Templos, rochas com inscrições seculares e vilas da região central da China ficam debaixo d’água
No começo de 2003, tomei um navio e passei três dias entre os desfiladeiros do Yang-tse (Chang Jiang), o terceiro rio mais longo do mundo, depois do Nilo e do Amazonas. Aproveitei uma das últimas oportunidades para ver uma das grandes maravilhas naturais do mundo antes que fosse destruída pela barragem da hidrelétrica de Três Gargantas, na região central da China. A notícia é do jornal O Estado de S. Paulo, 29-04-2007.
Em alguns pontos o Yang-tse é caudaloso, cor de barro, com fortíssima correnteza. Depois as águas ficam transparentes, ladeadas por montanhas. Animais silvestres, pássaros estranhos, inscrições seculares esculpidas nas rochas, vilas que eram verdadeiros patrimônios da humanidade por sua antiguidade e estilo de vida, tudo isso está condenado. No navio as pessoas estão mudas, os olhares fixados nos altos paredões das margens do rio. A cada curva, uma surpresa. Aparece um velho templo taoísta, uma escadaria imensa, uma estátua colossal cujo corpo é a montanha, ou apenas uma pequena figura humana naquela imensidão, olhando o navio, e sabemos que estamos assistindo ao desterro desse homem, quem sabe o último de uma antiquíssima geração, agora obrigado a ir para algum lugar longe de seu rio.
Além da tragédia ambiental, a construção da barragem causou um grave problema social. Mais de 1,3 milhão de pessoas foram transferidas, a maioria para o interior do país, no que ativistas dos direitos humanos chamaram de criação de “bolsões de refugiados”. Para aproveitar tijolos, portas e todas as velharias das casas e edifícios a ser submersos não se usou o processo de implosão, mas a simples marreta de pedra, o que levou a um número excessivo de acidentes de trabalho, com muitas mortes mantidas em segredo.
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