Por Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 16 de abril de 2010.
“Nossa intolerância se agiganta quando tratamos de perceber os defeitos alheios, nossa língua é afiada e nossas observações ferinas. Esquecemos por um momento que todos somos humanos e passíveis de erros. Cobramos a perfeição alheia e raramente nos olhamos no espelho com a crítica necessária. Acredito que se exercemos a difícil arte da clemência, da busca do que é bom e agradável nesta ou naquela pessoa que nos incomoda, seja em qualquer âmbito, cresceremos como indivíduos”. (Mauro Gouvêa - Intolerância)
Quando meus alunos, do Colégio Militar de Porto Alegre, me perguntam se sou gremista ou colorado – afirmo que embora seja colorado meu primeiro time sempre foi o Santos. Escolha justificada porque, na época (década de 60), morávamos no interior de São Paulo - Bernardino de Campos, e, principalmente, porque Pelé fazia parte do elenco. Infelizmente, o orgulho que eu sentia pelo meu time do coração foi maculado por jogadores que demonstraram o quanto estão distantes da filosofia cristã de tolerância e amor ao próximo.
- Páscoa Cristã, mas não para as ‘estrelinhas’ do Santos
"Evitar mensagens religiosas em comemorações, entrevistas coletivas e eventos públicos do clube". (Cartilha do Santos)
Em plena Páscoa, um período significativo tanto para os cristãos e judeus, alguns jogadores do Santos protagonizaram um trágico episódio de intolerância e preconceito contra pessoas de outra crença. Os dirigentes santistas pretendiam que Robinho, Neymar, Fábio Costa e outros atletas visitassem o Lar Espírita Mensageiros da Luz, que cuida de portadores de paralisia cerebral e outras deficiências para entregar ovos de páscoa às crianças.
A equipe foi até o local e Robinho, Neymar e Paulo Henrique Ganso - não entraram na casa de caridade alegando motivações religiosas. Os 11 jogadores santistas, realmente cristãos, que participaram da ação beneficente foram Felipe, Wladimir, Edu Dracena, Zé Eduardo, Arouca, Pará, Gil, Maikon Leite, Breitner, Zezinho e Wesley.
Robinho foi um dos jogadores que permaneceram no ônibus que numa demonstração abjeta e infantil iniciaram uma ruidosa batucada que foi ouvida pelos constrangidos dirigentes do lado de dentro da entidade. Para compensar o boicote protagonizado pelas ‘estrelinhas santistas’, o presidente do Santos, Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, anunciou que as camisas a serem usadas no clássico contra o São Paulo, no Morumbi, serão autografadas e doadas ao Lar Mensageiros da Luz para serem leiloadas.
- Testemunhos
A imprensa criticou a atitude dos jogadores que pecaram pela falta de tolerância religiosa sem contar com o total desprezo aos pacientes deficientes. O treinador Dorival Júnior disse as ‘estrelinhas’ que lamentava profundamente o episódio. Só depois dessa admoestação Robinho, Neymar, Paulo Ganso, e os outros talibãs santistas resolveram pedir desculpas publicamente.
Robinho, numa tácita demonstração de que continua achando normal sua atitude, afirmou: “cada jogador tomou a atitude que achou conveniente, e eu acho que a religião de cada um precisa ser respeitada”. Que bom seria que os jogadores respeitassem a dos outros também, não é Robinho?
Neymar, orientado pelos pais, admitiu publicamente que: “Nós erramos, mas vamos corrigir, e estou pedindo desculpas. Aconteceu sim, mais da metade do grupo ficou no ônibus. Por isso, não só eu como todos nós erramos. A gente aprende errando. Estou arrependido de não ter entrado. Gostaria de pedir desculpa para eles (moradores do Lar) pelo que aconteceu”.
Paulo Ganso afirmou: “Nós pedimos perdão pela falha e vamos voltar lá”.
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Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
Acadêmico da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB)
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS)
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