O assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia disse que o Brasil não acredita que a vitória da oposição no referendo sobre a autonomia do departamento (Estado) de Santa Cruz venha a evoluir para um movimento realmente separatista na Bolívia, até porque "as Forças Armadas [do país] não iriam permitir". A notícia é do jornal Folha de S.Paulo, 07-05-2008.
Em conversa com a Folha, Garcia disse: "Não acredito que haja um movimento consistente de separatismo, senão as Forças Armadas agiriam. Elas não iriam permitir o desmembramento do território".
Na sua opinião, que traduz o pensamento também do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Itamaraty, os líderes do movimento que gerou o referendo "não têm a intenção real de promover uma independência territorial, inclusive porque sabem que não terão aval de nenhuma espécie". Num tom quase de advertência, especificou: "Não terão apoio nem interno nem externo, o que inclui Brasil e OEA [Organização dos Estados Americanos]".
Garcia e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dizem crer que, a partir do resultado do referendo estarão abertas as negociações entre o governo de Evo Morales e o governo de Santa Cruz. A possibilidade de diálogo foi aberta, na avaliação brasileira, porque, de um lado, os defensores da autonomia ganharam, mas, de outro, a abstenção foi bem maior do que no referendo nacional sobre autonomias departamentais, em 2006. Segundo Garcia, os Estados rebelados vão querer "maior autonomia em relação a La Paz e maiores compromissos de Morales com suas reivindicações".
Apesar do otimismo, a oposição já avisou que só abrirá o diálogo com Morales depois que outros três departamentos governador pela oposição (Beni, Pando e Tarija) realizarem seus referendos, em junho.
O Brasil mantém contatos com o governo Morales, com setores do movimento da autonomia e também com a Argentina, a fim de criar ambiente propício ao diálogo, com base na certeza de que o separatismo seria danoso à Bolívia e à região. Uma das ameaças veladas que Brasil e Argentina fazem é de haver obstáculos práticos no Mercosul para um movimento separatista.
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