"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, março 26, 2010

Rússia decidiu fabricar caças de quinta geração com o Brasil

darussia.blogspot.com - Sexta-feira, Março 26, 2010


A Rússia está pronta a cooperar com o Brasil não só no quadro do concurso para a venda de uma quantidade significativa de aviões de guerra multifuncionais, mas também no programa de fabrico do caça de quinta geração, declarou hoje Alexandre Fomin, vice-diretor do Serviço Federal de Cooperação Técnico-Militar da Rússia.
“Propomos uma vez mais aos nossos parceiros brasileiros, além da possibilidade do fornecimento de aviões SU-35, a transferência de tecnologia, bem como o fabrico conjunto do caça de quinta geração”, acrescentou.

Serguei Goreslavski, do consórcio público Rostekhnologuia, sublinha que nos aviões SU-35 propostos ao Brasil são empregues tecnologias utilizadas no caça russo de quinta geração.

O primeiro voo do caça de quinta geração realizou-se a 29 de Janeiro deste ano, tendo a Rússia proposto também à Índia participar no fabrico desse aparelho.

Segundo os especialistas russos, a exploração deste avião é bem mais barato do que a dos aparelhos de quarta geração. Além disso, são equipados com equipamentos eletrónicos mais modernos e “inteligentes”.
P.S. Moscovo acaba de fornecer três helicópteros Mi-35M e deverá fornecer mais nove nos próximos tempos.

Da série “o insuperável O Globo”

Blog do Luis Nassif - 26/03/2010 - 09:14

Por Jaime Balbino

Nassif,

O jornal O Globo está demais hoje, duas notícias seguidas com manchetes que parecem denúncia mas que são desmentidas pela própria matéria e “quase sem querer”. Veja só:

1. Na primeira a manchete critica Lula porque num projeto de urbanização de uma favela entregou os apartamentos sem acabamento. Ironiza que Lula cita no discurso isso como que para disfarçar o problema. Só na última linha coloca que o contrato com os moradores sempre previu isso, pois são eles que vão escolher o acabamento de seus apartamentos.

2. Na segunda manchete critica a idéia do MEC de distribuir bicicletas para alunos de escolas rurais com “dinheiro dos outros” (prefeituras e governos estaduais). Ignora a boa idéia e se atém somente a fonte de recursos que foi apenas sugerida pelo ministro da educação. Raciocinando um pouco, o custo das bicicletas é tão baixo que o melhor talvez seja mesmo apenas incentivar a ação local ao invés de bancar licitações complexas e demoradas.

O financiamento do SUS

Blog do Luis Nassif - 26/03/2010 - 09:41

Do Valor

Sem dinheiro para a saúde universal

Maria Cristina Fernandes
26/03/2010

O Supremo Tribunal Federal esticou a corda dos serviços que o SUS é obrigado a prestar. Municípios, Estados e União devem fornecer gratuitamente medicamentos de última geração comercializados no exterior que ainda não estejam na lista do SUS, custear próteses e cirurgias e até tratamentos médicos fora do país.

O julgamento, por unanimidade, deu guarita às liminares obtidas por pacientes que têm provocado o bloqueio de recursos públicos pela não prestação desses serviços. Beneficiam tanto pacientes 100% dependentes do SUS quanto aqueles cujos planos de saúde não dão cobertura a seus tratamentos. Apenas em São Paulo tramitam 25 mil ações.

A decisão, quatro dias antes da votação histórica que aprovou a reforma do sistema de saúde americano, expôs o paradoxo em que se encontra a saúde pública brasileira. O país universalizou a saúde pública 22 anos antes dos americanos, mas até hoje não foi capaz de equacionar seu financiamento.

Foi uma decisão igualmente histórica a da Constituinte de estender o direito à saúde pública, antes restrito apenas àqueles filiados à Previdência Social, a todos os brasileiros. Mas com a desvinculação, o sistema, na sua origem, já se viu privado de sua base de financiamento.

Egresso da geração de sanitaristas que pôs o SUS em pé, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, viu a votação do Congresso americano como uma vitória do debate sobre a presença do Estado como garantidor e regulador do direito à saúde.

No Brasil o acesso universal não está mais em questão. O SUS, diz, transformou-se uma questão de Estado. Não há divergências entre tucanos e petistas sobre seus pressupostos, mas ninguém se põe de acordo sobre seu custeio e gestão.

Esse impasse foi traduzido pela derrota da CPMF e pela tramitação devagar quase parando do projeto que cria as fundações estatais de saúde. Esse projeto que estabelece contratos de gestão como aquele que administra o hospital Sarah Kubitschek, modelo que inspira Temporão.

Nos votos que derrubaram a CPMF no Senado há tanto apoiadores de José Serra quanto de Dilma Rousseff, ainda que ambos tenham se declarado, velada ou abertamente, a favor de sua manutenção. Entre os motivos que emperram a tramitação do projeto das fundações está a resistência do Conselho Nacional de Saúde, que abriga poderosos interesses corporativos.

Serra e Dilma têm menos paciência com corporações que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas nada indica que venham a ter mais habilidade que o atual presidente para reverter o placar que derrotou a CPMF, uma das maiores derrotas do governo no Congresso.

Temporão explica por que o avanço na saúde básica acelerou o ingresso do país nas doenças da modernidade, as que mais pressionam os custos do sistema. Quando o Brasil não tinha programas de saúde da família, campanhas de vacinação ou distribuição de antibióticos morria-se de doenças infecciosas.

O Brasil continua entre os campeões de mortalidade infantil e materna na América Latina, mas hoje vive-se mais e morre-se de doenças cardiovasculares e câncer, que requerem medicamentos de última geração, internações em UTI, transplantes e próteses.

São tratamentos tão custosos que os planos de saúde caem fora. Apenas um em cada cinco brasileiros pode custeá-lo. Ao fazê-lo, a classe média acredita que escapou da vala comum, mas, como demonstram os milhares de pacientes de planos de saúde que acionaram e venceram o Estado no Supremo, é no SUS que vai parar a conta.

Nos Estados Unidos, onde 15% do PIB são consumidos com saúde, os subsídios aos planos privados aprovados pela reforma de Barack Obama serão custeados, em parte, pela revisão dos gastos do Medicare, o sistema que já assiste os muito velhos ou muito pobres.

Na Europa, onde os sistemas assemelham-se mais ao SUS, o Estado custeia em média 80% do gasto com saúde. No Brasil, o gasto com saúde é metade do americano em proporção do PIB. E a maior parte desse custo (60%) é arcada pelas famílias. Não há, portanto, como onerá-las ainda mais com o custeio do sistema, mas a saída passa pelo encurtamento do fosso que separa esses dois mundos.

Em parte, essa aproximação já começou a ser feita pela exigência de que os hospitais – entidades filantrópicas por lei – devolvam em prestação de serviços a pacientes do SUS as deduções fiscais a que têm direito.

Outra medida, que avançou muito menos, é a exigência de que os planos ressarçam o Estado pelo uso que seus segurados fazem dos hospitais públicos.

Uma terceira medida é o envolvimento de setores industriais que causam dano à saúde no financiamento do sistema público. O ministro Temporão cita nominalmente a indústria de agrotóxicos, cigarros, bebidas e automobilística. Diz que o clima depois da derrota da CPMF não permitiu que uma discussão sobre as alternativas de financiamento prosperasse. E espera que num próximo governo, quando já deve ter voltado para a Fiocruz, o debate seja retomado.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

E-mail: mcristina.fernandes@valor.com.br

Se a legislação que faz maior taxação sobre as grandes fortunas já tivesse ocorrido, esse excedente do imposto poderia minimizar o impacto do déficit das contas públicas destinadas à saúde. Na realidade outras tantas verbas que sofrem desvio poderiam resolver tal situação.

Conversa Afiada - 26/março/2010 9:09

Country club é uma coisa, Corte de Justiça é outra

Country club é uma coisa, Corte de Justiça é outra

Saiu no Valor, primeira página:

“Incorporação da Brasil Telecom pela Oi corre risco”.

“As novas condições oferecidas pela Oi para incorporar a Brasil Telecom podem levar a companhia a enfrentar a TERCEIRA (ênfase minha – PHA) recusa do mercado para suas reestruturações.”

“A nova proposta desagradou aos investidores. As ações preferenciais da BrT caíram ontem 5,45% e as ordinárias (a bagatela de – PHA), 17,6%.”



O BNDES pegou dinheiro do trabalhador (do FAT) para azeitar a construção da BrOi.

Os empresários (?) Sérgio Andrade (da empreiteira Andrade Gutierrez – êpa !) e Carlos Jereissati não botaram um tusta.

O Conversa Afiada ofereceu ao BNDES uma proposta irrecusável e o BNFDES rejeitou: a PHA Comunicação botava R$ 1 a mais do que os dois empresários (?) botassem do bolso deles.

Um dos notáveis argumentos do pessoal do BNDES para construir a BrOi era valorizar as ações que o BNDES tinha na Oi.

Notável.

Um mico notável.

Os fundos de pensão das estatais – Previ, Petros e Funcef – saíram do controle da BrT para a BrOi, também com o notável argumento de que iam anabolizar as posições acionárias.

Genial.

Para conseguir construir a BrOi, foi preciso pagar um cala-a-boca de US$ 1 bilhão ao banqueiro condenado por passar bola, esse que acaba de tomar uma surra no Supremo, Daniel Dantas, aquele que emprega Francisco Rezek (Clique aqui para ler o que a Carta Capital obrigou o Ministríssimo Rezek a fazer).

A Anatel mudou as regras do jogo só para agasalhar a BrOi.

A CVM olhou para o outro lado e não percebeu como a rapaziada da BrOi operava a Bolsa, com a mão de gato do PiG(*).

E deu nisso: o Conversa Afiada já demonstrou que a BrOi está tão endividada que não tem um tusta para melhorar os serviços ao (pobre) consumidor.

O Conversa Afiada tem uma razão adicional para explicar o afundamento da BrOi: um dos sócios majoritários do negócio, Carlos Jereissati, não tem tempo de tocar a empresa, porque
precisa acompanhar as audiências dos múltiplos processos judiciais que move contra jornalistas.

Acompanhado de ilustres advogados, Jereissati vai às audiências vestido como se estivesse no deck da piscina de um country club de Fortaleza e, não, numa sala solene, onde se cultua a Justiça.

Jereissati é irmão do “tenho jatinho porque posso”.

Quer dizer, a arrogância parece ser um traço da família.

O que não deve ser muito útil para tocar negócios de viabilidade duvidosa.

Humildade talvez fosse mais útil aos acionistas minoritários (coitados !).

Paulo Henrique Amorim

Clique aqui para ler a representação com que entrei no Ministério Público Federal-DF contra a BrOi, sob investigação pelo Procurador Paulo José da Rocha Jr.

(*)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

Fim de feira na Chuíça (*): poste de Serra não recolhe lixo e afoga o Caetano

Conversa Afiada - 26/março/2010 8:12

Em Nápoles quem opera o lixo é a Camorra. E na Chuíça(*) ?

Em Nápoles quem opera o lixo é a Camorra. E na Chuíça(*) ?

Saiu no Agora, o único jornal que presta em São Paulo, primeira página:

“Sujeira se acumula pelas ruas das zonas sul e leste (na zona leste é onde fica o Jardim Romano, o Katrina do Serra – PHA).”

“Empresa suspende a coleta de lixo em duas regiões. “

“O comerciante Luiz Felipe Moura afirmou que o caminhão da coleta costumava passar três vezes por semana … anteontem os garis não passaram e o lixo ficou acumulado … com a chuva de ontem – clique aqui para ler sobre a chuva o alagamento e a escuridão em São Paulo -, sacos foram arrastados pela enxurrada.”



Durante o Katrina, quando Zé Alagão se tornou Alagão e a sua incompetência emergiu, o PiG (**), a Globo à frente, acusou o pobre de causar o Alagão.

O pobre, segundo o PiG (**), jogava lixo na rua e sofá no rio.

O Conversa Afiada defendia interpretação oposta: Zé Alagão dava ao lixo nas regiões pobres de São Paulo – onde, na maioria, vivem nordestinos – o mesmo tratamento que os governantes da Campânia dão ao lixo de Nápoles.

Ou seja, uma liga de corrupção com inépcia resulta em lixo acumulado nas ruas (dos bairros pobres).

Lá é a Camorra.

Aqui, são os empreiteiros do lixo.

Interessante que na mesma primeira página do Agora, ao lado da chamada para o lixo vem a chamada para a “enchente chega até a esquina da avenida São João”.

É o resultado de 16 anos de “jestão” tucana em São Paulo: o que era charmoso, a “esquina de Ipiranga com São João” de “Sampa”, ontem era um lixo.

Paulo Henrique Amorim

(*) Chuíça é como o PiG (**) de São Paulo quer que o resto do Brasil pense que São Paulo é: uma combinação do dinamismo econômico da China com o IDH da Suíça.

(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

Brasil supera meta de reduzir extrema pobreza. Bye-bye Serra

Conversa Afiada - 26/março/2010 9:27

O Brasil (no Governo Lula) tem cumprido todas as metas do ODM

O Brasil (no Governo Lula) tem cumprido todas as metas do ODM

Saiu no Vermelho:

Vinte e sete milhões e trezentos mil brasileiros ultrapassaram a linha de extrema pobreza. O índice de moradores do País nesta situação baixou – entre 1990 e 2008 – de 25,6% para 4,8%, uma redução de 81%.

Com isso, o País supera o primeiro e principal Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que estipulou como meta para o mundo erradicar a fome e reduzir pela metade, até 2015, a extrema pobreza registrada em 1990.

Os resultados revelam também que o Brasil foi além, e ultrapassou a própria meta estipulada pelo País de diminuir em 75% a taxa de extrema pobreza. Os dados constam da quarta edição do Relatório Nacional de Acompanhamento do ODM, que tem outros sete objetivos: Universalizar a educação primária; Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; Reduzir a mortalidade na infância; Melhorar a saúde materna; Combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental, e Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

O documento, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgado nesta quarta-feira (24/3), descreve que, de 1990 a 2008, enquanto a população brasileira cresceu de 141,6 milhões para 186,9 milhões, a população extremamente pobre (que vive com até 1,25 dólar por dia) decresceu de 36,2 para 8,9 milhões de pessoas. “A pobreza extrema no Brasil, hoje, é menos de um quinto da pobreza extrema de 1990. A desigualdade caiu bastante e pode cair ainda mais”, informa o relatório. E acrescenta: “Se o ritmo da redução se mantiver nos próximos anos, a pobreza extrema será erradicada do Brasil por volta de 2014.”

Para o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, essa conquista do País é resultado dos investimentos do governo de presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Só o nosso ministério terá um orçamento de R$ 39 bilhões este ano, dinheiro destinado aos pobres. Além do MDS, outras ações com o Pronaf ( Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar), Luz para Todos e Economia Solidária estão fazendo a diferença”, ressaltou o ministro.

De Sanctis continua à frente da Satiagraha

Site do Azenha - 25 de março de 2010 às 19:04

por Lísia Gusmão, Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau manteve o juiz Fausto de Sanctis à frente das ações envolvendo o empresário Daniel Dantas, investigado por crimes financeiros pela Polícia Federal (PF) na Operação Satiagraha. Dantas recorreu ao STF contra decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tomada no início do mês que cassou liminar concedida pelo ministro da Corte Esteves Lima pela paralisação dos processos decorrentes da Satiagraha.

Na liminar, o ministro havia determinado, em dezembro de 2009, a paralisação de todas as ações penais abertas contra o empresário que tivessem a participação do juiz Fausto de Sanctis, suspeito de parcialidade. Na prática, com a decisão, o ministro do STJ havia suspendido os efeitos da Operação Satiagraha, deflagrada em 2008, para investigar crimes financeiros praticados por um grupo supostamente comandado por Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity.

“Tal e qual sublinhado no acórdão do Superior Tribunal de Justiça, a exceção de suspeição resulta de relação subjetiva instalada entre magistrado e partes. A complexidade da questão e a impossibilidade de cotejo, em sede de medida cautelar, das razões da impetração com os elementos constantes dos autos (compostos de aproximadamente duas mil laudas) recomendam o indeferimento da liminar”, disse o ministro do STF Eros Grau em sua decisão.

Ele remeteu o recurso da defesa de Daniel Dantas para parecer do Ministério Público Federal antes que seja submetido ao plenário do STF.

Na denúncia apresentada ao TRF-3, em São Paulo, o Ministério Público sustenta que Dantas, sua irmã, Verônica Dantas, e o presidente do Banco Opportunity, Dório Ferman, constituíram “um verdadeiro grupo criminoso empresarial, cuja característica mais marcante fora transpor métodos empresariais para a perpetração de crimes, notadamente delitos contra o sistema financeiro, de corrupção ativa e de lavagem de recursos ilícitos”.

Tariq Ali: Infeliz Iêmen

Site do Azenha - 25 de março de 2010 às 17:52

Há excelente mapa aqui.

por Tariq Ali, em London Review Books

Parti para o Iêmen, já que Obama anda insistindo que “grandes fatias” do país ainda não estariam “sob completo controle do governo”, depois de o senador Joseph Lieberman ter alegremente anunciado que o Iêmen seria alvo adequado para mais guerra e mais ocupação.

O infeliz portador daquela cueca-bomba que tentou explodir o avião de Amsterdam no dia de Natal deflagrou nova onda de interesse pelo país e pela “al-Qaida in the Arabian Peninsula (AQAP)” – porque se disse que, embora o homem tenha sido convertido ao Islã linha-dura na Inglaterra, seu abraço felizmente fracassado com o terrorismo teria sido viabilizado pela AQAP em algum ponto do Iêmen.

O Iêmen é país sóbrio, diferente dos postos imperiais de gasolina espalhados por outras partes da península arábica, onde as elites dominantes vivem em arranha-céus construídos em prazos sempre recordes, projetados por arquitetos-celebridades, cercados por shopping-centers em que se vendem produtos com todas as griffes ocidentais, atendidos por escravos que chegam em ondas do Sul da Ásia e das Filipinas. Sana’a, capital do Iêmen, foi fundada em tempos em que o Velho Testamento ainda estava em produção, sendo escrito, editado e costurado. É verdade que o novo hotel Mövenpick, no coração do enclave diplomático que há na cidade, faz lembrar o pior de Dubai (estive lá quando todos eram obrigados a engolir um menu “Valentine’s Day Dinner Menu”), mas a elite iemenita é cuidadosa e não ostenta riqueza.

A velha cidade murada foi resgatada da extinção-por-modernização, pela Unesco (depois, também pelo Aga Khan Trust) nos anos 80s, e a antiga muralha foi reconstruída. A Grande Mesquita do século 9º está atualmente sendo restaurada por equipe de especialistas italianos associados a arqueólogos locais e têm encontrado objetos e imagens do passado pré-islâmico daquela região. Se vão ou não localizar uma pequena estrutura que se diz que teria sido construída ainda em vida do profeta Maomé, não se sabe.

A estrutura de Sana’a é deslumbrante, diferente de tudo o que se vê no mundo. As construções – arranha-céus de oito ou nove andares – foram erguidas no século 9º e restauradas 600 anos depois, conservando-se o estilo original: tijolos de argila decorados com padrões geométricos em gesso e pedra esculpida (não havia madeira em quantidade suficiente para construir). Faltam só os jardins suspensos em cada piso, que cativaram a imaginação dos viajantes medievais.[1]

Resultado líquido das preocupações ocidentais com a Al-Qaeda AQAP é que, esse ano, os EUA darão 63 milhões de dólares em ajuda ao Iêmen. Um quinto disso já está reservado para comprar armas, e o restante, praticamente todo, irá para o presidente e sua trupe, sem esquecer o que irá para os bolsos dos altos comandantes militares. O que sobrar será disputados pelos chefetes das várias regiões do país. (No total, não está incluído o que o Pentágono enviará para combater o terrorismo, e que ano passado chegou a 67 milhões.) Um empresário iemenita contou-me que ficara boquiaberto, há alguns anos, quando o primeiro-ministro, aparentemente homem moderado e respeitável, exigiu comissão de 30% em negócio que estavam planejando. Percebendo que o empresário ficara chocado, o primeiro-ministro tratou de tranquilizá-lo: 20% iriam diretamente para o presidente.

Não sei se a AQAP é ameaça séria, ou o quanto é séria, de fato. Quantos membros da organização estariam no país, quantos seriam meros visitantes vindos do outro lado da fronteira com a Arábia Saudita?

Abdul Karim al-Eryani, 75 anos, ex-primeiro-ministro e ainda conselheiro do presidente recebeu-me na grande biblioteca no subsolo de sua casa. É homem de fala interessante e falou longamente sobre a história do Iêmen, destacando as continuidades desde o período pré-islâmico até as culturas islâmicas na região. Lastimou que o dialeto árabe falado pelos beduínos de Nejd (que hoje é parte da Arábia Saudita) tenha sido a principal fonte para o moderno dicionário árabe, esquecendo-se assim a real fonte da língua, o dialeto dos Sabeans [talvez “sabinos”? Só o Arnaldo Carrilho saberá dizer!] que viveram onde hoje é o Iêmen, de cujo idioma os autores do dicionário excluíram 5.000 palavras.

Mais adiante, contou-me que, graças ao nigeriano da cueca-bomba, tinha sido visitado por Thomas Friedman, colunista do New York Times. Friedman fez as perguntas que quis, voltou aos EUA e contou aos leitores que “a cidade não é Cabul… ainda”; que a AQAP é um ‘vírus’ que merece urgente atenção antes que a doença se espalhe e torne-se incontrolável. Não cogitou, sequer, da causa da infecção.

Mas quando pedi que Eryani estimasse o tamanho da AQAP, ele riu. “Trezentos? Quatrocentos” – insisti. “No máximo”, disse ele. “No máximo, mesmo. Os americanos exageram enormemente. Temos nossos problemas reais e muito mais importantes.”

O mesmo ponto de vista foi reiterado por Saleh Ali Ba-Surah, ministro da Educação Superior, formado na Alemanha Oriental, como muitos nascidos na república que, até 1990, foi a República Popular Democrática do Iêmen, a porção sul do atual Estado.

As duas partes do que hoje constitui a República do Iêmen – controlada há 20 anos por Ali Abdullah Saleh, o qual, como Mubarak e Gaddafi, está criando o filho para sucedê-lo – representaram duas muito diferentes sociologias ao longo de grande parte do século passado. O norte, das terras altas – onde está a capital Sana’a –, foi dominado por tribos armadas; e no interior da região de Aden, dominavam os operários, intelectuais, sindicalistas, nacionalistas e, depois, os comunistas.

O país foi unificado séculos antes, sob a liderança dos imãs xiitas Zaidi, cujos poderes temporais dependiam da lealdade tribal e da aquiescência dos camponeses. O sul do Iêmen separou-se em 1728; o império britânico em expansão ocupou Aden e a área litorânea em 1839 (no mesmo ano em que começou a ocupar Hong Kong).

O já enfraquecido império otomano ainda abocanhou, pouco depois, uma fatia do norte do Iêmen, mas teve de cedê-la depois da I Guerra Mundial. Sob o império-do-bem dos britânicos, os imãs da família Hamid-ed-Din reassumiram o controle do norte. Em 1948, o governante, Yahya Muhammad, foi assassinado por um de seus guarda-costas, e o filho de Yahya, Ahmad, isolacionista obcecado, assumiu o poder.

Para Ahmad, a escolha foi fácil: seu país poderia ser dependente e rico, ou pobre e livre. Aos poucos, o descontentamento popular cresceu, à medida que Ahmad ia-se tornando cada vez mais excêntrico, mergulhado em morfina a maior parte do dia, ele e os amigos, num quarto iluminado com lâmpadas de neon, brincando com os brinquedos que colecionava desde criança. Não havia no país sequer uma escola moderna, uma estrada de ferro ou fábrica moderna, praticamente nenhum professor e nenhum médico.

Todos apostavam na volta de um irmão exilado do imã, que viria para expulsar Ahmad; ou, antes disso, em que os apoiadores de Nasser no exército do Iêmen perdessem a paciência. Ahmad combatera o nacionalismo árabe de Nasser em 1960, instigado pelos sauditas, fez divulgar pela rádio estatal uma denúncia contra Nassar, e havia quem esperasse por resposta do Cairo. A Rádio Cairo, sim, declarou guerra ao Iêmen. Mas antes que chegassem às vias de fato, Ahmad morreu.

Em menos de uma semana, o chefe da guarda pessoal de Ahmad, al-Sallal, reuniu oficiais nacionalistas e tomou o poder. O imanato chegara ao fim. Em Aden, milhares de pessoas manifestaram-se nas ruas a favor do novo regime. Nas mesmas manifestações deixaram bem claro também que resistiriam contra a ocupação colonial do sul do país pelos britânicos.

Com medo tanto dos radicais nacionalistas quanto de seus muito prováveis apoiadores comunistas, Washington e Londres decidiram que o melhor a fazer seria devolver o poder aos imãs. Os britânicos, doidos para dar uma lição a Nasser e vingar a humilhação de Suez, foram com muito mais sede que os EUA ao pote das armas. A principal preocupação dos norte-americanos era que a infecção iemenita se espalhasse pela península e que, se a intervenção saudita fracassasse, as correntes nacionalistas engolfassem também a Arábia Saudita – o que poria em risco a monarquia. Os sauditas passaram a alimentar os apoiadores dos imãs e as tribos mais conservadoras do norte – com uma mistura barata de islamismo primitivo e muito dinheiro.

Os líderes políticos e militares do novo Estado do norte eram fracos e atrapalhados. Os intelectuais nasseristas no governo aproveitaram-se da indecisão deles e, finalmente, conseguiram convencer o exército a recorrer diretamente a Nasser. Os egípcios, então, com apoio de soviéticos e chineses, mandaram para o Iêmen uma força expedicionária de 20 mil soldados.

Gerou-se assim uma prolongada guerra civil, disputada por simulacros dos personagens oficiais da Guerra Fria – sauditas versus egípcios, para ser bem claro –, que custou a vida de 200 mil iemenitas e deixou em ruínas todo o norte do país.

Os egípcios eram homens do vale do Nilo e o terreno montanhoso lhes era completamente desconhecido. Mas, certos de que seriam invencíveis, não ouviram advertências nem conselhos e trataram os aliados locais, simultaneamente, como inferiores e irrelevantes. A guerra civil enfrentava impasse completo, e crescia a oposição aos métodos dos egípcios, que incluíam o uso de armas químicas. Foi quando aconteceu o brutal massacre dos operários e sindicalistas que faziam oposição aos egípcios em Sana’a e Taiz.

Em 1970, a guerra acabou sem vencedores e um acordo insatisfatório para todos. Os egípcios trabalharam na direção de subornar as tribos para comprar o poder; como resultado, compraram o poder – que foi entregue associado a entidades divinas e muitos pregadores e clérigos. A guerra custara ao Egito um milhão de dólares por dia e a vida de 15 mil soldados, além de quase 50 mil feridos. A subsequente desmoralização do exército pode ter contribuído para a derrota que sofreu na Guerra dos Seis Dias. Seja como for, a ‘guerra relâmpago’ de Israel, em junho de 1967, foi o túmulo do nacionalismo árabe.

A guerra civil forçou muitos comunistas e nacionalistas de esquerda do Iêmen do Norte a fugir para Aden. Ali, soldados britânicos, veteranos franceses da Argélia e mercenários belgas foram recrutados para a empresa do coronel David Stirling, Watchguard International Ltd., para operar por trás das linhas inimigas. Também no sul os nacionalistas estavam divididos: o Egito apoiava a Frente para a Libertação do Iêmen do Sul [ing. Front for the Liberation of South Yemen (FLOSY)] e grupos mais radicais reunidos sob a bandeira da Frente Nacional de Libertação [ing. National Liberation Front (NF)]. Os dois lados lutavam para expulsar os britânicos, e os britânicos, determinados a continuar onde estavam, agarrados a uma base estrategicamente importante e recorrendo cada vez mais a prisões sem julgamento e à tortur a.

Em 1964 Harold Wilson declarou que os britânicos permaneceriam na região, mas que passariam o poder, em 1968, à chamada Federação Sul-arábica [ing. Federation of South Arabia], sob a qual Wilson esperava que a população de Aden fosse mantida sob o controle de sultões do interior.

O plano deu gravemente errado, depois de todas as vilas terem sido bombardeadas, até serem varridas do mapa, pela Força Aérea britânica [ing. Royal Air Force (RAF)]. Em palavras de Bernard Reilly, oficial britânico que viveu praticamente toda a vida em Aden: “Só se pode pacificar país não habituado a governo ordeiro, mediante atos de punição coletiva, assalto e pilhagem.” Os líderes daquelas tribos não desejavam ser pacificados. Começou luta feroz nas ruas do Crater, uma das áreas mais antigas de Aden.

Em 1967, a Frente Nacional de Libertação usava bazucas e morteiros em Aden e atacava diretamente as bases militares britânicas. O governo trabalhista decidiu pôr fim às perdas e ordenou a retirada. “Lamentavelmente” – lê-se em carta do Colonial Office aos seus colaboradores nativos – “não podemos continuar a protegê-los”.

A vitória dos israelenses em junho de 1967 não ajudou os britânicos, porque a Frente Nacional de Libertação não era peão que os Egípcios jogassem como bem entendessem e bem diferente, nisso, da Frente para a Libertação do Iêmen do Sul [ing. FLOSY] a qual, então, estava gravemente enfraquecida. Uma greve geral comandada pela Frente Nacional de Libertação paralisou Aden e ataques de guerrilheiros forçaram a administração colonial a cancelar as celebrações do aniversário da rainha. Seis meses mais tarde, dia 29/11/1967, quando o fechamento do canal de Suez acabou com qualquer importância que Aden tivesse para os britânicos, os britânicos afinal partiram, depois de 128 anos.

Ao mesmo tempo em que Humphrey Trevelyan, último comissário, acenava uma rápida despedida dos degraus do avião que o devolveria a Londres, a Banda da Real Marinha Britânica do HMS Eagle tocava ‘Fings Ain’t Wot They Used To Be’ [as coisas não serão mais como foram, escrito ‘com sotaque’].

A Frente Nacional de Libertação venceu, mas ainda faltava planejar a reconstrução do país. A Frente reunia membros de várias correntes da esquerda: pró-Moscou, maoístas, guerrilheiros à Che Guevara, alguns poucos trotskyistas e nacionalistas ortodoxos. Todos concordaram imediatamente com restabelecer relações diplomáticas com a URSS, o que foi feito dia 3/12/1967. Mas as disputas começaram imediatamente.

O Congresso da Frente Nacional de Libertação aprovou deliberação apresentada pelos radicais, em que se exigiam reformas no campo, o fim do analfabetismo, a formação de uma milícia popular, expurgo nos aparelhos civil e militar, apoio à resistência palestina e cooperação intensa e próxima com a China.

A esquerda dominava no corpo dirigente então eleito. Uma tentativa de putsch liderada pelo exército por pouco não levou à guerra civil; mas comandos guerrilheiros armados cercaram as bases militares e desarmaram os oficiais. Em maio de 1968 já se via que a ala direita da Frente Nacional de Libertação não tinha qualquer intenção de implementar as resoluções do Congresso.

Foi criado um Movimento 14 de Maio, para mobilizar os que apoiavam as reformas. Houve confrontos com os militares, seguidos por um estranho período de calmaria que fazia recordar os Dias de Julho de 1917 em Petrogrado. A direita supôs que havia vencido e declarou que “os organizadores do Movimento 14 de Maio, de tanto ler os escritos de Régis Debray, supuseram que estivessem fazendo “uma revolução dentro da revolução”. Um ano depois, todos entenderam que a esquerda vencera.

A constituição de 1970 declarou o país uma república socialista – a República Popular Democrática do Iêmen – contra os conselhos de China e da URSS. (Em outubro de 1968, o ministro das Relações Exteriores da China, Chen Yi, o qual, ele mesmo, estava então sitiado pelos Guardas Vermelhos, declarou a uma delegação do Iêmen do Sul que visitava a China que “a ideia de vocês, de construir o socialismo, alimentada com slogans irrealizáveis e promessas que não poderão cumprir, pela própria natureza da ideia, afia as espadas de seus adversários.”) O que aconteceu foi tragicamente previsível.

Um Estado economicamente muito atrasado partiu para criar estruturas que institucionalizaram a austeridade e universalizaram a miséria. Promover a industrialização mediante empresas estatais poderia ter ajudado, não fosse pela proibição total de qualquer tipo de produção doméstica, sequer para o consumo das próprias famílias. A isso somou-se o monopólio estatal de todas as modalidades de comunicação, controle estrito sobre tudo que se podia dizer ou publicar, e extinção de todos os partidos do país, exceto o Partido Socialista Iemenita [ing. Yemeni Socialist Party]. Zombaram, ao mesmo tempo, do socialismo e das promessas feitas durante a luta anticolonial. O que é inegável é que o novo sistema de educação e atendimento médico universal, e a aparição da mulher na cena pública marcaram extraordinário passo adiante para toda a região. O que não agradou à Arábia Saudita.

Como desenvolvimento esperável, as potências vizinhas – o Iêmen do Norte, os Estados do Golfo, a Arábia Saudita – puseram-se a trabalhar, estimulados pelo governo Reagan, numa contrarrevolução de dentro para fora, do tipo que estava então sendo tentada na Noruega com os Contras. Em Ali Nasser, apparatchik cru, semianalfabeto, obcecado pelo poder absoluto, que se tornou presidente da República Popular Democrática do Iêmen em 1980, aquele grupo encontrou o instrumento de que precisava.

Por mais de um ano o presidente trabalhou contra o carismático Abdul Fateh Ismail, que o precedera na presidência e liderara a luta contra os britânicos, até conseguir que renunciasse por “motivos de saúde” e partisse para longa estadia na Europa Oriental. Havia vários apoiadores de Ismail na liderança local, quando ele retornou de Moscou em 1985; foi rapidamente reeleito para o Politburo da República Popular Democrática do Iêmen, como líder da maioria.

Dia 13/1/1986, o carro de Ali Nasser foi visto na calçada do prédio do Comitê Central (réplica de outras horrendas estruturas que se viam na Europa Oriental), onde deveria acontecer uma reunião do Politburo. Mas Ali Nasser não compareceu à reunião. Em vez dele, apareceu seu guarda-costas, drogado e armado com uma metralhadora Scorpion; entrou na sala e assassinou à bala o vice-presidente Ali Ahmed Antar, para começar; em seguida matou todos quantos estavam na sala. Foram mortos quatro membros-chave do Politburo, inclusive Ismail, além de outro membros do Comitê Central. Em outros pontos da cidade, homens de Ali Nasser destruíram, a tiros de morteiros, a casa de Ismail; e houve pesado tiroteio em vários pontos. Às 12h30, rádios e televisões de Aden noticiaram que o presidente derrotara uma tentativa de golpe dos direitistas e que Ismail e seus colaboradores haviam sido executados. Três horas de pois, o serviço árabe da BBC anunciava que o “moderado e pragmático” presidente do Iêmen conseguira abortar uma tentativa de golpe pelos comunistas extremistas. E a mesma linha foi acompanhada por quase toda a mídia ocidental, que repetiu a versão da derrota de uma tentativa de golpe apoiada por Moscou para radicalizar ainda mais o Iêmen… e, isso, apesar de Gorbachev já estar no poder na URSS.

À medida que se espalhavam em Aden as notícias dos assassinatos, multidões começaram a reunir-se nas ruas, e soldados conseguiram desalojar os novos donos do prédio do ministério da Defesa e da sala de operações, de onde os homens de Ali Nasser foram expulsos. Os confrontos atravessaram a noite. Morreram muitos membros desarmados do Partido, sindicalistas, líderes camponeses, assassinados pelos soldados de Nasser – que tinham listas de nomes antecipadamente preparadas. Seja como for, depois de cinco dias de luta sangrenta, os “moderados e pragmáticos” foram derrotados. Ali Nasser fugiu para o Iêmen do Norte e de lá, depois, para Dubai. Atualmente, é diretor de um “centro cultural” em Damasco, onde dirige também suas várias empresas.

A matança na reunião do Comitê Central foi o começo do fim da República Popular Democrática do Iêmen. Os prepostos do Ocidente na região, que haviam organizado toda a ação, puseram-se a falar contra “os gângsteres socialistas que ocuparam o governo do país”. Enquanto a URSS começava a desmoronar, começaram negociações entre o Iêmen do Sul e do Norte, e o país foi rapidamente unificado em maio de 1990, comandado por um conselho presidencial de cinco membros que representava as duas ‘metades’. Em 1991, uma nova Constituição levantou todas as limitações à liberdade de expressão e da imprensa e à liberdade de reunião e associação.

Mas a unificação também não deu certo. Os iemenitas do sul sentiam que seus interesses haviam sido traídos, e os repetidos confrontos e discussões não auguravam bom futuro para o governo de coalizão criado depois das eleições. Os socialistas do sul acusavam as gangues apoiadas por Ali Saleh, ex-presidente do Iêmen do Norte, e então presidente do país unificado, de atacar sulistas em Sana’a e em outras cidades. As relações deterioram-se rapidamente e houve escaramuças no Sul entre remanescentes do exército da República Popular e soldados que haviam lutado pelo Norte. Chegou a irromper guerra generalizada em 1994, da qual participaram grupos jihadistas e Osama bin Laden – que apoiavam Ali Saleh. Os sulistas foram esmagados, não apenas militarmente, mas também cultural e economicamente. Houve expropriação, roubo de terra, de propriedades urban as, as mulheres voltaram a ter de cobrir-se dos pés à cabeça (“Se não nos cobríssemos, chamavam-nos de prostitutas. Houve muitos estupros. A brutalidade foi imensa. Nos obrigaram a fazer o que queriam” – contou-me uma mulher sem véu, em Aden).

Quando cheguei a Aden, percebi que a Al-Qaeda da Península Árabe (AQAP, em inglês) é o menor dos problemas do país.

A maioria dos sul-iemenitas anseiam desesperadamente por separar-se do Iêmen do Norte. “Aqui não se trata de unificação. Trata-se de ocupação” – ouvi inúmeras vezes.

A população está sem liderança política e há fortes rumores em Sana’a de que o assassino Ali Nasser estaria sendo preparado pelo atual presidente Ali Saleh para fazer uma reestreia política; Ali Saleh o vê como “o homem da unificação”. Enquanto isso, há manifestações nas vilas e cidades menores, nas quais se queimam a bandeira do Iêmen e fotos do presidente Ali Saleh, e vê-se subir o velho estandarte da República Popular Democrática. A repressão é sempre violenta e a amargura só faz crescer, essa sim, de todos.

Dia 1/3/2010, as forças de segurança cercaram e destruíram a casa de Ali Yafie o qual, na véspera, queimara em público uma fotografia do presidente Ali Saleh. Yafie e oito membros de sua família, inclusive a neta de sete anos, foram mortos. A propaganda governamental acusou-o de ser membro da Al-Qaeda da Península Árabe.

Na noite de 4/1/2010, as forças de segurança em Aden cercaram a casa de Hasham Bashraheel, editor-chefe do jornal Al-Ayyam – fundado em 1958 e jornal que sempre noticiou, com abundância de fotos, as atrocidades do Estado. Por exemplo, publicou fotos dos mortos depois que as forças de segurança abriram fogo contra ex-soldados que reclamavam pagamentos atrasados; o jornal foi fechado em maio de 2009, embora a sala da redação tenha continuado a servir como local de reunião de jornalistas, intelectuais e ativistas de direitos civis. Quando as forças de segurança cercaram o prédio, logo surgiram também defensores do jornal que se reuniram na área. Os policiais dispararam para o ar, para dispersá-los. Depois, atiraram granadas na direção do prédio, onde o jornalista e sua família, inclusive duas netas pequenas, ainda estavam. Todos sobreviveram, miracu losamente, porque conseguiram esconder-se no porão do prédio.

Na manhã seguinte, Bashraheel e seus dois filhos renderam-se publicamente, para, pelo menos, tentar dificultar algum tipo de atentado contra eles e a família. Um ativista local disse-me que “amigos que tenho na polícia” disseram-lhe que havia dois cadáveres não identificados no porta-malas de um automóvel sem placa, em frente ao jornal.

Se Bashraheel e sua família tivessem sido assassinados, os dois cadáveres teriam sido plantados no prédio e identificados como membros da Al-Qaeda da Península Arábica, que estariam recebendo abrigo no prédio do jornal e teriam sido mortos por resistir à prisão. Um guarda pago pela família para cuidar da segurança foi morto, ao tentar render-se. O seu pai foi preso no enterro, dia seguinte. O jornalista foi pessoalmente acusado de “formação de quadrilha armada”. Há boatos de que o embaixador britânico, Tim Torlot, teria escrito ao governo, sugerindo que a mídia independente seria o principal problema no Iêmen. Meu informante em Sana’a garante que viu a carta. Torlot é famoso no Iêmen por ter trocado a esposa por uma ofuscante norte-americana que trabalha para o jornal Yemen Observer, jornal cujo proprietário é o secretário de imprensa do p residente Ali Saleh.

Viajei pelo sul, de Aden a Mukallah. Mas quando vi Shibam, esqueci completamente a política, pelo menos por uns instantes. Essa cidade murada, feita de edificações com paredes de argila, muito altos, alguns com 30 metros de altura, é um museu vivo[2]. Não surpreende que tenha sido escolhida por Pasolini para cenário de boa parte de suas “Mil e Uma Noites”. Pasolini fez mais. De volta a Roma, tanto falou sobre a cidade que conseguiu que a Unesco a declarasse patrimônio universal da humanidade (“World Heritage”). Em 2009, ao fotografarem a cidade de cima de uma colina, quatro turistas sul-coreanos foram mortos por um suicida-bomba do Norte.

Perguntei por todos os lados sobre a Al-Qaeda da Península Árabe. Um habitante de Shiban aproximou-se e perguntou-me num sussurro: “Quer mesmo saber onde Al-Qaeda se esconde?” Fiz que sim, com a cabeça e ele respondeu: “Na sala ao lado do gabinete do presidente”.

O mesmo aconteceu, em versão quase idêntica, também em Sana’a e Aden. Na véspera do Natal, o governo bombardeou (com jatos e aviões-robôs coordenados pelos EUA) duas vilas do sul onde, diziam eles, estaria escondido Anwar al-Awlaki, o clérigo iemenita-norte-americano acusado de ser o mentor do nigeriano da cueca-bomba. Não o encontraram, mas mataram mais de uma dúzia de civis.

O governo de Ali Saleh também enfrentou rebelião na província de Sa’ada, no norte, que faz fronteira com a Arábia Saudita. A população das terras altas anda irritada com os grupamentos de Wahhabitas e, sem ajuda do governo de Sana’a, decidiu se autodefender. Milícias tribais capturaram alguns soldados sauditas.

Resultado disso foi que, dia 5/11/2009, o mundo viu pela primeira vez em ação a Força Aérea Saudita (dita a mais poderosa força aérea na Região, depois de EUA e Israel; mas os aviões enferrujam até desmanchar, em hangares no deserto). Ali Saleh, o presidente, descreve a revolta como uma rebelião de xiitas apoiados por Teerã, e que tem de ser contida à força. Já praticamente ninguém acredita nisso.

O exército iemenita promoveu em agosto passado a Operação “Terra Arrasada” [ing. Scorched Land], que destruiu vilas e desalojou de suas casas 150 mil pessoas. Dada a total ausência de notícias e de organizações humanitárias, não se conhece exatamente a extensão das atrocidades cometidas pelo governo de Ali Saleh.

Muhammad al-Maqaleh, líder do Partido Socialista Iemenita e editor do jornal do partido, o Socialist, obteve depoimentos de algumas testemunhas oculares e publicou-os na Internet em setembro passado. Descreveu um ataque aéreo que matou 87 refugiados em Sa’ada, e incluiu fotografias. Foi preso por quatro meses, torturado e ameaçado de execução, por quatro meses. Finalmente foi apresentado a uma corte de justiça, à qual revelou o que sofrera.

Sana’a ainda não é Cabul, sim. Mas se o regime de Ali Saleh continuar a usar a força contra a população na escala em que está acontecendo hoje, novas guerras civis são hoje muito prováveis.

[1] Ver Salma Samar Damluji (2007), The Architecture of Iêmen: From Yafi to Hadramut.

[2] Há boas imagens em http://whc.unesco.org/en/list/192/.

Alguns passos na área do lixo

Instituto Humanitas Unisinos - 26 mar 10

"Hoje estamos desperdiçando (estudos do Cempre, IBGE e WWF) mais de metade do vidro, papel e papelão, embalagens de PET e plásticos levados ao lixo, além de mais de 70% das embalagens longa vida", escreve Washington Novaes, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 26-03-2010.

Eis o artigo.

Afinal, depois de 19 anos de tramitação, a Câmara dos Deputados, em Brasília, aprovou um projeto de Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ainda terá de passar pelo Senado. Mas contém princípios interessantes. Como o que recomenda conferir prioridade aos estímulos para as cooperativas de catadores de resíduos - que, segundo as justificativas ao texto, já contam com 800 mil pessoas no País. Também dá preferência a materiais reciclados em compras da administração pública; aprova a chamada logística reversa, em que os responsáveis pelas embalagens devem ser responsabilizados pelo retorno dos resíduos nas áreas dos agrotóxicos, pilhas, baterias, lâmpadas, pneus; define que a responsabilidade pelos resíduos deve ser compartilhada por governos, empresas e sociedade. Tudo para contemplar os objetivos centrais da política, que são a redução dos resíduos, sua reutilização e - caso impossíveis - sua reciclagem. A deposição em aterros deve ser a opção final, pois só recomenda a incineração caso não haja outra possibilidade. E será proibida a catação de lixo em aterros.

São, todos eles, princípios interessantes. Mas, além de ainda terem de passar pelo Senado, não criam instrumentos práticos para enfrentar a gravíssima questão dos resíduos no País, principalmente para eliminar os lixões a céu aberto, que ainda recebem mais de metade dos resíduos totais. O projeto recomenda que se criem consórcios intermunicipais para isso e que eles tenham prioridade para receber recursos federais. Além disso, os municípios terão de fazer planos de gestão integrada de resíduos sólidos e estabelecer metas para a coleta seletiva. Paralelamente, o setor empresarial deverá "gerenciar seus resíduos", especialmente criar pontos para receber de volta resíduos problemáticos e/ou perigosos, como pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, pneus, produtos eletrônicos, além de embalagens. Resíduos do saneamento, industriais, de serviços de saúde, da mineração, de empresas de construção e resíduos perigosos obrigarão os respectivos responsáveis a fazer planos de gerenciamento.

São avanços condicionados a que os princípios sejam seguidos por planos em cada Estado, em cada município, em cada setor. E que haja recursos financeiros para enfrentar a situação dramática nesse setor. Porque estamos hoje com uma realidade de cerca de 1,5 quilo de lixo domiciliar por dia por habitante e os 3.639 lixões recebendo 55 milhões de toneladas de resíduos por ano (no País, são 703 aterros adequados e 899 "controlados"). Todas as capitais mais populosas estão com seus aterros esgotados; 25 mil famílias moram em lixões. E os municípios gastam alguns bilhões de reais a cada ano, com a coleta e a deposição dos resíduos, com serviços próprios ou de terceiros (que recebem entre R$ 30 e R$ 60 por tonelada). As licitações para serviços nessa área são apontadas como um dos caminhos mais frequentes para doações ilegais nas campanhas eleitorais.

E tudo isso é um enorme desperdício, como já se escreveu aqui tantas vezes. O setor deveria, ao contrário, transformar-se em grande gerador de trabalho e renda para setores desfavorecidos. Para isso o melhor caminho é o das cooperativas de catadores. Mas ele precisa avançar, com o poder público financiando a construção e implantação de usinas de reciclagem (a reciclagem em usinas públicas não passa de 1% do total), a compra de equipamentos de coleta. Por aí é possível - como já o demonstrou em outros tempos, quando teve mais apoio, o Núcleo Industrial da Reciclagem, de Goiânia - reduzir em até 80% a deposição de resíduos em aterros. Compostando todo o lixo orgânico para transformá-lo em fertilizantes para jardins, recomposição de encostas, etc.; transformando todo o papel e papelão em telhas revestidas de betume, que substituem com muitas vantagens as de amianto; reciclando todo o PVC e transformando-o em mangueiras pretas ou pellets para empresas que os utilizam como matéria-prima; prensando latas e moendo vidros para recicladoras. E, last but not least, gerando trabalho e renda para pessoas com pouca educação formal. Sem perigo de desperdiçar o investimento, pois a cessão às cooperativas deve ser feita pelo regime de comodato renovável periodicamente.

Por caminhos como esse é possível reduzir fortemente os investimentos multimilionários necessários para novos aterros. E cidades como São Paulo geram mais de 12 mil toneladas diárias de resíduos. Também por aí é possível reduzir muito o desperdício mostrado em estudo da Unesp (Sorocaba) com o lixo de Indaiatuba (125 mil habitantes), onde 91% dos 135 mil quilos de resíduos levados para o aterro a cada dia seriam reutilizáveis ou recicláveis.

Há ainda um ponto do projeto aprovado pela Câmara que precisa ser destacado - pela mesma razão, desperdício: o caminho da incineração só deve ser tomado em último caso. Além de caro, o método tem uma contradição insuperável, já enfrentada por vários países europeus: se o objetivo principal de uma boa política para o lixo deve ser reduzir a produção, como se fará com usinas incineradoras, que exigem, no mínimo, a manutenção da quantidade produzida - principalmente se forem utilizadas para gerar energia? Sem falar nos altos custos, já que a incineração de materiais orgânicos exige altíssimas temperaturas, para evitar a liberação de agentes cancerígenos.

Hoje estamos desperdiçando (estudos do Cempre, IBGE e WWF) mais de metade do vidro, papel e papelão, embalagens de PET e plásticos levados ao lixo, além de mais de 70% das embalagens longa vida. A recente decisão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) de simplificar as regras para licenciamento de aterros que recebam até 20 toneladas diárias pode ajudar também nos municípios com até 30 mil habitantes. Mas não resolve, sozinha. Será preciso apressar a tramitação no Senado do projeto aprovado na Câmara. E criar os instrumentos práticos para concretizar as decisões.

David Harvey: Investimento do grande capital traz problemas para cidades

Instituto Humanitas Unisinos - 26 mar 10

Um dos maiores intelectuais de esquerda no mundo hoje, o norte-americano David Harvey, professor da Universidade de Columbia, critica a forma como se dão a realização de megaeventos, que acentuam o processo de exclusão nas cidades. Em sua opinião, os megaeventos são palco da origem e das soluções. Para o intelectual, o investimento do grande capital é o responsável por boa parte dos problemas sociais que sofrem as cidades. E afima que as ideias do direito à cidade precisam ser recuperadas para frear o processo de concentração de riqueza e de de aumento das desigualdades.

A entrevista foi publicada pelo Fórum Social Urbano, 24-03-2010.

Eis a entrevista.

Em que sentido a luta pelo direito à cidade é uma luta anticapitalista?

Quem constroi a cidade, no momento atual, é o grande capital. E eles estão se apropriando dos espaços da cidade para seus interesses particulares. Às vezes realizam grandes projetos que são muito bons para eles, mas que, de fato, não fazem nada pela maioria da população. Na verdade, a maioria da população [das regiões dos projetos] é despejada por meio dessas estratégias. Então é o investimento de capital nas cidades que está criando muitos dos problemas. Você se pergunta: por que o capital continua investindo na cidade da maneira como elas estão. Isso tem muito a ver com aquilo que eu chamo de contradições internas do capitalismo em manter 3% de crescimento necessário para que, assim, continue a se reproduzir. E isso tem se tornado um problema sério para as cidades que estão evoluindo agora.

O Brasil vai receber dois grandes eventos, do tipo que você tratou, em um espaço de menos de dez anos. Em sua opinião, existe algum lado positivo em trazer esse tipo de evento? É possível haver esse tipo de iniciativa sem que isso leve necessariamente a despejos e aprofundamento da exclusão social nas cidades?

Todos sabem que megaeventos como esses são grandes pretextos para pôr em prática esquemas em massa de melhoramento das propriedades. Portanto, grandes lucros serão feitos por construtoras, instituições financeiras e todo o resto que vem junto. Trata-se de uma máquina de produzir lucro. A grande questão é: será que os benefícios materiais vêm para o restante da população? A maior parte dos estudos que eu vi sobre os Jogos OlímpicosCopa do Mundo e os Jogos Olímpicos]. Porém, a grande questão que eles devem se fazer é: valeu a pena pagar todos esse dinheiro por prestígio nacional? Eu sei que há outras maneiras de obter prestígio além de ter que se engajar em competição por megaeventos como os Jogos Olímpicos, a Copa do Mundo, entre outros. Porque, de fato, isso pode se transformar em competição interestados. O orgulho nacional é evocado dentro ou fora deles, mas os grandes beneficiários são os construtores. Eles conseguem seu dinheiro e vão embora. sugere que a maior parte da população em geral não se beneficia disso. Mas tem algo a mais em jogo aqui, que é o prestígio nacional. Tenho certeza que os brasileiros se sentem orgulhosos do fato [de sediar a

Por que a atividade do grande capital começa a se deslocar para meios não concretos, como os espetáculos?

Se você produz, você precisa construir grandes armazéns para acomodá-la. Se você fabrica facas ou porcelana, as mercadorias vão durar cem anos. Por outro lado, um espetáculo depois que acontece, acaba.

O crédito de carbono está neste bojo?

Sim, está. Este também é um mercado fictício, é tudo do que se trata.

Contratadas da Celulose Irani no RS se envolvem em casos de trabalho escravo

Instituto Humanitas Unisinos - 26 mar 10

Contratadas da Celulose Irani (RS), responsável por 4,5% de toda produção nacional de papel para embalagem, mantiveram, segundo inspeções do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), empregados em condições análogas à escravidão.

A reportagem é de Bianca Pyl e publicada pela Agência Repórter Brasil, 24-03-2010.

O primeiro caso, ocorrido em agosto de 2009, resultou na libertação, em São José do Norte (RS), de seis contratados por Valnei José Queirós, que prestava serviços à Celulose Irani. As vítimas, que atuavam no corte de pinus, dormiam em barracos feitos de restos de madeira e lona. Não havia instalações sanitárias. Alimentos superfaturados eram comprados em comércio indicado pelos "gatos" (aliciadores) e depois descontados dos pagamentos. Por causa das dívidas, os empregados ficavam sem receber salários.

Valnei chegou a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pelo procurador Luiz Alessandro Machado, da Procuradoria Regional do Trabalho da 4ª Região (PRT-4), que participou da fiscalização. Contudo, em setembro de 2009, no mês seguinte à primeira fiscalização, uma nova operação encontrou mais um grupo de empregados sem registro na Carteira de Trabalho e da Previdência Social (CTPS) e sem receber salários por mais de mais de dois meses atuando em Mostardas (RS) para a prestadora de serviço Comércio de Resina Queiroz, também contratada pela Celulose Irani.

A Comércio de Resina Queiroz tem Valnei como um de seus sócios. Na ocasião, o procurador Marcelo Goulart firmou outro TAC. No acordo, a subcontratada se comprometeu a registrar os empregados (a não contratar sem o registro profissional), e a efetuar o pagamento dos direitos trabalhistas.

De acordo com Marcelo, contudo, Valnei não tem idoneidade financeira e não conseguiu arcar com os direitos trabalhistas. Por isso, ele ajuizou ação civil coletiva contra a Irani para que a mesma arcasse com os pagamentos. "A Irani pagou as verbas trabalhistas, só faltou uma multa prevista no Artigo 477 [da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que se refere a prazo para pagamento das parcelas constantes no termo de rescisão do contrato de trabalho]. Ganhamos em primeira instância [o pagamento da multa], mas a empresa está recorrendo", detalha o procurador.

Em dezembro do ano passado, o MTE e o MPT receberam nova denúncia repassada pela Polícia Civil envolvendo a Resimir Extração de Resinas Ltda., outra contratada da Celulose Irani. Segundo as informações preliminares, 12 trabalhadores aliciados em Martim Prado (SP), que extraíam resina em Cidreira (RS), também estavam com os salários atrasados.

Quando a equipe fiscal chegou ao local, os trabalhadores já tinham deixado a área e retornado ao interior paulista. O próprio sócio da resimir, Valmir de Oliveira, chegou a admitir em depoimento que arregimentava pessoalmente trabalhadores em municípios como Itararé (SP), Campina de Fora (SP) e Itapeva (SP), além de Martim Prado (SP).

A passagem ao Rio Grande do Sul foi paga pela Resimir, e o retorno foi custeado pelos próprios trabalhadores. De acordo com o procurador Luiz Alessandro, que também participou desta última ação, mesmo sem o flagrante e embora todos os registros tenham ficado no nome da Resimir, as verbas rescisórias foram pagas pela Irani, que contratou diretamente 20 pessoas. O contrato de prestação de serviços da Irani com a Resimir foi rescindido.

"Eles ficavam alojados em pequenas casas em Cidreira, pagavam aluguéis e, por conta disso, acabavam se endividando com o empregador", detalha o procurador Luiz. Em levantamento preliminar, ele verificou que a Irani terceiriza toda atividade de extração de resina. "São cinco ou seis empresas contratadas para prestação de serviços na extração de resinas de pinus".

Por conta desta denúncia, a PRT-4 propôs um novo TAC à Celulose Irani. A empresa, porém, ainda não consentiu em assinar o compromisso. O termo prevê a responsabilidade solidária da empresa com relação às prestadoras de serviço, no tocante às verbas trabalhistas, descumprimentos de acordos já assinados pelas prestadoras e pelos pagamentos das indenizações em caso de constatação de novos casos de trabalho escravo.

O documento prevê também o fim das terceirizações, em um prazo de até seis meses. "Depois desse período, estaria vedada a terceirização", complementa Luiz. "Ainda estamos negociando com a empresa porque, nesse último caso, não houve flagrante. Não temos elementos que sustentem uma ação civil pública. Mas vamos intensificar as fiscalizações assim que tivermos a localização das frentes de trabalho de cada prestadora de serviço".

Como medida preventiva, Luiz Alessandro entregou à Celulose Irani uma Notificação Recomendatória, com uma série de medidas como comunicar ao MPT quais são as prestadoras contratadas e entregar a localização exata de todas as frentes de trabalho onde são realizadas atividades para a empresa.

"A recomendação não fixa multas, mas em caso de descumprimento poderão ser tomadas medidas judiciais. Tem a função de dar ciência ao investigado do entendimento do MPT quanto às irregularidades. Desse modo, em eventual ação civil pública, o argumento de que a empresa não tinha conhecimento da interpretação dada pelo MPT não terá força", explica o procurador.

Segundo o site oficial da empresa, o lucro líquido da Celulose Irani em 2009 foi de R$ 44 milhões. A produção de papel da companhia, que tem papéis negociados na Bolsa de Valores, aumentou 9,5%, passando de 168.766 toneladas, em 2008, para 184.868 toneladas, em 2009.

Uma das maiores empresas do setor de papel e embalagem em kraft do Brasil, a Irani tem cerca de 1,7 mil funcionários e declara ter direcionado R$ 8,8 milhões em benefícios, desenvolvimento e capacitação de pessoas.

Em seu último relatório de sustentabilidade (2008), a empresa declara adotar práticas trabalhistas "embasadas em normas nacional e internacionalmente reconhecidas". Afirma atuar ainda "em conformidade com as orientações da Delegacia Regional do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo e passa por auditorias desses órgãos em todas as suas unidades".

A assessoria de comunicação da Irani não respondeu as questões enviadas pela Repórter Brasil. A companhia se limitou a declarar que "todas as suas práticas trabalhistas são pautadas pelo respeito às pessoas e ao meio ambiente" e que "prioriza contratações de empresas prestadoras de serviço que respeitam a legislação em todos os aspectos trabalhistas de forma ética e responsável, visando a sustentabilidade dos negócios".

quinta-feira, março 25, 2010

Urânio empobrecido: Um crime de guerra dentro de uma guerra criminosa

resistir info - 24 mar 10


por William Bowles

Fotos impr�prias para pessoas sens�veis. Como se destruir um país e a sua cultura não fosse suficientemente mau, o que dizer acerca da destruição do seu futuro, dos seus filhos? Quero bradar isto de cima dos telhados! Somos cúmplices em crimes de tamanha enormidade que acho difícil encontrar as palavras para descrever o que sinto acerca deste crime cometido em meu nome! Em nome do mundo "civilizado"?

"Esqueça-se do petróleo, da ocupação, do terrorismo ou mesmo da Al-Qaeda. O perigo real para os iraquianos destes dias é câncer. O câncer está a propagar-se rapidamente no Iraque. Milhares de bebés estão a nascer com deformidades. Os médicos dizem que estão a lutar para enfrentar o aumento do câncer e dos defeitos natos, especialmente em cidades sujeitas a pesado bombardeamento americano e britânico". — Jalal Ghazi, para New America Media

Segundo Dahr Jamail,

"Os militares estado-unidenses e britânicos utilizaram mais de 1700 toneladas de urânio empobrecido (depleted uranium, DU) no Iraque durante a invasão de 2003 (Jane's Defence News, 4/2/04) acima da 320 toneladas utilizadas na Guerra do Golfo de 1991 (Inter Press Service, 3/25/03). Literalmente, todas as pessoas com quem falei no Iraque durante os meus nove meses de reportagem ali sabem de alguém que sofre ou morreu de câncer.

(...)

Ghazi cobriu Faluja, a qual absorveu a carga de duas maciças operações militares dos EUA em 2004, até 25 por cento dos nascituros têm sérias anormalidades físicas. As taxas de câncer em Babil, uma área a Sul de Bagdad, elevaram-se de 500 casos em 2004 para mais de 9000 em 2009. O Dr. Jawad al-Ali, director do Centro de Oncologia em Bassorá, disse à Al Jazeera English (10/12/09) que houve 1885 casos de câncer no ano de 2005, agora de 1250 a 1500 pacientes visitam o seu centro a cada mês. — 'The New 'Forgotten' War' By Dahr Jamail, 15 March, 2010

Mesmo a BBC foi forçada a reconhecer a realidade (Ouçam: 'Child deformities 'increasing' in Falluja' 4 March, 2010). Mas é verdade que pesquisei o sítio web da BBC em busca do vídeo clip que havia visto na semana passada, de modo que fui poupado às cenas horrorosas que testemunhara, registadas no hospital principal de Faluja. Se isto tivesse sido uma herança de Saddam, teríamos visto imagens como aquelas acima repetidas infindavelmente nos mass media, completadas com resoluções da ONU e tudo o mais.

Esta peça curta colocada no sítio web da BBC finalizava assim:

"Numa declaração, o Pentágono disse que "Nenhum estudo até à data indicou questões ambientais que resultassem em questões específicas da saúde. Munições não explodidas, incluindo dispositivos explosivos improvisados, são um perigo reconhecido" ".

Fim da história, tanto quanto o que preocupa a BBC. Assim, como é que isto não é uma manchete? Mesmo a Coligação Travem a Guerra (Stop the War Coalition) mal menciona o assunto, mais preocupada aparentemente com os apuros dos guerreiros do imperialismo, dos guerreiros britânicos que dispararam esta coisa imunda não só contra inocentes iraquianos como também contra inocentes da antiga Jugoslávia e do Afeganistão. Mas então somos os cidadãos do Império, o que explica porque Stop the War tem pouco ou nada a dizer sobre o assunto.

"Quando disseram que o urânio empobrecido era a arma preferida do império estado-unidense, eles mentiam. A palavra 'empobrecido' é um truque de relações públicas. Ela faz parece que o material nuclear está esgotado. Não está. É urânio. Vamos chamá-lo urânio. Por outras palavras, DU é o resíduo nuclear de baixo nível. O DU também pode conter traços significativos de "neptúnio, plutónio, amerício, tecnícium-99 e urânio-236". – http://tuberose.com/

As declarações do governo britânico e estado-unidense de que o Depleted Uranium é uma arma "convencional" são contraditadas pelos factos:

  • O armamento com urânio empobrecido (DU) cumpre a definição de armas de destruição em massa em duas de três categorias sob o U.S. Federal Code Title 50 Chapter 40 Section 2302.
  • Desde 1991, os EUA libertaram atomicidade equivalente a pelo menos 400 mil bombas de Nagasaki na atmosfera global. Isto é 10 vezes a quantidade libertada durante testes atmosféricos, a qual era o equivalente a 40 mil bombas de Hiroshima. Os EUA contaminaram permanentemente a atmosfera global com poluição radioactiva que tem uma semi-vida de 2,5 mil milhões de anos.
  • Os EUA conduziram ilegalmente quatro guerras nucleares na Jugoslávia, Afeganistão e duas vezes no Iraque desde 1991, chamando o DU de armamento "convencional" quando de facto é armamento nuclear.
  • O DU no campo de batalha tem três efeitos sobre sistemas vivos: é um veneno químico como metal pesado, um veneno "radioactivo" e tem um efeito de "partícula" devido à dimensão das partículas que é de 0,1 mícrons ou mais pequeno.
  • Os planos para o DU como armamento são de um memorando de 1943 do Gen. L. Groves, do Projecto Manhattan, que recomendou o desenvolvimento de materiais radioactivos como armas de gás venenoso – bombas sujas, mísseis sujos e balas sujas.
  • As armas com DU são penetradoras com energia cinética muito efectiva, ainda mais efectiva do que as bio-armas uma vez que o urânio tem uma forte afinidade química para estruturas de fosfato concentradas no DNA.
  • O DU é o Cavalo de Tróia da guerra nuclear – ele mantém-se presente e continua a matar. Não há maneira de limpá-lo e nenhuma maneira de anulá-lo porque ele continua a desintegrar-se em outros isótopos radioactivos em mais de 20 passos.
  • Terry Jemison do U.S. Department of Veterans Affairs declarou em Agosto de 2004 que mais de 518 mil veteranos do Golfo (período de 14 anos) estão agora com incapacidade médica e que 7.039 foram feridos no campo de batalha naqueles mesmo período. Mais de 500 mil veteranos dos EUA estão sem casa.
  • Em alguns estudos de solados que tiveram bebés normais antes da guerra, 67 por cento dos bebés pós-guerra nasceram com defeitos graves – com falta de cérebro, olhos, órgãos, pernas e braços e doenças do sangue.
  • No Sul do Iraque, cientistas estão a relatar níveis de radiação gama no ar cinco vezes mais elevados, o que aumenta a carga corporal diária dos habitantes. De facto, o Iraque, a Jugosláveis e o Afeganistão são inabitáveis.
  • O câncer começa com uma partícula alfa sob as condições certas. Um grama de DU é da dimensão de um ponto nesta sentença e liberta 12 mil partículas alfa por segundo. – http://tuberose.com/
De modo que todas vocês, pessoas alegadamente civilizadas, o que estão a fazer acerca disto?

PS: Oh, esqueci-me das armas com DU fornecidas a Israel pelos EUA, também lançadas sobre o povo de Gaza.

O original encontra-se em www.creative-i.info e em http://www.countercurrents.org/bowles210310.htm

Tratado START-2 será assinado a 08 de Abril em Praga

darussia.blogspot.com - Quinta-feira, Março 25, 2010




A assinatura do Tratado de Redução de Armamentos Nucleares Estratégicos (START-2) será assinado no próximo dia 08 de Abril em Praga, escreve o jornal checo “Pravo”..




Uma fonte do Kremlin, citada pelas agências russas, anunciou que Todos os documentos que fazem parte do novo Tratado sobre a Redução de Armamentos Ofensivos Estratégicos (START-2) estão acordados .


Segundo o novo documento, os dois países tencionam reduzir as ogivas nucleares até 1500-1675 para cada uma das partes e os seus vetores (mísseis) até 500-1100.


O senador Mikhail Marguelov, dirigente do Comité para Assuntos Internacionais do Conselho da Federação (câmara alta) do Parlamento russo, declarou hoje que o novo Tratado deverá ser “sincronicamente ratificado” pelos parlamentares dos dois países.


“Já está marcada para Abril uma reunião de senadores do Conselho da Federação da Rússia e do Senado dos Estados Unidos com vista a estudar a sincronização da ratificação do documento”, declarou ele à rádio Eco de Moscovo.


Este Tratado vem substituir o START-1 assinado em 1991 entre a URSS e os Estados Unidos, que estabeleceu que os potenciais nucleares de cada um dos países não podiam superar as seis mil ogivas nucleares e os 1.600 portadores.


Quando esse Tratado foi assinado, a URSS tinha 10.271 ogivas e 2.500 portadores, enquanto que os Estados Unidos possuíam 10.563 ogivas e 2.246 portadores.


O cumprimento das cláusulas desses documento levaram a Rússia a ficar com 5.518 ogivas e 1.136 portadores e os Estados Unidos com 5.948 ogivas e 1.237 portadores. Além disso, o START-1 impôs limitações à instalação das forças nucleares de cada país, nomeadamente, proibiu em certas regiões a instalação de mísseis balísticos intercontinentais sobre rampas móveis (comboios ou camiões).