Entrevista especial com Mariano Laplane
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas, Mariano Laplane, junto com o economista Fernando Sarti, escreveu recentemente o artigo “Prometeu acorrentado: o Brasil na indústria mundial no início do século XXI” no livro “A supremacia dos mercados e a política econômica do governo Lula” (Editora Unesp / 2006). No artigo, ele faz uma reflexão acerca da conjuntura econômica nacional, além de analisar as políticas industriais adotadas pelo Brasil nas últimas décadas, focando principalmente no primeiro mandato de Lula. Em entrevista à IHU On-Line, Laplane falou sobre a representatividade da indústria brasileira no mundo, a política econômica e industrial adotada no primeiro mandato do governo Lula e sobre o desempenho industrial brasileiro quando comparado com países asiáticos.
Mariano Laplane também organizou, junto com Luciano Galvão Coutinho e Célio Hiratuka, o livro “Internacionalização e Desenvolvimento da Indústria no Brasil” (Editora Unesp / 2003), além de ter publicado inúmeros artigos e capítulos de livro. Há pouco, orientou o economista Fernando Henrique Lemos Rodrigues em sua tese de mestrado sobre a trajetória e a influência que o Cepal teve sobre os governos latino-americanos.
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas, Mariano Laplane, junto com o economista Fernando Sarti, escreveu recentemente o artigo “Prometeu acorrentado: o Brasil na indústria mundial no início do século XXI” no livro “A supremacia dos mercados e a política econômica do governo Lula” (Editora Unesp / 2006). No artigo, ele faz uma reflexão acerca da conjuntura econômica nacional, além de analisar as políticas industriais adotadas pelo Brasil nas últimas décadas, focando principalmente no primeiro mandato de Lula. Em entrevista à IHU On-Line, Laplane falou sobre a representatividade da indústria brasileira no mundo, a política econômica e industrial adotada no primeiro mandato do governo Lula e sobre o desempenho industrial brasileiro quando comparado com países asiáticos.
Mariano Laplane também organizou, junto com Luciano Galvão Coutinho e Célio Hiratuka, o livro “Internacionalização e Desenvolvimento da Indústria no Brasil” (Editora Unesp / 2003), além de ter publicado inúmeros artigos e capítulos de livro. Há pouco, orientou o economista Fernando Henrique Lemos Rodrigues em sua tese de mestrado sobre a trajetória e a influência que o Cepal teve sobre os governos latino-americanos.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Que relação que o senhor e Fernando Sarti encontram entre a peça de Ésquilo e o desenvolvimento industrial brasileiro que vocês fazem no título do artigo?
Mariano Laplane – Há um livro clássico de David Landes que trata da segunda revolução industrial do mundo e o título do livro dele é exatamente “Prometeu desacorrentado” (Editora Nova Fronteira / 1994) onde ele queria mostrar como a revolução industrial significou uma transformação profunda da capacidade de produção do tipo de consumo no estilo de vida das sociedades ocidentais. A idéia toda do livro era a indústria como instrumento de transformação econômica e social. O fato de termos escolhido um título para o artigo totalmente ao contrário, “Prometeu acorrentado”, era uma tentativa nossa de dizer que a indústria tem essa capacidade, que ainda poderia fazer muito para promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil, mas que, infelizmente, nos últimos 20 anos, não tem conseguido realizar o seu potencial, ou seja, Prometeu aqui está acorrentado ainda.
IHU On-Line - Qual a representatividade que o Brasil possui na indústria mundial neste último século?
Mariano Laplane – O Brasil é um dos poucos países desse movimento que tem uma estrutura industrial diversificada e bastante complexa, mas com uma participação relativamente pequena. Outros países desse movimento, somados, têm uma parcela de aproximadamente 20% do valor adicionado na indústria da manufatura mundial. Metade desses 20% corresponde, aproximadamente, à China. Então, se vê que o Brasil tem uma participação aproximadamente de uma quarta parte da indústria chinesa na capacidade de geração de valor.
IHU On-Line – No artigo que o senhor escreveu junto com o economista Fernando Sarti, é citada a Política Industrial criada a partir da crise de 1999, durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Também descreve a nova prática industrial do governo Lula e do seu regime de política econômica próxima a praticada no governo FHC. Quais são os resultados dessa nova política industrial sob um regime econômico neoliberal?
Mariano Laplane – Ela tem dado resultados dentro dos objetivos a que se propôs. Durante o segundo governo de FHC, não houve uma política exatamente industrial. O que houve foram algumas medidas emergenciais. A mudança em relação à política industrial na gestão de Lula teve uma formulação bastante abrangente, com objetivos bem definidos. E, se compararmos com os objetivos, teve resultados. A política industrial de Lula escolheu alguns setores que seriam objetos de atenção pela importância que tiveram no conjunto da indústria e no conjunto da economia. Então, em relação a esses setores, houve essa iniciativa. Houve, também, outras iniciativas, mas nada capaz de provocar uma expansão rápida, intensa, sustentada pela atividade industrial. Mas esse também não era o objetivo da política, que era aumentar as exportações e apoiar a atividade inovadora.
IHU On-Line - Qual a avaliação que o senhor faz do desempenho da indústria no primeiro mandato de Lula?
Mariano Laplane – A indústria teve um desempenho muito pequeno nesse primeiro mandato de Lula e começou muito mal, porque se lembrarmos, no começo, houve um choque muito grande de juros que, como sempre, retrai a demanda agregada, provoca reduções nos níveis de produção, de emprego, de investimento. No entanto, tem o lado bom. Logo no início do governo Lula houve uma depreciação muito grande do dólar, que permitiu que alguns setores da indústria encontrassem relações mais favoráveis para enfrentar esse choque de juros. Já os outros setores, voltados principalmente para o mercado interno, tiveram que absorver perdas muito grandes. O quadro em 2004 e 2005 melhorou um pouco na medida em que a taxa de juros foi caindo, as exportações continuaram crescendo e a demanda doméstica se recuperou um pouco. Mas neste ano, o desempenho foi muito ruim, porque a demanda doméstica continua muito fraca para a grande maioria dos setores, com algumas exceções, como a indústria automobilística, e as exportações, que nos últimos 18 meses vêm sofrendo muito por conta da apreciação cambial. Isso explica a virtual estagnação da atividade industrial no Brasil nesses últimos quatro anos.
IHU On-Line – O senhor cita no artigo que “o Brasil possui uma estrutura industrial complexa e sofisticada com capacidade de sobrevivência em contextos de regimes macroeconômicos adversos”. Assim, como foi que o Brasil atingiu resultados no desempenho industrial menor do que países como a Índia e Vietnã?
Mariano Laplane – É um paradoxo, porque nós tínhamos, no início dos anos 1980, uma estrutura industrial bastante complexa, bastante sofisticada, mas com uma vocação muito para dentro da economia nacional, uma economia muito fechada. E foi feita a abertura da economia com intenção de eliminar a ineficiência dessas indústrias, para aumentar sua competitividade, o que de fato aconteceu, pois a indústria brasileira tem tido aumentos fantásticos, pode importar peças que antigamente não podia importar, as empresas ficaram mais enxutas, as empresas brasileiras hoje empregam menos gente do que naquela época, temos acesso a canais de importação e exportação.
IHU On-Line – Porque esse aumento de eficiência não se traduz em crescimento?
Mariano Laplane – Não basta você conseguir ser mais eficiente, também é importante ver qual foi o caminho escolhido para aumentar a eficiência e no caso do Brasil, o caminho que boa parte das empresas tem escolhido é de enxugamento, e se todo mundo fizer isso não vai haver crescimento, que é feito através da expansão, do investimento. As empresas brasileiras se defendem da macroeconomia, do Banco Central, dos juros, do câmbio. São poucas que conseguem tomar atitudes ofensivas e infelizmente nesses últimos 18 meses as que têm feito movimentos ofensivos os fazem no exterior, procurando mercados onde não serão atingidas pela mesma violência que a política econômica brasileira impõe. Então, as empresas crescem, o que não crescem são as suas atividades no país.
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