O comportamento do pai de Thor nos leva a refletir sobre o que é a paternidade em nossa época
ELIANE BRUM
Na noite de sábado, 17/3, Thor Batista, 20 anos, atropelou Wanderson
Pereira dos Santos, 30 anos, na rodovia Washington Luís, na Baixada
Fluminense, no Rio de Janeiro. Wanderson morreu na hora. De imediato,
Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, passou a defender o filho de
todas as maneiras – e também no microblog twitter. Com tanta veemência
que o humorista Tutty Vasques comentou em sua coluna no Estadão, de
21/3: “Não satisfeito com o lugar de destaque que ocupa na mídia como o
homem mais rico do Brasil, o insaciável Eike Batista tem se esforçado um
bocado para virar capa de revista como o Pai do Ano em 2012”. A
observação é aguda, como costuma ser o humor de qualidade. E é algo que
vale a pena pensar: ao defender o filho com os melhores advogados, com
assessores de imprensa e com seu próprio discurso público, Eike Batista é
mesmo um superpai? O que se espera hoje de um pai, afinal?
Ainda que a maioria tenha acompanhado o noticiário, é importante
recordar os principais capítulos e seus protagonistas, antes de
seguirmos adiante. Assim como é importante fazer algumas perguntas
óbvias sobre a investigação.
Thor é o mais próximo de um príncipe herdeiro que o Brasil atual pode
ter: filho do homem mais rico do Brasil e da eterna musa do Carnaval.
Como disse Eike Batista (@eikebatista) no twitter: “A mídia e todos vão
já já perceber que o Rio tem um Príncipe Harry! O Thor”. Wanderson era
ajudante de caminhoneiro e filho de criação de Maria Vicentina Pereira.
Thor foi batizado com o nome de um deus nórdico. Ninguém se preocupou em
perguntar qual é a origem do nome de Wanderson na mitologia familiar,
mas com certeza existe uma história, sempre existe. Thor dirigia um
Mercedes SLR McLaren, o mesmo que costumava ser exibido como obra de
arte na sala da mansão de sua família. Wanderson, uma bicicleta. Na
BR-040, Thor e Wanderson encontraram-se não apenas como dois
brasileiros, mas como dois Brasis que raramente se encontrariam de outro
modo.
A vontade de condenar Thor, em um país tão desigual como o nosso,
sempre pródigo em presentear os mais ricos com a impunidade, é imediata.
É necessário, porém, resistir a ela. Ninguém pode ser condenado sem
julgamento, sob hipótese alguma. Da mesma forma, pelos mesmos critérios e
também pela sobriedade que a morte de uma pessoa exige, Eike Batista
deveria ter resistido a condenar Wanderson.
Em suas afirmações na imprensa e no twitter, o pai de Thor apressou-se
em culpar o morto pela própria morte. E afirmou que Wanderson poderia
ter matado não só a si mesmo, como também seu filho e o amigo que o
acompanhava – o que é altamente improvável. Segundo pesquisa citada pela
jornalista Maria Paola de Salvo, no Blog do Sakamoto, apenas 0,3% dos motoristas envolvidos em atropelamento com vítima fatal morrem.
Enquanto as investigações não forem concluídas, nenhum de nós – e muito
menos Eike – tem o direito de condenar alguém. Até agora, ninguém – nem
mesmo Eike – pode afirmar se a morte de Wanderson foi fatalidade ou
homicídio. Até agora, ninguém – nem mesmo Eike – pode declarar se a
morte de Wanderson é responsabilidade exclusiva da vítima, é
responsabilidade exclusiva de Thor ou é responsabilidade de ambos.
Infelizmente para todos, já pairam dúvidas sobre as investigações. É
difícil entender, por exemplo, por que um carro envolvido em uma morte
está na casa de Thor, o investigado – e não nas dependências da polícia.
Depois da perícia feita no local, o carro foi liberado. As demais
diligências seriam feitas na mansão do Jardim Botânico. “No dia
seguinte, meu advogado me informou que havia sido feita a perícia do
carro no local do acidente, e que o carro teria sido liberado pela PRF
para que pudéssemos trazê-lo para casa, garantindo deixá-lo intacto”,
afirmou Thor.
Segundo o próprio Thor relata na conta no twitter que criou para dar
sua versão dos fatos, ele primeiro foi para casa, onde seria atendido
pelo médico da família, e só depois, por iniciativa própria, foi a um
posto da Polícia Rodoviária Federal próximo ao local do acidente para se
submeter ao bafômetro e demais procedimentos exigidos em um caso de
atropelamento com vítima fatal. O exame deu negativo para a presença de
álcool, ao contrário do resultado de Wanderson, que revelou um índice
elevado de álcool no sangue.
Se Thor não fugiu do local – o que não é um ato louvável, como seu pai
quer convencer a opinião pública que é, mas uma obrigação –, por que a
polícia não fez o que devia fazer, na hora em que devia fazer, por sua
própria iniciativa? A conta de Thor no twitter é esta: @Thor631. Nela, é
narrada sua versão da cronologia dos fatos. Pensado para defendê-lo e
escrito com método, o relato revela mais do que gostaria.
É uma pena que as partes nebulosas darão, mais uma vez, algum grau de
legitimidade às dúvidas sobre a lisura do inquérito policial, mesmo
depois da sua conclusão – ou de seu arquivamento. Para o futuro em
aberto de Thor, pelo futuro interrompido de Wanderson e para o Brasil,
um país partido pela impunidade dos poderosos, seria fundamental que a
polícia e o Estado demonstrassem total correção e transparência ao
investigar uma morte que envolve o filho do homem mais rico da nação.
A condenação prévia de Thor nas redes sociais e nas conversas de bar
deve-se não apenas à raiva que parte da população teria dos ricos e
poderosos, ou à tendência de se colocar ao lado dos mais fracos, mas
também à percepção legítima de que os atos criminosos dos ricos e
poderosos permanecem impunes. A pressa em acusar e condenar Thor não
demonstra apenas histeria ou irresponsabilidade das “massas”, ou mesmo
“inveja”, como chegou a ser dito, mas a ansiedade de fazer uma justiça
que temem, com todas as razões históricas e objetivas para isso, que não
seja feita por quem tem o dever constitucional de fazê-la. Seria, nesse
sentido, uma espécie de antecipação e compensação pela justiça que não
acreditam que aconteça. E aqui me limito a analisar o fenômeno – e não a
defendê-lo.
Quem é Thor, o filho de Eike Batista? Seu perfil é fascinante e quase
obrigatório para compreender o Brasil atual. Basta procurar no Google
para encontrar pelo menos uma matéria exemplar sobre sua vida, seus
hábitos e seus pensamentos. Aqui, vou me deter apenas em quem é Thor
como motorista. Em seu prontuário no Detran constam 51 pontos e 11
multas, parte delas causada por excesso de velocidade. Thor deveria ter
perdido a carteira de habilitação por isso, mas não a perdeu. Se a
tivesse perdido, como determina a lei, talvez não estivesse dirigindo na
noite daquele sábado, e Wanderson possivelmente não estaria morto. Thor
ama carros, velocidade e potência. Como declarou em uma entrevista
anterior ao acidente, ele já teve um Aston Martin: “Trouxe de São Paulo
e fiz 280 quilômetros por hora na Dutra”.
Segundo o colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo, em 27 de maio de
2011, a bordo de um Audi placa EBX 0001, Thor atropelou um homem de 86
anos, também em uma bicicleta, na Barra da Tijuca, no Rio. Thor prestou
socorro, e sua família pagou todas as despesas médicas. A vítima
fraturou o acetábulo (parte da bacia onde a cabeça do fêmur se encaixa) e
teve de colocar duas placas e cinco parafusos, além de se submeter à
fisioterapia, à hidroterapia e a sessões com psicólogo para superar o
trauma. Em entrevista à coluna de Ancelmo Gois, um dos filhos da vítima
afirmou não ter registrado queixa nem pedido indenização: “Estávamos
preocupados em salvar nosso pai, que também não queria confusão”.
No dia seguinte à publicação, a vítima, José Griner, hoje com 87 anos,
manifestou-se através de uma nota na qual afirma que nem ele nem Thor
tiveram culpa: “Houve uma colisão que envolveu a lateral do carro dele e
a roda dianteira da minha bicicleta”. Disse mais: “Ele agiu com lisura e
deu suporte à minha recuperação”. Que tudo isso nos faz pensar na
excelência do “gerenciamento de crise”, faz. Mas o que podemos afirmar é
que, em menos de um ano, Thor exibe uma estatística incomum como
motorista: atropelou dois ciclistas. Um sobreviveu, o outro não.
Qual é o papel de um pai em um momento crucial como este? Não há
resposta fácil para isso, mas há muitas perguntas que podem ser feitas. E
essas perguntas são pertinentes porque a defesa imediata e veemente que
Eike Batista fez publicamente do filho ilustram bem o que hoje se
acredita ser o papel de um pai.
Um pai – ou um superpai – seria aquele que defende o filho contra tudo e
contra todos, tenha ele ou não razão – e mesmo que ele já tenha 20 anos
e seja moral e legalmente responsável por seus atos. Um pai – ou um
superpai – afirma a inocência do filho e usa todos os recursos para
convencer a opinião pública dela, mesmo que ele não possa garanti-la, já
que ninguém ainda pode. Um pai – ou um superpai – usará todos os meios
de que dispõe para impedir que o filho seja punido, mesmo se for provado
que ele merece a punição.
Pelo comportamento público de Eike Batista, me parece que ele acredita
com sinceridade que esta é a função de um bom pai – ou mesmo de um
superpai, já que, pelo que tem demonstrado em sua trajetória de vida,
ele não aceitaria nada menos do que ser um supertudo. No twitter, ele
assim definiu seu desempenho: “Vou defender como um Leão! Tenho certeza
que todo Pai que ama seu Filho faria o mesmo!”. É interessante observar
as palavras escolhidas por ele para colocar em maiúsculas.
O cotidiano mostra que Eike Batista está longe de estar sozinho em sua
crença sobre a educação de um filho – e a postura de um pai. Tenho
certeza de que muitos leitores aqui compartilham da visão de Eike sobre a
paternidade e acham sua defesa e suas ações dignas dos maiores elogios –
e fariam o mesmo pelos seus filhos se tivessem a infelicidade de se
encontrar em situação semelhante. Esses mesmos leitores afirmariam que
isso é prova de amor verdadeiro – que só um superpai pode dar.
Será?
Tenho dúvidas. E me arrisco a discordar não só como mãe, mas como
cidadã que tem de conviver com os filhos desses pais em todas as esferas
da sociedade. Já havia me surpreendido com a atitude da mãe do menino
que, em fevereiro, atropelou e matou com um jet ski Grazielly Lames, de 3
anos, que construía castelos de areia na praia de Bertioga, no litoral
paulista. Segundo o advogado da família, o adolescente de 13 anos correu
para a casa em que estavam hospedados em busca de orientação da mãe. Em
vez de voltar e prestar socorro, junto com o filho menor de idade,
dando o exemplo do que uma pessoa decente deve fazer, a mãe preferiu
fugir com o garoto. A tese da defesa é a de que o adolescente não
dirigia o jet ski, “apenas” o ligara. Ou seja, o menino não teria
nenhuma responsabilidade e, se tudo der certo do ponto de vista do que
os pais desse menino entendem por dar certo, seu filho não será punido
pelo fim da vida de uma criança.
Os casos guardam diferenças. Mas também semelhanças. Tanto para a mãe
do adolescente do jet ski, quanto para o pai de Thor, a proteção de
filhos que podem ser responsáveis pelo fim de uma vida parece ser uma
preocupação acima de todas as outras. Ambos já decretaram previamente a
inocência dos respectivos filhos antes que ela fosse provada. Pode ser
que a inocência seja mesmo provada, em um ou em ambos os casos, mas
nenhum deles poderia tê-la garantido antes de a investigação ser
concluída.
Vivemos numa época em que se acredita que, ao dar limite para um filho,
estamos comprometendo seu projeto de felicidade. E o que é entendido
como felicidade? Ter tudo, ter gozo ilimitado. Qualquer imprevisto nesse
percurso deve ser apagado, custe o que custar, para não virar trauma –
e, assim, comprometer o futuro do filho, que deve passar pela vida sem
ser marcado pela vida. Deve fazer marca na história, mas não ser marcado
por ela. Neste cálculo, não são admitidos erros, covardias,
irresponsabilidades, deslizes, excessos.... máculas.
Na biografia futura de Thor Batista, que, como seu pai já disse,
espera-se que supere a sua em feitos, as máculas devem ser apagadas. Se
existirem máculas, é necessário “ligar o dispositivo de administração de
crise” – e eliminá-las da linha do tempo. Se alguém errou, foi sempre o
outro. Para ter certeza disso não é preciso nem apurar os fatos: o
filho de um superpai é automática e previamente inocente. E não acho que
essa mentalidade pertence apenas aos mais ricos, apenas que eles têm
recursos para garantir essa inocência – e os mais pobres, raramente.
É legítimo fazer algumas perguntas – que podem ser propostas tanto para
Eike Batista como para nós mesmos. Se seu filho já atropelou uma
pessoa, será que o melhor é emprestar a ele um dos carros mais velozes
do mundo? Se seu filho tem 11 multas e 51 pontos na carteira de
habilitação, será que você deveria permitir que ele dirigisse o seu
carro, mesmo que o Detran não tenha cumprido seu dever e suspendido a
licença? Se seu filho atropelou alguém e essa pessoa morreu, não seria o
caso de silenciar até que os fatos fossem esclarecidos, ainda que fosse
por respeito à enormidade do que é a morte de um ser humano? O que cada
um de nós faria nessa situação? E por quê?
Acho que é uma situação muito dura para qualquer pai – ou mãe. É duro
dizer a um filho que ele errou. Em qualquer escala – e muito mais em uma
escala dessa envergadura. É duríssimo. Mas é necessário. Não é fácil
ser pai ou mãe exatamente porque a educação se dá nas escolhas difíceis.
Educar é, em grande parte, ensinar aos filhos que eles são responsáveis
pelos seus atos, dos mais simples aos mais complexos – e devem
responder por eles. Mesmo que tudo o que gostaríamos, como pais
amorosos, fosse voltar no tempo e apagar o passado.
Penso que um pai ou uma mãe deve se colocar ao lado do filho não para
absolvê-lo, mas para apoiá-lo enquanto ele assume as consequências dos
seus atos. Você errou, vai responder por seus erros, e eu vou estar ao
seu lado. Ou: não sabemos se você errou, então vamos aguardar a apuração
dos fatos. Se for concluído que você não errou, ótimo, mas mesmo assim
uma pessoa morreu e é preciso lidar com essa tragédia. Ou: se for
concluído que você errou, você vai responder pelos seus erros como a lei
determina e um cidadão decente deve fazer, e eu vou ajudá-lo a seguir
em frente apesar e a partir disso, aprendendo com a tragédia e não a
esquecendo.
A revolta da opinião pública levou a muitas ironias – entre elas, as
com o nome de Thor, o deus nórdico do trovão. Eike Batista seria uma
versão contemporânea de Odin, o pai de Thor na mitologia, já que em
nossa época é o dinheiro que concede algo próximo a uma divindade
terrena. Nesse sentido, é curioso lembrar que nas histórias em
quadrinhos inspiradas na mitologia nórdica, Odin expulsou Thor de
Asgard. Thor, então um jovem arrogante e impulsivo, em uma de suas
aventuras adolescentes invadira o reino dos gigantes de gelo, rompendo o
tratado selado por Odin. A honra do pai e sua autoridade entre os
deuses dependiam de punir exemplarmente o filho, que com suas ações
havia prejudicado a todos e comprometido a segurança de Asgard.
Thor foi enviado para a Terra – um exílio que significava punição e
aprendizado. Ao expulsar Thor, Odin disse a ele: “Tu és o filho favorito
de Odin! Além de valente e nobre, tua alma é imaculada! Mas ainda assim
és incompleto! Não tens humildade! Para consegui-la deverás conhecer a
fraqueza… sentir dor! E para isso necessitas deixar o Reino Dourado e
despir-te de tua aparência divina! A Terra, lá aprenderás que ninguém
pode ser verdadeiramente forte se, em realidade, não for humilde! Por
um tempo não mais serás o Deus do Trovão! A tua memória também tirarei!
Agora, vai! Uma nova vida te espera!". Thor transformou-se então em um
mortal chamado Donald Blake, médico talentoso mas manco. Até que
aprendesse o dom da humildade e estivesse apto a cumprir seu destino.
Por que vale a pena lembrar esse episódio? Porque este é o Thor de Stan
Lee, o grande criador da Marvel Comics. E Stan Lee é um homem nascido
em 1922, que criou o seu deus do trovão no início da década de 60. Ao
tecer o enredo, Lee revela a mentalidade da sua época. E nos mostra como
a paternidade – e o que se compreendia como amor e como obrigação de um
pai – já foi diferente. Nos lembra, portanto, que a construção da
paternidade é cultural. E, portanto, mutante.
Acredito valer a pena pensar sobre o que é ser pai hoje. E que tipo de
consequências essa ideia de paternidade, tão bem ilustrada na relação de
Eike Batista com seu Thor da vida real, acarreta para a sociedade como
um todo. Este episódio nos leva a várias vertentes de reflexão – e uma
das mais interessantes é a nossa relação com os limites na educação de
um filho.
Tenho muito cuidado em tocar em assuntos que envolvem tanta dor. Acho
que testemunhar a morte de um ser humano – sendo ou não responsável por
ela – é uma experiência devastadora, que deixa marcas profundas, para
além da punição legal. Mesmo atropelar um homem de 80 anos e machucá-lo
deve ser terrível. Não sei como é estar na pele de Thor. Tentei
descobrir pelo twitter como ele se sentia em sua humanidade.
Primeiro, percebi que Thor estava mais preocupado em garantir sua
inocência, provar a culpa do morto e nos convencer da correção de seus
atos, assegurando também o apoio material à família da vítima. Depois,
na sexta-feira, 23/3, descobri que já tinha mudado de assunto. Thor
estava dando a fãs no twitter o que chamou de “dica de endocrinologia do
dia”: “Eu recomendo o uso da cabergolina (Dostinex) para baixar a
prolactina. Comece com 0,25 mg por semana, por 4 semanas, e dose no
sangue”, é um dos tuites. Na sexta-feira, copiei toda a página, como
material de pesquisa para esta coluna. Pouco antes de publicá-la, voltei
a entrar na sua conta de twitter e constatei que o post reproduzido
acima havia sido apagado. Os demais permanecem lá.
Depois de prescrever uma receita que só um médico poderia, sugerindo
inclusive a dose, para seus milhares de seguidores, imagino que alguém o
tenha alertado que a postagem era irresponsável e indevida. Thor então
escreveu: “Meus comentários sobre endocrinologia são inúteis. Não sou
médico, não posso recomendar nada. Apenas gosto de botar para fora
conhecimento”.
Em todo o episódio – trágico de várias maneiras, e de algumas outras
que ainda vamos testemunhar – me chamou a atenção – positivamente – o
silêncio de Luma de Oliveira, a mãe de Thor. Justamente ela, a
celebridade, a ex-modelo, a musa do Carnaval, aquela que tudo expôs de
si mesma. Procurada por repórteres, Luma pouco falou. Disse ao jornal O
Globo, na sexta-feira 23/3: “Este não é o momento de dar entrevista. É o
momento de sentimentos, de solidariedade”. Posso estar sendo ingênua, e
a sobriedade de Luma seja apenas mais um cálculo, mas penso que a mãe
de Thor estava sendo sincera.
Thor afirmou no twitter: “A frase que mais admiro é ‘The truth sets you
free’. Author: Jesus”. Imagino que a original tenha sido pronunciada em
aramaico, mas a tradução da frase postada por Thor seria: “A verdade
vos liberta”. É possível. Mas talvez pai e filho um dia descubram, ainda
que em seus pesadelos noturnos, naqueles que não se pode controlar
mesmo sendo um superpai ou um superfilho, que a verdade é uma criatura
complexa e que pode levar a territórios imprevisíveis. Ela pode
libertar, sim – mas dificilmente sem dor. E dificilmente sem um profundo
e corajoso olhar para dentro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário