ancelmo - Rio, 21 de junho de 2012
O tráfico de drogas vai proibir a venda de
crack nas favelas do Jacarezinho, Mandela e de Manguinhos. A informação
foi publicada na coluna de Ancelmo Gois de hoje com a foto acima. A
medida, decidida pela maior facção do tráfico no Rio, ocorre dois meses
depois de lançado no Rio o programa "Crack, é possível vencer" -- do
governo federal.
A ordem de proibir a venda de crack partiu de
chefes do tráfico, que estão presos. A informação vinha circulando pelas
comunidades, mas ontem pela primeira vez apareceu o cartaz anunciando
a proibição, "em breve", ao lado da cracolândia da favela Mandela, na
Rua Leopoldo Bulhões, na chamada Faixa de Gaza. Os traficantes ainda têm
ali cerca de dez quilos de crack. Cada pedra custa R$ 10,00. Há
informações de que os criminosos temem que a Força Nacional de Segurança
ocupe aquelas favelas, como ocorreu na comunidade Santo Amaro, no
Catete, onde está há um mês e já apreendeu 1.513 pedras.
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Gostaria que essa decisão se espalhasse por todas as favelas do Rio
porque o crack é uma droga devastadora e tem produzido só dor e
sofrimento -- diz o líder do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, que
desde 2009 faz trabalhos sociais na Mandela.
Durante muito tempo o
crack era vendido apenas em São Paulo. Dizia a lenda que os traficantes
do Rio não queriam produzir "zumbis". Dependentes de crack vivem nas
imediações das bocas de fumo, atraindo a atenção da mídia e de operações
do poder público. O tráfico no Rio alegava que a clientela de crack --
miserável -- traria problemas à venda de maconha e cocaína, mas
capitulou após supostas alianças com a facção paulista, e começaram a
oferecer o entorpecente vendido junto com a cocaína.
O combate ao
crack virou uma questão de honra para o governo Dilma, que anunciou
investimentos da ordem de R$ 4 bilhões no programa lançado em dezembro
do ano passado. A grande dificuldade, segundo o ministro da Justiça,
Eduardo Cardozo, é a falta de pessoal capacitado para lidar com os
dependentes de crack em todo o país. No Rio o programa foi implantado em
abril, com a participação do governo do estado e da prefeitura. Só no
Estado do Rio, a previsão de verbas da União é de R$ 240 milhões.
De
alguma forma a prioridade dada pelo governo ao combate ao crack chegou
ao conhecimento dos chefes da maior facção criminosa, que vende a droga
nas favelas. Um sinal de que o governo federal vai combater com firmeza o
problema pode estar no envio da Força Nacional de Segurança Pública
(FNSP) ao Rio, apesar do desinteresse inicial manifestado pelo governo
do estado. No domingo fez um mês que integrantes da Força Nacional de
Segurança -- a tropa de elite subordinada ao Ministério da Justiça --
ocuparam a comunidade de Santo Amaro, que ainda não foi pacificada, na
Zona Sul do Rio. Em um mês de ocupação, a Força Nacional realizou na
favela 6.929 abordagens e apreendeu 650 papelotes de cocaína, 1513
pedras de crack, 840 gramas de maconha. Além disso, foram recolhidas
munições, explosivos e armas.
Durante 180 dias, serão realizadas ações de polícia ostensiva, judiciária, bombeiros e perícia, em apoio às Secretarias de Saúde, Assistência Social e de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, nas áreas onde serão desenvolvidas as ações de implantação do Programa Crack, é Possível Vencer.
Durante 180 dias, serão realizadas ações de polícia ostensiva, judiciária, bombeiros e perícia, em apoio às Secretarias de Saúde, Assistência Social e de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, nas áreas onde serão desenvolvidas as ações de implantação do Programa Crack, é Possível Vencer.
Nas favelas de
Manguinhos, traficantes foram informados que a área poderia ser ocupada
pela Força Nacional se o crack não fosse retirado de lá. Isso pode ter
motivado a decisão dos traficantes. A decisão agradou muitos moradores
da favela Mandela. Eles são testemunhas diárias do estrago causado pelo
crack na comunidade. No Jacarezinho é possível ver usuários de crack na
entrada da favela, mesmo por quem passa no asfalto. As operações
policiais têm sido recorrentes, mas o problema está longe de ser
resolvido.
Há três anos fazendo trabalhos sociais na favela
Mandela, o líder do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, afirma que tem
visto a tragédia causada pelo crack na comunidade. Ele lembra que já
teve que solicitar ajuda da Justiça para levar a um abrigo três crianças
que eram abandonadas pelos pais, usuários de crack. A ONG Rio de Paz --
que nasceu envolvida cm a redução de homicídios -- tem um projeto
social, que prevê a construção de uma padaria-escola e o apadrinhamento
de crianças por famílias de classe média -- até a universidade.
Até parece brincadeira, mas provavelmente nessas comunidades o crack vai acabar. O crack "complicou" a vida do tráfico carioca e os traficantes vão impor essa eliminação.
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