"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Instituto Humanitas Unisinos - 03/01/08

Campo dispensa 47% em 30 anos no Paraná

Paraná teve evasão duas vezes maior que a média nacional nas últimas três décadas, diz o IBGE. As principais razões apontadas são o êxodo rural e a tecnologia. A matéria é de José Rocher e está publicada na Gazeta do Povo, 27-12-2007.

O número de pessoas que trabalham no campo caiu 47,21% nas últimas três décadas no Paraná, frente a uma redução nacional de 19,32%. O fenômeno aparece nos resultados gerais do Censo Agropecuário 2006, divulgado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 1975, quando o Estado tinha 7 milhões de habitantes, havia 2,08 milhões de homens e mulheres na agropecuária. Hoje, do total de 10 milhões de paranaenses, apenas 1,1 milhão têm ocupação no setor. Ou seja, os trabalhadores do campo, que representavam 30% da população, hoje se resumem a 11%.

O esvaziamento das unidades produtivas rurais, que se acentuou nas décadas de 70 e 80, era relacionado à busca de melhores condições de vida nas cidades – ao êxodo rural. Atualmente, o fenômeno deve-se principalmente ao aperfeiçoamento do sistema produtivo no campo, afirma o coordenador do Censo Agropecuário no Paraná, Jorge Mryczka. “A adoção de novas tecnologias faz com que um número menor de pessoas dê conta da atividade agropecuária.”

O número de estabelecimentos agropecuários voltou a crescer no estado, passando de 369 mil, em 1995, para 373 mil, em 2006. As lavouras paranaenses foram ampliadas de 5,1 milhões para 8,1 milhões de hectares no mesmo período. A produção de leite cresceu de 1,35 bilhão para 2,04 bilhões de litros ao ano. O plantel de aves plantel aumentou de 94,46 milhões para 280,64 milhões de cabeças. Entretanto, a retomada do setor não tem sido suficiente para reverter o quadro de evasão, aponta Mryczka.

Tecnologia

A substituição do homem pela máquina ajuda a explicar esse quadro. Entre 1995 e 2006, o número de tratores passou de 52,5 mil para 111 mil no Paraná (em 1995 eram 121,8 mil). Na relação direta, cada uma das novas máquinas corresponde à expulsão de 16 pessoas do campo. Outros fatores, como o uso de herbicidas (que dispensa mão-de-obra na capina) e a adoção do plantio direto (que suspende a passagem de arados no solo) contribuíram para o fenômeno.

Os números do IBGE confirmam também que hoje as famílias que vivem no campo são cada vez menores, afirma o secretário estadual da Agricultura e Abastecimento, Valter Bianchini. Só na última década, a redução do total de pessoas ocupadas na agropecuária foi de 15% – caindo de 1,28 milhão para 1,1 milhão. Para Bianchini, essa tendência mostra a importância do apoio à agricultura familiar, com incentivo à formação de cooperativas, à implantação de agroindústrias e à compra de máquinas pelo agricultor familiar.

Organizações como o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) ainda aguardam dados mais detalhados para avaliar os resultados do Censo Agropecuário 2006. A expectativa é que números regionais revelem causas específicas. Será possível avaliar, por exemplo, se existem regiões ou municípios que conseguiram evitar a redução do trabalho no campo.

Os dados do IBGE começaram a ser pesquisados em abril. A pesquisa ainda não foi concluída, pela dificuldade que os recenseadores têm na hora de localizar parte dos produtores. Essa parcela de entrevistados, no entanto, não deve alterar as tendências verificadas nos resultados gerais, referentes a 2006. Os dados definitivos devem ser divulgados a partir de julho de 2008.

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