recebido por e-mail – 11 ago 2011
Por Almirene Sant'Anna, graduada em Letras com especialização em Língua Portuguesa e Psicopedagogia
O Ministério da Educação veicula nos meios de comunicação uma propaganda incitando os cidadãos brasileiros a serem professores. A mensagem é para (tentar) convencer-nos que a profissão é uma das melhores do mundo, esquecendo que numa pesquisa nacional realizada há alguns meses, o professor ocupava o quinto posto no "ranking" dos profissionais mais confiáveis, atrás, pasmem (!), dos advogados.
Por que, então, ser professor tornou-se, agora, tão bom? Respondendo-lhes, eu lhes digo:
Não sejamos professores! Perdemos a credibilidade de toda a sociedade.
Não sejamos professores! Nossos empregadores não têm o menor respeito por nós; deixam-nos amedrontados para lutar pelos nossos direitos, acreditando que, se assim procedermos, teremos nossos salários cortados, nossas férias interrompidas, nossa moral em baixa.
Não sejamos professores! Quase sempre falta-nos material de trabalho, e, quando o temos, com frequencia não sabemos utilizá-lo, pois não recebemos treinamento adequado para usá-lo.
Não sejamos professores! Somos vítimas dos alunos, vítimas dos pais dos alunos, vítimas da comunidade que não acredita em seu poder nem em sua autonomia para tomar decisões.
Não sejamos professores! Nosso salário em início de carreira é vergonhoso e para quem tem tempo de serviço, especialização, mestrado ou doutorado é simplesmente "indizível".
Não sejamos professores! Para que tenhamos uma qualidade de vida decente e para que possamos usufruir de um mínimo de conforto, precisamos recorrer ao limite do cartão de crédito/cheque especial ou tomar empréstimo consignado, comprometendo ainda mais o salário injusto.
Não sejamos professores! A falta de funcionários de apoio e de segurança nos deixam a mercê de todo tipo de indivíduos: armados, drogados, mal-intencionados.
Não sejamos professores! A carga horária que nos é imposta é extenuante.
Não sejamos professores! Apesar das propagandas falando sobre a qualidade da educação, o que os governantes querem é quantidade: excesso de alunos em sala de aula, aprovados sem merecimento.
Não sejamos professores! A família transferiu para o professor a tarefa de educar, aconselhar, transmitir valores, cuidar da saúde física e psíquica dos seus filhos.
Não sejamos professores! É nossa a culpa quando o aluno não aprende, mas não é mérito nosso quando ele obtém êxito.
Não sejamos professores! Não temos vida própria, vivemos em função dos que ditam as leis comportamentais, que só são punitivas se o profissional for PROFESSOR;
Não sejamos professores! A nossa está longe de ser a profissão mais valorizada em nosso país, porque dela foi tirada toda a dignidade, o prazer de ensinar, o valor, o respeito, a moral e a perspectiva de um mundo melhor.
Ser professor, no Brasil, é menos digno que ser advogado, médico, bombeiro, policial ou estar na vida política.
Apesar de nos envergonharmos dos políticos do nosso tempo, somos responsáveis pela formação de todos os profissionais, incluindo esses, mas não somos valorizados por nenhum deles, o que tira de nós o desejo de continuar realizando as nossas atividades.
Não queremos convites para sermos professores. Queremos um país digno, que respeite e valorize seus profissionais não apenas inflando seu ego, mas pagando-lhes um salário justo e dando-lhes melhores condições de trabalho, escolas mais equipadas, funcionários qualificados, segurança e proteção. Queremos que o governo vincule o Bolsa Família à assiduidade e rendimento do aluno, assim a família vai estar mais presente e atuante na escola, as tarefas serão divididas e a sobrecarga do professor diminuirá e ele poderá, realmente, ser um profissional de valor.