BBC Brasil - 16 março 2016
O cenário do país
após a nomeação de Lula para a Casa Civil está ainda mais imprevisível, e
é difícil saber se a entrada do ex-presidente no governo vai salvar ou
afundar de vez o mandato de Dilma Rousseff, dizem analistas estrangeiros
ouvidos pela BBC Brasil.
A nomeação ocorre um dia depois da
homologação da delação premiada do senador Delcídio do Amaral, o qual
afirmou que Dilma "tinha pleno conhecimento" sobre o processo da compra
da refinaria de Pasadena, nos EUA – que depois causou prejuízos à
Petrobras –, e que Lula teria tentado "comprar o silêncio" de Marcos
Valério durante o mensalão. Ambos negam as acusações.
Acuada pelas
notícias negativas, a petista tenta, com a nomeação do ex-presidente
para o cargo mais importante de seu gabinete, salvar seu mandato de um
processo de impedimento que parece cada vez mais iminente.
No entanto, para Jan Rocha, jornalista britânica radicada no país e coautora de Brazil Under the Workers' Party: From Euphoria to Despair (Brasil sob o PT: da Euforia ao Desespero, em tradução livre), a aposta da presidente é arriscada.
"Se
as coisas derem errado – e não há razões para simplesmente presumir que
elas darão certo -, isso também poderá afetar as chances de Lula de
disputar as eleições de 2018", diz a jornalista.
Ela também afirma
que não vê como Lula, chamado de "animal político" por seu poder de
articulação, poderia a "evitar a debandada do PMDB". "O que ele pode
negociar? A pessoa que disser saber o que se passará no Brasil nos
próximos meses está mentindo."
Sobrevivência
A
habilidade do ex-presidente de convencer o partido é, para Jimena
Blanco, analista-chefe para as Américas da empresa de análise Verisk
Maplecroft, o que vai determinar a sobrevivência (ou não) de Dilma.
A
expectativa é de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
destrave novamente o trâmite do impeachment com o anúncio, até o fim
desta semana, da formação da Comissão Especial que emitirá um parecer a
favor ou contra a abertura do procedimento.
"Mas a estratégia é de
risco e pode sair pela culatra. A decisão do PMDB vai depender muito da
reação popular à nomeação de Lula. Se ela fortalecer o movimento
pró-impeachment, isso poderá fazer o PMDB oscilar para o lado da ruptura
com o governo", afirma Blanco.
Ela acrescenta que a entrada do
ex-presidente aponta para mudanças no governo: a possibilidade de Dilma
oferecer proteção a Lula, que ganha foro privilegiado e não será julgado
por Sérgio Moro, sugeriria que ela não está tão comprometida com a
política de faxina prometida em 2010.
Teria contribuído para Lula
aceitar o convite o fato de a juíza Maria Priscilla Veiga Oliveira, da
4ª Vara Criminal de São Paulo, ter transferido a Moro a decisão sobre o
pedido de prisão preventiva apresentado pelo Ministério Público paulista
contra o petista, sob a justificativa de que Moro teria mais
competência para decidir a questão.
Em coletiva nesta
quarta-feira, Dilma disse que "(a mudança de foro) não significa que uma
pessoa não é investigada, só (muda) por quem ela é investigada. A
verdade é que a vinda de Lula fortalece o meu governo, e muita gente não
quer ele fortalecido."
Ao
mesmo tempo, para Blanco, a nomeação dá margem para especulações sobre
alterações na política econômica do governo, da qual o ex-presidente é
crítico. A crise econômica é um dos motivos do forte desgaste da
presidente – a economia brasileira recuou 3,8% em 2015, segundo o IBGE, e
caminha para tombo semelhante neste ano, segundo economistas.
E o
economista do Peterson Institute for International Economics William
Cline diz que as acusações contra Lula, aliadas à possibilidade de ele
usar a indicação ministerial "para prorrogar sua eventual prisão",
aumentam a incerteza política e têm reflexo na economia.
"Não
acredito que os mercados financeiros vão reagir positivamente, apesar do
excelente desempenho da economia brasileira quando Lula foi presidente.
Por causa da queda no preço das commodities, a má gestão da política
econômica e o adiamento das decisões como consequência do escândalo da
Petrobras, o cenário para o Brasil já era de recessão neste ano e de
quase zero crescimento no ano que vem."
Vantagens e desvantagens
Diante de tantas ponderações, a entrada oficial de Lula tem potencial para causar impactos positivos e negativos para o governo.
De
um lado, o ex-presidente agrega ao governo sua enorme capacidade de
articulação política e de se comunicar com as classes mais pobres e os
movimentos sociais – habilidades úteis para enfrentar a crise política,
que faltariam em Dilma.
De outro, abre espaço para críticas de que
o líder petista esteja buscando proteção contra eventuais decisões do
juiz Sergio Moro – responsável por julgar ações da operação Lava Jato na
primeira instância. Ao virar ministro, Lula passa a ter foto
privilegiado e a ser as acusações contra si avaliadas pelo Supremo
Tribunal Federal.
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