade política do eleito pelo povo: prefeito, governador e presidente da República.
Na interface entre o gestor público, delegado da autoridade eleita, e o movimento da economia solidária se verifica o encontro entre duas lógicas políticas diferentes, que, de alguma forma, precisam ser conciliadas para que a política pública possa se efetuar de modo adequado.
Na esfera federal, a necessidade dessa conciliação se manifestou desde o primeiro momento. A criação da Senaes foi solicitada por um colégio de lideranças do movimento a Lula, recém-eleito, em fins de 2002. O presidente aceitou. O movimento indicou o meu nome para ser o secretário nacional de Economia Solidária, proposta também aceita pelo então ministro do Trabalho Jaques Wagner e pelo presidente.
Como conseqüência, a nova secretaria nasceu com dupla obrigação: integrar o governo federal e tomar parte na formulação e na execução de suas políticas, no âmbito de suas atribuições, de um lado, e tomar parte na formulação e na execução de programas e projetos em conjunto com as entidades representativas do movimento da economia solidária, de outro.
A política pública de economia solidária, no governo federal, começou a ser construída a partir da instalação da Senaes, que rapidamente encontrou forte ressonância em outros ministérios e bancos federais. Grande número de parcerias entre a secretaria e ministérios foram sendo estabelecidas, dos quais 13 integram o CNES (Conselho Nacional de Economia Solidária), ao lado de bancos públicos e de representações de gestores estaduais e municipais de programas de economia solidária.
A interação sem dificuldades, no CNES, desses órgãos do poder público com representantes do Fórum Brasileiro de Economia Solidária e de movimentos sociais e ONGs que adotam a economia solidária mostra que a conciliação das diferentes lógicas políticas pode se dar na prática.
É importante notar que, hoje, a maioria dos movimentos sociais que lutam contra a miséria e a exclusão social se vale da economia solidária para alcançar seus fins. Por isso, eles se apóiam cada vez mais na Senaes e estão representados no CNES. A possibilidade dessa interação sem cooptação decorre da política que a Senaes, em conjunto com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária, vem desenvolvendo.
A composição da equipe da Senaes obedeceu ao mesmo propósito. Seus membros foram escolhidos para que as diversas modalidades de economia solidária e as diferentes regiões do país estivessem representadas.
Embora a secretaria esteja organizada em vários níveis hierárquicos, muitas das discussões de problemas e das políticas para resolvê-los são feitas por toda a equipe ou, quando isso não é possível, por um comitê gestor ampliado, que reúne quase um terço dos seus membros.
Na grande maioria das vezes, as discussões terminam em consenso -que os membros da Senaes aprenderam a construir ao longo desses últimos quase quatro anos. Só quando o consenso não se mostra possível é que o princípio hierárquico prevalece na tomada da decisão. Isso se torna necessário porque os que ocupam posições de mais poder também são os que assumem maior responsabilidade pelo que ficar resolvido.
Como quase sempre as resoluções são fruto de elaboração coletiva e decisão consensual, a equipe da Senaes se sente responsável por elas, do que resulta uma política pública bem melhor do que se ela tivesse sido decidida apenas pela cúpula. E o melhor de tudo é que o modo de elaboração faz com a política seja bem congruente com o espírito da economia solidária.
Dessa maneira, o apoio material e político do poder público à economia solidária permite que ela se desenvolva de acordo com a sua natureza igualitária e democrática."

Instituto Humanitas Unisinos - 27/03/07

Gerente da BR Distribuidora faturou com vazamento no caso Ipiranga
Um dos supostos beneficiados por lucros obtidos em bolsa de valores com uso de informação privilegiada da venda do Grupo Ipiranga para o consórcio Petrobrás/Ultra/Braskem é funcionário de carreira da estatal e ocupava o cargo de gerente executivo na BR Distribuidora. As investigações correm sob segredo de Justiça. Por isso, ainda não há confirmação oficial sobre a participação do executivo, responsável pelo segmento de distribuição de querosene de aviação. A notícia é dos jornais O Estado de S. Paulo, Valor e Folha de S. Paulo, 27-03-2007.
Rumores na estatal e de fontes do setor apontam, porém, que o funcionário teria ganho em torno de R$ 900 mil com o investimento, feito nos dias 13 e 14 de março. Os papéis teriam sido vendidos logo após a confirmação da compra, no dia 19. O gerente, que estava cedido pela Petrobrás à sua subsidiária de distribuição de combustíveis, havia ocupado anteriormente a gerência de Produtos Químicos, responsável pela venda e distribuição de insumos e serviços para a indústria química e petroquímica.
O funcionário da Petrobrás é apenas um dentre os 26 investidores - pessoas físicas e jurídicas - investigados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no caso. A venda da Ipiranga, por US$ 4 bilhões, formalizada no dia 19 de março, foi precedida por uma semana atípica de movimentação com papéis das empresas do grupo, que tinham historicamente negociação inexpressiva na Bolsa de Valores de São Paulo.
Em uma semana, as ações ordinárias da Refinaria Ipiranga, por exemplo, giraram R$ 23,990 milhões, mais do que o dobro do registrado nos três meses imediatamente anteriores, de 2 de janeiro a 9 de março: R$ 11,605 milhões. Um fundo já identificado nas investigações, com sede em Delaware, nos Estados Unidos, movimentou R$ 3,3 milhões.
O presidente da CVM, Marcelo Trindade, recusou-se ontem a confirmar a identidade do suspeito. “Não vamos tratar sobre especulações”, desconversou, alegando segredo de Justiça. A autarquia, em operação conjunta com o Ministério Público Federal, já conseguiu o bloqueio de quatro contas sob suspeição e não descarta novas medidas semelhantes.
No início da noite, pouco antes de embarcar para São Paulo, onde participaria de um programa de TV, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, recusou-se a comentar o assunto. O executivo demonstrou contrariedade ao ser abordado no Aeroporto Santos Dumont. Na sexta-feira, por meio de sua assessoria de imprensa, Gabrielli afirmara que a comprovação de participação de qualquer funcionário da companhia no episódio levaria a uma “punição exemplar”.
No mesmo dia, a empresa anunciou a criação de uma comissão de sindicância para apurar as denúncias da CVM. A comissão reuniu-se pela primeira vez ontem, mas a companhia não quis comentar o resultado do encontro. Já a CVM estipulou o prazo de 90 dias para finalizar as investigações e enviar o caso à Justiça. Se comprovado o uso de informação privilegiada, os acusados estarão sujeitos a até cinco anos de prisão.
‘Poder dos EUA está diminuindo’, constata Zbigniew Brzezinski


“O poder dos EUA, por causa de suas próprias políticas, está diminuindo. A América está mais fraca porque prejudicou sua credibilidade, um importante elemento do poder”, constata Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro nacional de segurança dos Estados Unidos de 1977 a 1981, durante o governo do presidente Jimmy Carter, em entrevista publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 25-03-2007.
Segundo ele, “até 2003, o mundo estava acostumado a acreditar na palavra do presidente dos EUA - mas dois meses depois da invasão de Bagdá, Bush dizia em entrevista que tinham sido encontradas armas de destruição em massa. Os EUA também perderam parte de sua legitimidade. E diminui também o respeito que havia pelo poder militar americano, por causa da incompetência de sua operação no Iraque”.
Falando sobre a América Latina, Brzezinski afirma:
“Bush manteve uma política de indiferença e negligência em relação à América Latina, mas não houve uma hostilidade. O problema é que os EUA ficaram tão absortos em sua própria guerra no Iraque desde 2003, e desde 2001 em sua pretensa guerra contra o terror, que não tiveram tempo para mais nada”.
Para ele, “as conseqüências mais dramáticas são vistas na América Latina - a ascensão do populismo democrático antiamericano. Até então, os EUA conseguiam promover democracias genuínas na região como forma de consolidar seu relacionamento com os latinos. A alternativa a isso eram os regimes não-democráticos, do tipo castrista ou peronista. O que é novo é a emergência das democracias populistas antiamericanas na Venezuela, Bolívia, que são um desafio ainda maior do que os regimes não-democráticos”.
Ibama ordena fechamento de porto da Cargill em Santarém, PA

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com o apoio da Polícia Federal, fechou ontem, às 9 da manhã, o terminal graneleiro da multinacional norte-americana Cargill em Santarém, no oeste do Pará. A ação é resultado do pedido do Ministério Público Federal (MPF) no estado de “fiscalização e paralisação imediata das atividades do porto, além de autuação da empresa por operação irregular” e foi confirmada no final da tarde de sexta (23) pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 1a Região. A notícia é da Agência Carta Maior, 24-03-2007, e está também publicada nos principais jornais do País, 25-03-2007.
A vistoria do porto neste sábado teve a participação do próprio MPF e da Polícia Federal. O representante da empresa que estava no local foi comunicado do embargo por ausência de licença ambiental e os portões foram lacrados pelos analistas ambientais do Ibama. De acordo com a ordem da Justiça, “fica embargada toda e qualquer atividade desenvolvida pela empresa Cargill Agrícola S.A no lote 4 do porto da cidade de Santarém, Estado do Pará, (...) até a efetiva conclusão e aprovação do Estudo e Relatório de Impacto Ambiental, bem assim como de seu regular licenciamento ambiental pelos órgãos competentes”
De acordo com o ministério público, a ordem encerra a pretensão da multinacional de desobedecer a liminar, impede suas atividades na região e garante a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental para o funcionamento do terminal graneleiro. “A decisão é histórica e muda o paradigma de ausência de governança na região”, afirmou o procurador do MPF em Santarém, Felipe Fritz Braga.
Histórico
Desde 2000, o Ministério Público vem travando uma verdadeira batalha judicial para que a Cargill realize os Estudos de Impacto Ambiental do terminal graneleiro. Neste ano, O MPF ajuizou uma primeira Ação Civil Pública contra a Cargill e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente para que fossem paralisadas as obras do terminal e elaborado Eia/Rima, pedido deferido pelo juiz federal Dimis da Costa Braga, que concedeu uma liminar cancelando as autorizações para o porto. Em resposta, a Cargill impetrou recursos que levaram à suspensão da liminar, iniciando as obras mesmo com a questão judicial pendente.
Em descumprimento da legislação ambiental brasileira, a empresa passou a operar o porto a partir de 2003, com apoio de liminares e conivência do estado do Pará. No ano passado, porém, os últimos recursos da Cargill são negados, e no início deste ano o MPF é notificado do trânsito em julgado do processo, que encerra as possibilidades de apelação da multinacional e a condena a realizar os EIA/RIMA.
Questão ambiental
A construção de um porto graneleiro no coração da Amazônia, facilitando o escoamento de grão para a exportação, permitiu que as lavouras de soja avançassem rapidamente sobre a floresta, tornando-se um dos principais vetores de desmatamento da região. O caso passou a ser objeto de pesquisa da ONG ambientalista Greenpeace, que, em 2006, publicou um extenso documento sobre os impactos negativos do avanço da soja na Amazônia e realizou, em junho do mesmo ano, uma grande manifestação em Santarém para exigir o cumprimento das normas ambientais pela Cargill.
A decisão final da Justiça neste sentido foi vista como uma grande vitória pela organização.“A paralisação das atividades do porto da Cargill coroa a luta de muitos anos das comunidades locais de Santarém e daqueles que combatem a expansão da soja na Amazônia. A soja e outros produtos do agronegócio são vetores fundamentais do desmatamento, que ameaça a biodiversidade e provoca mudanças climáticas”, disse Tatiana de Carvalho, da campanha do Greenpeace pela proteção da Amazônia.
Segundo Tatiana, a Justiça está dando uma indicação clara de que os grandes empreendimentos do agronegócio não podem mais se esquivar de atender a legislação brasileira. “Confiamos que a Cargill respeitará a decisão judicial fazendo e fará um amplo estudo de impacto ambiental (EIA) que resulte em medidas concretas para minimizar os danos ambientais provocados por seu porto e pela expansão da soja em toda a região. Isso será uma forma de demonstrar o compromisso da empresa com a moratória no desmatamento anunciada pelo setor da soja no ano passado”.

Instituto Humanitas Unisinos - 25/03/07

‘O suor, o sangue e a morte banham o açúcar e o álcool brasileiro' afirma reportagem da IstoÉ
Recordes de produtividade e busca de energia “limpa” são a face moderna da produção de cana-de-açúcar.Mas isso é sustentado por um regime de semi-escravidão a que ainda são submetidos os trabalhadores. A conclusão é de reportagem exclusiva da revista IstoÉ - nas bancas desse final de semana – assinada pelos jornalistas Alan Rodrigues e Hélcio Nagamine.
Eis a reportagem.
São 4h30 em Guariba, cidade do noroeste do Estado de São Paulo, quando o ronco dos motores de dezenas de ônibus quebra o silêncio da madrugada. Por seis vezes na semana, o barulho das rodas sobre as acanhadas calçadas do município anuncia o trabalho a um exército de bóias-frias. Dali a pouco, essa legião estará nas lavouras de cana para mais uma vez fazer história. Se na última safra – 2006/07 – os brasileiros cortaram e moeram mais de 425 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, este ano as estimativas prevêem uma produção 10% maior. São recordes sobre recordes de produtividade extraídos de plantações espalhadas por mais de seis milhões de hectares de terra. O feito consolida o País no invejável patamar de maior produtor mundial de álcool e etanol.
Tal riqueza atraiu os olhares do mundo para o produto que já é classificado por economistas como o novo “ouro branco” do planeta. Empresários, banqueiros e até o presidente dos Estados Unidos se interessaram pelo tesouro e desembarcaram no Brasil nas últimas semanas buscando transformá-lo numa commodity alternativa e barata aos combustíveis fósseis. Enquanto uns foram à Bolsa de Valores, outros estiveram em tratativas com o governo brasileiro. Porém, o que Bush e os investidores não viram e talvez não saibam é que a riqueza gerada pela fantástica produção desse “ouro branco” se assenta na exploração brutal de milhares de homens e mulheres que cortam e colhem cana pelo Brasil adentro.
Quase 120 anos depois da abolição da escravidão, os cortadores de cana ainda vivem o cativeiro da terra, sob o tacão de um “chicote invisível”, como definiu Maria Cristina Gonzaga, pesquisadora do Ministério do Trabalho. A cana literalmente mói a carne de um milhão de miseráveis trabalhadores rurais. Quem entra nos canaviais brasileiros tem a impressão de estar fazendo uma viagem no tempo, retornando ao século XVII.
Homens e mulheres são comercializados como gado, trabalham jornadas de até 12 horas, muitos passam fome e outros chegam a tombar mortos de pura exaustão. Relatório do Ministério do Trabalho (MT), divulgado no início do mês de março, mostra que só no ano passado 450 trabalhadores do setor sucroalcooleiro morreram nas usinas. Alguns foram assassinados, mas muitos morreram em conseqüência de banais acidentes de transporte. Outros foram carbonizados durante as queimadas. Vários perderam a vida simplesmente por excesso de trabalho.
“O suor, o sangue e a morte banham o açúcar e o álcool brasileiro”, denuncia a ISTOÉ Maria Cristina Gonzaga, técnica da Fundacentro, órgão do MT, responsável pelo estudo. Nas contas dela, nos últimos cinco anos, o trabalho na lavoura de cana ceifou a vida de 1.383 trabalhadores.
Entre eles, o migrante mineiro Antônio Moreira, que largou o Vale do Jequitinhonha na década de 70 para “fazer safra” nas lavouras paulistas. Aos 55 anos, Antônio caiu morto de cansaço em meio às canas que empilhava. “Ele tinha cortado 16 toneladas aquele dia”, lembra a viúva Maildes Moreira Araújo, 55 anos, também cortadora de cana. Foi a terceira vez que tal desgraça se abateu sobre os Moreira. “Meu tio e um primo também morreram na mesma situação”, diz Antônio Moreira Filho, 32 anos, que trabalhava com o pai nos canaviais desde os 14.
“Do cortador de cana é esperada a produção de uma máquina”, diz Miguel Ferreira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cana de Jaboticabal, interior paulista, região responsável por 60% da produção nacional de álcool e açúcar. Miguel fala de cátedra. O atual sindicalista foi cortador de cana durante seis anos e, assim como seus pares, produzia diariamente seis toneladas de cana.
“Hoje exige-se a produção de no mínimo dez toneladas diárias por homem. Não tem corpo que agüente”, constata Miguel. Segundo a Universidade Federal de São Carlos para cortar dez toneladas e ganhar R$ 24 é preciso percorrer cerca de nove quilômetros a pé por entre o canavial, desfechar cerca de 73.260 golpes de podão (facão) em 36 mil flexões de pernas. E mais, o cortador de cana terá que levantar e carregar pelo menos 800 montes de 15 kg de cana cada um, por uma distância de três metros, empilhando a produção do dia. Os médicos do Ministério do Trabalho, que estudaram a saúde do cortador de cana concluíram que eles chegam a perder em um dia de trabalho cerca de oito litros de água.
E o pior é que a situação desses condenados da terra pode se agravar. A partir deste ano, começa a ser colhido um novo tipo de cana, mais leve por ter sido geneticamente modificada. Além de pesar menos – pois elimina bastante a água –, esse tipo de cana concentra uma quantidade muito maior de sacarose (açúcar). Tudo ótimo, menos para o trabalhador, que precisava cortar 100 metros de cana para produzir dez toneladas e por causa da novidade transgênica precisará cortar o triplo para produzir a mesma quantidade.
Aos 52 anos, Maria dos Santos corta nove toneladas para levar para casa R$ 512 no final do mês. Quando soube que terá que trabalhar três vezes mais para ter o mesmo rendimento, não se conteve: “Vamos morrer!”, desesperou-se.
Hábeis em implementar modernizações tecnológicas, os usineiros não demonstram intenção de alterar as arcaicas relações de trabalho que predominam no setor sucroalcooleiro. “As práticas impostas por eles, em muitos casos, ainda são escravagistas”, diz a técnica do Ministério do Trabalho. Veja-se, por exemplo, o processo de seleção dos trabalhadores. Eles são “vendidos” para intermediários que selecionam a mão-de-obra para usinas.
Trazidos das profundezas do País para dar duro nos canaviais, esses escravos do século XXI são cooptados por “gatos”, uma espécie de empreiteiro que busca pessoas que, em troca de migalhas, se submetem a todo tipo de humilhação. Para cada cortador de cana trazido para a usina, capaz de produzir 12 toneladas por dia, o “gato” recebe em média R$ 60. Qual a vantagem? Esses cortadores são escolhidos a dedo e não reclamarão de serem obrigados a viver em alojamentos decrépitos.
Eles também não reclamam do pagamento abaixo dos pisos salariais e ainda admitem viver confinados nas propriedades onde a colheita ocorre oito meses por ano. “Só 20% dos trabalhadores ligados ao setor sucroalcooleiro no Brasil têm conquistas preservadas, o resto são escravos”, garante Miguel, o sindicalista. “Não é difícil constatar a miséria e a exploração a que essas pessoas estão submetidas. O Ministério do Trabalho é que dá as costas para o problema”, indigna-se Miguel.
A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Única), entidade que representa os usineiros, não fala sobre direitos do trabalho. Segundo a assessoria de imprensa, eles apenas “cumprem a lei”. Mas em relação ao crescimento da produção eles são expeditos. Para os donos dos engenhos, as máquinas produzirão, até 2013, 36 bilhões de litros de álcool – um bilhão a mais que a atual produção mundial. Grande parte dessa produção atenderá aos mercados americano e europeu. No ano passado, 19 bilhões de litros de álcool foram destilados, uma supersafra que movimentou mais de R$ 40 bilhões na economia, US$ 8 bilhões em exportações, equivalentes a mais de 3,5% do PIB brasileiro. Segundo as estimativas do setor sucroalcooleiro, uma nova usina de cana surgirá a cada mês no País nos próximos dois anos.
Este crescimento acelerado no plantio e na produção preocupa governantes e economistas. Muitos temem que esse boom leve o Brasil de volta à monocultura. Hoje, várias plantações de alimentos e áreas de pastagem estão sendo substituídas por lavouras de cana-de-açúcar. Preocupados com essa possibilidade, alguns Estados já se preparam para enfrentar a situação.
Em Mato Grosso, na região do Pantanal, já foi proibida a implantação de usinas de álcool. No Estado de Goiás, algumas prefeituras querem limitar a entrada da cultura da cana. Em São Paulo, responsável por 60% da produção nacional, um projeto do deputado estadual Simão Pedro (PT) propõe que os fazendeiros de regiões do Estado onde a cultura da cana se expande sejam obrigados a reservar 10% das terras para outros tipos de cultura. “É fato a expansão do setor, mas precisamos criar alguns limites, senão daqui a uns dias seremos obrigados a importar alimentos básicos”, diz Simão. Enquanto isso, o presidente Lula, inebriado com o etanol, disse que os usineiros passaram de bandidos a heróis.

Instituto Humanitas Unisinos - 25/03/07

Elogiados por Lula, usineiros podem dar prejuízo de R$ 50 bilhões para governo

Chamados de "heróis" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os usineiros poderão dar prejuízo bilionário ao governo federal. A notícia é do portal G1, 24-03-2007.
Ações de usinas que tramitam há décadas na Justiça pedem indenizações bilionárias do governo por causa de alegadas perdas decorrentes da fixação de preços na década de 80. Há estimativas de que a conta da União ficará entre R$ 10 bilhões e R$ 50 bilhões.
Nas ações, os usineiros alegam que os preços de açúcar e do álcool foram fixados abaixo de valores apurados e propostos pelo extinto Instituto do Álcool e do Açúcar (IAA). Os usineiros têm levado a melhor na Justiça, pelo menos por enquanto.
Decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foram favoráveis à demanda do setor, apesar dos recursos apresentados pela Advocacia Geral da União (AGU). Ontem, a AGU informou que vai continuar recorrendo
das decisões.

Instituto Humanitas Unisinos - 25/03/07

O que dizia o ministro Franklin Martins
Faz 19 meses e alguns dias, mas vale a pena rever a entrevista que o agora ministro Franklin Martins, então comentarista político da TV Globo e da CBN, deu a NoMínimo logo no início da longa crise do mensalão, publicada na páginano dia 19 de agosto de 2005 .
Franklin não conseguia, segundo NoMínimo, 25-03-2007, então, enxergar-se no governo de tantos antigos parceiros de militância contra a ditadura:
- Eu ajudo mais o país fazendo um bom jornalismo – acho que faço um bom jornalismo procurando dar ferramentas às pessoas para elas tomarem as posições delas, as definições delas. Sinceramente, não tenho a tentação de estar do outro lado.
O jornalista se afligia com a situação nacional:
- O que existe é um desconforto muito grande, não apenas na geração de 68, mas no país, em tudo que existe de moderno, democrático e, para usar uma palavra da moda, republicano, independentemente de partido político.
E não poupava o partido do governo:
- É evidente que ninguém esperava que o PT – que, durante 25 anos, construiu sua imagem partidária fazendo da questão da ética uma questão central – fosse fazer uma lambança dessa natureza. É estarrecedor que as coisas tenham chegado a esse ponto, mesmo supondo a melhor das hipóteses – que fosse apenas pagamento do caixa 2 de campanha. Mas é um pagamento centralizado, que passa de um partido para outros. Passou de qualquer limite.
Bom analista político, Franklin não deixava, porém, de enxergar o futuro:
- Antes desse escândalo, eu diria que o Lula estava reeleito. Hoje em dia, a eleição dele é extremamente problemática. Ele pode vir a se recuperar, mas vai ter de fazer política. Eu acho que ele vai ter que fazer alianças políticas, não tem jeito. Se o Lula vier a ser reeleito, ele não fará mais um governo do PT, disso eu não tenho dúvida. Ele fará um governo de coalizão – do PT, que seria provavelmente uma ala esquerda do governo, mais enfraquecido, com outros setores. Mas tudo isso é futurologia, é para daqui a um ano e meio.

Instituto Humanitas Unisinos - 24/03/07

Na África, um dia de caos e desesperança
Ciclone, avião abatido, explosões em série, tiroteios, confrontos entre militares e rebeldes e centenas de mortes. O dia de ontem na África refletiu bem a deficiência de infra-estrutura e o caos político e social, agravado por tragédias climáticas, em que o continente está mergulhado. A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 24-03-2007.
Em Moçambique, um depósito de armas explodiu num bairro residencial da capital, matando 96 pessoas. Na Somália, um avião foi derrubado logo após a decolagem, no aeroporto da capital, Mogadíscio. Em Madagáscar, a passagem de um ciclone matou 70 pessoas e desalojou milhares. A capital da República Democrática do Congo (ex-Zaire), Kinshasa, viveu dois dias de guerra: soldados enfrentaram a milícia de um candidato derrotado nas urnas, deixando 60 mortos.
A explosão em Maputo, capital de Moçambique, ocorreu em um armazém perto do aeroporto, onde havia cerca de 20 toneladas de armamentos obsoletos. “Era o maior arsenal do país”, afirmou Miguel Barrerio, funcionário da ONU.
A primeira explosão no depósito desencadeou dezenas de outras detonações. Estilhaços de armas e munições voavam para todos os lados durante quatro horas, levando a população ao pânico. Além dos 96 mortos, incluindo crianças, há 400 feridos.
Numa demonstração da precariedade do planejamento urbano, o depósito foi construído numa movimentada área residencial. Num anúncio prévio da tragédia, algumas explosões ocorreram no mesmo local há apenas dois meses. Mesmo assim, o arsenal não foi transferido. O governo afirmou que as altas temperaturas na cidade (cerca de 37°C) podem ter causado a explosão.
Na costa oeste da África, a Ilha de Madagáscar foi devastada nessa semana por um ciclone que, segundo o governo divulgou ontem, matou 69 pessoas e desalojou 78.000. Vilarejos inteiros foram soterrados pela lama; rios transbordaram causando alagamentos e estradas foram bloqueadas. “A situação é caótica porque esse é o quinto ciclone que atinge a ilha nos últimos três meses”, disse Amna al-Ahmar, da Cruz Vermelha local.
No nordeste do continente, rebeldes da Somália derrubaram, com um foguete, um avião das forças de paz da União Africana com 11 pessoas a bordo, em Mogadíscio. “Todos morreram. Dez na queda e o último, no hospital”, informou um funcionário da Cruz Vermelha somali.
O avião, que pertencia a uma empresa da Bielo-Rússia, deixava o país após entregar equipamentos para as tropas de Uganda. Ela também transportava técnicos, que foram enviados para consertar um avião. Não está claro, entretanto, qual é a nacionalidade das vítimas. Como um general ugandês afirmou que seus soldados não estavam entre os passageiros, acredita-se que eram bielo-russos. O governo não informou se já há suspeitos pelo atentado, mas acredita-se que o foguete tenha sido lançado por insurgentes, que voltaram combater as forças do governo na capital há três dias.
Na República Democrática do Congo, o quartel-general da ONU foi transformado em campo de refugiados. Desde quinta-feira, a população sofre com um confronto aberto entre as tropas do governo e aliados a Jean-Pierre Bemba, candidato derrotado nas eleições de dezembro. Ao menos 60 pessoas morreram. Apoiados pelas forças da ONU, o Exército conseguiu na noite de ontem restaurar, parcialmente, o controle em Kinshasa.
O Zimbábue também vive uma crise política, desde que, há duas semanas, um opositor do presidente Robert Mugabe foi espancado por guardas do governo. Há 27 anos no poder, o líder disse ontem não temer as ameaças dos EUA e da Grã-Bretanha de ampliar as sanções. “Nada me amedronta, nem mesmo os camaradas (George W.) Bush e (Tony) Blair”, disse Mugabe.

Instituto Humanitas Unisinos - 24/03/07

Carta Capital: Banco Central entrega o ouro aos bancos
A revista Carta Capital que chegou ontem às bancas faz uma revelação espantosa: dois diretores do Banco Central, Mario Mesquita e Rodrigo Azevedo, realizaram, semana passada, em São Paulo e no Rio, três reuniões diferentes com, aproximadamente, 80 executivos de instituições financeiras.
Paulo Henrique Amorim, no seu blog, 23-03-2007, informa:
"O Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi à reunião do Rio, mas não falou.
As reuniões eram secretas. Ninguém poderia saber delas. Só os bancos...
O objetivo formal era informar “ao mercado” as premissas com que o BC trabalha.
Mas, como na platéia não tinha nenhum bobo, o resultado foi outro. Veja o que diz o Último Segundo:
“Nas exposições iniciais, os diretores do BC Mesquita e Azevedo disseram estar o País menos vulnerável, com reservas internacionais sólidas (acima de US$ 100 bilhões), mas insuficientes para ter tranqüilidade. Recado dado e assimilado: o BC vai manter a política agressiva de compra de dólares no mercado. Ou seja, a moeda não cairá abaixo de R$ 2. Afirmaram ainda que a alta recente da inflação foi pontual, mas cabe à autoridade monetária “não deixar o repique se espalhar para os demais preços da economia”. Leia-se: quem apostava em queda de meio ponto porcentual da taxa Selic na próxima reunião do Copom, saiu convicto de que ela cairá não mais que 0,25 ponto.”
É isso aí: quer fazer uma “posiçãozinha”? Faça como bancos brasileiros e invista com a “premissa” de que o dólar não cairá abaixo de R$ 2 e a taxa Selic não vai cair menos que 0,25%.
É espantoso.
Por que o Mesquita e o Azevedo não mostram as suas premissas ao Congresso Nacional, numa reunião pública, na televisão?
Por que não fazem uma reunião aberta com a CUT e a Força Sindical?
Por que não vão à Fiesp?
À Associação dos Aposentados?
Por que não conversam com Sociedade Rural Brasileira?
Com a Contag?
Porque tem medo de “contágio”?
O ex-diretor Afonso Bevilaqua se recusava a conversar com industriais e com membros do Governo.
Sabe por que? Porque o Meirelles, o Bevilaqua, o Mesquita e o Azevedo são independentes – independentes de nós, sociedade brasileira.
Eles são dependentes dos bancos, onde brevemente irão trabalhar – e ganhar um bom salário porque foram diretores do Banco Central.
E depois saem das reuniões do Copom com aquelas atas sibilinas, num pastiche da falsa ciência dos comunicados de Alan Greenspan.
(Greenspan, como se sabe, se aposentou como começou a carreira, como um Republicano de carteirinha. O último ato notável da gestão dele no Federal Reserve foi dar cobertura “científica” à política fiscal do Republicano George Bush – um dos maiores desastres da história da política orçamentária americana. É só ler o que diz há muito tempo o Paul Krugman, no New York Times).
A certa altura das reuniões “científicas”, segundo relato da Carta Capital, um economista discordou do que ouvia e previu um cenário otimista sobre a capacidade de produção do Brasil. Mesquita reagiu à altura: “Vamos parar de falar de cenários róseos. Vamos discutir riscos”.
Quer dizer, a saída de Bevilaqua do BC não muda nada.
É por isso que os neoliberais e seus porta-vozes na imprensa falam que o Banco Central precisa de “autonomia” de fato.
Para que autonomia de fato? Para poder entregar o ouro aos bancos e a mais ninguém?
A turma do Dr. Meirelles vive num Brasil à parte, não tem que dar satisfação a ninguém – a não ser aos bancos.
E vai continuar a fazer o que sempre fez.
Porque se tivessem um mínimo de probidade entregavam – Meirelles, Mesquita e Azevedo – a carta de demissão hoje, antes de irem buscar a Carta Capital na banca em frente ao Banco Central."