As cenas de uma jornalista húngara chutando e passando uma rasteira em alguns refugiados que furavam uma barreira policial para entrar na Hungria escandalizaram todos os veículos de comunicação daquele país. A imprensa se mostra, hoje, bastante crítica em relação à jornalista, que foi imediatamente demitida na tarde de terça-feira pela rede de televisão N1TV. Trata-se de uma rede quase marginal, conhecida, informalmente, como a rede do Jobbik, o partido de extrema-direita que apoia o governo do primeiro-ministro conservador Viktor Orbán. Do ponto de vista da empresa, a polêmica se encerrou com a demissão da repórter: “Os colegas da jornalista da N1TV consideram inaceitável aquilo que aconteceu em Röszke. A jornalista foi imediatamente demitida”, escreveu em seu comunicado o editor Szaboles Kisber. Ela pode ainda cumprir até 7 anos de prisão.
Em declarações ao EL PAÍS, o máximo responsável do canal de televisão, Szabolcs Kisber, assegura que o comportamento de László "não corresponde com os valores da televisão, tanto a nível humano como profissional. É inadmissível". Kisber, de 38 anos, indica que N1TV possui uma linha editorial "cristã e conservadora", mas se baseia em "valores de respeito" com relação aos demais. Destaca que o canal (para o qual 15 jornalistas trabalham) é independente e, ainda que emita de forma gratuita pela Internet, se financia através de uma fundação, que é a sua proprietária.A cena vergonhosa aconteceu nesta terça-feira na fronteira húngara com a Sérvia, nas imediações de Röszke, principal ponto de passagem para o espaço Schengen, utilizado na atual crise migratória por milhares de refugiados que procuram chegar até a Áustria ou a Alemanha. A repórter da rede N1TV, que atinge até mesmo um migrante com uma criança no colo, como se vê claramente no vídeo que deu a volta ao mundo, chama-se Petra László, segundo o portal444.hu, citado pela Reuters. A emissora disse ainda que László não tentou "dar explicações" para tentar justificar seu comportamento e que decidiu "desaparecer". Ela desligou o telefone celular e estaria incomunicável.
Dois partidos da oposição entraram com ações na Justiça contra a jornalista. Um deles é a Coalizão Democrática, liderada por Ferenc Gyurcsány, que foi primeiro-ministro entre 2004 e 2009, um partido oriundo de uma cisão entre os socialistas. O outro partido que entrou com ação contra a jornalista é o Diálogo pela Hungria, também de esquerda, mas com pequena representação no parlamento húngaro.
O Comitê de Helsinque para os direitos humanos indicou que, como a repórter chutou várias pessoas, pode ser condenada a cumprir de 1 a 7 anos de prisão, uma vez que a violência foi direcionada contra membros de um grupo específico.
Uma pesquisa registra que 66% da população húngara vê os refugiados como uma ameaça à estabilidade de seu país. Milhares de pessoas, porém, tem se posicionado a seu favor durante a atual crise, mobilizando-se para ajudá-los, apesar do repúdio explícito manifestado pelo Governo àquilo que considera uma invasão.
O pior de tudo é que ela ainda diz que está em choque com o que foi feita a ela depois das imagens irem ao ar.
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