"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, dezembro 31, 2010

Desabafo

Estava outro dia conversando com colegas de trabalho e um deles que estava fazendo um curso universitário na área de letras, comentou que o seu curso havia se encerrado, e que por ele ter atrasado as disciplinas de inglês (apesar de praticamente já ter concluído o resto do curso) teria que sair da faculdade e procurar o curso em outra instituição e torcer para que seus créditos pudessem ser aproveitados no novo local.
O que me chama atenção é o fato de, como nos últimos quatro anos tenho ouvido isso com certa regularidade, tanto de professores (que perderam seus empregos), quanto de alunos que tiveram que buscar novos cursos ou prestar novo vestibular.
Isso me assusta, pois reflete a cruel indiferença que recai sobre a profissão do educador. 
Apesar de certo intelectual que escreve sobre educação (economista se não me engano) em revista de grande circulação já ter dito que a questão salarial do profissional da área de ensino não justifica o nosso padrão e nem tampouco é assim tão baixo, vejo refletido na baixa procura por parte de nossos jovens (que sabem a realidade dura do professor) por essa profissão tão bela, a principal razão pelo fechamento de tais cursos em várias universidades e faculdades particulares. Se não há aluno, não há mensalidade. Sem mensalidade, não há lucro. E aí, o curso fecha, deixa de existir.
Uma solução prática e já adotada devido a ausência gritante que o ensino nacional já sente, foi permitir que profissionais de outras áreas que apresentassem conhecimento afim, pudessem assumir a cátedra e fazer as tais licenciaturas curtas ( em alguns casos nem isso é exigido).
Não desmerecendo tais profissionais, mas quem fez engenharia, direito, medicina, ou qualquer outro curso desses, queria era ser engenheiro, advogado ou magistrado e médico. Ser professor para muitos é simplesmente algo passageiro (com raríssimas excessões) enquanto estão em busca de emprego em suas áreas.
Precisamos realmente é de uma política pública que valorize realmente a profissão do educador. E nesse caso, não é só uma questão salarial, mas também de condições de trabalho, de descanso e aposentadoria diferenciada (não precisa nem ser como a dos políticos que bastam assumir o cargo por pouco tempo para ficarem com ela para o resto da vida). Mas a atividade do educador é diferenciada, é desgastante. Exige um dispêndio de energia nas chamadas horas pedagógicas (que não são as contabilizadas oficialmente) que fazemos em casa nos momentos de descanso, nos fins de semana, tudo isso em detrimento de estarmos aproveitando no seu todo, a presença de nossa família.
Lembro-me que o intelectual referido acima, certa vez escreveu que o professor ganhava bem, e que mesmo em condições adversas havia exemplos maravilhosos de superação.
Lembro-me de que quando era criança minha mãe me dizer que o Silvio Santos havia sido camelô e com esforço superou as condições adversas e se tornou um homem de sucesso.
Será que se todos quisessem poderiam se tornar Silvio Santos? Acho que não, não há espaço para isso. 
E afinal de contas qual seria a razão, usando a mesma lógica, de que esses exemplos de superação na área educacional possam ser usados por todos e assim atingirmos o maravilhoso Éden educacional? Creio que a resposta é simples. Não é nossa responsabilidade. Esses exemplos de superação são isso, exemplos midiáticos de superação.
Apesar de tais exemplos não serem a regra, os professores nos mais diversos níveis da educação pública (principalmente), realizam diferentes graus de superação. São profissionais que dão aulas em locais inadequados, com material faltando, com desestimulo social e que buscam levar para seus alunos a importância do ensino para sua vida e não apenas para o vestibular.
Profissionais que abrem mão de horas de lazer, que fazem grandes deslocamentos e que sofrem para por as contas em dia com o minguado salário que recebem.
Esses são exemplos de superação que existem em milhares e não raramente. Esses são os profissionais que merecem ser melhor respeitados pela sociedade e pela classe que detém o poder de confeccionar políticas públicas mais adequadas à área educacional.

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