“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Parti às sete horas com a intenção de atingir a Comunidade Boa Vista que, também, segundo o mapa do ISA, possui telefone. Durante todo o trajeto, avistei apenas três outras pequenas embarcações cruzando o rio e pouco ou nenhum movimento nas raras comunidades. Grandes bancos de areia me fizeram desviar, por mais de uma vez, da rota planejada. Em cada parada eu me refrescava nas águas cor de chá do Negro, recuperando a energia.
Continuava comparando as fotografias aéreas do Google com o terreno, sem qualquer dificuldade, até chegar ao mapa de número doze. A fotografia aérea estava tomada por nuvens não permitindo avaliar o formato das ilhas ou furos. Marquei o rumo e segui remando. Devo ter entrado em um furo diferente e saí a montante do planejado, avistando algumas ilhas não previstas. Resolvi não arriscar, pois, se ultrapassasse a Comunidade Boa Vista, só chegaria, à noite, à próxima aldeia.
Avistei uma cabana numa prainha a montante do ponto em que me encontrava. Remei forte contra a correnteza e aportei, exausto, no sítio do senhor Manoel Menezes, da etnia Tuiuca. Menezes informou-me que Boa Vista ficava perto, mas eu não estava em condições de continuar.
- Manoel Menezes, um contador de estórias
Montei meu acampamento sob uma rala cobertura de palha e, depois de tomar um revigorante banho e ingerir uma porção de macarrão, crua, estava pronto para descansar. Fiquei conversando, ou melhor, diria, ouvindo meu novo amigo. Falou ininterruptamente sobre a língua geral, das dificuldades para manter seu roçado, de sua vida desde Pari da Cachoeira até as cercanias de Boa Vista, da preparação do caxiri ...
Deixei uns comprimidos para gripe com um dos quatro netos do Sr. Manoel e todo meu estoque de massa. A penúria daquela gente era muito grande. Tinham apenas farinha de mandioca para comer.
- Encontro com a equipe de apoio
Parti às sete horas, já que o trecho a percorrer era mais curto que os demais. Quando ia passando pelo largo da Comunidade Boa Vista, ouvi o Coronel Teixeira me chamando e apontei a proa para a origem dos gritos. Foi bom avistar, pela primeira vez, minha equipe de apoio. Já estava achando que desceria sozinho o Negro. A embarcação usada pela dupla de apoio, porém, era de assustar, feita de um único tronco, seu fundo arredondado não tinha qualquer estabilidade e somente, graças à destreza do piloto, é que se mantinha à flor d’água.
Pedi ao Teixeira que fosse buscar minha bússola, que esquecera na casa do Tuiuca Manoel. Parti antes do seu retorno, tendo em vista que o meu deslocamento era muito lento em relação ao barco da equipe.
A viagem transcorreu sem alterações, e, ao meio dia, numa pequena praia, degustei um peixe pescado e preparado pelo nosso piloto, acompanhado de arroz. A tranquilidade de ter por perto uma equipe de apoio para atender a essas necessidades básicas era confortante. Depois do almoço, seguimos para Santa Isabel.
- Santa Isabel do Rio Negro
A vista da cidade é a mais bela que tive a oportunidade de ver desde o Solimões. A Igreja, o novo Hospital, a Missão e um belo jardim compõem um agradável conjunto para quem chega pelo rio, vindo do norte. Transcrevo, abaixo, alguns dados da Biblioteca Virtual do Amazonas sobre o Município.
Aspectos Históricos
“Após e expulsão dos jesuítas da Amazônia, em 1661, o povoamento do rio Negro é relativo, a partir de 1695, com a chegada de religiosos de outras congregações, que, com a finalidade de catequizar os índios, vieram fundando vários povoados ao longo do rio. Em 1728 é fundada a Missão de Nossa Senhora da Conceição de Mariuá, berço da atual cidade de Barcelos. Em 1760, estabelece-se um destacamento militar e, em seguida se constrói um forte no local onde hoje é a cidade de São Gabriel da Cachoeira. Toda a região constitui, então, a capitania de São José do Rio Negro, com sede em Barcelos.
Aproximadamente meio caminho entre Barcelos e São Gabriel da Cachoeira, floresce a povoação da Ilha Grande, à margem direita do rio e defronte a essa incidência geográfica que lhe deu o nome. Em 1931, quando é definitivamente restaurado o município de Barcelos, a região do atual município de Santa Isabel do Rio Negro fazia parte de seu território. Em 29.12.1956 pelo desmembramento determinado pela Lei Estadual nº 117, é criado o Município de Santa Isabel do Rio Negro, com sede na vila, antigamente chamada Ilha Grande. Em 04.06.1968, pela Lei Federal nº 5.449, o município é enquadrado como Área de Segurança Nacional. Em 10.12.1981, pela Emenda Constitucional nº 12, Santa Isabel do Rio Negro perde parte de seu território em favor do novo município de Bittencourt.
- Agricultura: suporte econômico do setor absorve a maior parte da mão-de-obra local; com destaque para a mandioca, abacaxi, arroz, cana-de-açúcar, feijão e milho. E nas culturas permanentes destacam-se: abacate, laranja, coco, banana, limão, manga e tangerina, ao nível de subsistência.
- Pecuária: não tem representatividade para a formação econômica do setor, registrando-se pequenas criações de bovinos, suínos e bufalinos.
- Pesca e Avicultura: é praticada em moldes artesanais e sua produção é voltada para o consumo familiar. Não incrementa economicamente o setor primário.
- Extrativismo Vegetal: aparece em pequena escala, baseando-se na exploração de gomas não-elástica. Aparecendo num plano mais distanciado, estão a castanha, a piaçaba e borracha”.
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