"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, julho 10, 2008

LULA, GENRO E CORRÊA: NÃO TOQUEM EM QUEIROZ

Conversa Afiada - 10/07/08

Lula, Tarso Genro e Luiz Fernando Corrêa podem mandar o delegado Protógenes Queiroz para o Quinto dos Infernos, município localizado no entroncamento de Frigideira com Corredor, sub-distritos de Brasília.

. Essa história de gangsters, vazamentos, espetacularização, uso indiscriminado de grampos – isso tudo começou algumas semanas atrás, com o Supremo Presidente Gilmar Mendes e seu melhor amigo, Marcio Chaer, no “Consultor Jurídico” – clique aqui para ler sobre o grau de separação que aproxima Mendes de Chaer.

. Já refletia os temores de Dantas de ser preso.

. O objetivo era desmoralizar a Polícia Federal, para abortar a operação.

. Agora, o Ministro Genro, preocupadíssimo, vai investigar “o vazamento”.

. O que pode ser traduzido por: “Vamos pegar o Queiroz !”.

. O que o jornalista Bob Fernandes revelou no Terra Magazine é gravíssimo.

. A Polícia Federal queria proteger Dantas e boicotar o trabalho do delegado Protógenes Queiroz.

. Clique aqui para ler.

. Fernandes mostra como o chefe da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, conhecido como “homem do Dirceu”, tirou o apoio logístico de Queiroz e tentou depositá-lo no corredor, entregue às moscas.

. O mais grave, porém, das denúncias de Fernandes é a possibilidade de o diretor de Inteligência da PF, o delegado Lorenz, ter sido o responsável pelo vazamento de uma reportagem na Folha (da Tarde*), que quase matou a operação e deu origem à batalha judicial de Dantas para se livrar da cadeia.

. Dantas correu à Justiça, porque deveria saber, de dentro da PF, que aquele vazamento era para detonar Queiroz e protegê-lo (Dantas).

. Veja o que diz Fernandes:

Queiroz começa a fingir que a operação faz água. Cede, aceita conversar com a repórter; Andréa Michael, da Folha de S.Paulo. Mas faz uma exigência aos superiores: quer a presença do diretor geral, Luiz Fernando Corrêa, e de Lorenz, o diretor de Inteligência.

Corrêa não vai, manda alguém da comunicação social. Lorenz, presente. Na conversa, o delegado Queiroz contorna, tergiversa, despista, e guarda tudo o que disse e o que não disse.
Sábado, 26 de Abril. Anunciado o acordo das teles, vem aí a BrOi. No caderno "Dinheiro", da Folha, em quase meia página a repórter Andréa Michael relata os contornos de uma operação a caminho, destinada a prender Daniel Dantas.

Domingo, 27 de Abril. A operação está morta.

. Eu conversei com o delegado Queiroz naquela manhã de sábado, assim que li a reportagem de Michael.

. Queiroz ainda não tinha lido a reportagem.

. Eu perguntei: de onde saiu isso ?, quem poderia ter vazado ?

. Queiroz respondeu: “eu sei”.

. E a conversa mudou de rumo.

. Queiroz. Michael e Fernandes sabem: só pode ser o terceiro da conversa: o diretor de Inteligência da PF.

. A mando de quem ?

. Onde estamos ?, caro leitor ?

. Avisar ao quadrilheiro que o camburão da Polícia está na esquina ?

. Sempre achei que o Dr. Paulo Lacerda teve que sair da Polícia Federal porque o Governo Lula sabia que ele ia atrás de Dantas.

. Luiz Fernando Corrêa, indicado por Lula e aceito por Genro, chegou a PF para desmontar a estrutura de Lacerda.

. É ele quem diz isso, como demonstra a reportagem de Fernandes.

. E, agora se vê, tentou dinamitar a investigação de Queiroz.

. Corrêa tem a reputação de ser “homem de Dirceu”.

. Dirceu trabalha para Dantas.

. Foi na administração já de Corrêa que a Polícia Federal considerou que foi um “crime de imprensa” (quá, quá, quá !!!) a “reportagem” que Dantas publicou na Veja com as contas secretas de Lula e Paulo Lacerda no exterior.

. No tempo de Paulo Lacerda, a Polícia Federal era uma Polícia Republicana.

. Hoje, lembra muito a Polícia dos bons tempos do Farol de Alexandria.

. Uma Polícia a serviço dos interesses do Planalto.

. A Polícia Federal de FHC detonou Roseana Sarney, para ajudar a candidatura Serra e culminou com um fax que o agente mandou ao Palácio da Alvorada, diretamente a FHC: “missão cumprida”.

. Clique aqui para ler o que o Conversa Afiada publicou sobre o assunto, a partir do livro de Saulo Ramos. Note-se que nem o Farol nem o presidente eleito José Serra processaram Saulo Ramos.

. (Nos bons tempos do Farol de Alexandria, quando Marcelo Itagiba era Superintendente da Polícia Federal no Rio, sumiram com o delegado Deuler Rocha, que investigava umas falcatruas de Dantas. Rocha foi para Cacha-Prego.

. A remoção de Rocha fez parte do pacote que Dantas negociou diretamente com Fernando Henrique Cardoso, num almoço histórico.

. Os outros pratos servidos no cardápio foram: a destituição de uma diretoria da Previ hostil a Dantas, e a nomeação do ex-sócio de Dantas, Luiz Cantidiano, para presidente da CVM – aquele que deveria “vigiar” Dantas. )

. Lula, Genro e Corrêa morrem de medo do disco rígido.

. E, por isso, se puderem, vão sacrificar Queiroz no altar dos mártires da pátria.

(*) Já estava na hora de a Folha tirar os cães de guarda do armário e confessar, como fez a Folha, que foi “Cão de Guarda” do regime militar. Instigado pelo Azenha – clique aqui para ir ao Viomundo – acabei de ler o excelente livro “Cães de Guarda – jornalistas e censores do AI-5 à Constituição de 1989”, de Beatriz Kushnir, Boitempo Editorial, que trata das relações especiais da Folha (e a Folha da Tarde) com a repressão dos anos militares. Octavio Frias Filho, publisher da Folha (da Tarde), não quis dar entrevista a Kushnir.

Em tempo: O Conversa Afiada pediu às assessorias de imprensa do delegado Luiz Fernando Corrrêa e do Ministro Tarso Genro para que encaminhassem ao Ministro e ao delegado as seguintes perguntas:

. O Delegado Queiroz corre o risco de ser afastado da investigação sobre Dantas e ser mandado para a Ilha do Diabo ?

. O senhor confirma a informação de Bob Fernandes, no Terra Magazine, de que o Delegado Luiz Fernando Corrêa tentou retirar o apoio logístico do delegado Queiroz ?

. O senhor confirma a informação de Bob Fernandes de que foi o Delegado Lorenz quem vazou a informação para a repórter Andréa Michael da Folha de São Paulo com o objetivo de abortar a operação e detonar o delegado Queiroz ?

O Conversa Afiada enviou os e-mails para a assessora de imprensa do Ministro Tarso Genro, Vera Spolidoro, e aos assessores de imprensa do Dr. Luiz Fernando Corrêa, Fagner e Flávia Diniz.

Paulo Henrique Amorim - Máximas e Mínimas 1259

Conversa Afiada - 10/07/08
. O Conversa Afiada apurou que Daniel Dantas sabia, de dentro da Polícia Federal, que ia ser preso.
. Sabia também, de dentro da Polícia Federal, que Naji Nahas ia ser preso.
. Ou seja, a Polícia Federal está bichada.
. No dia 25 de abril de 2008, num diálogo com Humberto Braz, o famoso e todo poderoso Guga, Daniel Dantas comenta que sabia de sua iminente prisão.
. Isso foi ANTES da reportagem na Folha, de Andréa Michael, que descrevia uma parte da operação.
. Nesse 25 de abril, Dantas comentou com Braz que a investigação tinha sido fruto de grampo telefônico e de quebra de e–mails.
. Dantas estranhou: ele não usa e-mail.
. Dantas também sabia que o tiro que a Polícia Federal pretendia dar seria por conta de “evasão de divisas”.
. Mas, Dantas estranha de novo: nunca pegaram o Nahas por conta disso.
. Guga (Humberto Braz) conta a Dantas que conversou com Luiz Eduardo Greenhalgh para pedir socorro.
. E há um momento dramático nesse diálogo a que o Conversa Afiada teve acesso: é quando Dantas e Braz avaliam se o delegado Protógenes Queiroz pode ser subornado.
. Dá ?
. É difícil.
. Ele toparia ?
. Acho difícil.
. Já tentamos, mas não foi em frente.
. Vamos tentar por outro caminho .... e coisas do gênero.
. Como já se sabe, foi esse ilustre Braz quem “subornou” o delegado Vitor Hugo.
Em tempo: Por que Dantas não fugiu para não ser preso? Porque confiou demais no seu poder de corromper.

A privatização do espaço público. Bairros viram condomínios em SP

Instituto Humanitas Unisinos - 10/07/08

Associações de moradores “privatizaram” pelo menos 45 áreas em 7 municípios da região metropolitana. A reportagem é de Rodrigo Brancatelli para o jornal O Estado de S.Paulo, 10-07-2008.

Ana Albanese, de 56 anos, não sabe precisar quando foi que o "seu" bairro da Granja Carneiro Viana, em Cotia, Região Metropolitana de São Paulo, passou a ser o "bairro deles". Se foi quando armaram uma portaria com cancela automática para restringir o acesso de outros moradores da cidade, quando muros foram erguidos nas cercanias, quando o carteiro foi proibido de entrar nas ruas do bairro ou quando passaram a cobrar R$ 400 mensais pela segurança e pela limpeza da região.

A certeza, porém, de que o seu antigo bairro havia se transformado em um condomínio particular - à revelia do poder público e da vontade de todos os vizinhos - veio quando sua casa de 200 metros quadrados foi penhorada pela Justiça.

"Eu me recusei a pagar para quem se autodenominou dono do bairro e agora estou tendo de lutar judicialmente para continuar morando ali", diz ela, que estaria devendo quase R$ 57 mil por inadimplência do suposto condomínio.

A situação de Ana Albanese está longe de ser exceção. Segundo levantamento do Estado, em cidades como Cotia, Carapicuíba, São José dos Campos, Vargem Grande Paulista, Valinhos, Mairinque e Caraguatatuba, há pelo menos 45 casos flagrantes de privatização do espaço público. São bairros e loteamentos que já existiam na divisão dos municípios, mas viraram condomínios particulares por pressão de associações dos moradores.

Os vizinhos que não concordam com o pagamento da taxa de mensalidade (revertida para fins que vão da contratação de segurança privada até construção de pistas de skate e quadras poliesportivas) são cobrados na Justiça e correm o risco até de perder suas casas.

O fechamento de um loteamento e a cobrança obrigatória de mensalidade é proibida pela Lei Federal 6.766/79, mas muitas prefeituras concedem a autorização pelo simples fato de que um condomínio fechado desonera a folha municipal de pagamentos. Cotia é o melhor exemplo - em 1994, foi aprovada uma lei que permite a instalação dos chamados bolsões residenciais, áreas protegidas do trânsito pesado e do comércio local, que deveriam ser requeridos por uma associação de moradores do bairro. Passados 14 anos da determinação e com um número cada vez maior de bairros virando condomínios, o que se vê em Cotia é o uso indiscriminado da opção de bolsões para cobranças contra proprietários. Mesmo não sendo sócios das associações, muitos passaram a receber cobranças.

No Fórum de Cotia e no de Vargem Grande, há 4 mil manifestações sobre processos movidos por inadimplência de supostos condomínios. Das 150 casas que existem na Granja Carneiro Viana, 65 estão sendo cobradas judicialmente pela associação de moradores. "Eles contrataram uma empresa de administração de condomínio e ergueram muros", diz Ana. "Simplesmente se apoderaram do meu bairro."

Nordeste ultrapassa Sul em consumo residencial de energia elétrica

Instituto Humanitas Unisinos - 10/07/08

A Região Nordeste ultrapassou pela primeira vez na história o consumo residencial de energia elétrica da Região Sul. A constatação é do estudo Consumo Residencial de Energia Elétrica na Região Nordeste, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A reportagem é da Agência Brasil, 09-07-2008.

Os dados do estudo indicam que, em 2004, apesar de o Nordeste concentrar 28% da população brasileira, o consumo residencial de energia elétrica da região, que detinha menos de 13% da renda nacional, equivalia a apenas 16% do consumo residencial de eletricidade no país. A Região Sul, com pouco menos de 15% da população e 17% da renda bruta do país, respondia por quase 18% da demanda por energia elétrica nas residências.

Para o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, a reversão desse quadro tem um simbolismo muito importante e reflete uma forte redução da desigualdade no país. Segundo ele, tal redução pode ser comprovada também pelo fato de que o percentual de residências nordestinas atendidas pela rede elétrica está dentro da média brasileira.

“Dois fatores explicam o que aconteceu: de um lado, o aumento da renda das famílias no Nordeste e, de outro, o aumento do número de ligações”, afirmou. De acordo com Tolmasquim, o aumento da renda está ligado tanto ao aumento do salário mínimo, que tem um peso muito grande no Nordeste, quanto aos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

Quanto ao aumento no número de residências ligadas à rede básica, Tolmasquim disse que tem influencia direta, principalmente, do Programa Luz para Todos, que aumentou muito o número de ligações na Região Nordeste.

A mudança desse quadro, que começou a se configurar em dezembro de 2007, foi consolidada neste ano. Os dados divulgados pela EPE constatam que, nos 12 meses encerrados em maio último, o consumo residencial de eletricidade no Nordeste foi de 15,4 gigawatts/hora (GWh), enquanto na Região Sul se fixou em 15 mil GWh.

“A diferença é pequena, porém sustentável. Ela é estrutural e chegou para ficar”, afirmou Tolmasquim. “Há seis meses vem se verificando tendência crescente na diferença entre o consumo dessas duas regiões, o que demonstra que a ultrapassagem do Sul pelo Nordeste no consumo residencial de energia elétrica não é episódica”, concluiu.

Persistem problemas sociais históricos no Brasil

Instituto Humanitas Unisinos - 10/07/08

Ainda que o Brasil recente tenha dado passos significativos em termos econômicos e sociais, “a estrutura fundiária ainda guarda alguma relação com 1850: os novos-ricos da financeirização se integram no neoagrarismo pouco produtivo”. A afirmação é de Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas. Segue a íntegra do seu artigo publicado no jornal Valor, 10-07-2008.

O movimento republicano do final do Século XIX constituiu-se travestido na vontade de transformar profundamente o Brasil arcaico. Para isso trouxe consigo as sementes reformistas que se orientavam à alteração profunda da estrutura socioeconômica nacional herdada do antigo Império.

Na visão de Rui Barbosa, por exemplo, a superação do agrarismo anacrônico de então deveria ser acompanhada da desfeudalização da propriedade. Assim, a alteração da estrutura fundiária pressuporia a difusão de inúmeros produtores rurais, capaz de conformar uma nova e ampla base social necessária à sustentação da nova política republicana.

Da mesma forma, Joaquim Nabuco defendia ardentemente a realização de reformas coincidentes com a própria abolição da escravatura, o que permitiria a construção de uma nova e moderna ordem social no Brasil. Seu objetivo principal era a reorganização das bases de valorização do trabalho nacional necessário à consolidação da civilização brasileira assentada na ascensão dos miseráveis e ex-escravos à condição de operários no país democrático e industrial.

Por fim, em conformidade com Manuel Bonfim, o Brasil republicano deveria passar pela implementação de uma profunda reforma tributária, compatível com o fim da iniqüidade que fazia com que os pobres e os desfavorecidos concorressem com maior parte das rendas públicas arrecadadas. Uma democracia dificilmente seria plena sem a adoção majoritária do imposto progressivo ao recurso de cada contribuinte, bem como sem o seu emprego no custeio dos serviços públicos de interesse geral.

Neste começo do Século XXI, o Brasil diferencia-se muito daquele do final do Século XIX. Abandonou o primitivismo da estratificação social - que assegurava somente 10% da população alfabetizada e menos de 5% da população adulta participante do processo eleitoral -, bem como se situa entre as 10 maiores economias do mundo, com modernos setores produtivos identificados pelo agronegócio, petróleo, aviação, siderurgia, entre outros.

A despeito disso, a estrutura fundiária ainda guarda alguma relação como o elevado grau de concentração já expresso em 1850, quando da introdução da Lei das Terras. Com o atual avanço da internacionalização das terras, o Brasil parece redescobrir o seu passado, permitindo integrar novos ricos da financeirização em ascensão com o neoagrarismo pouco produtivo.

Também em relação ao processo de integração social percebe-se a distância que continua a separar a população branca, seja pela significativa diferenciação salarial, ocupacional, de bem-estar especialmente, do segmento não-branco. À margem da reforma social perseguida ainda no Século XIX, o Brasil do início do Século XXI não consegue construir plenamente uma ordem social moderna. A estratificação social atual indica o quanto prepondera o peso de uma elite branca a desfrutar dos principais postos de direção e remuneração, após trajetória educacional dificilmente acessível aos não-brancos.

No plano tributário, os avanços se mostraram pouco efetivos, sobretudo quando se considera que no país o imposto continua a ser cobrado proporcionalmente mais dos pobres. Em 1907, por exemplo, quase três quartos do total da arrecadação provinha dos tributos indiretos, que recaem proporcionalmente mais sobre a população de baixa renda. No Brasil do início do século XXI, o pobre continua a pagar quase 50% a mais de impostos que os ricos, uma vez que dois terços da arrecadação continua a derivar da tributação indireta.

Em 2006, por exemplo, os 10% mais pobres do país, com rendimento médio mensal de R$ 73, pagaram na forma de tributos quase 33% do total da renda. Já os 10% mais ricos do país, com renda média de quase R$ 4 mil mensais, contribuíram com menos de 23% do rendimento total com o sistema tributário.

Por conta disso, estima-se que a desigualdade entre o rendimento médio bruto dos 10% mais ricos e o dos 10% mais pobres chegou a 54 vezes em 2006. Já a desigualdade entre o rendimento médio líquido (após o efeito da tributação) dos 10% mais ricos e o dos 10% mais pobres alcançou a 80,5 vezes. No mesmo ano, o aumento da desigualdade entre os rendimentos médios (bruto e líquido) nos extremos da distribuição pessoal da renda no Brasil foi de 49,1%, o que indica o avanço do papel regressivo do sistema tributário nacional. Isso se torna ainda mais evidente quando se compara a evolução do grau de desigualdade entre o rendimento médio bruto e líquido dos 10% mais ricos e o dos 10% mais pobres ao longo dos anos. No ano de 1996, por exemplo, a desigualdade entre os rendimentos médios brutos dos dois decis extremos foi de 40,5 vezes (rendimento médio bruto) e de 42,9 vezes (rendimento médio líquido).

O aumento na desigualdade de renda ocasionada pelo sistema tributário no Brasil tem forte impulso a partir da elevação da carga tributária desde a década de 1990. A prevalência da iniqüidade no interior do sistema tributário pode ser alterada profundamente pelo Congresso Nacional. Essa oportunidade permitiria romper com a inércia secular que move a orientação tributária: cobrar mais de quem menos tem.

A grande oportunidade de Dantas surgiu no governo FHC

Instituto Humanitas Unisinos - 10/07/08

Em uma década e meia, o banqueiro baiano Daniel Dantas ergueu um império que, só no ramo das telecomunicações, chega a R$ 17 bilhões. Para tal obra, usou como argamassa capital de parceiros, além de uma vasta rede de conexões políticas tecida ao longo de três governos (Collor, FHC, Lula) e a despeito de cores partidárias. Seus primeiros passos na trilha do poder político foram dados no antigo PFL, hoje DEM. A reportagem é de Cláudio Dantas Sequeira no jornal Folha de S.Paulo, 10-07-2008.

Aproximou-se do falecido senador Antonio Carlos Magalhães, por indicação de Mário Henrique Simonsen, de quem foi aluno. Chegou a conselheiro do partido e teve o nome cotado para assumir o Ministério da Fazenda durante o governo Fernando Collor. Foi sócio do publicitário Nizan Guanaes na agência de publicidade DM9 e fez doutorado no Massachusets Institute of Technology, nos EUA.

Mas a grande oportunidade de Dantas surgiu no governo Fernando Henrique Cardoso. Estimulado pelos tucanos a entrar no processo de privatizações do sistema Telebrás, ele criou o Opportunity Fund. Chamou para sócios a irmã Verônica Dantas - também detida pela PF - e o economista Pérsio Arida, que foi presidente do BNDES (1993-95) e do Banco Central (1995).

A ex-mulher de Arida, Elena Landau, ocupou a diretoria de privatização do BNDES durante o programa de desestatização. Em maio de 2002, Dantas jantava com Fernando Henrique Cardoso no Palácio Alvorada, num episódio que escancarou o trânsito do banqueiro com o poder federal.

Houve um outro momento parecido em 2006, quando Dantas se encontrou com o então ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça). A reunião ocorreu na casa do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), com a presença dos deputados Sigmaringa Seixas (DF) e José Eduardo Cardozo (SP).

O tema da conversa com Bastos foi a suposta existência de um dossiê contra a cúpula petista e o presidente Lula. Dantas reagia às pressões dos fundos de pensão (Petros, Previ e Funcef) para retirar o Opportunity do controle da Brasil Telecom. O banqueiro foi acusado de gestão fraudulenta e virou algo das investigações da CPI dos Correios.

A CPI revelaria que Telemig Celular e Amazônia Celular, ambas controladas por Dantas, financiaram o esquema do mensalão, através das empresas DNA Propaganda e SMPB Comunicação, pertencentes a Marcos Valério.

Valério, por sua vez, mantinha laços com o tesoureiro de Lula, Delúbio Soares, que até o mensalão tinha livre acesso ao Palácio do Planalto. Dantas buscou se aproximar de José Dirceu (Casa Civil), algo que o ex-ministro nega. Mas sabe-se que o banqueiro pagou R$ 8,5 milhões ao advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, amigo de Dirceu.

Dantas também pagou, por meio da Brasil Telecom, R$ 1 milhão em honorários advocatícios a Roberto Teixeira, compadre de Lula. E, sabe-se, também contratou os serviços de Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado e petista histórico.

quarta-feira, julho 09, 2008

Informação

A partir de hoje postarei as notícias pelo título, colocando a fonte no início da reportagem. Acho que assim torna mais fácil a localização e seleção das notícias a serem lidas.

Irã testa míssil que pode alcançar Israel

BBC Brasil - 09/07/08
teste de míssil no deserto
Míssil Shahab-3 alcança distância de 2 mil quilômetros
O Irã testou nesta quarta-feira uma nova versão do míssil de longo alcance Shahab-3, que tem capacidade para atingir Israel, afirmou a mídia estatal iraniana.

O míssil, que pode alcançar uma distância de dois mil quilômetros, foi um entre nove - entre mísseis de curto e médio alcance - a serem lançados em um local remoto no deserto.

O comandante da Força Aérea da Guarda Revolucionária Iraniana, Brig-Gen Hoseyn Salami, disse que o país está “pronto para defender a integridade da nação iraniana”.

“Nossos mísseis estão prontos para serem disparados de qualquer lugar a qualquer momento, com rapidez e precisão”, acrescentou Salami.

“O inimigo não deve repetir seus erros. Os alvos do inimigo estão sendo vigiados."

Alerta

Segundo o correspondente da BBC em Teerã, Jon Leyne, a experiência é um claro alerta do Irã.

“É uma resposta evidente a um exercício militar efetuado recentemente por Israel e que foi considerado como um ensaio para um possível ataque contra as instalações nucleares iranianas”, disse o correspondente.

Os testes acontecem um dia depois que o governo dos Estados Unidos impôs novas sanções financeiras a várias companhias e indivíduos iranianos, suspeitos de envolvimento com o programa nuclear do país.

Entre os afetados pelas sanções estão um cientista do ministério da Defesa iraniano, Mohsen Fakhrizadeh-Mahabadi, e três empresas que estariam associadas à indústria de armas.

Ainda na terça-feira, um alto clérigo iraniano disse que, caso o Irã seja atacado por causa de seu programa nuclear, o país vai retaliar com um ataque a Israel e a navios americanos no Golfo Pérsico.

"O primeiro tiro americano no Irã daria início a um incêndio em interesses vitais dos Estados Unidos no mundo", disse o clérigo Ali Shirazi, que é ligado ao aiatolá Ali Khamenei, o mais importante líder religioso do Irã.

Outros comandantes iranianos já ameaçaram fechar o estreito de Hormuz, por onde escoa grande parte do petróleo que abastece vários países.

Autoridades iranianas ainda disseram estar dispostas a atacar os Estados Unidos e seus aliados em todo o mundo caso o Irã seja alvo de incursões.

Os Estados Unidos e outras nações ocidentais acusam o Irã de usar seu programa nuclear como fachada para a fabricação de armas, mas o governo iraniano rejeita as acusações, dizendo que o programa tem fins pacíficos.

Sucata pós-moderna

Pesquisadores e ambientalistas discutem impacto do lixo eletrônico em encontro nacional - Henrique Kugler - Especial para CH On-line / PR - 30/06/2008

À já extensa lista de problemas ambientais que enfrentamos adiciona-se um novo item: o lixo eletrônico. Ignorado pela maioria dos consumidores, o destino final de aparelhos como computadores, telefones celulares e televisores representa grave ameaça à saúde do planeta, pois eles contêm elementos químicos tóxicos em seus componentes.

O descarte desse material, que preocupa ambientalistas de várias partes do mundo, foi um dos temas centrais do I Encontro Nacional de Reciclagem, realizado em Curitiba em 12 e 13 de junho. Organizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o evento reuniu ambientalistas e pesquisadores de várias áreas, vindos de todo o país.

O químico Júlio Carlos Afonso, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abordou no encontro os desafios do lixo eletrônico. Na opinião de Afonso, o lixo eletrônico é mais um produto da moderna sociedade de consumo, que se firma sobre um modelo totalmente insustentável. Aparelhos de telefone, produtos de informática, eletrodomésticos, equipamentos médico-hospitalares e até brinquedos são alguns dos novos vilões do meio ambiente. Dentro de um computador, podemos encontrar quase uma tabela periódica inteira, segundo o químico.

A reciclagem desse material pode ser vista de duas maneiras: uma boa, outra ruim. A boa é que muitos aparelhos têm grande potencial para reciclagem, devido à presença de metais preciosos em alguns circuitos eletrônicos. A ruim é que esse potencial raramente é explorado, uma vez que reciclar lixo eletrônico é um desafio. “Quanto mais complexa é a formulação de um material, mais difícil é a sua reciclagem”, diz Afonso.

Reaproveitar papel, plástico ou alumínio é fácil. Mas reciclar lixo eletrônico é um problema ainda sem solução. “O grande desafio é separar os metais nobres – como ouro, prata e cobre – dos elementos tóxicos, como mercúrio e cádmio”, disse o químico da UFRJ. Para cada tonelada de computadores, recupera-se mais ouro do que em 15 toneladas de minério bruto beneficiado para extração do metal.

Outro problema que vem tirando o sono dos ambientalistas é a implantação dos novos televisores de plasma e LCD. “Com o crescente número desses aparelhos no mercado”, prevê Afonso, “teremos milhões de televisores antigos, feitos com tubos de raios catódicos, indo para o lixo”. Cada um deles contém de três a quatro quilos de chumbo, e só pouco mais de 10% dos municípios brasileiros possuem aterros sanitários licenciados.

Números

Em lixões do Terceiro Mundo, como na Nigéria, o material é incinerado, liberando gases tóxicos e outras substâncias nocivas ao solo e ao homem.

Os números impressionam. “O volume de lixo eletrônico no mundo cresce três vezes mais que o lixo urbano convencional”, disse Afonso. Segundo a Environmental Protection Agency – a Agência de Proteção Ambiental norte-americana, encarregada de proteger a saúde humana e o meio ambiente –, cerca de 150 mil TVs e computadores são descartados diariamente nos Estados Unidos. Até 2010, teremos 600 milhões de computadores obsoletos só na América. Considerando o resto do mundo, esse número pode ultrapassar um bilhão.


Onde isso tudo vai parar? “Não sabemos e nem temos ainda leis eficientes que dêem conta do problema”, disse Afonso. No Brasil, alguns estados começam a manifestar preocupação com o tema. No Paraná, por exemplo, já se discute uma medida que prevê a devolução do lixo eletrônico a seus fabricantes.

O primeiro grande impacto do lixo eletrônico não é o descarte dos aparelhos. A ameaça ambiental origina-se muito antes, na extração dos insumos necessários à sua fabricação. “É um lixo duplamente nocivo ao ambiente, pois causa problemas tanto ao ser descartado quanto ao ser produzido”, afirmou o químico.

Para a fabricação de um único computador, são necessárias duas toneladas de insumos. Recursos como água, combustíveis e outras matérias-primas resultam em uma conta astronômica, que dificilmente é objeto de reflexão por parte dos consumidores. Ao fabricar uma geladeira, por exemplo, a massa de matéria-prima utilizada é quase o dobro da massa do produto final. Aplicando-se o raciocínio aos produtos de informática, essa conta é ainda maior.

Problema social

Muitas vezes o lixo eletrônico é abandonado em depósitos a céu aberto, tornado-se potencialmente perigoso para crianças que brincam em áreas de descarte.

O lixo eletrônico não é apenas um problema ambiental. Os maiores depósitos do planeta estão no Terceiro Mundo. África, Índia, Paquistão, Indonésia e principalmente a China são os mais prejudicados. Países centrais, especialmente os Estados Unidos, enviam boa parte de seu lixo eletrônico para países emergentes. “Três quartos desse material não passam de sucata”, conta Afonso. “Quase sempre são aparelhos com defeito ou estragados.”


Os aparelhos vão para lixões a céu aberto, onde geralmente são incinerados, liberando dioxinas e gases tóxicos na atmosfera. Metais como chumbo e mercúrio oxidam-se e, transformados em poeira, são levados pelo vento. Uma vez queimado, esse material torna-se mais reativo, podendo ser dissolvido na água e absorvido pelo solo, contaminando assim o lençol freático.

Nas montanhas de sucata eletrônica brincam crianças, que freqüentemente se cortam com materiais pontiagudos. Afonso contou que certa vez, na África, um menino chutou um tubo de televisão, que explodiu e deformou metade de seu rosto. Como é comum, em países pobres, crianças andarem descalças sobre materiais tóxicos, o lixo eletrônico torna-se também uma questão de relevância social.

“Resolver esse problema transcende as barreiras científicas”, na óptica do pesquisador da UFRJ. Para ele, é sobretudo uma questão de educação ambiental. “Temos direito de consumir produtos que facilitem nossa vida cotidiana e é desejável que novas tecnologias sejam acessíveis a todos”, disse. Mas o problema, segundo ele, é a velocidade com que o fenômeno da obsolescência vem ocorrendo. “A sociedade se tornou vítima do consumo compulsivo, irresponsável e sem controle, alimentado pela última palavra da tecnologia e insustentável do ponto de vista ambiental.”

Muito mais que um tempero

Tomilho cultivado no Brasil tem alta concentração de substância antibacteriana, mostra estudo - Guilherme de Souza - Especial para a Ciência Hoje On-line / PR - 08/07/2008

Uma espécie de tomilho cultivada no Brasil e amplamente usada como tempero tem alta concentração de uma substância antibacteriana chamada timol, presente em todas as plantas do gênero. Essa característica aumenta o valor comercial do óleo essencial extraído dessa espécie de tomilho, que pode representar uma fonte de renda promissora para os agricultores brasileiros.

As plantas do gênero Thymus, popularmente conhecidas como tomilhos, são usadas com inúmeras finalidades, desde a culinária até a medicina fitoterápica. Os romanos da Antigüidade, por exemplo, banhavam-se com chá de tomilho antes das batalhas, porque acreditavam que isso lhes daria coragem. Atualmente, três espécies do gênero são usadas como tempero, entre elas a Thymus vulgaris, cultivada no Paraná e no interior de São Paulo e comercializada no mercado brasileiro.

Exemplar de Thymus vulgaris, espécie de tomilho cultivada no Brasil. De suas folhas é possível extrair óleo essencial rico em uma substância anti-séptica chamada timol (foto: Cristina Dabague).

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Paraná (UFPR) constatou que o óleo essencial extraído das folhas de T. vulgaris de cultivos paranaenses tem de 50% a 57% de timol, o que caracteriza sua boa qualidade, quando comparado a óleos analisados em países europeus. Estudos com outras espécies de tomilho revelaram concentrações de timol que variam de 13% a 58%.

“Em termos de qualidade, o óleo essencial de tomilho do Paraná não fica abaixo de nenhum outro”, destaca a tecnóloga de alimentos Elizabete Jakiemiu, que desenvolveu a pesquisa em seu mestrado no Departamento de Engenharia Química da UFPR.

Segundo a pesquisadora, a alta concentração de timol encontrada pode ser atribuída em parte à qualidade do solo e do clima paranaenses. As plantas cultivadas no Paraná também tiveram bom rendimento na extração de óleo essencial: 1,8%, enquanto as especificações internacionais apontam um mínimo de 1,2%.

Apesar dos bons resultados, muitos agricultores desconhecem o potencial do tomilho. “Como o uso da planta ainda é limitado no país, ela é pouco cultivada”, ressalva Jakiemiu.

Da culinária à medicina
No Brasil, o tomilho é vendido seco para ser usado diretamente na comida, assim com outros temperos. Da planta também é possível extrair seu óleo essencial, rico em timol, muito usado em anti-sépticos bucais e pastilhas para dor de garganta. Porém, é mais comum as indústrias brasileiras utilizarem timol extraído de outras fontes, pois boa parte do tomilho cultivado no país é comercializado como tempero.

Em outros países, como a França, o óleo essencial de tomilho é usado como aromatizante na culinária, sendo aplicado em pequenas doses (pouco menos de uma gota) no alimento. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não regulamentou o uso do produto no preparo de alimentos, pois não existem estudos no país sobre seus possíveis efeitos tóxicos. O óleo também é usado no exterior na fabricação de perfumes, devido ao seu aroma forte e marcante.

A produção de óleo essencial de tomilho no país poderia elevar a renda dos agricultores brasileiros, já que o preço do produto seria bem maior que o da planta seca. “Se houver um aumento na produção e uma parceria entre produtores e laboratórios, os ganhos serão consideráveis”, aponta Jakiemiu.

A pesquisadora sugere que sejam criadas usinas, na forma de cooperativas ou de associações, para extrair o óleo essencial de tomilho, cuja matéria-prima seria fornecida pelos agricultores. Ela explica que o óleo deve ser rapidamente armazenado, pois é facilmente oxidado pela ação da luz e do calor, o que provoca a perda de alguns de seus componentes, inclusive o timol. “Uma extração eficiente diminui o tempo de exposição do óleo à luz”, afirma.

Segundo Jakiemiu, o óleo essencial de tomilho nacional poderia ser comercializado para indústrias brasileiras para a produção de fármacos e perfumes e, no futuro, ser usado como aromatizante culinário. “Acredito que o mercado internacional também receberia muito bem o produto brasileiro, já que não é possível cultivar tomilho em qualquer tipo de clima.”

‘Salvar bancos não pode ser mais importante que salvar vidas’

Instituto Humanitas Unisinos - 09/07/08

Charles Abani parece bastante cansado. Uma vez mais, os países ricos vão romper as promessas de ajuda que fizeram à África. “Se os membros do G-8 conseguiram juntar, nos últimos seis meses, um bilhão de dólares para salvar os seus bancos da falência, como é possível que não consigam cumprir sua promessa de aumentar a ajuda à África para 50 bilhões de dólares a partir de 2010?”, se pergunta Abani, diretor regional da Oxfam para a África e representante da coalizão de centenas de Ongs e centros de estudos chamada Ação Global contra a Pobreza. E acrescenta: “Salvar bancos não pode ser mais importante que salvar vidas, isto está claro para mim”. A matéria é do El País, 8-07-2008. A tradução é do Cepat.

“Para a África é muito importante que se cumpram os compromissos assumidos em 2005 em Gleneagles. Se não se aumentar a ajuda, a África retrocederá décadas. Nossos Governos não têm outro remédio que gastar o dinheiro em alimentação em detrimento da educação ou da saúde. Não há suficiente para tudo. Sessenta e dois milhões de crianças deixarão de ir à escola nos países pobres. Já não se pode esperar mais, a crise está aí e o que no papel são números e projeções, nas ruas e nos campos africanos é a pior das realidades”, acrescenta. Conforme fala, esse corpulento nigeriano que não chega a ter 50 anos, endurece o discurso.

Abani tem um retrospecto de muitas reuniões e poucas alegrias. “Seria ao menos satisfatório que nesta reunião se estabelecesse um método de contabilidade para saber que dinheiro é novo em ajudas e qual é na realidade dinheiro prometido para uma coisa, mas que é destinado para outra”, opina. “Não se trata só de vir aqui para dar dinheiro”, disse Abani, “mas também que nos dêem a oportunidade de criar emprego e bem-estar. Um bom resultado desta reunião também seria uma abertura do comércio mundial para os produtos africanos ou, melhor dito, o fim das subvenções que os países ricos dão aos seus agricultores e que tanto distorcem o sistema internacional de transações comerciais”, acrescenta.

Abani é contrário aos biocombustíveis: “Os países ricos não podem queimar os alimentos enquanto os pobres morrem de fome. Sua produção está agravando a crise”.

O G-8 dá as costas à África

Instituto Humanitas Unisinos - 09/07/08

Os países ricos evitam o compromisso de dobrar as ajudas a partir de 2010 e não há prazos para desembolsar os fundos prometidos contra as pandemias. Segue a íntegra de reportagem de Fernando Gualdoni publicada no El País, 8-07-2008. A tradução é do Cepat.

A África sai da reunião do G-8 de mãos vazias. Os sete presidentes do continente que se reuniram com os dirigentes dos países mais ricos não conseguiram arrancar desses a confirmação de que dobrarão as ajudas a partir de 2010 ou que lhes darão num prazo concreto dezenas de bilhões para combater a aids, a malária e a tuberculose. As duas eram promessas que o G-8 já havia assumido em reuniões anteriores, e que agora apenas restava dar os retoques finais. Salvo que se produza um milagre na declaração final de amanhã [hoje], a África terá que continuar a tomar os recursos do jeito que puder.

“Alguns dos dirigentes africanos só quiseram enfatizar que apreciam as promessas do G-8 para ajudar os seus países, mas que ao mesmo tempo gostariam de ver que esses compromissos fossem cumpridos”, declarou o porta-voz das Relações Exteriores do Japão, Kazuo Kodama. “Também não gostariam que houvesse um retrocesso”, acrescentou.

A foto de família entre os membros do G-8 e os presidentes da Nigéria, África do Sul, Gana, Tanzânia, Etiópia, Senegal e Argélia foi feita antes da reunião em Toyako (Japão), como se tratasse de uma tática para evitar as caras feias para a posteridade.

Em plena escalada dos preços dos alimentos e do petróleo, a falta de concretude por parte do G-8 não podia ser pior. A grande maioria dos países africanos é deficitária em energia, e para comer dependem em boa medida do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas. Um programa que, além disso, também ele necessita de uma injeção de fundos de cerca de 750 milhões de dólares urgentemente para continuar alimentando a mais de 73 milhões de pessoas em todo o mundo.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, se comprometeu [ante]ontem a investir um bilhão de euros até final de 2009 para impulsionar a agricultura africana, e o Japão já se havia comprometido antes da reunião em dobrar seus desembolsos para o continente a partir de 2013. Entretanto, tudo isso é muito pouco se levarmos em conta que o Banco Mundial calculou que com menos de 6,5 bilhões de euros, a África sofrerá o indizível.

Uma resposta concreta do G-8 às promessas feitas aos países africanos teria sido de grande alívio. Na reunião de Gleneagles, em 2005, na Escócia, as potências se comprometeram a dobrar suas ajudas a partir de 2010. Estas passariam de 25 bilhões para 50 bilhões de dólares anuais. Em troca, os Estados africanos se comprometiam a trabalhar pelo desenvolvimento de seus países, a fortalecer a democracia e acabar com a corrupção. Dois anos depois, na reunião de Heiligendamm, na Alemanha, prometeram entregar outros 60 bilhões para o combate de pandemias sem confirmar os prazos de entrega do dinheiro. Ontem, em Toyako, apenas teriam que confirmar o prometido na primeira reunião e fazer um calendário para o que ficou acertado na segunda.

O Comitê para o Progresso da África, que foi estabelecido depois da reunião escocesa e que é composto pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan e o cantor e ativista Bob Geldof, entre outros, concluiu num recente relatório que nenhuma das duas partes cumpriu inteiramente seus compromissos.

A assistência financeira que o G-8 prometeu está ao menos 40 bilhões de dólares aquém das necessidades. Pela parte africana, os conflitos de Darfur, República Democrática do Congo e Somália, além da falta de firmeza da União Africana contra o Zimbábue, demonstram que ainda resta muito a ser feito pelo continente.

A reunião de Toyako não é apenas simbólica porque se esperava confirmar o conjunto de medidas de assistência das Nações Unidas de 2000 para reduzir a pobreza em 2015.

Os chamados Objetivos do Milênio consistiam na drástica redução da pobreza e da fome, na diminuição da taxa de mortalidade infantil e das mortes causadas pela aids, malária e outras doenças; e na educação primária para todos. A crise derivada do aumento dos preços do petróleo e dos alimentos disparou os índices de pobreza em ao menos cerca de 30 países africanos.

América do Sul bate recorde em gastos com defesa

Instituto Humanitas Unisinos - 09/07/08

Em 2008, o aumento do gasto com defesa na América do Sul é de 25,5%. Trata-se de um aumento recorde nas últimas décadas. A previsão d gasto militar regional chegará assim a 50 bilhões de dólares, frente aos quase 40 milhões em 2007. Trata-se de uma tendência geral dos países sul-americanos. Os aumentos anuais mais baixos se dão nos casos da Argentina, com 18%, e do Uruguai, 4%. Segue reportagem de Rosendo Fraga publicada no jornal argentino Clarín, 8-7-2008. A tradução é do Cepat.

Logicamente, estas porcentagens dão apenas uma idéia geral, já que o reequipamento é um setor relevante do aumento em países como o Brasil e a Venezuela, ao passo que em outros, como a Argentina, o aumento se concentra mais no setor pessoal (salários e aposentadorias).

Quanto ao montante total de gasto sul-americano, algo mais da metade, 55% - 27,5 bilhões de dólares - corresponde ao Brasil, que por sua população, território e PIB é aproximadamente a metade dos 12 países da região. Na seqüência vem a Colômbia com 6,7 bilhões, cifra que se deve em grande parte ao combate das FARC, o terceiro é o Chile, com 5,3 bilhões país que conta ainda com fundos destinados ao reequipamento militar provenientes das exportações de cobre, e o quarto é a Venezuela, com 3,3 bilhões, país que dá ao setor militar prioridade política.

Outra leitura que se pode fazer é o impacto do gasto militar sobre o PIB. A Colômbia é o mais alto, dedicando 3,34%, Chile destina 2,91% que se eleva para 3,73% ao se incluir os fundos provenientes da Lei do Cobre. O Equador dedica 2,01%, Brasil 1,70%, Uruguai 1,56%, Paraguai e Bolívia 1,55% cada, Venezuela 1% e Argentina apenas 0,87%.

América Latina comparada com outras regiões do mundo

Mas a outra referência é a comparação com outras regiões do mundo: a América do Sul destina 1,74% de seu PIB ao gasto com defesa e essa porcentagem é a menor do mundo em termos regionais, abaixo dos países da OTAN (Estados Unidos, Canadá e Europa), Rússia e Ásia Central, Oriente Médio, Oriente Próxima e África.

Quanto ao montante, os 50 bilhões de dólares gastos em Defesa na região, equivalem a 9% do que os Estados Unidos destinam a este setor, o que é lógico dados os compromissos estratégicos da maior potência militar do mundo. Mas representa 81% do que a França gasta e 81% do Reino Unido e 82% do gasto militar da China. O gasto sul-americano em defesa é aproximadamente um quinto maior que os do Japão, Alemanha e Rússia, respectivamente.

Concluindo, ainda que o aumento do gasto militar da América do Sul seja recorde em 2008 em relação a 2007 com relação ao último quarto de século, este se inscreve numa tendência mundial na mesma direção, que pode ser acentuado por tensões dentro da região, mas continua sendo o mais baixo em termos de porcentagem do PIB com relação ao resto das regiões do mundo.

CCJ do Senado veta candidatos com 'ficha suja'

Instituto Humanitas Unisinos - 09/07/08

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou ontem a alteração da Lei de Inelegibilidades, a fim de proibir que candidatos com "ficha suja" disputem as eleições. A notícia é do jornal Folha de S.Paulo, 09-07-2008.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), chegou a anunciar que colocaria a proposta em plenário ainda hoje. Na reunião de líderes, porém, a idéia foi descartada. O projeto também terá que passar pela Câmara.

O texto aprovado na CCJ é resultado da junção de 21 projetos, apresentados nos últimos quatro anos. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) foi o responsável pela elaboração do parecer. O principal ponto do projeto determina que políticos condenados em primeira ou única instância judicial sejam impedidos de disputar eleições. Hoje, a lei prevê a necessidade da condenação em todas as instâncias.

"A sociedade não agüenta mais a situação atual. Por isso, precisamos tomar uma providência", disse Torres. A votação na CCJ foi simbólica e contou com a presença de apenas 8 de seus 23 integrantes. A comissão também aprovou o pedido de urgência para a apreciação do projeto pelo plenário da Casa.

Só a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), se manifestou contra a proposta. "Não sei como podemos aprovar uma matéria que se contrapõe à presunção da inocência", disse Ideli, que, não estava presente no momento da votação.

Greenhalgh atuava como lobista do grupo, afirma PF

Instituto Humanitas Unisinos - 09/07/08

Uma conversa telefônica entre o ex-deputado federal e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) e o chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, foi um dos motivos que levaram a Polícia Federal a pedir a prisão preventiva (de 30 dias) do advogado Luis Eduardo Greenhalgh. A justiça entretanto rejeitou o pedido de prisão. A notícia é do jornal Folha de S.Paulo, 09-07-2008.

No diálogo gravado com autorização da Justiça, Greenhalgh pede a ajuda de Carvalho para tentar localizar o procedimento investigatório em curso na Justiça Federal e na PF contra Dantas, seu cliente. O petista pergunta quem é o delegado responsável pelo caso e se Carvalho conhece detalhes da investigação. O chefe-de-gabinete se limita a dizer que irá se informar sobre o assunto.

Para o Ministério Público e a Polícia Federal, as escutas telefônicas, realizadas desde o início de 2007, revelam que Greenhalgh era "íntimo" do grupo ligado a Daniel Dantas e atuava em favor do banco Opportunity. Era chamado por integrantes da suposta quadrilha de "LEG", as iniciais do ex-deputado, ou de "Gomes".

O pedido de prisão do deputado e de busca e apreensão na residência dele foram rejeitados pelo juiz federal Fausto Martin de Sanctis. Segundo o delegado Protógenes Queiroz e o procurador Rodrigo De Grandis, o petista atuava como um braço político de Dantas, fazendo contatos com o governo federal e o Congresso Nacional.

"Sua atuação na suposta organização criminosa estaria aparentemente voltada à prática de lobby junto às altas autoridades do Poder Executivo e a empresas estatais, dentre elas, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social, BNDES", informou a Procuradoria ao juiz.

No relatório, a Procuradoria levanta a suspeita de que o ex-deputado do PT e Humberto Braz constituíam um grupo contratado por Dantas desde a negociação da Brasil Telecom, além de atuar outros negócios do banqueiro preso. Ontem, o procurador De Grandis não quis comentar se há autoridades com foro privilegiado, eventualmente citadas no inquérito, que possam ser alvo de novas investigações. A Folha apurou que novas investigações serão abertas para investigar autoridades com foro privilegiado. Os nomes dos novos suspeitos foram mantidos em sigilo.

As ligações de Dantas no poder da 'Era FHC' até Lula

As ligações de Dantas no poder da 'Era FHC' até Lula - Instituto Humanitas Unisinos 09/07/08

O banqueiro Daniel Dantas conseguiu se aproximar de ministros do governo petista e de integrantes da cúpula do PT. A reportagem é do jornalista Kennedy Alencar para o jornal Folha de S.Paulo, 09-07-2008.

Na campanha eleitoral de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva foi alertado pelo então coordenador de campanha e futuro ministro Luiz Gushiken de que o empresário fazia jogo pesado no mundo comercial e que tinha interesse em manter a influência sobre os fundos de pensão de estatais federais para vitaminar negócios privados.

No governo de Lula, houve uma divisão entre ministros em relação aos interesses de Dantas com os fundos de pensão. José Dirceu, então ministro da Casa Civil, e o diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolatto ficaram a favor do banqueiro. Gushiken contra.

No governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Dantas obteve apoio político do PSDB e do PFL (o atual DEM) para participar da privatização das teles. Há o episódio do jantar dele com FHC em junho de 2002. No dia seguinte, haveria troca do comando da Previ, como desejava o banqueiro.

Com Lula no poder, Dantas esbarrou em Gushiken e teria fracassado na busca de contato direto com o presidente. O banqueiro travava disputa com fundos de pensão pelo controle da Brasil Telecom. Para tentar furar o bloqueio, ele contratou dois advogados com pontes no governo. Antonio Carlos de Almeida Castro, amigo de Dirceu, e Roberto Teixeira, compadre de Lula. O banqueiro teve ainda apoio de Pizzolatto e do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.

Outro ministro de Lula, Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), teve histórico de relação de confiança com Dantas. Ele foi "trustee" da Brasil Telecom, ou seja, um representante legal dos interesses da empresa quando ainda era controlada pelo banqueiro, nos Estados Unidos.

O próprio Lula vetou o patrocínio da Brasil Telecom à Gamecorp, empresa da qual seu filho Fábio Luiz Lula da Silva é sócio. Auxiliares do presidente tratam como fantasiosos os rumores de que Dantas teria se associado a Fábio Luiz em um negócio agropecuário por meio de testas-de-ferro. Esses auxiliares citam conversas reservadas em que Lula teria xingado Dantas por atribuir ao banqueiro participação no mensalão e na divulgação de um dossiê falso apontando contas no exterior do presidente e de figuras do governo e do PT.

Em relação ao mensalão, Lula e os principais auxiliares teriam ciência de que Dantas abasteceu o esquema de Marcos Valério e Delúbio. O escândalo causou a maior crise política do governo Lula. Segundo relatos à Folha de auxiliares diretos, Lula teria dito que, se dependesse da vontade dele, Dantas seria preso. Ontem, a PF o colocou atrás das grades. Um ministro disse à Folha que o governo não teme nenhuma revelação de Dantas que possa prejudicar Lula.

O Palácio do Planalto também nega que, no segundo mandato, Dantas tenha conseguido favor do governo para se retirar da sociedade na Brasil Telecom, empresa comprada pela OI. Um ministro disse à Folha que Dantas cedeu a um acerto empresarial porque perdera a guerra política pelo comando da empresa. No entanto, como as partes dependiam de sua saída, Dantas teria tirado proveito de uma oportunidade comercial e política.