"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

terça-feira, junho 21, 2011

CIGS - Centro Coronel Jorge Teixeira III

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 06 de junho de 2011.

O Canto do Guerreiro
(Gonçalves Dias)


Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.

- Ouvi-me, Guerreiros.
- Ouvi meu cantar.

Valente na guerra
Quem há, como eu sou?

Quem vibra o tacape
Com mais valentia?

Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?

— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há como eu sou?
Quem guia nos ares
A frecha implumada,
Ferindo uma presa,
Com tanta certeza,
Na altura arrojada
Onde eu a mandar?

— Guerreiros, ouvi-me,
— Ouvi meu cantar.

Quem tantos imigos
Em guerras preou?
Quem canta seus feitos
Com mais energia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?

- Guerreiros, ouvi-me:
- Quem há, como eu sou? (...)


Prosseguimos na nossa homenagem aos bravos que ostentam, com muito orgulho, o brevê da onça.

- Armas e Equipamentos
Fonte: Alexandre Fontoura - Revista Segurança&Defesa - Forças de Elite - 05/04/2004.

Diversas armas, táticas e equipamentos vêm sendo exaustivamente testados, modificados, aperfeiçoados ou recusados pelo EB nos últimos anos, com vistas ao seu emprego na guerra de selva. A constatação de que equipamentos receptores GPS não funcionam corretamente sob a densa cobertura vegetal da floresta, por exemplo, fez com que o Exército restringisse seu uso somente à instrução e a casos nos quais a determinação de coordenadas precisas é imprescindível, como numa evacuação aeromédica. Forças excessivamente dependentes de recursos tecnológicos como o GPS poderiam ficar em sérios apuros na Amazônia. No que se refere ao armamento individual do guerreiro de selva, o EB tem, ao mesmo tempo, o problema e a solução. Fuzis de assalto de diversos tipos foram e são avaliados, incluindo armas de alta qualidade, como o fuzil alemão Heckler & Koch HK33 e o Norte-americano M16A2, ambos no calibre 5,56mm, e o tradicional FAL do Exército Brasileiro, no calibre 7,62mm.

O fuzil padrão das tropas de selva brasileiras é o Para-FAL, a versão com coronha rebatível, usada também pelas tropas Para-quedistas brasileiras e outras unidades. O Para-FAL tem se mostrado a arma ideal para emprego na selva por suas características de peso, rusticidade e simplicidade de manuseio. Por outro lado, sua substituição no futuro será, certamente, um sério problema para o Exército. O calibre 5,56mm, usado na maior parte dos modernos fuzis de assalto, é considerado inadequado para o combate de selva, devido ao pequeno peso do projétil e à sua tendência de assumir uma trajetória instável ao colidir com pequenos obstáculos, como folhas e galhos de árvores. (...)

O respeito que o Para-FAL conquistou entre os combatentes de selva justifica-se, por exemplo, pelo resultado de um teste realizado numa das bases de instrução do CIGS, quando um exemplar de cada do HK33, do M16A2 e do Para-FAL foram comparados, com o objetivo de determinar sua resistência às condições da floresta. Numa manhã, cada uma das armas recebeu limpeza e a necessária manutenção, de acordo com as recomendações do fabricante, foi municiada e colocada sobre cavaletes de madeira, e exposta ao Sol e à chuva durante todo o dia e a noite seguinte. Pela manhã do outro dia, um oficial retirou o HK33 do cavalete e tentou disparar uma rajada contra um alvo: a arma travou várias vezes. Ao repetir a experiência com o M16A2, verificou-se que este não disparou um só tiro, pois estava grimpado. Finalmente, o oficial dirigiu-se ao Para-FAL, conhecido como “pit-bull” entre a tropa e, surpreendentemente, não somente conseguiu descarregar todo o pente no alvo, como ainda remuniciou a arma e repetiu a dose. (...)

Mas as armas disponíveis para o uso na selva não se resumem ao fuzil, à faca de combate e ao inseparável facão de mato. Armas incomuns, como bestas e até mesmo a tradicional zarabatana dos indígenas da região, podem fazer parte do arsenal do guerreiro de selva. Os modelos de bestas usados têm grande precisão e poder de penetração, podendo atravessar um corpo humano a quase 100 metros de distância. Silenciosa e mortal, a besta é considerada uma arma excelente para eliminar sentinelas. O mesmo se aplica à zarabatana, principalmente associada a dardos com venenos cujo preparo é um segredo bem guardado pelo EB e pelos soldados indígenas que, em número cada vez maior, engrossam as fileiras dos Batalhões de Selva na Amazônia, com excelente avaliação por parte de seus Comandantes.

Besta ou balestra: arma composta de um arco acoplado a uma coronha, acionada por gatilho, que atira dardos similares a flechas. Muito usada no século XVI. A palavra besta teria sido sincopada do italiano balestra, que por sua vez deriva do latim tardio ballistra.

Zarabatana: arma que consiste de um longo tubo, pelo qual são sopradas pequenas setas. As setas têm suas pontas embebidas em curare ou outras seivas venenosas.

(...) Num conflito na Amazônia, as forças de selva do EB agiriam em pequenas frações, mas capazes de infligir pesadas perdas ao adversário, fazendo uso do seu conhecimento da floresta para desaparecer sem deixar vestígios. Dentro deste espírito, uma tática que voltou a ter força dentro do EB nos últimos anos foi o emprego de equipes de atiradores de elite (snipers), denominados “caçadores” no Exército. Uma equipe de caçadores é formada por dois sargentos, sendo um o atirador (o sniper, propriamente) e o outro o observador (spotter). A arma já testada e aprovada para o uso por essas equipes é o fuzil Imbel Fz 308 AGLC, de projeto e fabricação nacionais.

O AGLC é uma arma de precisão baseada na ação Mauser, de reconhecida e inegável confiabilidade e segurança. Com um cano flutuante, tipo “match”, forjado a frio e adaptado para o tiro com luneta, e usando munição 7,62x51mm, a arma saiu-se muito bem quando comparada a diversos tipos de fuzis de precisão de fabricação estrangeira. O tipo de camuflagem (ghillie suit) usado pelas equipes de caçadores também já teve sua eficiência determinada pelo trabalho do CIGS.

Sniper: um atirador de elite é um soldado altamente treinado que se especializa em atirar em alvos com rifles modificados de distâncias incrivelmente grandes. São também peritos em ações furtivas, camuflagem, infiltração e técnicas de observação. Atiradores de elite são o que os estrategistas militares se referem como multiplicadores de força. Colocado de uma forma simples, um multiplicador de força é um indivíduo ou uma pequena equipe que, através do uso de táticas especiais, pode causar danos a uma força muito maior. O que é impressionante sobre esses atiradores é que eles são capazes de multiplicar a força sem jamais terem que enfrentar diretamente o inimigo. Por causa da natureza de suas missões, atiradores de elite deslocam-se com muito pouco equipamento, movendo-se pacientemente sob a cobertura do mato ou da noite. Mas eles nunca andam sozinhos. Equipes de atiradores de elite frequentemente têm que ficar imóveis por horas ou dias seguidos para evitarem ser detectadas, esperando pelo momento certo de disparar o tiro. (Fonte: Robert Valdes)

AGLC: o Fuzil 308 AGLC é uma arma de precisão elaborada a partir dos componentes básicos dos fuzis e mosquetões Mauser (Mauser Action), de reconhecida confiabilidade e segurança. Este produto foi adaptado para o tiro com luneta e desenvolvido com o cano pesado flutuante, tipo “match” no calibre 7,62x51mm e forjado a frio para atender às necessidades dos que desejam uma arma com extrema precisão e, ao mesmo tempo, robusta e confiável. O Nome AGLC é uma homenagem ao grande armeiro e instrutor de “snipers”, que desenvolveu o fuzil - Coronel de Infantaria Athos Gabriel Lacerda de Carvalho, meu Comandante de pelotão na AMAN. A arma possui capacidade para 5 Cartuchos, tem 1,20m de comprimento e pesa 4,70kg.

Ghillie suit: se você já viu um atirador de elite nos noticiários ou num filme, então você provavelmente reparou naquela aparência perturbadora, meio homem, meio mato. Isso é graças a um traje ghillie. A finalidade do traje ghillie é fazer o atirador desaparecer no ambiente. A palavra ghillie é uma antiga palavra escocesa para um tipo especial de guarda caça. Os “ghillies” tinham a tarefa de proteger os animais de caça nas terras de seus Lordes. De tempos em tempos, os “ghillies” tocaiavam os animais escondendo-se no mato ou permanecendo completamente imóveis. Eles esperavam por gamos descuidados se aproximarem lentamente e então saltavam e os agarravam com as próprias mãos. Os “ghillies” levavam então seu prêmio de volta ao castelo para que o Lorde pudesse abatê-lo numa “imitação de caça”. Trajes “ghillies” são basicamente velhos uniformes militares que os atiradores modificam para sua função especial. A barriga do uniforme é reforçada com lona pesada para ajudar a acolchoar o tronco do atirador durante horas ou dias deitado sobre seu estômago. Rede de camuflagem é acrescentada ao uniforme.

Essa rede é usada para prender tiras de pano velho ou outros materiais desgastados. Trajes “ghillies” são geralmente pintados para se confundirem com o meio ambiente do campo de batalha. Elementos locais como ramos e galhos podem ser acrescentados para complementar a camuflagem do traje “ghillie”. Nada na natureza tem linhas perfeitamente retas, assim equipamento como rifles e antenas frequentemente revelam posições escondidas. Para compensar isso, os atiradores de elite fazem também pequenos trajes “ghillies” para seus rifles.

Usando os mesmos princípios de camuflagem, atiradores envolvem seus rifles com lona e com pequenas mangas que os fazem misturar-se com o ambiente. Soldados são treinados para manterem os olhos atentos para coisas estranhas ao seu redor que podem representar uma ameaça. A forma humana é uma das mais reconhecíveis na natureza. Atiradores e observadores treinados sempre procuram por cores e contornos quando tentam localizar um inimigo no mato ou outro terreno. Trajes “ghillies” ajudam o atirador a dissimular sua silhueta, esconder linhas retas no seu equipamento e dissimular sua cor no ambiente. “Com um bom traje ghillie”, explica o Atirador, “você pode se esconder num canteiro e ninguém seria capaz de vê-lo”. (Fonte: Robert Valdes)

Outra arma testada e adotada para uso por tropas de selva é a tradicional escopeta calibre 12, empregada pelos esclarecedores dos grupos de combate. Como o esclarecedor é o elemento que vai à frente da formação, precisa de uma arma com o máximo de poder de fogo, para a possibilidade de um encontro com uma patrulha inimiga. Outras armas que tiveram seu uso aprovado para guerra na selva graças aos estudos realizados pelo CIGS foram o lança-granadas de 40 mm e o lança-chamas.

Escopeta (espingardas): arma longa de caça, de cano não raiado. Utiliza, em geral, munições carregadas com múltiplos balins esféricos de chumbo. O poder de detenção de um disparo a curta distância é grande. O mesmo tiro pode atingir mais de um alvo ao mesmo tempo, se estes estiverem próximos um do outro, dois a uns 15m e a 3 até 35m. A dispersão dos balins, e a rápida perda de velocidade, fazem com que perca a eficácia a partir dos 50m.

Mas o trabalho desenvolvido pelo CIGS em busca de meios que possam fazer valer a chamada “estratégia de resistência” foi ao ponto de testar e aprovar o emprego da tradicional e popular carabina Puma, modelo Winchester, de ação por alavanca, fabricada pela empresa Amadeo Rossi, enquanto a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) fabrica sua munição, calibre 38. A idéia por trás disso era encontrar uma arma que fosse de fácil manuseio, relativamente precisa e barata, que pudesse ser distribuída para reservistas e mesmo entre a população civil, no evento de uma intervenção militar estrangeira na Amazônia, e cuja munição fosse facilmente encontrada no comércio. Nos testes realizados pelo CIGS, ficou demonstrado que a carabina Puma pode ser precisa em distâncias superiores a 100 metros. Bons atiradores conseguem tiros precisos a quase 200 metros. E, na opinião dos oficiais instrutores do CIGS, 100 metros pode ser a largura de uma margem a outra de um Rio, separando o atirador com a Puma de uma fração de tropa inimiga.

- Cachês

Uma tática desenvolvida pelo CIGS e já disseminada entre as tropas de guerra na selva é o emprego de “cachês”, como meio de pré-posicionamento de armas, munição, medicamentos, rações e outros suprimentos fundamentais às frações de tropa. Os cachês são, basicamente, depósitos de suprimentos enterrados, com a finalidade de ressuprimento de tropas nacionais, que estejam operando em nosso território, em área sob intervenção de uma nação ou força multinacional incontestavelmente superior, em meios, à brasileira. Os cachês são enterrados em locais de difícil acesso e percepção pelo invasor, mas de fácil abordagem pela tropa interessada.

Os buracos são resistentes a intempéries, forrados por madeiras nas laterais e com drenagem no fundo, sendo usados para acondicionar containers de fibra de vidro com suprimento para pequenas frações (10 a 15 homens). A camuflagem dos “cachês” é tão eficiente que eles não são percebidos por animais ou nativos.

- O Projeto Búfalo
Baseado em publicações da Divisão de Doutrina e Pesquisa do CIGS e depoimento pessoal do Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani.

O Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), desde a sua criação, procurava solucionar a questão do transporte de armas, munição, água, rações e equipamentos por frações de tropa empenhadas em operações na selva. A procura de um meio de transporte eficiente e de baixo custo baseou suas pesquisas na utilização de bicicletas e animais de carga que pudessem ser adestrados para esse fim.

A primeira tentativa realizada, durante o Comando do Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani, pretendia utilizar uma anta treinada desde pequena para se adaptar às necessidades operacionais observadas pelas tropas na Amazônia. Foi adaptada uma cangalha especial fixada às costas do animal dentro da qual se colocavam pequenos pesos, mas o animal jamais se adaptou e corcoveava até se ver livre da carga, não se sujeitando ao adestramento. Reproduzo, abaixo, a mensagem, bastante ilustrativa, recebida pelo grande Mestre Fregapani.

Em 1981 fizemos a tentativa com a anta. Não era nascida em cativeiro, mas já estava acostumada no zoológico. Ainda que eu tivesse tido a idéia, a condução foi do nosso veterinário, o então Capitão Camoleze. A ele pertence à glória, se houver. O mais difícil foi fazê-la obedecer; não adiantou cachimbo nem freio e bridão. Somente foi resolvido com uma argola no nariz, onde se amarrava uma corrente até um bastão. A partir de então podíamos levá-la para onde quiséssemos. As cangalhas também não deram resultado; a anta batia nos troncos como se quisesse livrar-se de uma onça que a agarrava. O que deu resultado foi um peitoral onde se prendiam duas varas, que eram arrastadas e onde se poderia colocar um bom peso, como os cavalos de índio do faroeste. Ainda penso que a anta seria o ideal para transporte de suprimento e munição. Ela come qualquer coisa, inclusive as folhas espinhentas da palma negra. Além de poder ‘puxar’ até 50 Kg ainda dá um churrasco para uma companhia, em caso de necessidade. Lamento o abandono das experiências. Outros comandantes tiveram a gentileza de me informar sobre as experiências com muares e búfalos. Claro que os estimulo a prosseguir. Muares foram usados por Plácido de Castro. Isto significa que funciona, nas trilha, é claro, e já eram usados nos seringais, o que significa que podiam ser obtidos no local. Quanto ao búfalo, é uma boa esperança. Tal como aos muares, ainda não tenho a experiência prática para ver como varariam a selva juntamente com uma pequena tropa. Desconfio que não seja fácil, mas só vendo. Numa trilha, tudo bem, mas na trilha talvez o muar seja até melhor. Penso também na praticidade para transporte aéreo e fluvial em pequenos barcos. O fato é que só experimentando e tentando que se avança, e por isto me orgulho do nosso CIGS.

Mesmo que sejamos os melhores do mundo na selva, descansando sobre os louros seremos ultrapassados. Avante, portanto. Selva! (Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani)

Nos idos de 1983, foi desenvolvido um projeto utilizando-se muares. O animal foi conduzido para a Base de Instrução Número 1, localizada no quilômetro 55 da Rodovia AM 010. Depois de serem estabelecidas metas e um cronograma de trabalho, iniciou-se a fase prática. O primeiro teste avaliou o comportamento do muar sob uma carga de 60 quilos de suprimentos, montado sobre cangalhas confeccionadas com palha. O animal deveria realizar um deslocamento “através selva” de, aproximadamente, 2.000 metros. Ao chegar ao primeiro socavão, a cerca de 800 metros da base, onde existia um chavascal, o animal empacou e se negou a ir em frente. Como os muares apresentavam sérios problemas de natureza veterinária e limitações para vencerem obstáculos naturais bastante comuns na selva amazônica, o projeto foi abandonado pela inaptidão do animal para o ambiente de selva. Mais recentemente, no ano de 2000, a Divisão de Doutrina e Pesquisa desenvolveu outro projeto empregando a bicicleta para o transporte de carga. Esta idéia surgiu a partir do estudo de técnicas especiais utilizadas pelos vietcongs na guerra contra os USA, no final da década de 60 e início dos anos 70. As resistentes bicicletas de fabricação soviética eram viáveis no Vietnã, onde a fisiografia da selva possibilitava a abertura de trilhas e o largo emprego da mão de obra farta e barata. Devido ao grande esforço físico despendido pelo homem para empurrar a bicicleta, ela não foi aprovada como sendo uma opção para a logística no interior da selva.

Histórico do Projeto Búfalo

Com a continuidade dos estudos chegou-se finalmente ao búfalo, animal já adaptado com sucesso na Amazônia, rústico e com diversas características que foram ao encontro das necessidades militares para o emprego de animais. O chamado Projeto Búfalo nasceu em 2000, e tem demonstrado ser uma das soluções para as necessidades das tropas de selva brasileiras devido à resistência do animal, sua adaptação ao ambiente e, principalmente, à sua capacidade de transportar 400 kg ou mais de carga no lombo, ou até três vezes isso, quando tracionando carroças. A primeira e única informação a respeito do emprego do búfalo, que não fosse para o consumo humano, foi baseada em uma foto de um cartão postal. Neste cartão retratava-se a utilização do animal para fins de patrulhamento pela 5ª Companhia Independente da Polícia Militar (5ª CIPM) na cidade de Soure, na ilha do Marajó- PA. Foram realizados alguns contatos preliminares para tentar viabilizar a doação e o transporte de um animal de Soure para o CIGS. Devido ao alto custo e a falta de um contato mais aproximado, optou-se por tentar conseguir um animal nas proximidades de Manaus. Foi doado um casal de búfalos com 4 meses de idade, da raça Mediterrâneo. Os animais foram transportados de Itacoatiara para o CIGS no dia 12 de junho de 2000 e, imediatamente, enviados para a Vila do Puraquequara e, de lá, em embarcação boiadeira, até a Base de Instrução Número 4.

A Divisão de Doutrina e Pesquisa apresentou ao Comandante uma proposta de trabalho que permitiu dar os primeiros passos para o Projeto, único no mundo, empregando-se animais selvagens para o transporte de carga no interior da floresta. Desde o início, foi observado que todos os militares envolvidos deviam possuir algumas características que viessem a facilitar o andamento dos trabalhos, tais como: paciência - para enfrentar a teimosia que os animais apresentavam para realizar determinadas atividades; rusticidade - para encarar as dificuldades do terreno por onde os animais se deslocavam; vigor físico - para empurrar, puxar, carregar o material, as carroças, os bolsos carregados com material, nadar com os animais nos igarapés etc. Além dessas características, deve demonstrar desprendimento e iniciativa - para enfrentar as reações adversas apresentadas pelos animais que eram inusitadas e, muitas vezes, com relativo risco para a integridade física do homem, cabendo a eles decidirem qual a melhor forma de se atingir o objetivo proposto. Com relação ao efetivo a ser empregado no Projeto, pode-se concluir que é necessário um homem para cada animal, na fase de adestramento, ou seja, desde os primeiros passos com a condução na corda, trabalho nas trilhas, nos igarapés, na alimentação dentre outras inúmeras atividades.

Colete Tático Transportador

No início do Projeto, o objetivo primordial era domesticar os animais, passando para eles características que viessem a facilitar o cumprimento das metas estabelecidas na Proposta de Trabalho apresentada. Desde a fase inicial, foi buscado o desenvolvimento de um colete que pudesse acondicionar o material que iria ser carregado, ou seja, no primeiro momento era fundamental que o animal se acostumasse com algo sobre o seu lombo. Para tanto, foi desenvolvido um tipo de colete denominado pela equipe como “colete tático transportador”. Os coletes desenvolvidos permitiram que fossem administrados gradativos pesos sobre o lombo dos búfalos, acondicionados em bolsos de tamanhos variados – todos confeccionados em lona bastante resistente. Com o andamento dos trabalhos, houve a necessidade de aprimoramento destes materiais. A cada nova investida na selva, uma nova idéia surgia e era aplicada de imediato. Com o início dos trabalhos de tração, houve a necessidade de aquisição de carroças especificamente fabricadas para este fim. Procurando-se conhecer a viabilidade e a adequação dos animais para o transporte humano, foram adquiridas, da ilha de Soure -PA, duas celas especificamente fabricadas para este fim.

Conclusão

A experiência de emprego de tropa de carregadores, durante a Operação Mura, realizada pelo 1° BIS no ano de 2000, utilizando-se militares do 12° Batalhão de Suprimentos para compor esta fração, mostrou que o homem não suportou, como se esperava, as adversidades do terreno. Após 10 dias de deslocamento com um peso médio de 30 kg para ressuprir cachês em pontos locados dentro da área de combate, a tropa se encontrava estafada e sem condições de prosseguir na missão.

Aliado a este fato, cabe ressaltar que além de ter que carregar o material a ser ressuprido, o carregador tem que levar o seu material individual (ração, munição, material de higiene, roupa de muda, dentre outros). Assim, os 30 kg que serão ressupridos mais o material do homem, eleva-se para cerca de 41,5 kg. Verificou-se que a média de deslocamento de uma tropa a pé em terreno variado, que é de 1 km/h, ficou reduzida a 0,6 km/h, tendendo a diminuir, à medida que parte da tropa apresentava sintomas de estafa, impondo-se a necessidade de se dividir o peso entre aqueles homens que ainda permaneciam na missão de carregadores. O emprego tático do búfalo em operações na selva tem por objetivo tê-lo como um colaborador, um facilitador, enfim um meio alternativo para o transporte das mais variadas cargas possíveis. Dessa forma, sua colaboração está em retirar o peso do homem, economizando esforços por parte da tropa empregada no ressuprimento, possibilitando a manutenção e o aumento do poder de combate, alongando a permanência do homem em condições de combater por mais tempo e em melhores condições. Poderá estar enquadrado em fração de qualquer nível ou com uma equipe de ressuprimento sem restrições quanto ao horário de emprego, bem como no terreno a ser percorrido, tendo em vista que o animal tem boa visão à noite e já é adaptado à vida aquática. Quanto à alimentação, não há necessidade de grandes preocupações da tropa em querer ressupri-lo, pois ele come de tudo e possui a capacidade de sintetizar proteínas de vegetais inferiores, precisando de pouco complemento alimentar, o qual ele mesmo poderá transportar.

- Defendendo a Brasileira Amazônia

Para os militares do Exército Brasileiro concluir o Curso de Operações na Selva é, certamente, uma das maiores realizações profissionais da carreira. O Centro já brevetou quase 5.000 militares brasileiros e mais de 400 representantes dos principais países do mundo, desde a sua fundação, cumprindo, com rara competência, sua missão de adestrar e avaliar tropas da Força Terrestre na Amazônia e de realizar pesquisas e experimentações doutrinárias. Esses militares serão disseminadores da doutrina, apreendida no CIGS, nas suas futuras Organizações Militares.

Alguns privilegiados retornarão ao Centro, como instrutores, formando novas gerações de Guerreiros da Selva. Ao cruzarem, pela última vez, o portão da guarda do Centro ouvirão emocionados o tradicional grito de “Selva!”, doravante se sentirão à vontade na selva, abandonaram definitivamente a pele de caça que vestiam até então e a substituirão pelo couro do predador. São combatentes prontos a defender a Brasileira Amazônia.

– Blog e Livro

Os artigos relativos ao “Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar”, Descendo o Solimões (2008/2009), Descendo o Rio Negro (2009/2010), Descendo o Amazonas I (2010/2011), e da “Travessia da Laguna dos Patos I (2011), estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com.

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Pode ainda ser adquirido através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com.


 

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar (IDMM)
Vice Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional

CIGS - Centro Coronel Jorge Teixeira II



Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 05 de junho de 2011.

“Em terra de perenes desafios, uma grande cruzada para o crescimento, onde o épico confronta com a realidade. Não basta querer fazer e querer desenvolver: é preciso um esforço de Hércules para que todo dia superemos as dificuldades.”
(Jorge Teixeira de Oliveira)

Prosseguimos na nossa homenagem aos bravos que ostentam, com muito orgulho, o brevê da onça.

As Leis da Guerra na Selva
Fonte: Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani

   Tenha a iniciativa, pois não receberás ordens para todas as situações, tenha em vista o objetivo final.
   Procure a surpresa por todos os modos.
   Mantenha seu corpo, armamento e equipamento em boas condições.
   Aprenda a suportar o desconforto e as fadigas sem queixar-se e seja moderado em suas necessidades.
   Pense e aja como caçador, não como caça.
   Combata sempre com inteligência e seja o mais ardiloso.

No início do CIGS, o curso então era praticamente de instrução individual; de coletivo apenas um pouco de patrulhas e emboscadas. Ao terminar meu tempo de instrutor, visando influir no que reconhecia como lacuna, escrevi na revista Defesa Nacional alguns artigos sobre o assunto “GUERRA NA SELVA”. Em um deles descrevi como deveria ser um Grupo de Combate (GC) de infantaria de selva, naturalmente distinto de um GC comum e com armamento e equipamento adequados. O nome do artigo é “A TROPA DE SELVA”, se não me falha a memória e foi publicado por volta de 1970. Nele que escrevi as “LEIS DA GUERRA NA SELVA”. As “leis” se popularizaram quando, no meu comando, as mandei escrever numa parede. Ainda hoje as considero pertinentes e adequadas.

A Oração do Guerreiro da Selva
Fonte: Coronel Humberto Batista Leal

A primeira idéia que tive de escrever uma oração para os combatentes de selva nasceu durante o meu curso de guerra na selva em 1980, precisamente na área destinada ao descanso dos alunos na Base de Instrução II. Ali eu falei para alguns companheiros de curso que desejava escrever um poema para ser recitado pelas tropas de selva. Eu juntava, em silêncio, as palavras mais simples que encontrava, para compor os versos que tivessem a simplicidade da floresta e dos homens que usavam o brevê da onça. Havia instantes de incerteza e angústia naqueles dias difíceis, e imaginávamos o que seria a guerra naquele ambiente hostil. Nessas horas de se buscar forças para vencer fadigas diárias, desafios ameaçadores, não há como o homem evitar o mergulho dentro de si mesmo; e, ao fazê-lo, conduz naturalmente o pensamento a Deus – o mesmo Deus que não explica nossas guerras, mas nos fortalece diante das interrogações do destino, mesmo as mais enigmáticas e incompreensíveis indagações. Em junho daquele ano, pouco mais de vinte oficiais concluíam o curso.

Meses depois, já nomeado instrutor do Centro de Instrução de Guerra na Selva, retornei a Manaus, ficando hospedado, com minha esposa e filho, na casa do então 1° Tenente Benedito Rosa Filho. Na Rua Brasil, da Vila Militar de São Jorge, mesma Rua do Hotel de Trânsito dos Oficiais.

Éramos comandados pelo Tenente Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani, autor das Leis da Guerra na Selva e um entusiasmado Comandante. A Seção de Selva era dirigida pelo Capitão Barros Moura; a de Doutrina e Pesquisa, pelo Capitão Joel. A equipe se compunha de capitães e tenentes.

Eu fiz dupla em Orientação na Selva com o meu estimado amigo tenente Antônio Carlos Duarte Soares. Em março de 1981, passamos muitos dias percorrendo as pistas de orientação, identificando e reparando placas. E falávamos da oração. Ao retornar a Manaus, numa daquelas noites de descanso na casa do Rosa Filho, conversávamos na varanda quando peguei uma caneta e escrevi os versos que levaria, no dia seguinte, à apreciação do nosso Comandante Fregapani. Ele gostou do que leu e ouviu. Reuniu, naquela mesma semana, no anfiteatro da Base de Instrução V, os oficiais e sargentos, e falou da Oração do Guerreiro de Selva. Disse-me para recitá-la e aos demais para que repetissem o que eu dizia. Foi a primeira vez que a recitamos – ainda timidamente.

A partir de então, passamos a declamar a Oração do Guerreiro de Selva antes e após o início das atividades nas bases de instrução. Mandamos pintar placas com o poema e as afixamos nas bases. Todos procuravam memorizar a Oração. Logo começamos a declamá-la nas formaturas e nas atividades de instrução. Isto só acontecia no Centro de Instrução de Guerra na Selva. Foi assim que tudo começou.

O poema é demasiadamente simples, como transcrevo em seguida:

Senhor, tu que ordenaste ao guerreiro de selva:
“Sobrepujai todos os vossos oponentes”,
dai-nos hoje da floresta:
a sobriedade para persistir,
a paciência para emboscar,
a perseverança para sobreviver,
a astúcia para dissimular
e a fé para resistir e vencer.
E dai-nos também, Senhor,
a esperança e a certeza do retorno,
mas se defendendo esta brasileira Amazônia
tivermos de perecer, ó Deus,
que o façamos com dignidade
e mereçamos a vitória!
Selva!

Talvez tenhamos herdado do latim o “tutear” (tratar por tu) Deus, que expressa familiaridade com o divino. Gramaticalmente eu deveria ter escrito “vós”, para concordar verbalmente com o “dai-nos” do terceiro verso. Mas resolvi escrever “tu”, porque assim também os habitantes do norte costumavam falar. Mesmo quando a televisão chegou a Manaus, em 1970, trazendo os modismos da fala do Rio de Janeiro, os amazônicos nunca foram de falar “você” ou “vós”. E era assim que, nas horas aflitivas na selva, eu rezava: chamando Deus com o pronome “tu”, segunda pessoa do singular, como quem chama um amigo que é o refúgio mais ansiado.

“Sobrepujai todos os vossos oponentes”: é o que podemos esperar de Deus, a força espiritual para superar os que por contingência se tornam nossos adversários, sejam os inimigos, sejam os elementos hostis da floresta, sejam os nossos próprios medos. Tornamo-nos imbatíveis quando guiados por Deus: somos corajosos o suficiente para enfrentar todas as nossas guerras. E é isto que esperamos ouvir interiormente quando pedimos forças aos céus.

Dai-nos hoje da floresta:
a sobriedade para persistir,
a paciência para emboscar,
a perseverança para sobreviver,
a astúcia para dissimular
e a fé para resistir e vencer

É na própria floresta que encontramos certas virtudes necessárias ao guerreiro: sem sobriedade, não há como resistir à exaustão e à confusão mental, não se pensa e não se age; sem a paciência, não há como ser parte da própria selva, ser parte dos seus silêncios e dos seus ardis, ser parte de suas vozes; sem perseverança, não há como resistir ao cansaço, ao medo, às doenças, à fome, ao desconforto, às incertezas; sem astúcia, não há como agir à semelhança da onça que se move silenciosamente antes do bote decisivo, sem nunca precisar o instante do ataque; e sem fé, fundamento de todas as coisas, não há como ser fortaleza inexpugnável, que a tudo resiste porque almeja a glória de vencer.

E dai-nos também, Senhor,
a esperança e a certeza do retorno.
Mas se defendendo esta brasileira Amazônia,
tivermos de perecer, ó Deus,
que o façamos com dignidade
e mereçamos a vitória! Selva!

Os versos falam por si próprios: na guerra, diz-se que o homem precisa primeiramente almejar o seu retorno – esta é sua esperança, o seu anseio primeiro, fazer a guerra, voltar para casa –, mas só consegue alcançar a certeza do retorno, pouco a pouco, a cada dia e a cada mal, a cada patrulha e a cada batalha. Nem sempre, contudo, este retorno é garantido; ainda assim, para os que se amparam em Deus, há a resignação de enfrentar e aceitar seu destino e sua hora; e se houver que se defrontar com a morte, que esta seja digna e heróica, como convém aos que lutam, até com o sacrifício da própria vida por uma causa, sem nunca perder de vista a vitória. Somos todos efêmeros, bem o sabemos, como efêmeras são as palavras, como efêmeras são as guerras. Mas somos eternos quando, confrontados com a temporalidade, vencemos o esquecimento com nossos feitos, mesmo os mais simples e insignificantes feitos.

Nossa causa é defender a Amazônia brasileira – em última instância, o Brasil, sua soberania.

Poema “Que Não Ousem”
Fonte: Coronel Gustavo de Souza Abreu

Que não ousem... Que não ousem ameaçar a nossa Amazônia!

Na imensidão da floresta brasileira haverá sempre bravos guerreiros da selva, em cada foz, em cada nascente, preservando o legado dos nossos antepassados. Trovões ouvidos de terras distantes jamais intimidarão os seus guardiães. Que não ousem! Em todos os rincões da Hiléia – de Uiramutã a Santa Rosa do Purus, de Cruzeiro do Sul a Oiapoque, de Tabatinga a Marabá – estão presentes intrépidos, persistentes e audaciosos amazônidas. Em sua simplicidade, prescindem da sofisticada tecnologia. São capazes de sobreviver e combater, valendo-se essencialmente da selva, a sua fiel e inseparável aliada. Conhecem como ninguém a arte da guerra na selva. Integram frações coesas que deslizam silentes, mimetizadas nos labirintos da mata misteriosa. São fugazes e atuam de surpresa, sem frente nem retaguarda, emboscando e inquietando. São como o aru, que surge e dissipa-se imperceptível, flutuando pelos igarapés, socavões e paxiúbas. São como a onça, que cerca pacientemente a presa para atacar no momento oportuno, fazendo ecoar um esturro ubíquo e aterrador. Se preciso for, esses guerreiros da selva resistirão perseverantes até que a última arma de ficção alienígena torne-se inútil. Em suas veias corre o sangue daqueles que expulsaram o invasor do nosso solo sagrado e imortalizaram Guararapes.

Que não ousem!
A aventura pode custar caro demais.
Selva!

O Brado de “Selva!”
Fonte: Gen R1 Bueno

Quando do início de suas atividades, as idas à área de selva eram muito frequentes. O movimento de viaturas era grande e a nova unidade ainda não dispunha de “Ficha de Saída de Viaturas” para serem controladas no Portão do Corpo da Guarda. Normalmente a sentinela ao ver a saída de uma viatura perguntava qual o seu destino e o motorista ou quem ia à boléia respondia “SELVA”.

Como a maioria das saídas era para a área de instrução, o motorista ao passar pelo portão dizia que ia para a selva. Daí nasceu uma tradição, de maneira simples e espontânea, e que se espalhou inicialmente pelo GEF, depois pelo CMA e hoje, caracteriza no Exército inteiro, os Guerreiros de Selva.

Até agosto de 1968 a saudação “SELVA” era restrita ao CIGS e de caráter interno. Porém, no desfile do dia Sete de Setembro deste ano, o grito foi utilizado pela primeira vez em público e em formatura oficial. Os instrutores para manter a cadência da tropa contavam o tradicional “um-dois-três” e depois gritavam “SELVA!”. A partir daí espalhou-se para o GEF e pelo CMA, caracterizando, os Guerreiros de Selva, a tropa da AMAZÔNIA.

A sua implantação não foi fácil. Houve muita reação principalmente dos mais antigos do GEF que reagiam as idéias novas, mas o CIGS tinha a sua destinação histórica de renovar os “corações e mentes” da tropa da AMAZÔNIA, e obteve sucesso. Este simples brado mudou a fisionomia militar dos que serviam na AMAZÔNIA, despertando o espírito de operacionalidade que estava adormecido pelos chavões “área castigo”, “ninguém quer nada”, “só tem gente problema” e outros.

Onça Pintada
Documentação da Divisão de Doutrina e Pesquisa do CIGS

Os Guerreiros da Selva são como a onça, que cerca pacientemente a presa para atacar no momento oportuno, fazendo ecoar um esturro ubíquo e aterrador.

Se na América não vive o Leopardo, em compensação vive a onça, também conhecida por Jaguar ou Onça-Pintada, nome comum do maior e mais poderoso felídeo do continente americano. Seu nome, nas línguas indígenas das florestas subtropicais, é Jaguar. É impropriamente chamada de tigre, pois é mais feroz que este e maior que a pantera. A onça pintada é o maior felino do continente americano, sendo encontrada do extremo sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Essencialmente carnívora, se alimenta de mamíferos de portes variados como antas, veados, capivaras e porcos do mato, podendo ainda, eventualmente, se alimentar de quelônios, peixes e jacarés. A pelagem varia entre amarelo escuro quase dourado até castanho claro. A onça preta é uma variação melânica, possuindo maior quantidade de pigmento (melanina) em sua pele. Nesse caso, a coloração amarela é substituída por uma pelagem preta ou quase preta com o mesmo tipo de manchas osciladas encontradas nas onças pintadas (rosetas). O corpo é completamente revestido por pintas negras, que formam rosetas dos mais diversos tamanhos, com um ou mais pontos negros em seu interior. Habita florestas tropicais úmidas, subtropicais e matas de galeria, incluindo ainda cerrado, caatinga e pantanal. Seu período de vida varia entre 18 a 20 anos, podendo, em cativeiro, alcançar os 28 anos. Pesa em torno de 65 kg (55-110 kg), medindo em torno de 132 cm de comprimento (110-175 cm) até 60 cm de altura (48-75 cm), com a cauda relativamente curta (40-68 cm). Tem hábitos solitários, diuturnos, com locomoção cuidadosa e sem ruídos, perseguindo a presa sem ser percebida. Atinge a maturidade sexual aos 3 anos, com uma gestação variando entre 93 a 110 dias, quando nascem, em média, dois filhotes. Exímia nadadora utiliza a ponta da cauda como isca para obtenção de pescado. Possui ainda garras potentes e retráteis, que são afiadas em troncos largos, cujas ranhuras auxiliam na demarcação de seu território. A força de sua patada pode chegar a 200 kg. Ela mergulha, salta, corre, e tem sentidos muito aguçados. Constitui o terror das selvas sul americanas, pois a ferocidade, tenacidade, paciência e a agilidade surpreendem e revela bastante sagacidade na caça. Por tudo isso, é considerada por combatentes e guerreiros de selva brasileiros o seu animal símbolo.

CIGS: o Lado Oculto
Fonte: Alexandre Fontoura - Revista Segurança&Defesa - Forças de Elite - 05/04/2004.

Na selva, a sensação de ter o metabolismo alterado é massacrante. Apesar de estar sempre molhado, seja pela chuva, pela travessia dos inúmeros cursos d’água (Rios e paranás), lagos, igapós e igarapés, ou simplesmente pela transpiração, o combatente está sempre com sede.
Os cuidados com a alimentação devem ser enormes, pois problemas intestinais que provocam diarréia agravam o quadro. A perda de oito, dez e até 20 quilos em operações prolongadas na selva é comum para os guerreiros de selva. Exatamente devido ao impacto que o ambiente provoca sobre o corpo do combatente de selva, um dos principais trabalhos exercidos no CIGS para aumentar a eficiência do combatente de selva é aquele desenvolvido em seu Laboratório, subordinado à Divisão de Saúde. Por meio de parceria com a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Hospital Geral de Manaus (HGeM), é desenvolvido o Projeto de Pesquisa e Monitoramento Clínico-Laboratorial do Combatente de Selva. Este projeto tem por objetivo acompanhar o perfil corporal, hematológico, urinário, parasitológico intestinal e bioquímico dos alunos do COS, proporcionando dados valiosos sobre as alterações que a internação prolongada do combatente na selva produz no organismo humano. Os resultados desta pesquisa vêm sendo usados para a otimização do desempenho do guerreiro de selva brasileiro.

Mais do que um Zoológico

O Zoológico do CIGS foi idealizado e construído no comando do Tenente Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, tendo iniciado suas atividades em 1967, com o objetivo de transmitir aos alunos dos Cursos de Operações na Selva conhecimentos sobre a fauna amazônica. (...) Atualmente o Zôo possui exemplares de quelônios, jacarés, mamíferos e aves, num total de 175 exemplares de mais de 60 espécies animais amazônicos, dentre aves, mamíferos e répteis. Assim, além de servir para aproximar o Exército da sociedade civil, o Zoológico do CIGS cumpre importante papel na formação dos combatentes de selva, pois a instrução referente à sobrevivência na selva culmina com os ensinamentos sobre a utilização da fauna e da flora como fontes de alimento. Essa é uma das maiores tarefas da Divisão de Veterinária do CIGS, responsável pelo Zôo. Além disso, na selva os animais não são vistos com facilidade, e com frequência ocorre que, durante um curso inteiro, os alunos não vêem nenhum animal. Por isto, os animais apresentados têm de ser observados e estudados constantemente, proporcionando subsídios à instrução.

O Centro de Pesquisas da Fauna e da Flora da Amazônia (CPFFAM) “Zoológico do CIGS 1967” foi implantado na estrutura existente do antigo zoológico do CIGS, tendo sido inaugurado em 1999. A partir daí, com o aperfeiçoamento da infra-estrutura geral e da restauração do complexo hospitalar veterinário, passou a realizar e apoiar pesquisas e atividades acadêmicas em cooperação com Instituições nacionais, na área do zoológico e no Campo de Instrução do CIGS. O CPFFAM desenvolve também os estágios supervisionados obrigatórios para discentes de medicina veterinária em fase final de conclusão de curso, que têm como objetivo o aprendizado teórico-prático em medicina de animais silvestres amazônicos. O CPFFAM colabora ainda com instituições de ensino públicas e privadas, prestando serviços à comunidade da região metropolitana de Manaus-AM, que vão desde visitações ao zoológico e assistência em projetos de desenvolvimento sustentável em área do CIGS, até a recuperação de animais silvestres. Em conjunto com instituições nacionais, vem desenvolvendo pesquisas, enriquecendo o conhecimento científico mundial sobre as questões de fauna e flora amazônicas, em parcerias com diversas Instituições nacionais.

Atenção aos Detalhes

O papel do CIGS e de sua Divisão de Doutrina e Pesquisa no aperfeiçoamento do combatente de selva brasileiro vai muito além de pesquisar e ensinar a construção e uso de abrigos e armadilhas, emprego de armas e equipamentos, etc. Chega-se ao nível de detalhar, por exemplo, o tipo de tecido ideal para uso nos uniformes, a técnica de amarração ideal dos cadarços usados nos coturnos, a composição da ração operacional, o projeto de uma rede de selva adequada, e muitos outros. A definição de um tecido ideal para ser usado na confecção dos uniformes foi tarefa para vários anos, até se chegar ao modelo atual, com percentuais ideais de poliéster e algodão, de forma a permitir a secagem rápida do uniforme, constantemente exposto à umidade, sem que apresente desconforto ao militar. O mesmo empenho foi aplicado ao estabelecimento da técnica de amarração dos cadarços dos coturnos, de modo a permitir sua rápida desamarração ou mesmo o corte com faca, para que o combatente possa liberar rapidamente seu equipamento e nadar com maior desenvoltura, se isso significar sua sobrevivência na hipótese de, por exemplo, cair em águas profundas e turbulentas. A definição da composição da ração operacional também mereceu por parte do CIGS intensos estudos, incluindo a análise de rações utilizadas por exércitos de outros países. (...) Também faz parte das responsabilidades do CIGS instruir os participantes dos Cursos de Operações na Selva sobre o correto uso dos recursos da floresta, seja para a construção de armadilhas (voltadas aos oponentes, ou à caça e pesca), cuidados com animais peçonhentos, e como usar animais e vegetais para os mais diversos fins, incluindo a alimentação. Frutas e animais comestíveis abundam na floresta, assim como os venenosos ou tóxicos. (...) Para permitir que o guerreiro de selva possa manter e recuperar suas energias, com repouso e conforto adequados, e mantendo-se a salvo de mosquitos, ofídios, aracnídeos e outros riscos, o CIGS não mediu esforços para desenvolver uma rede de selva ideal. O modelo aprovado e em uso atualmente possui mosquiteiro, toldo para abrigo da chuva (que, sendo impermeável, também pode ser usado para recolher a água da mesma), compartimento na parte inferior para armazenar as armas e os equipamentos individuais do combatente, e tirantes de lona resistentes nas laterais, que permitem sua transformação em uma maca improvisada, simplesmente passando-se duas hastes de madeira nas laterais.

– Blog e Livro

Os artigos relativos ao “Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar”, Descendo o Solimões (2008/2009), Descendo o Rio Negro (2009/2010), Descendo o Amazonas I (2010/2011), e da “Travessia da Laguna dos Patos I (2011), estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com.

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Pode ainda ser adquirido através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com.


 

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar (IDMM)
Vice Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional

CIGS - Centro Coronel Jorge Teixeira I

Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 03 de junho de 2011.

“Em terra de perenes desafios, uma grande cruzada para o crescimento, onde o épico confronta com a realidade. Não basta querer fazer e querer desenvolver: é preciso um esforço de Hércules para que todo dia superemos as dificuldades.”
(Jorge Teixeira de Oliveira)

Cumprimento, no dia de hoje especialmente, a todos os bravos que ostentam com muito orgulho o brevê da onça.

- Jorge Teixeira de Oliveira
Baseado em documentação da Divisão de Doutrina e Pesquisa do CIGS, manaus.am.gov.br e Jornal Gente de Opinião.

Jorge Teixeira de Oliveira nasceu no dia 03 de junho de 1921, em General Câmara, Rio Grande do Sul. Filho de Adamastor Teixeira de Oliveira e Durvalina Estibem de Oliveira casou-se com Aida Fibiger de Oliveira, e teve dois filhos, Rui Guilherme Fibiger Teixeira de Oliveira e Tsuyoshi Myamoto (criação). O Coronel Jorge Teixeira foi declarado Oficial de Artilharia na turma de 1947 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Resende, Rio de Janeiro, e concluiu o mestrado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1963.

Foi o primeiro comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva - CIGS. Para capacitar o núcleo inicial de recursos humanos que formaria o corpo docente do CIGS, o então Major Teixeira, mais conhecido como “Teixeirão”, e uma plêiade de excelentes Oficiais e Sargentos, da Brigada de Infantaria Pára-quedista, do Rio de Janeiro, foram enviados ao Panamá para cursar o “Jungle Expert” na Escola das Américas, no Forte Sherman (US Jungle Operations Trainning Center, Fort Sherman, Canal Zone - JOTC). Após o curso, Teixeira e sua equipe iniciaram o planejamento e execução da estrutura que resultou na formação, em curto prazo, da primeira turma de Guerreiros de Selva, em 19 de novembro de 1966. A determinação hercúlea e a perseverança desses militares apaixonados pela Amazônia Brasileira edificaram solidamente os alicerces do CIGS, não apenas a estrutura física, mas, sobretudo, a mística que se consolidou ao longo dos anos. O “Teixeirão” escolheu, delimitou a área da sede do campo de instrução e a construção dos pavilhões que deram personalidade ao Centro de Instrução de Guerra na Selva.

Deu-se o início, então, a uma verdadeira epopeia. A carência de recursos materiais foi suplantada com muita dedicação e capacidade de trabalho por parte dos instrutores e monitores. Os pioneiros foram o Major Omar de Moura Oliveira, subcomandante, os capitães José Luiz Leal Santos, oficial de operações, Domingos Carlos Sá Novaes, administrador e Paulo Henrique Pires Luz, veterinário, os tenentes Guedes e D’Alencar e os sargentos Dantas, Liberato, Sobreira, Monteiro, Geraldo e Cid. E, por dever de justiça, não se pode deixar de mencionar outros Pioneiros que contribuíram significativamente para que o CIGS se transformasse no melhor escola do gênero do mundo. Alguns deles tiveram o privilégio de serem Comandantes do Centro mais tarde, como aconteceu com o Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani, 6° Comandante, General Thaumaturgo Sotero Vaz, 8° Comandante e com o General Adalberto Bueno da Cruz, 10° Comandante.

O “Teixeirão” comandou as tropas brasileiras em Roraima, nas localidades de Bonfim, Normandia, Surumu e Marco BV-8 para fazer face aos problemas advindos da revolução interna ocorrida em Rupumuni, Venezuela, quando exerceu na plenitude suas habilidades de chefe e líder.

Gosto que haja dificulda-des em minha vida, pois quero e espero superá-las. Sem obstáculos não haveria nem esforços, nem luta, e a vida seria insípida. (Coronel Jorge Teixeira de Oliveira)

No dia 3 de maio de 1970, assumiu a presidência da Subcomissão Geral de Investigação do Estado do Amazonas. Foi exonerado do Comando do CIGS, em dezembro de 1970, e, em 1971, nomeado como primeiro Comandante do Colégio Militar de Manaus. Sua atuação e comportamento transcenderam a vida militar, tendo conquistado o carinho e admiração da população amazonense, que acreditava na sua sinceridade de propósitos e valor. O reconhecimento dos amazonenses foi materializado quando resolveram outorgar-lhe o título de Cidadão do Amazonas, entregue pela Assembléia Legislativa do Estado.

Em 1999, reconhecendo a importância do trabalho pioneiro do Coronel Teixeira, o Exército Brasileiro concedeu ao CIGS a denominação histórica de Centro Coronel Jorge Teixeira. Uma justa homenagem àquele que legou às gerações posteriores uma escola militar ímpar, considerada a melhor Escola de Guerra na Selva do mundo.
O Coronel Jorge Teixeira de Oliveira marcou a história da cidade de Manaus e do estado de Rondônia, que passaram por sua administração. “Teixeirão” foi nomeado Prefeito de Manaus, em 15 de abril de 1975. O responsável pela nomeação foi o governador Henock da Silva Reis. Jorge Teixeira recebeu a Prefeitura de Manaus das mãos do presidente da Câmara Municipal e prefeito interino, Ruy Adriano de Araújo Jorge. Na época, Manaus despontava em termos de desenvolvimento econômico, e populacional, após a instalação da Zona Franca de Manaus, em 1967, e a criação do Pólo Industrial. O Coronel Jorge Teixeira ao assumir a função de Prefeito Municipal de Manaus, agilizou projetos antigos e viabilizou trabalhos de reestruturação da cidade. Uma de suas atribuições foi criar o Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), transformando, em seguida, em lei e posto em execução, na do início aos trabalhos de desenvolvimento da Cidade de Manaus. O povo manauense vibrava com seu líder atuante, alegre, comunicativo, amigo, brincalhão, querido por seus comandados e admirado pelos amazonenses.

O Coronel Jorge Teixeira foi, também, o último governador do antigo Território Federal de Rondônia e o primeiro governador do novo Estado. Ele foi nomeado pelo Presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo, assumindo o cargo, em 10 de abril de 1979, com a tarefa de preparar a transição do Território Federal de Rondônia para Estado.

A “Era Teixeirão”, iniciada em 10 de abril de 1979, se estendeu até 1985. Na época, o garimpo no Rio Madeira estava no auge e o território recebia milhares de migrantes ávidos em busca de fortuna e terra. A criação de novos municípios em junho de 1981 – Colorado, Espigão D´Oeste, Presidente Médici, Ouro Preto, Jaru e Costa Marques – foram obras de Teixeirão. As obras se avolumavam, com o respaldo do Ministro do Interior Mário Andreazza, foi construída a Usina Hidrelétrica de Samuel, asfaltada a rodovia BR-364, implantada a Assembléia Legislativa, Tribunal de Contas do Estado, entre outras grandes obras. “Teixeirão” ganhou a maioria das eleições que participou elegendo deputados estaduais, federais e senadores.

No dia 16 de dezembro de 1981, o projeto de lei complementar n° 221-A/81, foi aprovado na Câmara Federal, dando origem a Lei Complementar n° 41, de 22 de dezembro de 1981, que criava a nova Unidade da Federação, o Estado de Rondônia. Jorge Teixeira foi empossado no cargo de governador do Estado de Rondônia, no dia 29 de dezembro de 1981, em Brasília.

O governo do “Teixeirão” foi pródigo em realizações: instalou o Conselho de Educação, inaugurou o tronco de microondas Porto Velho-Ji-Paraná, criou a RONASA (Rondônia Navegação Comércio e Representação Ltda.), inaugurou a transmissão direta de televisão para a cidade de Pimenta Bueno, entregou 200 títulos de terras aos soldados da borracha...

No dia 01 de junho de 2005, o coronel Jorge Teixeira de Oliveira, ex-prefeito de Manaus, recebeu homenagem póstuma na Assembléia Legislativa do Estado, em pronunciamento feito pelo deputado Messias Sampaio (PRTB). O parlamentar destacou o trabalho feito pelo militar, na cidade de Manaus quando foi prefeito e no território de Rondônia, quando foi governador.

Que Não Ousem Ameaçar a NOSSA Amazônia!

Conhecem como ninguém a arte da guerra na selva. Integram frações coesas que deslizam silentes, mimetizadas nos labirintos da mata misteriosa. São fugazes e atuam de surpresa, sem frente nem retaguarda, emboscando e inquietando. (Coronel Gustavo de Souza Abreu)

Quando passei ao largo do Puraquequara, na minha última amazônica jornada, muitas e belas recordações tomaram conta de minha mente. Em 1999, eu e outros 19 camaradas tivemos nossos limites físicos e emocionais testados por ocasião do Curso de Operações na Selva (COS). As adversidades impostas pela selva, a constante pressão psicológica exercida pelos instrutores contrastava com o ambiente de sã camaradagem que permeava naquele seleto grupo de oficiais estagiários. Desde os tempos de aluno do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) que acalentei o sonho de um dia me tornar um Guerreiro de Selva. Fui inspirado pelo então Capitão Da Silva, chefe da seção de Educação Física e instrutor do Curso de Infantaria do CMPA. Nos exercícios de campo, eu e os demais alunos, ouvíamos atentos seus relatos sobre o Curso e planejávamos um dia, quem sabe, ostentarmos o “Brevê da Onça”.

Por diversas vezes tive minha matrícula indeferida. Por vezes a legislação impunha que o militar estivesse servindo no Comando Militar da Amazônia e eu estava servindo nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, em outras priorizava os oficiais mais antigos e eu era moderno, outras aos mais modernos e eu era antigo... Quando passei a chefia do 1° Centro de Telemática, em Porto Alegre, RS, em 1999, consegui, a pedido, ser transferido para a 23ª Brigada de Infantaria de Selva (23ª Bda Inf Sl), Marabá, PA, com um único objetivo, tentar, pela última vez, concretizar meu ideal. Treinei exaustivamente durante sete meses e apesar do Comandante da 23ª Bda Inf Sl, General Sá Rocha, ter dado parecer negativo ao meu requerimento, e embora eu afirmasse, no mesmo, que iria para a reserva logo após a conclusão do curso, condições que, normalmente, invalidariam de imediato a proposta, tive minha matrícula aprovada. Havia uma determinação para que o efetivo mínimo para o funcionamento do Curso fosse de vinte oficiais superiores e esse número não estava sendo alcançado. Foram chamados seis capitães com EsAO, um Major da Polícia Militar do Estado do Amazonas, dois oficiais, de outros Comandos Militares que tinham sido classificados no CMA atingindo um total de dezenove. Graças à falta de outros voluntários, portanto, é que consegui que meu requerimento fosse aceito. Foi uma das experiências mais gratificantes de toda a minha vida, a superação de limites aliada a um companheirismo sem precedentes gravou, de maneira indelével, na minha memória a imagem daqueles indômitos guerreiros.

A passagem mais marcante de todo o Curso foi, sem dúvida, a de ver o então Tenente Coronel André Thiago Salgado Chrispim carregando duas mochilas de 25 kg durante quase todo o curso para impedir que um colega, que tinha sofrido um grave problema na coluna, viesse a ser desligado. Na formatura, de conclusão do curso, indiquei, por isso, o Chrispim para fazer a “Oração do Guerreiro de Selva”. Por ocasião da brevetação, o General Luiz Gonzaga Schroeder LESSA, meu ex-Diretor de Informática e então Comandante Militar da Amazônia (CMA), insistiu para que eu assumisse o compromisso de trazer ao povo do Rio Grande do Sul uma visão mais realista das questões que afligem a Região Amazônica. Desde o ano de 2000 que viemos cumprindo este acordo computando até o dia de hoje 349 palestras realizadas.

Histórico do Centro de Instrução de Guerra na Selva - CIGS

Com o Decreto Presidencial 53.649, de 02 de março de 1964, foi criado o Centro de Instrução de Guerra na Selva, subordinado ao Grupamento de Elementos de Fronteira. O Brasil vivia momentos de inquietação, marcados por tensões sociais e graves perturbações da ordem interna. Naquela época, o Exército ressentia-se da falta de uma unidade capaz de especializar militares no combate na selva e de constituir pólo irradiador de doutrina de emprego de tropa nesse complexo ambiente operacional amazônico. Tais fatores, sem dúvida, inspiraram a criação do CIGS, que veio preencher uma lacuna existente no Exército que ainda ocupava de maneira muito modesta esta parte do território nacional de inestimável valor estratégico. Foi um começo marcado por dificuldades: falta de experiência na constituição, consolidação e condução de um Centro de Instrução; instalações físicas improvisadas no antigo Quartel-General do 1° Grupamento de Elementos de Fronteira (1°GEF), na ilha de São Vicente; a falta de material de todas as classes. Entretanto, tais dificuldades não desanimaram aqueles que, premiados pelo destino, tiveram o privilégio de compor a primeira equipe, a “Equipe Pioneira”, responsável por dar início às atividades de instrução no CIGS.

Na condução dessa equipe, o então Major Jorge Teixeira de Oliveira, o saudoso “Teixeirão”, homem caracterizado por qualidades pessoais e profissionais que o habilitaram como verdadeiro líder, admirado por todos quantos tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Sob a orientação de Jorge Teixeira, “os pioneiros” superaram todos os obstáculos e deram ao CIGS as melhores condições para um início de atividades marcado por êxitos e realizações. Em 10 de outubro de 1966, mercê dos esforços dessa equipe de “pioneiros”, foi iniciado o primeiro Curso de Guerra na Selva do nosso Exército e a primeira turma foi brevetada no dia 19 de novembro de 1966, em solenidade realizada no atual estádio do Colégio Militar de Manaus. Era a primeira grande contribuição do CIGS ao Exército e ao Brasil! Os continuados êxitos alcançados, frutos do desprendimento, da disciplina, da dedicação, do sentimento de cumprimento do dever e de amor ao Exército, à Amazônia e ao Brasil, por parte dos integrantes das diversas equipes que sucederam a equipe pioneira, fizeram com que, paulatinamente, o CIGS fosse obtendo o reconhecimento, em âmbito nacional e internacional, como referência na atividade que desenvolve: a formação dos guerreiros de selva brasileiros.

A necessidade sentida pela Força de alterar o perfil dos militares aqui especializados levou a estudos que culminaram por ampliar e alterar a vocação do CIGS, que passou, no período de 1970 a 1978, a designar-se Centro de Operações na Selva e Ações de Comandos - COSAC. Em 11 de janeiro de 1978, a Unidade retornou a sua antiga denominação - CIGS -, deixando de especializar os comandos brasileiros tendo este encargo retornado à Brigada Pára-quedista no Rio de Janeiro. Em 17 de dezembro de 1999, recebeu a denominação histórica “Centro Coronel Jorge Teixeira”, em justa homenagem ao seu mais insigne integrante.

Missão do CIGS

Especializar oficiais, subtenentes e sargentos para o combate na selva; adestrar e avaliar tropas da Força Terrestre na Amazônia; realizar pesquisas e experimentações doutrinárias; valorizar e difundir a mística do guerreiro de selva; atuar no controle do meio ambiente e projetar a boa imagem da Instituição.

Cursos de Operações na Selva

O COS - Curso de Operações na Selva - é um curso de especialização militar do Exército Brasileiro, pós-formação, destinado a oficiais, subtenentes e sargentos das Forças Armadas brasileiras. Visa à capacitação de recursos humanos em operações na selva, prioritariamente destinados às unidades militares do Exército na Amazônia, disponibilizando parte das vagas para a Marinha e para a Aeronáutica. Também disponibiliza vagas para militares de nações amigas, conforme interesses diplomáticos nacionais. O conteúdo programático para estrangeiros é menor, deixando de constar, por exemplo, temas que envolvem questões de segurança nacional. O COS é um duro teste das condições físicas e orgânicas - para o enfrentamento do hostil ambiente da selva amazônica -, de preparo intelectual - para o desempenho de funções que exijam liderança em combate na selva - e de preparo psicológico - para lidar com as condições adversas do ambiente e com situações de realismo próprio das atuações de guerra.

Símbolos Internacionais
Fonte: Intercâmbios, T&D, 2006

Ao longo de sua existência, o CIGS tem construído uma imagem de destaque, tanto no Brasil quanto no exterior. Não é à toa, portanto, que, todos esses anos, inúmeros oficiais e sargentos das Forças Armadas de nações amigas têm seguido em direção a Manaus para realizar os Cursos de Operações na Selva. (...) Na realidade, para os militares visitantes, são destinados, agora, os Cursos de Treinamento na Selva (CTS), que os prepara para algumas funções como o planejamento, coordenação e execução de operações em ambiente de selva equatorial. Muito semelhante, mas com duração menor, o CTS abrange em seu currículo disciplinas como Vida na Selva, Instruções Básica e Especial, Marchas, Patrulhas e Treinamento Físico Militar e a sua subdivisão por fases é igual à dos COS. Contudo, a Fase de Operações na Selva, para esses alunos, é limitada a atividades de patrulha. Aliás, com a relação a toda a instrução ministrada, ocorre a supressão de algumas matérias que só podem ser ministradas a militares brasileiros. Por outro lado, o CIGS, em função da reciprocidade também envia integrantes para cursos em escolas do mesmo escopo em países vizinhos. Até 1999, ainda era frequentado o “Jungle Operations Training Center” (JOTC), no Panamá, sob a responsabilidade do Exército dos Estados Unidos. Com a devolução da área do Canal à administração panamenha (onde se situava a base do JOTC), outras opções foram procuradas para a continuidade da troca de conhecimentos. Nos últimos anos, o intercâmbio tem sido mais positivo em relação ao Exército do Equador, para onde militares brasileiros têm seguido com alguma regularidade para realização dos Cursos de Selva e Tigres. Ambos, ao seu término, proporcionam com atividade conclusiva patrulhas em áreas fronteiriças com a Colômbia nas quais é muito forte a presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs). Através desse novo relacionamento, o CIGS, tal qual outrora aconteceu em relação ao JOTC, se esforça para buscar o estreitamento dos laços entre os países amazônicos na área de cooperação militar, difundindo a excelência do padrão do guerreiro de selva brasileiro, já que todos são, em suas respectivas porções, parceiros na tarefa de preservação da soberania.

O Guerreiro de Selva
Fonte: Coronel Souza Abreu

Ao se referir ao guerreiro de selva – em sentido amplo – empresta-se um significado especial. Trata-se do homem que de uma maneira ou de outra empreende uma luta pela Amazônia brasileira. Nesse sentido, o cidadão não-militar pode ser um guerreiro de selva, desde que sua história de vida caracterize-se pela defesa, em qualquer sentido, dos interesses nacionais sobre a Região Norte do Brasil em termos de soberania. Assim, na guerra, o combatente da resistência, integrando a força de sustentação, subterrânea ou outra, é um autêntico guerreiro de selva. Na paz, é o mateiro do CIGS e dos pelotões de fronteira, o apoiador das ações das Forças Armadas, aquele que empresta sua área e seus meios para exercícios, aquele que participa como figuração nas manobras, além de diversas outras formas de manifestação genuína de brasilidade.

É importante destacar que o combatente de selva, militar, é um misto do homem que tem educação militar tradicional, em sua grande parte oriunda de outras regiões do Brasil, que só se torna um combatente verdadeiro após instalar-se e passar por um processo de adaptação, seja por consequência de estágios, treinamentos e ou cursos proporcionados pelo CIGS. A contribuição das culturas indígenas e caboclas – traduzida metodologicamente por intermédio dos cursos, estágios e adestramentos das tropas – representa importante fator determinante da qualidade do combatente de selva. Prescindir desse conhecimento autóctone é partir para o empirismo, com riscos que a História ensina a não correr.

Conceitos

Combatente de selva, guerreiro de selva e guerreiro da selva são termos que costumam ser tratados como sinônimos. Há, entretanto, uma sutil diferença entre eles. Combatente de selva é mais amplo, guerreiro de selva é aquele que fez o curso de “guerra na selva” do CIGS e guerreiro da selva é o especialista brasileiro.

- Combatente de selva: militar, de qualquer posto ou graduação, de carreira ou temporário, que tem instrução específica própria de unidades de selva, para o desempenho de cargo previsto em quadro de organização (QO) das organizações militares do CMA.

-  Guerreiros de selva: termo genérico do especialista em operações na selva formado pelo CIGS, das Forças Armadas nacionais e estrangeiras. No jargão militar internacional é o “jungle expert”, apto a combater em qualquer selva do mundo com características semelhantes à da Amazônia.

-  Guerreiros da selva: termo estrito atribuído ao guerreiro de selva brasileiro. Tem conotação poética, ao referir-se especificamente ao guerreiro “da” Amazônia brasileira. Assim, quando o sentido do texto, poema, comentário etc. referirem-se ao nacional, deve-se optar pelo termo “guerreiro da selva”, da selva amazônica brasileira. A “Oração do Guerreiro da Selva” e o poema “Que Não Ousem” são exemplos de referências de exaltação aos guerreiros da selva amazônica brasileira.

– Blog e Livro

Os artigos relativos ao “Projeto–Aventura Desafiando o Rio–Mar”, Descendo o Solimões (2008/2009), Descendo o Rio Negro (2009/2010), Descendo o Amazonas I (2010/2011), e da “Travessia da Laguna dos Patos I (2011), estão reproduzidos, na íntegra, ricamente ilustrados, no Blog http://desafiandooriomar.blogspot.com.

O livro “Desafiando o Rio–Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Livraria Dinamic – Colégio Militar de Porto Alegre. Pode ainda ser adquirido através do e–mail: hiramrsilva@gmail.com.


 

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar (IDMM)
Vice Presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional