"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, agosto 30, 2008

A diluição dos minoritários

Blog do Luis Nassif - 30/08/08

Outra matéria alertando para as perdas dos trabalhadores que adquiriram ações da Petrobrás, caso a União aumente sua participação na empresa com o aporte de suas reservas na bacia de Santos.

No caso a matéria é na Folha. Mas saiu matéria semelhante no Valor e em outros jornais. Clique aqui.

Há uma confusão flagrante entre diluição do capital e perda patrimonial. Se a União aumentar sua participação na Petrobrás haverá diluição da participação de outros acionistas. Mas – se tudo for feito corretamente – nenhuma perda patrimonial, já que eles terão menos ações mas de uma empresa imensamente maior. Aliás, a previsão é de que a Petrobrás triplique de tamanho nos próximos anos.

Em outras palavras:

1. O investidor tem 1% do capital de uma empresa que vale, digamos R$ 1 bilhão. O valor de sua participação será de R$ 10 milhões.

2. Aí o acionista majoritário aporta R$ 1 bilhão ao capital da empresa. A participação do acionista cairá para 0,5%. Mas como o valor da empresa foi para R$ 2 bi; suas ações continuarão valendo os mesmos R$ 10 milhões.

sexta-feira, agosto 29, 2008

UE ameaça sanções à Rússia; governo russo desdenha

BBC Brasil - 28/08/08
O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov.
Lavrov disse que ameaça é 'resposta emocional' à crise

O ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, disse nesta quinta-feira que os líderes da União Européia estão considerando impor sanções à Rússia, dias após o Kremlin reconhecer a independência de duas províncias separatistas da vizinha Geórgia.

Kouchner não deu mais detalhes sobre a discussão, mas afirmou que o assunto "será resolvido através de negociações". Na segunda-feira, líderes da União Européia se encontrarão em caráter de emergência para decidir como lidar com a posição russa na atual crise.

Segundo a correspondente da BBC em Bruxelas Oana Lungescu, o anúncio de Kouchner representa uma virada na sua posição da UE adotada no início da semana, quando o ministro descartava a adoção de sanções contra a Rússia.

Entre as possíveis medidas a serem impostas está o bloqueio da Rússia à Organização Mundial do Comércio (OMC) e restrições para dificultar a entrada dos russos em países europeus.

O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, desdenhou as declarações de seu parceiro francês e afirmou que a ameaça de sanções é uma resposta emocional aos problemas na Geórgia – o "animalzinho de estimação do Ocidente", conforme Lavrov.

Posição

O Ocidente vem nos últimos dias manifestando sua condenação à decisão do Kremlin de reconhecer a independência das províncias separatistas da Ossétia do Sul e da Abecásia.

Os líderes dos países que compõem o G7 - grupos dos sete países mais industrializados do mundo – afirmaram que o reconhecimento da independência das províncias separatistas por Moscou violava a integridade e soberania da Geórgia.

Em comunicado conjunto, os líderes de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos condenaram a Rússia pelo "uso excessivo da força militar e sua contínua ocupação na Geórgia".

O grupo afirmou ainda que o reconhecimento da independência das regiões viola o plano de paz assinado pelos dois países.

Apesar das críticas, o presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmou que a ação do país na Geórgia conta com o apoio da China e de aliados na Ásia Central, e que esta é uma "mensagem séria" para o Ocidente.

Em um discurso durante a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), Medvedev disse que a união do grupo terá "ressonância internacional".

"Espero que isto sirva de sinal para aqueles que tentam transformar preto em branco e justificar essa agressão", disse Medvedev, referindo-se à tentativa da Geórgia de retomar o controle da província da Ossétia do Sul através de ações militares no início deste mês.

Em resposta às operações georgianas, a Rússia empreendeu uma ofensiva que provocou ainda mais confrontos com o Exército da Geórgia.

O conflito foi encerrado mediante um acordo de cessar-fogo proposto pela União Européia que previa a retirada das tropas da região.

Diálogo

Depois das declarações feitas pelo presidente russo, o governo chinês reforçou sua preocupação com a posição da Rússia no Cáucaso.

"Esperamos que os países envolvidos resolvam essas questões através do diálogo", disse um porta-voz do Ministério do Exterior chinês.

A SCO foi formada em 2001 tendo como um de seus objetivos atuar como uma espécie de contrapeso para a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Oriente.

Segundo o analista da BBC para assuntos diplomáticos, Jonathan Marcus, a organização espera que a Rússia se volte mais para a região, já que suas relações com o Ocidente estão em crise.

Marcus esclarece, no entanto, que seria errado considerar essa união como um sinal de emergência de um bloco anti-Ocidente, já que seu membro mais poderoso – a China – não poderia estar mais integrado à economia internacional.

Além disso, o analista afirma ainda que a China considera a integridade territorial e a defesa da soberania nacional como valores quase sagrados em suas relações diplomáticas.

quinta-feira, agosto 28, 2008

DEUS NOS LIVRE DO SERRA

Conversa Afiada - 28/08/08

Paulo Henrique Amorim


. O jornal Valor de hoje, na pág. A8, publica reportagem interessante de Raquel Salgado: “Eleições – Imbassay cita Lula e mostra Wagner mas não exibe imagem de Serra no horário eleitoral – Sobra PT e falta PSDB em Salvador”.

. Clique aqui para ler.

. Revela que o candidato tucano à prefeitura de Salvador, o ex-carlista Antônio Imbassay, duas vezes prefeito, amarrou Serra no pelourinho e não pretende tirá-lo de lá.

. Na eleição presidencial de 2002, quando foi fragorosamente derrotado pelo Presidente Lula por 61% a 39%, Serra obteve em Salvador, no segundo turno, 11% dos votos.

. Até agora, Serra só apareceu, segundo o Valor, na campanha do candidato a prefeito do Rio, Fernando Gabeira.

. (E as pesquisas demonstram – se é que se pode acreditar nelas – que Gabeira, com isso, pode ter feito uma besteira ...)

. Um ex-tucano do Rio, Eduardo Paes, candidato a prefeito, foge mais do Serra no horário eleitoral do que do Fernandinho Beira-Mar.

. Em nome do interesse nacional, e de todos aqueles que não acreditam na Chuíça (*), os tucanos deveriam usar mais o Serra.

. De preferência, o Serra o lado do Fernando Henrique, também conhecido como o Farol de Alexandria, aquele que iluminava a Antiguidade e desapareceu num terremoto.

. Botar um ao lado do outro.

. No horário eleitoral.

. E nos santinhos a serem distribuídos nos bairros populares das capitais brasileiros.

. Será a melhor maneira de o Brasil se livrar dos tucanos de São Paulo.

. O Conversa Afiada mantém a previsão de que o Vesgo do Pânico tem mais chance de ser Presidente do Brasil do que o presidente eleito José Serra.

. O Conversa Afiada também faz questão de repetir que o melhor que poderia acontecer ao Brasil seria amarrar as tripas do último tucano de São Paulo nas tripas do último petista de São Paulo e jogar nas águas do rio Tietê, aquele que o Gilberto Alckmin despoluiu ...

. Serra será o eterno presidente eleito.

. O candidato dos brancos e ricos é o Mussolini de Mato Grosso.

. Clique aqui para ler “Dantas conquistará o pré-sal no Supremo”.

NÃO RESPIRE EM SÃO PAULO: ISSO FAZ MAL À SAÚDE

Conversa Afiada - 28/08/08

Paulo Henrique Amorim


. A Folha (da Tarde *) escondeu na pág. C4 da edição de hoje, num parágrafo perdido, no pé da página:

. “Sem atividades – A CETESB aconselha a suspensão de exercícios físicos em locais abertos, das 10H às 16H , nas regiões afetadas. Segundo a companhia, o ozônio, além de ser prejudicial à saúde, pode causar danos à vegetação devido à sua toxidade.”

. Clique aqui para ler.

. Entenda o significado da palavra “Chuíça”: é a combinação do dinamismo econômico da China com o IDH da Suíça – ou seja, tudo aquilo que o PiG e os tucanos de São Paulo querem que o resto do Brasil pense que São Paulo é ...

Terras brasileiras tornam-se novo filão para investidores internacionais

Instituto Humanitas Unisinos - 28/08/08

As terras agrícolas brasileiras se transformaram em um novo filão de negócios. Nos próximos meses, quatro empresas planejam investir no país nada menos que US$ 1 bilhão na compra de propriedades rurais com perspectiva de valorização futura. Esses recursos, somados aos que devem ser aportados por companhias já instaladas no país, são suficientes para comprar 5% da área agricultável do Brasil, de acordo com levantamento da consultoria Agroconsult.

A reportagem é de Mônica Scaramuzzo e Raquel Balarin e publicada pelo jornal Valor, 28-08-2008.

Em comum, esses grupos crêem que o governo brasileiro cometeria um erro ao proibir a venda de terras a estrangeiros. Para eles, a medida poderia inibir investimentos e a entrada de novos recursos. A simples possibilidade de que isso aconteça, porém, tem levado alguns deles a antecipar seus planos para o país. E isso explica em boa parte a avalanche de recursos.

Os grupos interessados em terras brasileiras têm se associado a investidores e fundos, e muitos já se preparam para a abertura de capital. Além do fato de que a negociação de terras passou a chamar a atenção do setor financeiro, a emissão de ações dá opções de saída para os fundos e permite que estrangeiros participem desse mercado mesmo que o governo venha a restringir a venda de terras para não-brasileiros.

De todas as empresas que pretendem investir no Brasil nos próximos meses, o maior aporte deverá vir da Agrifirma, que tem entre seus acionistas investidores ingleses que atuavam no mercado de mineração e metais. A empresa pretende captar US$ 500 milhões com a emissão de ações no mercado londrino para pequenos negócios com alto potencial de crescimento, o AIM. Todos os recursos serão utilizados em terras agrícolas brasileiras, e a Agrifirma pretende colocar em prática a mesma filosofia da SLC Agrícola - que abriu seu capital no ano passado e que adquire terras para plantio de grãos. No país, a Agrifirma já adquiriu 20 mil hectares, mas pretende crescer dez vezes mais.

Com expertise em açúcar e álcool, o grupo Cosan, o maior do país, está criando a empresa Radar, que também terá sócios estratégicos estrangeiros. O perfil, porém, é diferente do da Agrifirma. A Radar pretende atuar com especulação imobiliária (compra e venda de terras agrícolas), aproveitando o "boom" desse novo e valorizado mercado de terras.

O interesse da Cosan no mercado de terras agrícolas surgiu há alguns meses, quando o grupo decidiu montar três projetos de usinas "greenfield" (construídas a partir do zero) no sudoeste de Goiás. A companhia percebeu que as terras próximas de onde seriam construídas as suas usinas começaram a se valorizar.

Cada vez mais escassas no mundo, as terras no país tiveram valorização média de 20% nos últimos 12 meses. Levantamento da consultoria Agroconsult mostra que o potencial de compra desses novos grupos e companhias já instaladas no país chega a 4 milhões de hectares (5% da área agricultável do país). De olho na forte valorização que as terras brasileiras podem ter no curto e médio prazo, a americana AIG Capital Investments adquiriu 37% de participação na Calyx Agro. A empresa tem como seus principais acionistas o grupo francês Louis Dreyfus Commodities, que no país é gigante em grãos e está crescendo em cana. O grupo Calyx AgroAIG Investments. Segundo Aguiar, a Calyx deverá abrir capital no país para futuras captações de recursos. "Aguardamos o mercado se recuperar para ir à bolsa." também negocia propriedades rurais na Argentina e Uruguai. "A idéia é comprar terras para investir na produção agrícola e vender essas propriedades depois", afirma Marcelo Aguiar, diretor da

O CEO da Calyx Agro, Axel Hinsch, conta que a empresa já tem duas propriedades na região do Mapito - nova fronteira agrícola que compreende os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. "Vamos alcançar 100 mil hectares até o final do ano", disse.

Tanta pressa dessas empresas em investir no país tem justificativa. Os preços de terras agrícolas continuam firmes no Brasil, principalmente nas regiões produtoras de soja e áreas de pastagens. No país, a cotação média do hectare encerrou o bimestre maio/junho a R$ 4.287, com aumento de 17% e ganho real de 2,9% em relação há 12 meses, segundo levantamento realizado pela consultoria AgraFNP. Nos últimos 36 meses, a valorização média foi de 40,5%, frente uma inflação de 20% no período, resultando em um ganho real de 6,4%.

Como a revisão na lei que regulamenta a compra de terras por estrangeiros ainda não saiu, as compras financiadas por estrangeiros estão aquecidas, sobretudo no Centro-Oeste e Nordeste, de acordo com a AgraFNP. Para as terras negociadas para plantio de grãos, os preços são indexados em sacas de soja. Com a valorização das áreas, há propriedades que já estão sendo negociadas a 600 sacas por hectare. O que atrai interesse para Mapito são os preços. Lá há terras negociadas a 60 sacas por hectare.

"O foco mundial em alimentos e energia renovável tem atraído os investidores ao país", afirmou Ricardo Freire, da empresa de consultoria imobiliária Colliers.

A Vision, gestora de recursos que administra cerca de R$ 1 bilhão, busca oportunidades em terras para clientes estrangeiros interessados em agronegócios, conta João Adamo, diretor-comercial da empresa. A empresa foi criada em 2006 por ex-banqueiros do Bank of America no país.

Considerada um case de sucesso no Novo Mercado da Bovespa, a SLC Agrícola também compra terras. Mas seu propósito não é a especulação no mercado de propriedades rurais. Hoje o grupo já possui cerca de 200 mil hectares plantados e deverá ampliar seus domínios nos próximos anos. Com ações negociadas na bolsa desde o dia 15 de junho de 2007, os papéis da empresa registravam valorização de 61,9% até ontem. No mesmo período, o Ibovespa subiu 3,36%. É considerado a oferta inicial de ações mais bem-sucedida, o que permitiu que a empresa voltasse a lançar ações este ano.

Também na bolsa, a BrasilAgro encerrou o primeiro ano agrícola com 22,8 mil hectares explorados. Na bolsa desde maio de 2006, a empresa teve uma desvalorização até ontem de 0,10%, enquanto o Ibovespa ficou em 34,97%.

Na AL, 98 milhões ganham menos de US$ 2,00

Instituto Humanitas Unisinos - 27/08/08

Para países de renda média, como o Brasil, o Banco Mundial recomenda um valor mais alto para definir a linha da pobreza. Nestas regiões, todos aqueles que ganham menos de US$ 2,00 por dia devem ser considerados pobres. A entidade ainda alerta que o número absoluto da pobreza na América Latina aumenta nos últimos 25 anos.

A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 27-08-2008.

Pelo novo cálculo do Banco Mundial, que considera a renda diária abaixo de US$ 1,25 como extrema pobreza, 45,1 milhões de latino-americanos se encaixavam no perfil, em 2005. Em 1981, o número era de 44,9 milhões. Mas se for considerado o corte recomendado a países em desenvolvimento, de US$ 2,00 de renda diária, os números da pobreza mais do que dobram.

Nesse caso, 98 milhões de latino-americanos estariam entre os que ganham menos de US$ 2,00 ao dia, 17,9% da população da região em 2005. Há 25 anos, um quarto da população do continente ganhava menos de US$ 2,00 por dia. Na América Latina, o consumo diário de uma pessoa com renda menor que US$ 2,00 por dia é de US$ 1,26.

Para a entidade, este valor oferece uma avaliação mais correta de quem de fato é pobre em países de renda média porque, diante dos custos de vida, um mesmo salário na África não seria suficiente para que um brasileiro fosse considerado fora da linha da pobreza. Antes da revisão, o número de pobres latino-americanos com renda de US$ 1,00 por dia, o número de pobres era de 27 milhões.

O Banco Mundial, no entanto, reconhece que, em termos porcentuais, a América Latina reduziu o tamanho da camada mais miserável em comparação ao restante da população. Mas a redução ainda não foi suficiente para que o número absoluto de pobres diminuísse.

No cálculo anterior de pobreza, em que a linha considerada era abaixo de US$ 1,00 de renda por dia, o Banco estimava que 7,4% dos latino-americanos eram miseráveis em 1981. Em 1984, a taxa subia para 9,1%. Mas, em 2005, havia caído para 5% da população. Pelo novo cálculo de pobreza, 12,3% dos latino-americanos eram pobres em 1981, ganhando menos de US$ 1,25 por dia. A taxa chegou a quase 14% nos anos 80 e, em 2005, recuou para 8,2% da população.

O índice latino-americano é um dos melhores entre as regiões em desenvolvimento. Mas é mais pobre que o Oriente Médio e o Leste Europeu.

No total, 2,6 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 2,00 ao dia no planeta e o Banco Mundial alerta que isso é uma prova de que as dificuldades para superar essa marca serão ainda maiores para a humanidade.

Instituto Humanitas Unisinos - 27/08/08

Para países de renda média, como o Brasil, o Banco Mundial recomenda um valor mais alto para definir a linha da pobreza. Nestas regiões, todos aqueles que ganham menos de US$ 2,00 por dia devem ser considerados pobres. A entidade ainda alerta que o número absoluto da pobreza na América Latina aumenta nos últimos 25 anos.

A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 27-08-2008.

Pelo novo cálculo do Banco Mundial, que considera a renda diária abaixo de US$ 1,25 como extrema pobreza, 45,1 milhões de latino-americanos se encaixavam no perfil, em 2005. Em 1981, o número era de 44,9 milhões. Mas se for considerado o corte recomendado a países em desenvolvimento, de US$ 2,00 de renda diária, os números da pobreza mais do que dobram.

Nesse caso, 98 milhões de latino-americanos estariam entre os que ganham menos de US$ 2,00 ao dia, 17,9% da população da região em 2005. Há 25 anos, um quarto da população do continente ganhava menos de US$ 2,00 por dia. Na América Latina, o consumo diário de uma pessoa com renda menor que US$ 2,00 por dia é de US$ 1,26.

Para a entidade, este valor oferece uma avaliação mais correta de quem de fato é pobre em países de renda média porque, diante dos custos de vida, um mesmo salário na África não seria suficiente para que um brasileiro fosse considerado fora da linha da pobreza. Antes da revisão, o número de pobres latino-americanos com renda de US$ 1,00 por dia, o número de pobres era de 27 milhões.

O Banco Mundial, no entanto, reconhece que, em termos porcentuais, a América Latina reduziu o tamanho da camada mais miserável em comparação ao restante da população. Mas a redução ainda não foi suficiente para que o número absoluto de pobres diminuísse.

No cálculo anterior de pobreza, em que a linha considerada era abaixo de US$ 1,00 de renda por dia, o Banco estimava que 7,4% dos latino-americanos eram miseráveis em 1981. Em 1984, a taxa subia para 9,1%. Mas, em 2005, havia caído para 5% da população. Pelo novo cálculo de pobreza, 12,3% dos latino-americanos eram pobres em 1981, ganhando menos de US$ 1,25 por dia. A taxa chegou a quase 14% nos anos 80 e, em 2005, recuou para 8,2% da população.

O índice latino-americano é um dos melhores entre as regiões em desenvolvimento. Mas é mais pobre que o Oriente Médio e o Leste Europeu.

No total, 2,6 bilhões de pessoas vivem com menos de US$ 2,00 ao dia no planeta e o Banco Mundial alerta que isso é uma prova de que as dificuldades para superar essa marca serão ainda maiores para a humanidade.

Bird revê cálculos e diz que há 1,4 bilhão de pobres no mundo

O Banco Mundial (Bird) refez as contas e concluiu que há mais miseráveis no mundo do que imaginava. O novo estudo, publicado ontem, constatou a existência de 1,4 bilhão de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. Salvo a China, que obteve resultados positivos, o mundo continua vendo o aumento no número de miseráveis nos últimos 25 anos, mesmo na América Latina. Até a Índia, que alegava ser um exemplo de crescimento, demonstra ter um número maior de pobres hoje do que em 1981, em termos absolutos.

A reportagem é de Jamil Chade e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 27-08-2008.

O recálculo da pobreza foi feito a partir de novos dados obtidos pelos economistas do banco, que chegaram à conclusão de que a antiga medida de pobreza, de US$ 1,00, não era adequada. Para a entidade, a elevação da linha da pobreza para US$ 1,25 reflete de forma mais adequada a realidade. Um número maior de pessoas em 116 países foi entrevistado para que a entidade determinasse a nova linha da pobreza.

O resultado chocou até os especialistas. As conclusões são de que um em cada quatro habitantes dos países em desenvolvimento devem ser considerados pobres, vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. Por esse mesmo cálculo, existiam 1,9 bilhão de pessoas em situação de pobreza em 1981. Isso, na época, representava 50% da população dos países em desenvolvimento. Pelos cálculos antigos, de US$ 1,00, o número de pobres era de 985 milhões de pessoas em 2004. Por esse mesmo cálculo, o número de pobres em 1981 era de 1,5 bilhão de pessoas.

“As estimativas sobre os preços e a renda comprovaram que essa quantidade de pobres era muito baixa”, afirmou o banco, em comunicado. Segundo os especialistas, o novo cálculo tem base na linha de pobreza dos 20 países mais miseráveis, entre eles Etiópia. “As novas estimativas representam um avanço importante na tentativa de medir a pobreza”, afirmou Martin Ravallion, diretor do Grupo de Pesquisa do Banco Mundial.

As estimativas mostram que, em termos porcentuais, há certos avanços. Pelas conclusões da entidade, o número de pobres caiu em 500 milhões de pessoas desde 1981. Naquele ano, a taxa de miseráveis era de 52% da população dos países em desenvolvimento. Hoje, seria de 26%. O problema é que quase a totalidade do avanço ocorre apenas na China.

“Os novos dados confirmam que o mundo provavelmente conseguirá atingir a meta de reduzir pela metade o número de pobres entre 1990 e 2015 e a pobreza vem caindo em 1% ao ano desde 1981”, afirmou Justin Lin, economista-chefe da instituição. “A notícia ruim é que a pobreza é maior do que pensávamos e precisamos redobrar nossos esforços, principalmente na África.”

Pelas projeções, mesmo que a meta seja atingida, mais de 1 bilhão de pessoas continuaria ganhando menos de US$ 1,25 por dia. Para os que deixaram essa faixa, a nova renda ainda não os permite sair da pobreza nos países de renda média, como o Brasil.

No Leste Asiático, a pobreza foi reduzida de forma profunda e é praticamente o único exemplo de grande sucesso. Em 1981, quase 80% viviam com menos de US$ 1,25 por dia. Em 2005, essa taxa era de 18%. A região deixou de ser a mais pobre do planeta.

CARRO-CHEFE

Praticamente todo o avanço que o Banco Mundial aponta ocorreu na China nos últimos 25 anos. Em 1981, 835 milhões de pessoas viviam com menos de US$ 1,25 por dia na China. Hoje, são 207 milhões. Apesar da queda, o banco alerta que o número de miseráveis na China é maior do que se pensava. Com base no cálculo antigo, só 130 milhões de pessoas na China viviam com menos de US$ 1,00 por dia.

Excluindo a China, o número de pobres de fato não diminuiu. Em 1981, 40% da população vivia com menos de US$ 1,25 por dia. Em 2005, essa taxa era de 29%. “Mas, diante do crescimento populacional, esse progresso não foi suficiente para reduzir o número de pobres fora da China”, alerta o banco. Entre 1981 e 2005, os miseráveis fora da China chegavam a 1,2 bilhão de pessoas.

Instituto Humanitas Unisinos - 27/08/08


O problema é que na África a pobreza continua afetando 50% da população. A taxa é praticamente a mesma de 1981 e pouco progresso foi feito desde então. Em termos absolutos, os números africanos mostram que a população miserável dobrou em 25 anos, passando de 200 milhões em 1981 para 380 milhões em 2005. “Se essa tendência continuar, um terço dos pobres do mundo viverão na África em 2015”, diz o banco.

O consumo médio de um pobre na África não chega a 70 centavos de dólar por dia. “Dado que a pobreza é tão profunda na África, um crescimento ainda maior da economia será necessário para ter algum impacto na pobreza”, afirma.

No sul da Ásia, os números absolutos também mostram que o total de pobres continua inalterado desde 1981,de cerca de 600 milhões de pessoas. Em termos porcentuais, a pobreza atinge 40% da população da região, ante 60% em 1981.

Na Índia, o número absoluto de miseráveis passou de 420 milhões em 1981 para 455 milhões em 2005. Em termos porcentuais, houve queda, de 60% em 1981 para 42% em 2005.

Manual da planilha viciada

Blog do Luis Nassif - 27/08/08

Toda a batalha em torno de juros, câmbio, transferência de renda, se dá no campo das planilhas e da capacidade de “esquentar” os números. É um movimento de conquista da opinião pública que usa bem o estilo de "esquentamento" das manchetes pelos jornais.

Vamos a dois exemplos didáticos dessa jogo.

A política monetária aprecia o real. Como conseqüência, há um aumento brutal no déficit em transações correntes, puxando principalmente pelo aumento das importações – mais de 50%. É uma escalada insustentável que, em países anglo-saxões, racionais, imporia restrições ao uso ilimitado de juros pelo BC.

Aí vem o Bradesco, do meu amigo Otávio de Barros, com suas contas.

1. Separa preços e quantidade de importações.

2. Constata que a quantidade está aumentando em 20% ao ano há algum tempo.

3. A partir daí fornece material para a manchete: importações estão estabilizadas.

O que a planilha não mostrou:

1. Crescimento de 20% não é estabilidade em lugar nenhum do mundo: é crescimento de 20% ao ano. Faz-se um jogo de palavras – “estabilizar o crescimento” – para passar a falsa idéia de estabilidade.

2. Se o que interessa é o saldo comercial, a comparação tem que ser com exportações. Pelo critério de quantum, as exportações estão estagnadas.

Aí vem o Banco Real Private Banking com um estudo mostrando que o Nível de Utilização de Capacidade Instalada atingiu o segundo patamar mais alto desde que a série foi criada.

Confira na matéria de Cláudio Lamucci (não confundir com La Nuci, com o perdão pelo trocadilho) (clique aqui).

Segundo o economista Fabio Susteras, seus estudos comprovam que “a despeito da queda dos preços de commodities, o Banco Central (BC) deve continuar a aumentar os juros nos próximos meses, levando a taxa Selic, hoje em 13% ao ano, para 14,75% no fim de 2008”.

Vamos refazer as ênfases, com base nos dados da própria reportagem:

1. Impressiona dizer que é o segundo nível mais alto desde que a série histórica foi criada. Impressionaria menos se se destacasse o fato da série histórica ter começado em 2006. Impressionaria menos ainda se se destacasse o fato de que o nível mais elevado foi o do quarto trimestre do ano passado. Significa que de lá para cá não houve aumento no NUCI, apesar do aumento da demanda.

2. O repórter faz um bom trabalho e indaga a razão da acomodação do NUCI nos atuais patamares – o termo é esse “acomodação”.

Explicações corretas:

• A maturação dos investimentos, que crescem a um ritmo superior a dois dígitos desde 2006, ajuda a explicar por que a utilização de capacidade se acomoda mesmo num período em que a atividade econômica continua a avançar.

• Aumento de produtividade. “Susteras reconhece que o seu estudo não considera a produtividade. Ganhos de eficiência na economia permitem que, com o mesmo nível de utilização de recursos, seja possível produzir mais”.

Por que ele não considera? Porque atrapalharia a defesa de tese.

Conclusão: matéria muito boa. Tão boa que não justificaria a chamada de capa "Aquecimento da economia puxou os preços". O único dado concreto do economista é uma correlação entre índices de crescimento e IPCA e IGP-M.

Do Estadão Online

IGP-M cai 0,32% em agosto, primeira deflação desde 2006

Após alta de 1,76% em julho, índice cede refletindo o forte recuo dos preços dos alimentos

“EL GRAN ACUERDO”: SENADO VOTA EM EMÍLIA E NA “BrOi”

Conversa Afiada - 27/08/08

Paulo Henrique Amorim


. A aprovação do nome de Emília Ribeiro para o Conselho da Anatel é um dos momentos mais nobres do Governo do Presidente que tem medo, o Presidente Lula.

. O Presidente que tem medo mandou o nome de Emília Ribeiro ao Senado para que ela aprove a “BrOi” na Anatel.

. A “BrOi” encarna TODOS os interesses do corpo político brasileiro.

. A “BrOi” contempla as necessidades de caixa do PSDB, do DEM, do PT e do PMDB.

. A “BrOi” é boa para o presidente eleito José Serra – em face de suas conexões intrínsecas com Daniel Dantas; é boa para a Ministra Dilma Rousseff, candidata do Presidente Lula, uma vez que foi ela, Dilma, quem deu, no Palácio do Planalto, a forma e conteúdo que permitiram a patranha da “BrOi”; e a “BrOi” serve ao candidato do “Estado de Direita”, o nosso Mussolini, Gilmar Mendes, o Supremo Presidente, já que ele ousou dar dois HCs em 48 horas a Daniel Dantas. (Clique aqui para ler sobre o nosso Mussolini).

. E a “BrOi” é um acrônimo que se usa para designar “Daniel Dantas”.

. Um é igual ao outro.

. A “BrOi” só saiu porque Dantas deixou.

. A “BrOi” só saiu porque o Presidente que tem medo mandou o BNDES e os fundos de pensão pagarem um cala-a-boca de US$ 1 bilhão a Dantas.

. Um presidente de fundo de pensão disse ao respeitado jornalista Rubens Glasberg que fez o acordo com Dantas como um morador da favela faz acordo com o chefe do tráfico, para poder viver em paz ... (Clique aqui para ler).

. Daniel Dantas corrompeu o PSDB, o PFL, o PT e o PMDB.

. (De passagem, corrompeu boa parte da imprensa, do Legislativo, do Judiciário, e quase corrompe um delegado da Polícia Federal.)

. A honra do Congresso brasileiro jaz atrás daquela porta falsa do apartamento dele em frente ao mar de Ipanema.

. A “BrOi” é o “gran acuerdo” que o presidente Lula ofereceu ao corpo político brasileiro (clique aqui para ler).

. Na patranha da “BrOi”, que vai deter 78% do mercado de telefonia fixa do Brasil, cabe o caixa dois para a campanha – e campanha para Presidente, sobretudo – de TODOS os políticos brasileiros, de TODOS os partidos.

. Por isso, Emília Ribeiro, aprovada por 42 a 15 em votação secreta, mereceu tantos elogios do senador tucano filiado ao PT de São Paulo, Eduardo Suplicy.

. Porque também ele encarna a indignação da falsa oposição.

. O PT que se mostra indignado com o irrelevante.

. E, na hora “H”, faz o que tem que fazer ...

. O Governo Lula vai para casa com a “BrOi”, Daniel Dantas e esse “gran acuerdo” na sua biografia.

. Misturar todos os gatos no mesmo saco, enaltecer os heróis e esquecer os algozes ...

. E, logo ele, que também achou que era maior do que Vargas ...

Em tempo: no Estadão, o Ministro das Comunicações, Helio Costa, diz que vai rasgar a decisão da Anatel que dificultou a criação da “BrOi”. Costa, aquele que conversa com o ET de Varginha, aquele que trabalhava para a Globo e agora trabalha para as telefônicas – ou para as duas ... – diz que “o ministério não tem de fazer, obrigatoriamente, o que vem da Anatel”. Interessante ... E como fica o debate sobre a “autonomia das agências “ ? Será que a Miriam Leitão e os colonistas vão ficar indignados com essa violação da sacrossanta “autonomia das agências” ? Afinal, para que serve a Anatel ? Interessante, o Ministro das Telefônicas parece não confiar na aprovação de Emília Ribeiro para a Anatel ... Ela precisa desempatar logo esse voto ... Clique aqui para ler na primeira pagina do Estadão.

. Li sobre a retumbante aprovação de Emília Ribeiro – por falar nisso, quem é Emília Ribeiro, o que entende de telefone ? – na Teletime:

Emília é aprovada pelo Senado para o conselho diretor da agência

terça-feira, 26 de agosto de 2008, 18h38
A Anatel terá, pela primeira vez desde que foi criada, uma mulher entre seus conselheiros diretores. A assessora técnica da presidência do Senado Federal Emília Ribeiro teve seu nome aprovado pelos senadores no Plenário da Casa na tarde desta terça-feira, 26.
A votação secreta contabilizou 42 votos a favor da indicada contra 15 contrários. Para deliberar sobre autoridades, o Plenário precisa ter quórum qualificado, ou seja, ao menos 41 senadores devem ter registrado presença no sistema eletrônico. A aprovação é feita por maioria simples.
A compra da Brasil Telecom pela Oi esteve presente novamente nos discursos dos senadores. A fusão das concessionárias foi o principal catalisador de críticas durante a sabatina da conselheira porque vários senadores entendem que ela está sendo colocada na Anatel para garantir a aprovação do negócio pela agência reguladora. Mas Emília também recebeu elogios no Plenário, como o do senador Eduardo Suplicy (PT/SP), que fez questão de elogiar sua atuação como funcionária do Senado Federal.
A posse da nova conselheira ainda não está agendada e depende da nomeação do Planalto. Antes de assumir a vaga, Emília terá que se desligar do conselho consultivo da agência, onde representa o Senado Federal.

MENDES TEM CONTATO IMEDIATO DE TERCEIRO GRAU COM ADVOGADOS DE DANTAS

Conversa Afiada - 27/08/08

Paulo Henrique Amorim


. O Blog do Frederico Vasconcelos, do site Uol, constata que a ligação entre os advogados de Dantas e o Supremo Presidente Gilmar Mendes é da natureza dos contatos imediatos de terceiro grau.

. Frederico Vasconcelos, que entrevistou o Ministro do Supremo Joaquim Barbosa sobre seu “temperamento difícil” voltou atrás e disse que Gilmar Mendes decidiu dar um HC a Daniel Dantas e citar um trecho da decisão do juiz Fausto De Sanctis que não fazia parte do pedido de HC enviado pelos advogados de Dantas.

. O Supremo Presidente, portanto, leu e citou o que só ele leu.

. O que se deduz daí é que entre os advogados de Dantas e o Supremo Presidente há uma relação para-normal.

. Ou, para-la-de-normal.

. O Supremo Presidente tem acesso a um pedido incompleto de HC e decide como se completo fora.

. O Conversa Afiada volta a sustentar que o juiz Fausto De Sanctis poderia ter dito, por exemplo, que prendeu Dantas, porque ele é capaz de se descorporificar.

. Mesmo diante de um argumento tão estapafúrdio, ou, ao contrário, se o juiz dissesse que Dantas já estava dentro daquele jatinho que o levou e trouxe da República Dominicana, quando soube que seu HC seria apreciado pelo Supremo Presidente – dissesse o que dissesse o juiz De Sanctis, Gilmar Mendes não deixaria nem deixará Dantas preso.

. Há entre eles contatos mediatos e imediatos.

. Clique aqui para ler o Blog do Frederico Vasconcelos, aquele que entrevistou o Ministro Joaquim Barbosa sobre seu “temperamento difícil”.

Brasil deve crescer mais que América Latina em 2008, diz Cepal

BBC Brasil - 27/08/08

PIB
Estudo da Cepal prevê crescimento de 4,8% para o Brasil neste ano
O Brasil deve ultrapassar a média da América Latina e crescer 4,8% em 2008, segundo o "Estudo Econômico da América Latina e Caribe 2007-2008", divulgado nesta quarta-feira pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).

O relatório prevê crescimento médio de 4,7% para a América Latina. Quando considerados apenas os países da América do Sul, a projeção é de crescimento médio de 5,6% em 2008.

Nos últimos quatro anos, o Brasil vinha apresentando crescimento inferior ao da média da América Latina.

Segundo o diretor do escritório da Cepal no Brasil, Renato Baumann, as perspectivas de desempenho "podem ser consideradas razoáveis" mesmo para 2009, quando o Brasil e a América Latina deverão crescer 4%, conforme o estudo.

Impactos

O relatório afirma, no entanto, que é possível que o Brasil enfrente alguns obstáculos neste ano.

Segundo o estudo, "mudanças no cenário externo podem afetar a evolução da balança de pagamentos, o marcado incremento da demanda interna e os preços internacionais dos produtos básicos, cujo aumento contribuiu para elevar a taxa de inflação e modificar a política econômica seguida pelas autoridades".

A previsão da Cepal é que a inflação acumulada fique acima de 5%.

O relatório destaca o aumento no emprego formal e nos salários. Segundo o estudo, os resultados "revelam um ritmo de atividade econômica que permitiu elevar o nível de consumo e estimular o investimento".

A Cepal também ressalta a conquista do grau de investimento, em abril deste ano, que "pode consolidar o acesso a maiores recursos externos".

"No entanto, a gestão da demanda interna exige uma maior coordenação das políticas fiscal e monetária a fim de compatibilizá-las com a oferta interna de bens e serviços e assegurar assim a sustentabilidade do financiamento das importações", diz o relatório.

O urânio na raiz do conflito

Le Monde Diplomatique Brasil - Julho

NíGER

Um dos países mais pobres do mundo vive de novo em estado de guerra civil, em virtude... de suas riquezas. Terceiro maior produtor de urânio do planeta, o Níger entrega o minério à exploração de transnacionais — que têm o apoio das forças armadas contra a população tuaregue

Anna Dednik

“Se a luta é a única voz ouvida, nós optamos por ela.” Com essa firme e assustadora declaração, o Movimento dos Nigerinos para a justiça (MNJ) [http://m-n-j.blogspot.com de 29 de abril de (...)">1] selou a volta da guerrilha no Níger, após 12 anos de paz. O acordo firmado em 24 de abril de 1995 entre governo e rebeldes, majoritariamente tuaregues, chegava, na aparência, ao fim.

Mas os combates recomeçaram em fevereiro de 2007, na região de Agadez, no norte, e se estenderam até a zona do lago Chade, no sudeste do país. Antigos militantes, desertores do exército regular e alguns novatos compuseram as tropas insurgentes. Em pouco tempo, eles multiplicaram os ataques a instalações militares e aos símbolos do Estado. Além da aplicação efetiva do tratado de 1995, que previa, entre outros pontos, a descentralização econômico-regional, o MNJ reivindica a transferência de 50% da renda da mineração às coletividades locais e a contratação prioritária das populações autóctones no setor, assim como o fim do “tráfico” de licenças de exploração de matérias-primas e das atividades de pesquisa nas regiões de pecuária.

O Níger é o terceiro exportador mundial de urânio. A produção anual, avaliada em 3.300 toneladas, representa 48% de suas receitas de exportação e pode crescer ainda mais. Isso porque, desde 2003, após 20 anos de queda, o preço do produto está subindo.

Mas, apesar disso, ainda é um dos países mais pobres do mundo (ocupa a posição 174 entre 177 no Índice de Desenvolvimento Humano calculado pelas Nações Unidas) e enfrenta, regularmente, graves crises alimentares. Justamente por isso, o governo, instalado na capital Niamey, encara o interesse renovado pelo combustível nuclear como uma vantagem sem precedentes na “batalha pelo desenvolvimento econômico e social”. [2]

Fim do monopólio francês: a China National Nuclear obtém licença de exploração da jazida de Azelik. E autorizações de pesquisa são concedidas a empresas do mundo anglo-saxão

Para aumentar as receitas mineradoras da ex-colônia francesa, o presidente Mamadu Tandja tratou de diversificar os parceiros. Até então, o urânio era explorado por duas empresas franco-nigerinas, das quais a Areva NC, número um em energia nuclear civil, é a acionista majoritária [3]: a Société des Mines de l’Aïr (Somair) e a Compagnie Minière d’Akouta (Cominak). A situação tranqüila vivenciada pela gigante francesa mudou radicalmente em 26 de junho e 25 de julho de 2007. Nessas datas, o coronel Gilles de Namur, responsável pela segurança da Areva NC, e Dominique Pin, o diretor local do grupo, foram expulsos do país, acusados de apoiar o MNj [4]. As relações entre Paris e Niamey voltaram a se normalizar somente em janeiro de 2008, quando o governo nigerino confirmou os direitos de exploração da Areva nas enormes jazidas de Imuraren, destinadas a serem uma das maiores minas de urânio do mundo. Em compensação, o preço do urânio pago pela Areva elevou-se 50%.

Assim, em novembro do ano passado, a China Nuclear International Uranium Corporation (Sino-uranium), filial da estatal chinesa China National Nuclear Corporation (CNNC), que explora a importante concessão de Tegguida desde 2006, obteve licença de exploração da jazida de Azelik. Além disso, autorizações de pesquisa foram concedidas a 20 empresas “juniores” canadenses, australianas, sul-africanas, indianas e britânicas.

As concessões de mineração, já autorizadas ou em negociação, se estendem por quase 90 mil km2 a partir do limite ocidental do maciço do Air (região de Agadez), situado entre a fronteira argelina e o penedo de Tiguidit. Não se cogitou consultar as populações do norte – pelo menos 300 mil pessoas, principalmente tuaregues –, cujos territórios ancestrais foram concedidos às empresas. os habitantes da região de Tegguida-n-Tessum (a oeste de Agadez) simplesmente receberam uma ordem de evacuar o perímetro, de cerca de 2.500 km2, cedido para a Sino-Uranium. A Niger Uranium Limited, por sua vez, iniciou a prospecção em In Gall e Ighazer e proibiu os criadores de gado de usarem os poços pastoris. Já em torno de Imuraren, as atividades de exploração empreendidas pela Areva provocaram a fuga do rebanho bovino local e inviabilizaram qualquer atividade pecuária.

Ademais, o início do funcionamento de novas minas, previsto para 2010 e 2012, em Azelik e Imuraren, só redobra os temores suscitados pelo primeiro relatório da situação radiológica e sanitária nas duas cidades mineradoras, Arlit e Akokan. O estudo, feito entre 2003 e 2005 pela Comissão de Pesquisa e Informação Independente sobre a Radioatividade (Criirad) e por uma organização não-governamental de juristas chamada Sherpa, revelou que a água distribuída à população de mais de 86 mil habitantes apresentava níveis de radioatividade superiores às normas de potabilidade internacionais. Além disso, a ferragem saída das usinas era vendida nos mercados, recuperada pela população e utilizada em construções ou como utensílios de cozinha.

Em maio de 2007, a Criirad detectou na sede da Areva e no Centro Nacional de Radioproteção do Níger a presença de estéreis (resíduos da extração) em local público, assim como níveis de radiação gama até cem vezes acima do normal. Na ausência de uma perícia científica séria, os riscos à saúde são difíceis de avaliar [5]. Entretanto, a Sherpa sublinha a multiplicação de casos de doenças respiratórias e pulmonares graves, que seriam sistematicamente escondidas dos pacientes pelos dois hospitais construídos e administrados pela Somair e pela Cominak.

As duas sociedades mineradoras são o segundo empregador do país, depois do Estado, e suas necessidades enormes de abastecimento beneficiam um grande número de empresas. Contudo, são essencialmente os nativos do sul (hauçás e djermas), mais instruídos e bem representados nas esferas administrativas e políticas, que ocupam os postos-chave e ficam com os melhores contratos. A população local tuaregue, pouco escolarizada e de estilo de vida tradicional, está à margem da economia das cidades mineiras.

Organizações de direitos humanos denunciam prisões, detenções arbitrárias e 70 execuções sumárias, cometidas pelas forças armadas. Fala-se em torturas, estupros, pilhagens e massacres de rebanhos

Entre 1973 e 1974, logo depois do início da exploração da mina de Arlit, quando a seca dizimou mais de 75% de seu rebanho animal, muitos tuaregues tomaram o caminho do exílio nas grandes cidades ou mesmo na Argélia e na Líbia. Aproximadamente 20 mil retornaram ao país no fim da década de 1980, incentivados pelo discurso de “distensão” do coronel Ali Saibu, que pôs fim a 13 anos de “regime de exceção” do general Seyni Kuntche. O Níger passou então por uma crise econômica e nada foi feito para absorver esse retorno maciço. A ilusão de abertura do regime dissipou-se rapidamente, quando um confronto entre os tuaregues e as forças da ordem, em Tchin-Tabaraden (maio de 1990), foi seguido de uma repressão violenta [6].

A ausência de sanções somou-se às frustrações dos tuaregues, e o sentimento de marginalização traduziu-se, em outubro de 1991, na eclosão da primeira rebelião.

Em agosto de 2007, decretou-se estado de “vigilância” – uma forma de estado de exceção – na região de Agadez. A seguir, organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram mais de cem prisões e detenções arbitrárias, assim como cerca de 70 execuções sumárias de civis perpetradas pelas Forças Armadas Nigerinas (FAN) em represália aos ataques do MNJ. Falou-se em torturas, estupros, pilhagens e massacres de rebanhos, via de regra a única fonte de renda dos habitantes da região. Em seus deslocamentos, as FAN usam os civis como “escudos humanos”, principalmente para se proteger das minas.

Tais abusos provocam deslocamentos maciços de populações. “Em Iferuane, só sobrou o exército, todos os habitantes fugiram”, testemunhou o responsável por uma pequena associação que foi obrigado a abando nar suas atividades na região. O medo das represálias e das minas nas estradas tornou o abastecimento cada vez mais difícil. Os preços dispararam e a temporada o turismo, antes fonte de renda, não acabou. O presidente Mamadu Tandja se recusa a negociar com os rebeldes, que qualifica como “bandoleiros e traficantes de droga”. A zona afetada pelo conflito é proibida aos jornalistas. Niamey se arroga o direito de dispor livremente dos recursos naturais e convida os nigerinos a enxergar a origem da crise na importância estratégica do país. Em meados de abril, porém, a Assembléia Nacional exigiu que o governo “tomasse todas as medidas para uma solução pacífica e duradoura do conflito”, que considerou uma “grave ameaça à estabilidade do Níger”. Por ora, a exigência não teve efeito.



[1] Comunicado do MNJ->http://m-n-j.blogspot.com de 29 de abril de 2008.

[2] Compagnie Générale des Matières nucléaires, antes de se integrar ao pólo nuclear do grupo Areva em 2001.

[3] A Areva passou a ser suspeita devido à adesão do capitão das Forças nacionais de intervenção e Segurança ao MNJ, em julho de 2007. ele era o responsável pela segurança das instalações da empresa, da qual recebeu cerca de €85 mil.

[4] Em 2004, a Areva solicitou uma auditoria ambiental ao instituto de radioproteção e Segurança nuclear (irSn). A Criirad avaliou que as conclusões desse estudo subestimaram o dano causado pela empresa. Uma auditoria clínica também foi feita por solicitação da Areva (2005). nenhum desses estudos avaliou os riscos sanitários em longo prazo.

[5] Setenta mortos segundo o governo, cerca de 600 conforme as organizações internacionais e mais de mil de acordo com os tuaregues. Touareg, la tragédie, Mano ag Dayak, Michael Stührenberg, Jérôme Strazzulla, Lattès, 1992.

[6] Moussa Kakka, correspondente da radio France internationale,está preso desde o dia 26 de setembro de 2007 acusado de cumplicidade com os rebeldes. Também foram detidos ibrahim Manzo Diallo, diretor da publicação Info, e três jornalistas franceses: Pierre Creisson, Thomas Dandois e François Bergeron.

As três crises

Le Monde Diplomatique Brasil - Julho

NEOLIBERALISMO

Cada vez mais intensos, os solavancos das finanças mundiais podem provocar crise sistêmica, e depressão semelhante à de 1929. A esta derrocada estão entrelaçadas a escassez de alimentos e da alta dos combustíveis. Vivemos as conseqüências de 25 anos de neoliberalismo. Mas quando diremos basta?

Ignacio Ramonet

Nunca havia acontecido antes. Pela primeira vez na história da economia moderna, três crises de grande amplitude – financeira, energética e alimentar – estão em conjunção, confluindo e combinando-se. Cada uma delas interage sobre as demais, agravando, de modo exponencial, a deterioração da economia real.

Por mais que as autoridades se esforcem em minimizar a gravidade do momento, o certo é que nos encontramos diante de um sismo econômico de magnitude inédita, cujos efeitos sociais, que mal começaram a se fazer sentir, explodirão nos próximos meses com toda a brutalidade. A numerologia não é uma ciência exata e o pior não costuma ser previsto, mas 2009 pode muito bem se parecer com o nefasto ano de 1929...

Como temíamos, a crise financeira continua aprofundando-se. Aos descalabros de prestigiosos bancos norte-americanos, como o Bear Stearns, o Merrill lynch e o gigante Citigroup, somou-se o recente desastre do lehman Brothers, quarto maior banco de negócios, que anunciou, em 9 de junho, um prejuízo trimestral de 2,8 bilhões de dólares. Como foi a primeira perda desde o lançamento de suas ações na Bolsa, em 1994, o resultado teve efeito de um terremoto financeiro, nos já violentamente traumatizados EUA.

A cada dia difundem-se notícias sobre novas quebras. Até agora, as entidades mais afetadas admitem prejuízos de quase 330 bilhões de dólares, e o Fundo Monetário Internacional estima que, para escapar da catástrofe, o sistema necessitará de cerca de 950 bilhões de dólares (o equivalente à metade do PIB do Brasil).

A crise começou nos Estados unidos, em agosto de 2007, com a desconfiança nas hipotecas de má qualidade (subprime) e propagou-se por todo o mundo. Sua capacidade de se transformar e se espraiar por meio da contaminação de complexos mecanismos financeiros faz com que se assemelhe a uma epidemia fulminante, impossível de controlar. As instituições bancárias já não emprestam dinheiro entre si. Todas desconfiam da saúde financeira de suas rivais.

Ao fugir dos mercados de ações e imóveis, os especuladores fazem apostas gigantescas em contratos para entrega futura de petróleo e alimentos. É a financeirização generalizada da produção capitalista

Apesar das injeções maciças de liquidez efetuadas pelos grandes bancos centrais, nunca se vira uma seca tão severa de dinheiro nos mercados. E agora o maior temor de alguns é uma crise sistêmica — ou seja, que o conjunto do sistema econômico mundial entre em colapso.

Da esfera financeira, o problema passou para o conjunto da atividade econômica. De um momento para outro, as economias dos países desenvolvidos sofreram um desaquecimento. A Europa encontra-se em franca desaceleração e os Estados Unidos estão à beira da recessão.

O setor imobiliário é onde melhor aparece a dureza desse ajuste. Durante o primeiro trimestre de 2008, o número de vendas de moradias na Espanha caiu 29%! Cerca de dois milhões de apartamentos e casas estão sem compradores. O preço das propriedades continua a desmoronar. O aumento dos juros hipotecários e os temores de uma recessão lançaram o setor numa espiral infernal, com ferozes efeitos em todas as frentes da imensa indústria da construção. Todas as empresas desses setores estão agora no olho do furacão. E assistem, impotentes, à destruição de dezenas de milhares de empregos.

Da crise financeira passamos à crise social. E políticas autoritárias voltaram a surgir. O Parlamento Europeu aprovou, em 18 de junho passado, a infame “diretiva retorno” [1]. Imediatamente, as autoridades espanholas declararam sua disposição em favorecer a saída da Espanha de um milhão de trabalhadores estrangeiros...

Em meio a essa situação de espanto, ocorre o terceiro choque do petróleo, com o preço do barril em torno de US$ 140. Um aumento irracional (há dez anos o barril custava menos de US$ 10) devido não apenas a uma demanda despropositada mas, especialmente, à ação de muitos especuladores, que apostam no aumento contínuo de um combustível em vias de extinção. Retirando-se da bolha imobiliária, que desinfla, os investidores alocam somas colossais em contratos para entrega futura de petróleo, o que pode levar o preço do barril a algo em torno de US$ 200. Ou seja: está ocorrendo uma “financeirizacão” do petróleo, com conseqüências como formidáveis aumentos de preços da gasolina, em muitos países, e a ira de pescadores, caminhoneiros, agricultores, taxistas e todos os profissionais mais afetados. Em muitos casos, eles exigem de seus governos ajudas, subsídios ou reduções dos impostos, com grandes manifestações e enfrentamentos.

Como se todo esse contexto não fosse bastante sombrio, a crise alimentar agravou-se repentinamente e chega para nos lembrar que o espectro da fome continua ameaçando quase um bilhão de pessoas. Em cerca de 40 países, a carência de alimentos provocou levantes e revoltas populares. A reunião de cúpula da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), foi incapaz, em 5 de junho, em Roma, de chegar a um consenso para retomar a produção de alimentos no mundo. Aqui também os especuladores, fugindo do desastre financeiro, têm parte de responsabilidade — porque apostam num preço elevado das futuras colheitas. Até mesmo a agricultura está se “financeirizando”.

Este é o saldo deplorável de 25 anos de neoliberalismo: três veneosas crises entrelaçadas. Já está na hora de os cidadãos gritarem: “Basta!”.



[1] "Europa se blinda ante los inmigrantes”, Sami Naïr, El País, Madri, 18 de junho de 2008.

Ai dos que crêem no Império

Le Monde Diplomatique Brasil - Agosto

GEOPOLÍTICA

Ainda que muito breve, a guerra entre Geórgia e Rússia revelou algo chocante para o pensamento convencional. Menos de vinte anos após vencerem a Guerra Fria, os EUA já perderam a condição de poder mundial solitário. Na verdade, deixaram até mesmo de ser superpotência...

Immanuel Wallerstein

(23/08/2008)

O mundo assistiu a uma mini-guerra no Cáucaso este mês. A retórica, embora apaixonada, foi muito irrelevante. A geopolítica é uma série gigantesca de jogos de xadrez a dois, nos quais os jogadores buscam vantagens de posição. Nestes jogos, é crucial saber as regras que permitem os movimentos. Cavalos não podem mover-se em diagonal.

De 1945 a 1989, o principal jogo de xadrez era jogado entre os Estados Unidos e a União Soviética. Era conhecido como Guerra Fria, e as regras básicas eram chamadas “Yalta”. A mais importante delas dizia respeito à linha que dividia a Europa em duas zonas de influência. Foi chamada por Winston Churchill de “Cortina de Ferro” e ia de Stettin a Trieste. A regra era: não importava quanto conflito fosse provocado na Europa pelos peões, eles não deveriam provocar uma guerra real entre os Estados Unidos e a União Soviética. E ao fim de cada episódio de conflito, as peças deveriam retornar para os postos de onde haviam saído. Esta regra foi observada meticulosamente até o colapso do comunismo em 1989, episódio marcado notoriamente pela destruição do muro de Berlim.

É perfeitamente claro, como todo o mundo observou na época, que as regras de Yalta foram revogadas em 1989, e que o jogo entre os Estados Unidos e a Rússia (a partir de 1991) mudou radicalmente. O maior problema desde então é que os Estados Unidos não compreenderam bem as novas regras. Eles proclamaram a si próprios — e foram proclamados por outros — a superpotência solitária. Em termos de regras de xadrez isto foi interpretado como se os estivessem livres para mover-se pelo tabuleiro da forma que bem entendessem. E, em particular, para trazer os antigos peões soviéticos para sua esfera de influência. Sob o governo Clinton, e de forma mais espetacular sob o de George Bush, os Estados Unidos foram levando o jogo dessa forma.

Havia um único problema: os Estados Unidos não eram a superpotência solitária; e sequer, uma super-potência. O fim da Guerra Fria fez com que deixassem de ser uma das duas superpotências, para se tornarem um Estado forte, em uma redistribuição verdadeiramente multilateral de poder real, no sistema inter-estatal. Muitos países grandes são agora capazes de jogar os seus próprios jogos de xadrez sem ter de pedir licença às duas super-potências de outrora. E eles começaram a fazer isso.

Derrotada a União Soviética, Clinton age para conquistar seus peões e ampliar a OTAN. Mas o grande delírio veio com Bush, que renegou acordos, invadiu o Iraque e quis controlar a Ásia Central

Duas grandes decisões geopolíticas foram tomadas nos anos de Clinton. Primeiro, os Estados Unidos forçaram bastante, e foram relativamente bem-sucedidos, para incorporar os antigos satélites soviéticos do Leste Europeu à OTAN. Tais países estavam ansiosos por este ingresso, ainda que os Estados-chave da Europa Ocidental — Alemanha e França — relutassem de algum modo. Percebiam que a manobra norte-americana também os transformava em alvo, ao limitar a liberdade de ação geopolítica que recém haviam adquirido.

A segunda decisão estratégica norte-americana era tornar-se parte ativa nos realinhamentos de fronteiras na antiga República Federal da Iugoslávia. Isto levou-os a sancionar — e reforçar, com suas tropas — a secessão de facto do Kosovo em relação à Sérvia.

Mesmo sob Yeltsin, a Rússia sentia-se descontente com estas duas iniciativas geopolíticas norte-americanas. No entanto, a desordem politica e econômica naqueles anos era tão grande que o máximo que podiam fazer era reclamar — deve-se dizer que de um modo um tanto débil...

George W. Bush e Vladimir Putin assumiram o poder mais ou menos simultaneamente. Bush decidiu levar adiante as táticas da potência solitária (em que os Estados Unidos decidem por si mesmos como mover suas peças) com muito mais audácia do que Clinton havia feito. Em 2001, recuou do tratado anti-mísseis assinado com a União Soviética, em 1972. Depois, anunciou que os Estados Unidos não se prontificariam a ratificar os novos tratados assinados por Clinton em 1996; o Tratado de supressão dos testes nucleares [Compreensive Test Ban], e as mudanças acordadas para o tratado de desarmamento nuclear SALT II. Para completar, comunicou que Washington manteria seu projeto de militarização do espaço, conhecido como "escudo anti-mísseis".

E, é claro, Bush invadiu o Iraque em 2003. Como parte deste envolvimento, os Estados Unidos vislumbraram e obtiveram direitos às bases militares e de sobrevôo nas repúblicas da Ásia Central — que anteriormente faziam parte da União Soviética. Além disso, promoveram a construção de óleodutos e gasodutos que procuravam tornar desnecessários os sistemas russos. E finalmente entraram em acordo com a Polônia e a República Tcheca para estabelecer pontos de defesa de mísseis, sob alegação de defesa contra o Irã. A Rússia, porém, os viu como voltados contra si.

Duas causas imediatas explicam a guerra. Diante da independência do Kosovo, a Rússia reivindicou direitos iguais. E, sem exército, Saakshvilli acreditou no conto do poder unilateral de Washington

Putin estava disposto a resistir com mais força que Yeltsin. Como jogador prudente, porém, ele se preocupou primeiro em fortalecer sua base, restabelecendo a autoridade central e revigorando o aparato militar russo. Neste período, as marés da economia mundial mudaram, e a Rússia tornou-se de repente um rica e poderosa controladora de reservas e linhas de abastecimento de petróleo e gás natural, dos quais os países ocidentais dependem fortemente.

O presidente russo começou começou a agir. Negociou acordos com. Manteve relações próximas com o Irã. Começou a pressionar os Estados Unidos para fora das bases militares na Asia Central. E se posicionou firmemente contra a extensão da OTAN em duas zonas estratégicas: Ucrânia e Geórgia.

O colapso da União Soviética deflagrou movimentos separatistas em diversas de suas antigas repúblicas, inclusive a Geórgia. Quando, em 1990, a Geórgia buscou acabar com o status de autonomia das zonas étnicas não-georgianas, estas imediatamente proclamaram-se Estados independentes. Não foram reconhecidos, mas a Rússia garantiu sua autonomia.

As causas imediatas para a mini-guerra destes dias têm dupla origem dupla. Em fevereiro, Kosovo institucionalizou sua autonomia de facto. Este movimento foi apoiado por e reconhecido pelos Estados Unidos e por boa parte dos países europeus. A Rússia alertou, na época, que a lógica deste movimento aplicava-se igualmente às secessões de facto nas antigas repúblicas soviéticas. Na Geórgia, a Rússia agiu imediatamente, pela primeira vez, reconhecendo a independência de jure da Ossétia do Sul, em resposta direta aos fstos em Kosovo, Em abril, os Estados Unidos propuseram, durante reunião da OTAN, que a Geórgia e a Ucrânia fossem recebidas, em um plano de adesão chamado Membership Action Plan. Alemanha, França, e o Reino Unido opuseram-se a isso, alegando que seria uma provocação à Rússia.

Neoliberal e fortemente pró-Washington, o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, estava agora desesperado. Ele deu-se conta de que a reafirmação da autoridade georgiana na Ossétia do sul (e na Abkházia) poderia perder-se para sempre. Aproveitou-se de um momento em que a Rússia estava supostamente desatenta (Putin, agora primeiro-ministro nas Olimpíadas; o presidente Dmitri Medvedev de férias) para invadir a Ossétia do Sul. Seu exército fracassou completamente, como era de esperar. Mas Saakashvili imaginou que estivesse forçando a mão dos EUA (aliás, da Alemanha da França também).

Como nota irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas dos Estados Unidos na coalizão no Iraque, retirou todos os 2 mil soldados que ainda mantinha por lá

Ao invés disso, ele teve uma resposta imediata da força militar russa, que esmagou a pequena armada georgiana. De George W. Bush, obteve retórica. Mas afinal de contas, o que Bush poderia fazer? Os Estados Unidos não são uma super-potência. Suas forças armadas estão atoladas em duas guerras sem perspectivas no Oriente Médio. E, mais importante que tudo, eles precisam muito mais da Rússia do que o contrário. O ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, frisou, num artigo publicado pelo Financial Times, que a Rússia é um "parceiro do Ocidente no Oriente Médio, Irã e Coréia do Norte”.

A Rússia também controla, em essência, o abastecimento de gás da Europa Ocidental. Não por acaso, foi o presidente Sarkozy da França — e não Condolezza Rice — quem negociou a suspensão do conflito. No acordo firmado entre os dois países, a Geórgia faz duas concessões essenciais. Compromete-se em não mais utilizar a força contra a Ossétia do Sul, e aceita um documento que não faz nenhuma referência a sua integridade territorial.

A Rússia saiu, portanto, muito mais forte que antes. Saakashvili apostou tudo o que tinha e está agora geopoliticamente falido. Como nota irônica, a Geórgia, uma das últimas aliadas dos Estados Unidos na coalizão no Iraque, retirou todos os 2 mil soldados que ainda mantinha por lá. Estas tropas jogaram um papel importante nas áreas xiitas, e agora precisam ser substituídas por tropas norte-americanas, que terão que deixar outras áreas.

Quem joga o xadrez geopolítico precisa conhecer suas regras. Do contrário, corre o risco de ficar emparedado.

Demissão de Musharraf

Resistir Info



Cartoon de Latuff.

quarta-feira, agosto 27, 2008

‘Argumentos não justificam continuidade da demarcação’, afirma especialista em defesa e estratégia

Instituto Humanitas Unisinos - 26/08/08

Para o fundador do Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança (Cetris), Salvador Raza, não há razão técnica que justifique a demarcação contínua. “Os argumentos apresentados não justificam a continuidade da demarcação”, afirma.


A reportagem e a entrevista é de Guilherme Scarance e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 26-08-2008.

Especialista em defesa e estratégia, coordenador do curso de mestrado em administração da Unisal, em Americana (SP), ele avalia que a área indígena representa, sim, uma questão de segurança nacional.

Eis a entrevista.

O sr. é favorável ou contra a demarcação contínua da reserva?

Sou contra. Não há razão técnica. Os argumentos apresentados não justificam a continuidade da demarcação. Dá para ter o atendimento às demandas de cunho antropológico, sem a necessidade de continuidade.

A decisão do STF servirá de parâmetro para outras reservas?

Sim. As decisões do STF têm capilaridade. Temos o STF tomando decisão que vai criar instabilidade política. Na realidade, faz uma transição entre a competência jurídica para uma esfera onde as decisões são eminentemente políticas.

Há risco de conflito na região?

Não. O que vai ter é um pouco de ânimo forte, mas já existe muita maturidade para se evitar grandes bobagens. Vamos ter pequenas bobagens, mas a estrutura decisória hoje tem hierarquia forte, mecanismo para se fazer cumprir.

Há questão de segurança nacional na Raposa Serra do Sol?

Com certeza há, a discussão permeia a região. Você tem uma questão de Estado, abrindo determinadas condições de interpretação sobre a sua capacidade de ter jurisdição política e, se necessário, o uso da força.

É possível se chegar a um acordo pacífico entre índios e arrozeiros?

Acredito que sim. O grande problema é que se estão construindo maus critérios. O STF e o governo tinham de ter maturidade para perceber que a decisão é maior do que o lobby ou a pressão de uma ONG, uma determinada facção ou determinada pessoa falando dos interesses do Estado na manutenção do que é mais importante - a continuidade do território.

O sr. acha que o STF tomará decisão alinhada com a sua opinião?

O STF está aí para defender o interesse do Estado e interpretar lacunas. Na minha percepção, corremos o risco de ter bobagens do ponto de vista dos resultados - e com conseqüências políticas sérias.