Carta Capital - 21.01.2013 09:01
Delfim Netto
Imagem de abril mostra as obras no sítio Canais e Diques, a maior frente de trabalho nos canteiros de obras de Belo Monte, em Altamira (PA). Canal de 20 quilômetros ligará a represa do sítio Pimental ao reservatório intermediário do sítio Belo Monte. Foto: Valter Campanato/ABr
As chuvas retornaram às regiões Sudeste e Centro-Oeste, esfriando as apostas de um “inevitável racionamento” de energia por causa do esgotamento dos reservatórios das nossas principais hidrelétricas. Parece adequado o momento para uma retomada do debate sobre as condições da oferta de energia no Brasil, como propõe o editorial doValor Econômico da segunda-feira 14 de janeiro, do qual tomei a liberdade de extrair algumas lúcidas sugestões.
Uma delas é que é preciso analisar as razões pelas quais geradoras importantes estão operando com níveis elevados de ineficiência resultantes da utilização de equipamentos sem a manutenção adequada e permitindo que os reservatórios acumulem os efeitos do assoreamento dos rios. Outra conclusão é que é preciso enfrentar os problemas que permitiram o descasamento entre o aumento da capacidade instalada de geração nos últimos anos e a conclusão dos projetos das linhas de transmissão.
Ninguém pode ter dúvidas de que a base da matriz energética brasileira, erguida em razão da disponibilidade de recursos hídricos, é reconhecida e invejada como a mais limpa do mundo. Ela oferece geração permanente e segura a custos competitivos, mas tem a dependência do regime de chuvas, daí ter de manter uma reserva importante de energia das termoelétricas, que têm funcionado nas emergências como a deste ano.
Nos dez anos a partir de 2002, o crescimento da capacidade de oferta de energia hídrica na matriz brasileira foi exponencial, algo próximo de 50% de aumento, sem que essa disponibilidade tivesse sido acompanhada pela expansão das linhas de transmissão. Criou-se um gargalo: o País aumentou nos últimos anos a capacidade instalada de geração, mas não conseguiu realizar a maioria dos projetos de transmissão, muitos deles enfrentando obstáculos antes mesmo da instalação das obras e outros interrompidos e atrasados pelas dificuldades na obtenção do licenciamento ambiental.
O País tem mais de uma dúzia de bons projetos e outro tanto de pré-projetos em análise para uma ampliação segura da oferta de energia limpa, capaz de garantir os objetivos de crescimento já na década atual, que deverá proporcionar as condições de sustentabilidade e melhor padrão dos níveis de emprego para os 150 milhões de cidadãos e cidadãs brasileiros na faixa de idade entre 16 e 60 anos que estarão demandando o mercado de trabalho no fim do período e nos primeiros anos da década de 1920.
Não se trata apenas dos megaprojetos para os rios amazônicos, como os atuais nas bacias do Tapajós, do Araguaia e do Tocantins, que, além do volume de obras das usinas geradoras, demandarão investimentos demorados na realização das linhas de transmissão a grandes distâncias até as regiões de maior consumo. A resistência a tais empreendimentos – que se tornaram alvo preferencial de ONGs financiadas do exterior, recentemente tomadas de paixão amazônica, e outras tantas nacionais que bebem em obscuras fontes semelhantes – hoje tem a companhia de filiais especializadas em impedir o aproveitamento da energia eólica, uma fonte igualmente limpa, a pretexto de proteger o meio ambiente e diversos tipos de fauna dos efeitos do movimento das pás e da velocidade dos ventos, sem nenhuma comprovação empírica de suas teses.
Isso acontece na medida em que os investimentos no setor progrediram fortemente na última década, com tecnologia e projetos desenvolvidos preferencialmente no Brasil. Basta ver que nos últimos dois anos a oferta dessa nova energia dobrou de volume. A expansão do parque eólico tem sido retardada, no entanto, com a complacência dos governos e da própria sociedade diante dos que se autopromovem protetores dos animais e de seu hábitat (que mal conhecem).
Além de gerar a energia mais limpa do mundo, baseada na utilização dos seus recursos hídricos, o Brasil está ampliando o uso das fontes alternativas não poluentes com o aproveitamento da biomassa e o desenvolvimento mais recente das possibilidades da energia eólica.
O governo e a sociedade brasileira precisam se unir, contudo, para acionar os controles, visando corrigir as ineficiências da matriz hidrelétrica e eliminar os anacronismos do processo de concessão da licença ambiental para desobstruir, finalmente, os mecanismos que impedem a realização dos projetos de transmissão da energia limpa para todas as regiões do País.
Poderíamos solicitar aos atores globais que fizeram parte do video contra Belo Monte que auxiliasse ao povo brasileiro com doações de seus ricos salários para amortizar o possível aumento (quem sabe em outro momento de seca) das contas de energia.
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