"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, julho 18, 2009

Testemunho de um operador de vídeo no Ground Zero do WTC

Resistir Info - 17/07/09

por Kurt Sonnenfeld [*]
entrevistado por Alan Miller

Clique a imagem para encomendar. Como operador de vídeo do governo dos Estados Unidos, Kurt Sonnenfeld foi despachado para o Ground Zero no dia 11 de Setembro de 2001, onde registou 29 filmes ao longo de um mês: "O que vi em certos momento e em certos lugares... é muito perturbador!". Ele nunca os transmitiu às autoridades e desde então foi perseguido. Kurt Sonnenfeld exilou-se na Argentina, onde acaba de publicar El Perseguido. A obra relata o seu interminável pesadelo e dá um novo golpe no Relatório da Comissão presidencial sobre os acontecimentos do 11/Set. Uma entrevista exclusiva realizada pelo Réseau Voltaire.

9 Julho 2009

Kurt Sonnenfeld, diplomado pela Universidade do Colorado (EUA), estudou relações internacionais e economia, bem como literatura e filosofia. Trabalhou para o governo dos Estados Unidos como operador de vídeo oficial e como director das operações de divulgação da equipe de intervenção de emergência para a Agência Federal das Situações de Emergência (Federal Emergency Management Agency, FEMA). Sonnenfeld trabalhou igualmente sob contrato para diversas agências governamentais e programas para operações confidenciais e "sensíveis" nas instalações científicas e militares sitas no território dos EUA.

No dia 11 de Setembro de 2001 a zona denominada "Ground Zero" foi encerrada ao público. Entretanto, Sonnenfeld tinha acesso livre à mesma, o que lhe permitiu documentar o inquérito (que nunca houve) e fornecer cenas "expurgadas" a praticamente todas as cadeias de informação do mundo. Os registos revelando certas anomalias que ele descobriu no Ground Zero continuam na sua posse.

Acusado – conforme o cenário manifesto de um golpe montado, sobretudo à luz dos acontecimentos que se seguiram – de um crime que não houve, Kurt Sonnenfeld foi perseguido em dois continentes. Após dois anos de medo, de injustiça e de isolamento, decidiu tomar posição publicamente contra a versão oficial do governo. Ele está pronto a submeter os documentos na sua posse ao exame minucioso de peritos fiáveis.

Entrevista

Kurt Sonnenfeld com um especialista em        investigação e socorrismo        não identificado num bolsão subterrâneo nos escombros do        Ground Zero.. Réseau Voltaire: Vosso livro autobiográfico intitulado El Perseguido foi publicado recentemente na Argentina, onde vive exilado desde 2003. Diga-nos: quem vos perseguiu?

Kurt Sonnenfeld: Apesar de ser uma autobiografia, não se trata da história da minha vida. Tendo-me tornado uma testemunha embaraçosa após o meu serviço no Ground Zero, é antes a narrativa dos acontecimentos extraordinários que nos afectaram, à minha família e a mim próprio, durante mais de sete anos e nos dois continentes, devido às autoridades dos EUA.

Réseau Voltaire: Explicou que o vosso pedido do estatuto de refugiado político, conforme a Convenção de Genebra de 1951, ainda está em estudo no Senado argentino, ainda que em 2005 vos tenha garantido o asilo político em bases provisórias. Isto o torna provavelmente o primeiro cidadão estado-unidense nesta situação! Sem dúvida o primeiro responsável do governo exposto directamente aos acontecimentos em torno do 11 de Setembro de 2001 que se tornou um "denunciante" ("whistle-blower"), uma fonte pública. Foi isso que vos levou ao exílio?

Kurt Sonnenfeld: Um refugiado é uma pessoa que foi forçada a deixar o seu país (ou não pode regressar a ele) devido a perseguição. É inegável que numerosas pessoas foram injustamente perseguidas por causa das leis quase-fascistas e das políticas saídas do choque do 11 de Setembro de 2001 e elas têm direito ao estatuto de refugiado. Mas o facto é que pedir o estatuto de refugiado é acto arriscado e perigoso. Os Estados Unidos são a única "super potência" que resta no mundo e a dissidência ali é reprimida de facto. Qualquer um que peça o estatuto de refugiado com bases políticas comete assim um acto de dissidência extrema. Se o vosso pedido for rejeitado, o que é que se faz? Uma vez apresentado o pedido, é impossível voltar atrás.

Kurt Sonnenfeld com a sua mulher        Paula, a testemunhar perante o Senado        argentino. Pessoalmente, eu não era obrigado a deixar os Estados Unidos, certamente não fugi. Na época, muito simplesmente não estava consciente do que se tramava contra mim. Eu ainda não havia estabelecido as ligações. Assim, quando parti em 2003, tinha a intenção de retornar. Vim à Argentina para um curto descanso, para tentar recuperar-me depois tudo aquilo que me aconteceu. Vim aqui livremente com o meu próprio passaporte, utilizando os meus próprios cartões de crédito. Mas por uma sequência incrível de acontecimentos, desde então foi forçado ao exílio e não retornei.

Réseau Voltaire: A que espécie de acontecimentos se refere?

Kurt Sonnenfeld: Fui objecto de denúncias mentirosas a propósito de "crimes" que, como as evidências indicam, não se verificaram, de um aprisionamento abusivo e de torturas na sequência destas acusações, além de calúnias escandalosas para a minha reputação, ameaças de morte, tentativas de sequestro e várias outras violações dos direitos civis e humanos tais como as denunciadas por numerosos acordos internacionais. O meu retorno aos Estados Unidos não seria apenas um prolongamento destas violações, resultaria numa separação – talvez permanente – da minha mulher e dos nosso gémeos de três anos, a única razão de ser que me resta. E depois, com a impossibilidade de obter um processo justo para uma crise que nunca se verificou, arriscar-me-ia mesmo à pena de morte.

Réseau Voltaire: Em 2005, o governo estado-unidense requereu a vossa extradição, o que foi recusado por um juiz federal. Depois, em 2007, o Tribunal Supremo argentino – numa demonstração de integridade e independência – recusou o apelo estado-unidense, mas o vosso governo persistiu. Pode-nos esclarecer sobre a situação?

Kurt Sonnenfeld: Em 2008, absolutamente sem qualquer base legal, o governo estado-unidense fez novo apelo junto ao Tribunal Supremo argentino, que certamente manterá as duas decisões inatacáveis já tomadas pelo juiz federal.

Uma destas decisões relativa que havia demasiadas sombras, ou zonas de sombras, no meu caso. Havia numerosas mentiras no pedido de extradição enviado para aqui pelas autoridades dos EUA e felizmente nós pudemos prová-lo. O facto de que tenha havido tantas mentiras serviu para sustentar o meu requerimento de pedido de asilo. Pudemos mostrar que fomos vítimas de uma longa campanha de perseguição e intimidação por parte dos serviços de informação estado-unidenses. Em consequência, minha família está desde então sob protecção policial permanente. Como observou um senador a propósito do meu caso: "o seu comportamento trai as suas motivações reais".

Kurt Sonnenfeld e sua família        são frequentemente perseguidos,        seguidos e fotografados, como mostra esta foto.. Réseau Voltaire: Eles querem vos prender por um crime imaginário. Como é que justifica um tal encarniçamento? No tempo em que era funcionário do FEMA, o governo deveria ter acreditado em vós. Em que momento a situação foi revertida?

Kurt Sonnenfeld: Retrospectivamente, percebo que a situação reverteu-se pouco antes de eu tomar consciência disso. Inicialmente, a falsa acusação levantada contra mim era totalmente irracional, ela demoliu-me completamente. É incrivelmente difícil sofrer com a perda de alguém que se ama e que se suicida. Mas ser acusado, é insuportável. O assunto saldou-se por um cancelamento de julgamento pois uma montanha de provas absolvia-me totalmente (Nancy, minha mulher, deixou uma carta e escritos suicidários no seu diário; houve casos de suicídio na sua família; etc). A acusação estava certa a 100% da minha inocência antes de pedir o cancelamento.

Mas a detenção foi prolongada, mesmo DEPOIS de ter sido dito que eu devia ser libertado, o que me provou alguma coisa era tramada nos bastidores. Fui encarcerado QUATRO MESES depois de os meus advogados terem sido informados de que um cancelamento fora requerido; fui finalmente libertado em Junho de 2002. Enquanto estava detido, tive uma conversação telefónica com funcionários do FEMA a fim de resolver o problema, mas percebi que era considerado como "comprometido", representando um perigo. Foi-me dito que fora acordado que "a Agência devia ser protegida", sobretudo à luz perturbação que se ameaçava com a entrada em vigor do Patriot Act e da intrusão esperada que viria com o novo Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security). Após todos os riscos em que havia incorrido, todas as provas e dificuldades que havia suportado durante quase 10 anos, senti-me traído. A decepção foi terrível.

Como me abandonavam, disse-lhes que não tinha os registos, que os havia dado a um burocrata de Nova York e que deveriam esperar que fosse libertado para recuperar qualquer outro documento na minha posse. Pouco depois desta conversação, a minha casa foi "revistada", as fechaduras foram mudadas e vizinhos viram homens entrarem na minha casa, apesar de não haver no Tribunal menções às suas entradas, como deveria. Quando por fim fui libertado, descobri que o meu escritório fora saqueado, o meu computador não estava mais lá e vários vídeos haviam desaparecido da minha videoteca no sub-solo. Havia homens constantemente parados na rua próximo à minha casa, o meu sistema de vigilância foi pirateado mais de uma vez, as lampas de segurança externas foram desenroscas, etc, a ponto de me ter instalado em casa de amigos, na sua propriedade na montanha, que em seguida TAMBÉM foi arrombada.

Qualquer um que procure a verdade reconhece que houve séries de irregularidades extraordinárias neste caso e que uma escandalosa injustiça foi cometida contra mim e aqueles que amo. Esta campanha intensa para me fazer retornar ao solo americano é um falso pretexto com as motivações mais obscuras.

Réseau Voltaire: Sugeriu ter observado coisas no Ground Zero que não concordam com o relatório oficial. Disse ou fez alguma coisa para despertar a dúvida a este respeito?

Sonnenfeld no Ground Zero, durante o seu trabalho de documenta��o. Kurt Sonnenfeld: Naquele mesmo telefonema eu disse que revelaria ao público não só as minhas suspeitas sobre os acontecimentos em torno do 11 de Setembro como também sobre diversos contratos para os quais trabalhei no passado.

Réseau Voltaire: Em que se baseiam as vossas suspeitas?

Kurt Sonnenfeld: Retrospectivamente, havia muitas coisas perturbadoras no Ground Zero. Pareceu-me bizarro ser enviado a Nova York antes mesmo de o segundo avião se ter chocado com a torre Sul, quando os media ainda relatavam apenas que um "pequeno avião" colidira com a torre Norte – uma catástrofe demasiado pequena para fazer intervir a FEMA. A FEMA foi mobilizada em alguns minutos, quando foram precisos dez dias para se deslocar à Nova Orleães em resposta ao furacão Katrina, apesar de numerosas advertências prévias! Achei bizarro que as câmaras fossem tão ferozmente proibida no perímetro de segurança do Ground Zero, que toda a zona fosse declarada cena do crime, enquanto as peças de convicção eram levadas dali e destruídas tão rapidamente. Depois achei muito estranho saber que a FEMA e várias outras agências federais já estavam posicionadas no seu centro de comando, no Pier (cais) 92, a 10 de Setembro, um dia antes dos atentados.

Pneus do trem de aterragem        visíveis num contentor de peças de        convicção marcado "FBI, partes de avião apenas".. Pedem-nos para acreditar que as quatro caixas negras "indestrutíveis" dos dois aviões que se chocaram com as torres nunca foram reencontradas pois foram completamente pulverizadas. Entretanto, tenho um filme mostrando rodas do trem de aterragem pouco danificadas e também poltronas, pedaço de fuselagem, uma turbina de avião, que não estavam absolutamente desintegrados. Dito isto, considero bastante estranho que tais objectos quase intactos tenham podido resistir a este tipo de destruição que transformou a maior parte das Torres Gémeas em pó. E tenho seguramente algumas dúvidas quanto à autenticidade da turbina "do avião".

O que aconteceu ao Edifício 7 é extremamente suspeito. Tenho um vídeo que mostra a que ponto a pilha de fragmentos era curiosamente pequena e como os edifícios de cada lado não foram afectados pelo Edifício 7 quando este ruiu. Ele não foi atingido por um avião; não sofreu senão danos menores quando as Torres Gémeas afundaram, não havia senão incêndios menores em alguns andares. É impossível que este edifício tenha podido implodir como aconteceu sem uma demolição controlada. Contudo, o colapso do Edifício 7 foi apenas evocado pelo media dominantes e ignorado de maneira suspeita pela Comissão sobre o 11/Set.

Réseau Voltaire: Segundo algumas informações, os subsolos do WTC7 continham arquivos sensíveis e sem dúvida comprometedores. Encontrou alguma coisa assim?

Pe�a de convic��o: a turbina do Boeing levada para a sucata da Ilha de Fresh Kill. Kurt Sonnenfeld: O Serviço Secreto, o Departamento da Defesa, o FBI, o fisco (IRS), a Comissão de Regulamentação e Controle dos Mercados Financeiros (SEC) assim como a Célula de crise [da cidade de Nova York, NR] para as situações de emergência (OEM) ocupavam muito espaço em vários andares do edifício. Outras agências federais também tinham escritórios ali. Após o 11 de Setembro descobriu-se que, escondido no edifício 7, se encontrava o maior centro clandestino da CIA no país, exceptuado o de Washington DC; uma base operacional a partir de onde espionavam os diplomatas das Nações Unidas e onde eram conduzidas as operações de contra-terrorismo e contra-espionagem (assim como a inteligência económica, NR).

Não havia parqueamento subterrâneo no edifício 7 do World Trade Center. Não havia caves. Em substituição, as agências federais do Edifício 7 arrumavam seus veículos, documentos e peças de convicção no edifício dos seus parceiros do outro lado da rua. Sob o nível da praça do Gabinete das Alfândegas (Edifício 6) havia um grande parqueamento subterrâneo separado do resto da zona subterrânea do complexo e altamente vigiado. Era lá que os diversos serviços do governo guardavam os seus carros resistentes a bombas, as suas limusines blindadas, os falsos táxis e os camiões da companhia telefónica utilizados para vigilâncias secretas e operações secretas, furgonetas especializadas e outros veículos. Nesta zona de parqueamento com segurança reforçada havia também um acesso à câmara forte inferior do Edifício 6.

A abordar a entrada para os níveis inferiores do edifício.. Quando a torre Norte caiu, o Gabinete das Alfândegas dos EUA (Edifício 6) foi esmagado e completamente devastado pelo fogo. A maior parte dos seus andares subterrâneos foi igualmente destruída. Mas havia cavidades. E foi por uma destas cavidades, descoberta recentemente, que eu desci para investigar com a Força de intervenção especial. Foi lá que se descobriu a ante-câmara de segurança da cave severamente danificada. No extremo do gabinete de segurança encontrava-se a grande porta de aço da caixa forte tendo, ao lado, o teclado com código na muralha em betão. Mas a muralha estava fissurada e parcialmente ruída e a porta estava aberta parcialmente. Com a ajuda dos nossos holofotes, olhou-se o que havia lá dentro. Se não fossem as várias fileiras de prateleiras vazias, a caixa forte não continha senão resíduos e poeira. Ela fora esvaziada. Por que? E quando pôde ser esvaziada?

Réseau Voltaire: E isto fez soar um sinal de alarme para si?

Kurt Sonnenfeld: Sim, mas não imediatamente. Num tal caos era difícil reflectir. Só depois de ter digerido tudo é que se desencadeou o alarme.

O Edifício 6 foi evacuado 12 minutos depois de o primeiro avião ter chocado com a torre Norte. As ruas ficaram imediatamente congestionadas pelos veículos de bombeiros, viaturas de polícia e engarrafamentos. A caixa forte era bastante grande, 15 metros por 15 penso eu, para necessitar pelo menos um grande camião para evacuar o seu conteúdo. Depois de as torres terem caído e de terem destruído o nível do parqueamento, uma missão para recuperar o conteúdo da ante-câmara teria sido impossível. A caixa forte foi portanto esvaziada antes do ataque.

Descrevi tudo isso amplamente no meu livro. Aparentemente as coisas importantes foram postas em lugar seguro antes dos atentados. Por exemplo: a CIA não pareceu demasiado inquieta com as suas perdas. Depois de a existência do seu gabinete secreto no Edifício 7 ter sido descoberta, um porta-voz da agência disse aos jornais que uma equipe especial fora despachada para procurar entre os resíduos em busca de documentos secreto e de relatórios dos serviços de informação, apesar de haver milhões, se não milhares de milhões de folhas a flutuarem nas ruas. Contudo, o porta-voz estava confiante. "Não é provável que haja demasiados papéis dispersos", declarou.

Os vestígios insólitos        do Gabinete das Alfândegas dos EUA        (Edifício 6). E as alfândegas primeiro afirmaram que fora destruído tudo. Que o calor fora tão intenso que todas as peças de convicção da caixa forte haviam sido reduzidas a cinzas. Mas alguns meses mais tarde eles anunciaram ter acabado com as actividades de uma importante rede colombiana de tráfico de narcóticos e de branqueamento de dinheiro depois de terem recuperado provas cruciais da caixa forte, incluindo fotos de vigilâncias e registos de escutas telefónicas muito sensíveis. E quando fizeram a mudança para o seu novo edifício na Penn Plaza 1, em Manhattan, orgulhosamente afixaram sobre a parede do hall a sua placa honorífica e a grande tabuleta redonda dos Gabinetes da Alfândega dos EUA, também ela miraculosamente reencontrada, imaculada, nos seus antigos escritórios do World Trade Center, esmagados e incendiados.

Réseau Voltaire: Não estava só na missão ao Ground Zero. Será que os outros notaram as mesmas anomalias? Sabe se eles foram igualmente perseguidos?

Kurt Sonnenfeld: De facto, ouvi falar de algumas pessoas em duas ocasiões diferentes. Alguns dentre nós discutiram mesmo posteriormente. Eles sabem do que se trata e espero que venham a manifestar-se, mas estou certo de que têm fortes apreensões sobre o que lhes acontecerá se o fizerem. Deixo-os decidirem, mas a união faz a força.

Réseau Voltaire: Com o lançamento do vosso livro, tornou-se um "lançador de alerta" – mas a um ponto de não retorno! Deve haver muitas pessoas que sabem o que realmente se passou ou não neste dia fatídico. Contudo, ninguém se apresentou, sobretudo não aqueles que estavam directamente implicados de maneira oficial. É isso que torna o vosso caso tão convincente. A julgar pelas vossas provas, não é difícil imaginar o que tais pessoas retêm.

Kurt Sonnenfeld: De facto, também há pessoas muito correctas e críveis que lançaram alertas. Elas são desacreditadas, ignoradas. Alguns são perseguidos e acossados como eu.

As pessoas são contidas pelo medo. Todo o mundo sabe que se questionar as autoridades dos EUA terá problemas de um modo ou de outro. No mínimo, seremos desacreditados, desumanizados. O mais verosímil é ser acusado de alguma coisa sem relação alguma, como uma fraude fiscal – ou mesmo alguma coisa pior, como no meu caso. Veja o que aconteceu a Abraham Bolden por exemplo [1] , ou ao mestre de xadrez Bobby Fischer depois de ele ter mostrado o seu desprezo pelos Estados Unidos. Há uma grande quantidade de exemplos. No passado, pedi aos meus amigos e associados para falarem por mim, para recontar todas as mentiras difundidas nos media, mas todos eles tiveram medo das consequências contra si próprios e as suas famílias.

Réseau Voltaire: Em que grau as vossas descobertas no Ground Zero implicariam o governo nestes acontecimentos? Está ao par dos inquéritos efectuados por vários cientistas e profissionais qualificados que não só corroboram as vossas descobertas como em certos casos ultrapassam-nas de longe? Considera estas pessoas como "adeptas da teoria da conspiração" ("conspiracy nuts").

Kurt Sonnenfeld: Ao mais alto nível em Washington DC alguém sabia o que ia acontecer. Eles queriam de tal forma uma guerra que, no mínimo, deixaram acontecer e mais provavelmente ajudaram mesmo estes acontecimentos a verificarem-se.

Por vezes, parece-me que os "loucos" [os "adeptos da teoria da conspiração, NR] são aqueles que se aferram com um fervor quase religioso àquilo que lhes é dito, apesar de todas as provas em contrário – aqueles que não querem considerar o facto de que houve uma conspiração interna. Há tantas anomalias no inquérito "oficial" que não se pode atribuí-las a erros ou à incompetência. Eu conhecia os cientistas e profissionais qualificados a que fez referência, as suas descobertas são convincentes, críveis e apresentadas conforme o protocolo científico, em total oposição à descobertas do inquérito "oficial". Além disso, numerosos agentes dos serviços secretos e funcionários do governo avançam as suas opiniões muito informadas (dizendo) que a Comissão sobre o 11/Set era na melhor das hipóteses uma farsa e na pior uma cobertura [2] . A minha experiência no Ground Zero não é senão uma peça a mais a acrescentar ao puzzle.

Réseau Voltaire: Estes acontecimentos remontam a quase oito anos. Pensa que descobrir a verdade em torno do 11/Set continua a ser um objectivo importante? Por que?

Kurt Sonnenfeld: É da mais alta importância. Será assim também daqui a 10 ou mesmo 50 anos se a verdade não explodir até lá. É um objectivo importante pois, neste ponto da história, muitas pessoas são demasiado crédulas em relação ao que as autoridades lhes contam e muito inclinadas a segui-las. Em situação de choque, as pessoas procuram ser guiadas. As pessoas que têm medo são manipuláveis. Saber manipular as massas resulta em benefícios inimagináveis para numerosas pessoas muito ricas e muito poderosas. A guerra é incrivelmente cara, mas o dinheiro acaba em algum lugar. A guerra é sempre muito lucrativa para um pequeno número. De uma maneira ou de outra, os seus filhos acabam sempre em Washington, DC, eles tomam as decisões, preparam os orçamentos, ao passo que os filhos dos pobres e daqueles que não são bafejados acabam sempre na frente, recebendo as ordens e travando as guerras dos primeiros. As enormes caixas negras do Departamento da Defesa dos EUA representam uma máquina de financiamento ilimitado para o complexo militar-industrial, avaliado em vários milhares de milhões de dólares, e assim será enquanto as massas não acordarem, enquanto não se tornarem cépticas e enquanto não exigirem contas. As guerras (e os falsos pretextos que as empurram) não cessarão enquanto as pessoas não tomarem consciência dos motivos reais da guerra e não cessarem de acreditar nas explicações "oficiais".

Réseau Voltaire: O Movimento para a verdade sobre o 11 de Setembro (9/11 Truth Movement) pediu um novo inquérito independente acerca destes acontecimentos. Acredita que haja uma esperança com a administração Obama?

Kurt Sonnenfeld: Desejo isso realmente, mas permaneço céptico. Por que razões a liderança de um qualquer governo estabelecido agiria voluntariamente no que redundaria num sério comprometimento da sua autoridade? Eles preferem manter o statu quo e deixar as coisas como estão. O condutor do comboio mudou, mas o comboio mudou de direcção? Duvido. O impulso deve vir do público, não só ao nível nacional como também internacional, como faz a vossa rede.

Réseau Voltaire: Numerosas associações de defesa dos direitos humanos, grupos de activistas e personalidades vos apoiam na adversidade, e não das menores, como o Prémio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquível por exemplo. Como os argentinos em geral respondem à vossa situação?

Kurt Sonnenfeld: Por uma incrível reunião de apoios. Aqui a ditadura militar ainda está fresca na memória colectiva da maior parte das pessoas. Elas sabem que a ditadura (assim como as outras ditadura na América do Sul) foi apoiada pela CIA, na época dirigida por George Bush pai. Eles lembram-se muito bem dos centros de tortura, das prisões secretas, dos milhares de pessoas "desaparecidas" por causa das suas opiniões, do medo quotidiano. Sabem que os Estados Unidos recomeçarão hoje se o julgarem oportuno, que invadirão um país para atingir os seus interesses políticos e económicos, depois para manipular os media com a ajuda de "casus belli" inteiramente fabricados a fim de justificar as suas conquistas.

Kurt Sonnenfeld e Adolfo Pérez        Esquivel, Prémio Nobel da Paz        1980. Minha família e eu estamos muito honrados por contar dentre os nosso mais queridos amigos com Adolfo Pérez Esquivel [3] e os seus conselheiros do Servicio de Paz y Justicia (SERPAJ). Trabalhámos juntos em numerosas causas, como os direitos dos refugiados, os direitos das mulheres, das crianças sem família e das crianças portadoras de HIV/SIDA. Somos igualmente honrados por ter o apoio de: Abuelas de Plaza de Mayo; Madres de Plaza de Mayo, Línea Fundadora [4] ; Centro de Estudios Legales y Sociales (CELS); Asamblea Permanente de Derechos Humanos (APDH) [5] ; Familiares de Detenidos y Desaparecidos por Razones Políticas; Asociación de Mujeres, Migrantes y Refugiados Argentina (AMUMRA); Comisión de Derechos Humanos de la Honorable Cámara de Diputados de la Provincia de Buenos Aires; Secretaría de Derechos Humanos de la Nación; e do Programa Nacional Anti-Impunidad. Ao nível internacional, um "amicus curiae" foi apresentado em nosso favor pela ONG Reprieve, da Grã-Bretanha, e beneficiámos da colaboração de NIZKOR da Espanha e da Bélgica. Além disso, minha mulher, Paula, e eu fomos recebidos no Congresso pela La Comisión de Derechos Humanos y Garantías de la Honorable Cámara de Diputados de La Nación.

Réseau Voltaire: Como dizíamos, decidir escrever este livro e torná-lo público foi um passo gigantesco. O que é que vos levou a fazê-lo?

Kurt Sonnenfeld: Salvar a minha família. E fazer saber ao mundo que as coisas não são o que parecem ser.

Réseau Voltaire: Última pergunta, mas não a menor importante: o que é que vai fazer dos vossos registos?

Kurt Sonnenfeld: Estou certo de que os meus registos revelam mais coisas do que sou capaz de analisar dadas as minhas limitadas competências. Por isso cooperarei tanto quanto possa com peritos fiáveis e sérios num esforço comum para fazer surgir a verdade.


Notas
[1] Nomeado pelo presidente Kennedy, Abraham Bolden foi o primeiro agente negro do Serviço Secreto encarregado da protecção das altas personalidades, inclusive o presidente. Após o assassinato de JFK, ele assegura que o Serviço Secreto fora prevenido previamente do atentado, mas falhara na sua missão. Ele foi afastado bruscamente da cena pública, acusado de corrupção e encarcerado. Em 2008 ele publicou o seu testemunho em The Echo from Dealey Plaza: The True Story of the First African American on the White House Secret Service Detail and His Quest for Justice After the Assasination of JFK. NR.
[2] "41 anciens responsables �tats-uniens de l�anti-terrorisme et du renseignement mettent en cause la version officielle du 11-Septembre" , por Alan Miller, Réseau Voltaire, 09/Junho/2009.
[3] Ver artigos em castelhano de Adolfo Perez Esquivel no sítio web da Red Voltaire.
[4] "Marcha da resistência das mães da praça de Maio", por Ines Vázquez, Réseau Voltaire, 24/Janeiro/2006.
[5] Ver as intervenções de Alexis Ponce na conferência Axis for Peace. Por exemplo: "Le Mossad a formé la police équatorienne aux techniques de torture" , Réseau Voltaire, 18/Novembro/2005. E o seus artigos em castelhano no sítio da Red Voltaire .

O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/article160943.html

Saindo do buraco

Blog do Luis Nassif - 17/07/09

Por Roberto São Paulo/SP

Do Último Segundo

Ministério da Economia alemão sinaliza fim da recessão no país

17/07 - 09:06 - Reuters, divulgado pelo Último Segundo do iG.

BERLIM - O Ministério da Economia da Alemanha sinalizou que há uma boa chance de o país sair da sua mais severa recessão desde a 2ª Guerra Mundial no segundo trimestre, ao afirmar que a atividade como um todo estabilizou. Após uma série de dados melhores, um oficial sênior do governo disse à Reuters que o produto interno bruto alemão ficou estável no segundo trimestre, talvez com uma leve expansão.

O relatório mensal do ministério para julho disse que a maior economia da Europa parece ter se recuperado da retração de 3,8% no primeiro trimestre, a maior desde a reunificação da Alemanha em 1990…………….
…………..De modo geral, o governo espera que a economia registre uma contração recorde de 6% neste ano.
Mas o ministério disse que a perspectiva para a produção industrial e para as exportações têm melhorado.

“Internamente, as ações decorrentes dos pacotes de estímulos econômicos estão começando a ter um impacto. O consumo privado, que está se beneficiando disso, deve continuar dando suporte”, afirmou o ministério……………………..

O trem-bala

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/09

Por Junior,SP

LN,

Que tal uma discussão sobre o projeto do trem bala? Segundo matéria da FSP, o custo orçado da obra passou para R$ 34,5bi - 63% a mais do inicialmente previsto.

Desta forma a passagem mais barata seria de R$ 150 e a viagem duraria 1h e 33min.

Acho que nessa condições o projeto não é viável. Valor muito próximo ao das passagens aéreas e mais demorado.

É forte candidato a Super-mico do PAC.

Por emerson

Olá.

Vivi por alguns anos no Japão e pude experimentar o sistema de trens-bala deles.

1) No Japão, as passagens eram da mesma ordem de preço das passagens aéreas, mas com algumas vantagens: as estações são no centro da cidade e são integradas com o sistema local de transporte (metro, taxi, onibus), e o conforto das poltronas é muito maior, incomparável o espaço. Um outro aspecto era a facilidade de comprar o bilhete e embarcar no trem, sem checkin, sem esteira de bagagem. A grande vantagem é mesmo a bagagem.

2) No Japão o sistema é extenso, ligando praticamente todas as grande cidades, mas começou ligando Toquio a Osaka durante os jogos olímpicos. Neste aspecto, o projeto Campinas-São Paulo - Rio é correto, inclusive, imagino a linha sendo expandida no futuro para Ribeirão Preto, Uberlandia e Belo Horizonte em uma direção e extendendo até Vitória na outra direção, além de uma terceira linha saindo de São Paulo em direção à Curitiba.

3) hoje o preço do combustivel aereo é viavel, mas no futuro talvez haja um limitante em relação á emissão de CO2. O trem elétrico é a melhor opção. No Japão, existem usinas nucleares que abastecem o sistema Shinkansem (inclusive, visitei uma destas usinas)

4) no Japão há uma cultura do trem, é sempre a escolha natural. Talvez isso tenha que ser muito trabalhado no Brasil.

5) O projeto apresentado pelo gov. federal apresenta um erro: a estação “campo de marte” em São Paulo será relativamente distante da linha do metro e dependerá de uma “ligação” adicional. O local mais apropriado é ao lado da Rodoviária Tietê, integrando o metro, linhas intermunicipais, interestaduais e o trem-bala.

6) No Japão a tabela de horário é extensa, ninguem fica esperando na plataforma por muito tempo e são disponiblilizados horários expressos (ligando apenas as grande cidades) e os “pinga-pinga” ligando as cidades menores. Geralmente as pessoas fazem o chamado “norikai”. embarca no regional até uma grande estação, desembarca e embarca no expresso que vem atrás, fazendo um jogo de prioridades sucessivas.

7) No Japão, viagens de até 3 ou 4 horas são feitas de trem (o que importa não é a distancia, mas o tempo de viagem). Se o japones tem opção de ir de trem em uma viagem de até 3h (por exemplo, São Paulo - Belo Horizonte), mesmo que o preço da passagem aera seja equivalente, ele vai de trem. Se de trem, a viagem será de 5 horas, ai ele prefere o avião gastando as 3h mágicas.

Academia e produção de tecnologia

Blog do Luis Nassif - 17/07/09

Por paulo

Pesquisa industrial

17/7/2009
Por Thiago Romero, de Manaus

Agência FAPESP – O Brasil tem duas opções quando o assunto é fazer com que o conhecimento acadêmico dê origem a produtos e processos que gerem riqueza ao país e benefícios à sociedade: gastar bilhões em estudos científicos sem grandes resultados concretos ou criar e executar programas em que a pesquisa seja o instrumento do desenvolvimento e a ferramenta da competitividade empresarial.

A afirmação, de Fernando Galembeck, professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi feita durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Manaus, na mesa-redonda “A pesquisa científica e a indústria”.

“Temos hoje, no Brasil, oportunidades enormes para inovar e transferir conhecimento da academia para o setor produtivo, a começar pelo papel de liderança que o país tem atualmente na transição global para a era do pós-petróleo, que será em grande parte substituído pela biomassa”, disse.

Galembeck destacou que os produtos e processos industriais de maior rentabilidade atualmente no mercado são, geralmente, os mais novos. E os produtos mais novos são, na maioria das vezes, justamente aqueles com mais aporte recente de conhecimento.

“Podemos dizer que o interesse dos empresários e dos pesquisadores por aquilo que é novo é convergente. E é aí que entra o papel do Estado em fazer com que as ideias prosperem quando elas forem novas e positivas para o público e que sejam suprimidas quando forem negativas para a sociedade”, afirmou.

Para demonstrar que o Brasil tem grande capacidade de transformar conhecimento em riqueza, citou o exemplo do setor dos biocombustíveis e o da indústria química nacional, esta última com faturamento de US$ 140 bilhões em 2008.

“O Brasil vive um momento sem precedentes [na área energética]. Com as recentes descobertas no pré-sal está caminhando para se tornar um dos maiores produtores de petróleo do mundo e também é um dos principais produtores das alternativas ao combustível fóssil. O Brasil é um atacante que chuta com a direita e com a esquerda”, brincou.

No caso específico do etanol no Sudeste do país e suas mais de quatro décadas de pesquisa, uma boa referência para atestar essa liderança impulsionada pelo conhecimento é o fato de que, em 1970, todo o açúcar e álcool produzido no Estado de São Paulo eram provenientes de uma única variedade de cana-de-açúcar, conhecida como NA e originária do norte da Argentina.

“Mais recentemente, na última safra, foram plantadas canas de, pelo menos, 250 variedades distintas no Estado, que hoje tem um estoque de mais de 500 variedades. E o estoque de variedades de eucalipto do Brasil – também com mais de 500 tipos – é maior que o da Austrália”, apontou.

Proteção intelectual

O setor químico no Brasil, segundo Galembeck, produz e exporta tecnologias, gera patentes, opera em redes e emprega doutores, a exemplo de grandes empresas privadas de sucesso que têm na pesquisa científica o ponto de partida de seus negócios, como Braskem, Orbys, Oxiteno, Aché e Bunge.

“Na Oxiteno, por exemplo, 54% da produção atual provém de projetos recentes de pesquisa e desenvolvimento. Ou seja, se não tivesse pesquisa, não existiria faturamento”, destacou.

O professor da Unicamp chamou a atenção ainda para a falta de interesse dos estudantes universitários brasileiros, de modo geral, com relação à aquisição de informações relacionadas aos direitos de propriedade intelectual.

“Do Oiapoque ao Chuí, com paradas no Rio de Janeiro e em São Paulo, os estudantes, que vão se tornar pesquisadores inovadores e interagir com a indústria, leem dezenas de livros, fazem cursos e escrevem artigos científicos, mas não leem patentes, matéria que só aparece nos currículos das faculdades de direito”, apontou.

E nessa linha de raciocínio, segundo Galembeck, os cientistas brasileiros também têm duas opções: descobrir algo, escrever um artigo e ser reconhecido pela comunidade científica e pela imprensa ou, então, inventar algo e transformá-lo em um negócio.

“Será que antes de publicar em revista científica os pesquisadores não deveriam pensar em depositar uma patente e proteger sua invenção?”, indagou.

A intuição dos gurus

Blog do Luis Nassif - 17/07/09

Do Último Segundo

Coluna Econômica - 16/07/2009

Ontem os mercados reagiram com otimismo porque Nouriel Roubini - o economista que primeiro previu a grande crise de 2008 - anunciou sua previsão de que a economia norte-americana já bateu no fundo do poço e agora começaria a se recuperar.

Roubini apostou durante muito tempo na grande crise. Para quem se preocupou em analisar as analogias entre o início do século e os últimos anos - eu mesmo fiz isso em meu “Os Cabeças de Planilha” - a grande crise era inevitável, devido à disfuncionalidade do sistema financeiro mundial, à multiplicação de novas ferramentas financeiras, criando efeitos em cascata de difícil controle.

***

Roubi tinha as mesmas informações de milhares de outros economistas. Analisava indicadores econômicos, indicadores de solvência de empresas, de mercado. Por que remou tão radicalmente contra a maré, e por que, afinal, ele estava certo e a maioria errado?

Anos atrás, o Grande Mestre soviético Garry Kasparov - o maior enxadrista da história - relatou sua visão de jogo em uma entrevista memorável. No tabuleiro - dizia ele - as possibilidade de combinações são infinitas. Por que ele escolhia sempre as alternativas vencedoras? Intuição, dizia ele.

Ao lado de Aécio, Ciro Gomes detona Serra e PSDB paulista

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 17 de julho de 2009 às 15:19

Encontro de Ciro e Aécio contrariou o comando do PSDB; Serra questionou o governador de Minas por não defendê-lo de ataque

BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao lado do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) atacou ontem o PSDB paulista e o governador de São Paulo, José Serra, que disputa com o mineiro a candidatura tucana à Presidência.

A atitude de Aécio contrariou o comando do PSDB. Num telefonema, Serra questionou Aécio por não o ter defendido.

Apesar de não ser do PT e de ter domicílio eleitoral no Ceará, Ciro é o nome preferido do presidente Lula para disputar o governo de São Paulo. Ele, contudo, repete que é candidato à Presidência.

Após reunião a portas fechadas com Aécio, Ciro disse, em Belo Horizonte, que "os métodos do Serra são conhecidos". "Ele não enfrenta adversários com as linguagens naturais do antagonismo político-eleitoral. Trata os adversários como inimigos a serem destruídos."

Ciro alfinetou Serra até por conta da derrota do Cruzeiro na final da Taça Libertadores. Serra, convidado por Aécio, assistiu ao jogo no Mineirão. Questionado por jornalistas se Serra foi "pé-frio", Aécio desconversou, mas Ciro aproveitou: "Eu avisei".

A "corrupção" na base do governo Lula também foi creditada aos tucanos paulistas.

Segundo Ciro, pressionada pelo PSDB-SP, a oposição a Lula obrigou "o governo a confraternizar com os mesmos setores que estavam provocando essa âncora que não deixa o Brasil acelerar o seu passo".

Na terça-feira, o presidente Lula agradeceu a Fernando Collor (PTB-AL) e a Renan Calheiros (PMDB-AL) pela "sustentação" aos "trabalhos do governo no Senado".

Aécio não comentou as críticas de Ciro, que chegou a vincular sua eventual candidatura a presidente à situação do mineiro. "O governador Aécio, sendo candidato a presidente da República, descomprime gravemente a necessidade estratégica de eu apresentar uma candidatura", disse Ciro.

O encontro dos dois foi alvo de críticas no comando do PSDB. Tucanos se queixaram do fato de Aécio receber Ciro, desafeto declarado de Serra.

Apostando na "conduta impecável de Serra e Aécio" na disputa interna, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que o partido "não precisa dos conselhos de Ciro". "No Brasil, há um político que se notabilizou pela linguagem inadequada e pronunciamentos inoportunos: Ciro Gomes".
Segundo o vice-governador, Alberto Goldman, Ciro pertence "às forças da situação" e "deveria cuidar da sua própria casa". "Somos as forças da oposição. Saberemos como escolher nosso candidato. Ele que trate do terreiro dele."

Rovai: o espirro de Honduras e o resfriado da América Latina

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 17 de julho de 2009 às 11:40

por Renato Rovai*, em seu blog

Não sou adepto de teoristas conspirativas, mas como dizia o Brizola, se tem dente de jacaré, pele de jacaré, boca de jacaré, só pode ser jacaré. A manutenção do golpismo em Honduras é uma séria ameaça aos governos progressistas na América Latina, em especial a de países menos centrais como El Salvador, Nicarágua, Paraguai e Bolívia.

Pelo que percebi ontem [15/07/2009] no debate realizado pelo Cebrapaz no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, onde dividi a mesa com os colegas Gilberto Maringoni e José Reinaldo Carvalho, muitos pensam como eu, inclusive os dois citados.

A questão é simples. A direita truculenta organizada pela doce mídia latino-americana busca desde 11 abril de 2002 (quando Hugo Chávez foi seqüestrado e retirado à força de Miraflores) reativar o golpismo no Continente.

Foram várias as tentativas na mesma Venezuela, como também na Bolívia, onde os conflitos de rua mataram dezenas. No Brasil, em outras proporções, em 2005 um ex-presidente da República chegou a propor que o atual assumisse que não seria candidato à reeleição para que pudesse terminar o seu então primeiro mandato.

Mais recentemente, no Paraguai, até a fertilidade do atual governante deu combustível para que se tentasse articular seu impeachment.

Em Honduras, o impeachment não é possível constitucionalmente. Por isso, a turma do Continente que gosta do porrete e que conta com “simpáticos” intelectuais como Mario Vargas Llosa preferiu seqüestrar o presidente e mandá-lo de pijamas para Costa Rica.

Agora, um “acordo” é apresentado pelos golpista com a anuência da Igreja e da doce mídia local. O presidente constitucional Manuel Zelaya se entregaria à Justiça do país e neste caso poderia lhe ser oferecida uma anistia. Mas nada de volta à presidência. Isso os golpistas julgam inconstitucional. Entenderam?

É como se alguém assaltasse sua casa, estuprasse sua mulher, matasse seus filhos e depois seu vizinho chamasse você e o assassino para conversar na casa dele. Buscando um acordo para que você pudesse andar pelo bairro de cabeça baixa. Nada de voltar pra casa. Nada de punição aos bandidos.

É um escândalo odioso. Mas mesmo assim a solução começa a ganhar adesões em nome de uma suposta paz. Como o calendário é favorável aos golpistas que já falam em antecipar as eleições que estavam marcadas para 29 de novembro próximo, o golpe pode acabar sendo um sucesso.

Se isso vier a acontecer, a retomada democrática no Continente pode sofrer seu primeiro grande revés. E nada nos garante que isso que parece um espirro localizado possa vir a se tornar um longo resfriado continental.

Se eu fosse presidente do Brasil, chamaria o Itamaraty e exigiria que me apresentasse várias possibilidades de ações mais duras contra esse golpe. Ações que pudessem ser desencadeadas a partir da próxima semana.

O colega Maringoni falou de um bloqueio a Honduras. Não tenho convicção a respeito dessa solução. Como diz meu vizinho de sala e editor executivo da Fórum, Glauco Faria, condenamos essa solução em Cuba. Não devemos defendê-la contra outros povos.

Afinal, quem vai sofrer suas conseqüências não é apenas Micheletti, a Igreja e a doce mídia de lá. Também não defendo a invasão do país por tropas externas. Mas ao mesmo tempo algo precisa ser feito. Com urgência.

Honduras é um pequeno país, mas pode ser um bom exemplo para que essa corja se anime a fazer o mesmo Continente afora. E essa corja é uma corja.

Renato Rovai é editor da revista Fórum.

O blog dele fica aqui.

A liberdade vigiada: o homem prisioneiro de uma gaiola virtual

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/9

Jacques Ellul era de baixa estatura, tinha a cabeça redonda e olhos maliciosos. Conhecia bem o pensamento de Marx, mas era anticomunista, declarava-se "antissartriano" e não escondia a sua fé protestante. Irritava os ambientes institucionais definindo-se anárquico, mesmo se, na realidade, foi mais simplesmente um não violento, um ecologista que busca "proteger" as costas da Aquitânia do turismo.

O comentário é do editorialista Corriere della Sera, Armando Torno, 10-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Deixou Paris para se retirar e ensinar em Bordeaux, onde as suas lições eram frequentadas por muitíssimos estrangeiros. Morreu em 1994. Jean-Luc Porquet, aluno e autor do livro "Jacques Ellul, l'uomo che aveva previsto (quasi) tutto" [J.E., o homem que tinha previsto (quase) tudo, em tradução livre], lembra que "estudantes norte-americanos chegavam da Califórnia ou do Colorado para acompanhar seus cursos". "Os seus arquivos – prossegue – estão conservados no Illinois. Hoje, a melhor especialista da bibliografia de Ellul é uma professora norte-americana, Joyce Main Hanks: recolheu cada palavra escrita no mundo sobre ele".

Mas quem era esse estudioso que Ivan Illich considerava uma das cinco pessoas mais importantes da sua formação e que, entre tantos, é venerado por Willem H. Banderburg, diretor do Centro para o Desenvolvimento Social e Tecnológico em Toronto? Entre ensinamentos e pesquisas, foi também autor de "Storia delle Istituzioni" [História das Instituições], que continua sendo um texto de referência: foi adotado por Gianfranco Miglio, que notava que os "subornos" ou a "propina", como quisermos, eram, para Ellul, inerentes ao sistema da Europa democrática, previsões, apenas com algumas décadas de antecipação, sobre os escândalos.

Depois, aprofundou o impacto da técnica sobre a sociedade contemporânea. E dessa análise, resta um dos fenômenos, distante – destaca Porquet – "dos bate-bocas verbosos da 'intelligentzia'Heidegger.

Agora, é publicado, de Ellul, "Il sistema tecnico", a obra de 1977 que compendia as suas concepções. O livro, mesmo que tenha algumas páginas datadas, polêmicas hoje não muito compreensíveis (por exemplo, a com Jacques Monod) e pequenas ingenuidades, continua atualíssimo.

Se, em "Propagandes" (1962) ele "demonstra – nota Porquet – que as democracias modernas usam e abusam da propaganda, que, em retorno, ameaça seus fundamentos", com o livro que é publicado agora em italiano ele enfrenta o tema da informática e da mudança de natureza efetuada pela própria técnica. Porquet sintetiza o que o seu mestre viu: "Se a primeira era uma 'aposta', esta constitui hoje, no interior da sociedade, um 'sistema'. Unificando todos os subsistemas (ferroviário, postal, aéreo, telefônico, de produção de energia, militar etc.), o computador permitiu o nascimento de um Todo organizado, que modela, transforma, controla e tende, pouco a pouco, a se confundir com ele. Cada setor já é interconectado, condiciona e é condicionado. Dados bancários, tratamento de fluxos enormes de informação, redes de comunicação imediatas: a informática permite o crescimento ilimitado das organizações econômicas e administrativas".

Não é preciso cair no lugar comum que vê a sociedade transformada em uma megamáquina em que nós desenvolvemos as mesmas funções das engrenagens. Pelo contrário, é o momento de nos lembrarmos que "a liberdade desaparece pouco a pouco".

Utilizamos as palavras de Porquet: "No interior do sistema, sob a condição de consumir, de trabalhar e de se divertir de modo conforme às suas diretivas, o homem seguramente é livre e soberano. Mas essa liberdade é artificial e sob controle". Não é fácil sair da aproximação, adotar atitudes diferentes das consideradas normais, já que os meios técnicos, multiplicando-se, "fazem desaparecer todo fim", e o sistema "autogenerativo" criado é cego.

Por quê? Ainda com as palavras de Porquet: "Ele não sabe aonde vai, não tem nenhum projeto. Não cessa de crescer, de artificializar o homem e o ambiente, de nos levar rumo a um mundo sempre mais imprevisível e alienante. Sem corrigir os próprios erros". Entender-se-á porque o sistema técnico de Ellul de 1977 foi acolhido por um silêncio absoluto.

Nessas páginas, lê-se ainda intuições fulminantes, atualíssimas. Eis algumas: a tirania dos números, o regionalismo (visto como um produto do sistema técnico), a impossibilidade de parar as guerras quase "bancos de prova" da técnica irão chegar; as diversões, "função respiratória do sistema", terão importância sempre maior. E ainda: "Nesse mundo, o homem trabalhará mais do que nunca", haverá problemas econômicos enormes provocados pela automação com crises imprevistas e euforias imprevisíveis, criar-se-á mais tempo, mas se perderá o espaço.

Enfim, é uma veleidade conciliar técnica e democracia. Por quê? Segundo Ellul, a democracia não consegue controlar a técnica e, consequentemente, o desenvolvimento que nos envolve foge às suas regras. Em síntese: a técnica procede sem levar em conta a democracia. Além disso, "é preciso dissipar o mito de que ela aumenta as possibilidades de escolha", porque, se podemos nos distrair entre mil eletrodomésticos e centenas de detergentes, o nosso papel no corpo social, no que se refere a funções e condutas, sofreu "uma considerável redução".

Há perguntas que continuam em aberto à margem dessas páginas. O nosso sistema conseguirá se autocorrigir? Ou o homem deverá fazer isso? Em um primeiro tempo, Ellul pensou que seria possível "abandonar os binários do crescimento econômico". Depois, compreendeu que uma revolução como essa teria sido impossível. Melhor, se deu conta de que as próprias religiões "são apagadas pelo aparecimento de um misticismo de perfumaria e de novos deuses".

Profetizando a era da Internet que está diante de nós, afirmava – lembra Porquet – que a técnica "busca fazer com que acreditemos que a informação e o fato de sermos documentados são a coisa própria da cultura, mas não é verdade". Enfim, a última fraude. Ele se dá conta de que, talvez, há, novamente, muita liberdade à venda. E qualquer um a compra. Todos os dias. parisiense" que acreditava muito em

País pode gerar energia a partir do vento equivalente à produção de Itaipu

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/09

O setor energético já recebeu 441 projetos para geração de energia elétrica pelo sistema eólico, pelo qual equipamentos captam a energia dos ventos para movimentar os geradores.

A reportagem é de Lourenço Canuto, da Agência Brasil e publicada pelo EcoDebate, 17-07-2009.

Essa oferta, conforme explicou ontem (16) o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, pode resultar em um potencial de 13.341 megawatts (MW), capacidade próxima da que é gerada pela Usina Hidrelétrica de Itaipu.

O leilão que vai escolher as empresas que oferecerem os menores preços para instalação desses sistemas está marcado para o final de novembro, mas, segundo o ministro, ainda não está definido o potencial que será contratado, que pode ser de 3 mil MW a 4 mil MW, conforme a necessidade definida.
A energia será interligada ao sistema de transmissão nacional, estando inscritos 322 projetos para a Região Nordeste (equivalente a 9.549 MW) e 111 projetos para a Região Sul (3.594 MW).

Já estão instalados no país, em diversos estados, sistemas de geração eólica com potencial para geração de 386 MW de energia eólica, volume que será elevado, até o final de 2009, para 427 MW, independentemente do leilão de novembro.

Em 2010, mais 684 MW serão gerados através dos captadores já existentes, que serão acrescentados ao sistema elétrico nacional, totalizando 1,4 mil MW de geração por meio do sistema eólico. A matriz energética nacional conta, hoje, com a geração de 100 mil MW e, ao final de 2010, a contribuição da geração eólica para a matriz energética deverá significar 1,4% desse total.

Ainda não está fixado o preço máximo da venda da energia resultante do leilão, que deverá ser definido até o final do próximo mês. Os projetos apresentados ao Ministério de Minas e Energia para geração via eólica se destinam aos estados da Bahia, Paraíba, do Ceará, Espírito Santo, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e Sergipe.

Lobão disse, ainda, que o Brasil tem potencial para geração de até 140 mil MW de energia eólica. Segundo ele, em todo o mundo, estão sendo gerados o total de 120 mil MW por via eólica.

A proposta inicial do Ministério era de que os projetos que vão se candidatar ao leilão envolvessem o compromisso de geração individual de 2 MW por catavento, mas, atendendo a um pedido dos empresários que vão participar da disputa, a exigência foi reduzida para 1,5 MW.

Atualmente, a geração de cada unidade existente na região litorânea brasileira, em diversos estados, não passa de 1 MW, mas a evolução constante da tecnologia nessa área poderá elevar bastante a capacidade individual dos cataventos, pois existem torres em outros países que são maiores que um avião Boeing 747, conforme explicou o ministro.

Busca da sustentabilidade renova Holanda

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/09

O metrô de Amsterdã é movido a lixo. Os prédios públicos da cidade e a iluminação das ruas vêm de fontes renováveis. O monumental edifício De Bazel, um arroubo art nouveau no centro da capital holandesa, armazena calor do Sol no lençol freático que está 150 metros abaixo, e é na subida da água que o prédio fica aquecido no inverno. A Holanda está levando a sério a meta de ter 30% de sua matriz energética de energia limpa e renovável nos próximos 11 anos. Por aqui, calor é commodity, vento é energia e as casas são "neutras" em carbono.

A reportagem é de Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 16-07-2009.

Às vezes, as casas holandesas se superam e se tornam "climaticamente positivas". O que isso quer dizer se explica didaticamente em Leusden, uma cidadezinha de 30 mil habitantes na Província de Utrecht, no centro dos Países Baixos. Ali, numa rua pacata, o número 22 tem tijolos aparentes e um segredo no porão. Nos 230 metros quadrados distribuídos por três andares não só se produz energia suficiente para garantir o aquecimento, ter boa luminosidade e ligar todos os eletrodomésticos e eletrônicos habituais, como para vender a energia não consumida à rede.

Perto da garagem dessa usina particular fica a casa de máquinas. Uma parede cheia de tubos conectados a um computador dá conta da energia produzida pelo pequeno moinho de vento no telhado, pelos painéis solares espalhados aqui e ali e por um sistema geotérmico que capta o calor e o joga para dentro da terra, um método que parece disseminado por aqui. Se quisesse, o proprietário Johannes Out, 29 anos, poderia sair com o carro elétrico que está à porta e dirigir cinco mil quilômetros por ano com a energia que a sua casa produz. Ou seja, poderia ir e voltar todo dia ao trabalho sem gastar nada com combustível.

Ele inventou a casa, ainda única na Holanda, pesquisando o que existe em construção sustentável e energia renovável na Alemanha, na Suíça e nos países nórdicos. Bebeu na fonte do que existe de mais ousado em materiais renováveis e novos. Ergueu seu lar de € 550 mil usando uma liga à base de granulado de vidro (reciclado de garrafas velhas) e concreto e um material muito similar ao isopor como isolante. A casa é toda envidraçada, o que garante luz natural e boa ventilação no verão. Os vidros são triplos, para vedar bem no inverno e reter o calor. As lâmpadas são supereficientes, de 7 watts, no máximo, cada. Um interruptor parecido a um i-Pod controla tudo. A casa, estima Out, custou apenas 10% a mais do que uma construída sem todas essas traquitanas "verdes".

Um exemplo grandioso da reforma de interiores que os modernos batizaram de "retrofit", está no coração de Amsterdã. O De Bazel é dos melhores casos de um monumento que foi transformado em prédio contemporâneo e sustentável. Junto ao Palácio Real, à Praça Dam e ao Rijksmuseum (onde estão os quadros de Rembrandt), o De Bazel é tido como uma das construções mais lindas da cidade.

O nome vem do arquiteto K.P.C. Bazel que o projetou nos anos 20 para ser a sede da empresa sucessora da mítica Companhia das Índias Ocidentais. Virou sede de banco e nos anos 90 o governo holandês o transformou no arquivo da cidade. "O isolamento é muito 'high tech', mesmo que você nunca o veja", entusiasma-se o diretor Jan Boomgaard. Ele aponta para o centro e para o alto do prédio, o fígado do gigante, onde só se vê uma abóbada de vidros. "Espiem as canaletas entre eles", continua. É por lá que o ar aquecido pelo Sol do verão desce para o lençol freático e esquenta a água que é bombeada de volta no inverno. Como é um prédio histórico e está no centro de Amsterdã, não se podia crivá-lo de moinhos eólicos ou placas solares. "Mas nós o fizemos o mais eficiente possível", continua Boomgaard.

Foram investidos € 62 milhões na empreitada. O De Bazel possui 16 diferentes zonas climáticas onde se controla a temperatura e a umidade. Todos os vidros são duplos. Em sete anos o que se gastou no sistema de aquecimento estará pago. "Mantivemos o compromisso de preservar o passado numa instalação do futuro", vangloria-se Jaap Gräber, da Claus em Kaan Architecten, a empresa de arquitetura que planejou e executou o ambicioso retrofit.

Os holandeses fazem escola no design irreverente e seus arquitetos são competentes em traduzir o conceito de contemporaneidade. Se a moda agora é mirar na baixa emissão de carbono, as pranchetas holandesas desenham até rodovias sustentáveis, seja lá o que isso signifique.

O plano da empresa Movares Nederland B.V. é construir uma cúpula de vidro sobre uma estrada. É assim, desse jeito meio mirabolante, que eles imaginam reduzir o barulho e as emissões de material particulado e outros poluentes como o CO2 que saem dos escapamentos dos carros. Um sistema de carvão ativado, no topo da cúpula, filtraria os gases. O vidro isolaria o barulho. No asfalto, um feixe de canaletas absorveria a energia produzida pelas células fotovoltaicas colocadas entre os vidros e levaria o calor para os aquíferos.

Cobrir 25% da cúpula com as células solares garante 1.350 MWh por quilômetro por ano, o que corresponde a uma redução anual de emissão de 750 toneladas de CO2", diz o consultor sênior da empresa, Lazló Vákár. Ainda não há nenhuma rodovia do gênero na Holanda - mas os guard rails das estradas já são assombrosas estruturas altas de vidro. É uma forma de manter a paisagem preservada.

Quem passa vê moinhos de vento antigos e modernos, vacas e campos de tulipas - e quem mora por perto não fica surdo.

O que está acontecendo na charmosa Delft, a cidade das cerâmicas azuis e dos preciosos quadros de Johannes Vermeer, tem menos cara de desenho dos Jetsons. O projeto "100 tetos azuis em Delft" começou com a instalação de painéis solares em 144 casas da cidade histórica. Delft provou com a experiência que a energia sustentável pode ser aplicada em construções já existentes. O projeto cresceu e já tem 400 participantes.

"Quanto sustentáveis podemos ser?", perguntou o príncipe Willem-Alexander durante a abertura da 3ª SASBE, a maior conferência internacional sobre construções sustentáveis, em junho, no plenário da Universidade de Tecnologia de Delft. "E quão longe podemos ir com a mudança climática?", prosseguiu.

Bangladesh tem sofrido com inundações que a deixam debaixo d´água e a Austrália acaba de viver uma seca sem precedentes", continuou. O futuro rei dos Países Baixos frisou o conhecimento que os holandeses têm no gerenciamento da água. O país produz 65% de seu PIB em regiões que estão abaixo do nível do mar. "É tempo de adaptar e viver com a água, e não lutar contra ela".

Um passeio de barco pelos canais de Amsterdã ilustra o quanto esse pessoal gosta de bancar o marujo. Os barcos-casas, marca-registrada da cidade, ocupam todos os espaços disponíveis. Calcula-se que existem cinco mil ancorados na capital. Há para todos os gostos, de todas as cores e de todos os tipos. Mas um deles, o Gewoonboot, é diferente. Trata-se de um projeto de casa flutuante completamente autossustentável. Ele fica numa região ao norte da cidade, por onde Amsterdã planeja crescer.

O governo local lançou uma espécie de concurso arquitetônico para planejar as 2000 casas novas que deverão ser construídas na área. Ganhará o projeto que for mais ecológico. Por ali está ancorado o barco de 120 metros quadrados que tem placas solares no teto, enormes vidraças e um sistema que aproveita a chuva e recicla e limpa toda a água utilizada na embarcação, inclusive dos chuveiros e sanitários. "Todos sabemos que o nível do mar está subindo", diz Pauline Westendrop, ligada ao projeto. "Essas experiências podem evoluir para boas soluções." Por enquanto a adaptação às mudanças climáticas exige também boa dose de atitude zen. Em uma bomba de energia elétrica próxima, os novos carros e motos podem recarregar e seguir viagem. Só que demora. Muito. Uma moto pode levar até cinco horas para sair rodando de pilha nova .

A aposta é que o sistema será muito mais eficiente no futuro. Em 2015, a prefeitura da cidade pretende ter 10 mil carros elétricos para alugar. Funciona assim: o usuário pede um automóvel, o apanha em local determinado e devolve depois em lugar marcado para que outro cliente o utilize. O sistema já está em uso, com carros vermelhos de logotipo verde que se avistam pela cidade. Mas ali, é bom lembrar, é Amsterdã e todo mundo prefere andar de bicicleta.

Os planos de adaptação à mudança climática e redução de emissão de gases-estufa têm várias frentes. Estima-se que existam 18 mil pequenos negócios na capital, entre cafés, bares e lojas. "Gastam muita energia", cita Tom van de Beek, consultor do escritório de clima do governo municipal. A proposta é estimular os proprietários a solicitar a visita de um consultor em energia renovável e esperar que se animem a pedir o empréstimo de € 10 mil com carência de quatro anos para começar a pagar. Assim, podem modernizar o estabelecimento e a cidade se aproxima de seus objetivos.

A meta é que, em 2018 todas as casas da Holanda tenham energia renovável. Em 2012, um projeto do governo irá melhorar o sistema de manter o calor de 500 residências durante o inverno. O país está se voltando mais e mais para energias novas, na esteira do que vem fazendo com sucesso a Alemanha e a Dinamarca. O foco é maior em ventos e biomassa do que em energia solar. O processo fotovoltaico ainda é pouco competitivo. Hoje cerca de 3% da energia elétrica da Holanda vem dos ventos. São 2 mil MW em terra e 200 MW no mar - por enquanto. Eles gostam de marcar este "por enquanto". A intenção é dobrar os megawatts em terra no curto prazo e chegar a quase 1 mil MW em offshore ao final do ano.

"Mas nada disso é suficiente para alcançarmos a meta que nos propusemos em 2020", diz Jan Terlouw, o conselheiro do governo holandês para mudança climática. Na sua visão, esta demanda não passa, porém, pela necessidade de utilizar mais energia nuclear. "Não me oponho a ela, mas não acho que precisamos de mais nuclear na Holanda", diz, lembrando que o país tem ainda muitas reservas de gás natural. "Usinas nucleares são bem difíceis de serem desligadas."

Uma experiência impressionante de uso de biomassa acontece no norte do país, em Zeewolde, lugarejo de 20 mil habitantes. Eles geram ali três vezes mais energia "verde" do que energia "cinza". Um fazendeiro da comunidade produz energia com os dejetos de suas vacas leiteiras. Uma vaca fornece energia para o consumo de sete casas durante o ano. "O preço do leite está tão baixo que agora é melhor ter a opção do preço da energia", diz Jan Gerrit, que há cinco anos entrou na onda da biomassa com suas 140 vacas. "Energia será um problema no futuro", vislumbra. Ele garante com seu rebanho o suprimento de umas 500 casas.

Os holandeses se definem como um povo inovador e criativo. Eles mesmos fazem autocrítica e dizem que têm dificuldades em implementar o que inventam. Não é o que se vê na zona industrial de Amsterdã, onde fica a Afval Energie Bedrijf, a empresa que cuida do lixo da cidade. Trata-se de um ícone da gestão de resíduos: transforma 99% de todo o lixo doméstico de Amsterdã em energia verde, calor e materiais reciclados para uso na construção. A AEBNadia Pattavina. processa mais de 1,4 milhão de toneladas anuais de resíduos. O metrô e a iluminação pública funcionam à base de energia gerada do lixo. O teatro, a prefeitura e o Jardim Botânico usam a energia verde produzida pela empresa. Os resíduos viram biomassa, a biomassa vira calor, o calor vira energia. O material particulado produzido na queima dos 1% que eles não aproveitam, forma um granulado usado no asfalto das ruas. "Das nossas chaminés só sai vapor d'água", jura a porta-voz

Os edifícios, as casas e os barcos-casas reformados da Holanda têm uma característica comum: janelas imensas. Às vezes com vidros triplos, para vedar e reter calor no inverno, aproveitar toda a luz natural e ter boa ventilação nos dias quentes, gastando menos eletricidade. A cartilha básica da construção sustentável produz ambientes harmoniosos, com direito a vista e integrados à vida lá fora. As vidraças, além de apontarem para uma economia que se prepara para a fase de menos carbono, revela também o quanto o país é sossegado: não há grades coladas às janelas e os vidros estão todos inteiros. É muito lindo, mas será que isso funciona ao Sul do Equador?

O transporte sobre pneus é cruel

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/09

"Todo mundo gosta do discurso do transporte sobre trilhos, ou seja, trens, metrôs e bondes, mas ninguém quer abrir mão do transporte individual e muito menos implementar medidas como o pedágio urbano ou outras ações que possam inibir o uso do automóvel", constata Marcus Quintella, doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME, em artigo publicado pela Revista Plurale e reproduzida pela Agência Envolverde, 16-07-2009.

Marcus Quintella é atualmente Diretor Técnico da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).

Eis o artigo.


As cidades brasileiras utilizam pessimamente seus espaços públicos e seus cidadãos aceitam passivamente o domínio do modo rodoviário, principalmente do automóvel, que é utilizado e incentivado cada vez mais, tanto pelos governantes, que não oferecem transporte público abrangente, integrado e de qualidade, como pelo modelo econômico vigente, que facilita e apóia fortemente a indústria automobilística, por meio de incentivos fiscais e tributários e linhas de financiamento atraentes para os consumidores de todas as classes sociais.

O resultado desse quadro todo mundo conhece: acidentes, congestionamentos, alto consumo de derivados de petróleo e álcool, poluição sonora e atmosférica, stress, perdas de tempo e baixa qualidade de vida para a população das cidades.

Como os números não mentem, vou tomar como exemplo a cidade de São Paulo, que possui uma frota sob pneus de 6,2 milhões de automóveis particulares, meio milhão de motocicletas, 33 mil táxis e 8 mil ônibus, para uma população de pouco mais de 10 milhões de habitantes. Dessa frota, 3,8 milhões automóveis circulam diariamente pelas vias da cidade, com uma taxa média de ocupação de 1,2 pessoas por veículo, indicando que há um domínio do transporte individual.

A capital paulista possui cerca de 17 mil km de vias urbanas, das quais apenas 4,5 mil km, ou seja 26%, são cobertas pelas linhas de ônibus e lotações, sem contar os 110 km de corredores exclusivos para ônibus. A CET-SP monitora 550 km do sistema viário da cidade, que, nas horas de pico, registra diariamente, em média, 100 km de vias congestionadas, sendo que, nos dias mais complicados, esse número pode chegar a 200 km.

Nas vias paulistanas, as ocorrências de trânsito, ou seja, atropelamentos de pedestres e ciclistas, colisões entre veículos e acidentes com motos, são responsáveis pela morte de mais de 2,5 mil pessoas, anualmente. Esse número corresponde a cerca de 8% das mortes em acidentes de trânsito em todo o país, podendo ser considerado um gravíssimo caso de saúde pública. A cada 3 horas e meia, em média, morre uma pessoa em decorrência do trânsito de São Paulo.

A frota paulistana de veículos responde por 70% da poluição da cidade e, mais ou menos, 9 pessoas morrem diariamente em decorrência dessa poluição, em sua maioria crianças e idosos.

Em suma, a situação está caótica em São Paulo, com viés de piora, visto que a cada meia hora entra em circulação um carro nas vias da cidade e, conseqüentemente, as dificuldades de deslocamentos e mobilidade urbana se agravam. Então, qual seria a solução para São Paulo, assim como para as demais grandes cidades brasileiras, que padecem do mesmo mal, guardadas as devidas proporções? Vou responder com a mesma resposta de sempre: a única solução é o transporte sobre trilhos como espinha dorsal do sistema de transporte urbano.

Espero que essa resposta passe a ser consenso no meio político e encontre apoio irrestrito dos governantes e da sociedade. Na verdade, todo mundo gosta do discurso do transporte sobre trilhos, ou seja, trens, metrôs e bondes, mas ninguém quer abrir mão do transporte individual e muito menos implementar medidas como o pedágio urbano ou outras ações que possam inibir o uso do automóvel.

Para o leitor ter idéia do que estou falando, a maior metrópole da América Latina possui apenas 60 km de linhas de metrô e 265 km de trens metropolitanos, enquanto a Cidade do México e Nova Iorque possuem, respectivamente, 220 km e 1.016 km, somente de linhas de metrô. Apesar de transportar mais de 3 milhões de passageiros, diariamente, o sistema metroferroviário de São Paulo deixa a desejar e precisaria de, pelo menos, mais 200 km de novas linhas, para atender sua população com dignidade e respeito. Isso vale para as demais metrópoles brasileiras, cujas populações seguem sofrendo com seus precários e cruéis sistemas de transporte público.

A velha nova política industrial

Instituto Humanitas Unisinos - 17/07/09

"Sem a definição de objetivos claros para uma política industrial, corre-se o risco de enriquecer uns poucos", escreve Mansueto Almeida, economista e Técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 17-07-2009. Segundo ele, "se vamos incentivar setores em que já somos competitivos, como ocorre, não precisamos de política industrial". "No caso do Brasil, tem-se a impressão que estamos criando apenas frigoríficos e usinas de cana maiores, como se o objetivo final fosse apenas ser grande", escreve.

Eis o artigo.

Depois da retração do Estado na promoção de atividades produtivas que marcou os anos 90, a década identificada com o Consenso de Washington, a atual presencia o forte retorno do Estado na promoção de atividades econômicas por meio do que se denomina políticas industriais. Atualmente, todos os países da América Latina, em graus diferentes, adotam algum tipo de política industrial.

Essas políticas incluem desde incentivos ao crescimento de micro e pequenas empresas de uma mesma atividade (os clusters ou APLs), passando por incentivos à inovação, até políticas direcionadas à concentração de setores e formação de grandes grupos empresariais. Atualmente, ser a favor de política industrial é ser moderno e ser contra essas políticas é ser atrasado, confiar excessivamente na mão benevolente do mercado que, segundo alguns, nos levou à crise atual.

O problema é que as políticas adotadas pelo governo brasileiro, na prática, não correspondem àquelas amplamente anunciadas nos documentos oficiais, não há indicadores para que essas políticas sejam avaliadas e, em muitos casos, as ações adotadas são contraditórias à própria definição de "política industrial". Vejamos alguns exemplos do que está acontecendo no Brasil.

Primeiro, países que adotam política industrial têm como objetivo fomentar o desenvolvimento de novos setores e criar vantagens comparativas. Se vamos incentivar setores em que já somos competitivos, não precisamos de política industrial. Acontece que mais da metade dos empréstimos do BNDES direcionam-se para os setores de baixa e média-baixa tecnologia, setores nos quais já somos competitivos. Dados do Ipea mostram que, em 2007, 60% (R$ 15,2 bilhões) dos empréstimos do BNDES para a indústria foram para setores de baixa e média-baixa tecnologia. Esse percentual aumentou em relação a 2002, que era de 46,5%. Em 2008, dos 10 maiores empréstimos do BNDES para indústria, oito deles foram para frigoríficos, agroindústria e usinas de álcool.

Segundo, além de incentivar prioritariamente setores em que já somos competitivos, o BNDESAlice Amsden (The Rise of The Rest, 2001) mostra, na página 200, que o Brasil era o único país entre os emergentes industrializados que no final dos anos 80 não possuía um único grupo privado nacional na indústria, entre os 50 maiores grupos privados desses países. tem atuado de forma agressiva na concentração de vários setores da economia, apoiando processo de fusões e aquisições. O livro da economista do MIT

Nossos grandes grupos privados estavam todos no setor financeiro e no ramo de construção. Segundo essa análise, o Brasil era prejudicado porque, ao contrário de países como a Coreia do Sul, as empresas brasileiras não tinham porte para diversificar e transferir tecnologias entre empresas em setores diferentes, mas pertencentes ao mesmo grupo empresarial. Mas, mesmo no caso da Coreia do Sul, o incentivo à formação dos grandes grupos privados industriais estava ligado à exigência de diversificação para setores industriais não tradicionais. No caso do Brasil, tem-se a impressão que estamos criando apenas frigoríficos e usinas de cana maiores, como se o objetivo final fosse apenas ser grande.

Terceiro, a literatura de política industrial mostra que, para minimizar o risco de esse tipo de política enriquecer uns poucos a custo de muitos, é recomendável ter objetivos claros e um mix adequado de incentivos e mecanismos de punição (a cenoura e o porrete) - ver Alice AmsdenAsia The Next Giant, 1989). Outros autores, como o professor de Harvard Dani Rodrik, preferem destacar que o governo deve saber a hora de sair, quando as atividades (novas) incentivadas não mostrarem os resultados esperados. Em todos os documentos da política industrial brasileira, não se sabe quais os critérios que poderiam levar à descontinuidade dos incentivos: queremos premiar o espírito empreendedor sem o ônus da contrapartida. Alguns poderiam argumentar que existem metas na Política de Desenvolvimento ProdutivoPDP), mas essas metas não sinalizam quando um grupo empresarial perderia os incentivos concedidos pelo Estado. Estamos repetindo erros do passado. ( (

Por último, os países que adotaram políticas industriais, como Coreia do Sul, Japão, TaiwanPeter Evans de "autonomia e parceria". Acontece que, atualmente, os ministérios setoriais estão lotados de jovens brilhantes mas muito novos, que nunca colocaram o pé em uma fábrica. Autônomos, mas sem experiência para serem "parceiros". O maior dos absurdos foi a criação de um agência de desenvolvimento industrial (ABDI) fora do governo para coordenar a política industrial do próprio governo. Como de fato não o faz, a ABDI se transformou em mais um órgão de estudos. etc. contavam no setor público com uma equipe de elite que se relacionava com o setor privado e não se deixava capturar pelas empresas incentivadas, um processo denominado pelo sociólogo

Depois de refletir sobre todos os pontos acima, notei que a política industrial é, de fato, avaliada nos bares de Brasília. Se você conhecer técnicos do BNDES ou dos ministérios, entre um copo de cerveja e outro vai descobrir que a ABDI foi proposta para ser um órgão de governo ligado à Casa Civil, que não existe um único documento oficial explicando a estratégia do BNDES de formação de grandes grupos privados em setores "tradicionais", que o programa de mais R$ 10 bilhões de recuperação da indústria naval no Brasil é fortemente questionado por técnicos e mesmo por alguns diretores do BNDES; e que ninguém sabe, de fato, como a política industrial é avaliada. Infelizmente, por não termos como acompanhar a política industrial, o seu sucesso depende da sapiência de alguns técnicos bem intencionados. Por que o governo não aproveita o clamor atual por maior transparência e começa a divulgar de forma mais clara a sua real política industrial?