GGN - ter, 30/07/2013 - 11:58 - Atualizado em 30/07/2013 - 16:14
Fernanda Faustino
Jornal GGN - Um dos maiores parques localizados em área urbana na América do Sul, o Parque Ecológico do Cocó, em Fortaleza, está sendo ameaçado. A celeuma começou quando a prefeitura iniciou o desmatamento, derrubando árvores para dar espaço para a construção de dois viadutos - localizados no cruzamento entre as avenidas Antônio Sales e Engenheiro Santana Júnior.
O impasse se formou. Ativistas acamparam no local para impedir a continuação das obras. Luciano Hortencio mora em frente ao parque do Cocó, e se diz orgulhoso por seu privilégio. Ele o descreve como um lindíssimo bosque formado por áreas nativas e manguezais, banhado pelo rio Cocó, repleto de aves e animais de nossa fauna. “O parque nos traz paz e harmonia para os sentidos. Você não imagina o prazer que se sente ao acordar de manhã, manhãzinha, com o canto das aves silvestres. Só sabe quem sente, quem ouve... É indescritível! Além de tudo isso, o Parque Ecológico do Cocó e nossa principal reserva de verde”, relata emocionado.
O Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) entrou na segunda-feira (29) com uma ação civil pública na Justiça Federal com pedido de liminar contra a prefeitura de Fortaleza e a União pedindo a paralisação das obras de mobilidade urbana que causam intervenções no Parque do Cocó.
A ação, sugerida pelo procurador da República Oscar Costa Filho, pede suspensão das obras do viaduto. O MPF requer, ainda, a elaboração dos estudos prévios de impacto ambiental, em atendimento ao que pede a legislação ambiental.
Um laudo divulgado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), com base no Código Florestal Nacional, aponta para o fato de que as 79 árvores que foram derrubadas, até agora, estavam em área de preservação, o que atesta a ilegalidade da obra. De acordo com o Ibama, para que a intervenção fosse realizada, seria preciso, primeiro, um estudo específico para a região.
Antes que o MPF-CE entrasse com sua ação, na última sexta-feira (26), a SPU (Superintendência do Patrimônio da União) liberou a retomada das obras da construção dos viadutos. De acordo com o órgão, “a documentação apresentada pela Prefeitura Municipal de Fortaleza atende às exigências para a autorização da obra".
As obras paralisaram por determinado período. Tanto MPF-CE quanto a própria SPU questionaram sobre a legalidade da derrubada de árvores dentro do Parque do Cocó. A SPU recebeu um relatório da prefeitura e considerou legal a devastação, liberando a obra. O MPF-CE continuou sua ação de impedimento da construção, entrando, então, na segunda-feira, dia 29, com a liminar contra a prefeitura. Essas idas e vindas acabaram por tornar a situação do parque ainda mais complicada.
Hortencio reclama que, em detrimento do "progresso", as áreas verdes sempre foram postas em segundo plano. Entretanto, os insumos e recursos naturais são finitos, lembra ele. “A questão de prioridade para o ser humano, nunca foram as áreas verdes, pelo contrário. O verde sempre foi relegado a um plano absolutamente inferior, sendo os seus defensores minimizados e achincalhados por lutarem pela sua preservação”, analisa.
O ex-ministro Ciro Gomes fez declarações polêmicas desdenhando da opinião dos opositores à construção do viaduto. Ele alegou que 70 mil carros e 274 ônibus com 144 mil passageiros, demoram meia hora por dia para passar pelo trecho e, com a construção do viaduto, o tempo seria de três minutos. “Mas ficam lá (atrapalhando) meia-dúzia de ‘burguesotes’ e maconheiros”, esbravejou Ciro, sem cargos na região mas auxiliando na administração de seu parente, em Fortaleza, em uma polêmica entrevista a uma rádio local, a Verdes Mares.
Com relação às declarações do ex-ministro, Hortêncio disse que toda e qualquer palavra ou expressão, de quem quer que for, que desdenhe, insulte, agrida ou minimize um opositor, merece repúdio. “Liberdade de expressão não pode e nem deve ser confundida com falta de educação”, critica.
Ao ser questionado sobre a necessidade de fato do viaduto, Luciano relata que os estudantes de arquitetura da Universidade Federal do Ceará estão promovendo um concurso a fim de dar outras opções para o problema do tráfego nessa área. “Por que não aproveitar boas ideias? Por que fazer tudo a toque de caixa?”, indaga. “O que está acontecendo é de cortar o coração, porque promove a total descaracterização do parque".
O Parque tem como vizinho o Iguatemi, o Centro de Convenções, e a expansão imobiliária da classe média. Não devemos esquecer que Tasso Jereissati é o dono do Iguatemi, e que Ciro Gomes é cria política de Tasso. Há mais jogo de interesses nesse caso do que o que transparece na reportagem.
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