Hiram Reis e Silva, Porto Alegre, RS, 04 de outubro de 2012.
A
cartografia é o conjunto de estudos e operações lógico-matemáticas,
técnicas e artísticas que, a partir de observações diretas e da investigação de documentos e dados,
intervém na construção de mapas, cartas, plantas e outras formas de
representação, bem como no seu emprego pelo homem. Assim a cartografia é
uma ciência, uma arte e uma técnica.
(Antonio Carlos Castrogiovanni)
(Antonio Carlos Castrogiovanni)
Nas
minhas intermináveis descidas pelos imensos caudais amazônicos tenho a
oportunidade de confrontar cartas, mapas institucionais ou não com o
terreno, e tenho verificado uma enorme discrepância entre aquilo que é
observado no terreno e o que é retratado em documentos “oficiais”.
São inúmeros erros em relação à nomenclatura de acidentes naturais ou
de comunidades ribeirinhas ou ainda de sua localização real.
Vou
tratar hoje especificamente à denominação do Rio Javari e seu formador o
Jaquirana que durante tanto tempo foi objeto de estudo e discussão
pelas Comissões de Limites, desde o século XVIII, e que os Mapas do
IBGE, mostrando uma flagrante alienação histórica, trocam nos seus mapas
do Estado do Amazonas e da Amazônia Legal o nome de parte do Rio
Jaquirana a montante da foz do dito Galvez por Rio Javari. Os
Mapas Multimodais do DNIT, por sua vez, simplesmente omitem o nome do
Rio Javari, talvez para não incorrer no mesmo erro, mas trocam o nome do
Rio Batã (ou Bathan), afluente da margem direita o Jaquirana para Basã.
Façamos
uma pequena digressão histórica para entendermos esta questão que se
origina na Foz do Galvez, coordenadas – 5°10’34,37”S/ 72°53’1,74”O, uma
pequena diferença do levantamento realizado por Cunha Gomes que
considerou a confluência do Galvez com o Javari:
— Latitude: 5°10’17,5” Sul.
— Longitude: 72°52’29” Oeste Gw.
— Altitude: 101,6 metros.
- Comissão Mista Luso-espanhola de 1781
Já
em 1781 e 1782 a Comissão Luso-espanhola demarcadora de limites, em
virtude do Tratado Preliminar de 1777, tinha dúvidas, e não pode
resolver qual dos dois braços era o tronco principal do Javari.
- Comissão Mista Brasileiro-Peruana de 1866
O
Comissário brasileiro Capitão-Tenente José da Costa Azevedo e o
Comissário peruano Capitão-de-Mar-e-Guerra Dom Francisco Carrasco
subiram o Javari e chegaram em 8 de setembro de 1866 a mais uma
confluência, optando, novamente, pela da direita, mais volumosa. A menor
foi denominada pelo Comissário peruano de Rio Galvez.
- Comissão Mista Brasileiro-Peruana de 1874
Deprimido,
em estado de estafa, seriamente doente, Tefé caiu de cama. Assim desceu
o Rio Galvez até Tabatinga, no Rio Solimões. (TEFFÉ)
A
Comissão chefiada pelo Barão de Tefé e Guillermo Blake entrou na Foz do
Javari, no dia 17 de janeiro de 1874, com um efetivo de 82 membros,
atingindo as proximidades das nascentes do Javari, no Jaquirana, no dia
14 de março de 1874. A Expedição retornou ao Solimões com 55
sobreviventes, 27 haviam sucumbido à febre, à fome, ou às flechas dos
Mayorunas.
- Comissão de 1898
A
377 milhas da Foz do Javari finda a navegação a vapor e entra-se na
zona de difícil trânsito. É na confluência do Rio Galvez com o Javari.
Este segue então com o nome de Jaquirana até as suas nascentes. (GOMES)
O
Ministro das Relações Exteriores, General Dyonizio Evangelista de
Castro Cerqueira nomeia o Capitão-Tenente Augusto da Cunha Gomes Chefe
da Comissão de Limites determinando-lhe que determine a nascente do Rio
Javari.
Cunha
Gomes afirma ter corrigido as coordenadas do Barão de Tefé verificando
uma diferença de quase quatro segundos. Determinou que o Rio Javari era
um prolongamento do Jaquirana e não do Galvez, como suspeitava
Thaumaturgo.
Fonte:
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos. Ensino de geografia: Práticas e textualizações no cotidiano – Brasil – Porto Alegre, RS – Mediação, 2000.
GOMES,
Augusto da Cunha. Comissão de Limites Entre o Brazil e a Bolivia –
Re–Exploração do Rio Javari – Brasil – Rio de Janeiro – Typographia
Leuzinger, 1899.
TEFFÉ,
Tetrá de. Barão de Tefé, Militar e Cientista, Biografia do Almirante
Antônio Luís von Hoonholtz – Brasil – Rio de Janeiro – Centro de
Documentação da Marinha, 1977.
- Livro do Autor
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura. com.br)
e na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio
Militar de Porto Alegre. Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o
link:
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil - RS (AHIMTB - RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
E-mail: hiramrs@terra.com.br
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