"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, setembro 25, 2013

Pequena ilha surge na costa do Paquistão após sismo

Mundo P - 
 
(actualizado às )

Terramoto fez-se sentir em zona remota do país mas também nos vizinhos Irão e Índia.
As autoridades paquistanesas estão a investigar o aparecimento de uma pequena ilha na costa do Paquistão, um dia depois do sismo que abalou a província do Baluchistão, sudoeste do país, e que fez pelo menos 328 mortos, segundo o mais recente balanço avançado esta quarta-feira.

Tem cem metros de comprimento, 76 de largura e 18 de altura, e emergiu perto de Gwadar, após o terramoto que destruiu dezenas de milhares de habitações em Awaran e se fez sentir na capital Karachi, onde vivem 20 milhões de pessoas, na Índia e no Irão. Segundo dados da ONU, 61 mil pessoas vivem num raio de 50 quilómetros do epicentro do sismo de magnitude 7,7 na escala de Richter, registado às 16h29 de terça-feira (12h29 em Lisboa).

O sul da província do Baluchistão está situado numa zona de cruzamento de placas tectónicas, ficando sujeito a uma intensa actividade sísmica. Brian Baptie, responsável pelo departamento de sismologia do instituto britânico de geofísica, explicou ao The Telegraph que a ilha será o resultado de um vulcão de lama, criado pelo movimento de gases presos no interior da terra que forçaram a subida à superfície de água de lama e pedras.

“Os vulcões de lama são frequentemente provocados em certas zonas como resultado dos abalos durante os terramotos. Esse sacudir violento leva à libertação de lama e lodo que estão sob pressão no subsolo”, acrescentou o responsável.

As autoridades contabilizaram entretanto 328 mortos e 450 feridos. “Os socorristas procuram encontrar corpos nos escombros mas a nossa prioridade é transportar os feridos para os hospitais o mais rapidamente possível”, declarou Azad Gilano, ministro do Interior da província do Baluchistão.

Os feridos mais graves estão a ser transportados para Karachi de helicóptero e outros vão para os distritos vizinhos, acrescentou Jan Muhammad Baledi, alto responsável da província.

O trabalho dos socorristas prolongou-se pela noite dentro. As autoridades esperam que, ao início do dia, seja possível encontrar mais corpos ou desaparecidos. “Cerca de 90% das casas do distrito ficaram destruídas. A maioria é feita de barro e ruiu”, disse Abdul Rasheed Baluch, alto responsável do distrito de Awaran.

O estado de emergência foi decretado e o exército enviou 300 soldados para a região, um número que poderá chegar aos mil ao longo desta quarta-feira.

Após o sismo, o instituto norte-americano de geofísica (USGS) lançou um alerta vermelho e avançou que “é provável um número elevado de vítimas”; acrescentando que para este tipo de incidente são necessárias respostas nacionais e internacionais. Os serviços sismológicos paquistaneses esperam réplicas.

O Baluchistão é a província mais vasta, a menos populosa e a mais pobre do Paquistão, mas o seu solo é rico em hidrocarbonetos e minerais.

Em Abril passado, um sismo na região Este do Irão fez 41 mortos, dos quais 40 viviam na região fronteiriça do Baluchistão e afectou mais de 12 mil pessoas. Em 2005 um sismo de magnitude 7,6 em Cachemira (nordeste do país) fez 73 mil mortos. Foi uma das piores catástrofes naturais da história do Paquistão.

domingo, setembro 22, 2013

Há casos confirmados de acesso dos rebeldes aos arsenais químicos da Síria

Voz da Russia - Ontem, 15:35

 

Síria, rebeldes sírios, armas químicas

© Voz da Rússia

Os dados em poder da Rússia sobre a situação na Síria confirmam a ocorrência de casos de ocupação, por combatentes da oposição, de instalações onde se encontravam armazenadas armas químicas, declarou hoje Serguei Lavrov aos jornalistas russos, ao comentar as notícias de que, segundo os serviços de inteligências israelenses, aqueles combatentes ocuparam, pelo menos duas vezes, áreas onde estão armazenadas armas químicas sírias.

"É necessário que aqueles que financiam e patrocinam os grupos de oposição, incluindo os extremistas, arranjem maneira de lhes exigir a entrega de tudo o que de lá retiraram e que deve ser destruído", frisou o chefe da diplomacia russa.

Já Vimos este filme...

17.09.2013 | Fonte de informações: Pravda.ru

Já Vimos este filme.... 18887.jpeg

Terroristas na Síria a utilizarem armas químicas

Já Vimos este filme...

A História repete-se. Os protagonistas são outros, mas as fórmulas são as mesmas de sempre...

Barack Obama apresentou-se aos americanos e ao Mundo com uma auréola de Esperança, em contraposição ao seu antecessor George W. Bush, que arrasou o Iraque, numa guerra cujas razões e objetivos anunciados não passaram de uma falsidade. Foi aberta apenas uma "Caixa de Pandora"... que fez despertar a velha e odiosa rivalidade entre sunitas e xiitas. Quase todas as semanas chegam notícias de violentos atentados bombistas que roubam a vida a dezenas de inocentes, num país cada vez mais destruído, primeiro pelos bombardeamentos norte-americanos, os tais cirúrgicos, e depois, sem um fim à vista, por bombas traiçoeiras e vingativas de grupos extremistas que lutam pelo predomínio da sua tribo e seita, numa guerra intestina que muito bem serve os interesses da Oligarquia Ocidental e em particular a dos USA. Esperava-se pois um Presidente diferente, não apenas na cor e no estilo, mas também na política, nomeadamente na sua componente externa, tanto que até recebeu um voto de confiança quando recebeu "antecipadamente" o Nobel da Paz de 2009, embora dirigisse um país em guerra no Afeganistão. Coisas da "Realpolitik"... Presta-se agora para repetir a dose na Síria, não obstante a oposição de cerca de 60% da opinião pública norte-americana e só contar com o apoio minoritário do Congresso, precisamente dos membros que fazem lóbi pela Industria Belicista acantonada no Pentágono, além de  mais de meio Mundo discordar de uma intervenção militar punitiva no país do ditador Basahr Al-Assad.

Num relatório classificado, divulgado pelo Wikileaks, dirigido, entre outros, à Casa Branca, datado de Dezembro de 2006, o Embaixador William Roebuck, assinala as fragilidades e contradições do regime de Assad e dele próprio, visando o seu derrube. Também recomenda que se aproveite o crescente receio dos sunitas, nomeadamente da Arábia Saudita, face à aproximação do ditador com o governo xiita do Irão. Quer os sauditas, quer os israelitas, não vêem com bons olhos uma aliança entre aqueles dois países. Significa tudo isto que pelo menos o desejo de intervenção na Síria tem quase sete anos de gestação...

Não nos devíamos de admirar com esta disposição indisfarçável dos USA, que é, nada menos nada mais, a repetição do mesmo que derrubou o regime de Saddam Hussein, no Iraque, nem com as contradições de um Poder Político, dito democrático, mas que vive e sobrevive da "generosidade" das Corporações Industriais e Financeiras que compram as Administrações da Casa Branca para que estas lhes façam depois o frete... Nenhum candidato à Presidência dos USA pode prescindir de doações em dinheiro em troca da promessa de "bons negócios". Acontece o mesmo com o Congresso, sendo que aqui os políticos são alimentados por luvas, também generosas, para que defendam os interesses da Oligarquia Financeira e Industrial, muitas vezes ao arrepio do bem geral do povo Norte-americano. Segundo o Robert B. Reich, que serviu várias Governos como Secretário do Trabalho, professor universitário e escritor, no seu livro "After-Shock: A Economia que se segue e o Futuro da América", de leitura obrigatória para quem não quer ficar pela rama dos noticiários, escreve que o gasto com lobistas disparou 1,44 mil milhões de dólares em 1998 para 3,47 mil milhões de dólares em 2009, ou seja, aumentou cerca de 141% !  Coincidentemente, a 2ª Guerra do Golfo e o início da operação no Afeganistão, ocorreram nesse espaço de tempo. Noutro passo, lemos que Durante as eleições de 2008, Wall Street fez chover sobre os candidatos um total de 155 milhões de dólares, sendo que a fatia de leão, 88 milhões de dólares, coube à campanha de Barack Obama. A Indústria Seguradora doou uma quantia equivalente para assegurar a "igualdade de oportunidades" ao nível das benesses da Administração. O Plano de Saúde que Obama conseguiu para os cerca de 50 milhões de pobres foi a moeda de troca desse apoio. Se atendermos aos números do Orçamento Federal atribuídos à Defesa (leia-se: Indústria Belicista.), que o autor não refere, mais de 50% do total que o resto do Mundo gasta, as doações e prebendas desta Corporação devem ultrapassar em muito os valores atrás referidos.

Durante muitos Séculos o fabrico de armas e a produção de munições foi uma atribuição exclusiva dos Reinos. Com o advento da Revolução Industrial e a ascensão da Burguesia, o Capital Privado começou a investir na Indústria Militar, oferecendo aos Governos equipamentos de produção em série de menor custo. Nos USA, o desenvolvimento industrial esteve desde sempre nas mãos de meia dúzia de Magnatas Capitalistas, que cresceram muito à sombra de concessões e licenças de mineração e de ferrovias dadas pelo Estado, e também de adjudicações do Governo para grandes obras e fornecimento de material militar. Há portanto neste país a tradição, muito enraizada, de ser o Capital Privado a investir no fabrico de armas e munições, quer em armamento ligeiro, quer no pesado, e o Governo encomendar-lhe o que precisa.

Pela natureza das coisas, as guerras tornam-se necessárias... Tornam-se, porque são uma oportunidade de negócio para a Corporação da Indústria Militar. Sem guerras não há lucros... Como as empresas estão cotadas em bolsa, significa que os seus acionistas e investidores especulativos, entre os quais existem milhares de pequenos apostadores, muitos são pensionistas, basta a expectativa de uma guerra para ganharem dinheiro... E a paz é logicamente um cenário indesejável... Daí que Wall Street esteja por estes dias a aquecer... Por outro lado, os principais sócios esperam dividendos a cada ano de exercício. Portanto, haja guerras!

Artur Rosa Teixeira

(artur.teixeira1946@gmail.com)

Ponta Delgada, 9 de Setembro de 2013

Territoires palestiniens: couvre-feu à Hébron après le meurtre d'un soldat israélien

RFI - Article publié le : dimanche 22 septembre 2013 à 23:34 - Dernière modification le : dimanche 22 septembre 2013 à 23:35

Patrouille israélienne à Hébron dans les Territoires palestiniens, le 22 septembre 2013.

Patrouille israélienne à Hébron dans les Territoires palestiniens, le 22 septembre 2013.

REUTERS/Baz Ratner

Par RFI

L’armée israélienne est en état d’alerte ce dimanche soir. Un soldat israélien a été tué dans le sud de la Cisjordanie, vraisemblablement par un tireur embusqué. Une opération d’envergure pour localiser le tireur est en court. C’est le deuxième soldat israélien tué en moins de 48 heures dans les Territoires palestiniens.

Avec notre correspondante à Ramallah, Emilie Baujard

Hébron, la principale ville palestinienne du sud de la Cisjordanie, est ce dimanche soir sous couvre-feu et totalement verrouillée : personne ne peut entrer ou sortir. Des dizaines de soldats israéliens tentent de localiser le ou les tireurs, qui ont ouvert le feu sur un militaire, le blessant mortellement.

Le soldat se tenait non loin du Tombeau des Patriarches, lieu saint du judaïsme et de l’islam, et où plusieurs unités étaient déployées ce week-end à l’occasion des fêtes juives de Sukkot.

Cet événement intervient alors qu’une autre opération militaire est toujours en cours dans le nord de la Cisjordanie, après la mort d’un autre soldat israélien ce week-end. Plusieurs arrestations ont eu lieu ce dimanche.

En Israël, l’opinion publique se fait de plus en plus critique face au silence de l’Autorité palestinienne après ces deux événements. Deux ministre israéliens demandent même au Premier ministre, Benyamin Netanyahu, d’annuler les libérations de prisonniers palestiniens prévus ces prochains mois dans le cadre de la relance du processus de paix.

Kenya: à Nairobi, l'interminable assaut des forces spéciales

RFI - Article publié le : dimanche 22 septembre 2013 à 10:48 - Dernière modification le : lundi 23 septembre 2013 à 00:38

 

Westgate shopping mall de Nairobi, le 22 septembre 2013.

Westgate shopping mall de Nairobi, le 22 septembre 2013.

REUTERS/Goran Tomasevic

Par RFI

Plus de 24 heures après le début de l'attaque sanglante du centre commercial huppé de Westgate, dans la capitale kényane, les autorités espèrent désormais une « conclusion rapide » du siège. La plupart des otages auraient été secourus, selon l'armée. Les derniers bilans font état de 68 morts et 200 blessés, dans cet acte terroriste revendiqué par les shebabs somaliens.

Article réactualisé régulièrement avec notre correspondante à Nairobi et l'AFP

Cinq Français ont réussi à s'échapper de l'enceinte du Westgate shopping mall depuis l'attaque de samedi, qui s'est transformée en siège toute la journée de dimanche. Plus d'un millier de personnes ont été évacuées du centre commercial depuis le début des hostilités.

Il y aurait 200 blessés, selon la Croix-Rouge. Ils continuent d'affluer dans les hôpitaux des alentours. Plusieurs collectes de sang ont été organisées pour les secourir, notamment à l'hôpital de l'université Aga Khan.

Opération d'ampleur en cours

En soirée, le gouvernement kényan a annoncé, via son centre de gestion de crise, qu'une opération « importante » était en cours à l'intérieur. Puis, plus tard, un porte-parole de l'armée a affirmé que « la plupart des otages » avaient été libérés, sans donner de chiffre. Et d'ajouter : « Les forces de défense kényanes ont pris le contrôle de la quasi-totalité du bâtiment ».

Il faut rappeler que la superficie du bâtiment est énorme. Les assaillants comme les victimes sont donc difficiles à localiser. Le ministère de l'Intérieur reste très actif sur Twitter.

Notre correspondante à Nairobi, présente sur place, est intervenue sur notre antenne à 20h30 (heure française). Elle expliquait alors : « Il semblerait que les assaillants soient dans le parking, au sous-sol, où les voies d'accès sont limitées. »

Un bilan bien plus lourd ?

DEATH Toll rises to 68 after Nine more bodies were recovered in the joint rescue mission#WestgateMallAttack^PO

— Kenya Red Cross (@KenyaRedCross)September 22, 2013

Selon le tout dernier bilan délivré par la Croix-Rouge kényane, l'attaque a fait au moins 68 morts. Une source policière citée par l'Agence France-Presse affirme que le nombre de victimes pourrait être « beaucoup, beaucoup plus élevé ». Selon cette source, les dernières forces ayant pénétré l'enceinte du bâtiment ont découvert de nombreux corps sans vie.

Le président kényan a annoncé que son neveu figurait parmi les défunts. Chez les victimes, on compte aussi deux Françaises, une mère et sa fille, ainsi qu'une Néerlandaise. Deux Canadiens ont également été tués. Le ministère britannique des Affaires étrangères a quant à lui confirmé la mort de trois de ses ressortissants dans l'attaque, un nombre qui « risque d'augmenter », écrit le Foreign office dans un communiqué.

Dans la matinée, le président ghanéen, John Dramani Mahama, a pour sa part exprimé sa « tristesse » d'apprendre la mort dans cette attaque de Kofi Awoonor, poète ghanéen qui a également été ambassadeur du Ghana aux Nations unies dans les années 1990.

→ À (RE)LIRE : Revue de presse française du 22 septembre

Patrick Nyongesa

Représentant de la Croix-Rouge à Eldoret, dans l'est du Kenya

Les Kényans ont vraiment à cœur d'aider leurs compatriotes

22/09/2013 par Florence Morice

Des éléments des forces israéliennes participent à la gestion de cette prise d'otages sanglante, a-t-on appris en début d’après-midi. Des membres des services de sécurité de plusieurs chancelleries occidentales sont également sur place en appui.

Un militaire kényan cité par notre correspondante évoque un assaut qui aurait échoué dans la matinée, et au cours duquel plusieurs soldats auraient été blessés.

Notre correspondante relate : « Il semble que le commando islamiste qui est à l'intérieur a réussi, pendant de longues heures, à dresser un cordon étanche avec les otages, qui pourraient être très nombreux. »

A l'intérieur du centre commercial, la confrontation dure désormais depuis plus de 24 heures, l'attaque ayant été lancée en début d'après-midi, samedi 21 septembre, par les assaillants. Les hommes armés avaient alors tiré et lancé des grenades sur la foule des clients et des personnels de ce centre commercial de luxe de la capitale kényane, fréquenté notamment par les expatriés.

→ À (RE)LIRE : Fusillade meurtrière et prise d’otages à Nairobi

A proximité du centre commercial, toute la journée, on a vu des personnels de santé de la Croix-Rouge et de MSF, des véhicules de la Croix-Rouge, des militaires kényans... Des hélicoptères ont survolé la zone, dont un appareil de combat armé d'une mitrailleuse, qui s'est approché très près du bâtiment dans l'après-midi.

Les Kenyans ressoudés par l'attaque

Par Anaïs Moutot

C'est vraiment rassurant de voir une telle solidarité

22/09/2013

Derrière un cordon de sécurité composé de policiers, militaires, agents de sociétés privées de sécurité et de personnels soignants, une cellule d’aide psychologique a été mise en place, en vue d'accueillir les victimes. Toute la journée, des clients et des employés traumatisés ont pu sortir par petits groupes, au fur et à mesure de la progression des forces de l'ordre. Beaucoup de blessés et de cadavres ont été évacués. Certaines dépouilles ont déjà été enterrées ou incinérées.

Une grande salle avait été préparée en vue de l'accueil des victimes. Dans le quartier où se situe le centre commercial, l'élan de solidarité s'est traduit par la mobilisation de très nombreux habitants, dont beaucoup issus de la communauté indienne kényane, très nombreuse dans cette partie de Nairobi. Les bénévoles n'ont, pour beaucoup, pas dormi dans la nuit de samedi à dimanche.

Les caméras de télévision sont tenues à l'écart de l'endroit où sont accueillis les survivants de l'attaque. Un lieu où règne un calme qui force le respect.

À (RE)LIRE : Attaque de Nairobi, le retour des shebabs

DIAPORAMA : LA JOURNÉE DU DIMANCHE 22 SEPTEMBRE À NAIROBI

Des habitants de Nairobi amassés à bonne distance du westgate shopping mall de Nairobi, toujours sous le coup de la prise d'otages, le 22 septembre 2013.

REUTERS/Siegfried Modola


■ William Ruto demande l’ajournement de sa comparution devant la CPI

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Les avocats de William Ruto, le vice-président kényan, ont demandé ce dimanche l’ajournement de son procès pour crimes contre l'humanité devant la Cour pénale internationale de La Haye, pour lui permettre de revenir au Kenya s'occuper de la prise d'assaut du centre commercial Westgate qui a fait au moins 59 morts.

« La défense de M. William Ruto réclame urgemment que (...) la chambre ajourne le procès pour que M. Ruto puisse rentrer au Kenya s'occuper d'une affaire de sécurité nationale extrêmement grave et encore en cours », a argué la défense de William Ruto dans la requête déposée ce dimanche devant la CPI.

Le procès de William Ruto devant la Cour pénale internationale pour des crimes contre l’humanité auxquels il est accusé d’avoir participé lors des violences post-électorales de 2007, au Kenya, a démarré le mardi 10 septembre dernier.

Romper os acordos militares com os EUA e suspender o leilão do Campo de Libra

resistir info – 22 set 2013

por PCB

Foto de 2011.Como já é de conhecimento da população, após denúncias feitas pelo ex-agente do governo dos EUA, Edward Snowden, a espionagem digital – através de telefones, e-mails e redes sociais – das agências norte-americanas no Brasil atinge agentes do governo – incluindo a presidente da República, Dilma Rousseff –, as empresas estratégicas, como a Petrobras, além da população de forma geral e dentre ela não duvidamos que sejam alvos os militantes à esquerda do espectro político.
Nesta semana, não para nossa surpresa, foi revelado em matéria da Folha de S. Paulo (não contestada, seja pela Polícia Federal, pela chancelaria brasileira ou pela diplomacia dos EUA), que agentes da CIA atuam livremente no Brasil, dentro de unidades da Polícia Federal em Brasília, tendo influência direta sobre o trabalho da Divisão Antiterrorismo (DAT) da PF brasileira.
A matéria cita ainda que, em 2004, durante o governo Lula, agentes da CIA participaram de ação policial "Operação Vampiro" e, em 2005, também durante o período Lula, estiveram diretamente envolvidos no rastreamento do lutador de jiu-jítsu Gouram Abdel Hakim, suspeito de pertencer a uma célula da rede terrorista Al Qaeda.
A suposição de existência de células da Al Qaeda – a mesma que é apoiada financeira e logisticamente pelo governo Obama na Síria, diga-se de passagem –, aliás, é usada como uma pretensa justificativa para a atuação de agências de espionagem e militares dos EUA na Tríplice Fronteira (região entre Brasil, Paraguai e Argentina riquíssima em reservas de água potável).
A matéria da Folha não deixa margem para dúvidas: não é surpresa para o governo – a não ser que ocorra sistemática quebra de comando na Polícia Federal –, que agentes da inteligência norte-americana se envolvam em assuntos internos brasileiros, chegando ao ponto de atuar em ações de nossa Polícia Federal.
Agora, com as revelações de Edward Snowden jogando luz num assunto que a maioria do governo gostaria de ver escondido, a despeito da verborragia cínica para consumo interno, Dilma Rousseff se viu obrigada a tomar alguma atitude – e joga para a platéia ao cancelar uma visita aos EUA, depois de combinar o gesto com o próprio Obama.
Para o PCB, pouco resultado prático existe, nesse cancelamento de viagem, para a recuperação da soberania brasileira. Necessitamos sim, em primeiro lugar, é do completo rompimento dos acordos militares com os EUA, que permitem a ocorrência diária de situações como as descritas pela imprensa.
E que, por conseguinte, envolvem sob cortina de fumaça todo o verdadeiro conjunto de motivos que levam o Brasil a assinar acordos de cooperação militar com estados terroristas como a Colômbia e Israel.
Desde 2010 o PCB vem denunciando a inconveniência e a irresponsabilidade de tais acordos. Em artigo de maio daquele ano, assinado pelo secretário-geral Ivan Pinheiro, já denunciávamos o tipo de situações a que poderíamos ser submetidos pela assinatura de tais acordos:
Através desse acordo, os EUA concedem ao Brasil o total de 5,44 milhões de dólares para treinamento da Polícia Federal brasileira em projetos que vão desde "Técnicas de vigilância e agentes disfarçados", "Coleta, processamento e disseminação de dados e inteligência", "Combate ao crime urbano" e, o mais grave, "Treinamento em ações Transfronteiriças ", ou seja, as partes se declaram no direito de invadir países limítrofes ao Brasil. Além do Brasil abrir mão de sua soberania ainda ameaça a de nossos vizinhos."
A abrangência de itens como "Coleta, processamento e disseminação de dados e inteligência" e "Combate ao crime urbano" pode estar por trás, por exemplo, da pressão de setores empresariais e de extrema-direita para a criação e manutenção de legislação restritiva que institui o crime de "terrorismo" no Brasil, sob a desculpa de garantir a "segurança" dos mega eventos esportivos.
Através desses acordos, todo e qualquer brasileiro que se levante contra os odiosos interesses imperiais dos EUA pode se tornar alvo. É o que denunciávamos em 2010, quando mesmo setores da esquerda (e todo o governo) se calaram diante de nossa denúncia.
Cancelar viagens, jantares e rapapés não soluciona a situação, presidente Dilma. A senhora deve romper o acordo militar com os EUA e suspender imediatamente o leilão do Campo de Libra que, se já era vergonhoso, agora é mais ainda, com a descoberta da espionagem à Petrobras.
Comitê Central do PCB

Leia as denúncias que fizemos em 2010:

  • www.pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1617
  • pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1570
  • Razões para optimismo numa era de “realistas” e vigilantes

    resistir info – 22 set 2013

    por John Pilger

    .A mais importante efeméride do ano foi o 40º aniversário do 11 de Setembro de 1973 – o esmagamento do governo democrático do Chile pelo general Augusto Pinochet e Henry Kissinger, então secretário de Estado. O Arquivo de Segurança Nacional, em Washington, apresentou novos documentos que revelam muito acerca do papel de Kissinger numa atrocidade que custou milhares de vidas.
    Em gravações desclassificadas, Kissinger é ouvido a planear com o presidente Richard Nixon o derrube do presidente Salvador Allende. As suas palavras soam como de bandidos mafiosos. Kissinger adverte que o "efeito modelo" da democracia reformista de Allende "pode ser insidioso". Ele diz ao director da CIA, Richard Helms: "Não deixaremos o Chile ir por água abaixo", ao qual Helms responde: "Estou consigo". Com a carnificina em andamento, Kissinger descarta uma advertência dos seus altos responsáveis sobre a escala da repressão. Secretamente, ele diz a Pinochet: "Você prestou um grande serviço ao Ocidente".
    Conheci muitas das vítimas de Pinochet e Kissinger. Sara De Witt, uma estudante naquele tempo, mostrou-se o lugar onde ela foi espancada, assaltada e submetida a choques eléctricos. Num dia invernal nos subúrbios de Santiago, andámos num antigo centro de tortura conhecido como Villa Grimaldi onde centenas como ela sofreram terrivelmente foram assassinadas ou "desaparecidas".
    Entender a criminalidade de Kissinger é vital quando tentamos compreender o que os EUA chamam de a sua "política externa". Kissinger permanece uma voz influente em Washington, admirado e consultado por Barack Obama. Quando Israel, Arábia Saudita, Egipto e Bahrain cometem crimes em conivência com os EUA e com as suas armas, a sua impunidade e a hipocrisia de Obama são puramente Kissinger. A Síria não deve ter armas químicas, mas Israel pode tê-las e utilizá-las. O Irão não deve ter um programa nuclear, mas Israel pode ter mais armas nucleares do que a Grã-Bretanha. Isto é conhecido como "realismo ou realpolitik pelos académicos e think-tanks anglo-saxónicos que se pretendem peritos em "contra terrorismo" e "segurança nacional", expressões orwellianas que significam o oposto.
    Nas últimas semanas o New Statesman publicou artigos de John Bew, um académico do departamento de estudos de guerra do Kings College, o qual o guerreiro frio Laurence Freedman tornou famoso. Bew lamenta a votação parlamentar que impediu David Cameron de juntar-se a Obama atacando ilegalmente a Síria e a hostilidade da maior parte do povo britânico ao bombardeamento de outras nações. Uma nota no fim dos seus artigos diz que ele "assumirá a Cadeira Henry A. Kissinger em Política Estrangeira e Relações Internacionais" em Washington. Se isto não é uma anedota sinistra, é uma profanação àqueles como Sara de Witt e incontáveis vítimas de Kissinger, e não em menor grau àqueles que morreram no holocausto do seu e de Nixon bombardeamento secreto e ilegal do Camboja.
    Esta doutrina do "realismo" foi inventada nos EUA a seguir à segunda guerra mundial e patrocinada pelas Fundações Ford, Carnegie e Rockfeller, pela OSS (antecessora da CIA) e pelo Council on Foreign Relations. Nas grandes universidades, estudantes eram ensinados a encarar o povo em termos da sua utilidade ou prescindibilidade: por outras palavras, a sua ameaça para "nós". Este narcisismo serviu para justificar a guerra-fria, seus mitos moralizantes e riscos cataclísmicos, e quando esta foi ultrapassada, a "guerra ao terror". Um tal "consenso transatlântico" muitas vezes encontra o seu eco mais claro na Grã-Bretanha, com a velha nostalgia da elite britânica em relação ao império. Tony Blair usava-a para cometer e justificar seus crimes de guerra até que as suas mentiras se tornaram demasiadas. A morte violenta de mais de um milhar de pessoas por mês no Iraque é o seu legado; mas as suas visões ainda são cortejadas e seu principal colaborador, Alastair Campbell, é um alegre orador pós banquetes e sujeito de entrevistas obsequiosas. Todo o sangue, parece, foi lavado.
    A Síria é o projecto actual. Flanqueado pela Rússia e a opinião pública, Obama agora abraçou o "caminho da diplomacia". Será? Quando os negociadores russos e estado-unidenses chegaram a Genebra, em 12 de Setembro, os EUA aumentaram seu apoio às milícias associadas da Al-Qaeda com armas enviadas clandestinamente através da Turquia, Europa do Leste e Golfo. O Padrinho não tem intenção de abandonar seus mandatários na Síria. A Al Qaeda foi praticamente criada pela Operação Ciclone da CIA que armou os mujahedin no Afeganistão ocupado pelos soviéticos. Desde então, jihadistas têm sido utilizados para dividir sociedades árabes e para eliminar a ameaça do nacionalismo pan-árabe a "interesses" ocidentais e à expansão colonial fora da lei de Israel. Isto é o "realismo" estilo Kissinger.
    Em 2006 entrevistei Duane "Dewey" Clarridge, que dirigiu a CIA na América Latina na década de 1980. Aquele era um verdadeiro "realista". Como Kissinger e Nixon nas gravações, ele falou claramente. Referiu-se a Salvador Allende como "aquele sujeito no Chile" ("whatshisname in Chile") e disse "ele tinha de ir porque estava nos nossos interesses nacionais". Quando lhe perguntei o que lhe dava o direito de derrubar governos, ele disse: "Goste ou não goste, nós faremos o que quisermos. Então, o mundo que se habitue a isso".
    O mundo já não está mais a habituar-se a isso. Num continente devastado por aqueles a quem chamou "os nossos bastardos", governos latino-americanos têm desafiado os gostos de Clarridge e posto em prática grande parte do sonho de Allende de social-democracia
    [NR] – o que era o medo de Kissinger. Hoje, a maior parte da América Latina é independente da política externa dos EUA e livre do seu "vigilantismo". A pobreza foi reduzida quase pela metade; crianças vivem para além dos cinco anos; os idosos aprendem a ler e escrever. Estes notáveis avanços são invariavelmente relatados com má fé no Ocidente e ignorados pelos "realistas". Nada disso deve diminuir o seu valor como fonte de optimismo e inspiração para todos nós.

    19/Setembro/2013

    [NR] Resistir.info não concorda com a classificação de Allende como um social-democrata. Tão pouco o Partido Socialista, de Allende, estava filiado à II Internacional. Esta, no Chile, era representada pelo (pequeno) Partido Radical.

  • Utopia, o novo filme de John Pilger, será lançado no National Film Theatre de Londres a 3 de Outubro e no circuito comercial em Novembro.   Para mais informação ver www.johnpilger.com
    O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...
  • Destino de médicos cubanos, Curralinho teve revolta popular contra corrupção na Saúde; tucano acusado de desviar R$ 9 mi

    viomundo - publicado em 21 de setembro de 2013 às 11:47

    Na falta de atendimento local, a ambulancha; os pacientes são avisados pelo médico: faltam luvas descartáveis

    por Dario de Negreiros*, de Curralinho, especial para o Viomundo

    “Calma! Por favor, tenham calma. Me escutem”, pede o médico a um grupo de cerca de 30 pessoas, no hospital municipal. Ali está um gastroenterologista contratado a peso de ouro: para cada dia de trabalho, recebe R$2 mil. No entanto, diante de dezenas de pacientes que dizem esperar há mais de três horas no local, é obrigado a ficar de braços cruzados. “Prestem atenção: eu não tenho luva. Como eu vou fazer uma endoscopia em vocês se eu não tenho luva?”.

    A cena se passa no interior do hospital de Curralinho, no arquipélago do Marajó, região paraense pertencente à Amazônia Legal brasileira e que impressiona tanto pela imponência das águas quanto pela pobreza da população. É aqui que deverão passar três anos de suas vidas as médicas Maria Caridad Rodriguez Driggs, de Santiago de Cuba, e Maria Carmen Ceruto Machado, de Havana.

    Nos leitos do hospital, pacientes se queixam da falta de medicamentos. “A minha filha só vai tomar esse remédio porque emprestaram pra ela”, diz uma mãe.

    As vacinações foram interrompidas por falta de algodão e as roupas têm de ser lavadas à mão, já que a máquina de lavar está quebrada. Finalmente, trazem ao médico uma caixa de luvas descartáveis. “Pronto, agora eu vou poder começar a atender. Não todos vocês, alguns. Só até a luva acabar.”

    A ambulância, com os vidros quebrados e um pneu furado, está nitidamente abandonada.

    “Outro dia, um paciente foi levado para o hospital num carrinho de mão”, conta o vigia Eliel de Jesus Benjó.

    “Se falta luva? Falta tudo! Algodão, remédios, injetáveis… tudo”, confirma Ana Paula Favacho, há dois dias nomeada diretora do hospital, cargo que concilia com o de psicóloga responsável pelo Caps (Centro de Atenção Psicossocial).

    Ao chegar à cidade, imaginei um encontro com o secretário de saúde local, que havia contatado anteriormente. Logo descubro, no entanto, por qual motivo ele não atendia mais minhas chamadas: na sexta-feira passada, a população de Curralinho tomou a Câmara dos Vereadores exigindo melhorais na saúde pública.

    Funcionários do hospital, alguns sem receber há meses, pediam a cabeça do então secretário Gérson Sacramento. O movimento foi organizado pelo Conselho Municipal de Saúde.

    “Eu não dou conta disso, não”, diz-me o recém-exonerado secretário, confirmando sua saída. “Cansei de ver meus amigos falecendo”, diz. “A saúde é uma bola de neve”.

    A vida na região é sempre nas margens dos rios; abaixo, os matapis para pescar camarão

    Saneamento básico e desvios de verba

    Às margens do rio Pará, crianças nadam, mulheres lavam roupa, pescadores lançam n’água matapis, armadilha de pesca que retorna carregada de camarões. A poucos metros dali, vê-se desembocarem os canos que trazem o esgoto de cada uma das pequenas casas e palafitas do bairro Ponte do Cafezal, um dos mais pobres de Curralinho.

    Segundo a prefeitura, cerca de 90% dos domicílios não possuem saneamento básico. E se a coleta de lixo chega a quase 70% da população, o despejo é realizado sem qualquer tratamento, a céu aberto. Abaixo das palafitas, a maré retorna os resíduos à terra, formando pequenos lixões ao lado das águas em que todos se banham.

    O lixão e as crianças: próximos

    Ao lado do porto principal – distante oito horas de Belém, em viagem de barco – uma grande placa anuncia: PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) – “Implantação do Sistema de Abastecimento de Água”.

    A obra previa a construção de tubulações, caixas-d’água elevadas, filtros, bombeamento e sistema de distribuição. Prevista inicialmente para ser concluída no fim deste ano, está completamente paralisada, tendo apenas parte das tubulações sido precariamente instalada. Em terreno descoberto, dois grandes filtros, de cerca de quatro metros de altura, envelhecem abandonados.

    No Portal da Transparência, do Governo Federal, Curralinho consta como inadimplente. Segundo o site, os R$ 700 mil previstos foram integralmente repassados ao município, sendo que o último repasse, de R$ 300 mil, foi feito em junho do ano passado. Quase um ano antes, o MPF (Ministério Público Federal) encaminhava à Justiça sete ações por improbidade administrativa contra o então prefeito, Miguel Pedro Pureza Santa Maria (PSDB).

    Com a participação do ex-prefeito Álvaro Aires da Costa (PMDB), Pureza teria desviado, de acordo com a Procuradoria, R$ 9,7 milhões de recursos destinados à saúde.

    À época, moradores indignaram-se e depredaram o prédio da Câmara Municipal, logo após o término de uma sessão em que os vereadores votaram contra a abertura de processo investigatório sobre os desvios.

    A cidade é área endêmica de malária, leishmaniose, hanseníase, tuberculose e doença de chagas, dentre outros males associados à ausência de saneamento básico. Só entre 2009 e 2010, foram mais de 17 mil casos, o equivalente a mais da metade da população.

    “Você veio pra cá no barco da companhia Bom Jesus?”, pergunta-me o atual secretário de saúde, Deja Santo. “Vim”, respondo-lhe.

    Ficara surpreso com a estrutura da embarcação, que dispunha de três andares, duas lanchonetes, camarotes com ar-condicionado e, na parte superior, uma espécie de discoteca em que um DJ/barman comandava dois freezers e um notebook, ligado a duas grandes caixas de som. “Pois todas as vezes que você deu a descarga, no banheiro do barco, você lançou os dejetos no rio Pará.”

    Ana Paula, a diretora do hospital

    “Trabajando en equipo”

    Voltando do bairro Ponte do Cafezal, saio do meio da rua para ceder espaço a uma caminhonete da Polícia Civil. Quem a conduz é Ana Paula, a diretora do hospital. A viatura lhe havia sido cedida pela delegada para que uma senhora, vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), fosse conduzida até a “Ambulancha”. De lá, a paciente seguiria pelo rio para ser encaminhada a Breves, cidade vizinha que dispõe de um hospital de média e alta complexidade.

    “Nossa ambulância é pré-histórica, não funciona há muito tempo. Eu sei que dia 15, agora, deveria ter chegado uma nova. Mas não sei o que aconteceu.”

    Em outra ocasião, Ana Paula conta ter sido obrigada a pedir emprestado o carro de um vereador. “O município vem sendo depenado há muitas gestões. Só pode ser desvio de dinheiro público. Agora, estamos tentando organizar, mas a gente ainda não acertou o compasso”, diz.

    Os mesmos que pediram a cabeça do ex-secretário indicaram o novo: Deja Santos, enfermeiro, especialista em epidemiologia e doutorando em biologia parasitária.

    Insistentemente elogiado por funcionários, conselheiros e moradores, Deja pretende reorganizar o sistema e, assim que puder, retornar à academia.

    “Depois que as coisas começarem a caminhar, eu pretendo voltar pra docência. A docência é melhor, sabe por quê? Porque infelizmente, na Amazônia, as opiniões políticas prevalecem sobre as opiniões técnicas.” Já teve um “gênio”, exemplifica, que queria lavar e reutilizar as luvas descartáveis.

    A verba municipal varia conforme a arrecadação do município e, nos últimos meses, diminuiu de R$ 150 mil para R$ 70 mil.

    O governo do Estado do Pará, afirma o secretário, há cerca de um ano não tem realizado repasses à cidade – algo que ocorre, segundo ele, na maioria dos municípios do Arquipélago do Marajó. “E os repasses federais também não são suficientes. Chegam R$300 mil por mês, mas só a folha do hospital dá R$ 200 mil. Então eu não tenho como fazer investimentos, comprar equipamentos novos etc”.

    O hospital da cidade e, nos fundos, a casa onde ficarão as duas médicas cubanas (diante dela, Noélio, o único médico fixo da cidade)

    Na parte dos fundos do terreno do hospital, em uma pequena casa com dois dormitórios, sala, cozinha e banheiro, serão hospedadas as duas Marias de Cuba.

    Pelos termos do programa Mais Médicos, tanto a hospedagem como a alimentação dos profissionais recebidos é de responsabilidade do município. Para comer, cada uma das médicas, promete a prefeitura, deve receber um auxílio mensal de R$700.

    Durante a entrevista, uma funcionária traz ao secretário um pequeno papel, com um texto em espanhol. “‘Trabajando en equipo e compartiendo nuestros logros’”. O secretário, à caneta, faz uma correção. “É “logros”, mesmo, aqui, tá? ‘Juntos hacemos historia. Agradecemos de corazón’. Isso, está certo. Pode mandar fazer a faixa”.

    O camarão e o açaí são duas das principais fontes de renda da cidade

    Energia de açaí

    A atual administração, do prefeito Leo Arruda (PT), promete realizar esforços para retomar as obras de saneamento, mas diz estar engessada: alega que o mau uso de recursos públicos das gestões anteriores impede-a de receber novas verbas da União, impossibilitando novos investimentos. Um dos exemplos de intenções forçosamente proteladas diz respeito a uma das principais atividades econômicas da cidade: a extração de açaí.

    Vastas áreas de plantação de açaizeiros margeiam os rios; na cidade, não se caminham dez metros sem passar por ao menos uma placa indicando a venda de suco de açaí. É, de fato, do extrativismo que vive a ampla maioria da população, que leva diariamente açaí, camarão, farinha de mandioca e peixe a barcos com destino, principalmente, a Macapá e Belém.

    Em 2010, Curralinho teve o menor PIB (Produto Interno Bruto) per capita de todo o Brasil; segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cada habitante produziu, naquele ano, o equivalente a R$ 2,2 mil.

    Espalhados por toda a cidade, mais do que as placas que anunciam a venda do suco, estão os caroços de açaí. Pequenas montanhas se acumulam na frente das casas e na beira do rio; bem procurado, no meio das ruas e na sola dos sapatos algum caroço sempre pode ser encontrado.

    Kilber Nunes mostra o caroço do açaí; o detrito, que polui toda a cidade, poderia ser usado para gerar energia

    “Nós produzimos 4 toneladas deste caroço por dia”, conta-me Kilber Nunes, assessor de gabinete do prefeito, que estava em viagem a Brasília.

    Segundo ele, a usina termoelétrica que alimenta a cidade, funcionando à base de óleo diesel, poderia retirar sua energia da queima do caroço do açaí, livrando a cidade do detrito e economizando recursos com combustível.

    “Em Ananindeua [na região metropolitana de Belém], já se produz energia assim. Aqui, entretanto, nós não temos dinheiro para comprar os equipamentos necessários.”

    Mesmo com os impedimentos de transferência de recursos, este ano uma verba de R$1,5 milhão foi liberada pelo Ministério da Saúde para que a prefeitura construa uma unidade móvel fluvial – cuja entrega está prevista para janeiro de 2014 –, embarcação em que as médicas cubanas devem passar grande parte de seu tempo.

    Em Curralinho, apenas 30% da população vive na zona urbana. O restante se espalha ao longo das matas ribeirinhas, numa disposição que dificulta ainda mais a chegada de serviços públicos.

    O posto de saúde de Piriá; abaixo, um poço artesiano vizinho a um banheiro

    A caminho da vila de Piriá, a cerca de uma hora de lancha da área urbana, paramos em uma das diversas casas de palafita espalhadas ao longo do rio.

    Ali, Joana d’Arc de Sousa Silva, grávida de nove meses de seu décimo filho, diz-me ter ido diversas vezes ao hospital de Curralinho durante a gravidez. Só conseguiu, entretanto, uma consulta. “Não tinha médico. Ou, às vezes ele estava muito ocupado, atendendo ainda fichas do dia anterior.”

    Em Piriá, um pequeno posto de saúde da família funciona com dois técnicos de enfermagem e sem nenhum equipamento básico. “Ontem eu tive de fazer um parto com as mãos, sem luvas”, conta-me Vanderléia Barros da Costa, agente comunitária e parteira da comunidade.

    Vanderléia fez o parto sem luvas; o posto presta atendimento às crianças ribeirinhas

    Mais Médicos, mais recursos

    “O atual prefeito”, conta o médico Noélio Pereira Raiol, 63, “veio perguntar minha opinião sobre a vinda dos cubanos. Eu disse pra ele: ‘você tem de agarrar isso com unhas e dentes’”.

    Secretário de saúde, diretora do hospital, técnicas de enfermagem, moradores, pacientes e – vejam só – o médico do hospital municipal: não foi possível a este repórter encontrar em Curralinho nenhuma pessoa que não considerasse positiva a vinda das médicas estrangeiras.

    “A crítica das entidades médicas foi precipitada. Porque o governo determinou a finalidade do médico, que é a atenção básica”, diz Noélio. Ana Paula, a diretora do hospital, concorda: “A gente está encaminhando pacientes de atenção básica. Nós deveríamos encaminhar apenas casos de média e alta complexidade.”

    Mas não seria mais eficiente, barato e urgente investir recursos na compra de medicamentos e materiais essenciais? Não ficará o médico estrangeiro de mãos atadas, tal como aquele gastroenterologista que não tinha luvas descartáveis? Não é preciso, enfim, investir antes em estrutura do que em pessoal qualificado?

    “Evidentemente que só o profissional não é suficiente”, diz Noélio. “Mas o programa vai ajudar, porque ajuda financeiramente os municípios.”

    O secretário Deja concorda: “Não ia adiantar a gente colocar o médico em um posto sem estrutura. Mas, com essa economia, eu tenho mais dinheiro pra comprar medicamentos e materiais, por exemplo”.

    Os municípios se queixam de que a bolsa de R$ 10 mil, paga pelo governo federal aos médicos, é descontada do valor total da verba que lhes é repassada mensalmente. Na prática, contudo, este corte orçamentário representa menos de um terço do valor atualmente gasto por Curralinho para manter Noélio, seu único médico fixo.

    Para estas prefeituras, carentes de recurso, o programa do governo federal funcionaria, então, como uma estratégia astuta por meio da qual as pequenas cidades do interior passariam a contratar médicos por preços muito inferiores aos atualmente praticados. Livra-as, assim, desta difícil negociação em que o outro lado da mesa, sabendo-se tão raro quanto necessário, dita os termos do acordo.

    “Os conselhos e entidades de medicina nunca quiseram debater conosco essa situação. Ao contrário, sempre a utilizaram como moeda de troca”, diz Kilber. “No seu município, falta o quê? Falta isso, falta aquilo? Então o médico, aí, vai custar “tanto” [diriam as entidades]. É quase uma extorsão”.

    O governo federal afirma que as prefeituras cadastradas no Mais Médicos contarão com uma verba de R$ 15 bilhões, no total, para melhorias estruturais. Ocorre que, ao menos por aqui, manter os equipamentos públicos funcionando adequadamente, com todos os materiais de que eles necessitam, parece ser um problema muito maior do que captar verbas para construí-los ou ampliá-los. O mesmo hospital que não tem algodão ou luvas descartáveis possui aparelhos de raios-X e de ultrassom.

    Em Curralinho, notam-se esforços para ampliar os mecanismos de participação da população na gestão de saúde – estratégia que é considerada um dos principais modos de se dar transparência e eficiência ao trato dos recursos públicos. O maior exemplo é a existência do Conselho Municipal de Saúde.

    “O conselho se resume a uma dúzia de pessoas preocupadas com o município”, conta o conselheiro e agente comunitário de saúde Reginaldo Pontes. “Mas, aos trancos e barrancos, ele funciona. Nós derrubamos o secretário. Se a saúde daqui não está pior, é por causa do conselho.”

    Reginaldo se queixa do déficit de participação da comunidade. “Estou há três anos como conselheiro e nunca vi uma reunião com participação popular.” Para além da implementação de dispositivos participativos, como o conselho, a garantia da gestão coletiva parece exigir a criação de uma cultura política democrática. Se esta é inexistente, há de se compreender as raízes históricas de tal ausência.

    Havia dias que tentava, em vão, me recordar do nome de um famoso político, ex-governador biônico do Pará, cuja ascensão se deu durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).

    Ministro do trabalho de Costa e Silva e ministro da educação de Médici, assinou o Ato Institucional nº 5 – símbolo do período mais sombrio do regime golpista. Lembro que, na reunião que precedeu a edição do ato, pronunciara a célebre frase: “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”. Mas não me lembro de seu nome.

    Enfim, percebendo que estou na via principal e mais movimentada de Curralinho, pergunto como ela se chama. Ao que me respondem: “Essa é a avenida Jarbas Passarinho.”

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    viomundo - publicado em 21


    de setembro de 2013 às 12:17