viomundo - publicado em 8 de agosto de 2012 às 11:33
Servidores em greve fazem manifestação em Brasília. (foto Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
O PT como patrão
por César Augusto Brod*, no site do SEDUFSM
Orientação sobre a folha de ponto dos servidores em greve
Informo que, seguindo orientação superior do MP [Ministério do
Planejamento], os grevistas deverão ter os pontos cortados, desta forma
não deverá constar nenhuma observação na folha de ponta dos servidores
que estão de greve e não registraram o ponto. Já aqueles servidores que
estão de greve e mesmo assim registraram o ponto deverão ter seus pontos
cortados (anulados) já que não trabalharam.
Quanto aos servidores que estão trabalhando normalmente e que não
puderam trabalhar no dia 5 de julho por causa da greve dos ônibus podem
ter seu dia abonado, código 05.
Sou coordenador geral de inovações tecnológicas do departamento de
sistemas de informação da secretaria de logística e sistemas de
informação do ministério do planejamento, orçamento e gestão do governo
do Brasil. Estou neste cargo desde setembro de 2011. Hoje comunico,
publicamente, meu pedido de exoneração.
Todos sabem qual é meu salário graças à Lei de Acesso à Informação.
Preciso deste salário e, de fato, tenho orgulho em merecê-lo. Mas a
partir do momento em que tenho que ferir meus princípios para manter
minha remuneração, meus princípios sempre ganharão o jogo, independente
do que virá depois.
Trabalho, há bastante tempo, com o conhecimento livre e modelos de
negócios baseados nisso. Em Porto Alegre, no final dos anos 1990, tive o
prazer de ver um projeto de governo crescer levando em conta a crença
em que a liberdade ampla para todas as formas de conhecimento era um
fator gerador de inovação tecnológica e de criação de emprego e renda.
Apoiei esse projeto mas nunca integrei nenhum quadro do governo até
setembro de 2011, quando assumi o cargo acima mencionado, e passei a ser
o responsável pelo Portal do Software Público Brasileiro, pela
Infraestrutura Nacional de Dados Abertos, além de outras atividades.
Não foi fácil, vindo da iniciativa privada e há mais de doze anos
como empresário, aprender a hierarquia e a burocracia que são parte de
um emprego público. Aliás, esse é um aprendizado constante. Mas segui
trabalhando com minha paixão: liberdade de conhecimento como geração de
inovação e riqueza.
No decorrer de meu trabalho deparei-me com a greve do funcionalismo
federal, à qual aderiram muitos dos que estavam sob minha coordenação.
Enfrentar uma greve como executivo público foi algo totalmente inédito
para mim. Acompanhei greves desde o tempo de meu avô, no surgimento do
PT. Toda a articulação para as greves, para a criação de uma força que
mudasse o estado, conscientizou uma população que colocou o PT no poder.
Mas o PT patrão parece não ter aprendido com sua própria história. O PT
patrão apenas aprimora as táticas de pressão psicológica e negociação
questionável daqueles com os quais negociou na época em que a greve era
sua.
O PT patrão virou governo, melhorou o país e acha que não depende
mais da máquina que sustenta o estado. O PT patrão, que fez muito pela
nação, tem a certeza de que vai muito bem sozinho. E está indo mesmo!
Eu espero que nosso país siga melhorando, mas estou nele para mudá-lo
e não para cumprir ordens com as quais não concordo. Como coordenador,
jamais cortarei o ponto daqueles que trabalham comigo e estão em greve.
Independente da greve, eles cumpriram seus compromissos civis sempre que
necessário. E, na greve, cultivaram ainda mais sua união na crença da
construção de um Brasil melhor.
*César Augusto Brod, responsável pela Coordenação Geral de
Inovação Tecnológica da Secretaria de Logística e Tecnologia da
Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
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