"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, junho 29, 2013

Irresponsabilidade Eleitoreira

A ausência da atuação policial para proteger o patrimônio público e privado dos vândalos que atuam nos diversos pontos do país começa a mostrar sinais sérios dessa estupidez.

Com vistas as eleições do próximo ano, prefeitos e governadores simplesmente determinaram às polícias que não atuassem de forma mais enérgica contra as depredaçoes, afinal de contas, ninguém que no ano anterior a eleição ser visto como “repressor” dos movimentos sociais.

Para termos uma ideia dos riscos que essa equivocada posição idiota dos nossos líderes pode vir a causar, vou citar dois exemplos nessa semana: 1º- na Arena da Baixada no dia 23 de junho (apesar da quase não repercussão do fato) um grupo pertencente a uma torcida organizada do Atlético Paranaense entrou em confronto com os manifestantes no intuito de defender o estádio e arredores de depredação; 2º – aqui em Porto Alegre, na Cidade Baixa, depois das seguidas depredações do patrimônio privado (carros destruídos e lojas saqueadas) moradores da João Alfredo se armaram para defender e partir para o conflito contra os vândalos no intuito de defender seu patrimônio.

MORADORES ENFRENTAM VANDALISMO

moradores enfrentam vândalos

E aí eu pergunto, se morre algum manifestação ou resistente, quem vai assumir a culpa? O Prefeito, o Governador, ou será creditada na conta dos que morreram? Tá na hora de para de pensar em eleição e atuar de verdade na segurança pública.

terça-feira, junho 25, 2013

O que esperar dos serviços secretos?

darussia.blogspot - Segunda-feira, Junho 24, 2013

 
 
A novela em torno da fuga de Eduard Snowden, ex-consultor da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, vem colocar numerosas questões no que respeita aos sistemas de segurança dos países e ao seu funcionamento.
Se, antes do aparecimento dos computadores e da Internet, um agente secreto podia desviar dezenas ou até algumas centenas de documentos, hoje, ele pode dar a conhecer ao mundo muitos milhares.
Por um lado, isso poderá obrigar os próprios serviços secretos a atuarem com mais cuidado e respeito, em maior conformidade com os direitos dos cidadãos. Através de Snowden, soubemos, por exemplo, que as autoridades norte-americanas têm acesso aos dados pessoais de milhões de pessoas que utilizam as redes sociais ou outros serviços na Internet, o que não é nada agradável.
Soubemos também, que os serviços secretos norte-americanos escutaram as conversas dos dirigentes mundiais durante uma das cimeiras dos G-8, o que também nada tem de agradável.
Porém, mesmo sem estas revelações, a maioria das pessoas com o mínimo de inteligência desconfiava, tinha quase a certeza de que os serviços secretos faziam essas e outras atividades ilegais.  A história desse tipo de instituições mostra que ela, muitas vezes, atua à margem da lei, mesmo nas sociedades mais democráticas, com um forte controlo dos serviços secretos por parte dos governos.
Às vezes, são apanhadas “com as mãos na massa” e muitos cidadãos ficam indignados com algumas dessas ações. O caso de Eduard Snowden é um exemplo claro disso.
Todavia, sem querer justificar alguns dos métodos utilizados pelos serviços secretos para resolver certos problemas, gostaria de chamar a atenção para o facto de todos nós, incluindo os que criticam os serviços secretos, exigirmos que eles nos garantem a segurança, pois para isso foram criados.
Ora, numa época em que o terrorismo e o crime organizado assumiram proporções nunca vistas, talvez seja demasiado pedir aos agentes para atuarem sempre de forma mais limpa, pois trata-se de um combate, à priori, sujo e sem regras definidas.
Se observam estritamente a lei e, depois, os atentados terroristas acontecem, os serviços secretos são acusados de negligência. Mas, quando são apanhados em situações menos legais, também ninguém lhes perdoa.
Tarefa ingrata, pois “levam por ter cão e levam por não o ter”. O ideal seria puderem atuar no mais restrito respeito da lei, mas será isso possível?


P.S. Este texto é discutível apenas entre aqueles que não acreditam que os serviços secretos são os próprios organizadores de todos os males do mundo. 

Constituinte exclusiva, a proposta inoportuna

Autor: 
Independentemente ou não do mérito da reforma política, a proposta do plebiscito para a Constituição exclusiva é inoportuna. Não bastassem as inúmeras sarnas que o governo têm para coçar, joga-se nas ruas um novo tema com conteúdo capaz de incendiar ainda mais os debates públicos.
O histórico dessa proposta é banal.
O Estadão precisava ouvir fontes com análises e propostas para a crise. Com a enorme dificuldade em encontra-las recorre ao velho arsenal dos anos 80, o historiador Carlos Guilherme Motta – que tornou-se alvo do escárnio depois de um artigo no Estadão, em 2010, dizendo que o grande risco da democracia era o povo que estava ganhando direitos civis sem estar preparado.
Motinha – como é conhecido – saca do coldre sua velha Colt 45, consulta seus alfarrábios, esquece que não acredita em povo e vem com a fórmula milagrosa (para os anos 80 pré-Constituinte): uma Constituinte exclusiva. No domingo sai a matéria com Motinha, por falta do que propor, propondo a Constituinte exclusiva. Encontra leitores privilegiados no Planalto que nem para temas jurídicos consultam o Ministro da Justiça, por inócuo, inodoro e incolor.
Ora, a Constituinte de 1988 lançou o país na modernidade dos direitos sociais e das políticas de inclusão. Há um conjunto de direitos que tenta-se derrubar há anos – é só conferir as campanhas sobre o excesso de direitos e a escassez de deveres previstos na Constituição -, e só poderiam ser derrubados por uma nova Constituinte.
É evidente que não é essa a intenção da presidente Dilma Rousseff. Mas ao abrir a caixa de Pandora do plebiscito, todas essas ameaças tornam-se latentes. A Constituinte exclusiva passa a sofrer resistências de juristas, parlamentares, movimentos de direitos humanos. 
Poderia se ter ficado na proposta de reforma política, sem avançar nos instrumentos de implementação, antes do pleno conhecimento de todas as alternativas. Toda a discussão, agora, será sobre plebiscito e não-plebiscito, constituinte exclusiva ou não, deixando para segundo plano o objetivo maior da reforma política.
Nos anos 60, Jango convocou um plebiscito para repor o presidencialismo – já que tivera que aceitar o parlamentarismo como pré-condição para assumir a presidência. Venceu o plebiscito e, pouco depois, perdeu o governo. O alvoroço nas ruas, suscitado pela campanha, foi um dos combustíveis para a exacerbação dos conflitos e para o fortalecimento dos conspiradores.
Há que se ter cautela e encontrar alguém que possa tirar esse bode da sala.

Passe Livre diz ao Planalto que mobilidade urbana é direito, não mercadoria

viomundo - publicado em 24 de junho de 2013 às 10:47

Foto: Marcelo Camargo/ABr
CARTA ABERTA DO MOVIMENTO PASSE LIVRE SÃO PAULO À PRESIDENTA
À Presidenta Dilma Rousseff,
Ficamos surpresos com o convite para esta reunião. Imaginamos que também esteja surpresa com o que vem acontecendo no país nas últimas semanas.
Esse gesto de diálogo que parte do governo federal destoa do tratamento aos movimentos sociais que tem marcado a política desta gestão. Parece que as revoltas que se espalham pelas cidades do Brasil desde o dia seis de junho tem quebrado velhas catracas e aberto novos caminhos.
O Movimento Passe Livre, desde o começo, foi parte desse processo. Somos um movimento social autônomo, horizontal e apartidário, que jamais pretendeu representar o conjunto de manifestantes que tomou as ruas do país. Nossa palavra é mais uma dentre aquelas gritadas nas ruas, erguidas em cartazes, pixadas nos muros. Em São Paulo, convocamos as manifestações com uma reivindicação clara e concreta: revogar o aumento.
Se antes isso parecia impossível, provamos que não era e avançamos na luta por aquela que é e sempre foi a nossa bandeira, um transporte verdadeiramente público. É nesse sentido que viemos até Brasília.
O transporte só pode ser público de verdade se for acessível a todas e todos, ou seja, entendido como um direito universal. A injustiça da tarifa fica mais evidente a cada aumento, a cada vez que mais gente deixa de ter dinheiro para pagar a passagem.
Questionar os aumentos é questionar a própria lógica da política tarifária, que submete o transporte ao lucro dos empresários, e não às necessidades da população.
Pagar pela circulação na cidade significa tratar a mobilidade não como direito, mas como mercadoria. Isso coloca todos os outros direitos em xeque: ir até a escola, até o hospital, até o parque passa a ter um preço que nem todos podem pagar.
O transporte fica limitado ao ir e vir do trabalho, fechando as portas da cidade para seus moradores. É para abri-las que defendemos a tarifa zero.
Nesse sentido gostaríamos de conhecer o posicionamento da presidenta sobre a tarifa zero no transporte público e sobre a PEC 90/11, que inclui o transporte no rol dos direitos sociais do artigo 6o da Constituição Federal.
É por entender que o transporte deveria ser tratado como um direito social, amplo e irrestrito, que acreditamos ser necessário ir além de qualquer política limitada a um determinado segmento da sociedade, como os estudantes, no caso do passe livre estudantil.
Defendemos o passe livre para todas e todos!
Embora priorizar o transporte coletivo esteja no discurso de todos os governos, na prática o Brasil investe onze vezes mais no transporte individual, por meio de obras viárias e políticas de crédito para o consumo de carros (IPEA, 2011). O dinheiro público deve ser investido em transporte público!
Gostaríamos de saber por que a presidenta vetou o inciso V do 16º artigo da Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei nº 12.587/12) que responsabilizava a União por dar apoio financeiro aos municípios que adotassem políticas de priorização do transporte público. Como deixa claro seu artigo 9º, esta lei prioriza um modelo de gestão privada baseado na tarifa, adotando o ponto de vista das empresas e não o dos usuários.
O governo federal precisa tomar a frente no processo de construção de um transporte público de verdade. A municipalização da CIDE, e sua destinação integral e exclusiva ao transporte público, representaria um passo nesse caminho em direção à tarifa zero.
A desoneração de impostos, medida historicamente defendida pelas empresas de transporte, vai no sentido oposto. Abrir mão de tributos significa perder o poder sobre o dinheiro público, liberando verbas às cegas para as máfias dos transportes, sem qualquer transparência e controle. Para atender as demandas populares pelo transporte, é necessário construir instrumentos que coloquem no centro da decisão quem realmente deve ter suas necessidades atendidas: os usuários e trabalhadores do sistema.
Essa reunião com a presidenta foi arrancada pela força das ruas, que avançou sobre bombas, balas e prisões. Os movimentos sociais no Brasil sempre sofreram com a repressão e a criminalização. Até agora, 2013 não foi diferente: no Mato Grosso do Sul, vem ocorrendo um massacre de indígenas e a Força Nacional assassinou, no mês passado, uma liderança Terena durante uma reintegração de posse; no Distrito Federal, cinco militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram presos há poucas semanas em meio às mobilizações contra os impactos da Copa do Mundo da FIFA. A resposta da polícia aos protestos iniciados em junho não destoa do conjunto: bombas de gás foram jogadas dentro de hospitais e faculdades; manifestantes foram perseguidos e espancados pela Polícia Militar; outros foram baleados; centenas de pessoas foram presas arbitrariamente; algumas estão sendo acusadas de formação de quadrilha e incitação ao crime; um homem perdeu a visão; uma garota foi violentada sexualmente por policiais; uma mulher morreu asfixiada pelo gás lacrimogêneo. A verdadeira violência que assistimos neste junho veio do Estado – em todas as suas esferas.
A desmilitarização da polícia, defendida até pela ONU, e uma política nacional de regulamentação do armamento menos letal, proibido em diversos países e condenado por organismos internacionais, são urgentes.
Ao oferecer a Força Nacional de Segurança para conter as manifestações, o Ministro da Justiça mostrou que o governo federal insiste em tratar os movimentos sociais como assunto de polícia. As notícias sobre o monitoramento de militantes feito pela Polícia Federal e pela ABIN vão na mesma direção: criminalização da luta popular.
Esperamos que essa reunião marque uma mudança de postura do governo federal que se estenda às outras lutas sociais: aos povos indígenas, que, a exemplo dos Kaiowá-Guarani e dos Munduruku, tem sofrido diversos ataques por parte de latifundiários e do poder público; às comunidades atingidas por remoções; aos sem-teto; aos sem-terra e às mães que tiveram os filhos assassinados pela polícia nas periferias.
Que a mesma postura se estenda também a todas as cidades que lutam contra o aumento de tarifas e por outro modelo de transporte: São José dos Campos, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, entre muitas outras.
Mais do que sentar à mesa e conversar, o que importa é atender às demandas claras que já estão colocadas pelos movimentos sociais de todo o país. Contra todos os aumentos do transporte público, contra a tarifa, continuaremos nas ruas! Tarifa zero já!
Toda força aos que lutam por uma vida sem catracas!
Movimento Passe Livre São Paulo
24 de junho de 2013

Considero uma grande palhaçada a estória generalizada contada pelos diversos prefeitos sobre a redução do preço da passagem via redução de impostos. A estória de que não existe almoço de graça, e que o Governo vai ter que retirar isso de algum lugar. Bom, pergunta básica. Existe algum empresário do ramo dos transporte disposto a "largar o osso"? Dúvido. Então dá para reduzir as margens de lucro e consequentemente o valor da passagem sem que isso reverbere na arrecadação do Estado. O que temos em falta é uma política de Governo que taxe de forma diferenciada as grandes fortunas e o lucro exorbitante do setor financeiro que nada produz. Tarifa zero? Bom, isso é utopia do mais alto nível. Talvez, para que seja crédulo, no paraíso exista.
Não é uma constituinte que vai dar solução a esses problemas. 
Outra coisa, o Movimento deve também deixar de inocência. Eles estão em uma manifestação, não procissão. Se querem que não ocorra reação da polícia, no mínimo, terão que evitar as ações de depredação que ocorrem na esteira das manifestações. Se essas são praticadas por infiltrados, que o movimento se posicione e os denuncie, pois só assim poderão dissociar suas reivindicações de tais ações.
Para encerrar,  não existe policia desarmada. A ONU é um órgão político, quanto mais cedo vocês enxergarem isso, mais fácil poderão ver o que está por trás das mais variadas boas intenções do da instituição.

Wanderley: Dilma não denunciou a manha Golpista

conversa afiada - Publicado em 23/06/2013



Saiu no IG:

A presidenta Dilma Rousseff falou, mas não disse

Em artigo, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos analisa o pronunciamento desta sexta e afirma que o discurso foi ineficaz e que as manifestações revelam o maior ataque à democracia dos últimos 20 anos

Não se cura tuberculose por decreto ao fim de passeatas. Mas as gangues de ladrões e depredadores que desde terça-feira, dia 18 de junho, receberam de presente a mais legítima carona da sociedade – desfiles pacíficos em nome da democracia – estão pouco se lixando. Os articuladores anônimos dos grupos violentos de direita, neo-nazistas inclusive, e dos radicalóides sociopatas, conhecem muito bem o tempo das políticas, mas não é o que os interessa. Para os atraídos de boa fé para a trapaça reivindicatória, enfim, o discurso da presidente Dilma não trouxe novidade. Investimento em saúde e educação, ensino técnico como nunca visto, transparência na administração, através da lei de acesso à informação, apuração de desvios administrativos, com inédita demissão de ministros, são políticas já em vigor e rotineiras, isto é, não há mais discussão sobre se devem ou não devem ser executadas. São políticas de Estado, compromisso do país. Isso para não enumerar sucessivas inovações na política social que, estupidez que o amanhã julgará, passou a ser impudico mencionar em meios de classe de renda mais elevada.

A mensagem da presidente arrisca ser ineficaz, do mesmo modo como são absolutamente vazias as reivindicações marchadeiras: saúde, educação, transparência, ética na política – sem que se indiquem os acusados de objetá-las. Por isso, as provocações tendem a perdurar enquanto os de boa fé não se derem conta de que são equivocadas as manifestações com tanta virulência contra o que de fato já está em execução, obtendo variados graus de sucesso. O cerne da contestação não está nas demandas fragmentadas. Está no ataque à democracia como sistema capaz de prover e operar uma sociedade justa. Em outras palavras: segundo os mentores e comentaristas convertidos os grandes feitos dos últimos governos não seriam tão significativos, antes revelando ser a democracia, pelo menos em sua forma atual, um desastre governativo. Recusa enfática a esse niilismo não constou, mas devia ser crucial, do discurso presidencial.

A mensagem subliminar dos arquitetos da desordem (com exceção do Movimento pelo Passe Livre fora) e dos aproveitadores de todas as idades tem consistido em insinuar que as instituições democráticas – governo representativo, parlamentos, movimentos sociais organizados, partidos políticos – são os obstáculos à construção de uma sociedade mais justa e livre. Golpistas crônicos, anarquistas senis em busca de holofote, muitos jovens anencéfalos e assustados da classe média em geral, formam a retaguarda deste exército do obscurantismo e da violência. A essência desse arremedo intolerante de participação é uma reação à democracia e suas realizações. Faltou ao discurso de Dilma Roussef uma declaração de que reconhecia as manhas dos que se aproveitam das boas intenções para conduzi-las ao inferno. E de que não se submeterá a elas.

Enquanto a empulhação televisa continua a descrever as manifestações “cívicas até aqui pacíficas”, no meio das passeatas, como se as apresentadoras não soubessem o que viria ao fim da encenação, registro que, em minha opinião, se trata do maior cerco reacionário, nacional e internacional, que este país já sofreu nos últimos vinte anos.

Considero Wanderley um dos melhores pensadores da área. Sua análise em Poliarquia em 3D é excelente. Mas, não concordo plenamente com seu texto no tocante ao ataque à democracia, pelo menos no que se entende como democracia de forma geral (não aquela discutida de forma mais profunda como o fez Robert Dahl).
Não consigo dissociar essa democracia da direita por exemplo. Em um retorno de um governo de forte inclinação neoliberal, teríamos vários ingredientes da democracia: voto popular, eleições livres, etc. Mas, teríamos um agravamento das condições sociais. A Suécia (creio que todos são de acordo que o país é uma democracia) por exemplo vem após sucessivos governos neoliberais apresentando aumento nas suas desigualdades internas.
Creio que o grande risco é de surgir do movimento um governo de intensa inclinação neoliberal, que consiga absorver de forma propagandística as bandeiras democráticas de melhoria social.
As políticas de inclusão social realizadas no Governo Lula foram impressionantes. A classe média (não a do imaginário de esquerda, mas a realmente medida) hoje representa mais da metade da população do país.
E como bem disse Juan Arias recentemente em debate sobre as manifestações, a grande diferença entre as manifestações da classe média espanhola e brasileira é que a primeira luta pelo que perdeu, a segunda pelo que ainda não tem.
E isso é algo facilmente manipulado pelas estruturas neoliberais. 
 

segunda-feira, junho 24, 2013

'Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos'

Resenha - Exército Brasileiro - 23 jun 2013


Fernando Eichenberg

PARIS  Com mais de 20 obras publicadas no Brasil  - como "A transfiguração do político" e "A dinâmica da violência" -, o sociólogo Michel Maffesoli vê o país como um "laboratório" no fim dos tempos modernos e diz não ter sido surpreendido com a eclosão das manifestações em diversas cidades brasileiras. Conhecedor do Brasil, para onde viaja há mais de  30 anos para conferências e intercâmbios intelectuais, Maffesoli disse que vai "dar uma passada" na
manifestação de brasileiros que ocorrerá no fim da tarde de hoje, em Paris, em solidariedade ao movimento. Na sua opinião, manifestações como as do Brasil e da Turquia podem ser vistas como "Maios de 68 pós-modernos", de curta duração, mas com marcas indeléveis.
 
Como o senhor analisa estes movimentos no Brasil?
 
É um bom exemplo destas sublevações pós-modernas que se desenvolvem em vários lugares. É uma revolta bastante disseminada, que não se origina de um projeto político preciso e programático, mas, ao contrário, propaga-se como um fogo rápido a partir de um pequeno pretexto, como R$ 0,20 de aumento da passagem de ônibus. É algo que pode ser comparado com o exemplo turco, onde a partir de algo anódino - construir algo ou não num parque - se criou uma sublevação que se alastrou. Vivemos o fim de uma época, e umas das manifestações disso é que algo cotidiano suscita um movimento que questiona o sistema.
 
Para o senhor, é o fim de um modo de se fazer política?
 
É o fim da política moderna. Tive como professor na França o sociólogo Julien Freund (1921-1993), também conhecido no Brasil, que dizia que o político é a ideia de um projeto, de um programa, da dimensão racional, seja de esquerda ou de direita. O objetivo programático é mobilizar energias para alcançar o fim desejado. Era a grande ideia marxista dos sistemas socialistas do século XIX, das políticas conservadoras etc. Vemos que há uma saturação, um tipo de indiferença, esses jovens não se reconhecem mais num programa, num partido ou sindicato. Não é mais programático, mas, sim, emocional. A modernidade é racional, e a pós-modernidade é emocional. Com o que ocorre no Brasil temos uma boa ilustração disso.
 
O senhor se surpreendeu pelo fato de essas manifestações ocorrerem agora no Brasil?
 
Vejo o Brasil como um laboratório da pós-modernidade. Algo assim não vejo ocorrer na França, onde espírito, clima e intelligentsia permanecem muito racionais. Não vejo surpresa neste tipo de explosão, forte, mesmo brutal, num
país como o Brasil.
 
Não se trata de revolução. Como o senhor definiria este movimento?
 
A palavra "revolução" significa uma ruptura. Etimologicamente significa "revolvere" em latim, voltar a coisas que acreditávamos superadas. Não é uma revolução no sentido moderno do termo, como ruptura. Mas no sentido
etimológico vemos voltar essa ideia de fraternidade, de estar juntos, das tribos. Por isso o Brasil é um país importante, porque vejo que resta essa velha ideia, que vem das culturas ancestrais, de comunidade, de solidariedade de base. Vejo uma espécie de ilustração da minha teoria de tribos urbanas. E, quando há um tal ajuntamento, os políticos ficam perdidos, desamparados, porque ultrapassa suas categorias, que permanecem programáticas. Vemos uma sublevação, um tsunami das tribos urbanas.
 
As redes sociais também têm um papel importante nessas sublevações...
 
Brinco dizendo que neste caso não se deve mais fazer sociologia, mas epidemiologia, pois é algo viral. É a sinergia do arcaico com o desenvolvimento tecnológico. Arcaico são as tribos; desenvolvimento tecnológico, a internet.
Há mobilidade graças às redes sociais. As tribos urbanas se tornam comunidades interativas. Há essa expressão em inglês, "flash mob" (abreviação de flash mobilization , movimentação relâmpago). De repente surge uma mobilização que desampara as instituições. Como não é programático, há o risco de murchar como um suflê, de forma rápida. Mas é algo que deixa marcas.
 
O movimento pode degenerar?
 
Não se faz omelete sem quebrar ovos. Não podemos atuar como moralistas. Mesmo que os participantes se manifestem contra a violência, é algo que não é controlável. Não se pode prever, mas é quase certo que haverá algum dano. Está na natureza humana, quando ocorre algo que quebra a ordem das coisas é certo que haverá desvios.
 
Como compara o que ocorre no Brasil com outros países? Teria alguma relação com Maio de 68?
 
Não se pode comparar com a Primavera Árabe, a não ser pelo uso de tecnologias e redes sociais. Acho que é mais comparável com a Turquia. Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos: emoção coletiva, que provoca o contágio e se alastra de forma incontrolável. Poderá secar, mas com um verdadeiro corte, e o depois não poderá ser como o antes.

O Sonderkommando Blaich - Ataque em Fort Lamy no Chade, na África e no Mediterrâneo, Segunda Guera Mundial

O TUIUTI - nº 69 - Junho 2013
 
Esta é a história de uma missão especial  alemã na beira do deserto do Chade, para trás das linhas do Eixo, destruindo aeródromos e atacar e  tentar impedir as operações do  SAS  (Special Air Service)  britânico LRDG1,  na iminência de uma ofensiva de Rommel. Entre 1940 e 1941, as forças especiais britânicas causaram estragos por realizando tarefas vitais de reconhecimento, o que ajudou os comandantes britânicos a projetar e planejar  suas linhas defensivas  e de  ataques contra as linhas de abastecimento alemãs. A unidade  aérea especial, o Sonderkommando Blaich, foi formada sob o comando do capitão Theo Blaich2 deserto, com o Range Desert Group e com  o SAS. A Bf-108 em primeiro plano e I-111 atrás, para lidar, no Oasis de Hun em 1941 unidade consistia numa pequena esquadrilha de um He-111 e o Bf-108, utilizado por Blaich.
 
Tropas da França Livre ocupavam um posto avançado de Fort Lamy no Chade, a cerca de 2.500 quilômetros de  bases da Luftwaffe localizadas mais ao sul da África. A posição era de grande importância estratégica para os aliados, como o principal enclave , no interior, de abastecimento de portos e campos de petróleo da costa Oeste Africano. Era também uma fonte vital de depósito  das forças especiais dos aliados. Dado que a ofensiva  de Rommel sobre El Agheila  estava prevista para o mês de janeiro, ele decidiu bombardear Fort Lamy e tentar de interromper as operações do LRDG/SAS. Em 21 de janeiro de 1942, a pequena força decolou em direção ao desconhecido. A tripulação a bordo do He-111 era formada pelo tenente Bohnsack,  Sargento Geibler, Cabo Wichmann, e tenente Dettmann, um correspondente de guerra. Blaich pilotava seu próprio aparelho. A primeira parada para reabastecimento foi feito em uma pequena pista italiana no Oásis Hun.
Blaich foi recebido pelo Major italiano Conde  VimercatiSanseverino, que tinha voado até lá em um Savoia  em 20 de janeiro. O oficial italiano tinha trazido combustível para a viagem de retorno dos aviões alemães. Mas  ele  resolveu se juntar à tripulação de Blaich e participar da operação. A pequena força partiu novamente naquela tarde.
Logo, Blaich ordenou à tripulação para ir a postos de combate. Fort Lamy apareceu no horizonte
com a sua pista gigante e tanques de combustível do exército britânico. 16 bombas  de 50 Kg foram lançadas. O He-111 deu a volta para ver o resultado do lançamento, vendo-as explodir nos  armazéns e depósitos. Enormes colunas de fumaça subiam para o céu. Todo o combustível, cerca de 400 mil litros de querosene, foi “consumido”, assim como vários tipos de óleos e lubrificantes. Também foram destruídas dez aeronaves no chão. Um único avião  bombardeiro acabara de obter um grande sucesso. Fort Lamy estava fora de ação por algumas semanas.
 
Fonte: http://www.gehm.es – Grupo de Estudios de Historia Militar – Hugo Cañete.



1Long Range Desert Group - Tropa de Elite
2Blaich tinha sido um fazendeiro rico e aventureiro na África antes da guerra ..

domingo, junho 23, 2013

O PRISM e a ascensão de um novo fascismo

resistir info – 23 jun 2013

por John Pilger

Logo do PRISM.No seu livro, Propaganda, publicado em 1928, Edward Bernays escreveu: "A manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e das opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo que não se vê da sociedade constituem um governo invisível, o qual é o verdadeiro poder dominante no nosso país".
Bernays, o sobrinho americano de Sigmund Freud, inventou a expressão "relações públicas" como um eufemismo para propaganda de estado. Ele advertiu uma ameaça permanente ao governo invisível era os que dizem a verdade e um público esclarecido.
Em 1971, Daniel Ellsberg trouxe a público os ficheiros do governo estado-unidense conhecidos como "The Pentagon Papers", revelando que a invasão do Vietname fora baseada numa mentira sistemática. Quatro anos depois, Frank Church dirigiu audiências sensacionais no Senado dos EUA: um dos últimos lampejos da democracia americana. Estas puseram a nu a plena extensão do governo invisível: a espionagem e subversão internas e a provocação de guerra pelas agências de inteligência e "segurança", bem como o apoio que recebiam do big business e dos media, tanto conservadores como liberais.
Ao referir-se à Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), o senador Church afirmou: "Sei que a capacidade que há para instaurar tirania na América e devemos verificar que esta agência e todas as agências que possuem esta tecnologia operem dentro da lei... de modo a que nunca cruzemos esse abismo. Trata-se do abismo do qual não há retorno".
Em 11 de Junho de 2013, a seguir às revelações no Guardian de Edward Snowden, contratado pela NSA, Daniel Ellsberg escreveu que os EUA agora caíram dentro "daquele abismo".
A revelação de Snowden, de que Washington utilizou a Google, Facebook, Apple e outros gigantes da tecnologia do consumidor para espionar quase toda a gente, é uma nova evidência da forma moderna de fascismo – esse é o "abismo". Tendo nutrido fascistas tradicionais por todo o mundo – desde a América Latina à África e à Indonésia – o génio libertou-se e voltou para casa. Entender isto é tão importante quanto entender o abuso criminoso da tecnologia.
Fred Branfman, que revelou a destruição "secreta" do pequeno Laos pela US Air Force nas décadas de 1960 e 70, proporciona uma resposta àqueles que ainda se admiram como um presidente afro-americano, um professor de direito constitucional, pode comandar tamanha ilegalidade. "Sob o sr. Obama", escreveu ele, "nenhum presidente fez mais para criar a infraestrutura para um possível futuro estado policial". Por que? Porque Obama, tal como George W. Bush, entende que o seu papel não é satisfazer aqueles que nele votaram mas sim expandir "a mais poderosa instituição da história do mundo, uma instituição que matou, feriu ou privou de lar bem mais de 20 milhões de seres humanos, principalmente civis, desde 1962".
No novo ciber-poder americano, só as portas giratórias mudaram. O director da Google Ideas, Jared Cohen, era conselheiro de Condaleeza Rice, a antiga secretária de Estado na administração Bush que mentiu quando disse que Saddam Hussein podia atacar os EUA com armas nucleares. Cohen e o presidente executivo da Google, Eric Schmidt – eles encontraram-se nas ruínas do Iraque – escreveram um livro em co-autoria, The New Digital Age, apresentado como visionário pelo antigo director da CIA Michael Hayden e pelos criminosos de guerra Henry Kissinger e Tony Blair. Os autores não mencionam o programa de espionagem
Prism , revelado por Edward Snowden, que proporciona à NSA acesso a todos nós que utilizamos o Google.
Controle e domínio são as duas palavras que dão o sentido disto. São exercidos através de planos políticos, económicos e militares, entre os quais a vigilância em massa é uma parte essencial, mas também pela propaganda insinuante na consciência pública. Este era o ponto de Edward Bernay. As suas duas campanhas de RP com mais êxito foram convencer os americanos que deveriam ir à guerra em 1917 e persuadir as mulheres a fumarem em público; os cigarros eram "archotes da liberdade" que acelerariam a libertação da mulher.
É na cultura popular que o "ideal" fraudulento da América como moralmente superior, como "líder do mundo livre", tem sido mais eficaz. Mas, mesmo durante os períodos mais patrioteiros de Hollywood houve filmes excepcionais, como aqueles de Stanley Kubrick no exílio e audaciosos filmes europeus que encontravam distribuidores nos EUA. Nestes dias, não há Kubrick, nem Strangelove e o mercado estado-unidense está quase fechado a filmes estrangeiros.
Quando apresentei meu filme,
"A guerra à democracia" ( "The War on Democracy" ),
a um grande distribuidor dos EUA de mentalidade liberal, recebi uma lista de mudanças exigidas para "assegurar que o filme fosse aceitável". A sua inesquecível cedência para mim foi: "OK, talvez pudéssemos deixar Sean Penn como narrador. Isso o satisfaria?" Ultimamente, o filme de apologia da tortura "Zero Dark Thirty", de Katherine Bigelow, e "We Steal Secrets", um trabalho de machadinha contra Julian Assange, foram feitos com o apoio generoso da Universal Studios, cuja companhia-mãe até recentemente era a General Electric. A GE fabrica armas, componentes para aviões-caça e tecnologia avançada de vigilância. A companhia também tem interesses lucrativos no Iraque "libertado".
O poder dos que contam verdades, como Bradley Manning, Julian Assange e Edward Snowde, é que eles refutam toda uma mitologia construída cuidadosamente pelo cinema corporativo, pela academia corporativo e pelos media corporativos. A WikiLeaks é especialmente perigosa porque proporciona aos que contam a verdade um meio para a por cá fora. Isto foi conseguido em"Collateral Murder", o vídeo filmado a partir da cabina de um helicóptero Apache dos EUA que alegadamente foi revelado por Bradley Manning. O impacto deste único vídeo marcou Manning e Assange para a vingança do estado. Ali estavam pilotos dos EUA a assassinar jornalistas e mutilar crianças numa rua de Bagdad, a divertirem-se claramente com isso e a descrever a sua atrocidade como "linda". Mas, num sentido vital, eles não escaparam sem punição; somos agora testemunhas e o que resta é para nos tramar.

20/Junho/2013

O original encontra-se em New Statesman e em www.counterpunch.org/2013/06/21/prism-and-the-rise-of-a-new-fascism/

O CONTORCIONISMO DO PT BRASILEIRO

resistir info – 23 jun 13

O contorcionismo do PT brasileiro diante das manifestações que atravessam o país é visível. Ele tenta cooptar as manifestações, como se estas não fossem também contra o seu governo. Ao mesmo tempo, vai prometendo medidas paliativas mas que não ponham em causa o dogma neoliberal. Isso ficou patente no discurso de 21 de Junho da presidente Dilma Roussef, em cadeia nacional de TV. A presidente nem sequer pôs em causa a privatização selvagem dos transportes públicos de passageiros nas principais cidades brasileiras. O seu "plano nacional de mobilidade" aparentemente não será para reverter essa actividade aos poderes públicos. Os lucros dos capitalistas donos das empresas de "ônibus" têm de ser garantidos, mesmo que para isso o governo do PT tenha de lhes dar alguns subsídios a fim de reduzir tarifas e baixar a tensão social. A presidente, no seu discurso, tão pouco fez qualquer auto-crítica quanto aos gastos monstruosos do seu governo com campeonatos do jogo da bola. Na verdade, entre o PT e o PSDB brasileiros existe tanta diferença como entre o PS e o PSD portugueses — ou seja, pouca ou nenhuma