viomundo - publicado em 4 de julho de 2012 às 18:19
por Luiz Carlos Azenha
Ler Fuel on the Fire: Oil and Politics in Ocuppied Iraq [Combustível
na fogueira: Petróleo e Política no Iraque Ocupado], de Greg Muttitt,
apenas confirma o que a gente já sabia. Através de documentos e
entrevistas com os principais atores — norte-americanos, britânicos e
iraquianos — o autor revela os bastidores da luta pelo controle do
petróleo iraquiano depois da invasão de 2002.
Em Crude Awakening, de Ben van Heuvelen, na Foreign Affairs,
a gente se dá conta de que tudo pode ter dado errado na guerra movida
por George W. Bush. Inclusive a consequência indesejada de promover
maior — e não menor — influência do Irã na região. Nada que uma nova
guerra, desta vez contra Teerã, não resolva. Mas uma coisa não deu
errado na estratégia dos neocons: a indústria iraquiana de petróleo,
antes controlada de forma centralizada por Saddam Hussein e o partido
nacionalista Baath, foi rachada.
As grandes companhias internacionais de petróleo agora podem jogar o
Curdistão [que, na prática, assumiu controle de suas próprias reservas]
contra Bagdá e vice-versa. Se não tinham nenhuma chance com Saddam
Hussein, agora as Exxons da vida podem ‘partilhar’ a riqueza dos
iraquianos. E, através do acesso às reservas iraquianas, podem exercer
pressão sobre o único país que, a longo prazo, pode disputar com a
Arábia Saudita o controle da torneira que regula os preços
internacionais. Do ponto-de-vista do grande consumidor do planeta, os
Estados Unidos, não é pouca coisa.
Hoje as companhias estatais de petróleo controlam cerca de 80% das
reservas. Pela força que exercem na economia local — vejam o caso da
Petrobras, bem aqui no Brasil — acabam aglutinando em torno de si forças
políticas nacionalistas.
O século 21 é o século da Ásia. Mas o novo motor do mundo, como
escreveu certa vez a própria Foreign Affairs, tem o “tanque vazio”.
China, Japão, Coreia e vários outros gigantes econômicos da região são
importadores de petróleo. É de onde virá a demanda. Novas tecnologias —
de águas profundas, de aproveitamento do petróleo extra-pesado e do
xisto, através dos controversos processos de ‘fracking’ — podem adiar
aquela história do peak oil, o pico de produção depois do qual as
reservas entrariam em colapso, enterrando nossa civilização viciada em
petróleo.
A ideia de que os maiores consumidores do mundo abririam mão do
controle sobre os preços e as reservas é conto de fadas. Grosseiramente,
o consumo de petróleo per capita dos Estados Unidos é de 25 barris por
ano. O da China, segundo maior consumidor, é de 2 barris.
Demolir, onde possível, o marco regulatório imposto por empresas
estatais (Iraque e, mais recentemente, Líbia), enfraquecê-las e ao
nacionalismo que elas acabam financiando (Petrobras, Pemex, PDVSA), em
último caso recorrendo à guerra ou aos golpes para ter acesso direto ou
indireto aos recursos naturais (Irã, Venezuela, Bolívia, Equador) é a
tônica deste século.
A globalização não mira o nacionalismo por conta da cor dos olhos de
governos ‘populistas’. E a mídia corporativa tem lado nessa luta.
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