"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, julho 17, 2010

O Raciocínio Limitado

Gostaria inicialmente de explicar que o raciocínio limitado não depende de inteligência, ou melhor de capacidade intelectual. O raciocínio limitado de que falo aqui é aquele limitado não pela capacidade de análise de quem o faz, mas sim, da intervenção da análise ideologizada que impede o real entendimento crítico.
Então, partindo desse princípio, tal raciocínio pode ser feito por intelectuais. E muitas vezes o é, até mesmo por filósofos, sociólogos e tantos outros "ólogos". Quem dirá, nós simples mortais.
Vou explicitar meu pensamento a partir de duas situações.
Em relação à eleição presidencial que se aproxima, existem militares que se deixam iludir pela propaganda negativa da "Dilma Terrorista", e defendem portanto a candidatura de Serra. Mas, se analisarmos friamente os últimos 16 anos (8 de FHC e 8 de Lula), veremos que os oito anos de FHC foram simplesmente terríveis para os militares (quem não lembra da dispensa forçada dos recrutas, entre outras barbaridades), e que Lula (apesar de ser o líder vermelho) injetou recursos nas Forças Armadas e até mesmo propiciou aumento salarial (não o que necessitamos, mas enfim...). Então, partindo dessa premissa corporativista (como a maioria das análises o são), um militar que defende a candidatura de Serra estaria desejando os negros anos de FHC para as Forças Armadas de volta.
No lado oposto, temos a "esquerda" que ao invés de elaborar saídas concretas para os problemas do país, defender realmente uma distribuição mais equânime da Renda Nacional, ficam por aí, criando factóides em relação à Lei da Anistia (isso permite grande visibilidade na mídia), criticando cegamente os anos de Governos Militares que para eles só endividaram e promoveram exclusão, mas todo o processo de industrialização e ampliação das estruturas produtivas surgiram como efeito de mágica, foi um "puff!, taí, de onde veio?
Essas duas linhas de pensamento apenas municiam os radicais de cada lado. Ficamos com incertezas eleitorais (esse negócio de Dilma já ganhou eu só acredito quando ela estiver eleita), uma vez que já vimos várias eleições saírem no lado oposto ao que dizem os institutos de pesquisa eleitoral.
Já afirmei aqui antes que tenho medo de um governo Serra, pois lembro dos anos FHC. E como professor de geografia sei das consequências para a sociedade do modelo de governo implementado na época. E também sei das decepções (não gerais) que ocorreram com o governo Lula. Mas é assim, vivemos em um modelo político (viva a democracia, pelo menos essa que assim chamam) em que o executivo para poder se eleger e implantar suas políticas tem que negociar apoio com os mais variados segmentos políticos e econômicos. Daí surgirem incongruências e desvios do programa da candidatura ao que realmente foi posto em prática.
Como estamos dentro desse modelo ridículo, temos que dançar conforme a música, ou tentar mudar um pouco o ritmo. Mas, se não encontrarmos pontos em comum para defendermos, e, ao invés ficarmos nos digladiando por idiotices a que nada levam, tais mudanças nunca ocorrerão e o Brasil como já foi alertado será o país do futuro (no máximo por mais 20 anos, depois se esgotam nossas possibilidades), e cairemos numa dependência externa massacrante.

sexta-feira, julho 16, 2010

“Nunca na História Deste País”

Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 9 de julho de 2010.

“Conspira contra a sua própria grandeza o povo que não cultiva os seus feitos históricos” (Museu da Força Expedicionária Brasileira – FEB – no Rio de Janeiro)


O Professor Parreira, oportunamente, enviou-me um e-mail muito importante, pois como diz os velhos adágios populares “um povo sem passado é um povo sem futuro”, e “um povo sem História é um povo sem identidade”. É pena que algumas de nossas lideranças não sejam capazes de entender a importância de respeitar, cultuar e manter o legado de nossos ancestrais para as gerações vindouras. Uma nação não pode almejar ocupar uma posição de destaque no cenário internacional se não for capaz de, antes, reconhecer a importância dos valores que foram passados pelos que nos antecederam. O respeito internacional só acontecerá depois que soubermos venerar nossas lideranças e ações pretéritas que não precisaram, absolutamente, drenar os cofres públicos gastando somas astronômicas em propaganda para, em benefício próprio e do seu ParTido, serem acatadas como tal. Determinados arremedos de governantes deveriam ser capazes de perceber que o sucesso alcançado em qualquer campo do conhecimento ou da política só foi obtido graças aos que os antecederam e que muito lutaram para que isso se tornasse possível.


- “Nunca na história deste país”


“Nunca na história deste País se viu tanta miséria;

nunca na história deste País se viu tanta corrupção;

nunca na história deste País se presenciou tanta violência;

nunca na história deste País tivemos tanto descaso com a educação e com a saúde”.

(Valdir Barreto Ramos)


É totalmente falaciosa, para não dizer antiética, a frase tão popular usada pelos populistas de hoje como: “Nunca na história deste país”, como se todos os que os antecederam não tivessem, absolutamente, colaborado para isso. Só os prepotentes, ignorantes e alienados que nunca estudaram a história dos povos e das nações poderiam vir a fazer uso de tais citações num total desrespeito a todos que, no passado, lutaram para que essas conquistas políticas, sociais e econômicas fossem atingidas. Reproduzimos, abaixo, na íntegra, o texto do grande mestre Parreira.


- E o sul de Mato Grosso foi às armas!

Por Luiz Eduardo Silva Parreira - advogado - luizeduardo@parreira.adv.br


“09 de Julho é feriado em São Paulo. É quando se comemora o início da Revolução Constitucionalista de 1932. Tudo pára em respeito aos que lutaram e tombaram nesse conflito, que não visava à separação de São Paulo do Brasil (como difundiu a propaganda difamatória de Getúlio Vargas), mas o contrário. Irrompeu-se a luta armada buscando uma nova Constituição para o país, para tirá-lo do atraso, da insegurança jurídica e do despotismo federal pós Revolução de 30.


O coração bandeirante ainda bate forte, 78 anos depois, em razão dos feitos de seu povo que, em alguns pontos, antecipou os acontecimentos que ocorreriam quase dez anos depois, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos da América: toda a economia voltada para a guerra; mulheres substituindo os homens em tarefas industriais, pois estes estavam nos campos de batalha e o mais emocionante, a mobilização voluntária de toda a sociedade para o conflito. Em três dias, mais de 30.000 homens se alistaram nas fileiras paulistas!


São Paulo, em defesa da Constituição, produziu, improvisou e adaptou de tudo: granadas, capacetes, munições, morteiros e canhões. Uma imensa rede de civis auxiliava os soldados, não deixando que nada lhes faltasse, até o limite dos suprimentos, cuja escassez foi um dos motivos de os paulistas terem perdido o conflito. Senhoras cosiam meias e toucas, pois era julho, inverno. Escoteiros levavam correspondências. E, é justamente, um escoteiro o mais jovem soldado morto em combate na Revolução de 32, ALDO CHIORATTO, de 9 anos e meio de idade, morto durante bombardeio aéreo em Campinas.


Entretanto, poucos se lembram que não só São Paulo foi às armas. O sul do Mato Grosso também foi! Campo Grande, Bela Vista, Ponta Porã, Porto Murtinho, Ladário, Três Lagoas, Paranaíba, Coxim enviaram tropas ou foram palcos de combates nos quais até aviões foram utilizados em ataques às tropas adversárias.


Alguns historiadores chegam a citar mais de 3.000 homens envolvidos diretamente nas lutas no território do Estado de Maracaju, nome adotado pelo sul do Mato Grosso durante o conflito. Era o sonho divisionista que se concretizava por via das armas e que durou enquanto duraram suas munições: três meses.


E justamente por conta da necessidade de abastecimento; em virtude de o porto de Santos ter sido bloqueado por navios de guerra leais a Vargas, é que restou como a única alternativa paulista de abastecimento e escoamento, a utilização da antiga rota de suprimentos das terras localizadas no centro da América do Sul: Rio Paraguai - Rio Paraná - Estuário do Prata - Oceano Atlântico, cujo principal ponto logístico possível de controle pelos constitucionalistas era a cidade de Porto Murtinho.


Para lá se dirigiu a famosa Coluna de Bronze, formada por constitucionalistas do sul do Mato Grosso, que utilizaram dois canhões de montanha franceses Schneider, de 75 mm. Como parte do suporte paulista ao avanço de seus aliados mato-grossenses para tomar a cidade, enviou-se um caça Curtiss Falcon, que atacou as tropas federais nos arredores de Porto Murtinho. Dias antes, os paulistas já haviam bombardeado a Base Naval de Ladário, com o mesmo tipo de aeronave.


As tropas legalistas, com mais de 1.200 combatentes, contra-atacavam os constitucionalistas da Coluna de Bronze com pesado fogo dos canhões e morteiros do Monitor Fluvial Pernambuco. Segundo cronistas da época, como Umberto Puiggari, a batalha por Porto Murtinho a adjacências deixou mais de 300 mortos e a cidade parcialmente destruída.


Já as forças que combateram em Três Lagoas e Paranaíba, conseguiram impedir que reforços do norte do Mato Grosso e Goiás cercassem as forças bandeirantes. J. Barbosa Rodrigues comenta que ali também os combates foram ferozes.


E em território paulista, no teatro conhecido como Frente Sul, forças do Batalhão Taunay, de Campo Grande e do 11º Regimento de Cavalaria, de Ponta Porã, lutaram para impedir que tropas vindas do sul do país entrassem em São Paulo.


Com efeito, 09 de Julho é uma data que também afetou a vida dos habitantes das terras hoje sul-mato-grossenses. Segundo o ex-governador de Mato Grosso do Sul, Wilson Barbosa Martins, o clima na cidade de Campo Grande era de empolgação. Os professores iam dar aulas de farda e capacete. Mais de 800 homens se apresentaram para alistamento num único dia.


Os combatentes do sul do Mato Grosso eram em sua maioria, soldados-cidadãos: homens comuns, de diversas profissões. Havia brasileiros e paraguaios; descendentes de japoneses, libaneses e alemães; índios, negros, brancos, pardos. Foi a nossa pequena guerra mundial, onde todos os povos que aqui moravam pegaram em armas para a defesa da legalidade. Como lembra Puiggari, a insegurança jurídica no sertão sul do Mato Grosso era tamanha que até juízes eram intimidados com os famosos ‘saltos’: sua transferência de comarca quando incomodava algum apadrinhado do governo getulista.


Aqui também se lutou bravamente!


Mas, a superioridade numérica governista era evidente e depois de três meses de combates, São Paulo capitulou. No início de outubro de 1932, os paulistas cessaram fogo... mas, o sul do Mato Grosso não. Aqui a luta durou até o fim daquele mês, quando a cidade de Bela Vista se entregou ao Tenente-Coronel Francisco Gil Castelo-Branco.


E diferente de São Paulo, lamentavelmente em Mato Grosso do Sul, especialmente em Campo Grande, pouca coisa existe hoje que lembre estes feitos. Daquela época ainda estão em pé (e não se sabe até quando) o prédio do Quartel-General, na Avenida Afonso Pena, de onde partiram as primeiras ordens do General-de-Brigada Bertholdo Klinger, Comandante Militar do Movimento; a loja Maçônica da Avenida Calógeras, que sediou o Governo do Estado de Maracaju, tendo como Governador o Dr. Vespasiano Martins; o canhão Schneider de 75 mm na frente do 2º/9º Bsup, que acompanhou a Coluna de Bronze; o quartel do 18ºBlog, que sediou o 18º BC, cujos soldados lutaram bravamente em diversas frentes. Será que tais monumentos não mereceriam ao menos uma placa indicativa? Fazendo justiça ao prédio maçônico, ali há uma, colocada por iniciativa própria da entidade. Mas, e nos demais pontos?


Enfim, mais um 09 de Julho em São Paulo, quando os paulistas honram seus combatentes-cidadãos. Mais um 09 de Julho em Campo Grande, que parece fazer questão de esquecer sua história de pouco mais de 100 anos, por descaso”.




Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br

Logo da Copa

olhaquemaneiro.blogspot.com - 13 jul 10

Guilherme Bandeira de Minas Gerais, deixou um comentário no blog sobre o artigo do logo da copa aprovado pelos "notáveis" escolhidos pela CBF. Em seu comentário Guilherme disse que havia feito um logo e o considerava bem melhor do que o da CBF. Deixou o seguinte atalho: http://olhaquemaneiro.blogspot.com/2010/07/logo-copa-do-mundo-brasil-2014-2-por.html#comment-form
Fui até o blog dele e realmente o logo é bem superior ao ridículo que foi escolhido. Vou colocá-lo abaixo, mas o rapaz tem talento e fez outro, apesar de que eu prefiro esse, principalemente pelas relações que faz às nossas particularidades e belezas nacionais.


quarta-feira, julho 14, 2010

Lampião

Lendo reportagem sobre Lampião na Carta desta semana lembrei-me de minha infância e adolescência. Não que tenha convivido com o bando (não sou tão velho assim), mas sou o quinto filho (chamado de temporão pela distância em relação aos demais irmãos) de uma maravilhosa mãe que nesse ano completa 92 anos.
Ouvi relatos de minha mãe (originada, assim como meus irmãos do legítimo sertão cearense, na cidade de Senador Pompeu) nessa fase da minha vida sobre sua infância no sertão. De como seus pais que tinham uma prole numerosa, para controlarem as fugas dos filhos pelo sertão adentro, incutiam neles o medo de Lampião. Do cangaceiro, que poderia pegá-los logo ali. É claro que minha mãe, assim como os irmãos não sabiam que as andanças do bando de Lampião pelo Ceará eram escassas e assim temiam um encontro fortuito.
Mas, a um bom tempo me entristece não ter tido na época o discernimento de gravar tais relatos. As estórias sobre Lampião, as disputas políticas entre os coronéis da época , entre tantos outros fatos. E hoje estar a 4.200Km de distância com ela já tão senil e com as memórias embotadas.
Recordo-me ter comentado sobre isso com o grande mestre Ricardo Fitz (professor de história e sociologia do CMPA), em que este me relatou ter acontecido com ele algo semelhante, em que conheceu um uruguaio que havia participado da Coluna Prestes, e que lhe relatou ter sido Prestes alguém a ser trabalhado e doutrinado (nada conhecia de comunismo ou algo do tipo).
O Ricardo então marcou uma data de entrevista com o tal senhor para coletar as informações sobre o doutrinamento e detalhes da Coluna. Só que antes precisava se preparar bem para a entrevista, coletou informações disponíveis nos mais diversos meios de pesquisa e por isso a entrevista não havia sido marcada para uma data próxima. O que aconteceu? Bem quando chegou próximo à data, essa rica fonte de dados veio a falecer e levou consigo muitas informações do período.
Pessoas como a entrevistada na Carta, devem ser procuradas e entrevistadas com a maior riqueza de detalhes para que possamos entender todo o processo histórico e social de tais acontecimentos. E mesmo, não tão preparados assim, devemos buscar logo fontes de períodos tão remotos, pois há sempre o risco de perda de tais informações.
Apenas como detalhe. Lampião tinha esse apelido devido a velocidade com a qual disparava sua arma através de uma mudança no seu mecanismo de disparo. Como na época as fagulhas de pólvora resultantes do processo do disparo eram intensas, o brilho de sua parecia não se apagar, daí o Lampião.
Visitei em 1999 a área onde Lampião morreu, assim como o Museu do Cangaço que lá foi feito. Também fui a Xingó, ao Cânion (belíssimo por sinal) e para minha bela surpresa conheci o MAX (Museu Arqueológico do Xingó) que espero tenha continuado a receber recursos para sua manutenção, que apresentava uma grande coleção de múmias indígenas retiradas dos mais diversos sitios arqueológicos que ficaram debaixo das águas de Xingó. Tais belezas precisam ser mostradas e dadas ao conhecimento do povo brasileiro. O Nordeste não é só praias bonitas, o sertão, assim como as áreas serranas mais úmidas também tem o seu encanto.

Virgulino Ferreira da Silva
Virgulino  Ferreira da Silva
Nascimento 7 de julho de 1898[1]
Serra Talhada, PE
Morte 28 de julho de 1938 (40 anos)
Fazenda Angicos, Poço Redondo, SE
Nacionalidade Brasil brasileiro
Ocupação Cangaceiro
Cônjuge Maria Bonita

terça-feira, julho 13, 2010

Teoria da política externa dos EUA – I

resistir info - 14 jul 10

por Leo Huberman e Paul M. Sweezy [*]

Paul  Sweezy e Leo Huberman, em Cuba. A política externa dos Estados Unidos tem gerado derrotas há bem mais de uma década mas nunca a um ritmo tão rápido e furioso como durante os últimos meses [NR: escrito em 1960].

Qual é a reacção da classe dominante americana a este fracasso constante e generalizado da política externa? Poder-se-ia esperar uma acumulação de críticas e um apoio crescente a política ou políticas alternativas. Mas olha-se em vão por qualquer coisa desta espécie nos Estados Unidos de hoje. Estamos em meio a uma campanha eleitoral, a qual dá a todos os líderes políticos de ambos os partidos muitas oportunidades para expor ao público os seus pontos de vista. Tanto quanto sabemos, nenhum deles exprimiu qualquer crítica dos fundamentos da política americana ou propôs que fosse mudada em qualquer aspecto importante.

Como explicar isto? Como explicar o facto de que a resposta virtualmente unânime da classe dominante americana é uma evasão a qualquer análise séria das causas e uma adesão teimosa às mesmas políticas que no passado conduziram constantemente ao fracasso?

Sem dar respostas completas a estas questões, [1] podemos no entanto expor algumas considerações relevantes.

Para começar, é crucialmente importante reconhecer que a política externa é modelada e dominada por interesses de classe internos. Isto é verdade para os Estados Unidos de hoje assim como o foi para o Império Romano ou a França de Luís XIV. Em alguns países, em certos momentos, a estrutura de classe e o padrão de interesses reflectido na política externa apresenta um puzzle mais ou menos complicado. Isto foi verdadeiro, por exemplo, nos Estados Unidos dos meados do século XIX quando o país incluía duas formas contraditórias de sociedade a lutarem pelo controle do governo nacional, cada uma com a sua própria estrutura de classe e suas necessidades particulares na área da política externa. Também foi verdadeiro, para dar outro exemplo, na Alemanha Imperial no meio século que antecedeu a I Guerra Mundial, aquela conjugação única de feudalismo e capitalismo que era levada por uma rigorosa lógica interna a antagonizar tanto a Rússia a Leste como a Inglaterra a Oeste e portanto a garantir a sua própria derrocada final.

WELFARE OU WARFARE

Os Estados Unidos de hoje, em comparação, são um caso muito mais simples. O país é dominado totalmente pelo capitalismo monopolista, pois os remanescentes de formas sociais anteriores (particularmente a classe agrícola independente) são em grande medida destituídos de poder. O estado normal de uma sociedade avançada no capitalismo monopolista – no sentido da norma rumo à qual ela tende sempre – é a depressão crónica. Os Estados Unidos atingiram esta etapa do desenvolvimento em algum momento entre 1910 e 1930, com a norma tornando-se realidade na década de 1930. A depressão crónica não é uma condição viável, sendo contra os interesses tanto dos capitalistas como dos trabalhadores. Ela pode ser ultrapassada (mas não eliminada como tendência) só e exclusivamente através de um sector público amplo e em crescimento firme. Teoricamente, este sector púbico pode assumir tanto uma forma "welfare" (estado previdência) ou uma forma "warfare" (estado guerreiro). Mas um amplo e crescente programa de previdência contraria os interesses de uma classe dirigente privilegiada, uma vez que necessariamente implica um programa cumulativo de reforma social, a erosão de direitos e privilégios especiais, etc. Um vasto e crescente programa de guerra, por outro lado, não só "resolve" o problema económico do capitalismo monopolista como também ajuda a preservar intacta a estrutura de classe existente com o seu sistema graduado de classificação, status e privilégio. Além disso, e isto é da máxima importância, o poder militar que cria é essencial para a manutenção do império económico à escala mundial, o qual proporciona ao capitalismo monopolista as indispensáveis (e altamente lucrativas) matérias-primas, mercados e saídas de investimentos. A classe dominante portanto tem todo o interesse em fazer com que o necessário sector público seja um sector guerreiro (warfare). A classe trabalhadora, embora naturalmente os seus interesses objectivos fossem melhor servidos por um sector previdência (welfare), prefere o sector warfare ao desemprego em massa e – a julgar pela experiência até à data – pode ser persuadida em massa de forma relativamente fácil a aceitar isto como um dever patriótico.

Portanto vemos que no caso da América de meados do século XX a investida dos interesses de classe internos imperativamente requer a guerra fria e a corrida às armas, e torna-se tarefa primária da política externa proporcionar a justificação necessária.

Observámos anteriormente que a resposta quase unânime da classe dominante a esta deterioração da posição mundial da América tem sido não o questionar da política que levou a isto mas, ao invés, insistir em que é necessário mais empenho em aplicar aquela política. A análise precedente permite-nos explicar este paradoxo aparente. Até agora, o declínio dos Estados Unidos como potência mundial tem tido apenas repercussões menores sobre a economia interna e portanto deixou imperturbado o padrão de interesses de classe que determina a política externa. Enquanto isto permanecer verdadeiro não há razão para esperar nem uma mudança na política externa nem uma interrupção no processo de declínio.

Neste ponto devemos desviar por um momento do ponto principal para responder a uma possível objecção. Pode ser afirmado que a nossa teoria deixa de fora um factor importante, que ao determinar suas acções as pessoas podem e levam em conta não só a situação imediata que as confronta como também tendências e prováveis situações futuras. Não será um mistério a razão por que a classe dominante americana não só nada faz para conter a deterioração da posição mundial dos Estados Unidos como realmente intensifica as políticas que são responsáveis pela deterioração? A resposta, parece-nos, depende da característica mais fundamental de uma sociedade burguesa (ou de qualquer outra sociedade baseada na propriedade privada), nomeadamente que a preocupação predominante de cada indivíduo é e deve ser cuidar dos seus próprios interesses o melhor que puder. O que acontece à sociedade toda é a resultante de um número infinito de acções individuais em causa própria. A mentalidade dos membros de tal sociedade (além das classes ou grupos revolucionários, se houver) é completamente dominada por esta disposição. Cada um identifica o interesse público com o seu próprio interesse privado e portanto não tem inibições ou sentimentos de culpa acerca da promoção dos seus próprios interesses privados mesmo se chegar a ocupar uma posição governamental arcando com o dever de servir toda a sociedade. [2] Não existe nada em tudo isto que impeça o indivíduo de antecipar e planear seus negócios privados de forma a levar em conta o antecipado bem como situações reais, mesmo que isto signifique algum sacrifício no presente. Mas isto não significa que indivíduos não possam antecipar-se e aproveitar-se ou procurar impor sobre outros os sacrifícios do presente em troca de um antecipado benefício futuro para o grupo. Esta é a razão porque numa sociedade capitalista a previsão colectiva e o planeamento antecipado são possíveis só na medida em que envolvam sacrifícios insignificantes no presente e benefícios finais para todos ou quase todos os indivíduos que contam (isto é, possuidores de propriedade). Se os sacrifícios no presente forem substanciais e os benefícios no futuro forem colectivos, nenhuma acção é possível. A mentalidade burguesa, por outras palavras, é tão condicionada que nunca pode transcender o horizonte dos interesses individuais. Quando uma dada situação histórica parece apelar a um tal esforço, a resposta é um recurso a racionalizações as quais, se bem que distorcendo a realidade, proporcionam a justificação necessária para atitudes e acções que possam passar no teste do interesse privado.

Esta análise explica uma das coisas mais óbvias e ainda assim desconcertantes acerca da sociedade capitalista, a qual nunca pode actuar antecipadamente para impedir uma crise, não importa quão previsível possa ser, mas deve sempre esperar e actuar depois de a crise ter ocorrido. Centenas de ilustrações desta proposição poderiam ser mencionadas, mas basta uma. Sociólogos urbanos e planeadores de cidades são quase unânimes em dizer-nos que os nossos grandes centros metropolitanos caminham para a paralisia e que as políticas de transportes dos dias actuais estão a acelerar o dia do desastre. E ainda assim nenhumas contra-medidas efectivas são tomadas e é seguro prever que nenhuma o será até que interesses privados decisivos sejam imediata e esmagadoramente ameaçados. Sugerimos que precisamente o mesmo princípio se aplica no campo dos assuntos internacionais. Uma política externa que repousa sobre interesses privados está a precipitar o declínio e a queda dos Estados Unidos como potência mundial. Nada será feito quanto a isto, contudo, a menos e até que aqueles mesmos interesses privados comecem a ser prejudicados ao invés de beneficiados.

Quão logo e por que meios podemos esperar que a deterioração da posição mundial da América comece a ter efeitos adversos sérios sobre a economia americana? E quais as formas que estes efeitos adversos provavelmente tomarão?

Notas

1- Elas podem ser uma preocupação primária de cientistas sociais profissionais, mas não são. A razão é que cientistas sociais neste país hoje são dependentes de universidades e fundações as quais por sua vez estão sob o controle directo e estreito de representantes autênticos dos interesses e da ideologia da classe dominante. Os cientistas sociais são tratados generosamente e permite-se-lhes que façam o que quiserem, mas com uma condição, nomeadamente de afastarem-se de qualquer tentativa de uma análise crítica da sociedade americana. Há excepções, naturalmente, mas elas são todas daquelas que confirmam a regra.
2- Recordar a formulação clássica de Charlie Wilson: "O que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos".

[*] Paul M. Sweezy (1910-2004): economista marxista e fundador da Monthly Review . Leo Huberman (1903-1068): marxista americano, co-fundador e co-editor da MR. O texto acima é um excerto da "Revisão do mês" publicada no número de Setembro de 1960 da MR.

O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2010/hs120710.html

HÁ COISAS QUE EU NÃO ENTENDO

aijesus.blogspot.com - 13 jul 10

Há coisas que eu não entendo, por mais que me esforce. Isto, por exemplo:



[está aqui]
que razão poderá invocar-se para justificar que jogadores de futebol sejam heróis nacionais. que força oculta pode transformar a(s) vitória(s) de uma equipa de futebol em feito nacional.
A coisa torna-se ainda mais estranha se, distanciadamente, consciencializarmos aquilo que todos sabem: que a selecção espanhola venceu, mas a vitória poderia, sem surpresas, ter transformado a holandesa em... heróis. Sobretudo se pensarmos nas falcatruas com que se
(jogadores incluídos)
fazem os jogos e que, pelos vistos, não beliscam minimamente a honorabilidade dos intervenientes.
Parece que o guarda-redes alemão conseguiu aldrabar o árbitro e "anular" um golo
[intencionalmente como o próprio declarou]
no jogo contra a Inglaterra. Menos nobre por isso? pelo contrário, talvez.
Um (escandaloso) toque de mão de Thierry Henry classificou a França para o Mundial. Menos nobre por isso? pelo contrário, talvez.

E a lista, imensa
[imensa mesmo em qualquer jogo: os toques e as "tesouras" disfarçadas, as pancadas físicas para anular o adversário,...],
poderia continuar. O curioso é que todos estes actos
[que na vida quotidiana chegamos a considerar imorais, mas aqui toleramos e até louvamos]
ajudem ao espectáculo que é o futebol profissional. A transformar esta gente-do-vale-tudo em heróis nacionais. Recebidos por presidentes da república e do reino, primeiro-ministros...
Há coisas que eu não entendo, por mais que me esforce.

Curtas

Idiotia
Na Carta da semana passada o artigo "A Ressaca das Dívidas" do The Economist esboça bem o pensamento reduzido que pode ter as teorias econômicas.
Não há raciocínio crítico que consiga aceitar que a criação de dívida gere crescimento. Isso é contrário até mesmo aos simples modelos de gerenciamento econômico doméstico que afirmam que a não formulação de dívidas é mais saudável para o bolso.

Para quem assistiu o documentário Zeitgeist (pode ser baixado gratuitamente da internet ou assistido on line) essa afirmação da reportagem chega a beirar infantilidade. Está lá no documentário explicado de maneira não muito simples (principalmente no Zeitgeist Addendum) a razão da criação das dívidas como forma de controle econômico e social.

Cada Um Por Si
Apesar de ser esse o título do artigo de Delfim Netto na mesma Carta não vou me reportar diretamente a ele, mas sim ao absurdo que estamos vendo nas economias estatais de terem uma meta de redução de seus déficits, quando uma grande parte atual destes déficits foram gerados pelo socorro ao setor privado que criou e fomentou dentro de suas entranhas a crise econômica de 2008. Quando na realidade as contrapartidas
(que já haviam sido cobradas por Stiglitz e Roubini) do setor privado ficaram dentro de uma linha ridícula, garantindo a permanência de altos salários dos gestores (menos estratosféricos, mas igualmente elevados) e os ganhos dos lucros.
Enquanto a população em geral vai sofrer com as políticas de austeridade dos gastos estatais. Lindo, a socialização da dívida com a permanência da privatização dos lucros.

Impasse Ibérico
O que o Governo de Portugal fez na intervenção da negociação da venda das ações da Vivo (pertencentes à PT) para a Telefónica espanhola nada tem de novidade. Toda essa bobagem de avaliação por parte da legislação europeia deveria ser retaliada com mais dureza pelo Estado de Portugal. Apenas como lembrança em 2005
o Congresso americano vetou a compra da Unocal [companhia de petróleo com base na Califórnia] pela China , com argumentos de segurança nacional, alegando que a aquisição de uma companhia americana pela China diminuiria a produção doméstica dos Estados Unidos.
Em termos de posição econômica estratégia há sempre a necessidade de intervenção do Estado para defender os interesses da sociedade. Lembro que, o empresariado tem como objetivo final o lucro, não atender as necessidades da população. Como isso vai ser atingido não importa, o que importa é atingir a meta.

Mais Valia
Não sei se mudou a situação (pois não acompanhei), mas lembro de recentemente ter lido que Eike Batista havia se transformado em um dos homens mais ricos do mundo e que suas empresas não tinham a produção correspondente a esse crescimento.
Me causou estranheza o homem mais rico do mundo, com diversas empresas que valem bilhões, ter a necessidade de recorrer ao BNDES para solicitar empréstimo para construção do Superporto no Rio de Janeiro. Assim fica fácil ser o homem mais rico do mundo tendo o apoio estatal para investir, ao invés de estar empregando diretamente o seu capital.

segunda-feira, julho 12, 2010

PSEUDOPOTÊNCIA

recebido por e-mail - 10 jul 10


* Luiz Eduardo Rocha Paiva

“Entre outros males, estar desarmado significa ser desprezível” (“o Príncipe” – Maquiavel)

O desfecho da iniciativa diplomática brasileira no Oriente Médio demonstrou os limites do poder de um país cuja ação na cena internacional só é relevante nos temas da área econômica. Essa limitação revela uma fraqueza que será ainda mais evidente quando entrarem em choque interesses nacionais e os dos países que efetivamente conduzem os destinos do mundo, em função da projeção desses últimos, seja em nosso entorno estratégico, seja diretamente sobre o nosso patrimônio.

Somos uma potência com pés de barro, cuja expressão mundial depende principalmente da exportação de commodities com baixo valor agregado, da prestação de serviços por algumas empresas e instituições e do atrativo mercado interno. Relevância econômica, mas não militar. Há um desequilíbrio interno fruto da indigência bélica; da debilidade nas áreas de educação, indústrias de valor estratégico, ciência, tecnologia e inovação; da crise de valores morais; e da falta de civismo. Desse quadro, emergem graves vulnerabilidades para enfrentar os conflitos que se avizinham.

O mundo ficou pequeno e a América do Sul (AS) é um dos principais palcos de projeção da China, a ser seguida da Índia e da Rússia. O Brasil terá sua liderança regional ameaçada não só por esses novos competidores, pois os EUA intensificarão a presença na AS, a fim de não perder espaços estratégicos para poderosos rivais arrivistas. A China passa a ser diretamente interessada na exploração dos recursos da AS – agrícolas, minerais, hídricos, e outros – incluindo, logicamente, os da Amazônia. Será menos arriscado China, Rússia e Índia unirem-se aos EUA e UE para impor limites à soberania na Amazônia e em outras regiões, visando condições vantajosas no aproveitamento de seus recursos, do que entrarem em conflito entre si. Atrás da projeção político-econômica virá a militar, inicialmente pela cooperação, evoluindo para dissuasão e, possivelmente, para o emprego direto quando os interesses se tornarem importantes ou vitais. O Brasil e os vizinhos são os atores mais fracos e é desse lado que a corda arrebenta. A história é uma sábia mestra e a da China no século XIX, fatiada em sua soberania e patrimônio e vilipendiada pelas potências da época, mostra o que pode acontecer aqui, pois a China era, então, a nova fronteira como hoje é a AS. Os “impérios” de ontem são as mesmas potências de hoje, com algumas novas presenças como a da Índia.

A perda do Acre pela Bolívia em 1903 é um alerta ao Brasil por sua política irresponsável na Amazônia, pois as semelhanças entre o evento do passado e o presente amazônico são preocupantes, particularmente no tocante às terras indígenas (TI). A Bolívia no Acre, por dificuldade, e o Brasil na Amazônia, por omissão, exemplificam vazios de poder pela fraca presença do Estado e de população nacional em regiões ricas e cobiçadas. O Acre, vazio de bolivianos, era povoado por seringalistas e seringueiros brasileiros, respectivamente líderes e liderados, sem nenhuma ligação afetiva com a Bolívia. No Brasil, ONGs internacionais lideram os indígenas e procuram conscientizá-los de serem povos e nações não brasileiras, no que contam com o apoio da comunidade mundial. Portanto, enquanto no século XIX uma crescente população brasileira estava segregada na Bolívia, hoje o mesmo acontece com a crescente população indígena do Brasil, ambas sob lideranças sem nenhum compromisso com os países hospedeiros e sim com atores externos. Ao delegarem autoridade e responsabilidades a ONGs ligadas a nações e atores alienígenas, os governos brasileiros autolimitaram sua soberania como fez a Bolívia ao arrendar o Acre ao Bolivian Syndicate. Décadas de erros estratégicos enfraqueceram a soberania boliviana no Acre, direito não consumado, pois aqueles brasileiros revoltaram-se e o separaram da Bolívia, que aceitou vendê-lo ao Brasil.

A Amazônia brasileira nos pertence por direito, mas só a ocupação e integração farão a posse efetiva. Em poucas décadas, haverá grandes populações indígenas desnacionalizadas e segregadas, ocupando imensas terras e dispostas a requerer autonomia com base na Declaração de Direitos dos Povos Indígenas, aprovada na ONU com apoio do Brasil. Se não atendidas, evocarão a Resolução que instituiu, em 2005, a Responsabilidade de Proteger, nome novo do antigo Dever de Ingerência. Hoje, há uma forte pressão para transformar TIs em territórios administrados por índios, inclusive com polícia indígena, iniciativa que reúne atores externos e internos, estes uma quinta coluna cuja atuação atende a objetivos alienígenas. Um sem-número de TIs, com maior autonomia que os estados da Federação, comprometerão a governabilidade e a integridade territorial num país que, muitos não percebem, ainda está em formação, pois não foi totalmente integrado.

Não é que a história se repita, mas situações semelhantes em momentos distintos costumam ter desfechos parecidos, para o bem ou para o mal, se as decisões estratégicas adotadas forem similares. Do militar e do diplomata espera-se percepção estratégica capaz de identificar possíveis ameaças, embora longínquas no tempo, antes que se tornem prováveis, pois aí será tarde demais. Cabe a eles, também, a coragem de assessorar o Estado com franqueza, defendendo o interesse nacional mesmo com o risco de afrontar políticas imediatistas de governos de ocasião, que comprometam interesses vitais da Nação. Política exterior é diplomacia e defesa, e nenhuma das duas se improvisa.

No início dos anos 1990, quem alertou para a ameaça à soberania, quando a criação da reserva ianomâmi iniciou o processo de balcanização da Amazônia, foi considerado um visionário. Governos sem visão prospectiva e aptidão para avaliar riscos desprezaram a ameaça e fizeram o jogo das grandes potências, aceitando imposições que vêm criando paulatinamente, por meio de uma exitosa estratégia de ações sucessivas, as condições objetivas para a perda de soberania. Por importantes que sejam outras ameaças internacionais, esta é a mais grave. O resultado será desonroso para o país se sua liderança continuar adotando decisões utópico-internacionalistas-entreguistas, calcadas num discurso politicamente correto, mas moralmente covarde, pois não confessa que se troca soberania por interesses imediatistas ou ideológicos apátridas, camuflados sob bandeiras como a defesa dos direitos de minorias e a preservação do meio ambiente.

Assim, não se trata apenas de fraqueza militar, mas também da ausência de lideranças competentes e de estadistas que tracem políticas e estratégias capazes de limitar ou neutralizar vulnerabilidades. Ao contrário, vêm tomando decisões desastrosas, cujo resultado será a contestação e limitação de nossa soberania na Amazônia, pela via indireta, que dispensará ou reduzirá significativamente a necessidade de emprego do poder militar. Eis o resultado de não ocupar, não povoar, não desenvolver, não defender e não preservar a Amazônia, bem como de segregar ao invés de integrar o indígena aos seus irmãos brasileiros.

É lamentável a sociedade esclarecida, seus representantes e lideranças, em setores decisórios do Estado e em muitas de suas instituições, aceitarem passivamente ou reagirem timidamente à mutilação do país, avalizada por sucessivos governos. Convém ressaltar que esse cenário foi construído, desde o início dos anos 1990, a partir da ascensão ao poder da esquerda, cujos discursos demagógicos e ilusórios de defesa dos bens materiais da Nação, do meio ambiente e dos direitos humanos, de revisão da história e de mudança de valores escondem o propósito real de viabilizar a estratégia gramcista de tomada do poder, pela desagregação da sociedade nacional e o esfacelamento do Estado. É uma esquerda pseudonacionalista – internacionalista de fato – e pseudopatriota – populista de fato, que despreza a história, os feitos, as tradições e os verdadeiros heróis nacionais. Não ama a Nação, mas sim sua ideologia, e não tem uma Pátria, mas sim um partido.

Para merecer e manter um patrimônio imensamente rico como o brasileiro, onde se inclui a nossa Amazônia, é preciso não um pseudonacionalismo de bravatas, demagógico e xenófobo, mas um patriotismo real e sincero, respaldado numa vontade nacional firme, altiva e corajosa para assumir os riscos dos conflitos que virão e, ainda, lideranças legítimas, confiáveis e efetivamente comprometidas com a Nação. Sem tais atributos, países, ainda que sejam fortes e ricos, não passam de pseudopotências.


* O autor é General-de-Brigada, professor emérito e ex-comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército; Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.


Faço resalva de que a expressão "gigante com pés de barro" foi usada por Immanuel Wallerstein para explicar a situação americana. Relacionada ao grande desnível entre consumo e produção interna.

Sistema bancário europeu em grande perturbação

Resistir Info - 12 jul 10

por Mike Whitney

Dívidas externas da Grécia e de Portugal. O sistema bancário da UE está em grande perturbação. Muitos dos maiores bancos da UE estão assentados sobre centenas de milhares de milhões de euros de títulos soberanos duvidosos e sobre empréstimos imobiliários incumpridos. Mas registarem as suas perdas esgotaria o seu capital e forçá-los-ia a reestruturar a sua dívida. De modo que os bancos estão a esconder as suas perdas através de prestidigitações contabilísticas e pela tomada de dinheiro emprestado do Banco Central Europeu. Isto tem ajudado a esconder o apodrecimento no coração do sistema.

Actualmente 170 bancos estão a ter dificuldade de acesso aos mercados grossistas onde obtêm o seu financiamento. Instituições financeiras escusam-se a emprestar umas às outras porque não estão seguras de quem está solvente ou não. É uma questão de confiança.

O governador do BCE, Jean-Claude Trichet, tenta manter os problemas debaixo do pano, mas os mercados não são facilmente enganados. Indicadores de stress, como o euribor, elevaram-se durante os últimos dois meses. Os investidores sentem que algo cheira mal. Eles sabem que os bancos estão a brincar o jogo das escondidas com activos degradados e sabem que Trichet está a ajudá-los.

Na semana passada as acções animaram-se com a notícia de que bancos da UE reembolsariam a maior parte do empréstimo de emergência de €442 mil milhões do BCE. A notícia foi sobretudo um truque publicitário concebido para esconder o que realmente acontecia. Sim, os bancos os bancos tomaram emprestado significativamente menos do que analistas haviam previsto (outros €132 mil milhões), mas apenas dois dias depois 78 bancos tomaram emprestado outros €111 mil milhões. Os empréstimos adicionais sugerem que Trichet inventou tudo para induzir investidores.

Os bancos da UE estavam empenhados nas mesmas actividades de alto riscos dos seus homólogos dos EUA. Comportavam-se imprudentemente em mercados especulativos que foram impulsionados com a máxima alavancagem. Banqueiros arrecadaram centenas de milhares de milhões em salários e bónus antes de a bolha estourar. Agora o valor dos títulos que compraram afundou, de modo que se voltam para o BCE à procura de salvamento. Soa familiar?

Trichet é um representante da indústria bancária, tal como Geithner e Bernanke. A sua tarefa é manter o poder político e económico dos bancos e transferir as perdas para o público. Actualmente, o BCE proporciona empréstimos "ilimitados" a bancos submersos de modo a que possam manter a aparência de solvência. Trichet reduziu taxas a 1 por cento, proporcionou um abrigo seguro para depósitos overnight e iniciou um programa agressivo de compra de títulos (Facilidade Quantitativa, Quantitative Easing, QE), o qual mantém artificialmente altos preços de títulos soberanos. As avaliações de activos de bancos são apoiadas por uma autoridade central e não reflectem o verdadeiro preço de mercado.

O mercado do financiamento por grosso
(repo) não encerrou. Os bancos ainda podem permutar os seus títulos soberanos e títulos imobiliários por empréstimos a curto prazo. Ele exige meramente que façam um pequeno corte (haircut) no valor do seu colateral, o qual seria então registado como uma perda deixando-lhe capital enfraquecido (impaired). É assim que os mercados funcionam, mas aos bancos não é exigido que joguem de acordo com as regras.

Da Bloomberg News: "Prestamistas europeus têm US$2,29 milhões de milhões
(trillions) na Grécia, Itália, Portugal e Espanha no fim de 2009, incluindo empréstimos a governos, segundo o Bank for International Settlements... Reduções do valor contabilístico de bancos alemães sobre empréstimos e títulos provavelmente alcançarão US4314 mil milhões no fim de 2010, com bancos prestamistas estatais e bancos de poupança a enfrentarem o grosso das perdas, disse o Fundo Monetário Internacional num relatório de Abril".

Vêem? O BCE não está a comprar títulos gregos por causa de uma "crise da dívidas soberana". Está a comprá-los a fim de que os bancos não percam dinheiro. A própria "crise de dívida soberana" é exagero de relações públicas. Se se tornar demasiado dispendioso financiar operações do governo, a Grécia pode deixar a UE e retornar à dracma a qual dar-lhe-ia maior flexibilidade para regularizar as suas dívidas. Isso aumentaria a procura por exportações gregas e melhoraria o turismo. Esta é a melhor solução para a Grécia. Então, onde está a crise?

ABANDONO DA UE = PREJUIZO PARA BANCOS ALEMÃES E FRANCESES

Se a Grécia, Portugal e Espanha deixarem a UE e reestruturarem a sua dívida, bancos na Alemanha e França ficarão e incumprimento e possuidores de títulos perderão as suas camisas. Por outras palavras, os investidores, que assumiram um risco, perderão dinheiro – o que é o modo como o sistema supostamente funciona.

Bloomberg outra vez: "Os bancos da região reduziram o valor de uma percentagem proporcionalmente mais baixa dos seus activos do que os seus homólogos dos EUA. Os bancos dos EUA terão reduzido 7 por cento dos seus activos no fim de 2010 e bancos da euro-área 3 por cento segundo o FMI. Bancos europeus ainda não mostraram aos analistas terem completado as suas reduções". (Bloomberg)

Assim, os bancos estão submersos, mas nada tem sido feito para consertar o problema. Onde estão os reguladores?

Na quinta-feira, o euribor atingiu uma altura de 10 meses. A pressão está a aumentar apesar dos programas de emergência de Trichet. Os empréstimos bancários do BCE são de aproximadamente €800 mil milhões ao passo que os depósitos overnight são grosso modo de €240 mil milhões. Trichet está desejoso de arrastar a UE para 10 ou 15 anos de crescimento medíocre e alto desemprego (como o Japão) a fim de impedir que um punhado de banqueiros e portadores de títulos aceitem as suas perdas. Se as coisas ficarem bastante más, Trichet pode recorrer à "opção nuclear", isto é, permitir que um grande banco impluda "estilo Lehman" de modo a que ele possa extorquir centenas de milhares de milhões de euros dos estados membros da UE. Isto já foi feito antes; basta perguntar a Bernanke ou Paulson.

A FRAUDE DO "TESTE DE STRESS"

Os testes de stress dos bancos nos EUA foram organizados pelo Tesouro como medida de "construção de confiança". Eles permitiram que os bancos utilizassem os seus próprios modelos internos para determinar o valor de títulos complexos. A mesma regra será aplicada aos bancos da UE. O Daily Telegraph informa que alguns dos bancos realmente testar-se-ão a si próprios. Pelos menos isso afasta qualquer dúvida acerca dos resultados.

Da Bloomberg News – "Testes europeus de stress a 91 dos maiores bancos da região provocam a crítica de analistas que dizem estarem os reguladores a subestimar prováveis perdas em títulos governamentais gregos e espanhóis. Os testes são concebidos para avaliar como bancos serão capazes de absorver perdas em empréstimos e títulos do governo, disse ontem o Comité de Supervisores da Banca Europeia. Reguladores disseram aos prestamistas que os testes podem assumir uma perda em torno de 17 por cento da dívida do governo grego, 3 por cento em títulos espanhóis e nenhum na dívida alemã, disseram duas pessoas que resumiram as conversações, as quais não quiseram identificar-se porque os pormenores são de ordem privada.

Os mercados de crédito estão a considerar perdas da ordem dos 60 por cento nos títulos gregos se o governo entrar em incumprimento, mais de três vezes o nível que se diz ter sido assumido pelo CEBS. Derivativos conhecidos como recovery swaps são comerciados a taxas que implicam que os investidores obteriam cerca de 40 por cento num incumprimento ou reestruturação da Grécia". (Bloomberg)

Os testes são uma piada. Os bancos continuarão a utilizar mudanças de regras contabilísticas e outros truques para que as suas perdas não se vejam. Trichet utilizará os testes para intensificar o seu programa de compra de títulos (QE) o qual transferirá as perdas dos bancos para dentro dos estados membros. Muitos dos bancos estão insolventes e precisam reestruturação. Mas eles não estão em perigo real, porque ainda têm domínio sobre o processo.

O original encontra-se em http://www.informationclearinghouse.info/article25910.htm

Putin repete bom diagnóstico para Cáucaso do Norte

darussia.blogspot.com - Terça-feira, Julho 06, 2010




Os extremistas no Cáucaso do Norte transformam-se cada vez mais em criminosos puros e simples a coberto de palavras de ordem políticas, afirmou hoje o primeiro ministro russo, Vladimir Putin, numa conferência regional do Partido Rússia Unida.

“Com efeito, os extremistas realizam atentados, mas degeneram mais e mais, atualmente, em bandos de criminosos comuns e recorrem a palavras de ordem políticas para se dedicarem aos ataques armados e à nova redistribuição de propriedades”, afirmou Putin na conferência “Estratégia de Desenvolvimento Social e Económico do Cáucaso do Norte até 2020” a decorrer em Kislovodsk.

“Iremos fazer todos os esforços para proteger a vida, os direitos e a segurança dos nossos cidadãos. Não admitiremos jamais ingerência nos nossos assuntos internos, qualquer atentado à soberania e à integridade territorial da Rússia”, sublinhou, acrescentando que o tempo do extremismo passou.

Vladimir Putin fez fortes críticas às autoridades regionais, considerando que “estão afastadas dos problemas reais e, por conseguinte, desacreditam o Estado, envolvem-se em disputas de clãs e revelam frequentemente incompetência gritante”.

Para o chefe do Governo russo, o desemprego crónico do Cáucaso do Norte é o mais grave problema social e psicológico da região.
O Partido Rússia Unida, que é chefiado por Vladimir Putin, detém a maioria esmagadora na Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento Russo e deu início a um ciclo de conferências regionais com vista à preparação das eleições parlamentares, marcadas para o próximo ano.
O diagnóstico feito por Vladimir Putin não é novo, mas, até agora, nunca foi levado à prática. Será que vai ser desta?

A produção científica inflada

Observem um belo exemplo do triplê da formação de novos doutores por todo o Brasil e a qualidade dos artigos publicados. Como para findar o mestrado e doutorado é necessário publicação, viva o corporativismo. O Professor da Unb que criticou a péssima qualificação da pós-graduação brasileira tem mais um exemplo para ilustrar seus argumentos. 

 

Artimanhas inflam produção científica

Pesquisadores e revistas científicas criam estratégias para elevar artificialmente o impacto de seus trabalhos

Criticado por cientistas, fator de impacto é o principal critério do governo para avaliar produção científica

SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando o professor de ciências farmacêuticas da Universidade Federal da Paraíba, José Maria Barbosa Filho, assumiu a editoria da Revista Brasileira de Farmacognosia, em 2005, começou uma espécie de revolução.
Até então desconhecida, a revista foi inserida em bases científicas nacionais e internacionais e ganhou posições de causar inveja em rankings de publicações.
O segredo está no que ele chamou de "trabalho de garimpagem": o próprio editor convidou pesquisadores para publicarem seus trabalhos e recomendou que eles citassem artigos da própria revista em seus trabalhos.
A história é um exemplo do que os editores de publicações científicas fazem para aumentar o fator de impacto (FI) de suas publicações.
O FI é o principal critério utilizado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para avaliar a produção científica. O sistema criado em 1998 para fazer essa avaliação, o Qualis, tem sofrido críticas da academia.
Segundo os cientistas, o Qualis prejudica as publicações nacionais, já que essas revistas não têm como concorrer com o FI (índice baseado no número vezes que um artigo é citado por outros) de publicações internacionais.
Como estas têm mais citações e, em muitos casos, mais prestígio no meio acadêmico, os pesquisadores brasileiros preferem publicar seus trabalhos fora do país.
"Os brasileiros citam pouco os trabalhos daqui e publicam os melhores artigos fora do país. A autocitação deve ser estimulada e isso não é ilegal", afirmou Barbosa Filho à Folha.

MAQUIAGEM
A criatividade de Barbosa Filho para inflar a posição de sua revista no ranking do Qualis não é única (veja quadro abaixo).
Segundo o professor da UnB Marcelo Hermes-Lima, elas derivam da política da Capes que avalia qualidade de produção científica por meio de números.
"Ficam de fora do Qualis critérios como análise de citações por região (que consideram as citações por Estado ou país)", diz Bruno Caramelli, professor da USP e editor da Revista da Associação Médica Brasileira.
Caramelli integra um grupo de editores científicos que recentemente enviou um e-mail à Capes solicitando revisão dos critérios do Qualis.
"Não acredito na extinção das revistas científicas nacionais. Mas se os cientistas continuarem preferindo as internacionais, ficaremos numa situação complicada", analisa o médico.

BRASILEIRAS
A Capes diz que não há problemas em avaliar a produção científica pelas citações. "O fator de impacto é uma metodologia consolidada nas últimas quatro décadas", afirma Lívio Amaral, diretor da Avaliação Científica da instituição.
Segundo ele, a política da Capes é manter o apoio às revistas brasileiras."Todos os países com desenvolvimento científico e tecnológico têm as suas revistas. Na Europa há revistas com 200 anos."
Juntos, Capes e CNPq distribuem cerca de R$ 5 milhões por ano para 188 revistas científicas nacionais.
Quanto melhor classificada no ranking Qualis, maior é o montante de dinheiro que a revista científica recebe das instituições de apoio.