Hélio Riche Bandeira, Porto Alegre, RS, 09 de junho de 2013
A maioria das pessoas busca fama e fortuna. Mas pense no quanto há na natureza que você já possui - estrelas, lua, montanhas, mares, rios e árvores.
(Ensinamento zen budista)
Na sociedade atual passamos grande parte de nosso tempo com a preocupação da conquista de posições e bens materiais e nessa frenética corrida muitas vezes deixamos de reconhecer os verdadeiros valores que a vida nos proporciona. Refletindo sobre isso e incentivado pelos meus amigos Jair Romagnoli e Alvares Fernando da Silva, resolvemos empreender uma viagem de caiaque da Praia de Calheiros em Governador Celso Ramos até a Praia da Ribanceira em Imbituba, onde poderíamos conviver e aprender um pouco mais com a natureza.
O caiaque oceânico foi escolhido por nossa equipe como esporte e meio de transporte pela sua versatilidade, autonomia e, principalmente, por possibilitar uma integração harmônica com o ambiente percorrido.
Há algo de sublime em enfiar um remo na água e sair deslizando rio abaixo em silêncio, impelido por seus próprios braços. Ou em cruzar a arrebentação ao amanhecer, saindo para um dia de alto mar. Talvez seja o fato de que um barco a remo lhe dá acesso a lugares inéditos. Ou talvez seja a sensação de independência, de autoconfiança, que lhe dá descobrir este novo mundo. (BECK, 2006, p. 82)
Esta jornada seria minha primeira viagem marítima, pois até então só havia feito travessias longas de caiaque em água doce, principalmente na Laguna dos Patos. Diferente de minha inexperiência meus companheiros já haviam se aventurado de Porto Belo a Tijucas. Porém a ansiedade para o começo da viagem era comum aos três.
No começo da manhã do dia 15 de dezembro me desloquei de Viamão para a casa do Alvares em Alvorada. Após minha chegada acomodamos os três caiaques na camionete do Jair e com tudo pronto partimos em direção a Santa Catarina por volta das 08h00min.
A viagem transcorreu tranquila, deslocamo-nos até o Camping e Pousada Padang na Praia da Ribanceira em Imbituba, local do fim de nossa remada. Seus proprietários, Marcelo e Bruno Celaro, gentilmente permitiram deixar meu carro no camping até o dia de nossa chegada. Passei então para a camionete do Jair e rumamos para o local do início de nossa remada.
Ao chegar à Praia de Calheiros em Governador Celso Ramos, descarregamos nossos caiaques e tralhas na praia e o Jair foi deixar seu carro estacionado no Hotel Maranata. O Sr. Egídio, proprietário do hotel, só estranhou em hospedar um carro sem seus ocupantes e por nunca ter feito isto deixou para nós estipularmos a diária.
Da Praia de Calheiros a Praia do Sissial
1ª ETAPA: PRAIA DE CALHEIROS – PRAIA DO SISSIAL
15/12/2012
Local Distância (Km)
Praia de Calheiros (27°18’58’’S 48°33’40’’W) 0,00
Ilha Grande (27°18’20’’S 48°31’57’’W) 4,51
Ilha na Praia de Palmas (27°19’47’’S 48°31’34’’W) 7,33
Praia dos Ilhéus (27°20’29’’S 48°31’32’’W) 9,00
Praia do Sissial (27°21’00’’S 48°32’06’’W) 10,65
Iniciamos nossa jornada por volta das 16h00min, tínhamos tempo suficiente para fazer um pequeno percurso e montar acampamento, pois ainda restavam algumas horas de sol. No primeiro trecho passamos pelas praias de Ganchos do Meio, Ganchos de Fora e outras menores, todas estas com características de águas calmas, belas formações rochosas, criações de mariscos e diversos barcos coloridos de pesca.
Ao contornar a ponta norte pegamos mar aberto, porém o vento estava fraco e a remada continuou tranquila. Rumamos em direção a Ilha Grande, passamos pela Praia de Palmas, a maior e mais badalada de Governador Celso Ramos, e paramos sem descer dos caiaques na Ilha de Palmas para admirar e fotografar sua beleza nativa com uma vegetação na qual se destacavam diversas palmeiras em meio de seus rochedos.
Energizados pela beleza da ilha seguimos pelos costões ainda inalterados por construções humanas, pela nativa Praia dos Ilhéus e chegamos à Praia do Sissial, local de nosso acampamento selvagem.
A Praia do Sissial tem em torno de 100 metros de extensão e é uma belíssima praia deserta com acesso por trilhas através dos costões das praias Grande e Ilhéus. Possui apenas uma cabana rústica de pescador com uma mangueira de água doce vinda de um riacho.
Montei minha barraca e meus amigos suas redes abrigadas sob uma cobertura de lona, após jantamos e fomos descansar para a longa jornada do dia seguinte.
Da Praia do Sissial a Ribeirão da Ilha
2ª ETAPA: PRAIA DO SISSIAL – RIBEIRÃO DA ILHA
16/12/2012
Praia do Sissial (27°21’00’’S 48°32’06’’W) 0,00
Praia das Bananeiras (27°22’21’’S 48°31’46’’W) 2,68
Praia da Armação da Piedade (27°22’43’’S 48°32’07’’W) 5,51
Ilha do Maximiliano (início Baia dos Golfinhos) (27°24’21’’S 48°33’30’’W) 9,30
Ilha de Anhatomirim (27°25’37’’S 48°33’54’’W) 12,14
Ilha de Ratones Grande (27°28’20’’S 48°33’43’’W) 17,52
Praia de Cacupe (27°32’26’’S 48°31’40’’W) 26,81
Forte de Santana (27°35’35’’S 48°33’50’’W) 33,88
Praia da Base Aérea (27°40’27’’S 48°34’17’’W) 43,49
Ilha das Laranjeiras (27°41’30’’S 48°34’13’’W) 45,45
Ilha Maria Francisca (27°41’51’’S 48°33’53’’W) 46,38
Ribeirão da Ilha (27°42’43’’S 48°33’38’’W) 49,17
O dia 16 de dezembro amanheceu nublado e com pouco vento, o ideal para uma longa remada. Desmontamos acampamento, tomamos café, tiramos algumas fotos da bela e agreste Praia do Sissial e seguimos viagem. Passamos pelas praias Grande, do Rancho, das Bananeiras, do Defunto e das Cordas, todas separadas por pequenos avanços rochosos, e após cruzamos a Ponta da Armação, que apesar de possuir diversos casarões extremamente luxuosos perdeu um pouco da magia da beleza natural dos morros selvagens.
Seguindo esta ponta passamos pela pequena Praia da Figueira e contornamos a bem preservada Ponta do Mata Mata para então desembarcarmos nas águas calmas e protegidas da Praia da Armação da Piedade, junto da antiga igreja.
A Igreja Nossa Senhora da Piedade, localizada no bairro de Armação da Piedade, começou a ser construída em 1738 e concluída em 1745. Em estilo colonial português, mantém as características das igrejas setencentistas, com frontão triangular. Tombada pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - é tida como a primeira igreja edificada em Santa Catarina, no século XVIII, ainda utilizando óleo de baleia na argamassa, e localizada ao lado das ruínas da antiga Armação da Piedade. Em 1839, a Armação da Piedade foi incorporada à Marinha. Atualmente é núcleo de pescadores que conservam principalmente aspectos tradicionais da pesca artesanal. (PREFEITURA DE GOVERNADOR CELSO RAMOS)
Fotografamos este monumento histórico e seu entorno e seguimos nossa jornada agora numa travessia de aproximadamente 4 km até a Ilha do Maximiliano, localizada no início da Baía dos Golfinhos. Já dentro da baía remamos com cuidado e olhares atentos para encontrar seus ilustres habitantes, mas infelizmente não tivemos êxito neste nosso intento. Seguimos então para a ilha de Anhatomirim, local da antiga e bem preservada Fortaleza de Santa Cruz.
No século XVIII, os portugueses construíram quatro fortalezas: três na Baía Norte, na Ilha de Santa Catarina, e a maior delas na Ilha de Anhatomirim, próxima à porção continental da Baía Norte e já em águas do município de Governador Celso Ramos. Denominada Fortaleza de Santa Cruz, é uma edificação imponente, de arquitetura lusitana e influência renascentista. Entre os importantes episódios históricos ocorridos na Ilha constam o desfecho da Revolução Federalista, em 1894, que culminou com a execução de centenas de revoltosos. Atualmente, a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim está completamente restaurada e dispõe de boa infraestrutura turística: restaurante, lanchonete, loja de souvenires.
(PREFEITURA DE GOVERNADOR CELSO RAMOS)
Chegando a ilha desembarcamos junto do trapiche e entrada principal do forte. Ainda era cedo e ele não havia sido aberto para o público, mas o rapaz que cuidava do local cordialmente nos deixou entrar e fotografar este magnífico patrimônio cultural. Após esta volta ao passado seguimos na direção de Florianópolis, na Ilha de Ratones Grande, local de outra fortificação da mesma época.
Remamos pouco mais de 5 km até a ilha, na qual chegamos quase junto com uma escuna repleta de turistas. Ao descermos nos dirigimos ao gentil zelador do local, que além de nos franquear a entrada também nos relatou uma história de um velejador que fazendo uma travessia em uma pequena embarcação pediu ajuda e abrigo na ilha e por lá permaneceu por três dias até o vento trocar de direção.
Entramos na fortaleza para apreciar e fotografar suas belezas históricas e seu entorno magnífico. Das suas muralhas podia-se ver a Ilha de Anhatomirim e o Pontal da Daniela demonstrando sua importância tática. De lá também presenciamos uma linda fragata que mergulhou e saiu com um belo peixe em seu bico.
A Fortaleza de Santo Antônio de Ratones começou a ser construída em 1740, segundo projeto original do Brigadeiro José da Silva Paes, funcionando como um dos vértices do sistema triangular de defesa da Barra Norte da Ilha de Santa Catarina. No Século XVIII contava com duas baterias de canhões, armadas com 14 peças de artilharia. Entre meados do Século XIX, até o início do Século XX, já em ruínas, algumas construções dessa Fortaleza foram utilizadas para a instalação de um Lazareto, que abrigou doentes contaminados por moléstias contagiosas. Posteriormente, funcionou ainda como depósito de carvão da Marinha do Brasil. Durante a década de 1980, em completo estado de abandono e de ruínas, foi palco de uma grande campanha pública pela sua preservação. Pertencente ao Ministério da Marinha e tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 1938, a Fortaleza foi restaurada entre os anos de 1990 e 1991, quando passou a ser gerenciada pela Universidade Federal de Santa Catarina.
(UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA)
O local era magnífico, mas ainda tínhamos muitos quilômetros pela frente, então novamente seguimos viagem agora numa grande travessia de quase 10 km até a Praia de Cacupe pelas calmas e abrigadas águas da baía norte de Florianópolis. Neste trecho passamos pela agreste Ilha de Ratones Pequeno a oeste e o histórico povoado de Santo Antonio de Lisboa a leste.
Esta grande travessia nos deu fome e ao chegar a Cacupe fui pegar informações de restaurantes ou barzinhos em uma pequena casa na beira da praia. O senhor que residia nela me contou que trabalhava para um professor da universidade que havia ido para Santos comprar um caiaque igual ao meu para executar suas pesquisas, me orientou que tinha um restaurante após a curva e me convidou para almoçar junto com sua família, ao que eu agradeci, mas não pude aceitar, pois meus amigos já estavam remando bem adiante.
Ao chegar à praia o Jair foi até o restaurante, mas este era muito chique e optamos por fazer um lanche com nossos mantimentos. Neste ponto eu estava com um pouco de dor de cabeça e após a refeição e um breve descanso seguimos viagem noutra travessia agora de 7 km na direção da Ponte Hercílio Luz que se avistava ao longe.
Neste trecho de remada passaram por nós diversas lanchas e jet skis em alta velocidade e a paisagem bucólica até então começava a dar passagem para o predomínio dos grandes prédios de Florianópolis.
Chegando à ponte desembarquei junto do pequeno e simpático Forte Santana, construído entre 1761 e 1765 para cruzar fogos com o não mais existente Forte São João que se encontrava na outra margem. Sentei-me à sombra para ver se diminuía a dor de cabeça e enquanto descansava meus amigos Alvares e Jair ficaram admirando e fotografando a bela e antiga ponte pênsil.
Idealizada pelo vice-governador do Estado da época, Hercílio Pedro da Luz, e projetada por dois engenheiros norte-americanos, a ponte foi inaugurada em 13 de maio de 1926, quase dois anos depois da morte do político, principalmente para facilitar a travessia entre a ilha e o continente, trajeto feito até então por balsas e pequenas embarcações. Com uma extensão de mais de 821 metros, a altura de suas torres principais é de mais de 74 metros. (BOLDORINI)
Novamente tínhamos uma grande travessia de aproximadamente 10 km até a Praia da Base Aérea agora navegando na baía sul de Florianópolis. Nesta etapa passamos por baixo das duas novas pontes que ligam a ilha ao continente, pelo Iate Clube Veleiros da Ilha, pela pequena Ilha Tick e por uma grande área de mangue que ia até perto da base aérea.
Chegando a bem organizada e privativa Praia da Base desembarcamos junto da vila militar e eu fui me identificar. Fui gentilmente atendido pelo Ten. Peterson, que além de autorizar nossa parada me conseguiu um remédio para dor de cabeça e água gelada.
Faltavam agora pouco menos de 6 km para o trecho final deste dia. Saímos remando em direção da graciosa Ilha das Laranjeiras e depois da Ilha Maria Francisca, para finalmente chegar, cruzando uma grande criação de ostras, a Ribeirão da Ilha.
Situada na Baía Sul da Ilha, distante 27 km do centro, o distrito de Ribeirão da Ilha foi a primeira comunidade europeia de Florianópolis. Historiadores datam em 1506 a chegada dos primeiros navegadores europeus ao local, e no século XVIII sua povoação efetiva. As várias e pequenas praias do distrito possuem águas muito calmas e areia grossa. O casario típico açoriano preservado é uma das mais fortes características do Ribeirão da Ilha, sendo um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos históricos da Ilha de Santa Catarina. As ruas estreitas e a vida tranquila dos moradores dão um charme todo especial a Ribeirão da Ilha. (HERTZOG)
Desembarcamos perto de um restaurante e enquanto o Avares procurava um amigo seu residente neste local para ver se podíamos pernoitar em sua casa, eu e o Jair ficamos observando as dezenas de gaivotas, garças e biguás que vinham se alimentar com os restos de peixes dos restaurantes jogados para eles. Algum tempo depois, enquanto ainda admirávamos a fauna local, o Alvares retornou acompanhado de seu amigo Álvaro e sua esposa Eliane. Este simpático casal além de nos acolher em sua casa conseguiu uma garagem para deixarmos nossos caiaques em segurança.
De Ribeirão da Ilha a Garopaba
3ª ETAPA: RIBEIRÃO DA ILHA – GAROPABA
17/12/2012
Ribeirão da Ilha (27°42’43’’S 48°33’38’’W) 0,00
Ponta da Caiacanga-açu (27°45’49’’S 48°34’46’’W) 6,79
Ilha com farolete (27°48’53’’S 48°34’43’’W) 12,54
Ilha de Araçatuba (27°50’28’’S 48°34’29’’W) 15,46
Piscina natural na Ponta do Papagaio (27°51’09’’S 48°34’44’’W) 17,07
Ponta da Pinheira (27°52’36’’S 48°34’27’’W) 20,02
Guarda do Embaú (27°54’14’’S 48°35’06’’W) 24,36
Praia de Gamboa (27°57’36’’S 48°37’06’’W) 31,45
Ilha de Siriu (27°59’14’’S 48°37’04’’W) 34,58
Garopaba (28°01’23’’S 48°37’00’’W) 39,13
O terceiro dia de nossa jornada amanheceu com o céu completamente limpo e um leve vento vindo do sul. Nós, recuperados após uma noite bem dormida, tomamos café e fomos conhecer uma pequena cachoeira que abastecia a casa do Álvaro, localizada um pouco mais acima do morro. Terminado este breve passeio terrestre, fomos arrumar nossas embarcações, quando por sorte presenciamos um pescador pegar em sua tarrafa um raro peixe lua que depois de fotografado foi devolvido ao mar.
Com nossos caiaques prontos partimos em direção a uma praia próxima a Ponta de Caiacanga-açu onde novamente nos encontraríamos com o Álvaro acompanhado de sua filha Julia. Neste trajeto de pouco menos de 7 km podemos observar o antigo casario açoriano e as bem organizadas criações de ostras, que mais pareciam grandes raias de uma piscina olímpica.
Chegando à Praia de Caiaganga-açu nossos anfitriões aproveitaram para experimentar os caiaques e eu para tomar um delicioso banho. Depois nos despedimos deles agradecendo sua excelente hospitalidade e seguimos em direção a Ilha de Araçatuba, distante 9 km e localizada no final da Ilha de Santa Catarina.
Conforme nos deslocávamos o vento contra começou a aumentar tornando nossa remada um pouco mais lenta. Mais ou menos na metade do caminho passamos por uma pequena ilha com um farolete situada próxima da Praia do Sonho. Neste trecho diversos peixes saltavam e conforme o canal estreitava o vento aumentava. Só fomos conseguir descanso bem junto da Ilha de Araçatuba próximo das ruínas da antiga Fortaleza Nossa Senhora da Conceição, local que só não descemos porque já havíamos aportado nele em outra oportunidade.
A Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba foi construída na Ilhota de Araçatuba, entre os anos 1742 e 1744. A Fortaleza foi a única destinada a proteger a entrada da Baía Sul da Ilha de Santa Catarina. Serviu também de prisão em várias oportunidades, inclusive no período republicano. Em seu projeto original, destaca-se a bateria principal de canhões de formato circular, situada na posição mais elevada do conjunto. A Fortaleza de Araçatuba, pertencente ao Ministério do Exército, foi tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1980, recebeu escoramentos e consolidações emergenciais em 1991 e encontra-se atualmente aguardando recursos para sua restauração. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA)
Após admirar esse patrimônio histórico, onde sobrevoavam diversos atobás, seguimos até o canal entre a Ilha e a Ponta do Papagaio, onde paramos numa belíssima piscina natural abrigada do vento para lanchar, descansar, fotografar e tomar um banho nas suas águas transparentes.
O vento tinha diminuído, então aproveitamos para seguir numa remada tranquila de pouco mais de 7 km até a Guarda do Embaú. Cruzamos a Ponta da Pinheira, o costão e a Prainha para chegar à Guarda, que neste dia estava com suas águas tão transparentes que mais parecia uma praia do Caribe. Descemos de nossos caiaques, fotografamos esta indescritível beleza natural e fomos comer uns pastéis em um barzinho junto da praia. Lá também conhecemos um argentino que residia nesta praia e tinha um caiaque oceânico da mesma marca do caiaque do Jair.
Faltavam agora apenas 15 km até Garopaba, local do nosso pernoite. O vento sul aumentara bastante. Próximo da Praia de Gamboa paramos de remar para o Jair arrumar seus equipamentos e em pouco tempo retornamos quase 300 metros. Continuamos remando numa baixa velocidade até conseguir abrigo junto das pedras da Ilha de Siriu.
Nesta ilha, verdadeiro santuário ecológico, havia centenas de aves marinhas de diversas espécies, com predomínio de gaivotas, garças e trinta réis. Descansamos um pouco sem sair dos caiaques, fotografamos o local com sua variada fauna e seguimos para o último, mas cansativo trecho, até nossa meta do dia.
Chegando a Garopaba fui procurar um camping, pousada ou hotel enquanto meus amigos descansavam e cuidavam dos barcos na praia. Por sorte encontrei o Lobo Hotel que ainda estava com as diárias de baixa temporada e ficava apenas 80 metros da praia. Sua administradora a senhora Maria Aparecida nos recepcionou muito bem e comentou que nunca tinha recebido hospedes estacionando seus caiaques na garagem do hotel.
Já alojados no hotel, tomamos um bom banho e fomos jantar num restaurante em frente, onde saboreamos um delicioso filé a parmegiana e depois fomos dormir.
De Garopaba a Praia da Ribanceira
4ª ETAPA: GAROPABA – PRAIA DA RIBANCEIRA
18/12/2012
Garopaba (28°01’23’’S 48°37’00’’W) 0,00
Praia do Silveira (28°02’24’’S 48°36’16’’W) 4,75
Praia da Ferrugem (28°04’27’’S 48°37’27’’W) 9,92
Praia do Ouvidor (28°06’22’’S 48°37’43’’W) 13,51
Praia do Rosa (28°07’50’’S 48°38’07’’W) 16,73
Ilha do Batuta (28°09’07’’S 48°38’37’’W) 19,35
Praia da Ribanceira (28°11’20’’S 48°39’45’’W) 24,22
Amanheceu uma bela manhã no último dia de nossa jornada marítima. Acordamos e descemos para tomar o excelente café da manhã do hotel que mais parecia um café colonial. Já bem alimentados fomos caminhar pela parte histórica da cidade com sua igreja e casas centenárias.
No ano de 1795 foi fundada a Armação de São Joaquim de Garopaba, onde era caçada a Baleia Franca até 1830. No ano de 1846 foi fundada a Freguesia de Garopaba, quando a Assembleia Provincial autorizou a instalação da Igreja Matriz, o Cemitério e a Casa Paroquial. O local foi colonizado por imigrantes açorianos que se dedicavam à pesca. O nome GAROPABA, tem origem na língua guarani e significa “lugar seguro para ancoradouro de barcos”. (VALENTIM)
Após esta rápida excursão histórica levamos nossos caiaques para a praia e partimos rumo a Praia da Ribanceira em Imbituba. O vento estava bem fraco, totalmente diferente do dia anterior, o que permitiu nos aproximarmos bastante dos enormes e magníficos rochedos dos costões entre Garopaba e a Praia da Ferrugem. Esses paredões vistos do mar são de indescritível beleza, com suas formações variadas e colossais mais parecendo esculturas moldadas por um artista divino e nos fazendo ver como somos insignificantes diante da natureza.
Remamos admirando e fotografando estas belezas, passamos pela Praia do Silveira localizada entre esses costões e desembarcarmos na Praia da Ferrugem, para um rápido descanso e banho nas suas águas límpidas. Faltavam agora aproximadamente 15 km para o término de nossa aventura.
Seguimos passando pelas praias da Barra, do Ouvidor e Vermelha, a partir da qual tinha outro belo paredão rochoso até atingir a Praia do Rosa. Neste trecho uma enorme tartaruga marinha passou bem perto de nossos caiaques. Continuamos cruzando pela Praia da Luz, Ilha do Batuta, Praia de Ibiraquera para finalmente chegar à Praia da Ribanceira, destino final da jornada marítima.
Porém antes da chegada ainda tivemos que surfar umas ondas para finalmente desembarcar, aproximadamente as 15h00min, na praia em frente ao Camping e Pousada Padang, local de nosso pernoite e onde estava meu carro.
Descarregamos os barcos e levamos nossas coisas para a pousada e como era cedo eu e o Alvares ainda fomos surfar um pouco com os caiaques nas fortes ondas da Ribanceira. Após essa brincadeira eu e o Jair saímos no meu carro para buscar a sua camionete em Celso Ramos completando assim o nosso plano de logística.
Terminávamos a nossa viagem marítima, percorremos mais de 120 quilômetros, conhecemos várias cidades, admiramos e analisamos a bela fauna, flora e relevo da região percorrida, vivenciamos uma aventura inesquecível com alegrias e algumas dificuldades, e enfim, estávamos satisfeitos pela missão cumprida e gratificados pelo convívio com os amigos e com a sábia mãe natureza.
Referências Bibliográficas
BECK, Sérgio Ferreira. O Livro de Canoismo do Excursionista Aquático. São Paulo: Edição do autor, 2006.
BOLDORINI, Marília. Ponte Hercílio Luz. Disponível em <www.sctur.com.br/florianopolis/ponte_hercilio_luz.asp>. Acesso em: 21 dez 2012.
HERTZOG, Graziella. Ribeirão da Ilha. Disponível em <www.belasantacatarina.com.br/ribeirao-da-ilha-florianopolis/>. Acesso em: 22 dez 2012.
PREFEITURA DE GOVERNADOR CELSO RAMOS. Igreja Nossa Senhora da Piedade.Disponível em <www.governadorcelsoramos.sc.gov.br/turismo/item/detalhe/500>. Acesso em: 21 dez 2012.
_____. Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomirim. Disponível em <www.governadorcelsoramos.sc.gov.br/turismo/item/detalhe/561>. Acesso em: 21 dez 2012.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Fortaleza de Santo Antônio de Ratones. Disponível em <www.fortalezasmultimidia.com.br/santa_catarina/index.php?data=ratones>. Acesso em: 21 dez 2012.
_____. Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba. Disponível em <www.fortalezasmultimidia.com.br/santa_catarina/index.php?data=aracatuba>. Acesso em: 22 dez 2012.
VALENTIM, Manoel. História. Disponível em <www.guiagaropaba.com.br/historia.php>. Acesso em: 22 dez 2012.
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Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
E-mail: hiramrsilva@gmail.com
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