Um período "nefasto" é o prognóstico da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) para a economia americana nos próximos meses. Mas, pelo menos a princípio, a Europa e os países emergentes devem sofrer um abalo menor. Historicamente os primeiros a serem atingidos por abalos na economia americana, desta vez os países emergentes parecem estar menos vulneráveis, apesar de não estarem imunes. A reportagem é da Folha de S. Paulo, 21-03-2008.
"O desenvolvimento das economias dos emergentes, especialmente Brasil, China, África do Sul e Índia, permitirá que eles tenham um caminho mais independente", disse à Folha Colm Foy, do Centro de Desenvolvimento da OCDE.
O economista destaca dois pontos fortes: "O crescimento econômico e a alta dos preços das commodities servem como um colchão. Isso não deve salvar essas economias, mas ajuda a protegê-las dos impactos negativos de problemas das economias dos países da OCDE, especialmente os EUA".
Apesar do revés da disparada do preço do barril de petróleo, para muitos países em desenvolvimento, é justamente a renda das exportações do produto que têm assegurado uma certa blindagem dessas economias. Segundo Foy, quando investidores miram o cenário de longo prazo, as economias emergentes parecem bastante atraentes. Por isso, é possível esperar que investimentos continuem apesar dos altos preços dos petróleo.
"Hoje, há fonte variada de investimentos. A América Latina já foi extremamente dependente dos EUA. Nos anos 90, passou a ser mais dependente da Europa. Hoje, há novos "players", como Índia e China, que investem nesses países. Ao mesmo tempo, vemos latino-americanos diversificarem seus mercados de exportação”.
No rol de fatores que contribuem para uma certa proteção dos emergentes, está a atuação dos fundos soberanos - os SWFs (Sovereign Wealth Funds), administrados por organismos estatais.
Os SFWs eram utilizados, principalmente, por países exportadores de petróleo com reservas internacionais excedentes. Nos últimos anos, porém, houve uma expansão do mercado de SFWs, que, estima-se, movimentem US$ 2,5 trilhões.
Além do aumento da atuação desses fundos, também cresceu o apetite pelo risco. Na carteira de investimentos dos fundos soberanos, cresce a importância de títulos de dívidas de empresas, ações e de imóveis.
"Eles [fundos soberanos] ainda preferem investir nas economias desenvolvidas, mas também investem nos emergentes e devem aumentar a exposição ao risco, porque o retorno é mais alto e porque é mais fácil aplicar nos países emergentes que nos da OCDE", pondera Foy.
Segundo o relatório preliminar sobre a saúde econômica dos países ricos divulgado ontem em Paris, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA deve crescer 1,4% neste ano, contra 2% projetados anteriormente.
Para o primeiro e o segundo trimestres deste ano, a taxa deve ficar "em torno de zero, mas não sabemos ainda se será positiva ou negativa", disse Jürgen Elmeskov, economista-chefe interino da OCDE.
A organização tem evitado usar a palavra recessão para caracterizar a crise dos EUA. Em passagem pela sede da OCDE nesta semana, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, disse que o "ambiente econômico está se deteriorando", mas enfatizou que não é hora de falar em recessão.
Os indicadores, porém, são bastante ruins. O recuo do mercado imobiliário corrói um ponto percentual do PIB americano e o estrago pode ser ainda maior, alerta a OCDE. O nível do consumo doméstico, a locomotiva da economia dos EUA, também esta em queda.
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