"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, abril 25, 2009

Mino Carta sobre Gilmar e Barbosa: Alguém, finalmente, resiste

Conversa Afiada - 24/abril/2009 11:40

O desmoralizador saiu desmoralizado

O desmoralizador saiu desmoralizado

O Conversa Afiada reproduz abaixo o editorial da edição desta semana da Carta Capital:

Alguém, finalmente, resiste

Mino Carta

E as Excelências partiram para a briga. O fraseado solene das litigantes parecia indicar o comparecimento transcendente dos deuses da tragédia grega ou dos fantasmas de Ulpiano, Modestino e Gaio. Talvez uns e outros, sem excluir Sólon. Vale dizer, de todo modo, que a acusação dirigida pelo ministro Joaquim Barbosa ao presidente do STF, de destruir a Justiça brasileira, é a primeira manifestação pública e de grande peso a denunciar os comportamentos de Gilmar Mendes.

E no momento em que Barbosa invectiva, “Vossa Excelência quando se dirige a mim não está falando com seus capangas de Mato Grosso”, não me contive e anunciei aos meus espantados botões: o ministro lê CartaCapital. E mais: dispõe-se a repercutir as informações da revista, ao contrário da mídia nativa, obediente à omertà conveniente ao poder.

Nas nossas páginas, a destruição “da credibilidade da Justiça brasileira”, como diz o ministro Barbosa, tem sido um dos temas principais há um ano, ou seja, desde o instante em que Gilmar Mendes assumiu a presidência do Supremo.

O teste de stress dos bancos dos EUA

Blog do Luis Nassif - 25/04/09

Uma notícia que aliviou os mercados na sexta. Os 19 bancos submetidos ao chamado “teste de stress” pelo FED (o Banco Central americano) passaram no teste com louvor. Embora não se tenha divulgado o nome deles, supõe-se que sejam bancos regionais com carteiras grandes de hipotecas.

Com isso, abre espaço para que possam levantar mais capital, sem o risco de passarem por insolventes. Foi criada também uma metodologia para estimar a necessidade de capital extra, que garanta o colchão de liquidez para os bancos.

As hipótese embutidas no teste de stress foram consolidadas em dois cenários, o mais otimista com taxa de desemprego média de 8,8% em 2010; o pessimista com taxa de 10,3%.

Agora, entra-se no segundo tempo do jogo, que é obrigar os bancos a aumentar suas reservas de capital.

Mesmo assim, não espanta o risco dos ativos tóxicos espalhados pelo mundo e que afetam especialmente os grandes bancos internacionalizados norte-americanos.

Por Luiz Lima

Boa notícia, essa. Bancos que não sabemos quais são, submetidos a critérios que desconhecemos, provam-se capazes de resistir a uma crise da qual ignoramos o tamanho… certo mesmo, só a corrida nas Bolsas para se ganhar algum antes do próximo mergulho…

Comentário

1 x 0 para o xará.

A redução de lucros da Microsoft

Blog do Luis Nassif - 25/04/09

Retomando

A pedidos, e porque a discussão está muito rica.

Por foo

Lucro da Microsoft cai pela primeira vez em 23 anos

Com a ascensão dos computadores de baixo custo, que custam $300 ou menos, na Europa, Ásia e EUA, o Windows e o Office passaram a sofrer forte pressão.

Devido à competição com o Linux, a Microsoft se viu forçada a derrubar o preço do Windows XP de $75 para $15. Fabricantes agora tem uma alternativa para colocar em computadores que oferecem margens de lucro cada vez menores.

Ao mesmo tempo, com o amadurecimento do OpenOffice, que passou a atender às necessidades de 80% dos usuários, o MS Office tornou-se uma alternativa cara, restrita a nichos do mercado.

(O MS Office era a única ferramenta de Office viável, para quase 100% dos usuários de computadores - PCs e Macs. Com um custo que pode chegar a $679 por licença, o Office tornou-se mais caro que muitos laptops normais, e o OpenOffice provê a maior parte das funcionalidades.)

Mas o pior ainda não passou: com o surgimento de netbooks baseados em processador ARM, e a expansão do Google Android para netbooks, a Microsoft poderá ter seu apelo ainda mais reduzido em 2009.

Por Barbalho

Nassif, no início do mês fui apresentar um trabalho em Copenhagen e em seguida fiz um pequeno tour pela Europa. Em todos os países pude perceber a queda dos preços do notebook. Em Frankfurt, em particular, um notebook daqueles pequeninhos estava custando o preço simbólico de 1,00 euro. Na verdade o cliente compra um serviço de uma empresa de banda larga e leva o computador para casa, num esquema como comodato.
Não duvido que isso chegue por aqui. É tentador demais.

O racismo de Veja

Site do Azenha - Atualizado em 25 de abril de 2009 às 19:37 | Publicado em 25 de abril de 2009 às 19:33

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Reprodução do blog do Nassif

Diz o Viomundo: O título é racista. Diz que Joaquim Barbosa teve um "dia de índio", ou seja, de "selvagem". "Selvagens" era também como os colonizadores europeus definiam os negros africanos para justificar a escravidão e a barbárie. Barbosa fez "coisa de índio", já que "de negro" seria explícito demais. A elite escravocrata brasileira entende muito bem esse tipo de recado. É discurso de ressonância no inconsciente coletivo. "Viu só, o que dá oferecer a eles uma chance?".

Gilmar "aparelha" o STF

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 25 de abril de 2009 às 18:58

Protocolo de nº 15143
Ao Senhor
JOSÉ ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE ARAÚJO
A Central do Cidadão confirma o recebimento da sua manifestação.

Suas Excelências os Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, Marco Aurélio, Cezar Peluso, Carlos Britto, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito, em nota divulgada no Portal do STF, lamentaram o episódio ocorrido na Sessão Plenária de 22 de abril de 2009 e reafirmaram a confiança e o respeito pela atuação institucional do Presidente do STF.

A Central do Cidadão agradece o seu contato, em nome de Sua Excelência o Senhor Ministro Gilmar Mendes, Presidente do Supremo Tribunal Federal.

Supremo Tribunal Federal
Central do Cidadão
Edificio Sede - sala 309 - Brasilia (DF) - 70175-900
---------------------------------------------------
Nome: JOSÉ ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE ARAÚJO
Recebido em: 2009-04-22 22:20:55.0
Parabens ao ministro Joaquim Barbosa pela corajosa intervenção de hoje!!! Lavou a alma de milhões de brasileiros!!! Muito obrigado!!!

Comentário do Viomundo: Gilmar Mendes "aparelhou" a Central do Cidadão, que agradece em nome "de sua Excelência", não em nome do STF. Está usando dinheiro público para se promover.

Folha e a ficha: Um erro "técnico"

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 25 de abril de 2009 às 09:17

Autenticidade de ficha de Dilma não é provada

Folha tratou como autêntico documento, recebido por e-mail, com lista de ações armadas atribuídas à ministra da Casa Civil

Reportagem reconstituiu participação de Dilma em atos do grupo terrorista VAR-Palmares, que lutou contra a ditadura militar

DA SUCURSAL DO RIO

A Folha cometeu dois erros na edição do dia 5 de abril, ao publicar a reprodução de uma ficha criminal relatando a participação da hoje ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no planejamento ou na execução de ações armadas contra a ditadura militar (1964-85).

O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem da ficha era o "arquivo [do] Dops". Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada -bem como não pode ser descartada.

A ficha datilografada em papel em tom amarelo foi publicada na íntegra na página A10 e em parte na Primeira Página, acompanhada de texto intitulado "Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Netto".

Internamente, foi editada junto com entrevista da ministra sobre sua militância na juventude. Sob a imagem, uma legenda ressaltou a incorreção dos crimes relacio nados: "Ficha de Dilma após ser presa com crimes atribuídos a ela, mas que ela não cometeu".

O foco da reportagem não era a ficha, mas o plano de sequestro em 1969 do então ministro Delfim Netto (Fazenda) pela organização guerrilheira à qual a ministra pertencia, a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Ela afirma que desconhecia o plano.

Em carta enviada ao ombudsman da Folha anteontem, Dilma escreve: "Apesar da minha negativa durante a entrevista telefônica de 30 de março (...) a matéria publicada tinha como título de capa "Grupo de Dilma planejou sequestro do Delfim". O título, que não levou em consideração a minha veemente negativa, tem características de "factóide", uma vez que o fato, que teria se dado há 40 anos, simplesmente não ocorreu. Tal procedimento não parece ser o padrão da Folha."

A reportagem da Folha se baseou em entrevista gravada de Antonio Roberto E spinosa, ex-dirigente da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) e da VAR-Palmares, que assumiu ter coordenado o plano do sequestro do ex-ministro e dito que a direção da organização tinha conhecimento dele.

Três dias depois da publicação da reportagem, Dilma telefonou à Folha pedindo detalhes da ficha. Dizia desconfiar de que os arquivos oficiais da ditadura poderiam estar sendo manipulados ou falsificados.

O jornal imediatamente destacou repórteres para esclarecer o caso. A reportagem voltou ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, que guarda os documentos do Dops. O acervo, porém, foi fechado para consulta porque a Casa Civil havia encomendado uma varredura nas pastas. A Folha só teve acesso de novo aos papéis cinco dias depois.

No dia 17, a ministra afirmou à rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, que a ficha é uma "manipulação recente".

Na carta que enviou ao ombudsman, Dilma escreveu: "Solicitei f or malmente os documentos sob a guarda do Arquivo Público de São Paulo que dizem respeito a minha pessoa e, em especial, cópia da referida ficha. Na pesquisa, não foi encontrada qualquer ficha com o rol de ações como a publicada na edição de 5.abr.2009. Cabe destacar que os assaltos e ações armadas que constam da ficha veiculada pela Folha de S. Paulo foram de responsabilidade de organizações revolucionárias nas quais não militei. Além disso, elas ocorreram em São Paulo em datas em que eu morava em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro. Ressalte-se que todas essas ações foram objeto de processos judiciais nos quais não fui indiciada e, portanto, não sofri qualquer condenação. Repito, sequer fui interrogada, sob tortura ou não, sobre aqueles fatos."

A ministra escreveu ainda: "O mais grave é que o jornal Folha de S.Paulo estampou na página A10, acompanhando o texto da reportagem, uma ficha policial falsa sobre mim. Es sa falsificação circula pelo menos desde 30 de novembro do ano passado na internet, postada no site www.ternuma.com.br ("terrorismo nunca mais"), atribuindo-me diversas ações que não cometi e pelas quais nunca respondi, nem nos constantes interrogatórios, nem nas sessões de tortura a que fui submetida quando fui presa pela ditadura. Registre-se também que nunca fui denunciada ou processada pelos atos mencionados na ficha falsa."

Fontes

Dilma integrou organizações de oposição aos governos militares, entre as quais a VAR-Palmares, um dos principais grupos da luta armada. A ministra não participou, no entanto, das ações descritas na ficha. "Nunca fiz uma ação armada", disse na entrevista à Folha de 5 de abril. Devido à militância, foi presa e torturada.

Na apuração da reportagem do dia 5, o jornal obteve centenas de documentos com fontes div ersa s: Superior Tribunal Militar, Arquivo Público do Estado de São Paulo, Arquivo Público Mineiro, ex-militantes da luta armada e ex-funcionários de órgãos de segurança que combateram a guerrilha.

Ao classificar a origem de cada documento, o jornal cometeu um erro técnico: incluiu a reprodução digital da ficha em papel amarelo em uma pasta de nome "Arquivo de SP", quando era originária de e-mail enviado à repórter por uma fonte.

No arquivo paulista está o acervo do antigo Dops, sigla que teve vários significados, dos quais o mais marcante foi Departamento de Ordem Política e Social. Na ditadura, era a polícia política estadual.

Entre as imagens reproduzidas pelo arquivo, a pedido da Folha, não estava a ficha. "Essa ficha não existe no acervo", diz o coordenador do arquivo, Carlos de Almeida Prado Bacellar. "Nem essa ficha nem nenhuma outra ficha de outra pessoa com esse modelo. Esse modelo de ficha a gente não conhece."P elo menos desde novembro a ficha está na internet, destacadamente em sites que se opõem à provável candidatura presidencial de Dilma.

O Grupo Inconfidência, de Minas Gerais, mantém no ar uma reprodução da ficha. A entidade reúne militares e civis que defendem o regime instaurado em 1964. Seu criador, o tenente-coronel reformado do Exército Carlos Claudio Miguez, afirma que a ficha "está circulando na internet há mais de ano". Sobre a autenticidade, comentou: "Não posso garantir. Não fomos nós que a botamos na internet".

Pesquisadores acadêmicos, opositores da ditadura e ex-agentes de segurança, se dividem. Há quem identifique indícios de fraude e quem aponte sinais de autenticidade da ficha. Apenas parte dos acervos dos velhos Dops está nos arquivos públicos. Muitos documentos foram desviados por funcionários e hoje constituem arquivos privados.

[Nota do Viomundo: Mandem para eles uma ficha do Serra. Qualquer ficha. Elas vão publicar primeiro e depois vão checar]

Leandro Fortes: A terra dos Mendes

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 25 de abril de 2009 às 03:55

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Nos rincões dos Mendes
20/11/2008 18:10:25

Leandro Fortes, de Diamantino (MT), na CartaCapital

Existe um lugar, nas entranhas do Centro-Oeste, onde a vetusta imagem do ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, nada tem a ver com aquela que lhe é tão cara, de paladino dos valores republicanos, guardião do Estado de Direito, diligente defensor da democracia contra a permanente ameaça de um suposto – e providencial – “Estado policial”. Em Diamantino, a 208 quilômetros de Cuiabá, em Mato Grosso, o ministro é a parte mais visível de uma oligarquia nascida à sombra da ditadura militar (1964-1985), mas derrotada, nas eleições passadas, depois de mais de duas décadas de dominação política.

O atual prefeito de Diamantino, o veterinário Francisco Ferreira Mendes Júnior, de 50 anos, é o irmão caçula de Gilmar Mendes. Por oito anos, ao longo de dois mandatos, Chico Mendes, como é conhecido desde menino, conseguiu manter-se na prefeitura, graças à influência política do irmão famoso. Nas campanhas de 2000 e 2004, Gilmar Mendes, primeiro como advogado-geral da União do governo Fernando Henrique Cardoso e, depois, como ministro do STF, atuou ostensivamente para eleger o irmão. Para tal, levou a Diamantino ministros para inaugurar obras e lançar programas, além de circular pelos bairros da cidade, cercado de seguranças, a pedir votos para o irmão-candidato e, eventualmente, bater boca com a oposição.

Em setembro do ano passado, o ministro Mendes foi novamente escalado pelo irmão Chico Mendes para garantir a continuidade da família na prefeitura de Diamantino. Depois de se ancorar no grupo político do governador Blairo Maggi, os Mendes também migraram do PPS para o PR, partido do vice-presidente José Alencar, e ingressaram na base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – a quem, como se sabe, Mendes costuma, inclusive, chamar às falas, quando necessário. Maggi e os Mendes, então, fizeram um pacto político regional, cujo movimento mais ousado foi a assinatura, em 10 de setembro de 2007, do protocolo de intenções para a instalação do Grupo Bertin em Diamantino, às vésperas do ano eleitoral de 2008.

Considerado um dos gigantes das áreas agroindustrial, de infra-estrutura e de energia, o Bertin acabou levado para Diamantino depois de instalado um poderoso lobby político capitaneado por Mendes, então vice-presidente do STF, com o apoio do governador Blairo Maggi, a quem coube a palavra final sobre a escolha do local para a construção do complexo formado por um abatedouro, uma usina de biodiesel e um curtume. O investimento previsto é de 230 milhões de reais e a perspectiva de criação de empregos chega a 3,6 mil vagas. Um golpe de mestre, calcularam os Mendes, para ajudar a eleger o vereador Juviano Lincoln, do PPS, candidato apoiado por Chico Mendes à sucessão municipal.

No evento de assinatura do protocolo de intenções, Gilmar Mendes era só sorrisos ao lado do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a quem levou a Diamantino para prestigiar a gestão de Chico Mendes, uma demonstração de poder recorrente desde a primeira campanha do irmão, em 2000. Durante a cerimônia, empolgado com a presença do ministro e de dois diretores do Bertin, Blairo Maggi conseguiu, em uma só declaração, carimbar o ministro Mendes como lobista e desrespeitar toda a classe política mato-grossense. Assim falou Maggi: “Gilmar Mendes vale por todos os deputados e senadores de Mato Grosso”. Presente no evento estava o prefeito eleito de Diamantino, Erival Capistrano (PDT), então deputado estadual. “O constrangimento foi geral”, lembra Capistrano.

Ainda na festa, animado com a atitude de Maggi, o deputado Wellington Fagundes (PR-MT) aproveitou para sacramentar a ação do presidente do STF. “O ministro Gilmar Mendes tem usado o seu prestígio para beneficiar Mato Grosso, apesar de não ser nem do Executivo nem do Legislativo”, esclareceu, definitivo. Ninguém, no entanto, explicou ao público e aos eleitores as circunstâncias da empresa que tão alegremente os Mendes haviam conseguido levar a Diamantino.

O Grupo Bertin, merecedor de tanta dedicação do presidente do STF, foi condenado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em novembro de 2007, logo, dois meses depois da assinatura do protocolo, por formação de cartel com outros quatro frigoríficos. Em 2005, as empresas Bertin, Mataboi, Franco Fabril e Minerva foram acusadas pela Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça de combinar os preços da comercialização de gado bovino no País. Foi obrigado a pagar uma multa equivalente a 5% do faturamento bruto, algo em torno de 10 milhões de reais. No momento em que Gilmar Mendes e Blairo Maggi decidiram turbinar a campanha eleitoral de Diamantino com o anúncio da construção do complexo agroindustrial, o processo do Bertin estava na fase final.

Ainda assim, quando a campanha eleitoral de Diamantino começou, em agosto passado, o empenho do ministro Mendes para levar o Bertin passou a figurar como ladainha na campanha do candidato da família, Juviano Lincoln. Em uma das peças de rádio, o empresário Eraí Maggi, primo do governador, ao compartilhar com Chico Mendes a satisfação pela vinda do abatedouro, manda ver: “Tenho falado pro Gilmar, seu irmão, sobre isso”. Em uma das fazendas de soja de Eraí Maggi, o Ministério do Trabalho libertou, neste ano, 41 pessoas mantidas em regime de escravidão.

Tanto esforço mostrou-se em vão eleitoralmente. Em outubro passado, fustigado por denúncias de corrupção e desvio de dinheiro, o prefeito Chico Mendes foi derrotado pelo notário Erival Capistrano, cuja única experiência política, até hoje, foi a de deputado estadual pelo PDT, por 120 dias, quando assumiu o cargo após ter sido eleito como suplente. “Foi a vitória do tostão contra o milhão”, repete, como um mantra, Capistrano, a fim de ilustrar a maneira heróica como derrotou, por escassos 418 votos de diferença, o poder dos Mendes em Diamantino. De fato, não foi pouca coisa.

Em Diamantino, a família Mendes se estabeleceu como dinastia política a partir do golpe de 1964, sobretudo nos anos 1970, época em que os militares definiram a região, estrategicamente, como porta de entrada para a Amazônia. O patriarca, Francisco Ferreira Mendes, passou a alternar mandatos na prefeitura com João Batista Almeida, sempre pela Arena, partido de sustentação da ditadura. Esse ciclo foi interrompido apenas em 1982, quando o advogado Darcy Capistrano, irmão de Erival, foi eleito, aos 24 anos, e manteve-se no cargo por dois mandatos, até 1988. A dobradinha Mendes-Batista Almeida só voltaria a funcionar em 1995, bem ao estilo dinástico da elite rural nacional, com a eleição, primeiro, de João Batista Almeida Filho. Depois, em 2000, de Francisco Ferreira Mendes Júnior, o Chico Mendes.

Gilmar nasceu em Diamantino em 30 de dezembro de 1955. O lugar já vivia tempos de franca decadência. Outrora favorecida pelo comércio de diamantes, ouro e borracha por mais de dois séculos, a cidade natal do atual presidente do STF se transformou, a partir de meados do século XX, num município de economia errática, pobre e sem atrativos turísticos, dependente de favores dos governos federal e estadual. Esse ambiente de desolação social, cultural e, sobretudo, política favoreceu o crescimento de uma casta coronelista menor, se comparada aos grandes chefes políticos do Nordeste ou à aristocracia paulista do café, mas ciosa dos mesmos métodos de dominação.

Antes do presidente do STF, a figura pública mais famosa do lugar, com direito a busto de bronze na praça central da cidade, para onde os diamantinenses costumam ir para fugir do calor sufocante do lugar, era o almirante João Batista das Neves. Ele foi assassinado durante a Revolta da Chibata, em 1910, por marinheiros revoltosos, motivados pelos maus-tratos que recebiam de oficiais da elite branca da Marinha, entre eles, o memorável cidadão diamantinense.

Na primeira campanha eleitoral de Chico Mendes, em 2000, o então advogado-geral da União, Gilmar Mendes, conseguiu levar ministros do governo Fernando Henrique Cardoso para Diamantino, a fim de dar fôlego à campanha do irmão. Um deles, Eliseu Padilha, ministro dos Transportes, voltou à cidade, em agosto de 2001, ao lado de Mendes, para iniciar as obras de um trecho da BR-364. Presente ao ato, prestigiado como sempre, estava o irmão Chico Mendes. No mesmo mês, um dos principais assessores de Padilha, Marco Antônio Tozzati, acusado de fazer parte de uma quadrilha de fraudadores que atuava dentro do Ministério dos Transportes, juntou-se a Gilmar Mendes para fundar a Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, a Uned.

O ministro Mendes, revelou CartaCapital na edição 516 (leia o post Gilmar: às favas a ética), é acionista de outra escola, o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que obteve contratos sem licitação com órgãos públicos e empréstimos camaradas de agências de fomento. Não é de hoje, portanto, que o ensino, os negócios e a influência política misturam-se oportunamente na vida do presidente do Supremo.

No caso da Uned, o irmão-prefeito bem que deu uma mãozinha ao negócio do irmão. Em 1º de abril de 2002, Chico Mendes sancionou uma lei que autorizava a prefeitura de Diamantino a reverter o dinheiro recolhido pela Uned em diversos tributos, entre os quais o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto Sobre Serviços (ISS) e sobre alvarás, em descontos nas mensalidades de funcionários e “estudantes carentes”. Dessa forma, o prefeito, responsável constitucionalmente por incrementar o ensino infantil e fundamental, mostrou-se estranhamente interessado em colocar gente no ensino superior da faculdade do irmão-ministro do STF.

Em novembro de 2003, o jornalista Márcio Mendes, do jornal O Divisor, de Diamantino, entrou com uma representação no Ministério Público Estadual de Mato Grosso, para obrigar o prefeito a demonstrar, publicamente, que funcionários e “estudantes carentes” foram beneficiados com a bolsa de estudos da Uned, baseada na renúncia fiscal – aliás, proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal – autorizada pela Câmara de Vereadores. Jamais obteve resposta. O processo nunca foi adiante, como, de praxe, a maioria das ações contra Chico Mendes. Atualmente, Gilmar Mendes está afastado da direção da Uned. É representado pela irmã, Maria Conceição Mendes França, integrante do conselho diretor e diretora-administrativa e financeira da instituição.

O futuro prefeito, Erival Capistrano, estranha que nenhum processo contra Chico Mendes tenha saído da estaca zero e atribui o fato à influência do presidente do STF. Segundo Capistrano, foram impetradas ao menos 30 ações contra o irmão do ministro, mas quase nada consegue chegar às instâncias iniciais sem ser, irremediavelmente, arquivado. Em 2002, a Procuradoria do TCE mato-grossense detectou 38 irregularidades nas contas da prefeitura de Diamantino, entre elas a criação de 613 cargos de confiança. A cidade tem 19 mil habitantes. O Ministério Público descobriu, ainda, que Chico Mendes havia contratado quatro parentes, inclusive a mulher, Jaqueline Aparecida, para o cargo de secretária de Promoção Social, Esporte e Lazer.

No mesmo ano de 2002, o vereador Juviano Lincoln (ele mesmo, o candidato da família) fez aprovar uma lei municipal, sancionada por Chico Mendes, para dar o nome de “Ministro Gilmar Ferreira Mendes” à avenida do aeródromo de Diamantino. Dois cidadãos diamantinenses, o advogado Lauro Pinto de Sá Barreto e o jornalista Lúcio Barboza dos Santos, levaram o caso ao Senado Federal. À época, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), não aceitou a denúncia. No Tribunal de Justiça de Mato Grosso, a acusação contra a avenida Ministro Gilmar Mendes também não deu resultados e foi arquivada, no ano passado.

A lentidão da polícia e da Justiça na região, inclusive em casos criminais, acaba tendo o efeito de abrir caminho a várias suspeitas e deixar qualquer um na posição de ser acusado – ou de ver o assunto explorado politicamente.

Em 14 de setembro de 2000, na reta final da campanha eleitoral, a estudante Andréa Paula Pedroso Wonsoski foi à delegacia da cidade para fazer um boletim de ocorrência. Ao delegado Aldo Silva da Costa, Andréa contou, assustada, ter sido repreendida pelo então candidato do PPS, Chico Mendes, sob a acusação de tê-lo traído ao supostamente denunciar uma troca de cestas básicas por votos, ao vivo, em uma emissora de rádio da cidade. A jovem, de apenas 19 anos, trabalhava como cabo eleitoral do candidato, ao lado de uma irmã, Ana Paula Wonsoski, de 24 – esta, sim, responsável pela denúncia.

Ao tentar explicar o mal-entendido a Chico Mendes, em um comício realizado um dia antes, 13 de setembro, conforme o registro policial, alegou ter sido abordada por gente do grupo do candidato e avisada: “Tome cuidado”. Em 17 de outubro do mesmo ano, 32 dias depois de ter feito o BO, Andréa Wonsoski resolveu participar de um protesto político.

Ela e mais um grupo de estudantes foram para a frente do Fórum de Diamantino manifestar contra o abuso de poder econômico nas eleições municipais. A passeata prevista acabou por não ocorrer e Andréa, então, avisou a uma amiga, Silvana de Pino, de 23 anos, que iria tentar pegar uma carona para voltar para casa, por volta das 19 horas. Naquela noite, a estudante desapareceu e nunca mais foi vista. Três anos depois, em outubro de 2003, uma ossada foi encontrada por três trabalhadores rurais, enterrada às margens de uma avenida, a 5 quilômetros do centro da cidade. Era Andréa Wonsoski.

A polícia mato-grossense jamais solucionou o caso, ainda arquivado na Vara Especial Criminal de Diamantino. Mesmo a análise de DNA da ossada, requerida diversas vezes pela mãe de Andréa, Nilza Wonsoski, demorou outros dois anos para ficar pronta, em 1º de agosto de 2005. De acordo com os três peritos que assinam o laudo, a estudante foi executada com um tiro na nuca. Na hora em que foi morta, estava nua (as roupas foram encontradas queimadas, separadas da ossada), provavelmente por ter sido estuprada antes.

Chamado a depor pelo delegado Aldo da Costa, o prefeito Chico Mendes declarou ter sido puxado pelo braço “por uma moça desconhecida”. Segundo ele, ela queria, de fato, se explicar sobre as acusações feitas no rádio, durante o horário eleitoral de outro candidato. Mendes alegou não ter levado o assunto a sério e ter dito a Andréa Wonsoski que deixaria o caso por conta da assessoria jurídica da campanha.

CartaCapital tentou entrar em contato com o ministro Gilmar Mendes, mas o assessor de imprensa, Renato Parente, informou que o presidente do STF estava em viagem oficial à Alemanha. Segundo Parente, apesar de todas as evidências, inclusive fotográficas, a participação de Mendes no processo de implantação do Bertin em Diamantino foi “zero”. Parente informou, ainda, que a participação do ministro nas campanhas do irmão, quando titular da AGU, foram absolutamente legais, haja vista ser Mendes, na ocasião, um “ministro político” do governo FHC. O assessor não comentou sobre os benefícios fiscais concedidos pelo irmão à universidade do ministro.

A reportagem da Carta também procurou o prefeito Chico Mendes. O chefe de gabinete, Nélson Barros, prometeu contatar o prefeito e, em seguida, viabilizar uma entrevista, o que não aconteceu.

Carvajal, Orellana, El Dorado e o País da Canela

Por Cel Hiram Reis e Silva, 27 de Abril de 2009

“Si bien escrita sin arte, es el reflejo fiel de sus propias impresiones y de lo que presenció y el único documento que hasta ahora se conoce de aquel memorable suceso”. (Toribio Medina)

- Gaspar de Carvajal

Gaspar de Carvajal nasceu no ano de 1504, na pequena cidade de Trujillo, na Extremadura espanhola. Em 1537 partiu para o Peru com dez outros frades da Ordem dos Pregadores, também conhecida como Ordem dos Dominicanos. Em 1538, como vigário provincial de Lima, fundou o primeiro convento dominicano da América. Em 26 de dezembro de 1541, Pizarro determinou que Orellana que descesse o rio Coca, em busca de provisões, Carvajal o acompanhou. Quase nove meses depois, em 11 de setembro de 1542, chega à ilha de Cubagua, onde tomou conhecimento da morte do bispo Valverde pelos índios da Puna e a de Francisco Pizarro pelos do Chile. Esses fatos o levaram a não retornar com Orellana à Espanha, seguindo para Lima. Em 1544 ocupou o cargo de vice-prior do convento de Lima e, em 1548, prior do convento de Cuzco, de onde foi enviado para Tucuman, com o título de protetor dos índios. Em 1557 foi eleito provincial de sua ordem no Peru e, em 1575, encaminhou ao rei um documento solicitando-lhe que zele pela proteção e defesa dos índios.

- Francisco Orellana

Francisco de Orellana nasceu, em 1511, também, em Trujillo. Parente de Francisco Pizarro participou das conquistas de Lima, Trujillo e Cuzco. Quando soube que as cidades de Cuzco e Lima estavam sitiadas pelos índios partiu, imediatamente, em socorro de Francisco Pizarro. Em 1538 fundou a cidade de Santiago de Guayaquil sendo nomeado capitão general e tenente de governador. Nela permaneceu dois anos, até ser chamado por Gonzalo Pizarro, irmão de Francisco, para acompanhá-lo na sua jornada ao ‘país da Canela’ e do ‘El Dorado’.

- A narrativa

A crônica do frade dominicano Carvajal é pesada, repetitiva e de difícil entendimento. São raras as informações a respeito da fauna, da flora e costumes indígenas. É específico, apenas, quando se refere às Amazonas. Extrapola, nos números, quando se refere a quantidade de nativos que habitavam as margens dos rios ou que enfrentaram pelo caminho, exagera no estado de beligerância, em que seus habitantes viviam e, na hostilidade aos viajantes. Ao mesmo tempo em nos fala da exuberância da floresta na qual não havia ‘fome e miséria’, pois a ‘natureza era a principal fonte de subsistência’ os espanhóis enfrentavam privações de toda ordem e chegaram a comer os próprios cintos e as solas dos sapatos. Só conseguiam se alimentar quando eram abastecidos por tribos amigáveis ou tomavam de assalto as aldeias. Não se pode considerar sua ‘Relação’ como um documento histórico, pois o frade estava mais preocupado em impressionar o rei de Espanha e transformar Orellana e seus companheiros de viagem em heróis de uma épica jornada do que ser fiel aos fatos.

- País da Canela e do El Dorado

Esta expedição, como tantas outras antes e depois dela, foi motivada pela lenda do ‘El Dorado’ e do ‘País da Canela’, regiões de riquezas incomensuráveis que os espanhóis julgavam existir na Amazônia.

“Em fevereiro de 1541 partiu de Quito uma grande expedição espanhola com a missão de apossar-se do País de Canela e de procurar o legendário rei Dourado, que o gentio localizava no oriente andino. O comando foi dado a Gonçalo Pizarro, irmão de Francisco Pizarro, conquistador do Peru. Compunham-na 220 espanhóis a cavalo, 4.000 índios, 2.000 lhamas, 4.000 porcos e 1.000 cães. Grande quantidade de material era transportado: abastecimento de boca, pólvora, munição, arcabuzes e bestas.

Conforme entendimentos anteriores, Pizarro esperava a chegada de um reforço à sua coluna, que tinha partido de Guayaquil sob o comando de seu parente e amigo Francisco de Orellana. Por uma razão que se desconhece, Pizarro partiu de Quito antes da chegada de seu convidado. Constatado o fato, Orellana não vacila. Com seus 30 homens, segue os passos de Gonçalo Pizarro, adentrando-se nas misteriosas terras de Hatun Quijos. Quer alcançar o chefe o quanto antes. Mas a incursão de Orellana se revestiu de verdadeiro calvário. Duríssimo foi o contato com a Cordilheira, suas nevascas e tormentas. Depois de percorrer 30 léguas e de haver perdido pelo caminho todos os cavalos, roupas, bestas e arcabuzes, a expedição acabou alcançando Pizarro na localidade de Muti. Foi um raro momento de alegria, que durou muito pouco. Na tarde do dia seguinte, o céu escureceu e a terra começou a tremer, abrindo enormes crateras. A noite foi infernal. O vulcão Chimborazo começou a vomitar fogo, logo seguido pelos seus outros irmãos daquela família vulcânica. Os expedicionários, que jamais haviam visto antes um terremoto ou um vulcão em erupção, enchem-se de pavor. Os índios dispersam-se, os cavalos relincham, os porcos se perdem e o material ficou esparramado no fundo das crateras. Na região de Papallacta, a 6.000m de altitude, uma tempestade de neve mata 100 índios em um só dia.

(...) Chuvas pesadas e contínuas apodrecem as roupas dos espanhóis. Florestas virgens se antepõem ao passo do homem, sendo necessário abrir o caminho a facão. Umidade permanente, fome, febres, mosquitos, vampiros, jaguares, serpentes e aranhas venenosas convertem aquele território em um autêntico inferno verde. Cada passo adiante que dá a expedição de Pizarro, é uma conquista; cada metro, uma vitória. Ainda hoje, quatro séculos decorridos, nenhuma outra expedição se atreveu a cumprir a mesma rota.

Gonzalo Pizarro encontra, afinal, o vale da Canela. Fica, contudo, decepcionado já que os raquíticos arbustos não passavam de uma espécie inferior, sem valor comercial. Quanto ao rei Dourado, nem sinal. A expedição progride lentamente. O número de soldados enfermos aumenta a cada dia”. (BRASIL)

- A separação

Pizarro, em busca de suprimentos, permanece explorando a bacia do rio Napo, enquanto seu fiel escudeiro Orellana desce pelo rio Coca com o mesmo objetivo. As buscas infrutíferas de Pizarro esgotaram seus suprimentos forçando-o, por fim, a retornar a Quito com 80, dos 220, espanhóis que o haviam seguido. A Amazônia cobrava um alto tributo àqueles que a desafiavam e cobiçavam.

“Aí acabaram os povoados, e como já íamos muito necessitados, com falta de comida, mostravam-se todos os companheiros muito descontentes e falavam em voltar, não seguindo mais para diante, porque se tinha notícia de que havia um grande trecho despovoado.

Vendo o capitão Orellana o que se passava e a grande penúria em que todos estavam, tendo por sua vez perdido já tudo o que possuía, pareceu-lhe que não seria honroso voltar depois de tantos prejuízos. Dirigiu-se, portanto, ao Governador, dizendo-lhe que aí deixaria o pouco que possuía e seguiria rio abaixo. Que se a sorte o favorecesse, de modo que achasse nas proximidades comida com que todos se pudessem remediar, disso daria pronto conhecimento, e que se tardasse, não se preocupasse o Governador, mas voltasse para trás, para onde houvesse comida e ali o esperasse três ou quatro dias ou o tempo que lhe parecesse melhor, e se ele não chegasse, que não fizessem caso. Concordou o Governador em que ele fizesse como lhe aprouvesse.

Tomou consigo o Capitão Orellana a 57 homens, com os quais se meteu na embarcação que construíra e em algumas canoas que haviam tomado aos índios, começando a descer o rio com a intenção de volver logo que encontrasse víveres. Mas tudo saiu ao contrário do que todos pensávamos, pois não descobrimos comida num decurso de 200 léguas, nem nós a encontramos, padecendo por isso grandes necessidades, como adiante se dirá. E assim íamos caminhando, suplicando a Nosso Senhor que houvesse por bem guiar-nos naquela jornada, de maneira que pudéssemos volver aos nossos companheiros.

Dois dias depois que partimos e nos apartamos dos nossos companheiros, quase nos perdemos no meio do rio, porque o barco bateu num pau e quebrou uma tábua, de modo que, se não estivéssemos perto de terra, ali acabaríamos a nossa jornada. Mas remediamos de pronto, tirando água e pondo-lhe um pedaço de tábua, e logo começamos nosso caminho muito pressurosos. E como o rio corria muito, andávamos a vinte e a vinte e cinco léguas, porque o rio ia caudaloso, pelos muitos outros rios que nele desaguavam pela mão direita, para os lados do sul. Viajamos três dias sem nenhum povoado.

Vendo que nos havíamos apartado do local onde tinham ficado os nossos companheiros, e que havia acabado o pouco que trazíamos como mantimento para nossa viagem tão incerta como a que fazíamos, confabularam o capitão e os companheiros sobre a dificuldade em que nos achávamos, e a volta, e a falta de comida, porque, como pensávamos regressar logo, não medimos o comer. Confiados que não poderíamos estar longe, resolvemos prosseguir, e como nem no outro dia nem no imediato se encontrasse comida ou sinal de povoado (...). Estávamos em grande perigo de morrer da grande fome que padecíamos e assim, buscando o conselho do que se devia fazer, comentando a nossa aflição e trabalhos, resolveu-se que escolhêssemos de dois males aquele que ao Capitão e a todos nós parecia o menor, e foi ir por diante, seguindo o rio: ou morrer ou ver o que nele havia, confiando em Nosso Senhor que se serviria por bem conservar as nossas vidas até ver o nosso remédio”. (CARVAJAL)

- Nativos amigáveis

O cronista descreve os povos indígenas como seres de hábitos e costumes bárbaros, frequentemente exagerando nos relatos. Em contrapartida mostra os heróicos espanhóis como instrumentos de ‘civilidade’ e pretensos ‘salvadores de almas’. Os relatos são carregados de um tenso dualismo, um conflito entre as forças do bem e do mal. O cronista reafirma a superioridade do castelhano e considera os nativos como presas fáceis do demônio, almas que teriam de ser resgatadas. O ‘entendimento’, por parte dos caciques, do discurso de Orellana, era motivado mais pela pólvora dos arcabuzes do que pela pretensa fluidez, do capitão, na língua nativa, tão propalada por Carvajal.

“Avistando-os o Capitão, posse na barranca do rio e na sua língua, pois um pouco os entendia, começou a falar com eles e a dizer que não tivessem temor e que se chegassem, que lhes queria falar. E assim chegaram dois índios até onde estava o Capitão, que os amimou e lhes tirou o medo e lhes deu o que tinha, dizendo-lhe que fossem chamar o chefe, que lhe queria falar, e que o mesmo nenhum receio tivesse de que lhe viesse a fazer algum mal. Tomaram os índios o que lhes foi dado e logo foram dar o recado ao seu senhor, que veio logo mui luzido aonde estavam o Capitão e os companheiros, que o receberam muito bem e o abraçaram, mostrando o próprio Cacique sentir grande contentamento pela boa recepção que se lhe fazia. Logo mandou o Capitão que lhe dessem de vestir e outras coisas, com as quais ele muito se alegrou, e depois ficou tão contente que disse ao Capitão que visse de que tinha necessidade, que ele lhe daria, ao que o mesmo lhe respondeu que apenas o mandasse prover de comida, que de nada mais precisava. E logo o Cacique mandou que os seus índios trouxessem comida, e com muita presteza trouxeram abundantemente o que foi necessário, de carnes, perdizes, perus e pescados de muitas qualidades. Muito agradeceu o Capitão ao Cacique e lhe disse que fosse com Deus e que chamasse a todos os senhores daquelas terras, que eram 13, porque queria falar a todos juntos e dizer o motivo da sua vinda. Embora dissesse que no dia seguinte viriam todos, e que ele os ia chamar, ficou o Capitão dando ordens sobre o que convinha a ele e aos seus companheiros, dispondo sobre as vigílias para que, tanto de dia como de noite, houvesse muita cautela para que os índios não nos atacassem nem houvesse descuido ou frouxidão por onde tomassem ânimo para nos acometer de noite ou de dia.

No dia seguinte, à hora de vésperas, veio o Cacique trazendo consigo três ou quatro senhores, que os outros não puderam vir por estar longe, e que no outro dia viriam. Recebeu-os o Capitão como ao primeiro e lhes falou longamente da parte de Sua Majestade, e em seu nome tomou posse da terra; e assim o repetiu com os outros que vieram depois a esta província, que, como disse, eram treze.

Vendo o Capitão que estavam em paz consigo os senhores e gente da terra, satisfeitos com o bom tratamento, tomou posse da mesma em nome de Sua Majestade. Isto feito mandou reunir os seus companheiros, para falar-lhes sobre o que convinha à sua jornada e salvamento e às suas vidas, fazendo-lhes um longo discurso, animando-os com grandes palavras. Terminado este arrazoamento, ficaram todos muito contentes por ver a boa disposição do Capitão e com quanta paciência sofria ele os trabalhos em que estava, e também lhe disseram muito boas palavras e com as que o Capitão lhes dizia andavam tão alegres que não sentiam o trabalho que faziam.

Depois que os companheiros se refizeram tanto da fome e trabalhos passados, vendo o Capitão que era necessário providenciar para o futuro, mandou chamar todos os seus companheiros e lhes tornou a dizer que bem viam que com o barco e canoas que levávamos, se Deus fosse servido guiar-nos até ao mar, neles não podíamos sair com segurança. Era, portanto, preciso procurar com diligência fazer outro bergantim, que fosse de maior porte, para que pudéssemos navegar...” (CARVAJAL)

- Nativos hostis

“Ao meio dia os nossos companheiros já não podiam remar e íamos todos alquebrados pela noite mal passada e pela guerra que os índios nos faziam. O Capitão, para que a gente tomasse um pouco de repouso e comesse, mandou que aportássemos em uma ilha despovoada, que estava no meio do rio. Apenas começamos a cozinhar a comida, vieram canoas em grande quantidade e três vezes nos atacaram, de tal maneira que nos puseram em grande apertura. Vendo os índios que pela água não nos podiam desbaratar, resolveram acometer por terra e por água, porque, como havia muitos índios, havia gente para tudo. Vendo o Capitão o que os índios ordenavam, resolveu não os esperar em terra, embarcando e fazendo-se ao largo no rio, porque pensava ali defender-se melhor. Começamos a navegar, sem que os índios nos deixassem de seguir e dar combate, porque destas aldeias se tinham reunido mais de 130 canoas, nas quais havia mais de 8.000 índios e por terra era incontável a gente que aparecia.

Entre esta gente e canoas de guerra andavam quatro ou cinco feiticeiros, todos pintados e com as bocas cheias de cinza que atiravam para o ar, tendo nas mãos uns hissopes, com os quais atiravam água no rio, à maneira de feitiços, e depois de contornar os nossos bergantins, chamavam a gente de guerra, e logo começavam a tocar seus tambores e cornetas e trombetas de pau, e com grande gritaria nos atacavam. Mas os arcabuzes e balhestas, depois de Deus, eram o nosso amparo. Levaram-nos deste modo até meter-nos em angustura de um braço de rio. Aqui nos puseram em grande aperto, e tamanho, que não sei se algum de nós escaparia, porque nos tinham preparado uma emboscada em terra e dali nos abarcavam. Determinaram-se os da água a exterminar-nos, e já estavam muito perto de nós. Vinha adiante o capitão-general, muito destacado como homem. Um dos nossos companheiros, chamado Fernão Gutierrez de Celis, fez pontaria nele e lhe deu um tiro de arcabuz no meio do peito e o matou. Logo a sua gente desmaiou e acudiram todos a ver o seu senhor, e nesse meio tempo conseguimos sair para o largo do rio. Mas ainda nos seguiram durante dois dias e duas noites, sem nos deixarem repousar, que tanto durou para sairmos das terras desse grande senhor Machiparo, e que, no parecer de todos, teria mais de oitenta léguas, todas povoadas, que não havia de povoado a povoado um tiro de besta, e as mais distantes, não se afastavam mais de meia légua, e houve aldeias que se estendiam por mais de cinco léguas sem separação de uma casa para outra, o que era coisa maravilhosa de ver. Como íamos de passagem e fugindo, não tivemos oportunidade de saber o que havia terra a dentro. Mas segundo a sua disposição e aspecto, deve ser a mais povoada que já se viu. Diziam-nos os índios da província de Apária que havia um grandíssimo senhor terra a dentro, para o sul, que se chamava lca, e que ele possuía grandes riquezas de ouro e prata, noticia que tivemos por certa e muito boa”. (CARVAJAL)

- Amazonas

“A lenda das amazonas guerreiras percorreu todas as regiões celestes. Ela pertence àqueles círculos uniformes e estreitos de sonhos e idéias em torno dos quais a imaginação poética e religiosa de todas as raças humanas e todas as épocas gravita quase que instintivamente”. (Alexander von Humboldt)

Carvajal afirma que mesmo cansados, doentes e debilitados em suas forças, em função de carência alimentar e da extenuante jornada pelo Rio-Mar os 59 homens derrotaram as amazonas. As temidas indígenas, hábeis no manejo do arco e da flecha, bem nutridas, formosas e adestradas para guerra, foram derrotadas por um punhado de espanhóis fracos e famintos.

“(...) Havia lá uma praça muito grande e no meio da praça um grande pranchão de dez pés em quadro, pintado e esculpido em relevo, figurando uma cidade murada, com a sua cerca e uma porta. Nessa porta havia duas altíssimas torres com as suas janelas, as torres com portas que se defrontavam, cada porta com duas colunas. Toda esta obra era sustentada sobre dois ferocíssimos leões que olhavam para trás, como acautelados um do outro, e a sustinham nos braços e nas garras. Havia no meio desta praça um buraco por onde deitavam, como oferenda ao sol, a chicha, que é o vinho que eles bebem, sendo o sol que eles adoram e têm como seu Deus.

Era esse edifício coisa digna de ser vista, admirando-se o Capitão e nós todos de tão admirável coisa. Perguntou o Capitão a um índio o que era aquilo e que significava naquela praça, e o índio respondeu que eles são súditos e tributários das Amazonas, e que não as forneciam senão de penas de papagaios e guacamaios para forrarem os tetos dos seus oratórios. Que as povoações que eles tinham eram daquela maneira, conservando-o ali como lembrança e o adoravam como emblema de sua senhora, que é quem governa toda a terra das ditas mulheres. Encontrou-se também nessa praça uma casa muito pequena, dentro da qual havia muitas vestimentas de plumas de diversas cores, que os índios usavam para celebrar as suas festas e bailar quando se queriam regozijar diante do já referido pranchão, e ali ofereciam seus sacrifícios com a sua danada intenção.

(...) Quero que saibam qual o motivo de se defenderem os índios de tal maneira. Hão de saber que eles são súditos e tributários das amazonas, e conhecida a nossa vinda, foram pedir-lhes socorro e vieram dez ou doze. A estas nós as vimos, que andavam combatendo diante de todos os índios como capitãs, e lutavam tão corajosamente que os índios não ousavam mostrar as espáduas, e ao que fugia diante de nós, o matavam a pauladas. Eis a razão por que os índios tanto se defendiam.

Estas mulheres são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios. E em verdade houve uma destas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins, e as outras um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porco espinho.

Voltando ao nosso propósito e combate, foi Nosso Senhor servido dar força e coragem aos nossos companheiros, que mataram sete ou oito destas amazonas, razão pela qual os índios afrouxaram e foram vencidos e desbaratados com farto dano de suas pessoas.

(...) Perguntou o Capitão como se chamava o senhor dessa terra, e o índio respondeu que se chamava Couynco, e que era grande senhor, estendendo-se o seu senhorio até onde estávamos. Perguntou-lhe o Capitão que mulheres eram aquelas que tinham vindo ajudá-los e fazer-nos guerra. Disse o índio que eram umas mulheres que residiam no interior, a umas sete jornadas da costa, e por ser este senhor Couynco seu súdito, tinham vindo guardar a costa. (...) Disse o índio que as aldeias eram de pedra e com portas, e que de uma aldeia a outra iam caminhos cercados de um e outro lado e de distância em distância com guardas, para que não possa entrar ninguém sem pagar direitos. (...) Ele disse que estas índias coabitam com índios de tempos em tempos, e quando lhes vem aquele desejo, juntam grande porção de gente de guerra e vão fazer guerra a um grande senhor que reside e tem a sua terra junto à destas mulheres, e à força os trazem às suas terras e os têm consigo o tempo que lhes agrada, e depois que se acham prenhas os tornam a mandar para a sua terra sem lhes fazer outro mal; e depois quando vem o tempo de parir, se têm filho o matam ou o mandam ao pai; se é filha, a criam com grande solenidade e a educam nas coisas de guerra. Disse mais que entre todas estas mulheres há uma senhora que domina e tem todas as demais debaixo da sua mão e jurisdição, a qual senhora se chama Conhorí. Disse que há lá imensa riqueza de ouro e prata, e todas as senhoras principais e de maneira possuem um serviço todo de ouro ou prata, e que as mulheres plebéias se servem em vasilhas de pau, exceto as que vão ao fogo, que são de barro.

Disse que na capital e principal cidade, onde reside a senhora, há cinco casas muito grandes, que são oratórios e casas dedicadas ao sol, as quais são por elas chamadas caranaí, e que estas casas são assoalhadas no solo e até meia altura e que os tetos são forrados de pinturas de diversas cores, que nestas casas tem elas ídolos de ouro e prata em figura de mulheres, e muitos objetos de ouro e prata para o serviço do sol. Andam vestidas de finíssima roupa de lã, porque há nessa terra muitas ovelhas das do Perú. Seu trajar é formado por umas mantas apertadas dos peitos para baixo, o busto descoberto, e um como manto, atado adiante por uns cordões. Trazem os cabelos soltos até ao chão e postas na cabeça coroas de ouro, da largura de dois dedos”. (CARVAJAL)

- Privações

À falta de outros mantimentos, entretanto, chegamos a tal extremo que só comíamos couros, cintas e solas de sapatos cozidos com algumas ervas, de maneira que era tal a nossa fraqueza, que não nos podíamos ter em pé. (Gaspar de Carvajal)

“Demorou-se nesta obra quatorze dias, de contínua e ordinária penitência, pela muita fome e pouca comida que havia, pois só se comia o que se mariscava à beira d’água, que eram uns caracóis e uns caranguejos vermelhinhos, do tamanho de rãs. (...) Daí saímos no dia oito do mês de agosto, bem ou mal providos, segundo as nossas possibilidades, pois nos faltavam muitas coisas de que carecíamos. Mas como estávamos em lugar onde não as podíamos obter, passávamos os nossos trabalhos como melhor podíamos. Fomos à vela, guardando a maré, bordejando de um e outro lado, sendo muito largo o rio, embora fôssemos entre ilhas, pois não estávamos em pequeno perigo quando esperávamos a maré. Como não tínhamos âncoras, estávamos amarrados a umas pedras. Mantínhamo-nos tão mal que nos sucedia muitas vezes garrar e voltar rio acima em uma hora mais do que tínhamos andado no dia todo. Quis nosso Deus, não olhando para os nossos pecados, tirar-nos destes perigos e fazer-nos tantas mercês que não permitiu que morrêssemos de fome nem padecêssemos naufrágio, do qual estivemos muito perto muitas vezes, já todos n’água e pedindo a Deus misericórdia”. (CARVAJAL)

- Foz do Amazonas (26 de agosto de 1542)

“Saímos da boca deste rio por entre duas ilhas, separadas uma da outra por quatro léguas de largura do rio, e o conjunto, como vimos acima, terá de ponta a ponta mais de cinquenta léguas, entrando a água doce pelo mar mais de vinte e cinco léguas. Cresce e mingua seis ou sete braças”. (CARVAJAL)

- Nova Cadiz

“(...) aportamos na ilha de Cubágua e cidade de Nova Cadiz, onde encontramos nossa companhia e o pequeno bergantim, que chegara dois dias antes, porque eles chegaram a nove de setembro e nós a onze, no bergantim grande, onde vinha o Capitão. Tanta foi a alegria que uns e outros recebemos, como não posso descrever, pois eles nos tinham por perdidos e nós a eles.

(...) Desta ilha resolveu o Capitão ir dar contas a Sua Majestade deste novo e grande descobrimento, o qual temos que é o Marañon, porque a desde a foz até à ilha de Cubagua 450 léguas, porque assim o vimos depois que chegamos”. (CARVAJAL)

Fontes:

CARVAJAL, Frei Gaspar de - Relatório do novo descobrimento do famoso rio grande descoberto pelo capitão Francisco de Orellana (1542) - Brasil - São Paulo, 1941 - Companhia Editora Nacional.

BRASIL, Altino Berthier - Desbravadores do Rio Amazonas – Brasil, RS – Porto Alegre, 1996 - Editora Posenato Arte & Cultura

'Rebelem-se contra a ditadura da velocidade', exorta o pai da Slow Food

Instituto Humanitas Unisinos - 25/04/09

Ele cita Sêneca: "A vida não é breve, mas longa. Somos nós que a desperdiçamos". O fundador da Slow Food, Carlo Petrini, combate há 20 anos a ditadura da velocidade, "culpada não apenas pelos males difusos, pelo estresse, pela insatisfação, pela alienação, mas também pela atual crise mundial".

A reportagem é de Alessandra Retico, publicada no jornal La Repubblica, 24-04-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Em que sentido?

As finanças criativas são a "extremização" de um sistema inteiro de valores baseado na velocidade. Criaram uma economia virtual em que o que vale é consumir, e depressa, para recomeçar rapidamente. A essência da nossa sociedade se fundamenta na rapidez, nas necessidades induzidas, nos desperdícios. Um frenesi que nos reduziu a este ponto de recessão, esvaziados de significados e de bens.

A lentidão é um conceito bonito, mas às vezes é vago, anacrônico.

Eu gosto de chamá-la de medicina homeopática. Estaria sendo louco se eu pensasse que ela funciona para todos e sempre, que é um fim em si mesma. Ela é útil se nos confrontar. A lentidão é um governo da própria liberdade. Às vezes, decisões rápidas são úteis, às vezes é preciso refletir. Este é o momento histórico perfeito para recuperar a calma: para não cometer outros erros, para escolher o que mais nos agrada.

Nem sempre é possível, lhe objetariam.

Deixar um e-mail pela metade, estar com quem amamos, comer localmente, inventar o próprio ritmo, decidir que o tempo, e até o tempo livre, existe. Uma alternativa à tirania do mundo globalizado é mais do que possível: basta seguir a terra, a fisiologia da natureza. Faz bem à saúde, constrói uma economia finalmente participativa.

Pesquisa relaciona a exposição a agrotóxicos com o aumento do risco de desenvolvimento da doença de Parkinson

Instituto Humanitas Unisinos - 25/04/09

Pesquisadores já demonstraram, em estudos animais e em culturas de células, que os agrotóxicos podem estimular o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, tais como a doença de Parkinson. Agora, pesquisadores da University of California - Los Angeles (UCLA) demonstraram que o mesmo processo também ocorre em seres humanos.

A reportagem é de Henrique Cortez e publicada pela página eletrônica EcoDebate, 24-04-2009.

A pesquisa foi realizada na região de Central Valley, a mais importante região agrícola da Califórnia, caracterizada pela fertilidade do solo e pela intensa utilização de agrotóxicos, com destaque para o fungicida “maneb” e o herbicida “paraquat”.

No estudo epidemiológico, os pesquisadores avaliaram os moradores da região de Central Valley com diagnóstico de doença de Parkinson. Os resultados indicaram que a exposição continuada, ao longo de anos, ao fungicida “maneb” e ao herbicida “paraquat” aumenta o risco de desenvolver a doença de Parkinson em 75%.

A pesquisa [Parkinson's Disease and Residential Exposure to Maneb and Paraquat From Agricultural Applications in the Central Valley of California] foi publicada na edição de 15/4/2008 da American Journal of Epidemiology, concluiu que os moradores de Central Valley que residiam até 500 metros das áreas em que os agrotóxicos foram aplicados, entre 1974 e 1999, tem 75% a mais de chances de desenvolver a doença de Parkinson. O estudo conclui que a exposição ocorre anos antes dos sintomas aparecerem.

A pesquisa indica, ainda, que as pessoas com 60 anos ou menos diagnosticadas com a doença de Parkinson, expostas ao maneb, ao paraquat ou ambos, foram contaminados entre 1974 e 1989, quando eram crianças, adolescentes ou jovens adultos.

Ainda não se conhecem as causas da doença de Parkinson, mas ela é, nos EUA, excepcionalmente frequente entre fazendeiros e moradores das zonas rurais, o que pode indicar uma responsabilidade parcial dos agrotóxicos.

Os resultados da pesquisa também confirmam estudos anteriores, em animais, nos quais a exposição a múltiplos contaminantes químicos aumenta os efeitos de cada um deles.

Com base nas conclusões fica evidente que a sinergia entre o maneb e o paraquat tornou-se ainda mais neurotóxica, aumentando drásticamente o risco de desenvolvimento da doença de Parkinson em seres humanos.

O desperdício que alimenta a fome

Instituto Humanitas Unisinos - 25/04/09

Fome. Ela existe dentro de um paradoxo de extrema falta e abundante desperdício. Mas é possível entornar o caldo e cozinhar folhas e talos sem medo do saboroso e nutritivo resultado.

A reportagem é de Leticia Freire, do Mercado Ético e publicada pela Agência Envolverde, 24-04-2009.

A perda de alimentos, na maioria das vezes, ocorre por despreparo das pessoas do ramo da agroindústria e dos consumidores. Na hora da colheita, a uva é arremessada lá do alto da parreira para o chão, sem amortecedor. No transporte, as bananas vêm amassadas pelas caixas de madeira empilhadas umas sobre as outras. Nos centros atacadistas, os abacaxis que vieram amontoados nos caminhões continuam amassados no balcões de venda.

Nos mercados, os consumidores amassam a cebola com as mãos, enfiam a unha no chuchu e quebram a ponta da vagem para checar se o produto tem qualidade. Se o alimento não agradar o exigente comprador, o destino da cebola, do chuchu ou da vagem é o lixo. Ninguém vai querer uma comida amassada ou quebrada, mesmo que ela ainda esteja boa para consumo.

Estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Centro de Agroindústria de Alimentos mostra que 10% do desperdício no Brasil ocorrem durante a colheita; 50% no manuseio e transporte dos alimentos; 30% nas centrais de abastecimento; e os últimos 10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores. ‘‘Todo mundo é responsável pela co-criação dessa realidade de fome versus desperdício”, avalia a nutricionista da ONG Banco de Alimentos, Aline Rissatto Teixeira.

Poder de venda X poder de consumo

É preciso aceitar que a fome e o desperdício de alimentos são dois dos mais relevantes problemas que o Brasil. A partir disso, é possível mudar a realidade.

Por exemplo, o caso dos produtos que não passam no controle de qualidade. Quando eles perdem o poder de venda, vão direto para o lixo, mesmo que ainda possam ser consumidos. “Se os produtos estão embalados, dentro do prazo de validade e não foram violados, eles podem ser consumidos. Esses produtos perdem seu poder de venda, mas não de consumo” explica Aline.

O alimento que teria o lixo como destino constitui-se na matéria prima do trabalho da ONG Banco de Alimentos. É como se fosse colhido pela segunda vez. “Daí o conceito de colheita urbana”, ilustra a nutricionista. Desde 1999 a ONG já arrecadou mais de 3 mil toneladas de alimentos. Ajudando mais de 50 entidades, a ONG conta com o apoio de mais de 50 empresas doadoras de alimentos, além de parceiros e apoiadores da idéia.

Ensinando a pescar

Operacionalmente, o Banco de Alimentos busca onde sobra e entrega onde falta. Os alimentos fornecidos pelas empresas doadoras são distribuídos entre instituições beneficentes cadastradas, possibilitando a complementação alimentar de todas as pessoas assistidas pelas instituições.

Mas se a idéia é combater a fome, é preciso, também, combater o desperdício. A ONG oferece cursos para aproveitar melhor os alimentos. As capacitações técnica gratuitas são voltadas aos funcionários das instituições cadastradas. Para a comunidade em geral a entidade também oferece palestras e oficinas culinárias. “É preciso aprender a diversificar o uso dos alimentos, entender o consumo das partes não convencionais como cascas, folhas e talos. Tudo isso compõe uma parte importante para combater o desperdício e consecutivamente a fome”, reforça Aline.

Em caso de crise, aposte na educação nutricional

O papel da educação nutricional, de auxiliar indivíduos a estabelecer práticas e hábitos alimentares adequados às suas necessidades nutricionais de acordo com os recursos alimentares locais, hábitos alimentares, condição sócia econômico, cultural, antropológica, psicológica e outras, torna-se um elemento fundamental da sustentabilidade.

Em época de crise e aumento no preço dos alimentos conhecer melhor o que se compra e o como se come, ajuda a reduzir custos pessoais, além de ser uma prática boa para o planeta. “Cada vez mais pessoas querem aprender como aproveitar bem e integralmente os alimentos. Isso é bom para todo mundo afinal, não precisamos ser impotentes diante da realidade da fome e do desperdício. Podemos fazer alguma coisa, sempre.”, diz Aline.

Para saber mais:

O Banco de Alimentos, trabalha, efetivamente, desde janeiro de 1999. Seu objetivo é minimizar os efeitos da fome, através do combate ao desperdício de alimentos e promover educação e cidadania.

Número de pobres na América Latina e no Caribe deve aumentar de 37,6 milhões para 40,3 milhões

Instituto Humanitas Unisinos - 25/04/09

A crise mundial poderá jogar ou manter na miséria 55 milhões de pessoas - 90 milhões, na pior hipótese -, forçadas a viver com até US$ 1,25 por dia, segundo o Banco Mundial (Bird). A quantidade de pessoas muito pobres deverá aumentar de 37,6 milhões para 40,3 milhões na América Latina e no Caribe, subindo de 6,6%, em 2008, para 7% da população neste ano.

A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 25-04-2009.

Embora o número de pobres deva aumentar na América Latina e no Caribe, a situação geral da região, com 7% de pobres, continuará bem melhor que a de outras áreas emergentes ou em desenvolvimento. A proporção mundial deve ficar em 20,7% este ano - 10,4% no leste da Ásia e no Pacífico, 33,9% no sul da Ásia, 46% na África Subsaariana, 3,3% na Europa e na Ásia Central e 2,5% no Oriente Médio e no norte da África.

ESCASSEZ DE CRÉDITO

Os países emergentes e em desenvolvimento estão sendo afetados pela escassez do crédito internacional, pela diminuição do volume e dos preços das exportações, pela redução do dinheiro remetido por trabalhadores no exterior e pela contração dos investimentos externos.

Em 2008, os migrantes enviaram US$ 306 bilhões para os países emergentes e em desenvolvimento e para os chamados "Estados frágeis". O valor deve cair para US$ 291,4 bilhões em 2009 e US$ 298,7 bilhões em 2010, segundo o relatório. O ingresso líquido de capitais privados para esses países atingiu o pico de US$ 898 bilhões em 2007, diminuiu para US$ 586 bilhões em 2008 e está projetado em US$ 180 bilhões em 2009 - uma queda, portanto, de US$ 718 bilhões em dois anos.

As Metas de Desenvolvimento do Milênio, negociadas na Organização das Nações Unidas (ONU) incluem a redução dos indicadores de pobreza, até 2015, à metade dos observados em 1990. No caso da população abaixo da linha de pobreza extrema (US$ 1,25 por dia), o objetivo é reduzir a proporção de 41,7% para 20,9%.

Pelas últimas projeções, será possível ultrapassar esse resultado e chegar a cerca de 15%, mas a crise retarda esse progresso e, além disso, a evolução dos vários indicadores de condições de vida é desigual.

Com a crise, a mortalidade infantil tende a crescer. Segundo o relatório, do Banco Mundial entre 2009 e 2015 poderá haver em média, por ano, pelo menos 200 mil mortes de crianças a mais do que haveria sem a interrupção abrupta do crescimento econômico. Na pior hipótese, o número poderá chegar a 400 mil.

A ajuda oficial aos países pobres, proporcionada pelos mais desenvolvidos, cresceu 10% de 2007 para 2008, mas ainda ficou US$ 29 bilhões abaixo da meta de US$ 130 bilhões anuais fixada para 2010 pelo Grupo dos 8 (as sete economias mais ricas do mundo e a Rússia).

Para analistas, demissões não se espalharam

Instituto Humanitas Unisinos - 25/04/09

Apesar de ter apontado a terceira alta consecutiva na taxa de desemprego do país, a Pesquisa Mensal de Emprego divulgada pelo IBGE trouxe também dados que foram bem recebidos por analistas. Eles consideraram positiva a confirmação de que o fechamento de postos de trabalho ainda está restrito à indústria, que viu o número de pessoas ocupadas cair 1,2% em relação a março de 2008.

A notícia é do jornal Folha de S. Paulo, 25-04-2009.

O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, destacou que, pelo segundo mês consecutivo, o estoque de ocupados no setor de serviços ampliado cresceu 1,6% em relação ao mesmo período de 2008. Esse grupo, que inclui serviços prestados a empresas, serviços domésticos, educação, saúde, administração pública e outros serviços, responde por 57% do estoque de empregos do país.

A expansão de 1,6%, apesar de bem abaixo do verificado ao longo do ano passado (em maio, a diferença chegou a ser de 4,2%), é considerada um bom sinal pelo economista. "A evolução, embora mais modesta, diminui o impacto do fechamento de postos na indústria."

Para Ariadne Vitoriano, da Tendências, esse comportamento dos demais setores da economia está relacionado ao nível ainda elevado de renda da população -apesar da crise, o rendimento médio real do trabalhador foi 5% maior em março de 2009 do que em março de 2008. A massa salarial total, de R$ 27,4 bilhões, também teve desempenho positivo, com crescimento de 5,4% em relação ao ano anterior.

"A maioria das categorias conseguiu reajuste forte no ano passado, quando a economia estava aquecida. Além disso, a desaceleração da inflação vem contribuindo", explicou.

Ela disse acreditar, porém, que esse desempenho não se manterá neste ano, que deve ter reajustes menores e migração de mão de obra para o mercado informal devido à crise. Por isso, aposta na deterioração do mercado de trabalho, com uma taxa média anual de desemprego de 9,3%, contra 7,9% no ano passado.

Romão aposta em um resultado um pouco melhor, de 8,9%, baseado na avaliação de que a indústria deve, já a partir do próximo mês, estancar o processo de demissões.

"A indústria teve um ajuste de produção muito rápido e intenso entre novembro e janeiro. Agora, esse ímpeto demissionário vai ser menor", disse o economista.

"O sionismo mundial personifica o racismo"

resisitir info - 24/04/09

por Mahmoud Ahmadinejad

Discurso do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, na Conferência de Revisão de Durban sobre o racismo, em Genebra, a 20/Abril/2009.

Clique a imagem para aceder ao s�tio da confer�ncia. Sr. Presidente, respeitável secretário-geral das Nações Unidas, respeitável Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Senhoras e Senhores:

Reunimo-nos na sequência da Conferência de Durban contra o Racismo e a Discriminação Racial a fim de elaborar mecanismos práticos para as nossas campanhas sagradas e humanitárias.

Ao longo dos últimos séculos, a humanidade atravessou grandes dificuldades e sofrimentos. Na Era Medieval, pensadores e cientistas foram sentenciados à morte. Seguiu-se então por um período escravocrata e de tráfico negreiro. Pessoas inocentes foram aprisionadas aos milhões, separadas das suas famílias e seres amados para serem levadas para a Europa e a América sob as piores condições. Um período negro que também conheceu ocupações, saques e massacres de pessoas inocentes.

Muitos anos se passaram antes de nações se levantarem e combaterem pela sua liberdade e elas pagaram um alto preço por isso. Perderam milhões de vidas para expulsar os ocupantes e estabelecer governos independentes e nacionais. Contudo, não levou muito tempo até que ocupantes do poder impusessem duas guerras na Europa, as quais também assolaram uma parte da Ásia e da África. Aquelas guerras horrendas ceifaram cerca de uma centena de milhões de vidas e deixaram atrás de si a devastação maciça. Se as lições das ocupações, horrores e crimes daquelas guerras houvessem sido aprendidas, haveria um raio de esperança para o futuro.

As potências vitoriosas consideram-se conquistadoras do mundo enquanto ignoram ou pisam sobre direitos de outras nações através da imposição de leis opressoras e de arranjos internacionais.

Senhoras e senhores, vamos olhar para o Conselho de Segurança da ONU o qual é um dos legados da I Guerra Mundial e da II Guerra Mundial. Qual era a lógica por trás da garantia que se concederam ao direito de veto? Como pode tal lógica concordar com valores humanitários ou espirituais? Não seria isto inconformidade com os princípios reconhecidos de justiça, igualdade perante a lei, amor e dignidade humana? Não seria isto discriminação, injustiça, violações de direitos humanos ou humilhação da maioria das nações e países?

O conselho é o mais alto corpo decisor mundial para a salvaguarda da paz e da segurança internacional. Como podemos nós esperar a realização de justiça e paz quando a discriminação é legalizada e a origem da lei é dominada pela coerção e pela força ao invés de o ser pela justiça e pelo direito?

A coerção e a arrogância são a origem da opressão e das guerras. Embora hoje muitos proponentes do racismo condenem a discriminação racial em palavras e slogans, um certo número de países poderosos foi autorizado a decidir por outras nações com base nos seus próprios interesses e ao seu próprio arbítrio e eles podem facilmente violar todas as leis e valores humanitários como têm feito.

A seguir à II Guerra Mundial, recorreram à agressão militar para tornar sem lar toda uma nação sob o pretexto do sofrimento judeu e enviaram migrantes da Europa, dos Estados Unidos e de outras partes do mundo a fim de estabelecer um governo totalmente racista na Palestina ocupada. E, de facto, em compensação pelas terríveis consequências do racismo na Europa, ajudaram a levar ao poder o mais cruel e repressivo regime racista na Palestina.

O Conselho de Segurança ajudou a estabilizar o regime de ocupação e apoiou-o nos últimos 60 anos dando-lhes liberdade de acção para cometer toda a espécie de atrocidades. É de todo ainda mais lamentável que um certo número de governos ocidentais e os Estados Unidos tenham-se comprometido a defender aqueles racistas perpetradores de genocídio enquanto os povos com consciência e mente livre do mundo condenam a agressão, as brutalidades e o bombardeamento de civis em Gaza. Os apoiantes de Israel têm sido sempre coniventes ou silenciosos em relação aos crimes.

Caros amigos, distintos delegados, senhoras e senhores. Quais são as causas raízes dos ataques dos EUA contra o Iraque ou da invasão do Afeganistão?

Era o motivo por trás da invasão do Iraque qualquer outra coisa senão a arrogância da então administração dos EUA e as pressões crescentes da parte dos possuidores de riqueza e poder para expandir a sua esfera de influência atendendo aos interesses de gigantescas companhias fabricantes de armas, afectando uma cultura nobre com milhares de anos de história, eliminando as ameaças potenciais e práticas de países muçulmanos contra o regime sionista ou para controlar e pilhar os recursos energéticos do povo iraquiano?

Por que, na verdade, quase um milhão de pessoas foi morta e ferida e uns poucos mais milhões foram deslocados? Por que, na verdade, o povo iraquiano sofreu enormes perdas que montam a centenas de milhares de milhões de dólares? E por que milhares de milhões de dólares foram impostos ao povo americano em resultado destas acções militares? Não foi a acção militar contra o Iraque planeada pelos sionistas e seus aliados na então administração dos EUA em cumplicidade com os países fabricantes de armas e os possuidores de riqueza? Será que a invasão do Afeganistão restaurou a paz, a segurança e o bem-estar económico no país?

Os Estados Unidos e os seus aliados não só fracassaram em conter a produção de drogas no Afeganistão como também o cultivo de narcóticos multiplicou-se durante a sua presença. A questão básica é qual foi a responsabilidade e a função da então administração dos EUA e dos seus aliados?

Representavam eles os países do mundo? Foram mandatados por eles? Foram autorizados pelos povos do mundo a interferir em todas as partes do globo, naturalmente sobretudo na nossa região? Não serão estas medidas um exemplo claro de egocentrismo, racismo, discriminação ou violação da dignidade e da independência de nações?

Senhoras e senhores, quem é responsável pela actual crise económica global? Onde é que a crise começou? Na África, Ásia ou nos Estados Unidos em primeiro lugar propagando-se então através da Europa e entre os seus aliados?

Durante um longo tempo, eles impuseram regulamentações económicas injustas através do seu poder político sobre a economia internacional. Eles impuseram um sistema financeiro e monetário sem um adequado mecanismo de supervisão internacional sobre nações e governos que não desempenhavam qualquer papel nestas tendências ou políticas repressivas. Eles nem mesmo permitiram ao seu povo supervisionar ou monitorar suas políticas financeiras. Eles aprovaram todas as leis e regulamentos em desobediência a todos os valores morais só para proteger os interesses dos possuidores de riqueza e poder.

Além disso apresentaram uma definição de economia de mercado e de competição que negou muitas das oportunidades económicas que poderiam ser disponibilizadas a outros países do mundo. Eles até transferiram os seus problemas para outros enquanto as ondas de crise os açoitava praguejando as suas economias com milhões de milhões de dólares de défice orçamental. E hoje, estão a injectar centenas de milhares de milhões de dólares de dinheiro dos bolsos do seu próprio povo e de outras nações em bancos, companhias e instituições financeiras fracassadas tornando a situação cada vez mais complicada para a sua economia e o seu povo. Estão simplesmente a pensar acerca da manutenção do poder e da riqueza. Não poderiam desprezar menos os povos do mundo e até o seu próprio povo.

Sr. Presidente, senhoras e senhores. O racismo está baseado na falta de conhecimento quanto às raízes da existência humana como as criaturas seleccionadas de Deus. É também o resultado do desvio do verdadeiro caminho da vida humana e das obrigações da humanidade no mundo da criação, deixando de conscientemente orar a Deus, não sendo capazes de pensar acerca da filosofia da vida ou o caminho para a perfeição que são os principais ingredientes dos valores divinos e humanitários os quais restringiram o horizonte da perspectiva humana tornando interesses transitórios e limites a medida para a sua acção. Eis porque o mal do poder moldou-se e expandiu-se no âmago do poder enquanto privava outros de desfrutarem oportunidades de desenvolvimento correctas e justas.

O resultado foi a feitura de um racismo desenfreado que está a colocar as mais sérias ameaças à paz internacional e obstaculiza o caminho para construir a coexistência pacífica por todo o mundo. Indubitavelmente, o racismo é o símbolo da ignorância que tem profundas raízes históricas e é, na verdade, o sinal da frustração no desenvolvimento da sociedade humana.

É, portanto, crucialmente importante detectar as manifestações de racismo em situações ou em sociedades onde a ignorância ou a falta de conhecimento prevalece. Esta crescente consciência geral e entendimento da filosofia da existência humana é a luta de princípio contra tais manifestações e revela a verdade de que a humanidade centra-se na criação do universo e que a chave para resolver o problema do racismo é um retorno a valores espirituais e morais e finalmente a inclinação para orar a Deus Poderoso.

A comunidade internacional deve iniciar movimentos colectivos para elevar a consciência em sociedades afligidas em que a ignorância do racismo ainda prevalece de modo a dar um basta à propagação destas manifestações malignas.

Caros amigos, hoje, a comunidade humana está a enfrentar uma espécie de racismo que empana a imagem da humanidade no princípio do terceiro milénio.

O sionismo mundial personifica o racismo que falsamente recorre a religiões e abusa de sentimentos religiosos para ocultar o seu ódio e a sua cara horrenda. Contudo, é de grande importância por em foco os objectivo políticos de algumas da potências mundiais e daqueles que controlam enormes recursos e interesses económicos no mundo. Eles mobilizam todos os recursos, incluindo a sua influência económica e política e o media mundiais para prestar apoio em vão ao regime sionista e maliciosamente minimizar a indignidade e desgraça deste regime.

Isto não é simplesmente uma questão de ignorância e ninguém pode terminar estes fenómenos horrendos através de campanhas diplomáticas. Devem ser efectuados esforços para por um fim ao abuso dos sionistas e dos seus apoiantes políticos e internacionais e para respeitar a vontade e as aspirações das nações. Os governos devem ser encorajados e apoiados nos seus combates destinados a erradicar este racismo bárbaro e para moverem-se rumo à reforma dos actuais mecanismos internacionais.

Não há dúvida de que todos vocês estão conscientes das conspirações de algumas potências e de círculos sionistas contra os objectivos desta conferência. Infelizmente, tem havido textos e declarações em apoio dos sionistas e dos seus crimes. E é da responsabilidade dos respeitáveis representantes das nações revelar estas campanhas, as quais são executadas contra os valores e princípios humanitários.

Deveria ser reconhecido que boicotar uma tal sessão internacional é um verdadeiro gesto de apoio a este exemplo flagrante do racismo. Ao defender direitos humanos é basicamente importante defender os direitos de todas as nações a participarem igualmente em toda decisão internacional importante com processos de decisão sem a influência de certas potências mundiais.

E em segundo lugar, é necessário reestruturar as organizações internacionais existentes e os seus respectivos arranjos. Portanto esta conferência é um campo de teste e opinião pública mundial hoje e amanhã julgará as nossas decisões e as nossas acções.

Sr. Presidente, Senhoras e Senhores, o mundo está a atravessar mudanças rápidas e fundamentais. As relações de poder tornaram-se fracas e frágeis. Os ruídos do estalar dos pilares dos sistemas mundiais agora são audíveis. As principais estruturas políticas e económicas estão à beira do colapso. Crises políticas e de segurança estão em ascensão. A pioria da crise na economia mundial, para a qual não se vê perspectiva brilhante, demonstra uma maré ascendente de mudanças globais de extremo alcance. Enfatizei repetidamente a necessidade de alterar a direcção errada em que o mundo está hoje a ser administrado e também adverti das horrendas consequências de qualquer atraso nesta responsabilidade crucial.

Agora, neste valioso evento, gostaria de anunciar a todos os líderes, pensadores, nações do mundo presentes nesta reunião e àqueles que anseiam por paz e bem-estar económico que a injusta administração económica do mundo está agora no fim da estrada. Este impasse era inevitável uma vez que a lógica desta administração imposta era opressiva.

A lógica da gestão colectiva dos assuntos mundiais é baseada sobre nobres aspirações que se centram nos seres humanos e na supremacia do Deus poderoso. Portanto ela desafia qualquer política ou plano que vá contra o poder das nações. A vitória do certo sobre o errado e o estabelecimento de um sistema mundial justo foi prometido pelo Deus Poderoso e pelos seus mensageiros e foi um objectivo partilhado de todos os seres humanos de diferentes sociedades e gerações no curso da história. A realização de tal futuro depende do conhecimento da criação e a crença da fé.

A feitura de uma sociedade global é de facto o cumprimento de um objectivo nobre contido no estabelecimento de um sistema global comum que será executado com a participação de todas as nações do mundo em todos os principais processos de tomada de decisão e a raiz definida para este sublime objectivo.

Capacidades técnicas e científicas, assim como tecnologia de comunicação, criaram um entendimento comum e generalizado da sociedade mundial e proporcionaram o terreno necessário para um sistema comum. Agora cabe a todos os intelectuais, pensadores e decisores políticos do mundo cumprirem a sua responsabilidade histórica com uma crença firme nesta raiz bem definida.

Também quero enfatizar o facto de que o liberalismo ocidental e o capitalismo chegaram ao seu fim uma vez que fracassaram em perceber a verdade do mundo e os humanos tais como eles são.

Eles impuseram os seus próprios objectivos e direcções aos seres humanos. Não há respeito por valores humanos e divinos, de justiça, liberdade, amor e fraternidade e basearam a vida sobre a competição intensa, assegurando, que assegure o interesse material individual e cooperativo.

Agora devemos aprender com o passado iniciando esforços colectivos para tratar dos desafios presentes e em conexão com isto, como uma observação final, quero chamar a vossa gentil atenção para duas importantes questões:

Primeiro, é absolutamente possível melhorar a situação existente no mundo. Contudo, deve-se notar que isto só pode alcançado através da cooperação de todos os países a fim de conseguir o melhor das capacidades e recursos existentes no mundo. Minha participação nesta conferência deve-se à convicção quanto a estas importantes questões bem como à nossa responsabilidade comum de defender os direitos das nações em relação ao fenómeno sinistro do racismo e de estar convosco, os pensadores do mundo.

Segundo, atentos à ineficiência dos actuais sistemas internacionais de segurança política, económica e de segurança, é necessário focar valores divinos e humanitários relativos à verdadeira definição de seres humanos baseados sobre a justiça e o respeito pelos direitos de todos os povos em todas as partes do mundo e reconhecendo as transgressões passadas na administração do mundo, e empreender medidas colectivas para reformar as estruturas existentes.

Quanto a isto, é crucialmente importante reformar rapidamente a estrutura do Conselho de Segurança, incluindo a eliminação do discriminatório direito de veto e mudar os actuais sistemas financeiros e monetários do mundo.

É evidente que a falta de entendimento da urgência de mudança equivale a custos muito mais pesados com o atraso consequente.

Caros Amigos, atenção que nos movermos rumo à justiça e à dignidade humana é como um fluxo rápido na corrente de um rio. Não nos esqueçamos da essência do amor e da afeição. O futuro prometido dos seres humanos é um grande activo que pode servir aos nossos propósitos de nos mantermos juntos para construir um novo mundo.

A fim de fazer do mundo um lugar melhor cheio de amor e de bênçãos, um mundo destituído de pobreza e de ódio, fundindo as crescentes bênçãos de Deus Poderoso e a gestão correcta do ser humano perfeito, vamos todos unir as nossas mãos na amizade para o cumprimento de um tal novo mundo.

Agradeço ao Sr. Presidente, ao Secretário-Geral e a todos os respeitáveis participantes terem tido a paciência de me ouvir. Muito obrigado.

O texto (tíbio) da declaração desta conferência encontra-se em http://www.un.org/durbanreview2009/pdf/DDPA_full_text.pdf

O original encontra-se em http://votersforpeace.us/press/index.php?itemid=1379