"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, maio 13, 2013

Obituário de um povo

resistir info - 12 mai 2013                                                                 
por Paulo Metri [*]
 
Cartoon de Latuff. Ao que tudo indica, o que ainda resta de povo brasileiro independente morrerá nos dias 14 e 15 de maio próximos. Como um povo sem independência não passa de gado pacífico e, para não deixar tudo para a última hora, começo a preparar o seu obituário. Depois do nome do falecido, "Povo Brasileiro Independente", vem a mensagem fúnebre:
"Com muita tristeza, cumpre-nos o infeliz dever de comunicar a passagem do povo brasileiro independente. Doloridamente, informamos que o enfermo vinha, há anos, sofrendo de doença drenadora da sua energia vital. No passado, a doença era conhecida como 'entreguismo' e, hoje, é mais reconhecida como 'neoliberalismo' acoplado a 'globalização'. Nela, as veias da sociedade estão abertas e conectadas a sanguessugas externas, que drenam as riquezas naturais e os lucros obtidos no país".
"Este povo descende de índios guerreiros, brasileiros originários, que tinham o pecado de serem atrasados tecnologicamente. Suas terras foram invadidas, há 513 anos, por usurpadores europeus e brancos. Estes, sem escrúpulos para dominar, mataram os que não aceitavam serem escravos, não importando se eram praticamente todos. Não contentes, trouxeram povos da África para trabalhar à força e, assim, se fartarem com este capitalismo cruel. Posteriormente, outros imigrantes, forçados por guerras e pela fome de outras terras, aqui desembarcaram para contribuir com sua força de trabalho para a então incipiente transferência de mais valias. Então, esta mescla de povos de diversas origens compõe o brasileiro, que tem sido secularmente explorado por locais e estrangeiros. Durante sua existência, o brasileiro tem tido períodos de conquista de graus de independência e, infelizmente, outros de perda".

"Com a chegada da modernidade, a sofisticação e a desfaçatez do sistema de exploração atingiram seus auges. Foi criado um arcabouço jurídico e institucional dissimulado, em que a principal drenagem de sangue do paciente se dá para o exterior. Entretanto, graças à sofisticação, não existem mais grilhões, pelourinhos e açoites, para se terem súditos servis, bastando somente existir canais de mídia, que desinformam e criam alienados facilmente manipuláveis. Ajudam a manipulação, também, os políticos, representantes dos usurpadores, que administram o sistema, permitindo o sangue do moribundo se esvair. A escravidão atual se estabelece pela negação à instrução e à informação correta, que permitiriam existir a cidadania".

"O pouco que restava do povo brasileiro independente deu seu último suspiro nos dias 14 e 15 de maio de 2013, quando aconteceu a décima primeira rodada de leilões de blocos do território nacional para exploração de petróleo, a maior doação de patrimônio público a grupos estrangeiros já promovida pelo governo brasileiro, desde nossa independência. Não foram incluídos os anos como colônia, porque não se sabe o valor exato do ouro roubado por Portugal. Estima-se que o super-lucro, acima de um lucro normal, das empresas estrangeiras com esta rodada será de US$ 675 mil milhões, a serem realizados em 25 anos, valor que nenhum governante poderia doar, mesmo havendo a pequena compensação para nosso povo, que são os royalties".

"O cortejo fúnebre será observado em cada petroleiro que encostar em uma plataforma, na nossa costa, e zarpar com seu casco cheio do nosso petróleo indo para algum lugar no exterior, durante 25 anos. Ele deixará aqui a falta de recursos para educação, saúde, saneamento, habitação, transporte, ciência e tecnologia, meio ambiente e tudo mais que irá representar um baixo IDH".
Este obituário está pronto. Temo pelo pior que pode acontecer nos dias fatídicos 14 e 15. Mas ainda tenho grande esperança que a presidente Dilma irá reconhecer os danos contundentes desta entrega e irá cancelá-la. Alerto a presidente que o presidente da Shell não lhe disse, na recente audiência concedida, que, se ganhar blocos, não irá comprar plataformas no Brasil, não encomendará desenvolvimentos aqui e, como consequência, gerará muito poucos empregos no país, levará toda a produção do nosso petróleo para o exterior, não construirá refinarias e oleodutos aqui, e não venderá o petróleo para a Petrobras. Enfim, não ajudará o abastecimento do Brasil, nem o desenvolvimento brasileiro. Contudo, pagará os 10% de royalties, e só não pagará mais impostos porque a lei Kandir o impede.

É interessante notar o mundo fictício de ênfases tendenciosas, criado pela mídia. Sobre o mensalão, foram dadas as mais variadas cifras como prejuízo infligido à nação, dependendo da fonte da informação. Mas nenhuma delas, por pesquisa na internet, suplantou o valor de R$ 100 milhões. Pois bem, ouvimos sobre este caso durante uns três meses, todos os dias, cobertura jornalística farta. Este valor é cerca de 13.000 vezes menor que o atual roubo do petróleo e, no entanto, a mídia divulga praticamente nada sobre esta rodada.

Aproveito para dar um recado aos representantes das petroleiras estrangeiras. A revogação das concessões desta 11ª rodada, se ela ocorrer, em ano futuro, é algo possível, com a alegação verdadeira de que o povo não foi consultado sobre a realização da rodada e, se fosse esclarecido e indagado, teria negado sua realização. O contra-argumento, que os contratos de concessão são atos jurídicos perfeitos e, por isso, devem ser respeitados, poderá não prevalecer, à medida que o sistema escolhido para expressar a vontade popular foi imperfeito.

07/Maio/2013
Ver tamb�m:
  • Halliburton administra o banco de dados do petr�leo brasileiro , 05/Ago/08
  • Governo Lula d� prenda de Natal ao capital imperialista , 25/Dez/08
  • Brasil leiloa outra vez o seu petr�leo , 22/Out/05
  • Ag�ncia Petroleira de Not�cias
  • Associa��o dos Engenheiros da Petrobr�s

    [*] Conselheiro do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro.

    O original encontra-se em http://paulometri.blogspot.com.br/

    O mercado dá, o mercado tira Instituições financeiras reconhecem que a austeridade fracassou

    resistir info - 11 mai 2013

    por Ken Klippenstein [*]
    A primeira parte de 2013 tem sido uma espécie de período confessional para a classe dos gestores económicos. O conselheiro económico do FMI, Olivier Blanchard, admitiu que "os responsáveis pelas previsões subestimaram significativamente o aumento do desemprego e a queda da procura interna associada à consolidação fiscal". ('Consolidação fiscal' é uma forma delicada de dizer 'austeridade'). O secretário do Tesouro dos EUA, Jack Lew, reconheceu que "é preciso concentrar-se no impacto sobre o desemprego" das políticas de austeridade; e também, que "não podemos estar num mundo em que a austeridade apenas leva a mais austeridade"; e por fim, que "na realidade, a pressa em fazer toda a etapa inicial [austeridade] tem tornado mais difícil o problema nalguns países". Até sugeriu que "os europeus também precisam de ver o que podem fazer para gerar mais procura na sua economia".

    A directora-geral do FMI, Christine Lagarde, confessou que "não vemos a necessidade de dar prioridade a uma pesada consolidação da reforma fiscal conforme estava planeado inicialmente"; e "a melhor forma de criar empregos é através do crescimento". O Comissário dos Assuntos Económicos e Monetários da UE, Olli Rehn disse que os recentes apelos do FMI e dos EUA para uma menor austeridade "estão a ser pregados aos convertidos".

    Entretanto, Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, os economistas de Harvard responsáveis por um dos estudos mais influentes usados para defender a austeridade, reconheceram que "a austeridade não é a única resposta a um problema de endividamento". Isto, depois de três economistas da Universidade de Massachusetts os terem acusado de "exclusão selectiva" de dados. Reinhart e Rogoff vieram a reconhecer que os seus críticos "identificaram correctamente um erro de código da folha de cálculo". Na minha opinião, está a ser ignorado o erro mais flagrante deles: o fracasso em reconhecer que a austeridade não funcionou durante a Grande Depressão e não vai funcionar agora, durante a Grande Recessão. Qualquer um pode fazer um erro numa folha de cálculo. É preciso um professor de Harvard para se esquecer da história básica.

    Não tem um interesse especial que gestores doutrinários como Reinhart e Rogoff alterem as suas posições. A capacidade de dar a volta e mudar de uma convicção ideológica para a convicção oposta, como uma criança da escola a fazer um teste de alternativas, é provavelmente o principal dever do gestor ideológico. Os que se vão abaixo por exaustão são eliminados muito antes de chegarem a chefes do FMI. O que é mais interessante é saber porque é que o treinador está agora a dirigi-los para a direcção oposta.

    Na correspondência que tive com o economista Jack Rasmus, ele explicou a reviravolta da classe gestora económica:
    Primeiro, pode assinalar uma mudança futura para cortes fiscais aos empresários/investidores como um 'estímulo' preferencial (o que também não funciona). No entanto, como os cortes fiscais vão aumentar o défice, é preciso justificar um aumento no défice se forem avançar com os cortes fiscais. Assim, primeiro é necessário o ataque à 'austeridade' (o contrário do estímulo), não tão produtivo como inicialmente julgavam. Por outro lado, é importante assinalar que a mudança para o 'estímulo' não significa uma mudança dos cortes nas despesas sociais; significa uma mudança para mais défice através dos cortes fiscais empresariais.
    Em segundo lugar, o abandono da austeridade pode representar um prelúdio para uma dependência ainda maior da política monetária. Que o banco central aguente toda a carga (e culpas) e assuma mais visivelmente as responsabilidades dos políticos pela austeridade nos cortes das despesas. A política monetária (i.e. o aumento da liquidez nos bancos, nos investidores e nos negócios) por sua vez tem dois objectivos principais. Um: reforçar os mercados de acções e de garantias financeiras e garantir mais lucros aos especuladores, e, segundo, baixar o valor de câmbio da sua divisa para permitir a competição com outros centros de divisas… Um sinal seguro de que os políticos capitalistas estão a ficar mais desesperados e a tentar crescer mendigando aos seus competidores. São desvalorizações competitivas – não por moeda fiduciária como nos anos 30 – mas pela liquidez – manipulação da taxa de câmbio.
    Qualquer que seja o caso, a inflexão ideológica actual das instituições financeiras deve provavelmente ser olhada com suspeita. É uma inflexão demasiado acentuada para indicar qualquer tipo de mudança honesta no pensamento.
    As soluções que os gestores económicos estão a defender demonstram um ponto útil. Exigem simultaneamente um estímulo e uma redução do défice. Conforme adiantou o secretário do Tesouro, Jack Lew, "Não podemos escolher entre crescimento e criação de empregos e pôr a nossa casa fiscal em ordem", É como uma criança que quer ficar acordada toda a noite e ter uma boa noite de sono: uma das escolhas nega a outra. Estes exercícios mentais em auto-contradição ilustram ainda melhor a forma como a elite tem que aceitar opiniões mutuamente contraditórias. Orwell chamava a isto "duplipensar".

    Actualmente chamamos-lhe coisas como 'matiz'. Exemplo: Reinhart e Rogoff disseram que "o recente debate sobre a economia global assumiu uma forma desesperadamente simplista", significando que a austeridade está finalmente a ser rejeitada firmemente. Nos círculos da elite, as explicações 'simplistas' são todas aquelas que envolvem verdades elementares: que um estímulo autêntico aumenta o défice, tal como acontece com os cortes fiscais empresariais; que a privatização torna as coisas irresponsáveis perante o público; que a recuperação da classe média e baixa exige a tributação da classe alta. (Estes factos simples são incompreensíveis para a elite porque sugerem um mundo em que a riqueza extrema provoca mais injustiça do que erradica). Os derivativos e os swaps de incumprimento de crédito, por outro lado, são instrumentos 'matizados' que qualquer um sem um grau avançado em finanças se deve abster de comentar.

    Uma consequência desta tendência para os 'matizes' é o tom especialmente místico que a profissão dos economistas assumiu. Por exemplo, a opinião de que o ciclo de negócios nos irá devolver inevitavelmente a prosperidade, e de que os maus tempos actuais são apenas uma espécie de azar aleatório. Recordo um amigo meu na universidade que observava que tinha planeado entrar num programa PhD com a esperança de nele "aguardar o fim da recessão" como se isso fosse um feitiço da chuva ou qualquer acto de deus. O mercado dá e o mercado tira. Sugerir qualquer tipo de acção humana por detrás destes maus tempos – nomeadamente, uma relação entre a riqueza e a pobreza – é cometer o terrível erro de considerar a economia como um jogo de soma zero. Claro que isso é uma falácia, porque a economia é um processo mágico pelo qual a riqueza concentrada difunde simultaneamente a sua riqueza (i.e. teoria do gotejamento).
    07/Maio/2013
    [*] Reside em Madison, Wisconsin, onde publica o sitio web whiterosereaderorg.com . Pode ser contactado em reader246@gmail.com .

    O original encontra-se em www.counterpunch.org/2013/05/07/financial-institutions-admit-austerity-failed/ . Tradução de Margarida Ferreira.

    Putin ordena reforço de fronteiras meridionais da Rússia

    darussia.blogspot - Quarta-feira, Maio 08, 2013

       A Rússia necessita de reforçar o sistema de segurança junto à fronteira com o Afeganistão, nomeadamente a sua componente militar, declarou hoje o Presidente Vladimir Putin numa reunião do Conselho russo de Segurança. 

    "Precisamos de reforçar o sistema de segurança no sentido estratégico do sul, incluindo a componente militar, empregar todo o arsenal de meios preventivos próprios, bem como o potencial da Organização do Tratado de Defesa Coletiva (OTDC) e da Organização de Cooperação de Xangai", frisou o dirigente russo.

    Putin afirmou que é preciso reforçar a segurança da fronteira estatal, o sistema de controlo da imigração e acelerar o fornecimento de armas modernas às forças coletivas de reação rápida da OTDC.
    O Presidente russo considerou que existem todas as razões para esperar a deterioração da situação no Afeganistão nos tempos mais próximos e que os grupos terroristas internacionais poderão transferir as suas atividades para essa zona.
    Além disso, chamou a atenção para outros riscos para a Rússia, como o aumento do tráfico de drogas, do crime internacional e da onda incontrolada de refugiados e emigrantes.
    "É preciso aumentar várias vezes a eficácia do trabalho com vista a fechar os canais de tráfico de drogas. Peço que preparem propostas concretas em todos esses sentidos", ordenou.
    Depois de considerar que "a garantia da estabilidade na região é a soberania sólida” e “o desenvolvimento social seguro dos Estados da região", Putin prometeu ajudar os países vizinhos, incluindo o Afeganistão.
    "A Rússia irá prestar a ajuda necessária ao Afeganistão. Trabalhamos tanto ao nível bilateral como no quadro dos esforços internacionais conjuntos. Ajudamos o Afeganistão na preparação de especialistas civis, militares e polícias, enviamos ajuda humanitária", precisou.
    O Presidente russo acusou as Forças de Manutenção da Segurança (ISAF) de nada fazerem para pôr fim à produção de drogas no Afeganistão.
    "As forças internacionais praticamente nada fazem para acabar com a produção de drogas no Afeganistão. As propostas russas sobre esta questão ficam sem resposta. Há todas as razões para esperar a deterioração da situação nos tempos mais próximos", lamentou.

    Vladimir Safatle: PT e PSDB incorreram em erro semelhante

    viomundo - publicado em 13 de maio de 2013 às 11:37

    O tempo do esgotamento
    por Vladimir Safatle, em CartaCapital
    Desde o advento da Nova República, o Brasil conheceu dois ciclos estruturados de governo. O primeiro começou com os oito anos da Presidência de Fernando Henrique Cardoso, o segundo começou com Lula e termina agora.
    Antes de Fernando Henrique, o Brasil tentara, sem sucesso, implantar um desastrado choque liberal com Fernando Collor, depois de um curto prazo de políticas heterodoxas feitas no governo José Sarney ao ritmo de oportunismos eleitorais do momento.
    Fernando Henrique e os seus tiveram, durante certo tempo, o desejo de se constituírem como polo avançado de um pensamento social-democrata no Brasil, mas acabaram por subir à cena política no exato momento em que a social-democracia saía de cena no mundo.
    Capitaneado por Tony Blair e seus arautos da Terceira Via, o trabalhismo inglês dos anos 90 do século XX mostrou como era possível articular thatcherismo, ternos bem cortados e promessas de modernização social.
    Esse modelo serviu de paradigma mundial. Gerhard Schroeder tentou fazer a lição de casa na Alemanha. Já no Brasil, como em outros paí­ses latino-americanos, entre eles a Argentina e o Chile, o choque liberal capitaneado por antigos centro-esquerdistas foi feito no ritmo dos desmontes brutais da capacidade gerencial do Estado e de sonhos de integração subalterna à economia globalizada, tudo com direito a citações de Marx e Gramsci.
    Quando o ciclo fernandista terminou por inanição própria, outro ciclo estava em gestação. Durante toda a década de 90, o PT crescera organicamente e de maneira contínua, consolidando-se como uma alternativa de poder.
    Da mesma forma, como Fernando Henrique soubera fornecer a pauta do debate nacional de ideias, abrindo seu partido para uma seção dos intelectuais universitários, o PT crescera por meio de uma articulação em que intelectuais e o setor progressista da Igreja forneciam uma pauta alternativa de debates, legitimada, entre outras coisas, por um forte lastro nos sindicatos e em outros movimentos sociais.
    No poder, o PT inaugurou um novo ciclo, muito bem caracterizado por André Singer como “lulismo”. No momento em que o Brasil implementava seu novo ciclo político, o mundo descobria o fracasso do choque liberal dos anos 90. Durante certo tempo, esse modelo brasileiro, baseado na reconstrução de um capitalismo de Estado e na criação de políticas capazes de minorar a desigualdade, pareceu a única coisa a ficar de pé depois da crise de 2008.
    Não foram poucos aqueles que, na Europa, insistiam na necessidade de voltar os olhos para as experiências políticas latino-americanas, em especial a brasileira.
    Hoje fica claro, porém, que o ciclo do “lulismo” acabou por não ter tido condição de aprofundar suas políticas. A história conhece, no entanto, vários ciclos que acabam, mas que, apesar disso, permanecem por não ter nada que a eles se contraponha. Muitas vezes abre-se um tempo no qual nada ocorre e o que está arruinado perpetua-se em uma degradação nostálgica. Há um risco, digamos, de isso ocorrer nos próximos anos.
    De fato, pela primeira vez desde a redemocratização, assistimos ao fim de um ciclo político sem, no entanto, existir um novo ciclo em gestação, com novos atores e novas forças de organização do debate de ideias. Os dois grandes eixos da política nacional oriundos do combate à ditadura, o PT e a ala mais ideologicamente organizada do MDB que foi dar no PSDB, foram testados e deram o que eram capazes de dar.
    Os dois incorreram em erros semelhantes, como acreditar que o jogo político brasileiro só pode dar-se pelas vias da cooptação e gestão de setores do atraso. Os dois acabaram reféns dos mesmos personagens, haja vista, por exemplo, o fato de Renan Calheiros ter sido nos tempos de FHC e ser atualmente peça fundamental no consórcio de poder.
    Nesse quadro de vazio, duas possibilidades se apresentam. A primeira, talvez o melhor cenário, é o deslocamento do embate político para os extremos. É possível que tenhamos em curto espaço de tempo uma radicalização política no cenário brasileiro. Ao menos seria melhor do que o clima de bola parada que parece querer se impor.

    MPF diz que Oi vazava dados sigilosos de clientes para UOL e Terra

    viomundo - publicado em 11 de maio de 2013 às 14:13

    MPF quer condenação da Oi por vazamento de dados sigilosos de clientes
    Terra e Uol estão entre provedores que se valiam de “informação privilegiada”. Ação é de âmbito nacional e indenização pode ultrapassar R$ 2,5 milhões.
    O Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul ajuizou ação civil pública para combater o vazamento de informações sigilosas de clientes Oi Velox para provedores de conteúdo. A prática ilícita forçava os consumidores a contratar provedores pagos, sob pena de não se efetivar a conexão com a internet.
    Segundo investigações, os clientes Oi, ao adquirirem a conexão banda larga Velox, forneciam dados pessoais à empresa para efetivar a contratação. Logo em seguida, provedores de acesso privado, como Terra e Uol,  realizavam insistentes ligações telefônicas para constranger os consumidores, obrigando-os a contratar seus serviços.
    Nas ligações feitas pelos representantes das empresas, os atendentes se passavam por funcionários da Oi e coletavam dados bancários e número do cartão de crédito dos clientes. Os consumidores eram, então, compelidos a contratar o serviço privado, para que, enfim, tivessem liberados login e senha de acesso à internet.
    A contratação – totalmente dispensável, pois há versão gratuita do serviço – era feita como uma continuidade das tratativas com a Oi para a implementação da conexão banda larga. Os consumidores só percebiam que tinham contratado serviço de outra empresa quando chegavam as cobranças.
    Estelionato mercadológico

    A situação foi identificada em dezenas de reclamações de clientes Oi no Procon/MS – órgão de defesa do consumidor. Para o MPF, a situação é “verdadeiro estelionato mercadológico para ludibriar o consumidor e impor-lhe a contratação de um serviço de que na verdade ele não precisa”.
    Na ação ajuizada, o Ministério Público Federal pede, liminarmente, que a Oi – em âmbito nacional – cesse imediatamente toda e qualquer forma de compartilhamento de dados cadastrais dos consumidores ou reforce a segurança no acesso à base de dados de seus clientes.
    Já à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) – órgão que fiscaliza e regulamenta os serviços de telefonia -, o MPF requer a instauração de procedimento fiscalizatório para identificar e mensurar os fortes indícios de vazamento de dados e reprimir a prática abusiva.
    Com o julgamento da ação, a Oi pode ser condenada a pagar mais de R$ 2,5 milhões de reais em danos morais coletivos – o que corresponde a 0,01% de sua receita líquida em 2012. O valor deve ser revertido ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.
    Vítima

    Em ofício, que integra procedimento administrativo instaurado no MPF em Três Lagoas/MS, a Oi afirmou ser “vítima” de um ardiloso esquema de venda de dados de seus clientes e que está tomando todas as providências ao seu alcance para pôr fim a tais práticas. A empresa garantiu, ainda, que sempre informa e disponibiliza a seus clientes os provedores de conteúdo gratuitos, negando qualquer forma de indução dos consumidores à contratação de provedores pagos.
    Contudo, a Oi não explicou como as informações pessoais de seus clientes chegam às outras empresas nem por que essas informações são, coincidentemente, utilizadas logo após a contratação do serviço Velox.

    Contra o Google Glass: A experiência de ser cidadão está a ponto de mudar

    recebido por e-mail, 08 mai 2013

    MARK HUST
    DA CREATIVE GOOD
    O Google Glass pode mudar sua vida, mas não da maneira que você pensa. Há algo mais que esses óculos tornam possível e que ninguém discutiu até agora.
    Tomando por base os relatos elogiosos de jornalistas de tecnologia que encomendaram modelos de amostra do Glass, seria possível imaginar que o aparelho é uma mistura de mochila a jato e varinha de condão: tão bacana, tão criativo, tão irresistível que é inevitável que venha a substituir aquele antiquado e decadente aparelho conhecido como smartphone.
    Excetuado o design físico cafona, a experiência de uso do aparelho conquistou grandes elogios dos resenhistas. Ver correntes de bits flutuando no ar diante de seus olhos é uma experiência deslumbrante, ao que parece. Clima! Mapas e orientação! Convites de redes sociais! Sobrecarga de e-mails! Tudo isso flutuando diante de seus olhos!
    E, se tudo isso não bastasse, o computador vestível do Google vem com ainda outro recurso, ainda mais importante, chamado "lifebits", que permite gravar vídeos das pessoas, lugares e acontecimentos em torno do usuário, o tempo todo. A empresa está oferecendo a oportunidade de que cada usuário grave sua vida, a armazene e compartilhe, e tudo isso acionado por comandos de voz simples.
    E é nesse ponto que nossa história dá uma virada inesperada, em direção a uma ramificação que apequena todas as demais questões mencionadas até aqui sobre o Google Glass.
    A verdadeira questão que o Glass desperta, que causará o fracasso do projeto ou terá resultados que nenhum de nós desejaria, se relaciona aos lifebits. E uma vez mais, é uma questão de experiência --não a do usuário, mas a de todas as demais pessoas.
    Imagine uma conversa face a face com alguém que esteja usando o Glass: ela será sempre irritante, porque você suspeitará que a atenção do interlocutor não está concentrada em você. E não é confortável pedir a uma pessoa que tire o dispositivo (especialmente nos casos em que ele for integrado a lentes corretivas, o que se tornará inevitável).
    É nesse ponto que começa o problema: você nunca saberá se o interlocutor está gravando a conversa em vídeo.
    Agora imagine que você não conheça ninguém que use o Google Glass e um dia decida sair para uma caminhada. Em qualquer lugar público a que vá --qualquer loja, calçada, metrô, ônibus--, há o risco de que sua presença seja gravada, em áudio e vídeo.
    "Sou gravado por câmeras de segurança o dia todo e isso não me incomoda. Qual é a diferença, então?".
    O que torna esses óculos inteligentes tão únicos é que se trata de um projeto do Google. E a companhia tem a capacidade de combinar seu mais novo produto às demais tecnologias que controla.
    Por exemplo, pense nos vídeos gravados pelos aparelhos de todos os usuários do Glass, espalhados pelo mundo.
    Não importa que os vídeos sejam gravados apenas temporariamente, como era o caso na versão de demonstração do aparelho, ou permanentemente, como certamente será o caso em modelos futuros. O que importa é que todos os vídeos serão transmitidos à nuvem de servidores do Google.
    Se acrescentarmos a isso recursos de reconhecimento facial e o banco de dados de identidades que o Google vem construindo em sua rede social (com ênfase nos nomes reais e corretos dos usuários), os servidores da empresa poderiam processar os arquivos de vídeo a seu bel prazer, para tentar identificar todas as pessoas que aparecem em todos os vídeos.
    E se o Google+ não parece grande ameaça, basta recordar que Mark Zuckerberg já anunciou que o Facebook desenvolverá aplicativos para o Glass.
    Por fim, considere o software de conversão de voz em texto que o Google já emprega em seus servidores e nos óculos inteligentes. Qualquer som em um vídeo poderia, em termos técnicos, ser convertido em texto, associado ao indivíduo envolvido na conversa e indexado para busca no banco de dados do Google.
    O aspecto realmente interessante é que toda essa indexação, identificação e armazenagem poderia acontecer mesmo que o usuário do Glass não o ordenasse.
    Qualquer vídeo gravado com o aparelho, em qualquer lugar e momento, provavelmente será armazenado nos servidores do Google, onde o pós-processamento (reconhecimento facial, conversão de voz em texto) seria realizável mais tarde a pedido do Google ou de qualquer outra entidade empresarial ou governamental, para uso em qualquer momento do futuro.
    De hoje em diante, começando já, sempre que você estiver ao alcance de um aparelho Google Glass, tudo que fizer poderá ser gravado e armazenado na nuvem pelo resto de sua vida. Você não saberá se está ou não sendo gravado, e mesmo que saiba não poderá fazer coisa alguma para impedir.
    Essa é a discussão que devemos realizar sobre o Google Glass. A comunidade da tecnologia tem todo o direito de liderar essa discussão. Mas o pessoal do ramo hoje em dia prefere discutir se usar os óculos vai deixá-los mais atraentes.
    MARK HURST é fundador da Creative Good e autor de "Bit Literacy" (2007)
    Tradução de PAULO MIGLIACCI