"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Le Monde Diplomatique Brasil - Dez 07

Os "poliglotas descalços"

Henry Kissinger será lembrado tanto pela diplomacia pouco convencional e extremamente ágil que praticou quanto pelo lado sangrento de suas decisões e iniciativas. Ainda muito influente, ele jamais escondeu a importância que têm, para os EUA, políticos latino-americanos como Carlos Menem e FHC

José Luís Fiori

Heinz Alfred Kissinger, diplomata norte-americano mais influente da segunda metade do século 20, nasceu em Fürth, na Alemanha, em 1923. Imigrou para os Estados Unidos, e nacionalizou-se norte-americano em 1943, antes de doutorar-se na Universidade de Harvard, em 1954, onde foi, até 1971, professor e diretor do Centro de Estudos Internacionais, e do Programa de Estudos de Defesa. Apesar disso, Henry Kissinger não foi um acadêmico. Foi sobretudo, consultor, funcionário e executivo da segurança nacional, e da política externa norte-americana. De 1953 até o final da sua gestão, foi Conselheiro de Segurança da Presidência, no governo de Dwight Eisenhower. Entre 1968 e 1976, atuou como Secretário de Estado das administrações de Richard Nixon e Gerald Ford. Nesse último período, em particular, Henry Kissinger exerceu uma diplomacia pouco convencional e extremamente ágil, como formulador e operador direto de suas próprias decisões, cioso de suas idéias e do seu poder pessoal e institucional. Foi nessa época que tomou algumas decisões e liderou iniciativas do governo norte-americano, que deixaram marcas profundas na história da segunda metade do século 20.

Entre suas iniciativas com sinal “positivo”, destacam-se: a distensão das relações com a União Soviética e a negociação dos tratados de “não proliferação nuclear”, de “limitação das armas estratégicas” e de controle dos “mísseis balísticos”, na década de 70; as negociações de paz, no Vietnã, que levaram à assinatura dos Acordos de Paris, em 1973; e, finalmente, a mais famosa de suas acrobacias diplomáticas, as viagens secretas a Pequim, e suas negociações pessoais, com Chou en Lai e Mao Tse Tung, em 1971 e 1972, que levaram à reaproximação dos Estados Unidos com a China, nas décadas seguintes. Por outro lado, entre suas decisões e iniciativas “sangrentas”, destacam-se: a autorização do bombardeio aéreo do Camboja e do Laos, tomada sem a autorização do Congresso Americano, em 1969; o apoio à guerra do Paquistão com a Índia, no território atual de Bangladesh, em 1971; o apoio e financiamento ilegal da invasão do Chipre, pela Turquia, em 1974; o apoio à invasão sul-africana de Angola, em 1975; e finalmente, também em 1975, o apoio à invasão do Timor Leste, pela Indonésia, que se transformou numa ocupação de 24 anos e custou 200 mil vidas. Separadamente, a América do Sul ocupa um lugar de destaque, nessa lista “negra”, das grandes decisões tomadas por Henry Kissinger, entre 1968 e 1976. Basta ler os documentos oficiais norte-americanos, que já estão disponíveis, e as várias pesquisas jornalísticas e acadêmicas que apontam para o envolvimento direto do ex-Secretário de Estado norte-americano com a preparação e execução dos violentos golpes militares que derrubaram os governos eleitos do Uruguai e do Chile, em 1973, e da Argentina, em 1976. Além disso, existem inúmeros processos judiciais — em vários países [1] — envolvendo Henry Kissinger com a Operação Condor, que integrou os serviços de inteligência das Forças Armadas da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, para seqüestrar, torturar e assassinar personalidades políticas de oposição.

O apoio de Kissinger, e da diplomacia norte-americana a tais “intervenções militares”, que se caracterizaram por sua extraordinária truculência, sempre causou perplexidade entre os analistas. Mas não é difícil de entender o que aconteceu quando se olha para os interesses estratégicos dos Estados Unidos e sua defesa na América do Sul, da perspectiva de longo prazo, traçada por Nicholas Spkyman [2], em 1942 [3]. Spykman definiu o continente americano, do ponto de vista geopolítico, como primeira e última linha de defesa da hegemonia mundial dos Estados Unidos. Dentro desse hemisfério, ele considerava improvável que surgisse um desafio direto à supremacia dos Estados Unidos, na “América Mediterrânea”, onde ele incluía o México, a América Central e Caribe, e também, a Colômbia e a Venezuela. Mas ele considerava que poderia surgir um desafio dessa natureza na região do ABC, no Cone Sul da América. E em tal caso, ele considerava inevitável o recurso à guerra. A sigla ABC, refere-se a Argentina, Brasil e Chile, mas a região do ABC inclui, também, o território do Uruguai e do Paraguai – ou seja, inclui exatamente os mesmos cinco países que estiveram envolvidos na Operação Condor. Nesse sentido, pode-se dizer que Henry Kissinger seguiu rigorosamente as recomendações de Nicholas Spykman com relação ao controle dessa região geopolítica. Sua única contribuição pessoal foi a substituição da “guerra externa”, proposta por Spykman, pela “guerra interna” das Forças Armadas locais contra setores de suas próprias populações nacionais. Mas, mesmo nesse ponto, Kissinger não foi original: recorreu ao método que havia sido utilizado pelos ingleses, na Índia, durante 200 anos. E em todos os lugares em que a Grã Bretanha dominou Estados fracos, utilizando suas elites divididas e subalternas, para controlar as suas próprias populações locais.

Nas décadas de 80 e 90, Henry Kissinger afastou-se da diplomacia direta, mas manteve sua influencia pessoal e intelectual dentro do establishment norte-americano e entre as elites conservadoras sul-americanas. Em 2001, ele publicou um livro sobre o futuro geopolítico, e sobre a defesa dos interesses norte-americanos ao redor do mundo. Com relação à América do Sul, o autor atenuou a forma, mas manteve o “espírito” de Spykman: segundo Kissinger, a América do Sul segue sendo essencial para os interesses norte-americanos, devendo ser mantida sob a hegemonia dos Estados Unidos. Só que hoje, a ameaça a essa hegemonia já não vem da Alemanha, nem da União Soviética, vem de dentro do próprio continente. No plano econômico: dos projetos de integração regional que excluam ou se oponham à ALCA. E no plano político: dos populismos e nacionalismos que, segundo ele, estão renascendo no continente. Por fim, mesmo que não tenha escrito de forma explícita, o entusiasmo demonstrado por Kissinger, com as reformas liberais dos anos 90, e com os governos de Menem e Cardoso, não deixa dúvidas com relação a sua preferência e estratégia atual, para a “região do ABC”: depois dos militares, os “poliglotas descalços”.



[1] O interesse sobre o assunto foi reavivado recentemente, pelo livro do jornalista Chistopher Hitchens, The Trial of Henry Kissinger (2003), e pela resenha de Kenneth Maxwelll, do livro de Peter Kornbluh, The Pinochet file: a Desclassified Dossier on Atrocity and Accountability, publicado na revista Foreign Affairs, de dezembro de 2003, sobre as relações de Kissinger com o regime de Augusto Pinochet, em particular com o assassinato do diplomata chileno Orlando Letelier, em Washington, 1976.

[2] Ler, de José Luís Fiori, em Le Monde Diplomatique Brasil, ["Nicholas Spykman e a América Latina"->2062

[3] Kissinger, H., (2001), Does America Need a Foreign Policy. Toward a Diplomacy for the 21 st Century, Simon&Schuster, New York

Instituto Humanitas Unisinos - 03/01/08

Solidão, a praga o século XXI

As grandes cidades estão cheias de solitários. Cresce o número de habitações ocupadas por uma só pessoa e o trato físico é substituído pelas relações a distância, pela internet. É uma epidemia que está crescendo.

Segue a íntegra do artigo de Vicente Verdú publicado no El País, 16-12-2007. A tradução é do Cepat.

A solidão das grandes cidades, o hiper-individualismo, a multidão solitária, as mônadas sociais, foram temas relevantes na segunda metade do século XX, mas hoje mal se fala disso. Os indivíduos não se implicaram nem se abraçaram mais, mas eletronicamente se comunicaram de tal modo que o fenômeno da interconexão parece ter calado as inquietudes ou as vozes do isolamento.

Trata-se, entretanto, de duas realidades paralelas. Enquanto a relação corpo a corpo segue se debilitando, a relação a distância, máscara a máscara, aumenta e prolifera. A aventura de ser um indivíduo diferente ou, melhor, sempre dependente da imagem projetada nos demais, se muniu agora de um artefato mediante o qual a aparência da nossa identidade se entrelaça com nossas artes de engano. Nosso desenho, enfim, se encontra mais em nossas mãos através do acessório, do nickname, do avatar, dos jogos de sexo e da idade ou outros recursos para fazer personagens da pessoa e versões do real.

O próximo é sempre insubstituível para poder ser algo, mas a proporção de sua efetiva substância de que se necessita para esboçar nosso perfil social pode ser substituída, em parte, por nossa habilidade para fingir na tela, travestir-se na Rede e recriar-se em novo espaço virtual, inconcebível até agora.

Indubitavelmente, a satisfação não será comparável à proporcionada por um amor encarnado ou uma consideração tangível, mas, pouco a pouco, este mundo eletrônico será quase tudo o que existe, e a vida em seu seio decidirá uma porção variável de nossa composição geral. O transparente procura abrigo, o remoto segrega afetividade, o virtual se materializa e o sucedâneo, como nas gulas, será progressivamente o único gosto atribuído à cria.

Inclusive, com o uso e o consumo de companhias e sentimentos na Rede, o que hoje parece sucedâneo apagará seu estigma subsidiário e ascenderá de pleno direito ao mundo que alivia as provisões da solidão.

As ‘webs’ sociais. Depois do boom das companhias pontocom de seis anos estourou o êxito das empresas que administram os pontos de encontro entre milhões de usuários. Ao sucesso da tecnologia aplicada aos negócios sucede a multiplicação dos negócios que têm sua base primordial nas pessoas.

O conhecimento científico, as informações de consumo, as opiniões políticas se cruzam numa trama que facilitou e estimulou a Rede. E este universo de inumeráveis contatos possui uma importante condição inédita: nos conectamos com mais pessoas sem ter que sofrer a penalidade do seu hálito. O contato “pessoal” se define assim por uma relação entre pessoas distantes e distintas, mas sem sua estranha ou intoxicante emanação.

Cresce a conexão e até a implicação, mas não os compromissos fortes nem as implicações profundas. Da mesma maneira que o saber atual é mais superficial que profundo, a relação com as pessoas pela Rede conforma um modelo à sua imagem e semelhança. Tratamos com uma multiplicidade de indivíduos para degustá-los fragmentariamente naqueles aspectos que nos comprazem, nos divertem ou nos interessam.

O mundo avança desta maneira como numa frente de infinitas relações rápidas. Vivemos ou navegamos, e em vez de chegar até o fundo do outro substituímos a cavidade pelo surf e o coração pelo botox. A inter-relação torna-se assim menos personalista ao modo católico de Mounier e, ao contrário, cada vez mais “personista”.

Na Coréia do Sul, as relações sociais e afetivas através dos meios eletrônicos já superam em freqüência e número as que se mantêm cara a cara. O rosto da Coréia do Sul nunca foi revelado com nitidez no Ocidente, mas não estará acontecendo o mesmo com a vasta e difusa trama que domina a internet e a derivação de seu influxo? Em que ponto, por exemplo, se encontra hoje aquela amizade que amortecia o desassossego de estar só? Por um lado, crescem os tele-contatos, aumentam as seitas, multiplicam-se os clubes, as galeras e as tribos urbanas, e por outro, aumentam as habitações ocupadas por uma só pessoa até chegar a mais da terça parte das residências nas grandes capitais do Ocidente. Neste contexto contraditório, onde se encontra o gonzo da companhia e o apoio contra a solidão?

O olhar do outro. Muitos nexos e poucos vínculos, muitas conversações horizontais e poucas verticais. Não é tanto a desconfiança do outro que reduz o peso da amizade, mas a dificuldade do trabalho e da moradia para cultivá-la e enriquecê-la. Pouco a pouco, sem pensá-lo ou ponderá-lo, vamos reduzindo a companhia eficaz ao recinto do casal e sobre ela vão se concentrando tantas demandas e exigências, tanto socorro, que acaba cedendo em seus fundamentos ou ardendo por excesso de exigência.

O outro pode ser um verdugo ou um luxo, mesmo que sempre possua partículas de ambos e sempre parece melhor estar acompanhado do que a sós porque da mesma maneira que não há especialista melhor na tortura do que o autotorturador, nem tampouco pior inimigo do que a lucidez da nossa própria ofuscação, o outro realiza o elemento necessário para nos esclarecer. Aquele que nos observa de fora, liberado de nossa fixação, pode agir como a chave da nossa cura. Todo problema tem sua solução, abre o encerro. Os termos se tornam rapidamente mais claros e pulamos do precipício à calma graças à cirurgia do afastamento.

Isso não significa, no entanto, que o outro represente o mágico bálsamo de Ferrabrás. A espécie humana prefere, em geral, não conviver muito. Precisamente, o pior da cotidianidade das abelhas procede de sua obrigatória, eterna e amontoada colaboração. Nada parecido com a ordem dos seres humanos, que encontram na solidão uma ocasião de lavagem e saúde precisas.

Não é a mesma coisa a solidão e a independência, mas a solidão escolhida e a independência conquistada se aproximam muito entre si. Complementarmente, a qualidade do laço aumenta se ambos assumem sua independência e estão juntos podendo estar distantes depois. A relação floresce quando ninguém causa a sua solidão e a solidão posterior a um desacordo não se traduz em desvalorização ou suicídio.

Somos com os outros e os outros são conosco, mas sem tormentos. O amor e a amizade nos constroem mutuamente se os pilares não descansam desequilibradamente. A interdependência não é, portanto, a soma de dependências, mas jogo de independências de maneira que a metáfora do favo nos adoça tanto como nos encarcera.

Somos, em suma, seres comunitários e solitários, cidadãos e indivíduos. O inconveniente da solidão em relação à visão do mundo reside em que uma idéia ou uma opinião mantida a sós é praticamente igual a uma crença, enquanto que a idéia compartilhada se torna convicção e ajuda a traçar itinerários comuns e a formar um mapa iniciático do qual irá se alinhavar uma concepção de mundo mais alegre.

Mas não agitados. Contra a exaltação da companhia, no entanto, é preciso dizer que a demasiada presença do outro é oposta ao progresso. Se os meios de comunicação moderna triunfaram e se popularizaram tanto é devido à sua fórmula de permitir que as pessoas se sintam presentes sem se apresentar. A perda da presencialidade ampliou a lucidez do intervalo em não poucas relações esfumaçadas.

O espetáculo do outro substitui assim, muitas vezes em nossos dias, a realidade efetiva. As telas onipresentes operam como uma câmara de transmutação do real para criar o mundo de uma irrealidade leviana compatível com a idéia da ausência. Por outro lado, o específico de nossa espécie não é o contato com os demais, mas a distância. São espécies de contato aquelas que se apinham por prazer e permanecem pele com pele durante horas, como o hipopótamo, o cervo e o porco-espinho.

Mas há espécies de “não contato”, entre as que se encontra o cavalo, o cachorro, o gato, o rato e também os seres humanos. Não nos agüentamos muito próximos. Pode ser que este rechaço não predomina sendo cachorros ou sendo bebês, mas enquanto se alcança o estado adulto, todo conforto requer repouso. E já não uma folga para pensar ou atuar melhor, mas como habitat primordial da sobrevivência.

O amontoamento nos mata, e bastaria a excessiva proximidade para ficarmos doentes. O indivíduo (indivisível) requer, para sua definição, uma esfera em que reine o cheiro e o amor próprio. O abraço amistoso, a associação religiosa, a equipe, a vizinhança, são escolhas desde a solidão primordial em que nos fundamos ou nos reconhecemos. Nada a ver com o pantanoso cosmos do cervo, a aglomeração dos porcos-espinhos ou a apegação dos hipopótamos.

No fundo, além disso, sempre estamos sós. Mais sós que a una e a quase qualquer hora, pobres ou ricos, saudáveis ou com hérnias. Proust escrevia: “Alguém nos comunica sua doença ou seu revés econômico, o escutamos, nos compadecemos dele, tratamos de reconfortá-lo e voltamos aos nossos assuntos. Quão sós estão as pessoas!”.

E que belo desfrute encontramos nesse vazio quando por alguns momentos o escolhemos.

Instituto Humanitas Unisinos - 03/01/08

Campo dispensa 47% em 30 anos no Paraná

Paraná teve evasão duas vezes maior que a média nacional nas últimas três décadas, diz o IBGE. As principais razões apontadas são o êxodo rural e a tecnologia. A matéria é de José Rocher e está publicada na Gazeta do Povo, 27-12-2007.

O número de pessoas que trabalham no campo caiu 47,21% nas últimas três décadas no Paraná, frente a uma redução nacional de 19,32%. O fenômeno aparece nos resultados gerais do Censo Agropecuário 2006, divulgado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 1975, quando o Estado tinha 7 milhões de habitantes, havia 2,08 milhões de homens e mulheres na agropecuária. Hoje, do total de 10 milhões de paranaenses, apenas 1,1 milhão têm ocupação no setor. Ou seja, os trabalhadores do campo, que representavam 30% da população, hoje se resumem a 11%.

O esvaziamento das unidades produtivas rurais, que se acentuou nas décadas de 70 e 80, era relacionado à busca de melhores condições de vida nas cidades – ao êxodo rural. Atualmente, o fenômeno deve-se principalmente ao aperfeiçoamento do sistema produtivo no campo, afirma o coordenador do Censo Agropecuário no Paraná, Jorge Mryczka. “A adoção de novas tecnologias faz com que um número menor de pessoas dê conta da atividade agropecuária.”

O número de estabelecimentos agropecuários voltou a crescer no estado, passando de 369 mil, em 1995, para 373 mil, em 2006. As lavouras paranaenses foram ampliadas de 5,1 milhões para 8,1 milhões de hectares no mesmo período. A produção de leite cresceu de 1,35 bilhão para 2,04 bilhões de litros ao ano. O plantel de aves plantel aumentou de 94,46 milhões para 280,64 milhões de cabeças. Entretanto, a retomada do setor não tem sido suficiente para reverter o quadro de evasão, aponta Mryczka.

Tecnologia

A substituição do homem pela máquina ajuda a explicar esse quadro. Entre 1995 e 2006, o número de tratores passou de 52,5 mil para 111 mil no Paraná (em 1995 eram 121,8 mil). Na relação direta, cada uma das novas máquinas corresponde à expulsão de 16 pessoas do campo. Outros fatores, como o uso de herbicidas (que dispensa mão-de-obra na capina) e a adoção do plantio direto (que suspende a passagem de arados no solo) contribuíram para o fenômeno.

Os números do IBGE confirmam também que hoje as famílias que vivem no campo são cada vez menores, afirma o secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Valter Bianchini. Só na última década, a redução do total de pessoas ocupadas na agropecuária foi de 15% – caindo de 1,28 milhão para 1,1 milhão. Para Bianchini, essa tendência mostra a importância do apoio à agricultura familiar, com incentivo à formação de cooperativas, à implantação de agroindústrias e à compra de máquinas pelo agricultor familiar.

Organizações como o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) ainda aguardam dados mais detalhados para avaliar os resultados do Censo Agropecuário 2006. A expectativa é que números regionais revelem causas específicas. Será possível avaliar, por exemplo, se existem regiões ou municípios que conseguiram evitar a redução do trabalho no campo.

Os dados do IBGE começaram a ser pesquisados em abril. A pesquisa ainda não foi concluída, pela dificuldade que os recenseadores têm na hora de localizar parte dos produtores. Essa parcela de entrevistados, no entanto, não deve alterar as tendências verificadas nos resultados gerais, referentes a 2006. Os dados definitivos devem ser divulgados a partir de julho de 2008.