A demanda doméstica será capaz de sustentar o crescimento da economia brasileira mesmo em um cenário internacional menos favorável, como o visto no último mês, avalia o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luciano Coutinho. O otimismo do professor da Unicamp, no entanto, não é compartilhado por outros economistas. José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados, acredita que o mercado interno dará em breve sinais de desaceleração, já que as condições de crédito, que têm impulsionado esta demanda, não devem mais apresentar grandes melhoras. A reportagem é de Raquel Salgado e publicada pelo jornal Valor, 11-09-2007.
Coutinho argumenta que o Brasil iniciou desde o ano passado um ciclo de investimento bastante vigoroso, que dará condições para que a demanda se expanda sem que existam gargalos na oferta. "A carteira de projetos do BNDES indica um crescimento bastante firme do conjunto dos investimentos da economia e nós esperamos que seja um processo robusto mesmo diante das tensões financeiras internacionais", disse no fim de uma apresentação no seminário "Agenda de Competitividade para a Indústria Paulista", promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O presidente do BNDES diz que o problema na crise internacional é que ainda não se sabe precificar o tamanho do prejuízo trazido pelo estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos. Ele acredita que a crise pode levar a uma contração do crédito em economias desenvolvidas mais prolongada do que ocorreu em outras crises desse tipo. No entanto, Coutinho avalia que isso não impedirá a economia chinesa de seguir crescendo a taxas robustas. O mesmo vale para alguns países da Europa e até mesmo para os Estados Unidos, onde poderá ocorrer uma redução no ritmo de crescimento e não uma recessão econômica.
Mesmo que o cenário internacional não seja mais tão favorável, esse ciclo de investimentos vivido pelo Brasil dará condições à economia de mitigar efeitos externos negativos. Para Coutinho isso será possível porque tanto o setor financeiro quanto o setor empresarial e os consumidores do país estão sadios. "A alavancagem e o grau de endividamento do setor privado ainda é baixo, o sistema de crédito pode sustentar a expansão da economia fora da dependência da conjuntura interna", argumenta.
O ex-secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), José Roberto Mendonça de Barros, tem uma visão diferente do assunto. Para ele, o ritmo crescente de expansão da demanda vai ser contido em breve. As melhoras da condições de crédito, com prazos mais longos e juros mais baixos, tendem a se esgotar. "E são estas condições favoráveis que sustentam boa parte da demanda atual", afirma. Além disso, ele lembra que os juros prefixados já estão subindo e que vão impactar o crédito ao consumidor.
Ainda assim, Mendonça de Barros diz que o crescimento deste ano já está dado, não será impactado pela turbulência externa. Para o próximo ano, sua previsão de elevação do PIB segue em 4,8%. "Ainda é cedo para saber o que vai acontecer", pondera. O economista, porém, traça um cenário de inflação incômodo para o país até o fim deste ano. "A forte demanda asiática e a quebra de safra de alguns alimentos ainda vão seguir pressionando os preços."
Coutinho, por outro lado, está confortável com a questão da inflação. "Eu gosto de brincar dizendo o seguinte: o BC (Banco Central) cuida da inflação no curto prazo e o BNDES cuida no longo prazo, porque ele ajuda a criar capacidade produtiva nova, a gerar aumento de oferta que impede a subida de preços."
Assim, segundo ele, a combinação do uso das importações de forma flexível com o aumento da oferta doméstica a partir do investimento permitirá conciliar crescimento da economia com estabilidade de preços. Ele acredita que as tensões recentes são transitórias e que é preciso olhar para a economia do país com uma visão de longo prazo, como fazem os países asiáticos, que tem tido grandes sucessos econômicos. "Investir muito significa inflação controlada a médio e longo prazo", garante.
Como está otimista com o incremento dos investimentos, Coutinho espera que em breve o BNDES precise buscar mais recursos para emprestar às empresas brasileiras. Ele contou que o Banco Europeu de Investimento acabou de oferecer 400 milhões de euros à instituição. Bancos internacionais, porém, não serão a única fonte de recursos. "Há um mês e meio lançamos R$ 1,350 bilhão pela BNDESPar. Possivelmente lançaremos mais debêntures ou outro tipo de instrumento de dívida no mercado interno."
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