Data de publicação em Tlaxcala: 14/05/2014
Simon Tisdall Traduzido por Coletivo de tradutores Vila Vudu |
O Irã e o presidente Bashar al-Assad, íntimo aliado dos iranianos venceram a guerra na Síria, e a campanha orquestrada pelos EUA em apoio à tentativa da oposição para derrubar o regime sírio fracassou completamente – disseram ao Guardian vários altos funcionários iranianos. Em séries de entrevistas em Teerã, altos funcionários, dos que modelam a política externa iraniana, dizem que a estratégica do ocidente na Síria pouco fez além de estimular radicais, gerar e alimentar o caos e, feitas as contas certas, saiu-lhes pela culatra, agora que as forças do governo sírio, comandandas pelo presidente Assad, já assumem total controle da situação em campo. “Vencemos na Síria” – disse Alaeddin Borujerdi, presidente da comissão de política externa e segurança nacional do Parlamento do Irã, e elemento muito influente dentro do governo. “O regime permanecerá. Os norte-americanos perderam tudo.” O terrorismo perpetrado pelos grupos jihadistas ligados à al-Qaida e indivíduos armados financiados por países sunitas muçulmanos árabes são agora a principal ameaça que o povo sírio enfrenta, disse Borujerdi. Muitos combatentes estrangeiros, que viajaram para a Síria, da Grã-Bretanha e outros países europeus, logo voltarão para casa. “Nos preocupa agora a segurança futura da Europa” – Borujerdi continuou. Amir Mohebbian, estrategista conservador e conselheiro do presidente disse que “foi fácil para nós vencermos o jogo na Síria. Os EUA absolutamente não entendem a Síria. Queriam substituir Assad mas… nem perceberam que não havia alternativa para eles. Só conseguiram encorajar grupos radicais e tornar as fronteiras ainda menos seguras. “Aceitamos que é preciso mudar, na Síria – mas gradualmente. Se não for assim, será o caos.” O Irã muçulmano xiita é o mais poderoso apoiador regional de Assad, e sabe-se que investiu bilhões de dólares para promover o governo de Assad desde os primeiros movimentos de oposição, em março de 2011. Ao lado da Rússia, principal fornecedora de armas para o regime sírio, o Irã salvou Assad contra todas as tentativas de golpe com ‘mudança de regime’ que o ocidente organizou contra ele. Analistas ocidentais dizem que o Irã está engajado numa luta regional por poder, ou guerra à distância, que vai bem além da Síria, contra os estados árabes sunitas do Golfo, principalmente aArábia saudita. Portanto, Teerã teria agora óbvio interesse em proclamar a vitória do regime sírio alawita, que luta contra muitos rebeldes sunitas. Mas funcionários iranianos e especialistas regionais negam que essa seja a motivação principal. Majid Takht-Ravanchi, vice-ministro de Relações Exteriores do Irã,[1] disse que a prioridade é aceitar que o golpe falhou e restaurar a estabilidade na Síria, antes das eleições presidenciais previstas para o próximo mês. “O extremismo e a desordem na Síria têm de ser enfrentados com seriedade pela comunidade internacional. Os países que estão fornecendo terroristas e forças extremistas têm de parar de alimentar o terror e os terroristas” – disse Takht-Ravanchi. “O Irã tem boas relações com o governo sírio, o que não implica que nos ouçam sempre” – ele continuou. E negou que o Irã tenha fornecido armas e combatentes das unidades dos Guardas Revolucionários, para ajudar a derrotar os terroristas sunitas, como disseram agências ocidentais de inteligência.[2] “O Irã tem presença diplomática ali. Nada há de estranho ou de diferente, nisso. Não precisamos armar o governo sírio” – disse ele. Apesar de sua influência com Damasco e o Hezbollah,[3] a milícia libanesa xiita que luta ao lado das forças do governo sírio, o Irã foi sempre excluído das conversações internacionais para forjar um acordo de paz, por causa de objeções dos EUA e da Grã-Bretanha, que alegam que Teerã não reconhece a importância de Assad deixar o governo.[4] Mas depois da semana passada, quando os rebeldes mantidos e armados pelo ocidente e pelos países do Golfo afinal se retiraram derrotados, da estratégica cidade de Homs [5] – a capital da revolução síria –, alguns políticos e comentaristas ocidentais também já concluíram que Assad venceu.[6] Os EUA e estados árabes do Golfo seus aliados forneceram dinheiro, equipamento e armas aos terroristas ativos na Síria. Ano passado, o presidente dos EUA Barack Obama aproximou-se muito perigosamente de lançar mísseis de ataque contra o governo de Assad, sob o falso pretexto de que o exército sírio teria usado armas químicas. Mas o ataque não se consumou, e a decisão de Obama, de retroceder, foi interpretada em Teerã e em Damasco, como sinal de que os EUA já não estariam muito ativamente empenhados em continuar a tentar vencer aquela guerra. “Entendo que os norte-americanos cometeram erro enorme na Síria e acho que sabem disso, embora jamais o admitam” – disse Mohammad Marandi, professor universitário em Teerã. “Se tivessem aceitado o Plano Annam, em 2012, que teria mantido Assad no governo, com um cessar-fogo respeitado por todos e eleições monitoradas pela comunidade internacional[7] teriamos evitado tudo isso.” “O Irã sempre acreditou profunda e sinceramente que não teríamos outra possibilidade, se não a de garantirmos total apoio ao governo de Assad. Qualquer outra via teria resultado no colapso da Síria, e o país teria sido perdido para os terroristas” – disse o professor Marandi. Calcula-se que mais de 150 mil pessoas tenham perdido a vida no conflito sírio, e pelo menos 9 milhões perderam as casas e locais de moradia. Notas [1]http://www.theguardian.com/world/2014/may/06/iran-nuclear-deal-threat-negotiators-rouhani [2]http://www.reuters.com/article/2014/02/21/us-syria-crisis-iran-idUSBREA1K09U20140221 [3]http://www.theguardian.com/world/hezbollah [4]http://www.npr.org/blogs/thetwo-way/2014/01/19/264029707/united-nations-invites-iran-to-syrian-peace-negotiations [5]http://www.bbc.com/news/world-middle-east-27323736 [6]http://www.washingtonpost.com/world/middle_east/on-third-anniversary-of-syrian-rebellion-assad-is-steadily-winning-the-war/2014/03/14/f189649a-bd1a-4c9e-9060-755984ea92c8_story.html [7]http://www.aljazeera.com/news/middleeast/2012/03/2012327153111767387.html |