"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Instituto Humanitas Unisinos - 19/12/07

O Natal da discórdia. Artigo de Bernardo Kucinski

Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, publicou, recentemente, um artigo criticando duramente a greve de fome de D. Frei Luiz Flávio Cappio. Num novo artigo, publicado pela Agência Carta Maior, 18-12-2007, o jornalista aprofunda a crítica, deseja um feliz 2008, e se despede respeitosamente dos leitores de Carta Maior.

Eis o artigo.

Minha crítica à greve de fome de Dom Luiz ofendeu leitores e constrangeu Carta Maior. A direção segurou o texto por dois dias e quando o publicou, dele se dissociou: “Posições oficiais da Carta são assinadas por mim, Editor Chefe, pelo seu diretor-presidente, Joaquim Ernesto Palhares, ou por ambos”. Assinado: Flávio Wolf de Aguiar, Editor Chefe. Leitores em penca reclamaram indignados contra sua publicação.

Já havia sentido a rejeição de muitos leitores ao modo irônico ou à crítica ao movimento ambientalista. Desta vez, parece que mexi num vespeiro. Levei o maior cacete. De fato, meu texto chega ao limite do sarcasmo porque fiquei revoltado com a distorção de informações sobre o projeto do São Francisco. Era preciso chocar para romper o emparedamento do debate. Mesmo porque está em jogo um divisor de águas no campo progressista que vai muito além do Rio São Francisco. Apesar de fugir ao meu estilo analítico costumeiro, adotando uma retórica dramática, eu tinha a boa informação.

Gostei do novo estilo. A maioria dos leitores, não. Vários me acusaram de desqualificar o bispo em vez de discutir seus argumentos. Quando enviei o artigo à Redação, no domingo, dia 9 (com data para o dia 10), o bispo não havia explicitado seus argumentos em texto assinado. Só fez isso na Folha de S. Paulo do dia 12. Meu objetivo, que muitos leitores não captaram, era decifrar as razões da segunda greve de fome, já que, ao contrário da primeira, não a movia o motivo clássico desse gesto, que é forçar uma negociação. A partir dos pressupostos de que um governo democrático não poderia ceder à chantagem, e o bispo, como um general da Igreja, sabia disso, concluí que o Dom Luiz queria mesmo era morrer. Foi ele quem se desqualificou. Eu apenas matei a charada, como diz um dos raros leitores que me apoiaram.

Agora, que o bispo explicitou seus argumentos, é possível refutá-los. Mas antes, quero falar de minhas divergências mais gerais. A primeira é em relação ao lugar do governo Lula na nossa história. Concordo com a maioria dos leitores que o governo Lula ficou aquém do que esperávamos, em especial na fase paloccista, e continua afogado em contradições. Lula fez uma aliança estratégica com os bancos? Fez. Eu mesmo apontei isso na Carta Maior. Mas criou o Pró-Uni, o Bolsa Família, o programa Luz para Todos e o programa Quilombola; o programa de Agricultura Familiar, aumentou substancialmente o salário mínimo, dialoga com os movimentos populares; vestiu o boné do MST, o dos petroleiros e o das margaridas. Contribuiu para a o enterro da Alca e promove a integração latino-americana. Criou o Banco do Sul e a TV Pública.

Não é pouca coisa. Não sei se tudo isso “mudará o Brasil”. Sei que não quero entrar na história como um dos linchadores de Lula e de um governo que eu ajudei a eleger. Como disse Maria da Conceição Tavares, parodiando a confusão que se estabeleceu no Chile no governo Allende: “É um governo de merda, mas é o nosso governo de merda.”

Minha segunda divergência diz respeito à dimensão política da luta pela defesa do meio ambiente. Uma coisa é levar essa luta debaixo do tacão de um regime militar, outra coisa é no interior de um governo democrático, sensível às demandas populares e sobre o qual temos enorme influência, em especial nos aparelhos de Estado que cuidam do meio ambiente e dos programas sociais.

Divirjo também da doutrina de muitos movimentos ambientalistas. Quando fui procurado pelo Greenpeace para participar de sua fundação no Brasil, lá pelos anos 80, instintivamente recusei. Digo instintivamente porque somente há poucos meses topei com a teoria da minha recusa. Num pequeno artigo no Jornal do Brasil, Emir Sader dizia ser impossível tratar temas como a economia, sem considerar conceitos básicos da economia política, entre os quais o conceito de “imperialismo”.

É isso. Uma coisa é uma agenda ambientalista endógena, concebida por nós, que considere nosso estágio de desenvolvimento, nossas necessidades básicas e nossa correlação interna de forças. Outra coisa é aceitar acriticamente a agenda que vem de fora. Ou não perceber que também na luta ambientalista incidem o fator de classe e o fator imperialismo. O Norte com renda per capita de 30 mil dólares pode propugnar até mesmo crescimento zero ou de emissão zero de CO2. O Sul com renda per capita de 3 mil dólares tem que se orientar necessariamente pelo conceito do desenvolvimento sustentado, aquele que preserva o meio ambiente e os recursos naturais, mas garantindo as necessidades básicas da população presente.

Uma parte do movimento ambientalista brasileiro não se orienta pelo conceito do desenvolvimento sustentado, e sim por um paradigma criado por sociedades já bem abastecidas em tudo, e que preferem atribuir ao nosso território o papel de uma gigantesca reserva florestal, indígena e de biodiversidade do planeta Terra. Não estão nem aí para as necessidades básicas da população brasileira.

Para atender essas necessidades e nos tornarmos uma sociedade minimamente civilizada, precisamos construir cinco milhões de moradias, e levar a elas água, eletricidade e esgoto. Precisamos criar pelo menos trinta milhões de empregos. Erguer dezenas de escolas, hospitais e postos do Ibama e da Polícia Federal. Implantar vastas redes de transporte de massa, metrôs, hidrovias e ferrovias, tudo isso obedecendo padrões avançados de controle ambiental.

Os números são todos grandes. Mas temos recursos para isso. Nunca se ganhou tanto dinheiro no país com as exportações. É preciso lutar por políticas públicas que aloquem esses recursos em benefício da população, Mas os ambientalistas foram tomados pela cultura do não. Nada pode ser feito e, se for grande, é ainda mais condenável. Temos uma frente nacional “contra” os transgênicos, outra contra o projeto do São Francisco, e logo, logo teremos, se é que já não temos, a frente nacional contra as barragens, contra o uso de células-tronco e contra as estradas de integração continental. É o autismo frente às carências do povão, o fundamentalismo na luta pelo meio ambiente e o ludismo na reação contra os avanços da biotecnologia.

Deveríamos ter, isso sim, uma frente nacional pelo zoneamento agrícola, outra pelo imposto sobre a exportação de commodities, e mais outra pela atualização dos índices de produtividade agrícola (sem o que é impossível a desapropriação para fins de reforma agrária). Uma frente nacional pela ocupação ordenada da Amazônia, outra pela integração continental. Tínhamos que pressionar pela recuperação das pequenas hidrelétricas, desativadas pelo regime militar, e lutar ao mesmo tempo pela construção das de maior porte, por gerarem energia limpa, renovável e barata, a um baixo custo social.

Na oposição ao projeto da adutora do São Francisco, os traços de fundamentalismo se adensaram perigosamente quando a Igreja se meteu na história. Leiam de novo a mensagem de apoio de Leonardo Boff a Dom Luiz, enviada por um dos leitores indignados com meu artigo. O mesmo Leonardo Boff que observou dias atrás ser incorreto discutir a existência de Deus à luz da ciência, porque a fé é uma questão de imaginação e espiritualidade, agora convoca a fé para combater um projeto terreno de captação de águas de um rio. “Acompanho com respeito e sustento com todo o coração sua decisão de doar a vida para que haja mais vida para os pobres e para o rio São Francisco... Sua opção não é a de um suicida mas de um homem livre, capaz de amar até o fim, amparado no Deus de Jesus...” E vai por aí afora, citando passagens da escritura e invocando repetidamente o nome de Deus.

Lembrei-me do segundo mandamento: “Não invocarás o nome de Deus em vão”. E também do oitavo: “Não levantarás falso testemunho”. Isso porque são falsos os argumentos de Dom Luiz, da CPT e da CNBB contra o projeto. Há restrições e críticas sérias ao projeto, mas as dos bispos são inconsistentes, resvalando para o demagógico.

O bispo começa pelo argumento de que Lula não tinha mandato para tocar esse projeto porque evitou discuti-lo durante a campanha eleitoral. Disso conclui que Lula governa autoritariamente, que Lula e não ele é o inimigo da democracia. “Vivêssemos numa democracia republicana, real e substantiva, não teria que fazer o que estou fazendo”, escreve Dom Luiz. Outro bispo, Dom Tomás Balduíno, em artigo no Estadão, vai além: diz que “quem dividiu o país, e até a Igreja, foi Lula e não Dom Luiz Cappio”.

Vamos perdoar a menção a uma “democracia republicana” por parte de uma Igreja que se opõe ao divórcio e ao uso da camisinha. Digamos que foi um erro de digitação. Esses bispos se esquecem que depois de Lula ser eleito, a história seguiu seu curso e ele também foi reeleito, numa segunda campanha em que a prioridade dada ao projeto já era notória. E mais: o presidente recebeu votação esmagadora na reeleição exatamente nos Estados do Nordeste, onde vai se dar essa importante intervenção.

Lembro ainda que, por ordem do presidente, o ministro Ciro Gomes agendou uma rodada de discussões com Dom Luiz , como parte do acordo para acabar com sua primeira greve de fome. Mas Dom Luiz não compareceu. Foi ele que não quis discutir.

O bispo escreve e repete que 70% da água transposta vai para uso industrial, 26% para uso agrícola e 4% para a população difusa. Isso provaria que o projeto foi feito para servir grandes empreendimentos agropecuários e industriais. Mas a verdade é que as águas vão perenizar os mesmos rios e abastecer exatamente os mesmos sistemas municipais, açudes e sabespes, atualmente em operação, e que já sofrem crises periódicas de abastecimento mesmo na ausência de secas.

Não encontrei no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) os números do bispo, por mais que procurasse. Encontrei, sim, este trecho: “A demanda urbana das áreas que serão beneficiadas pelo empreendimento foi avaliada em aproximadamente 38 metros cúbicos por segundo no ano de 2025. Desse total, cerca de 24 metros cúbicos por segundo correspondem ao consumo humano e 14 metros cúbicos à demanda industrial”. Portanto, pelo menos em relação à proporção demanda humana-demanda industrial, o bispo está errado. Diz ainda o Rima: “o projeto foi planejado procurando atender o maior número de pessoas possível”.

Confira em www.mi.gov.br/saofrancisco/integracao.rima.asp

A adutora não foi feita para abastecer nenhum projeto especifico de agrobusiness ou industrial; ela reforça as adutoras e açudes já existentes, dando ao Nordeste uma perspectiva de longo prazo de desenvolvimento econômico, urbano, agrícola. O bispo não menciona quais seriam esses projetos gigantes. Procurei exaustivamente e acabei encontrando a origem da desinformação: um documento da Comissão Pastoral da Terra, hoje a principal produtora de falácias contra o projeto, ao ponto de desbancar a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), que não admitia perder uma gota do rio que aciona seus geradores em Paulo Afonso.

A CPT alega que a adutora “vai servir para a siderúrgica do Pecém, vai servir para a agroindústria do Apodi”. Ora, a siderurgia do Pecém fica próxima ao litoral, no Ceará, distante centenas de quilômetros do ramo Norte do projeto, que mal entra no Ceará, desviando-se em direção à Paraíba e ao Rio Grande do Norte, depois de reforçar o Riacho dos Porcos. Desse riacho até Pecém são centenas de quilômetros de rios que até mudam de nome e passam por açudes diversos. Não tem nada a ver com a siderúrgica, que já tem abastecimento local assegurado de 2 metros cúbicos por segundo, para um consumo de apenas 1,73 metros cúbicos por segundo.

Esses dados foram admitidos pela Agência Brasil de Fato, do MST (www.brasildefato.com.br). Como contradizem o argumento da CPT, a agência alega que, no futuro, quando outras indústrias forem atraídas pela siderúrgica, “caso o complexo prospere, a demanda de água superará a oferta atual”. Notem o ato falho na utilização da palavra “prospere”. Eles não querem que nada prospere. Também omitem que a siderúrgica vai produzir placas grossas, para exportação, e não as placas finas que atrairiam empresas metalúrgicas de processamento.

Mais falacioso ainda é chamar a agricultura de Apodi de agrobusiness, ao modo de um palavrão que desclassifica tudo. Apodi é uma história de sucesso e exuberância agrícola e grande diversidade de produção e formas de propriedade. Ali cresce, graças à Embrapa, a mais produtiva variedade de acerola. Ali o governo federal está implantando um projeto específico de financiamento da agricultura familiar. Ali existem seis assentamentos agrícolas e três cooperativas de produtores. Ali o governo instalou também um projeto de três minifábricas familiares para o processamento da castanha do caju, e um outro que vai beneficiar 400 pequenos produtores de mel. Um único projeto de irrigação em andamento no Apodi, com água pressurizada, vai atender a mais de 200 agricultores.

Todas essas falácias e mais algumas foram inventadas pela CPT depois que se desmoralizou o argumento principal anterior de que a adutora ia secar o Rio São Francisco. Ocorre que, em julho de 2004, depois de intensos debates técnicos, o governo inverteu a lógica do antigo projeto pelo qual as águas do São Francisco seriam transpostas para os sistemas do semi-árido sempre que seus açudes estivessem baixos, sem levar em conta o nível da represa de Sobradinho. Ficou decidido que será retirada uma quantidade mínima para garantir o consumo humano, e só quando Sobradinho tiver excesso de água, a captação será maior. Na sua nova formulação são retirados 26,4 metros cúbicos por segundo, cerca de 1% da vazão no local da captação, e somente quando Sobradinho estiver vertendo, ou seja, botando fora excesso de água, a captação pode aumentar, mesmo assim até o limite de 87,9 metros cúbicos. O Rima estima que, na média anual, a perda do rio vai ficar em 65 metros cúbicos por segundo.

Mas no sertão beneficiado o ganho é muito maior porque, ao eliminar a insegurança, a adutora diminui a necessidade de armazenamento dos açudes existentes, reduzindo as perdas por evaporação de seus espelhos de água em 22,5 metros cúbicos por segundo. É um efeito de “sinergismo, que, segundo o Rima, nunca existiu antes em projetos de adutoras. Por tudo isso, a nota técnica 492 da Agência Nacional de Águas (ANA), de setembro de 2004, avalizou o projeto (www.ana.gov.br). Um ano depois a ANA concedeu ao Ministério da Integração a outorga definitiva para o uso dessas quantidades, através das resoluções 411 e 412. Está tudo na internet. Aliás, o portal do Ministério do Meio Ambiente, que abriga a maioria dessas informações, é muito abrangente.

Sem o argumento de que o rio vai secar, os padres passaram a argumentar que há um outro projeto, o Átlas do Nordeste, elaborado pela ANA, mais barato, custando apenas R$ 3,6 bilhões, metade do custo do São Francisco, e beneficiando três vezes mais gente, 44 milhões. É tudo falso, no atacado e no varejo. Ou um “equívoco”, como diz educadamente o presidente da ANA, José Machado: “Em primeiro lugar o Átlas não pode ser considerado um programa ou projeto. É, na verdade, um portfólio de eficientes soluções técnicas para serem eventualmente financiadas. Não visou equacionar o problema da segurança hídrica do Nordeste, uma vez que não se tratou do atendimento de usos múltiplos da água, como a produção de alimentos e irrigação. Também não foi considerado o abastecimento das sedes municipais com menos de cinco mil habitantes, dos distritos, vilas e núcleos rurais. Por outro lado, o projeto de Integração do São Francisco com as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF) é um projeto de desenvolvimento regional com perspectiva de conseguir benefícios que se estendam para além de 2025. O Átlas e o PISF são, pois, iniciativas distintas, em sua gênese, seus objetivos e em sua área de abrangência. Não são conflitantes”.

Apenas um quinto dessas soluções técnicas já tinha projetos, mesmo assim abandonados. O Átlas é um mapeamento do que prefeitos deveriam ter feito e não fizeram. Mostra que é assustador o número de municípios com mais de cinco mil habitantes em situação crítica de abastecimento de água: 90% deles em Alagoas, 81% no Ceará, 65% no Rio Grande do Norte e assim por diante. O motivo é simples: é o controle da maioria dessas prefeituras por grupos locais de interesse, fazendeiros e forças conservadores ou prefeitos corruptos. Além disso, abarca apenas metade dos 2116 municípios dos dez Estados analisados, os que têm mais de cinco mil habitantes. Portanto, é o oposto do argumento dos bispos, de que suas soluções atendem aos pequenos, enquanto a transposição atende aos grandes. É falso também que beneficiariam 44 milhões de habitantes. Essa é população total da região e não a população específica dos municípios mapeados.

Outro argumento falacioso é o de que o governo preferiu o grande para favorecer as empreiteiras e, por isso, abandonou o projeto das cisternas. Trata-se da falácia da falsa premissa. Não é verdade que o governo preteriu o projeto das cisternas. O governo apoiou com entusiasmo desde o início a proposta da Articulação do Semi-árido, que reúne 700 ONGs, incluindo-a no seu programa de Combate à Fome. Foi criada uma entidade especial para gerir o programa, que recebe recursos do governo e de empresas privadas. Lula inaugurou a primeira cisterna, justamente para dar força ao projeto. Trata-se de um projeto sofisticado, em que os moradores mesmo constroem as cisternas, recebendo treinamento e suporte de uma rede de ONGs. Quando as ONGs, para as quais foram repassados os recursos, se revelaram vagarosas demais, o governo entrou de sola para acelerar o programa, e no último mês de julho o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome lançou o edital 13/07, oferecendo mais R$ 10 milhões a entidades que queiram entrar no programa. A meta de construir um milhão de cisternas está em pé. Já foram construídas 220 mil. Cada cisterna consegue armazenar pelo menos 10.500 litros de água, o suficiente para necessidades básicas de uma família de cinco pessoas. Mas não o bastante para uso agrícola, mesmo no caso da agricultura de subsistência. As cisternas são a solução para água de beber, de banho, de cozinhar e lavar em residências isoladas, esparsas, na área rural, onde os sistemas municipais de abastecimento não chegam. Não podem ser construídas nas cidades. Um projeto complementa de forma ideal o outro.

Nos últimos documentos da CNBB, em textos de Frei Betto, de Leonardo Boff e outros, surgiu um novo argumento, o de que o projeto “não vai levar água aos índios e quilombolas”. Tanto quilombos quanto aldeamentos indígenas por definição se situam em regiões isoladas, mas com boa oferta de água. Foram os locais onde se fixaram, fugindo dos bandeirantes assassinos e capitães de mato. A esses locais o Luz para Todos está levando eletricidade, que não havia. Mas água já tem.

Os padres também alegam que o projeto é pleno de ilegalidades. É bem o contrário. Seus opositores é que vêm se valendo de truques legalísticos, para obstar projetos que passaram por todos os crivos técnicos das agências reguladoras e todos as votações de comitês de bacias. Entram na Justiça com pedidos de liminares, sabendo que justiça vai demorar anos para entrar no mérito. Sempre que o mérito é julgado, o projeto é aprovado. Além disso, ambientalistas têm impedido o fechamento de atas de audiências públicas à força. Várias das audiências do São Francisco foram interrompidas à força. Eu pergunto: de que lado está o autoritarismo?

Termino perguntando: será que, por trás dessa campanha contra a adutora do São Francisco, não está o ressentimento pela perda do rebanho dos pobres, que hoje tem um cartão Bolsa Família? Ou dos pobres que se libertariam da opressão da falta de água no Nordeste? Ou será que estamos testemunhando o enquadramento da Igreja de Libertação na encíclica Spe Salvi , lançada pelo papa e ex-corregedor da fé, Ratzinger, o mesmo que pediu a expulsão de Leonardo Boff da Igreja? Essa encíclica reafirma a renúncia à libertação terrena em nome de uma salvação na dor e na morte. Além de lembrar vivamente a tragédia de Dom Luiz, é imobilista e reacionária. Deixa o campo da história para as forças conservadoras deitarem e rolarem, impedindo a Igreja de Libertação de disputá-lo com um projeto secular de transformação social.

Instituto Humanitas Unisinos - 19/12/07

Um projeto pensado ainda no Brasil Colônia

Os primeiros documentos sobre a transposição do rio São Francisco remontam à época que a então família de Dom João VI veio ao Brasil, durante o período colonial A reportagem é de J. Pereira e publicada pelo Brasil de Fato, 18-12-2007.

1847 -> “Venderia as jóias da coroa”

Foi com o Imperador Dom Pedro II, em 1847, que a proposta da transposição do rio São Francisco ganhou oficialmente a agenda do poder político brasileiro. Dom Pedro II chegou a dizer que leiloaria as jóias da coroa para viabilizar a construção dos canais em 10 anos. A idéia, no entanto, já estava sendo discutida quando a família real veio ao Brasil. Documentos do período de Dom João VI mostram que técnicos já discutiam o aproveitamento da água do rio em 1818.

Década de 1980 -> Governo militar

A transposição do rio São Francisco permaneceu na agenda pública, durante mais de um século, como uma carta na manga nos momentos mais dramáticos da seca no Nordeste. E a primeira vez que o projeto foi escrito e elaborado ocorreu justamente após uma das estiagens mais fortes que se têm notícias no Brasil (1979-1983). O estudo ocorreu durante o governo militar de João Batista de Oliveira Figueiredo, sob a coordenação do Ministro do Interior Mário Andreazza e executado pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). Cabrobó-PE seria o ponto inicial dos canais que conduzem a água até o Vale do Cariri (rio Jaguaribe), no Ceará e outras bacias beneficiadas.

Anos 1990 -> Novo impulso

O projeto ganhou a mídia e entrou para o debateu público, de vez, no início dos anos 1990. Após a redemocratização, o primeiro presidente a encampar a proposta foi Itamar Franco que, em agosto de 1994, enviou um decreto ao Senado dizendo declarando ser do interesse da União, para fins de estudo, o potencial hídrico das bacias das regiões Semi-Áridas dos Estados do Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, com vistas à transposição.

1995 -> FHC encampa o projeto

Cinco meses depois de eleito, Fernando Henrique Cardoso assinou o documento “Compromisso pela Vida do São Francisco”, prevendo um programa de revitalização da bacia hidrográfica do rio e a construção do Eixo Norte e Eixo Leste. O projeto contou com forte apoio das elites políticas do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Gerou oposição na Bahia. O governo FHC chegou a reservar R$ 300 milhões no orçamento para iniciar o projeto.

2002 -> A vez do governo Lula

Ainda no segundo turno das eleições presidenciais, o então candidato petista Lula recebeu o apoio do cearense Ciro Gomes (PPS), quarto colocado no primeiro turno, e assumiu o projeto da transposição. Eleito, Lula escolhe o ex-ministro de FHC para comandar o Ministério da Integração Nacional que, em julho de 2004, apresenta um relatório de impacto ambiental das obras buscando o licenciamento. Entre setembro e outubro de 2005, o governo decide suspender o projeto após primeira a greve de fome de 11 dias realizada por frei Luiz Cappio. O governo se comprometeu a fazer um amplo processo de discussão sobre a transposição antes de retomar o projeto. Nada disso acontece (leia mais). E, reeleito, o presidente Lula anuncia que o projeto está no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em julho de 2007, o Exército começa as obras.

Fontes:

Clóvis Cavalcanti, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco e José Vieira Camelo Filho, doutor em Economia, pelo Instituto de Economia da UNICAMP

terça-feira, dezembro 18, 2007

Resistir Info

A caverna no Árctico com as sementes do juízo final

  • Bill Gates, Rockefeller e os gigantes dos OGM conhecem algo que não sabemos
  • por F. William Engdahl [*]

    . Uma coisa de que o fundador da Microsoft, Bill Gates, não pode ser acusado é de ser indolente. Aos 14 anos já fazia programação, aos 20, era ainda estudante em Harvard, fundou a Microsoft. Em 1995 aparecia na listagem da Forbes como o homem mais rico do mundo por ser o maior accionista da Microsoft, uma empresa que, mercê da sua direcção rígida, se constituiu num verdadeiro monopólio dos sistemas de software para computadores pessoais.

    Em 2006, quando a maior parte das pessoas na situação dele pensa em retirar-se para uma tranquila ilha do Pacífico, Bill Gates decidiu dedicar as suas energias à sua Fundação Bill e Melinda Gates, a maior fundação privada 'transparente' do mundo, como ele diz, com uma doação de uns esmagadores 34,6 mil milhões de dólares e a imposição legal de gastar 1,5 mil milhões de dólares por ano em projectos filantrópicos a nível mundial a fim de manter o estatuto filantrópico para isenção de impostos. Em 2006, a oferta do seu amigo e sócio, o mega-investidor Warren Buffet, de acções no Buffet's Berkshire Hathaway no valor de uns 30 mil milhões de dólares, colocou a fundação de Gates em posição de poder gastar quase o mesmo valor de todo o orçamento anual da Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas.

    Por isso, quando Bill Gates decide utilizar a Fundação Gates para investir num projecto cerca de 30 mil milhões de dólares do seu dinheiro, vale a pena analisar esse projecto.

    Não há nenhum outro projecto mais interessante de momento do que este muito estranho num dos cantos mais remotos do mundo, Svalbard. Bill Gates está a investir milhões num banco de sementes no Mar Barents perto do Oceano Árctico, a cerca de 1100 quilómetros do Pólo Norte. Svalbard é um árido pedaço de rocha reclamado pela Noruega e cedido em 1925 por um tratado internacional (ver mapa).

    É nesta ilha esquecida por Deus, que Bill Gates está a investir dezenas dos seus milhões em conjunto com a Fundação Rockefeller, a Monsanto Corporation, a Fundação Syngenta e o governo da Noruega, entre outros, naquilo que é chamado de 'banco de sementes do fim do mundo'. Oficialmente o projecto chama-se a Caverna Global de Sementes Svalbard (Svalbard Global Seed Vault) na ilha norueguesa de Spitsbergen, no arquipélago de Svalbard.

    . O banco de sementes está a ser construído no interior de uma montanha na ilha de Spitsbergen perto da aldeia de Longyearbven. Está quase pronto para o 'negócio', de acordo com os comunicados. O banco vai ter portas duplas à prova de explosão com sensores de movimento, duas câmaras pressurizadas e paredes de betão reforçado a aço com um metro de espessura. Conterá mais de três milhões de variedades diferentes de sementes de todo o mundo, 'para que se possa conservar a variedade das espécies para o futuro', segundo o governo norueguês. As sementes vão ser embaladas de forma especial para protecção contra a humidade. Não haverá pessoal a tempo inteiro, mas a relativa inacessibilidade da caverna facilitará a fiscalização de qualquer possível actividade humana.

    Falha-nos alguma coisa? Os comunicados de imprensa afirmaram, 'para que se possa conservar a variedade das espécies para o futuro'. Que futuro é esse que os patrocinadores do banco de sementes prevêem poderá vir a ameaçar a disponibilidade global das sementes actuais, quando a maior parte delas já está bem protegida em bancos de sementes existentes em todo o mundo?

    Sempre que Bill Gates, a Fundação Rockefeller, a Monsanto e a Syngenta se juntam num projecto comum, vale a pena escavar um pouco mais por detrás das rochas de Spitsbergen. Se o fizermos vamos encontrar coisas fascinantes.

    O primeiro ponto digno de nota é saber quem é que patrocina a caverna de sementes do fim do mundo. Aqui, em conjunto com os noruegueses, estão, conforme já dito, a Fundação Bill & Melinda Gates; o gigante americano da 'agribusiness' DuPont/Pioneer Hi-Bred, um dos maiores proprietários mundiais de patentes de sementes de organismos geneticamente modificados (OGM) e de agroquímicos afins; a Syngenta, a importante companhia de sementes OGM e agroquímicos, com sede na Suiça, através da Fundação Syngenta; a Fundação Rockefeller, um grupo privado que criou a "revolução genética com mais de 100 milhões de dólares em sementes desde os anos 70; o CGIAR, a rede global criada pela Fundação Rockefeller para promover o seu ideal de pureza genética através da alteração da agricultura.

    O CGIAR e 'O Projecto'

    Conforme pormenorizei no livro 'Seeds of Destruction' [1] , a Fundação Rockefeller, o Conselho para Desenvolvimento da Agricultura de John D. Rockefeller III e a Fundação Ford juntaram esforços em 1960 para criar o Instituto Internacional de Investigação do Arroz (IIIR) em Los Baños, nas Filipinas. Em 1971, o IIIR da Fundação Rockefeller, em conjunto com o seu Centro Internacional de Melhoramento do Milho e do Trigo, com sede no México, e com mais outros dois centros internacionais de investigação criados pelas Fundações Rockefeller e Ford, o IITA para a agricultura tropical, na Nigéria, e o IIIR para o arroz, nas Filipinas, aliaram-se para formar um único Grupo Consultivo para Investigação Agrícola Internacional (Consultative Group on International Agriculture Research - CGIAR)

    O CGIAR foi delineado numa série de conferências privadas realizadas no centro de conferências da Fundação Rockefeller em Bellagio, na Itália. Os participantes chave nas conversações de Bellagio foram George Harrar, da Fundação Rockefeller, Forrest Hill da Fundação Ford, Robert McNamara do Banco Mundial e Maurice Strong, o organizador ambiental internacional da família Rockefeller, que, enquanto administrador da Fundação Rockefeller, organizou a Cimeira da Terra das Nações Unidas em Estocolmo, em 1972. Há muitas décadas a fundação preocupava-se em por a ciência ao serviço da eugenia, uma versão repugnante da pureza racial, a que fora dado o nome de 'O Projecto'.

    Para garantir o maior impacto, o CGIAR atraiu a Organização para a Agricultura e Alimentação e o Programa para o Desenvolvimento, ambas das Nações Unidas, e o Banco Mundial. E assim, mediante uma distribuição cuidadosamente planeada dos seus financiamentos iniciais, no início dos anos 70 a Fundação Rockefeller já estava em posição de delinear a política da agricultura global no início dos anos 70. E de facto delineou-a.

    Financiado por generosas doações para estudos das Fundações Rockefeller e Ford, o CGIAR providenciou para que os principais cientistas da agricultura e agrónomos do Terceiro Mundo passassem a 'dominar' os conceitos do moderno agribusiness de modo a poderem levá-los para os seus países. Neste processo criou uma valiosa rede de influências para a promoção do agribusiness americano nesses países, muito em especial para a promoção da 'Revolução Genética' OGM nos países em desenvolvimento, tudo isto em nome da ciência e da eficácia, do mercado livre e da agricultura.

    Manipular geneticamente uma raça dominante?

    Agora sim, o Banco de Sementes Svalbard começa a tornar-se interessante. Mas ainda há mais. 'O Projecto' a que me referi acima é um projecto da Fundação Rockefeller e de poderosos interesses financeiros desde os anos 20 para utilizar a eugenia, posteriormente rebaptizada de genética, para justificar a criação de uma Raça Dominante geneticamente manipulada. Hitler e os nazis chamaram-lhe a Raça Dominante Ariana.

    A eugenia de Hitler foi financiada em grande parte por esta mesma Fundação Rockefeller que está hoje a construir uma caverna de sementes no fim do mundo para preservar amostras de todas as sementes do nosso planeta. Ora isto começa a tornar-se muito intrigante. Foi esta mesma Fundação Rockefeller quem criou a disciplina pseudo-científica da biologia molecular no seu objectivo incansável de reduzir a vida humana a uma 'sequência genética definidora' que, segundo esperava, poderia depois ser modificada de modo a alterar os traços humanos a bel-prazer. Os cientistas de eugenia de Hitler (muitos dos quais foram discretamente levados para os Estados Unidos depois da Guerra para continuarem as suas investigações em eugenia biológica) contribuíram em muito para o trabalho básico da engenharia genética de diversas formas de vida, grande parte do qual foi apoiado abertamente até ao Terceiro Reich pelas generosas contribuições da Fundação Rockefeller. [2]

    Foi a mesma Fundação Rockefeller quem criou a chamada Revolução Verde, na sequência de uma viagem ao México em 1946, de Nelson Rockefeller e de Henry Wallace, ex-secretário da Agricultura do Novo Acordo e fundador da Hi-Bred Seed Company.

    A Revolução Verde propunha-se resolver o problema mundial da fome, um problema importante no México, na Índia e noutros países escolhidos onde Rockefeller actuava. O agrónomo da Fundação Rockefeller, Norman Borlaug, ganhou o Prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho, uma coisa de que não pode orgulhar-se muito, dado que o partilhou com Henry Kissinger.

    Na realidade, como anos depois se veio a verificar, a Revolução Verde foi um brilhante esquema da família Rockefeller para montar um agribusiness globalizado que depois pudesse vir a monopolizar, tal como já tinha feito na indústria petrolífera mundial meio século antes. Como Henry Kissinger declarou nos anos 70, 'se controlarmos o petróleo, controlamos o mundo; se controlarmos os alimentos, controlamos a população'.

    O agribusiness e a Revolução Verde de Rockefeller andaram de mãos dadas. Fizeram parte de uma grande estratégia em que a Fundação Rockefeller alguns anos depois veio a financiar a investigação da engenharia genética de plantas e animais.

    John H. Davis foi secretário assistente da Agricultura no tempo do Presidente Dwight Eisenhower no início dos anos 50. Saiu de Washington em 1955 e foi para a Escola Superior de Negócios de Harvard, um sítio pouco vulgar para um especialista em agricultura naquela época. Tinha uma estratégia clara. Em 1956, Davis escreveu um artigo na Harvard Business Review em que afirmava que "a única forma de resolver o chamado problema agrícola duma vez por todas, e evitar programas governamentais enfadonhos, é evoluir da agricultura para o agribusiness ". Sabia muito bem o que pretendia, embora pouca gente na altura pensasse nisso – uma revolução na produção agrícola que concentrasse o controlo da cadeia alimentar nas mãos das multinacionais, fora do cultivo familiar tradicional. [3]

    Um aspecto crucial que motivava o interesse da Fundação Rockefeller e das empresas americanas de agribusiness era o facto de a Revolução Verde se basear na proliferação de novas sementes híbridas nos mercados em desenvolvimento. Um aspecto vital das sementes híbridas era a sua falta de capacidade reprodutiva. Os híbridos tinham incorporada uma protecção contra a multiplicação. Ao contrário das espécies normais polinizadas a céu aberto cujas sementes dão colheitas semelhantes às plantas suas produtoras, a produção de sementes nascidas das plantas híbridas era significativamente mais baixa do que as da primeira geração.

    Esta característica de produção decrescente dos híbridos teve como consequência que os agricultores têm normalmente que comprar sementes todos os anos para poderem obter colheitas altas. Mais ainda, a produção inferior na segunda geração eliminou o comércio de sementes que era feito quase sempre por produtores de sementes sem a autorização do criador. Evitava-se assim a redistribuição das sementes dos cereais comerciais feita por intermediários. Se as grandes empresas multinacionais de sementes pudessem controlar internamente as linhagens das sementes parentais, nenhum concorrente ou agricultor conseguiria produzir o híbrido. A concentração global das patentes de sementes híbridas num punhado de gigantescas companhias de sementes, lideradas pela Pioneer Hi-Bred da DuPont e pela Dekalb da Monsanto estabeleceu a base para a posterior revolução das sementes OGM. [4]

    Com efeito, a introdução da moderna tecnologia agrícola americana, dos fertilizantes químicos e das sementes híbridas comerciais, tudo isso tornou os agricultores locais dos países em desenvolvimento, em especial aqueles que tinham terras maiores, dependentes dos abastecimentos das companhias estrangeiras de agribusiness e de petroquímicos, na sua maioria americanas. Foi o primeiro passo do que viria a ser um processo cuidadosamente planeado e que iria durar décadas.

    Com a Revolução Verde o agribusiness veio a invadir significativamente mercados que anteriormente eram pouco acessíveis aos exportadores americanos. Esta tendência foi posteriormente rotulada de "agricultura orientada pelo mercado". Na realidade, tratou-se de uma agricultura controlada pelo agribusiness.

    Durante a Revolução Verde, a Fundação Rockefeller e mais tarde a Fundação Ford trabalharam de braço dado modelando e apoiando as metas políticas estrangeiras da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e da CIA.

    Um dos principais efeitos da Revolução Verde foi despovoar as terras de camponeses que foram forçados a emigrar para bairros de lata em volta das cidades numa procura desesperada de trabalho. Não aconteceu por acaso, fazia parte do plano para criar bolsas de mão-de-obra barata para as manufacturas multinacionais americanas, a 'globalização' dos últimos anos.

    Quando a auto-promoção em torno da Revolução Verde esmoreceu, os resultados eram muito diferentes do que havia sido prometido. Tinham surgido problemas com o uso indiscriminado dos novos pesticidas químicos, muitas vezes com graves consequências para a saúde. O cultivo de monocultura das novas variedades de sementes híbridas reduziu a fertilidade do solo e das produções com o passar do tempo. Os primeiros resultados foram impressionantes: colheitas duplas ou triplas para alguns cereais como o trigo e mais tarde o milho, no México. Mas isso depressa passou à História.

    A Revolução Verde foi normalmente acompanhada de grandes projectos de irrigação que incluíam quase sempre empréstimos do Banco Mundial para construção de enormes barragens novas, que inundavam áreas previamente escolhidas e terra arável fértil. O super-trigo também produzia maiores colheitas através da saturação do solo com enormes quantidades de fertilizantes por hectare, sendo que os fertilizantes eram produtos derivados de nitratos e do petróleo, controlados pelas principais companhias petrolíferas conhecidas pelas Sete Irmãs, dominadas pelos Rockefeller.

    Também se utilizaram enormes quantidades de herbicidas e pesticidas, criando mercados adicionais para os gigantes do petróleo e dos químicos. Como um analista disse, na verdade a Revolução Verde foi meramente uma revolução química. Os países em desenvolvimento não tinham capacidade para pagar as enormes quantidades de fertilizantes e pesticidas químicos. Conseguiam o favor do crédito do Banco Mundial e de empréstimos especiais do Chase Bank e de outros grandes bancos de Nova Iorque, escudados por garantias do governo americano.

    Aplicados num grande número de países em desenvolvimento, esses empréstimos foram sobretudo para os grandes proprietários rurais. Quanto aos agricultores mais pequenos a situação foi diferente. Os agricultores mais pequenos não podiam pagar os produtos químicos e outros produtos modernos e tinham que pedir dinheiro emprestado.

    A princípio, diversos programas governamentais tentaram providenciar alguns empréstimos aos agricultores para que eles pudessem comprar sementes e fertilizantes. Os agricultores que não conseguiam participar neste género de programas tinham que pedir emprestado ao sector privado. Dadas as exorbitantes taxas de juro dos empréstimos informais, muitos pequenos agricultores nem sequer aproveitaram os benefícios das colheitas iniciais mais altas. Depois da colheita, tinham que vender a maioria ou mesmo todo o cereal para satisfazer os empréstimos e os juros. Ficaram dependentes dos usurários e dos comerciantes e muitas vezes perderam as suas terras. Mesmo com os empréstimos a juros baixos das organizações governamentais, o cultivo dos cereais de subsistência deu lugar à produção de colheitas de dinheiro. [5]

    Há décadas que os mesmos interesses, incluindo a Fundação Rockefeller que apoiou a Revolução Verde inicial, têm manobrado para promover uma segunda 'Revolução Genética' como lhe chamou há alguns anos o presidente da Fundação Rockefeller, Gordon Conway, ou seja, a disseminação de produtos agrícolas e comerciais industriais, incluindo sementes OGM patenteadas.

    Gates, Rockefeller e uma Revolução Verde em África

    Tendo bem presente o verdadeiro enquadramento da Revolução Verde da Fundação Rockefeller dos anos 50, torna-se deveras curioso que a mesma Fundação Rockefeller, em conjunto com a Fundação Gates, que estão agora a investir milhões de dólares para preservar todas as sementes contra um possível cenário de "fim do mundo", estejam também a investir milhões num projecto chamado 'A Aliança para uma Revolução Verde em África' (The Alliance for a Green Revolution in Africa).

    A AGRA, como se intitula, é de novo uma aliança com a mesma Fundação Rockefeller que criou a "Revolução Genética". Isto confirma-se se olharmos para o Conselho de Administração da AGRA.

    Inclui nada mais, nada menos do que o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, como presidente. No seu discurso de tomada de posse num evento do Fórum Económico Mundial em Cape Town, na África do Sul, em Junho de 2007, Kofi Annan afirmou, 'Aceito este desafio agradecendo à Fundação Rockefeller, à Fundação Bill & Melinda Gates, e a todos os outros que apoiam a nossa campanha africana'.

    A juntar ao conselho da AGRA aparece um sul-africano, Strive Masiyiwa que é director da Fundação Rockefeller. Inclui Sylvia M. Mathews da Fundação Bill & Melinda Gates; Mamphela Ramphele, ex director-gerente do Banco Mundial (2000-2006); Rajiv J. Shah, da Fundação Gates; Nadya K. Shmavonian da Fundação Rockefeller; Roy Steiner da Fundação Gates; Nadya K. Shmavonian da Fundação Rockefeller; Roy Steiner da Fundação Gates. Para além destes, uma 'Aliança para a AGRA' inclui Gary Toenniessen, director-gerente da Fundação Rockefeller e Akinwumi Adesina, director associado da Fundação Rockefeller.

    Para completar o painel, o 'Programas para a AGRA' inclui Peter Matlon, director-gerente, Fundação Rockefeller; Joseph De Vries, director do 'Programa para os Sistemas de Sementes de África' e director sócio, Fundação Rockefeller; Akinwumi Adesina, director sócio, Fundação Rockefeller. Tal como a velha e falhada Revolução Verde na Índia e no México, a nova Revolução Verde em Africa é obviamente uma alta prioridade da Fundação Rockefeller.

    Embora actualmente mantenham um perfil discreto, pensa-se que a Monsanto e os principais gigantes do agribusiness GMO estão por detrás da utilização da AGRA de Kofi Annan para disseminar por toda a África as suas sementes patenteadas OGM, sob o rótulo enganador de 'biotecnologia', o novo eufemismo para as sementes geneticamente modificadas patenteadas. Até à data, a África do Sul é o único país africano que permite a plantação legal de cereais OGM. Em 2003 Burkina Faso autorizou testes com OGM. Em 2005 o Gana de Kofi Annan adoptou leis de bio-segurança e funcionários ao mais alto nível expressaram a intenção de prosseguir com a investigação sobre cereais OGM.

    A Africa é o próximo alvo na campanha do governo americano para disseminar os OGM's a nível mundial. Os seus solos férteis tornam-na num candidato ideal. Não é de surpreender que muitos governos africanos temam o pior dos patrocinadores dos OGM's, já que tem sido em Africa que se iniciaram muitos projectos de engenharia genética e de bio-segurança, com o objectivo de introduzir os GMO's nos sistemas agrícolas africanos. Estes projectos incluem patrocínios oferecidos pelo governo americano para formar nos EUA cientistas africanos em engenharia genética, para projectos de bio-segurança financiados pela Organização dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e pelo Banco Mundial, e para investigação de OGM's envolvendo plantações alimentares indígenas africanos.

    A Fundação Rockefeller tem vindo a trabalhar desde há anos para promover, quase sempre sem êxito, projectos para introdução de OGM's em terras de África. Eles apoiaram a investigação da aplicabilidade do algodão OGM nos planaltos Makhathini na África do Sul.

    A Monsanto, que tem um pé bem metido na indústria de sementes da África do Sul, tanto de OGM como de híbridos, concebeu um engenhoso programa para pequenos proprietários, conhecido por a Campanha das 'Sementes da Esperança', que está a introduzir um pacote de revolução verde entre agricultores pobres de pequena dimensão, seguido, evidentemente, por sementes patenteadas OGM da Monsanto. [6]

    A Syngenta AG da Suiça, um dos 'Quatro Cavaleiros do Apocalipse OGM' está a introduzir milhões de dólares numa nova instalação de estufas em Nairobi, para desenvolver trigo OGM resistente a insectos. A Syngenta também faz parte do CGIAR. [7]

    Em direcção a Svalbard

    Ora bem, será isto simplesmente relaxamento filosófico? O que leva as fundações Gates e Rockefeller em uníssono a promover a proliferação em toda a África de sementes patenteadas e de sementes Terminator que serão patenteadas dentro em pouco, um processo que, tal como aconteceu em todos os outros lugares do mundo, destrói as variedades de sementes de plantas quando é introduzido o agribusiness industrializado da monocultura? E em simultâneo estão a investir dezenas de milhões de dólares para preservar todas as variedades de sementes conhecidas numa caverna de fim do mundo, à prova de bombas, perto do longínquo Círculo Árctico, 'para que se possa conservar a variedade das espécies para o futuro', para voltar a repetir o seu comunicado oficial?

    Não é por acaso que as fundações Rockefeller e Gates se uniram para impulsionar uma Revolução Verde estilo OGM em Africa ao mesmo tempo que estão a financiar discretamente a 'caverna de sementes do fim do mundo' em Svalbard. Os gigantes do agribusiness OGM estão enterrados até às orelhas no projecto Svalbard.

    Toque de Artista na Caverna do Fim do Mundo Svalbard

    Na realidade, todo o empreendimento de Svalbard e as pessoas nele envolvidas fazem lembrar as imagens catastróficas do bestseller de Michael Crichton, 'O Enigma de Andrómeda', um filme arrepiante de ficção científica em que uma doença mortal de origem extraterrestre provoca a rápida e fatal coagulação do sangue ameaçando toda a espécie humana. Em Svalbard, o futuro repositório de sementes mais seguro do mundo vai ser guardado pelos polícias da Revolução Verde OGM – as Fundações Rockefeller e Gates, a Syngenta, a DuPont e a CGIAR.

    O projecto Svalbard vai ser dirigido por uma organização chamada Global Crop Diversity Trust (GCDT). Quem são eles para guardarem este depósito impressionante de todas as variedades de sementes do planeta? O GCDT foi fundado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pela Bioversity International (antigo Instituto Internacional de Investigação Genética de Plantas), um desdobramento do CGIAR.

    O Trust tem sede em Roma. O seu conselho é presidido por Margaret Catley-Carlson, uma canadiana que também está no conselho consultivo do Group Suez Lyonnaise des Eaux, uma das maiores companhias privadas de água do mundo. Catley-Carlson também foi presidente até 1998 do Population Council, com sede em Nova Iorque, a organização para redução da população de John D. Rockefeller, fundada em 1952 para promover o programa de eugenia da família Rockefeller sob a capa de propaganda "planeamento familiar", dispositivos para controlo de nascimentos, esterilização e "controlo da população" nos países em desenvolvimento.

    Um outro membro do conselho do GCDT é Lewis Coleman, antigo executivo do Bank of America, actualmente chefe da Hollywood DreamWorks Animation. Coleman é também o principal director do conselho da Northrup Grumman Corporation, uma das maiores empreiteiras americanas da indústria militar, com contratos com o Pentágono.

    Jorio Dauster (Brasil) é também presidente do conselho da Brasil Ecodiesel. Foi embaixador do Brasil na União Europeia e negociador principal da dívida externa do Brasil para o ministro das Finanças. Dauster também foi presidente do Instituto Brasileiro do Café e coordenador do 'Projecto para a Modernização do Sistema de Patentes do Brasil', que envolve a legalização de patentes de sementes que são geneticamente modificadas, uma coisa que até há pouco tempo era proibida pelas leis do Brasil.

    Cary Fowler é o director executivo do Trust. Fowler foi professor e director de investigação no Departamento para o Ambiente Internacional & Estudos de Desenvolvimento na universidade norueguesa de Ciências da Vida. Foi também um consultor sénior do director-geral da Bioversity International. Representou ali os Centros Futuros de Searas do CGIAR em negociações sobre o Tratado Internacional para os Recursos Genéticos de Plantas. Nos anos 90 chefiou o Programa Internacional para os Recursos Genéticos de Plantas na FAO. Delineou e supervisionou as negociações do Plano Global de Acção da FAO para os Recursos Genéticos de Plantas, adoptado por 150 países em 1996. É membro antigo do Conselho Nacional dos Recursos Genéticos de Plantas dos EUA e do conselho de administração do Centro Internacional do Melhoramento do Milho e do Trigo no México, mais um projecto da Fundação Rockefeller e do CGIAR.

    O Dr. Magla Rai da Índia, membro do conselho do GCDT, é o secretário do Departamento da Investigação e Educação Agrícola da Índia (DARE) e director-geral do Conselho Indiano para a Investigação Agrícola (ICAR). É também membro do conselho do Instituto Internacional de Investigação do Arroz (IRRI) da Fundação Rockefeller, que promoveu a primeira grande experiência GMO do mundo, o tão apregoado 'Arroz de Ouro' que veio a ser um falhanço. Rai foi membro do conselho do CIMMYT (Centro Internacional do Melhoramento do Milho e do Trigo) e membro do conselho executivo do CGIAR.

    Os Global Crop Diversity Trust Donors, ou anjos financiadores, incluem também, nas palavras de Humphrey Bogart no clássico Casablanca, 'todos os suspeitos habituais'. Além das Fundações Rockefeller e Gates, os Doadores incluem os gigantes OGM's DuPont-Pioneer Hi-Bred, Syngenta de Basle na Suiça, o CGIAR e a USAID, uma organização do Departamento de Estado para ajuda ao desenvolvimento, pró-OGM no que se refere a energia. Na verdade, parece que temos as raposas do OGM e da redução da população a guardar o galinheiro da humanidade, o armazém em Svalbard global da diversidade de sementes. [8]

    Svalbard agora, porquê?

    É legítimo perguntar porque é que Bill Gates e a Fundação Rockefeller em conjunto com os principais gigantes do agribusiness da engenharia genética, como a DuPont e a Syngenta, e ainda com o CGIAR estão a construir a Caverna das Sementes do Juízo Final lá no Árctico.

    Primeiro que tudo, quem utiliza um banco de sementes destes? Os principais utilizadores dos bancos genéticos são os produtores de plantas e os investigadores. Os maiores produtores actuais de plantas são a Monsanto, a Dupont, a Syngenta e a Dow Chemical, os gigantes GMO globais que patenteiam plantas. Desde o início de 2007 que a Monsanto detém, em conjunto com o governo dos Estados Unidos, os direitos mundiais da patente da planta chamada 'Terminator' ou Tecnologia de Restrição de Uso Genético (Genetic Use Restriction Technology, GURT). O Terminator é uma tecnologia sinistra pela qual uma semente comercial patenteada se 'suicida' após uma colheita. O controlo das companhias privadas de sementes é total. Nunca existiu na história da humanidade um tal controlo e um tal poder destes sobre a cadeia alimentar.

    Esta característica do Terminator habilmente engendrada geneticamente obriga os agricultores a recorrer todos os anos à Monsanto ou a outros fornecedores de sementes OGM para obter novas sementes de arroz, soja, milho, trigo, ou outros cereais de que precisem para alimentarem as suas populações. Se for introduzido em grande escala em todo o mundo, pode, talvez dentro de uma década, tornar a maioria dos produtores de alimentos do mundo em servos feudais, escravos de três ou quatro gigantescas companhias de sementes como a Monsanto ou a DuPont ou a Dow Chemical.

    Claro que isso também pode dar azo a que essas companhias privadas, porventura por ordem do seu governo local, Washington, recusem sementes a este ou aquele país em desenvolvimento cuja política possa ir contra a de Washington. Aqueles que dizem 'aqui isso não pode acontecer' deviam observar com mais atenção os actuais acontecimentos internacionais. A mera existência dessa concentração de poder em três ou quatro gigantes do agribusiness com base nos EUA é uma razão para o boicote legal de todos os cereais OGM, mesmo que os seus ganhos em colheitas fossem reais, o que manifestamente não são.

    Estas companhias privadas, a Monsanto, a DuPont e a Dow Chemical, nem sequer têm um registo imaculado em termos de protecção da vida humana. Desenvolveram e proliferaram inovações como a dioxina, os bifenis policlorinados, o agente laranja. Encobriram durante décadas indícios óbvios cancerígenos e de outras consequências graves para a saúde humana decorrentes do uso dos químicos tóxicos. Enterraram relatórios científicos sérios sobre o facto de o herbicida mais utilizado a nível mundial, o glifosato, o ingrediente essencial do herbicida Roundup da Monsanto que está relacionado com a compra da maioria das sementes manipuladas geneticamente pela Monsanto, é tóxico quando se infiltra na água potável. [9] A Dinamarca proibiu o glifosato em 2003 quando se confirmou que tinha contaminado as águas subterrâneas do país. [10]

    A diversidade armazenada em bancos genéticos de sementes é a matéria-prima para a produção de plantas e extremamente importante para a investigação biológica básica. Todos os anos são distribuídas para esses fins várias centenas de milhares de amostras. A FAO das Nações Unidas lista uns 1 400 bancos de sementes em todo o mundo, sendo o maior deles propriedade do governo dos Estados Unidos. Outros grandes bancos situam-se na China, na Rússia, no Japão, na Índia, na Coreia do Sul, na Alemanha e no Canadá, por ordem decrescente de dimensão. Além disso, o CGIAR administra uma cadeia de bancos de sementes em centros seleccionados a nível mundial.

    O CGIAR, fundado em 1972 pela Fundação Rockefeller e pela Fundação Ford para disseminar o seu modelo de agribusiness Revolução Verde, controla a maior parte dos bancos privados de sementes desde as Filipinas até à Síria e ao Quénia. Em todos estes bancos de sementes mantém mais de seis milhões e meio de variedades de sementes, das quais quase dois milhões são 'distintas'. A Caverna do Fim do Mundo Svalbard vai ter capacidade para albergar quatro milhões e meio de sementes diferentes.

    OGM como arma de guerra biológica?

    E chegamos agora ao cerne do perigo e do potencial para a utilização indevida inerente ao projecto Svalbard de Bill Gates e da fundação Rockefeller. Será que o desenvolvimento de sementes patenteadas para os cereais de sustento fundamental da maior parte do mundo, como o arroz, o trigo, o milho e as plantas de forragem como a soja possa acabar por vir a ser utilizado numa horrível forma de guerra biológica?

    O objectivo explícito do grupo de pressão para a eugenia financiado por abastadas famílias de elite, como os Rockefeller, os Carnegie, os Harriman e outros desde os anos 20, corporizou aquilo a que chamaram 'eugenia negativa', a eliminação sistemática de descendências indesejáveis. Margaret Sanger, uma eugenista apressada, fundadora da Paternidade Planeada Internacional e íntima da família Rockefeller, em 1939 criou algo chamado The Negro Project, com base em Harlem, o qual, como ela confidenciou numa carta a um amigo, era todo sobre o facto de que, como ela afirmou, 'queremos exterminar a população negra'. [11]

    Em 2001 uma pequena companhia de biotecnologia da Califórnia, a Epicyte, anunciou o desenvolvimento de trigo geneticamente manipulado que continha um espermicida que tornava estéril o sémen dos homens que o comessem. Na época a Epicyte fez um acordo de associação para disseminar esta tecnologia com a DuPont e a Syngenta, dois dos patrocinadores da Caverna de Sementes do Fim do Mundo Svalbard. A Epicyte foi depois comprada por uma companhia de biotecnologia da Carolina do Norte. O que é de espantar é que a Epicyte desenvolveu o seu trigo OGM espermicida com financiamentos para investigação do Departamento da Agricultura americano, o mesmo departamento que, apesar da oposição mundial, continuou a financiar o desenvolvimento da tecnologia Terminator, hoje propriedade da Monsanto.

    Nos anos 90, a Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas desencadeou uma campanha para vacinar milhões de mulheres na Nicarágua, no México e nas Filipinas, de idades compreendidas entre os 15 e os 45 anos, supostamente contra o tétano, uma doença que pode ser provocada por pisar um prego enferrujado, por exemplo. A vacina não foi administrada a homens ou rapazes, apesar de presumivelmente eles poderem igualmente pisar pregos enferrujados tal como as mulheres.

    Perante esta anomalia estranha, o Comité Pró Vida do México, uma organização laica católica romana, ficou desconfiada e mandou testar amostras da vacina. Os testes revelaram que a vacina do tétano que estava a ser administrada pela OMS apenas a mulheres em idade de procriarem, continha gonadotrofina coriónica (HCG) humana, uma hormona natural que, quando combinada com um portador toxóide de tétano estimula anticorpos tornando a mulher incapaz de manter uma gravidez. Nenhuma das mulheres vacinadas foi informada disso.

    Soube-se mais tarde que a Fundação Rockefeller em conjunto com o Conselho da População de Rockefeller, o Banco Mundial (anfitrião do CGIAR) e os Institutos Nacionais de Saúde dos EU, tinham estado todos envolvidos num projecto que durou 20 anos, iniciado em 1972, para desenvolver a escondida vacina de aborto com um portador de tétano para a OMS. Mais ainda, o governo da Noruega, o anfitrião da Caverna de Sementes do Fim do Mundo Svalbard, doou 41 milhões de dólares para desenvolver a vacina especial abortiva do tétano. [12]

    Será coincidência que estas mesmas organizações, desde a Noruega à Fundação Rockefeller, passando pelo Banco Mundial, estejam também envolvidas no projecto do banco de sementes de Svalbard? Segundo o Prof. Francis Boyle, que redigiu a Lei Antiterrorista de Armas Biológicas de 1989 aprovada pelo Congresso dos EUA, o Pentágono 'está agora empenhado em travar e ganhar a guerra biológica', objectivo integrado nas duas directivas de estratégia nacional de Bush adoptadas em 2002, 'sem conhecimento nem análise pública', segundo ele faz notar. Boyle acrescenta que só em 2001-2004 o governo federal dos EUA gastou em trabalhos civis relacionados com a guerra biológica, 14,5 mil milhões de dólares, uma soma incrível.

    O biólogo Richard Ebright, da Universidade de Rutgers, calcula que mais de 300 instituições científicas e cerca de 12 mil pessoas individuais nos EUA têm actualmente acesso a elementos patogénicos adequados à guerra biológica. Só doações dos Institutos Nacionais de Saúde do governo americano para investigação de doenças infecciosas com potencial para guerra biológica, há 497. Claro que isto é hoje justificado sob a rubrica da defesa contra possíveis ataques terroristas.

    Muitos dos dólares do governo americano gastos na investigação da guerra biológica envolvem engenharia genética. O professor de biologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, Jonathan King, diz que os 'crescentes programas de terrorismo biológico representam um perigo emergente significativo para a nossa população'. King acrescenta que, 'embora esses programas sejam sempre rotulados de defensivos, quando se trata de armas biológicas, os programas defensivos e ofensivos sobrepõem-se quase completamente'. [13]

    O tempo o dirá, que Deus nos proteja, se o Banco de Sementes do Fim do mundo Svalbard de Bill Gates e da Fundação Rockefeller, faz parte de outra Solução Final, desta vez envolvendo a extinção do defunto Grande Planeta Terra.

    03/Dezembro/2007
    NOTAS
    1- F. William Engdahl, Seeds of Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation, Montreal, (Global Research Press, 2007).
    2- Ibid, pp.72-90.
    3- John H. Davis, Harvard Business Review, 1956, citado em Geoffrey Lawrence, Agribusiness, Capitalism and the Countryside, Pluto Press, Sydney, 1987. Ver também Harvard Business School, The Evolution of an Industry and a Seminar: Agribusiness Seminar, http://www.exed.hbs.edu/programs/agb/seminar.html .
    4- Engdahl, op cit., p. 130.
    5- Ibid. P. 123-30.
    6- Myriam Mayet, The New Green Revolution in Africa: Trojan Horse for GMOs?, May, 2007, African Centre for Biosafety, www.biosafetyafrica.net .
    . 7- ETC Group, Green Revolution 2.0 for Africa?, Communique Issue #94, March/April 2007.
    8- Global Crop Diversity Trust website, in http://www.croptrust.org/main/donors.php .
    9- Engdahl, op. cit., pp.227-236.
    10- Anders Legarth Smith, Denmark Bans Glyphosates, the Active Ingredient in Roundup, Politiken, September 15, 2003, in organic.com.au/news/2003.09.15 .
    11- Tanya L. Green, The Negro Project: Margaret Sanger's Genocide Project for Black American's, in www.blackgenocide.org/negro.html .
    12- Engdahl, op. cit., pp. 273-275; J.A. Miller, Are New Vaccines Laced With Birth-Control Drugs?, HLI Reports, Human Life International, Gaithersburg, Maryland; June/July 1995, Volume 13, Number 8.
    13- Sherwood Ross, Bush Developing Illegal Bioterror Weapons for Offensive Use,' December 20, 2006, in www.truthout.org .


    [*] Autor de Seeds of Destruction, the Hidden Agenda of Genetic Manipulation acabado de publicar pela Global Research. É também autor de A Century of War: Anglo-American Oil Politics and the New World Order . Mais artigos do autor em www.engdahl.oilgeopolitics.net e Global Research. Contacto: info@engdahl.oilgeopolitics.net .

    O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=7529.
    Tradução de Margarida Ferreira.

    Resistir Info

    Pico petrolífero
    A energia alternativa e o Princípio Poliana

    por Peter Goodchild [*]
    O problema de explicar o "pico petrolífero" não depende da questão do pico petrolífero propriamente dito, mas sim da questão da "energia alternativa". A maior parte das pessoas agora tem alguma ideia do conceito de pico petrolífero, mas ele tende a ser varrido para o lado na conversação devido à fórmula encantatória habitual: "não importa que o petróleo acabe, porque por essa altura tudo será convertido para a energia [seja qual for]". A fé da humanidade naquilo que pode ser chamado o Princípio Poliana — tudo dará certo no fim — é eterna.

    A informação crítica que falta num tal diálogo é, naturalmente, que a "energia alternativa" pouco fará para resolver o problema do pico petrolífero, embora muito poucas pessoas estejam conscientes deste facto. A situação pode ser ilustrada por uma conversa representativa que eu próprio tive uns poucos meses atrás; o discurso também pode ilustrar a medida pela qual estamos a preparar a próxima geração para as décadas vindouras.

    Pergunta: Não haverá muita gasolina dentro de uns poucos anos. Será que a sua mãe lhe contou isso?
    Resposta (14 anos de idade): Não, mas eu compreendi isso muito bem por mim próprio. Imagino que estaremos a movimentar carros com óleo vegetal.

    O Princípio Poliana, apesar de tudo, é o que utilizamos ao longo do dia. Infelizmente, uma rápida vista de olhos em qualquer manual padrão da história do mundo mostraria que o princípio não foi aplicado a muitas civilizações que hoje jazem enterradas na areia. Mas um engenheiro apontar para gráficos da produção de petróleo é cometer um lapso num problema psicológico: a maior parte das pessoas não gosta de ser empurrada muito longe na direcção da lógica.

    O principal obstáculo, como notado acima, não é o facto em si do declínio na produção mundial de petróleo, mas sim o facto relacionado da impraticabilidade da energia alternativa. As fontes de energia alternativa têm, naturalmente, certas utilizações, e elas sempre existiram, especialmente em sociedades pré-industriais. Contudo, não é possível utilizar fontes de energia sem hidrocarbonetos para produzir os necessários 400 a 500 x 10 15 de BTUs [422 a 527 x 10 18 joules] por ano, e numa forma que possa ser (1) armazenada convenientemente; (2) bombeada para carros, camiões, navios e aviões para o transporte de bens e serviços a longa distância; (3) convertida em um milhar de produtos da vida diária, desde o asfalto aos farmacêuticos; e (4) utilizada para movimentar fábricas (as quais são lugares para máquinas que fazem máquinas) — e que custe tão pouco que possa ser comprada diariamente em grandes quantidades por milhares de milhões de pessoas.

    Também há a questão do tempo. Toda a conversão da indústria mundial teria de ser feito virtualmente da noite para o dia. O pico da produção petrolífera mundial foi talvez em 2006. A data mais importante do pico petrolífero da produção per capita foi em 1990. Há aproximadamente mil milhões de automóveis, e aproximadamente 7 mil milhões de pessoas. Ao longo do século XX, a produção alimentar só escassamente atendeu às necessidades globais, e nos últimos poucos anos nem mesmo atingiu aquele nível. Em termos da quantidade de tempo disponível, a comutação da energia dos hidrocarbonetos para uma forma alternativa de energia estenderia os limites até da mais fantástica obra de ficção científica.

    Contemplar a despesa também no levará longe no reino da fantasia. A US$10 mil por veículo, substituir os veículos que agora estão a circular custaria US$10 x 10 12 (trillion). A infraestrutura – a manufactura corrente, o transporte, a manutenção e a reparação – acrescentaria muito maior despesa. Os fornos e aparelhos de ar condicionado nos edifícios do mundo estariam obsoletos. Toda máquina sobre o planeta teria de ser substituída, toda fábrica redesenhada. Teríamos de substituir o asfalto nas rodovias de todo o mundo por uma substância não constituída por hidrocarbonetos. O dinheiro e os recursos simplesmente não existem.

    Já é demasiado tarde; o sistema tem estado em colapso durante anos. O conceito de reajustar (retrofitting) todo um planeta deve ter levado os Faraós (os quais apenas construíram pirâmides) a rirem nos seus túmulos. Talvez seja uma felicidade que não haja político ou líder de negócios desejoso de iniciar uma aventura tão louca.

    Na realidade, o mundo do futuro não ficará abarrotado. A sobrevivência para uns poucos será possível; a sobrevivência para uma população de milhares de milhões não será possível. Mas muito poucas pessoas perguntaram a questão desagradável de exactamente como esta rápida e dramática redução da população vai acontecer. Voluntariamente?

    Ainda há dois outros problemas com a tentativa de educar pessoas sobre tais assuntos. O primeiro é que qualquer discussão tanto do pico petrolífero como da energia alternativa exige uma estrutura de pensamento científica: um entendimento da investigação empírica e uma capacidade de compreender estatísticas sem ficar confundido. É essencial um domínio da ciência básica a fim de obter uma perspectiva equilibrada dos dados, e a fim de julgar o que é prático e não é prático.

    O segundo destes novos problemas é que os conceitos de pico petrolífero e energia alternativa são extremamente complicados. Embora seja possível reduzir estes dois tópicos a um "ABC" na forma de umas 500 palavras, o problema com uma tal explicação de página única é que grande parte da informação vital seria deixada de fora. Se o documento deixasse de mencionar todo "e / mas / ou", a mensagem quase certamente seria perdida. Se, por outro lado, o documento fosse expandido a cerca de 5000 palavras, o redactor provavelmente perderia a pista do leitor, uma vez que o texto pode exceder a atenção útil (attention span) deste último.

    Entretanto, para aqueles que estão desejosos de fazer um esforço para desemaranhar a informação, há certamente diversos documentos sobre energia alternativa que vale a pena examinar. Um dos melhores documentos ainda é o livro de John Gever et alii, Beyond Oil: The Threat to Food and Fuel in the Coming Decades (1991). Alguns links úteis são:
  • Jay Hanson, "Energetic Limits to Growth", http://www.dieoff.org/page175.htm
  • Walter Youngquist, "Alternative Energy Sources", http://www.oilcrisis.com/youngquist/altenergy.htm
  • Kevin Capp, "The End of Las Vegas", http://www.lasvegascitylife.com/articles/2007/09/27/news/cover/iq_16882035.txt

    O problema da "energia alternativa" também pode ser esclarecido através de um exame de diálogos análogos acerca de outros tópicos, especialmente nos casos em que a ciência se choca com o seu oposto. Uma discussão sobre astrologia, por exemplo, pode implicar horas de diálogo exaustivo, a serem concluídas quando a parte pró-astrologia levanta a cabeça, dá um suspiro profundo e diz: "Bem, eu acredito..." Foi atingida uma barreira, para além da qual nenhuma viagem é possível. Quando a comunicação está num estado tão fraco, muitas vezes há pouca esperança de que um leitor chegue a verificar citações, bibliografias, "Novas leituras", ou mesmo fazer algo que exige tão pouco trabalho como clicar um link de uma página web. Mas o problema de ser professor é que não há algo como aposentadoria.

    05/Dezembro/2007
    [*] Autor de Survival Skills of the North American Indians . Contacto: petergoodchild@interhop.net

    O original encontra-se em http://www.countercurrents.org/goodchild051207.htm

  • Resistir Info

    Banco Central dos EUA, o parceiro silencioso nos banhos de sangue

    por Mike Whitney

    Paulson e Bernanke. A economia de um país é um espelho de água que nos reflecte. A face que nos olha da água é a da cultura e das características prevalecentes. Não é diferente com a América. Os comissários do sistema económico estado-unidense — Paulson e Bernanke — estão inextricavelmente ligados a um establishment político/militar totalmente impregnado na cultura da violência e da corrupção. O "Plano Marshall" de Paulson destinado aos proprietários de habitações subprime é apenas a mão enluvada do déspota. A outra mão ainda está ocupada a arrancar olhos em Guantanamo, ou a moer de pancada cidadãos estrangeiros nos sítios negros da CIA, ou a despejar bombas incendiárias sobre escolas de crianças em Faluja. Isto é tudo igual. A cultura de guerra e demagogia tem suas raízes no sistema económico. Os seus líderes financeiros são tão culpáveis quanto qualquer GI de baixa patente em Abu Ghraib.

    O plano Paulson nada tem a ver com salvar pessoas da classe trabalhadora das devastações dos arrestos. Ah, não. A administração Bush opõe-se ideologicamente a ajudar pessoas em estado de necessidade. Já sabemos isto. Basta olhar para o Katrina. A finalidade real da proposta "salvação de emergência" ("bailout") é permitir que bastantes pessoas continuem a fazer pagamentos mínimos das suas hipotecas de modo a que o sistema bancários não se estilhace em um milhão de pedaços. É isso. Não preciso chamar um génio para ver que o desespero tomou conta do Federal Reserve. A última vez que o governo orquestrou uma salvação de emergência desta grandeza foi na década de 1930. E o que mais? George Bush não é Franklin Dellano Roosevelt.

    A verdade é que o sistema está em erupção e o botão de pânico do Fed está a "piscar vermelho". É óbvio. Eles estão a fazer tudo o que podem para manter o comboio sobre os carris, mas não estão a conseguir. Estão a cortar taxas, a aceitar colaterais dúbios (como papel comercial e tremulantes títulos apoiados por hipotecas) como reposição, e estenderam o período das reposições indefinidamente, o que equivale a "monetizar" a dívida. Paulson tentou estabelecer um Super SIV [1] para ajudar os grandes bancos de investimento a descarregarem o seu lixo apoiado por hipotecas sobre o público desconfiado, mas isto tão pouco está a funcionar. Nada está a funcionar. Enquanto isso, os ventos contrários continuam a ficar mais fortes, as ondas continuam a esmagar-se sobre a proa, e o navio do Estado continua a declinar perigosamente de lado. Ele está numa confusão.

    Os bancos são o canal para o papel-moeda inescrupuloso emitido pelo Federal Reserve. É um negócio torto dirigido pelas mesmas pessoas que enviam nossos filhos para a guerra enquanto premeiam-se a si próprios com cortes fiscais. Agora o sistema está em horrendas dificuldades. Deveríamos sentir-nos mal por isso?

    Bancos centrais estrangeiros e investidores estão a livrar-se dos seus dólares e dos seus activos denominados em dólar, os Estados do Golfo ameaçam desligar o petróleo do dólar, e investidores por toda a parte sabem que foram roubados por uma burla ordinária de lavagem de hipotecas que obteve o "sinal verde" dos reguladores dos Estados Unidos. O cenário em torno de nós é mau. E agora as galinhas voltam a casa para se empoleirarem.

    CÓ-CÓRÓ-CÓ

    O colapso no mercado imobiliário continua a enviar tremores a toda Wall Street. Milhões de milhões de dólares em títulos complexos (CDOs e MBSs) estão a ser degradados quando aumentam os arrestos e os inventários de casas sobem. Bancos, companhias de seguros, fundos de pensão, títulos de companhias de seguros, hedge funds, todos eles estão entre a vida e a morte. Muitos já insolventes e muitos mais os seguirão. É apenas uma questão de tempo. Os fundamentos dos mercados financeiros estão a esfarelar-se. O esquema de transformar os passivos dos candidatos a empréstimos com mau crédito numa fonte confiável de lucros gordos fracassou. A alquimia não funciona. Nunca funcionou.

    A crise subprime e o (subsequente) esmagamento do crédito teve origem no Federal Reserve. O Fed disparou um frenesim especulativo ao baixar taxas de juros abaixo da taxa de inflação durante mais de 31 meses entre 2002 e 2004. Milhões de milhões de dólares alimentaram então o sistema bancário criando a maior bolha equity da história. Agora que a bolha imobiliária está a estraçalhar-se na terra – e milhões de milhões de dólares em títulos tremelicantes estão destinados ao aterro sanitário – o Fede está a tentar distanciar-se de qualquer responsabilidade. Mas nós sabemos a verdade. O plano foi concebido e executado pelo Fed e é nele que reside a culpa. Todos os outros são apenas "pequenos actores".

    O que importa é que o sistema está a entrar em colapso. Está a ser vagarosamente esmagado pelo peso acumulado da sua própria corrupção. Quando o sistema cair, a bandeira será arriada na Baía de Guantanamo, a actual oligarquia de extorsionários (racketeers) será removida do gabinete, e as tropas no Iraque voltarão para casa. Por vezes resultados positivos decorrem da tragédia.

    Poderia haver anarquia ou tirania ou lei marcial ou campos de detenção. Quem é que sabe, realmente? É compreensível que o público esteja preocupado quanto "ao que poderia acontecer" no futuro próximo. Mas, considere-se isto: podemos nós continuar a derramar o sangue de pessoas inocentes por todo o planeta enquanto afirmamos possuir o mundo e todos os seus recursos? Podemos nós ignorar desafios que ameaçam as espécies, como o aquecimento global [2] , o pico petrolífero e a proliferação nuclear?

    Não.

    Bem, nesse caso, haverá qualquer probabilidade de que os media, o congresso, os tribunais, ou o presidente cheguem a cair em si, a traçar uma rota diferente, a restaurar liberdades civis, a parar o abuso de direitos humanos e a retirar as tropas?

    Não

    Então, caro leitor, diga-me que esperança há de mudança senão através de um colapso económico de todo o sistema?

    Sistemas políticos não têm de ser perfeitos para serem aceitáveis. Não sou ingénuo. Mas – para muitos de nós – há critérios morais básicos que têm de ser cumpridos para merecer o nosso apoio. A administração Bush elevou a matança, a tortura e o sequestro a um nível de política de Estado. Isto é inaceitável por qualquer padrão e, com isso, todas as alavancas do poder são controladas por pessoas que apoiam a doutrina actual.

    NÃO É ASSIM?

    Os Estados Unidos não são um foco de esperança ou uma luz no mundo. São, sim, uma ameaça, e cada vez maior, para a sobrevivência na Terra. A política da América e a beligerância militar constituem apenas uma extensão de um sistema económico dominador que serve unicamente aos interesses dos ricos e poderosos. O Banco Central desempenha um papel crítico neste paradigma. O país não vai à guerra sem a bênção das suas principais instituições financeiras. Os sujeitos do "big money" são os parceiros silenciosos nas pilhagens e nos banhos de sangue.

    Os homens que possuem e fiscalizam o sistema financeiro dos EUA criaram o cancro que actualmente está a devorá-lo por dentro. Agora o tumor entrou em metástases e espalhou-se através de todo o organismo. A situação é irreversível. A economia está nos seus últimos passos e destinada a uma queda. Os líderes políticos estado-unidenses terão de aceitar um mundo no qual a América será apenas um entre muitos Estados de igual poder e significância. O financiamento militar reduzir-se-á a umas gotas. A matança acabará. Finalmente.

    07/Dezembro/2007
    [NT1] SIV: Structured Investment Vehicles .
    [NT2] Pelo menos este podemos seguramente ignorar, pois é um desafio fictício. O autor deixou-se influenciar pela enxurrada desinformativa acerca do suposto "aquecimento global". Para uma informação rigorosa ler, por exemplo, Rui G. Moura: A fabricação do pânico climático e A paranóia do dióxido de carbono .


    O original encontra-se em http://www.informationclearinghouse.info/article18850.htm . Tradução de JF.